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GEOGRAFIA I 93

Módulo 21 1ª Série

Atividade industrial e
espaço geográfico

Você já ouviu falar em “cidades fantasmas”?


Durante a Segunda Revolução Industrial, algumas cidades
surgiram para servir de plataforma de produção para a indústria,

©victorprofessor/iStock
principalmente com a produção automobilística e siderúrgica.
Após o advento da Terceira Revolução Industrial, a lógica de
produção se alterou, de modo que essas cidades se esvaziaram, pois
não conseguiram se adaptar à nova produção capitalista. A cidade
de Detroit, nos Estados Unidos, e o distrito industrial de Marabá,
no Pará, são exemplos desse fenômeno.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, estudaremos as características dos períodos de
industrialização relacionadas com o processo de crescimento das C2 – Analisar a correlação entre a atividade industrial e o espaço
geopolítico;
cidades, as quais alteraram a lógica do espaço urbano, aumentando C4 – estudar as razões para a disposição das indústrias;
seu dinamismo econômico e sua população. – observar os motivos da descentralização industrial.

1. Características da atividade

©Arpad Benedek/iStock
industrial
A atividade industrial desenvolvida na Inglaterra, a partir da
segunda metade do século XVIII, espalhou-se para outras áreas
da Europa, como França, Holanda e Prússia, e alterou a escala da
produção existente no artesanato, determinando um uso cada vez
mais intenso de matérias-primas e de energia.
Entre as características fundamentais da atividade industrial Ruínas de Teotihuacan – México.
estão o aumento significativo da escala de produção e a divisão das
No entanto, o processo industrial é responsável por um impres-
atividades entre os trabalhadores. Estes, por meio da utilização de
sionante aumento do número de cidades e pelo grande crescimento
máquinas, passaram a se especializar em determinadas funções.
de algumas delas. A industrialização foi determinante para o
Essas características justificam uma tendência de concentração processo de urbanização em diversos países do mundo. Como a
da atividade industrial, devido à necessidade de grande quantidade atividade econômica mais importante passou a se localizar na área
de matérias-primas, de fontes de energia (inicialmente o carvão e urbana, a maioria da população transferiu-se do meio rural para
depois o petróleo), de mão de obra e de consumidores. o meio urbano.
A indústria foi decisiva para a expansão das metrópoles.
2. Indústria e urbanização Como visto, a atividade industrial necessitava de matérias-primas,
fontes de energia e de pessoas (trabalhadores e consumidores), mas
A indústria não inventou as cidades. Afinal, existem várias
nem todas as áreas possuíam condições para atrair as indústrias.
cidades milenares, e a Revolução Industrial só aconteceu no século
XVIII. A revolução agrícola, ocorrida há cerca de 10 mil anos, foi
©DenisTangneyJr/iStock

responsável pelo surgimento dos primeiros núcleos urbanos. As


primeiras cidades, como Ur e Babilônia, surgiram na Mesopotâmia,
nos vales dos Rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Acredita-se
que, por volta de 2500 a.C., Ur chegou a ter 50 mil habitantes e a
Babilônia, 80 mil. A atividade comercial determinou o crescimento
de grandes cidades em vários lugares do mundo, inclusive na
América pré-colombiana.

Aglomeração urbana – Estados Unidos.


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1ª Série Módulo 21

A localização industrial motivou o enorme crescimento Após a Segunda Guerra Mundial e, principalmente, a partir
econômico e populacional de certas cidades, gerando o processo de da década de 1970, com a Revolução Técnico-Científico-
metropolização, ou seja, em diversos países, a população passou a - Informacional, a atividade industrial, até então muito concentrada
morar em áreas urbanas, especialmente as grandes áreas. em alguns países e cidades, descentralizou-se.
Até a primeira metade do século XX, esse processo ficou A reorganização geográfica industrial no mundo se liga dire-
concentrado em países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. tamente aos avanços tecnológicos. Hoje, leva-se cada vez menos
No entanto, os avanços tecnológicos e a mudança do modelo de tempo para transportar mercadorias e produtos, e menos ainda
produção industrial fizeram com que a atividade industrial passasse para trocar informações. A sede de uma empresa pode se localizar
a ocorrer em diversos lugares do mundo. em um país e comandar atividades em áreas distantes.
No caso dos países em desenvolvimento, a metropolização As indústrias se instalam em novas áreas em busca de redução
ocorreu, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial. A dos custos de produção, fugindo de preços elevados do espaço e
chamada industrialização tardia foi uma marca desses países. da mão de obra das grandes cidades, principalmente nos países
Houve um acelerado e desordenado processo de urbanização, mais desenvolvidos.
gerando graves problemas urbanos associados ao enorme contin- Com isso, há a desindustrialização de algumas das antigas áreas
gente populacional que se dirigiu para essas cidades. industriais e, ao contrário, há o crescimento de outras. A urbani-
zação se espalha, e os antigos centros industriais têm de modificar
3. As modificações locacionais suas estruturas econômicas, sob o risco de virarem áreas decadentes.
A instalação de plantas industriais em novos lugares gera cres-
recentes da atividade industrial cimento, mas cria problemas urbanos associados a essa expansão,
Como visto, a atividade industrial foi decisiva para o aumento do como excessiva valorização do espaço, favelização, violência e
número e do tamanho das cidades nos últimos séculos. Nas últimas dificuldades no setor de transportes.
décadas, porém, esse processo sofreu uma importante modificação.

Cidade fantasma, Detroit renova 713 mil. Além disso, o número de desempregados chegou a 16%,
esperança com montadoras porém o número pode alcançar 30%, uma vez que parte da população
parou de procurar emprego.
O último salão de automóveis que ocorreu em Detroit, em 2016,
reuniu cerca de cinco mil jornalistas de 55 países diferentes. Dentro Com isso, outras formas de economia precisam ser implantadas na
da convenção, a normalidade de uma cidade altamente evoluída cidade, ou, ainda, resta resgatar aquelas que um dia tornaram Detroit um
era aparente, porém bastava tentar se deslocar fora do salão para a dos principais polos econômicos da costa leste do Estados Unidos.
realidade aparecer. Ao buscar-se um táxi, uma vez que o berço auto-
©LindaParton/iStock
mobilístico estadunidense é escasso de transporte público, notava-se
desigualdade vigente no centro urbano marcado pela presença de
pedintes, prédios abandonados, lojas para alugar, terrenos vazios e
pouca movimentação nas lojas.
Por esses motivos, a Chrysler, a GM e a Ford – as três grandes
de Detroit – prometeram, durante o evento, trazer não só novidades
automobilísticas, mas também empregos e aumento da produção. Na
década de 1950, essas três grandes empresas formavam o principal polo
de produção automobilística dos EUA, atraindo a população – a cidade
atingiu o número de 2 milhões de habitantes.
Contudo, conforme as montadoras se deslocavam para outras
regiões do globo, a cidade começou a encolher. Segundo o último
censo, 2010, a população da cidade se reduziu pela metade, atingindo Prédios abandonados – cena recorrente no centro de Detroit.
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da transferência de indústrias manufatureiras da Europa e dos


Estados Unidos para a China. O navio retornará rapidamente
Protestos de trabalhadores encerram centenas de
para a China, mas, em lugar de transportar jogos e computadores,
fábricas no Bangladesh
levará o lixo do que foi consumido no Natal. Os dejetos de plástico
No dia 24 de abril de 2013, o prédio Rana Plaza, em Daca, tornaram-se um dos produtos de exportação para a China, e, uma
capital de Bangladesh, ruiu e desabou. Sua queda ceifou a vida vez reciclados, estarão nos novos jogos e presentes que o Emma
de 1.120 pessoas, das 3.600 que trabalhavam no local, e iniciou Maersk irá trazer para o próximo Natal.
um movimento de greve que afetou mais de 300 fábricas e 20%
VIDAL, J. Apud Courrier International, nº 836, 2006 (adaptado).
da exportação do país.
O movimento em questão protestava contra a falta de 1975
segurança no trabalho e a precarização dos ambientes das
fábricas. Denúncias foram feitas tentando alertar o estado
precário do prédio dias antes, porém nada foi feito. Um pequeno
tremor causado por um corte de energia foi o suficiente para o
prédio ceder e cair.
Tal evento mostra como a mão de obra dos países peri-
féricos e semiperiféricos vem sendo explorada por empresas
multinacionais de países centrais. Observa-se que, na época,
empresas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger foram coagidas
2010
a assinar acordos de segurança em suas fábricas, além do Roterdan
aumento do salário mínimo por parte do governo indiano para Hamburgo Puzan

os trabalhadores fabris. Hong Kong


Dubai Xangai
Los Angeles Kaosiung
©suc/iStock

Shenzen

Singapura

número de contêineres 20.449


1.510
de 33m3 (em milhares)
Inrets, 2010.

Com base no texto e nos mapas:

01 (FGV) Justifique a seguinte afirmação: “O contêiner é o símbolo


da mundialização das trocas comerciais”.

02 (FGV) Indique os fatores responsáveis pela transferência


das indústrias manufatureiras da Europa e dos Estados Unidos
para a China.

03 (FGV) Relacione a “sociedade de consumo” com o “mercado


mundial de sucata”.
Texto para as questões 04 e 05:
Texto para as questões 01, 02 e 03:
Com a globalização, ampliaram-se os horizontes geográficos
Este ano, Papai Noel não virá de trenó; e os incentivos das multinacionais para segmentar suas cadeias
este ano, ele chegará de navio produtivas e redistribuir a localização de suas fábricas em diversos
países. As etapas de produção que agregam menos valor a um
Para alegria das crianças, dos pais e dos comerciantes – e produto podem ser transferidas para países onde os salários são mais
desespero dos industriais europeus –, as montanhas de jogos, baixos, enquanto as etapas que agregam mais valor permanecem
de objetos de decoração, de calendários e de uma infinidade de em países com níveis salariais mais altos. O Brasil, porém, não tem
presentes possíveis e imagináveis chegaram a Suffolk (Inglaterra) se beneficiado dessa tendência. Enfrentamos, ao contrário, uma
nesse sábado, 4 de novembro, a bordo do gigantesco Emma Maersk, ameaça concreta de desindustrialização.
proveniente da China. O Emma Maersk, cuja tripulação é composta GUEDES, P. “Olho nos banqueiros e nos políticos!”. Época, 9 abr. 2012 (adaptado).
por 13 homens, transporta 11.000 contêineres e é uma testemunha
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1ª Série Módulo 21

04 (UFPR) Caracterize o que é globalização e indique dois países 03 (UERJ)


que, nas últimas décadas, vêm se destacando como destino de De Karl Marx a Max Weber, a teoria social clássica acreditava
investimentos industriais. que as grandes cidades do futuro seguiriam os passos industria-
05 (UFPR) Explique por que a ascensão desses países põe o Brasil lizantes de Manchester, Berlim e Chicago. Pode-se dizer que Los
sob o risco de uma desindustrialização. Angeles, São Paulo e Pusan (Coreia do Sul) aproximaram-se, de
certa forma, dessa trajetória. No entanto, a maioria das cidades
do Hemisfério Sul se parece mais com Dublin na época vitoriana,
que, como enfatizou o historiador Emmet Larkin, foi incomparável
01 (UNICAMP) em meio a “todos os montes de cortiços produzidos pelo mundo
A metrópole industrial do passado integrava no espaço urbano ocidental no século XIX, uma vez que os seus cortiços não foram
diversos processos produtivos, ocorrendo uma concentração produto da Revolução Industrial”.
espacial das plantas de fábrica, da infraestrutura e dos trabalhadores. Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006 (adaptado).
Na metrópole contemporânea, predomina uma dispersão territorial
das atividades econômicas e da força de trabalho. Nesta, a produção Diferentemente do que ocorreu nos países desenvolvidos, o cres-
fabril tende a se instalar na periferia ou nos arredores do perímetro cimento das cidades na maior parte dos países subdesenvolvidos
urbano, enquanto as atividades associadas ao poder financeiro, está relacionado ao processo de:
político e econômico concentram-se na área urbana mais adensada. (A) periferização da atividade industrial, com intensos fluxos
MATOS, Carlos de. “Redes, nodos e cidades: transformação da metrópole latino-americana”. In: pendulares.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (Org.). Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o (B) urbanização fundamentada no setor terciário, com alto nível
conflito. São Paulo: Perseu Abramo; Rio de Janeiro: Fase, 2004. p. 157-196 (adaptado).
de informalidade.
Como principal característica da metrópole contemporânea, (C) favelização nas periferias, com predomínio de empregos no
destaca-se: setor industrial de base.
(D) metropolização em um ponto do território, com população
(A) a concentração da atividade industrial e das funções adminis- absorvida pelo setor quaternário.
trativas das empresas no mesmo local.
(B) o aumento da densidade demográfica nas áreas do antigo centro 04 (UERJ)
histórico da metrópole.
A Intel investirá mais de US$1 bilhão de dólares na Índia ao
(C) a concentração do poder decisório da administração pública e
longo de cinco anos (...). A Intel está conversando com o governo
das empresas em uma única área da metrópole.
(D) a diversificação das atividades comerciais e de serviços na área indiano sobre a instalação de unidades de produção no país (...).
do perímetro urbano. Valor econômico, 6 dez. 2005 (adaptado).

02 (UEL)
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Europa e que
Ainda que a indústria seja a forma por meio da qual a sociedade resultou na reformulação do mapa econômico desse continente, e o
apropria-se da natureza e transforma-a, a industrialização é um atual processo de desenvolvimento industrial possuem mecanismos
processo mais amplo, que marca a chamada Idade Contemporânea, distintos de localização das atividades industriais.
e que se caracteriza pelo predomínio da atividade industrial sobre as
outras atividades econômicas. Dado o caráter urbano da produção Em cada uma dessas fases, as fábricas com novas tecnologias foram
atraídas, respectivamente, pela presença de:
industrial (produção essa totalmente diferenciada das atividades
produtivas que se desenvolvem de forma extensiva no campo, (A) rede de transporte – governo democrático.
como a agricultura e a pecuária), as cidades se tornaram sua base (B) incentivo fiscal – abundante matéria-prima.
territorial, já que nelas se concentram capital e força de trabalho. (C) mercado consumidor – legislação ambiental flexível.
(D) fonte de energia – mão de obra com qualificação.
SPÓSITO, M. E. B. Capitalismo e urbanização. São Paulo: Contexto, 1988. p. 43.

Com base no texto lido, assinale a alternativa correta: 05 (ENEM)


A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava
(A) A industrialização é um processo que ocorre somente em em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas
grandes cidades.
lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua
(B) A base territorial da produção industrial são as cidades, pois
nelas se concentram capital e força de trabalho. ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e
(C) As cidades da Idade Contemporânea devem sua existência, os novos altos-fornos eram como as pirâmides, mostrando mais a
exclusivamente, às atividades industriais. escravização do homem que seu poder.
(D) Em todas as grandes cidades da Idade Contemporânea, as DEANE. P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).
atividades industriais concentram-se, estrategicamente, no
perímetro central, junto à área de comércio. Qual a relação estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos
(E) A industrialização é um processo que ocorre somente nas ocorridos no contexto da Revolução Industrial inglesa e as carac-
cidades do mundo desenvolvido. terísticas das cidades industriais no início do século XIX?
Atividade industrial e espaço geográfico GEOGRAFIA I 97
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(A) A facilidade em estabelecer relações lucrativas transformava 02 (UERJ)


as cidades em espaços privilegiados para a livre-iniciativa,
característica da nova sociedade capitalista.
(B) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano
aumentava a eficiência do trabalho industrial.
(C) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de
transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das
periferias até as fábricas.
(D) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revela-
va os avanços da engenharia e da arquitetura do período, transfor-
mando as cidades em locais de experimentação estética e artística.
(E) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais
ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados
por péssimas condições de moradia, saúde e higiene.

Cidade de Birmingham (Inglaterra, 1886).


01 (PUC-Rio)
A Revolução Industrial assinala a mais radical transfor- “A evolução das cidades”. Coleção História em Revista. Rio de Janeiro: Abril Coleções, 1996.

mação da vida humana já registrada em documentos. Durante


um breve período, ela coincidiu com a história de um único Coketown era uma cidade de tijolos vermelhos, ou melhor, de
país, a Grã-Bretanha. Assim, toda uma economia mundial foi tijolos que seriam vermelhos se a fumaça e as cinzas permitissem,
edificada com base na Grã-Bretanha, ou antes, em torno desse cidade de máquinas e altas chaminés. Apresentava muitas ruas
país. [...] Houve um momento na história do mundo em que a largas, todas iguais, e muitas ruazinhas ainda mais iguais, cheias de
Grã-Bretanha podia ser descrita como sua única oficina mecânica, pessoas também iguais, pois todas saíam e entravam nas mesmas
seu único importador e exportador em grande escala, seu único trans- horas, andando com passo igual na mesma calçada, para fazer o
portador, seu único país imperialista e quase que seu único investidor mesmo trabalho, e para elas cada dia era parecido com o da véspera
estrangeiro; e, por esse motivo, sua única potência naval e o único e com o dia seguinte.
país que possuía uma verdadeira política mundial. Grande parte desse DICKENS, Charles apud ENDERS, Armelle et al. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
monopólio devia-se, simplesmente, à solidão do pioneiro, soberano
de tudo quanto se ocupa por causa da ausência de outros ocupantes. A Revolução Industrial provocou grandes mudanças em algumas
cidades inglesas a partir de fins do século XVIII. A imagem de
HOBSBAWM, E. J. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1983. p. 9. Birmingham, de 1886, e o fragmento do romance Tempos difíceis,
publicado em 1854, apresentam sinais dessas transformações.
Identifique duas mudanças ocorridas na sociedade inglesa, no
decorrer do século XIX, que permitam exemplificar a afirmativa Apresente uma mudança causada pelo processo de industrialização
do autor de que “a Revolução Industrial assinala a mais radical nas cidades inglesas e uma de suas consequências para as condições
transformação da vida humana já registrada em documentos”. de vida do operariado.

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Evolução do sistema capitalista: Primeira e Segunda Revolução Industrial

Você sabia que o petróleo já foi usado para


tratamento de surdez, gota e bronquite?
Na Antiguidade, o óleo mineral, que ainda não era conhecido
como petróleo, era amplamente empregado, tendo propriedades
laxantes, cicatrizantes e antissépticas. Era considerado eficaz no
tratamento de gota, reumatismo, bronquite e surdez. Também era
utilizado em cerimônias culturais e religiosas, como oferendas,
sacrifícios e, até mesmo, para embalsamar corpos.
A partir do século XIX, o petróleo foi descoberto pela indústria
como eficaz fonte de energia. Essa descoberta foi tão notável que
gerou um processo de intensificação de produção e alteração Expectativas de aprendizagem:
das estruturas produtivas, conhecido como Segunda Revolução – Caracterizar a Primeira e a Segunda Revolução Industrial;
Industrial. – estudar as transformações provocadas por essas etapas da
C2 industrialização;
Neste módulo, estudaremos as revoluções industriais e suas – identificar os principais fatores locacionais que interferem na
consequências para as relações produtivas e sociais. localização espacial das indústrias.

1. A Primeira Revolução Industrial – Os fatores que levaram ao pioneirismo inglês, durante o


processo de implementação de sua Revolução Industrial, passaram,
características gerais primeiramente, pela existência de um Estado já consolidado, aliado
ao sucesso no processo de expansão marítima. Esse sucesso levou
A indústria moderna surgiu com a Revolução Industrial
a uma acumulação prévia de capital no território, viabilizando os
(segunda metade do século XVIII – século XIX), caracterizando-se
investimentos necessários para o desenvolvimento da indústria.
por uma grande divisão do trabalho – e consequente especialização
Associado a isso, várias cidades inglesas, como Manchester,
do trabalhador – e pela utilização de máquinas.
Liverpool e Yorkshire, entre outras, apresentavam enormes reservas
Esse período inicial de industrialização pode ser chamado
de carvão mineral, tornando-se grandes centros industriais e
de Primeira Revolução Industrial e teve como fonte de energia o
urbanos. Por último, o processo de cercamento dos campos (lei que
carvão mineral, fundamental para o desenvolvimento de máquinas
privatizava o uso das terras rurais e, consequentemente, forçou um
a vapor, utilizadas principalmente para o setor têxtil. A Inglaterra
enorme processo de êxodo rural) garantiu um grande contingente
foi o país dominante desse processo, e a invenção do tear mecânico
populacional que serviu de mão de obra e mercado consumidor
impulsionou a indústria de tecidos.
para as fábricas, além de manter um fornecimento de matéria-prima
(lã) para a indústria.
©jpa1999/iStock

A introdução da máquina no processo produtivo aumentou


bastante a capacidade de produzir mercadorias. A separação radical
entre os detentores dos meios de produção e os trabalhadores deu
origem a uma sociedade marcada pela submissão do trabalhador
direto ao capitalista. A atividade industrial se tornou dominante
para a obtenção do lucro, e a lógica da produção em larga escala
passou a dominar as sociedades que realizavam a transição descrita.
A indústria consiste em uma atividade produtiva que se carac-
teriza por transformar matérias-primas – de modo manual ou com
auxílio de máquinas e ferramentas – em produtos elaborados e/ou
semielaborados. Os principais tipos de indústria são as pesadas e/
ou de base (bens de capital e intermediários) e as leves e/ou de bens
de consumo (duráveis e não duráveis).
Evolução do sistema capitalista: GEOGRAFIA I 99
Primeira e Segunda Revolução Industrial Módulo 22 1ª Série

Importantes invenções do século XIX e início do XX


Classificação dos bens industriais,
Invenções Ano Inventores
segundo a destinação
Alexander Graham Bell
Bens de produção: São produtos que, praticamente, ainda telefone 1876
(escocês, residente no Canadá e nos EUA)
não passaram por nenhum processo de beneficiamento. Estão
carro 1886 Gottlieb Daimler (alemão)
associados às indústrias de base. Exemplos: matéria-prima e
rádio 1896 Guglielmo Marconi (italiano)
energia.
1903 Irmãos Wright (norte-americanos): “Flyer 1”
Bens de capital (intermediários): São aqueles produtos avião
1906 Alberto Santos Dumont (brasileiro): “14 bis”
destinados às fábricas e indústrias, ou seja, que ainda serão
utilizados no processo produtivo e não chegam até o mercado BOMENY, Helena et al. Tempos modernos, tempos de sociologia.
São Paulo: Editora do Brasil, 2010 (adaptado).
consumidor. Exemplo: máquinas e equipamentos.

©wynnter/iStock
Bens de consumo: São todos os produtos já acabados, desti-
nados ao mercado consumidor. Eles são divididos em duráveis e
não duráveis. Essa distinção segue como princípio o esgotamento
imediato com o uso ou não. Portanto, bens de consumo não
duráveis são aqueles que se esgotam imediatamente com seu
uso, como remédios, alimentos e roupas. Já os bens de consumo
duráveis são aqueles que não se esgotam imediatamente conforme
uso, como automóveis, eletrônicos e imóveis.
©97/iStock

As grandes mudanças tecnológicas que caracterizaram o


período da Segunda Revolução Industrial acompanharam uma
expansão dessa atividade para outros países da Europa, como
França, Alemanha, Holanda e Bélgica, abalando a até então inques-
tionável supremacia inglesa. As novas tecnologias proporcionaram
oportunidades econômicas, e quem dominava o modelo anterior
não necessariamente teria a vanguarda nas novidades.
Um dos avanços da Segunda Revolução Industrial foi a
mudança na matriz energética do carvão mineral para o petróleo.
O novo combustível, além de ser mais facilmente transportado
A geladeira caracteriza-se como um bem de consumo durável. (líquido), é matéria-prima para diversos outros setores da indústria,
e não apenas para o de energia.
Outro aspecto importante na Segunda Revolução Industrial foi
2. As inovações da Segunda o aumento da necessidade de matéria-prima associada ao sistema
Revolução Industrial fordista, representada pela intensificação na exploração das colônias
no modelo imperialista, fortemente representado pela partilha da
Na segunda metade do século XIX, iniciou-se a chamada
África na Conferência de Berlim.
Segunda Revolução Industrial, um conjunto de modificações no
modelo de produção industrial, com destaque para:
3. Fatores locacionais da indústria
• a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados do
petróleo; Diversos são os fatores que influenciam a localização de uma
• a invenção do motor a explosão e da locomotiva a vapor; indústria:
• o desenvolvimento de produtos químicos;
• Matéria-prima;
• a expansão da siderurgia, ou seja, da utilização do minério de
• fontes de energia;
ferro para a produção do aço, criando uma série de possibili-
• mão de obra abundante;
dades de uso dessa nova matéria-prima.
• mercado consumidor;
Pode-se observar, na tabela a seguir, algumas inovações tecno- • boa rede de transporte;
• boa rede de telecomunicações;
lógicas da segunda metade do século XIX e início do XX:
• disponibilidade de água;
• incentivos fiscais.
100 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 22

Durante a Revolução Industrial na Inglaterra, ficou clara a Atualmente, entretanto, as empresas dependem cada vez menos
relação dessa localização com a proximidade das minas de carvão dos fatores tradicionais de localização espacial (matéria-prima,
e portos. O grande crescimento de cidades como Manchester, energia, mercado consumidor), pois os produtos atuais são menores,
Liverpool e Londres ocorreu a partir da localização das indústrias. mais leves e utilizam pouca quantidade de energia e matéria-prima.
É importante considerar que os diferentes fatores locacionais O fundamental passa a ser o know-how. Essas empresas necessitam
afetam de forma distinta os diversos tipos de indústria. Por exemplo, fixar-se em regiões com presença maciça de universidades e centros
uma indústria que utilize maior quantidade de energia e matéria- de pesquisa científica e tecnológica, que fornecem tecnologia e mão
-prima mais volumosa e com maior dificuldade de transporte terá de obra qualificada.
sua localização determinada pela disponibilidade desses fatores.

Organizações empresariais e práticas livre concorrência. Já o oligopólio é estabelecido quando um número


anticompetitivas reduzido de empresas controla o fornecimento de determinado
Devido à expansão do sistema capitalista e ao consequente produto ou serviço.
aumento da concorrência internacional, as grandes empresas Todas essas práticas objetivam a eliminação da concor-
começaram a buscar meios de superar umas as outras nessa rência, que levaria, imediatamente, a um imensurável aumento
disputa por mercados consumidores. Dentro desse contexto, nos lucros, porém à custa do mercado consumidor, que seria
surgiram as práticas anticompetitivas. Uma delas foi a formação explorado sem alternativas para recorrer.
de cartéis, que consistem na combinação de preços entre empre-

©Luiz Souza/iStock
sários do mesmo setor, visando a acabar com a disputa de preços
como forma de atrair os consumidores (essa prática é facilmente
identificada em postos de combustíveis).
Outra forma de vencer a concorrência internacional foram as
organizações empresariais. As práticas mais conhecidas são a busca
pela formação de monopólios ou oligopólios. O primeiro consiste
no domínio de uma única empresa sobre o fornecimento de um Motoristas de táxi protestando contra aplicativo Uber no Rio de Janeiro.
determinado produto ou serviço, o que inviabiliza os benefícios da

As regiões negras as indústrias de material ferroviário e naval se localizavam perto


O êxodo rural e o crescimento das cidades vieram como das siderúrgicas, que, por sua vez, estavam perto das jazidas de
consequências da industrialização, que, no princípio, se concen- carvão, que também atraíram a indústria têxtil.
trou próximo às jazidas de carvão e portos. Por esse motivo, A existência de portos marítimos e fluviais foi um fator signifi-
essas áreas passaram a ser chamadas “regiões negras”, em alusão cativo. Muitas cidades, como Londres e Liverpool, desenvolveram
ao pó do carvão que era extremamente poluente e, em grandes um importante parque industrial.
concentrações, alterava a paisagem dessas cidades. As principais
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“regiões negras” eram Yorkshire, Lancashire, Midlands, País de


Gales e Glasgow. Os tipos de indústria mais encontrados eram a
siderúrgica, a têxtil, a naval e a de material ferroviário.
Surgiram várias indústrias têxteis, principalmente em
Yorkshire, devido à lã e ao algodão, que eram utilizados como
matéria-prima. Com o desenvolvimento das indústrias de
base, a siderúrgica, foi possível a produção de locomotivas e
navios movidos a vapor. Era um fator puxando outro, ou seja,
Evolução do sistema capitalista: GEOGRAFIA I 101
Primeira e Segunda Revolução Industrial Módulo 22 1ª Série

02 (UECE) Leia o texto e analise seu conteúdo:


A agricultura se voltou ainda mais para o mercado, e agora
01 (UEG) produzia matérias-primas para a indústria; os camponeses foram
O avanço tecnológico das últimas décadas deu origem a setores expulsos para as cidades, pois as fábricas careciam de mão de obra.
muito sofisticados do ponto de vista técnico, tais como a microeletrô-
nica, a biotecnologia, a robótica etc. Eles integram a chamada fábrica As informações contidas no texto expressam as grandes mudanças
no espaço geográfico:
global, determinando uma nova distribuição espacial das indústrias,
cujas características atendem, em última análise, à lógica do lucro. (A) na Idade Média.
(B) com a recente revolução técnico-científica.
Com relação aos fatores determinantes da teoria de localização (C) com a globalização atual, em que a indústria toma a dianteira dos
industrial, identifique os fatores fundamentais para a localização serviços.
industrial na Primeira e na Terceira Revolução Industrial. (D) durante a grande evolução tecnológica ocorrida com a
Revolução Industrial.
Após a Revolução Industrial, as atividades econômicas foram
se tornando tão diferenciadas, que houve a necessidade de se 03 O surgimento de novas tecnologias dentro do processo produtivo
introduzir a divisão do trabalho. Responda: tem provocado alterações na localização espacial das atividades
econômicas. Quanto a esse processo, é correto afirmar que:
02 Como é feita a divisão do trabalho em uma fábrica?
(A) a busca por custos mais baixos de produção tem levado indústrias
03 Como é feita a divisão territorial do trabalho? Dê um exemplo. a se instalarem em locais onde a mão de obra é de alta qualificação.
(B) as empresas de uso intensivo de mão de obra passam a transferir
04 A Revolução Industrial aconteceu, primeiro, no continente suas indústrias para áreas mais caras, com maior concentração
europeu no século XVIII. Para que isso ocorresse, houve a neces- de infraestrutura econômica.
sidade da junção de várias circunstâncias. Cite duas delas. (C) o desenvolvimento tecnológico tem aumentado a oferta de
empregos no setor secundário, principalmente nos centros das
05 Explique a afirmativa: “Como pioneiros das grandes navegações grandes metrópoles.
dos séculos XV e XVI, Portugal e Espanha exploraram grandes (D) os avanços tecnológicos nos transportes e nas comunicações
riquezas nas colônias e feitorias da América, da África e da Ásia. têm proporcionado a separação dos centros de gestão e decisão
Mas, apesar disso, não conseguiram acumular o capital necessário empresarial das unidades produtivas.
para a Revolução Industrial do século XIX.” (E) os polos tecnológicos estão se deslocando para áreas periféricas
do capitalismo à procura de mão de obra barata.

04 (UEL)
Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado.
01 (ENEM – adaptada) A evolução do processo de transformação E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se global.
de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três estágios: A ideia de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global
artesanato, manufatura e maquinofatura. devem ser encaradas conjuntamente e, desse modo, podem oferecer
uma nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que
Um desses estágios foi o artesanato, em que:
ocorrem na natureza também se subordinam a essa lógica.
(A) se trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1994. p. 190.
padronizada.
(B) se trabalhava, geralmente, sem o uso de máquinas e de modo Sobre o assunto, é correto afirmar que:
diferente do modelo de produção em série.
(A) as mudanças que ocorrem na natureza independem do
(C) se empregavam fontes de energia abundantes para o funciona-
mercado, cuja influência se limita às produções humanas.
mento das máquinas.
(B) as transformações das diferentes paisagens do globo terrestre
(D) cada operário realizava parte da produção com uso de máquinas
independem da ciência, da tecnologia e do mercado global.
e trabalho assalariado.
(C) grande parte dos impactos ambientais está subordinada às
(E) técnicos e gerentes faziam interferência no processo produtivo
relações existentes entre ciência, tecnologia e mercado global.
com vistas a determinar o ritmo de produção.
(D) para a exploração da natureza em uma economia de mercado
global, ciência e tecnologia são dispensáveis.
(E) as mudanças que ocorrem no mercado global devem ser
interpretadas pela subordinação deste à lógica da ecologia.
102 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 22

05 Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por 1982 1999
N N
atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir
da Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da
revolução tecnológica, houve desenvolvimento contínuo do setor
agropecuário.

São, portanto, observadas consequências econômicas, sociais e


ambientais inter-relacionadas no período posterior à Revolução
Industrial, as quais incluem: Tipos de indústrias Rodovias
Madeireiras
Tamanho proporcional
(A) a erradicação da fome no mundo. Alimentícias ao número de
estabelecimentos
(B) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas. Moveleiras industriais em
(C) a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os Outros cada cidade
recursos energéticos.
(D) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos na A partir da comparação das figuras, explique as mudanças ocorridas
agricultura. nesse intervalo de tempo.
(E) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário
da economia, em face da mecanização. 02 (UFRRJ) Leia o texto a seguir e responda:

As indústrias estão distribuídas de forma desigual no planeta,


pois tendem a se concentrar nos lugares onde há fatores favoráveis
à sua localização. Como esses fatores são definidos historicamente,
01 (UFRJ) As figuras a seguir mostram, em dois momentos, a variam com o passar do tempo, dependendo do tipo de indústria.
quantidade de estabelecimentos e os tipos de indústrias encontrados SENE, E. de; MOREIRA, J. C. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização.
em diversas cidades de uma área hipotética de povoamento recente. São Paulo: Scipione, 1998. p. 103.

Cite três fatores determinantes para a localização das indústrias.

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GEOGRAFIA I 103
Módulo 23 1ª Série

Evolução do sistema capitalista:


taylorismo e fordismo

Você sabe quem inventou o carro?


Se você é uma das inúmeras pessoas que imagina que o
automóvel foi inventado por Henry Ford, saiba que você está errado!
O automóvel foi inventado na Alemanha, no final do século XIX.
A figura ao lado reproduz esse modelo. Mas se o carro é uma

©Joachim Köhler/Wikimedia
invenção alemã, por que Ford tem o seu nome tão diretamente
vinculado ao pioneirismo em automóveis? Primeiro veículo a combustão – o
Ford foi um importante industrial estadunidense, responsável Reitwagen –, criado por Gottlieb
Daimler e Wilhelm Maybach em 1885.
pela criação de um sistema produtivo que dominou grande parte
do século XX e que herdou o seu nome – o fordismo.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, vamos conhecer em que consistiu esse sistema e a – Estudar o que são sistemas produtivos;
sua extrema relevância para o desenvolvimento da sociedade humana. C4 – identificar as principais características do taylorismo;
– analisar as características do fordismo.

1. Os sistemas produtivos II. fragmentação das atividades dos operários, que poderiam ser
realizadas por trabalhadores com baixos níveis de qualificação,
Sistema produtivo é a forma como está organizada a produção mas especializados em tarefas simples, ou seja, repetindo
de bens e mercadorias de uma sociedade, ou seja, a estrutura orga- gestos e movimentos. A especialização, nesse caso, não significa
qualificação, referindo-se a trabalhadores treinados para
nizacional que engloba diferentes setores dentro e fora das fábricas,
funções repetitivas;
incluindo a produção, a circulação de produtos e matérias-primas, III. perda, pelos trabalhadores, do controle do processo
e o consumo, além das formas de gestão desses processos. produtivo, que passa a ser controlado rigidamente por
A evolução dos sistemas produtivos liga-se diretamente ao técnicos e administradores.
desenvolvimento tecnológico e à série de inovações de cada período.
Conforme visto em módulos anteriores, a partir da Revolução
Industrial inglesa da segunda metade do século XVIII, ocorreram Taylor e a administração científica
inovações que alteraram as formas de produção dos principais Frederick W. Taylor se tornou

Domínio Público/Wikimedia
produtos e a própria fonte de energia utilizada predominantemente. uma das figuras mais marcantes
Neste módulo, serão analisados o taylorismo e o fordismo, que, da história do pensamento admi-
apesar de definirem processos distintos, têm muito em comum. nistrativo. Nascido na Inglaterra e
tendo um bom acesso à educação
básica e superior, Taylor completou
2. Taylorismo o ensino superior aos 29 anos,
Denomina-se taylorismo o conjunto de princípios defendido no curso de Engenharia. Com
pelo engenheiro estadunidense Frederick Taylor (1856-1915) para uma rápida ascensão, em 1896 ele
a organização do trabalho. assumiu o posto de engenheiro-
Preocupado com o excesso de tempo utilizado nas execuções -chefe na Bethlehem Steel Works,
de tarefas simples no interior das unidades fabris, Taylor criou racionalizando o trabalho e
um sistema rígido de controle sobre as ações dos trabalhadores, reduzindo a mão de obra e os custos da manipulação de materiais.
objetivando maximizar sua produção. Sua principal obra foi Princípios de administração científica,
As principais características do taylorismo são: publicada em 1911. O autor declarou que sua obra tinha como
objetivo assegurar a máxima prosperidade para o empregador
I. Centralização das decisões nas mãos da gerência. Esse método com a máxima prosperidade para o empregado. Para Taylor, o
de trabalho seguia linhas hierárquicas, com uma estrutura de problema principal do trabalhador era a “vadiagem”, ou seja,
comando partindo da alta direção, chegando até a fábrica, o tempo ocioso.
respeitando, rigidamente, cada um dos níveis;
104 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 23

3. Fordismo Havia uma enorme concentração operária, porque a rigidez do


sistema determinava grande necessidade de trabalhadores para as
O empresário estaduni- tarefas especializadas. Essa situação contribuiu para a politização

©Hartsook/Wikimedia
dense Henry Ford (1863-1947), da classe trabalhadora e para o fortalecimento dos sindicatos.
cujo nome foi dado ao sistema A organização da classe operária foi decisiva para que houvesse
produtivo dominante em grande importantes conquistas sociais, tais como contratos coletivos,
parte do século XX, aperfei- garantias de emprego, salário-desemprego e aposentadoria.
çoou o sistema elaborado por O Estado nacional de caráter keynesiano passou a interferir
Frederick Taylor, introduzindo a mais na economia por meio dos gastos públicos, dos planejamentos
linha de montagem, ou seja, in- de desenvolvimento regional, da profusão de um elevado número
ventou uma nova forma de fabricar de empregos no setor público e do atendimento às garantias
automóveis, por meio do sistema reivindicadas pelos trabalhadores, a exemplo da garantia de
Henry Ford sequencial de montagem de veículos emprego e do consumo. O Estado de bem-estar social desen-
criado em sua fábrica em Detroit. Com o passar do tempo, essa forma volveu políticas destinadas a reduzir as disparidades sociais, como
tornou-se predominante na fabricação dos mais diversos produtos. saúde, educação, saneamento, habitação e transportes urbanos.
O ano simbólico do início do sistema fordista foi 1914. Nele, As melhorias sociais contribuíram para o sucesso do fordismo
Henry Ford introduziu sua jornada de trabalho de 8 horas com porque, com maior renda, os trabalhadores passaram a consumir
pagamento de 5 dólares por hora aos trabalhadores da linha mais.
automática de montagem de carros. Uma característica importante do fordismo era o fato de as
Para entender o impacto dessa remuneração, vale lembrar grandes unidades fabris concentrarem todas as etapas da produção
que esse salário representava quase três vezes o rendimento de um em determinadas áreas – aquelas que contavam com os principais
operário comum. Tal atrativo provocou um verdadeiro êxodo de fatores para a instalação de indústrias. Dessa forma, o fordismo
trabalhadores para a cidade de Michigan, no estado de Detroit. contribuiu para a urbanização, devido à atração de uma grande
A remuneração expressiva para os trabalhadores é fundamental massa de trabalhadores para as áreas urbanas, e, mais especifica-
para o sistema produtivo fordista, porque determina o poder de mente, para a metropolização, já que essas grandes concentrações
consumo dos próprios trabalhadores, viabilizando a lógica de industriais determinavam que as grandes cidades crescessem mais
“produção em massa – consumo em massa”. do que as demais áreas urbanas.
O sistema fordista nasceu no início do século XX, embora só tenha
se tornado majoritário concomitantemente aos ganhos de produtivi-
dade, com o crescimento do consumo após a Segunda Guerra Mundial. Alienação do trabalho
A integração vertical, elaborada por Henry Ford, consistia em Analisando as condições de trabalho na Segunda
longas esteiras rolantes deslocando o produto semielaborado até Revolução Industrial, notam-se algumas especificidades
os operários. Esse recurso, característico do esquema de produção que revelam grandes mudanças para os trabalhadores.
de Henry Ford, foi denominado “linha de montagem” e reforçou a O pensamento marxista analisa que o proletariado desse
tendência de especialização dos trabalhadores, típica do taylorismo. período passou por um imenso processo de alienação em
relação ao valor do trabalho que era realizado. Previamente à
A produção dos diversos componentes era feita em série, ou
Revolução Industrial, os trabalhadores participavam de todos
seja, fabricava-se uma enorme quantidade de produtos padro-
os processos de produção de forma independente, criando
nizados (standard). Essa característica determinava a existência
consciência do tempo e do material usado na produção.
de grandes estoques, porque a produção era, de certa forma,
independente da demanda. Em outras palavras, cabia à unidade A partir da nova reestruturação promovida pela Revolução
industrial fabricar o máximo possível de produtos; e cabia aos Industrial, a inserção das máquinas gerou o desemprego
departamentos comerciais realizar a venda do que foi produzido. estrutural e o distanciamento do trabalhador do produto final.
Portanto, muitas vezes, o trabalhador não sabia qual produto
©horse1asia/iStock

estava sendo confeccionado ou quanto ele estava produzindo.


Nesse contexto, é possível caracterizar a alienação do traba-
lhador como algo não voluntário e proposital, uma vez que este
se submete a tais condições por não ter controle da produção e
por praticar uma ação extremamente específica, sem conseguir
projetar o valor de riqueza do produto produzido.

FORD T – mais de 15 milhões de unidades produzidas.


Evolução do sistema capitalista: taylorismo e fordismo GEOGRAFIA I 105
Módulo 23 1ª Série

O modelo produtivo e a correspondente explicação para tais


Tais condições de trabalho não se encerraram com o mudanças estão apontadas em:
passar dos anos. Na realidade, com o avanço da tecnologia e o
crescimento populacional global, elas avançaram e alcançaram (A) consumismo – aumento do volume de crédito para a população.
(B) sistêmico-flexível – adoção do livre-cambismo como política
outros níveis.
alfandegária.
(C) fordismo – transferência aos trabalhadores de ganhos de produ-

©vm/iStock
tividade.
(D) neofordismo – redução do preço dos produtos por subsídios
governamentais.
02 (FGV) Em 27 de setembro de 1908, em Detroit (EUA),
começava a produção do Ford Modelo T, o carro que deu início à
era do automóvel e cujo centenário de lançamento foi comemorado
em 2008. De mecânica simples, fácil de dirigir e barato, era a
concretização da visão de seu fabricante, Henry Ford I, sobre o
automóvel. O Modelo T vendeu 15 milhões de unidades, até sair
O trabalhador industrial foi, possivelmente, o que mais sofreu as mazelas nas fábricas.
de linha, em 1927. Chegou a representar metade da frota mundial
de veículos.

Assinale, entre as alternativas seguintes, a única que apresenta


termos que estão associados ao sistema produtivo utilizado por
Henry Ford I na industrialização desse automóvel:

01 (FUVEST) Apresente dois aspectos do processo industrial (A) produção flexível – industrialização customizada.
fordista. (B) toyotismo – produção flexível.
(C) taylorismo – industrialização customizada.
02 (FUVEST) Caracterize o espaço industrial no fordismo. (D) toyotismo – industrialização customizada.
(E) linha de montagem – industrialização em massa.
03 (UERJ)
Tempos modernos, filme de 1936 – cuja temática ultrapassa a 03 (UERJ) Leia:
tragédia da existência individual –, coloca em cena o conflito entre
o homem e o taylorismo. Andy Warhol (1928-1987) é um artista conhecido por
criações que abordaram valores da sociedade de consumo;
BODY-GENDROT, Sophie. “Uma vida privada francesa segundo o modelo americano”. In: DUBY,
Georges; ARIÈS, Philippe. História da vida privada. V. 3. p. 535.
em especial, o uso e o abuso da repetição. Esses traços estão
presentes, por exemplo, na obra que retrata as latas de sopa
Explique o novo tipo de conflito sugerido no texto. Campbell’s, de 1962.

04 (UERJ) Indique duas características do taylorismo.

Disponível em: <holditnow.wordpress.com>.


05 O que são esteiras de produção?

01 (UERJ) Observe o gráfico e responda:


Equipamentos dos domicílios em porcentagem na França
100 95% 99%
90 89%
80 78%
70
60
50
40
30 O modelo de desenvolvimento do capitalismo e o correspondente
20 21% 30% 25% 24%
10 automóvel 13% televisão 7,5% geladeira 8,4% lava-roupa elemento da organização da produção industrial representados
1%
0 nesse trabalho de Warhol estão apontados em:
54 0 93 54 0 93 54 0 94 954 960 94
19 196 19 19 196 19 19 196 19 1 1 19
(A) taylorismo – produção flexível.
ADOUMIÉ, Vincent et al. Histoire et Géographie, 3e. (B) fordismo – produção em série.
Paris: Hachette Éducation, 2006 (adaptado).
(C) toyotismo – fragmentação da produção.
O gráfico aponta importantes mudanças no padrão de consumo de (D) neofordismo – terceirização da produção.
países desenvolvidos, entre as décadas de 1950 e 1990.
106 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 23

04 (UERJ) Os gráficos abaixo apresentam a média de gastos “Somos franceses, mas não
mensais dos franceses com diferentes itens do orçamento doméstico franceses de verdade”
em 1950 e em 1973.
Manifestantes da comunidade de imigrantes incendiaram
1950 1973
centenas de carros e vários estabelecimentos comerciais durante a
outros
5%
lazer 11% outros noite desta sexta-feira (04/11) nos subúrbios pobres de Paris. Um
3% saúde
4% incêndio a sudoeste da capital francesa, em Trappes, consumiu um
5% transportes 7% lazer pátio de estacionamento com 27 ônibus. (...) Nas noites anteriores
10% habitação 7% vestiário houve episódios nos quais os policiais utilizaram bombas de
gás lacrimogêneo e balas de borracha, e alguns manifestantes
9% mobiliário
12% mobiliário responderam com tiros de munição real.
11% saúde Os distúrbios se espalharam por várias outras cidades na noite
16% vestiário de quinta-feira, tendo havido ataques similares na cidade de Dijon,
12% transportes no norte da França, e em Marselha, na costa mediterrânea.
CRAMPTON, Thomas; BENNHOLD, Katrin. Divulgado pelo NIEM – Núcleo Interdisciplinar de
13% habitação Estudo Migratórios – UERJ. Disponível em: Uol. Mídia Global, 5 nov. 2005.

alimentação A principal causa para a mudança verificada no gráfico, a partir


45%
de meados dos anos 1970, e a correspondente consequência que
30% alimentação ajuda a compreender os problemas atuais da imigração estão
apontadas em:

(A) Crise do modelo produtivo fordista – dificuldade de integração


ADOUMIÉ, Vincent. Histoire et Géographie. 3e. Paris: Hachette, 2004.
dos imigrantes, aumentando sua segregação.
As mudanças observadas na distribuição dos percentuais das (B) Elevação do crescimento vegetativo nacional – aumento dos
despesas domésticas, no período analisado, estão associadas ao gastos sociais do Estado, resultando em menor demanda de
seguinte processo histórico ocorrido nos países desenvolvidos: mão de obra.
(C) Término da Guerra Fria – crescimento político da extrema
(A) elevação do custo de vida da classe trabalhadora, relacionada direita, favorecendo a adoção de medidas de restrição à entrada
à crise do petróleo. de imigrantes.
(B) desestruturação dos serviços públicos, ligada à ascensão de (D) Consolidação da União Europeia – utilização crescente da mão
partidos políticos liberais. de obra europeia, substituindo os imigrantes das nações
(C) consolidação da sociedade de consumo de massa, vinculada à subdesenvolvidas.
afirmação do modelo produtivo fordista.
(D) diminuição do poder de compra da população, articulada à
depressão econômica do período keynesiano.

05 (UERJ) O gráfico e a reportagem a seguir estão relacionados a


01 (UERJ– adaptada)
uma das temáticas mais importantes no mundo atual: a imigração.
O patrono
Participação dos imigrantes na população francesa (%)
Um estudo recente encomendado pelo banco BNP Paribas,
8
francês e insuspeito, mostrou que nos últimos cinco anos a classe
C brasileira cresceu e aumentou sua renda mais do que as classes
7
A/B, enquanto as classes D/E diminuíram de tamanho. O que deve
interessar a todo o mundo é que está se criando uma coisa que até
6
agora não existia no Brasil. E o patrono desta transformação não é
5
Karl Marx, é Henry Ford.
Henry Ford ficou na história porque criou o fordismo, um
4 método revolucionário de produção de carros em série que mudou
para sempre os costumes e a paisagem da América.
3
Luis Fernando Verissimo.

2 De acordo com o texto, há um elemento do fordismo verificado no


1911 1921 1926 1931 1936 1946 1954 1962 1968 1975 1982 1990 1999
Brasil apenas recentemente. Aponte esse elemento.
BRUNET, Roger; PIERRE-ELIEN, Daniel. Géographie – L’Europe, la France.
Rosny-sous-Bois: Bréal, 2003 (adaptado).
Evolução do sistema capitalista: taylorismo e fordismo GEOGRAFIA I 107
Módulo 23 1ª Série

02 (UEPB) produção e a venda, e [...] que permite dar ao cliente o prazo exato.
Em 1905, a Ford tinha 33 fábricas nos Estados Unidos e 19 no [...] a fabricação se aproxima de uma produção segundo a demanda.
estrangeiro. Todas produziam o mesmo carro negro, o Ford T – o BECKOUCHE, Pierre. Indústria: um só mundo. São Paulo: Ática, 1995. p. 28 e 31.
carro de todo o mundo –, fabricando quinze milhões de exemplares
de maneira padronizada. Os dois fragmentos do texto acima exemplificam as transforma-
Nissan inventa o automóvel à la carte. O sistema [...] já está ções dos métodos de produção e de trabalho, com consequentes
mudanças na forma de consumo da população mundial. Eles falam,
operando em todas as concessionárias da Nissan desde agosto de
respectivamente, de quais modelos produtivos?
1991. [...] é um sistema de informação de ponta que coordena a

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GEOGRAFIA I 108
Módulo 24 1ª Série

Evolução do sistema capitalista:


Terceira Revolução Industrial

Você já se imaginou com um mesmo produto por


14 anos? E se essa permanência não fosse por
opção, e sim por falta dela?
O automóvel ao lado é o Ford Modelo T, que foi produzido,
sem nenhum tipo de alteração, de 1913 a 1927. Ele foi o símbolo
do sucesso do modelo de produção fordista, caracterizado por sua
rigidez. Henry Ford dizia: “Você pode ter o carro que quiser desde

©RyanJLane/iStock
que ele seja um Ford Modelo T preto.”
Atualmente, a renovação do mercado consumidor é estabe-
lecida pelos novos desenvolvimentos tecnológicos associados aos
setores de marketing e propaganda, que nos fazem trocar nossos
bens, mesmo que estes ainda não estejam inutilizáveis.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, veremos como o modelo flexível se tornou – Analisar as principais características da Terceira Revolução Industrial;
predominante no mundo atual, aprimorando os processos produ- C4 – analisar as inovações tecnológicas do período;
tivos e expandindo as áreas de atuação dos agentes econômicos. – identificar as características da produção just in time.

1. A crise do fordismo 2. O pós-fordismo ou toyotismo ou


Nas últimas décadas, o modelo de produção fordista perdeu regime de acumulação flexível
espaço e foi, progressivamente, substituído por um sistema marcado
A crise do petróleo de 1973 foi o marco da transição do modelo
pela flexibilidade: o pós-fordismo ou toyotismo. Mas o que deter-
fordista para um modelo de produção com base na flexibilidade,
minou a decadência do fordismo?
o pós-fordismo.
Como visto, o modelo fordista se expandiu após a Segunda
As dificuldades econômicas do período foram enfrentadas
Guerra Mundial, com o aumento da proteção social aos trabalhadores,
com ações que visavam alterar a rigidez do modelo fordista.
o Estado de Bem-Estar Social. O fordismo dependia do aumento
Os países centrais precisavam criar condições internas para elevar
constante dos salários dos trabalhadores para manter o mercado ativo,
a competitividade. O processo de saturação dos mercados acabou
ou seja, conservar os níveis de produção e de consumo crescentes.
gerando a necessidade de diversificação do produto, para atender
Após o extraordinário crescimento no período pós-Segunda aos mercados consumidores variados e específicos. As transforma-
Guerra Mundial, que foi denominado pelo historiador Eric ções do sistema produtivo apoiaram-se nas inovações tecnológicas
Hobsbawn os “30 anos gloriosos”, o fordismo começou a enfrentar do pós-guerra. O modelo fordista de produção começou a ceder
um período de estagnação, com uma redução incisiva do ritmo lugar para o modelo flexível e o método de produção americano
de crescimento industrial em países capitalistas já desenvolvidos. passou a ser substituído pelo método japonês de produção reduzida.
Entre as causas que podem ser apontadas para a decadência
©baranozdemir/iStock

do fordismo, tem-se:

• a dificuldade de adaptação do sistema de produção fordista às


tecnologias desenvolvidas na Terceira Revolução Industrial;
• a redução da lucratividade das empresas, devido à dificuldade
de ampliação do consumo e à maior exigência dos mercados;
• a ampliação da concorrência internacional, com a recuperação
das economias europeias, principalmente a alemã, e da japonesa;
• a grande ampliação dos gastos do Estado do Welfare State, com
o crescimento do desemprego e envelhecimento da população;
• a crise do petróleo (1973-1979), que contribuiu para desesta-
bilizar e desmantelar as bases do Welfare State, paralelamente
à desvalorização do dólar.

Automatização da produção automobilística.


Evolução do sistema capitalista: GEOGRAFIA I 109
Terceira Revolução Industrial Módulo 24 1ª Série

O nome toyotismo deve-se ao fato de a empresa japonesa do espaço geográfico. As modernas tecnologias permitem, por
Toyota ter sido pioneira na utilização de novas formas de produzir, exemplo, que a decisão sobre um produto ocorra em um lugar
com menos esforço humano, menos espaço físico, além de menos (normalmente a sede das empresas localizadas em cidades globais);
investimentos e menor tempo de desenvolvimento de um produto. o desenvolvimento, em outro; a fabricação de componentes, em
O conjunto de alterações implementadas visava à flexibilidade, que outro; e, finalmente, a montagem final, em um país com menores
pôde ser percebida nos produtos, nos trabalhos e na organização custos de produção.

O quadro a seguir compara os dois modelos produtivos:

Produção fordista (baseada em economias de escala) Produção de just in time (baseada em economias de escopo)
I. O processo de produção
Produção em massa de produtos padronizados Produção em pequenos lotes
Standardização/padronização Customização – grande variedade de tipos de produtos
Grandes estoques Redução dos estoques – Just in time
Testes de qualidade posteriores à fabricação Controle de qualidade integrado ao processo (detecção imediata
(detecção tardia de erros e produtos defeituosos) de erros)
Integração vertical Integração horizontal
II. Trabalho
Realização de uma única tarefa pelo trabalhador Múltiplas tarefas
Pouco ou nenhum treinamento no trabalho Longo treinamento no trabalho
Organização vertical do trabalho Organização mais horizontal do trabalho
Sindicatos fortes e atuantes Sindicatos enfraquecidos
Salários padronizados Salários diferenciados conforme a qualificação
C. Espaço
Concentração espacial de atividade industrial Desconcentração espacial de atividade industrial
Divisão espacial do trabalho Integração espacial – empresas em rede
D. Estado
Regulamentação Desregulamentação/re-regulamentação
Rigidez Flexibilidade
Negociação coletiva Divisão/individualização, negociações locais ou por empresa
Privatização das necessidades coletivas e da seguridade social
Socialização do bem-estar social (o Estado do bem-estar social)
(o Estado neoliberal)
Intervenção indireta em mercados por meio de políticas Intervenção estatal direta em mercados, por meio de aquisição
de renda e de preços somente em caso de crise

David Harvey (adaptado).

Este outro quadro compara as principais características das “revoluções industriais” e ajuda a compreender as diferenças fundamentais
entre o fordismo e o pós-fordismo.

Primeira Revolução Segunda Revolução


Caracterização Terceira Revolução Industrial
Industrial Industrial
França, Bélgica, Holanda,
Época e lugar onde Inglaterra, século XVIII
EUA, Alemanha, Itália e Japão e EUA, século XX (1970)
ocorreram (1780/1830)
Japão, século XIX (1870)
110 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 24

Indústrias metalúrgicas, Indústrias de informática, microeletrônica,


Ramos de atividades Indústria têxtil químicas, automobilísticas, robótica, química fina, biotecnologia, telecomu-
petroquímicas etc. nicações, engenharia genética etc.
Inovações Máquina a vapor e tear
Motor a combustão Microprocessador (chip)
tecnológicas mecânico
Ainda há uma liderança do petróleo, porém
uma grande variedade de fontes em uso, além
Fontes de energia Carvão mineral Eletricidade e petróleo
da busca por fontes alternativas aos combustí-
veis fósseis
Trens e navios movidos Trens de grande velocidade, supernavios, aviões
Meios de transporte Automóvel e navegação aérea
a vapor supersônicos e infovias
Características da Trabalho especializado, com
Trabalho qualificado, com fusão do trabalho
organização do Trabalho assalariado separação do trabalho manual
manual e intelectual
trabalho do intelectual
Papel do Estado Liberal Keynesiano Neoliberalismo

Perfil do trabalhador Trabalhador por ofício Trabalhador especializado Trabalhador polivalente

Deslocamento da Consolidação dos grandes


Transformações do Desconcentração da atividade industrial
população do campo centros industriais
espaço (deseconomias de aglomeração)
para as cidades (economias de aglomeração)

Transformações na Divisão de classes entre


Sociedade urbano-industrial Sociedade pós-industrial
sociedade burguesia e operários

MORANDI, S. (2001) Copidart/CEETEPS, São Paulo (adaptado).

Empresas multinacionais e a busca por menores obtidos por essas empresas são destinados à construção de novas
custos de produção filiais em outros locais, e uma parte vai para a matriz localizada
Economistas informam que entre os preços mais significa- no país de origem.
tivos em uma economia está o dos salários, dado o peso de sua

©Liuser/iStock
influência no conjunto das atividades. Por esse motivo, muitas
empresas multinacionais com sede nos países centrais instalam
suas fábricas na Ásia, já que os custos da mão de obra são baixos.
No caso da China, houve uma significativa elevação dos preços
nos últimos anos, refletindo um início de escassez de mão de obra.
A instalação de uma filial de uma empresa multinacional
em países em desenvolvimento ocorre, na maioria das vezes, por
incentivos do governo, como doação de terreno e diminuição ou,
até mesmo, isenção de impostos. Nos locais onde ocorre a cons-
trução de uma filial, há geração de empregos e desenvolvimento
industrial. No entanto, aumenta a concentração de renda, já que
os salários dos trabalhadores são baixos. Além disso, os lucros Fábrica asiática.
Evolução do sistema capitalista: GEOGRAFIA I 111
Terceira Revolução Industrial Módulo 24 1ª Série

Identifique:

Volvismo a. o tipo de modelo produtivo relacionado à estratégia descrita e


Entre as décadas de 1960 e uma característica do perfil da mão de obra a ele associada;

©WENDELL FRANKS/iStock
1970, a empresa automobilística b. duas consequências do sistema adotado pela Scania para a
Volvo encontrou dificuldades organização das suas filiais no mundo.
na contratação de mão de obra
05 Quais são as principais características da flexibilização da
devido ao baixo desemprego produção?
na Suécia e ao excesso de
qualificação da mão de obra.
Tendo em vista os empregos
monótonos oferecidos, os jovens
recusavam as ofertas de trabalho, 01 (ENEM)
aumentando os conflitos laborais
Um certo carro esporte é desenhado na Califórnia, financiado
no país, causando um aumento
por Tóquio, o protótipo criado em Worthing (Inglaterra) e a
substancial do número de greves.
montagem é feita nos EUA e México, com componentes eletrônicos
Portanto, em 1971, o CEO da Volvo, Pehr Gustaf Gyllenhammar, inventados em Nova Jérsei (EUA), fabricados no Japão. (…). Já a
apostou na concepção sociotécnica para resolver os problemas de mão indústria de confecção norte-americana, quando inscreve em seus
de obra. A partir daí, a empresa construiu novas fábricas e adaptou o produtos “made in USA”, esquece de mencionar que eles foram
sistema produtivo. A linha de montagem tradicional foi substituída produzidos no México, Caribe ou Filipinas.
por módulos de montagem paralelos, ou seja, equipes de 6 a 8
Renato Ortiz. Mundialização e cultura.
funcionários na montagem de um carro, com períodos alongados de
trabalho de 2 a 4 horas, fornecimento de peças integrado ao processo O texto ilustra como, em certos países, produz-se tanto um carro
de montagem e maior autonomia no ritmo de trabalho. esporte caro e sofisticado quanto roupas que nem sequer levam
O resultado foi positivo. O aumento do gasto entre a empresa uma etiqueta identificando o país produtor. De fato, tais roupas
tradicional e a empresa nova foi de apenas 10%, além da satisfação costumam ser feitas em fábricas – chamadas “maquiladoras” –
situadas em zonas francas, onde os trabalhadores nem sempre têm
dos funcionários.
direitos trabalhistas garantidos.

A produção nessas condições indicaria um processo de globali-


zação que:

(A) fortalece os Estados Nacionais e diminui as disparidades


01 Apresente uma característica do toyotismo. econômicas entre eles pela aproximação de um centro rico com
uma periferia pobre.
02 Identifique uma causa para a crise do fordismo. (B) garante a soberania dos Estados Nacionais por meio da iden-
tificação da origem de produção dos bens e mercadorias.
(C) fortalece, igualmente, os Estados Nacionais por meio da
03 Apresente um fator que viabilizou a transformação do modelo circulação de bens e capitais e do intercâmbio de tecnologia.
fordista em toyotista. (D) compensa as disparidades econômicas pela socialização de
novas tecnologias e pela circulação globalizada da mão de obra.
04 (UERJ) (E) reafirma as diferenças entre um centro rico e uma periferia pobre,
tanto dentro como fora das fronteiras dos Estados Nacionais.
Seis milhões de combinações
A empresa sueca Scania, uma das líderes na venda de caminhões 02 (ENEM) As tecnologias de informação e comunicação (TIC)
pesados no Brasil, foi buscar inspiração no Lego, o brinquedo de vieram aprimorar ou substituir meios tradicionais de comunicação e
montar, para criar um sistema modular de fabricação de veículos. armazenamento de informações, tais como o rádio e a TV analógicos,
os livros, os telégrafos, o fax etc. As novas bases tecnológicas são
Juntando as diferentes peças, a Scania pôde fazer 6 milhões de
mais poderosas e versáteis, introduziram fortemente a possibilidade
combinações. Com o objetivo de tornar a operação viável do ponto de comunicação interativa e estão presentes em todos os meios
de vista comercial, a montadora reduziu o número de alternativas produtivos da atualidade. As novas TIC vieram acompanhadas da
no catálogo, mas manteve a quantidade de opções em cerca de chamada digital divide, digital gap ou digital exclusion, traduzidas para
100 modelos de caminhão. o português como “divisão digital” ou “exclusão digital”, sendo, às
Veja, 28 mai. 2003. vezes, também usados os termos “brecha digital” ou “abismo digital”.
112 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 24

Nesse contexto, a expressão “divisão digital” refere-se a: A utilização de novas tecnologias tem causado inúmeras alterações
no mundo do trabalho. Essas mudanças são observadas em um
(A) uma classificação que caracteriza cada uma das áreas nas quais modelo de produção caracterizado:
as novas TIC podem ser aplicadas, relacionando os padrões de
utilização e exemplificando o uso dessas TIC no mundo moderno. (A) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver
(B) uma relação das áreas ou subáreas de conhecimento que ainda não produtos autênticos e personalizados.
foram contempladas com o uso das novas tecnologias digitais, o que (B) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no
caracteriza uma brecha tecnológica que precisa ser minimizada. setor industrial.
(C) uma enorme diferença de desempenho entre os empreen- (C) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalha-
dimentos que utilizam as tecnologias digitais e aqueles que dores no processo de qualificação laboral.
permaneceram usando métodos e técnicas analógicas. (D) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especiali-
(D) um aprofundamento das diferenças sociais já existentes, uma zados em funções repetitivas.
vez que se torna difícil a aquisição de conhecimentos e habili- (E) pela manutenção de estoques de larga escala em função da alta
dades fundamentais pelas populações menos favorecidas nos produtividade.
novos meios produtivos.
(E) uma proposta de educação para o uso de novas pedagogias com 05 (UERJ) O capitalismo já conta com mais de dois séculos de
a finalidade de acompanhar a evolução das mídias e orientar a história e, de acordo com alguns estudiosos, vive-se hoje um modelo
produção de material pedagógico com apoio de computadores pós-fordista ou toyotista desse sistema econômico. Observe o
e outras técnicas digitais. anúncio publicitário.

03 (ENEM)

Disponível em:<www.estudavest.com.br>
Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assa-
lariação do trabalho e socialização da produção, que foi característica
predominante na era industrial. A nova organização social e econômica
baseada nas tecnologias da informação visa à administração descentra-
lizadora, ao trabalho individualizante e aos mercados personalizados.
As novas tecnologias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a
descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa
de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os
andares de um mesmo edifício.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 (adaptado).

No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças constantes


nas ferramentas de comunicação que afetam os processos produtivos
nas empresas. Na esfera do trabalho, tais mudanças têm provocado:

(A) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as linhas


de montagem sob influência dos modelos orientais de gestão.
(B) o aumento das formas de teletrabalho como solução de larga
escala para o problema do desemprego crônico.
(C) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como respostas
às demandas por inovação e com vistas à mobilidade dos
investimentos.
(D) a autonomização crescente das máquinas e computadores em
substituição ao trabalho dos especialistas técnicos e gestores.
(E) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, executivos e
clientes com a garantia de harmonização das relações de trabalho.

04 (ENEM) Uma estratégia própria do capitalismo pós-fordista presente no


anúncio é:
A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de
efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e sua organização. O (A) concentração de capital, viabilizando a automação fabril.
uso de novas tecnologias trouxe a diminuição do trabalho neces- (B) terceirização da produção, massificando o consumo de bens.
sário, que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma (C) flexibilização da indústria, permitindo a produção por demanda.
vez que, com a presença da automação microeletrônica, teve início a (D) formação de estoque, aumentando a lucratividade das empresas.
diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização
dos processos de trabalho.
Revista Eletrônica de Geografia Y Ciências Sociales. Universidad de
Barcelona. no 170(9). 1 ago. 2004.
Evolução do sistema capitalista: GEOGRAFIA I 113
Terceira Revolução Industrial Módulo 24 1ª Série

01 (UNIFAP) Tomando como base a leitura do texto e os conhecimentos sobre a


A Terceira Revolução Industrial – ou Revolução Técnico- atividade industrial, cite os principais efeitos positivos e negativos
-Científica – começou a tomar forma no final da Segunda Guerra provocados pela Revolução Técnico-Científica.
Mundial, mas os seus efeitos têm se manifestado em todo o mundo,
02 (ENEM) No atual estágio de desenvolvimento do capitalismo
de forma mais intensa, nas últimas três décadas. Sua repercussão mundial, a abundância de recursos e de mão de obra não tem a mesma
atinge o conjunto das atividades econômicas, as relações sociais e importância que possuía antes da Revolução Técnico-Científica.
as relações entre a sociedade e a natureza. Apresente dois fatores importantes para a definição de novos padrões
de localização industrial.
LUCCI, E. A.; BRANCO, A. L.; MENDONÇA, C. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia
geral e do Brasil: ensino médio. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 241.

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GEOGRAFIA I 114
Módulo 25 1ª Série

Globalização econômica, política,


social e cultural

Você já imaginou se uma mensagem de texto


levasse 55 dias para chegar ao destinatário?
Esse foi o tempo que a esquadra portuguesa levou para atra-
vessar o Oceano Atlântico de Lisboa até o litoral da Bahia, logo esse
era o tempo médio que uma mensagem levava para circular entre
a Colônia e a Metrópole.

©Giulio Fornasar/iStock
Hoje em dia, podemos nos comunicar com praticamente todo
o mundo de forma quase instantânea. O tempo de deslocamento
também foi drasticamente reduzido, chegando a incríveis 6 horas
em aviões modernos, para fazer o mesmo percurso.
O processo de globalização é o tema deste módulo e nele Expectativas de aprendizagem:
veremos como os avanços do meio técnico-científico-informacional – Estudar o significado do processo de globalização;
permitiram que as distâncias fossem encurtadas, integrando boa C2 – analisar as novas fronteiras que são criadas no mundo globalizado;
parte do mundo. – identificar as aspectos positivos e negativos da globalização.

1. Introdução O desenvolvimento tecnológico é o fator fundamental para a


globalização, porque a tecnologia permite, a quem tem acesso a ela,
Denomina-se globalização o processo de integração da percorrer as distâncias em um tempo cada vez menor, dando a ideia
economia mundial comandado pelas empresas transnacionais ou de uma redução das distâncias ou de um “encolhimento do mundo”.
multinacionais.

ATLÂNTICO NORTE

INGLATERRA
Londres
CANADÁ

FRANÇA

ESTADOS
UNIDOS
Nova York

avião de 1995: avião de 1950: navio cargueiro de 1940: caravela de 1900:


8 horas 15 horas 4,5 dias 7 dias

Tempo médio de deslocamento, de acordo com o meio de transporte.


Globalização econômica, política, social e cultural GEOGRAFIA I 115
Módulo 25 1ª Série

Esse processo acontece, praticamente, em todo o mundo, como o


deslocamento de indústrias do Nordeste americano para o Sul e a
Costa Oeste, a perda de indústrias do ABC Paulista para o interior,
entre outros.
Todo esse processo vem ocorrendo devido a grandes avanços
tecnológicos, principalmente nos transportes e nas comunicações,
que permitem a atual fase em que a economia é caracterizada por
várias redes integradas.

3. A concentração do capital
As 10 maiores empresas do mundo em 2015
País de Valor de
Ranking Empresa
Conexões mundiais. origem mercado
No entanto, é importante frisar que, considerando a globali- US$485,6
1a Walmart EUA
zação o processo de integração da economia mundial, é possível bilhões
relacioná-la com o processo de desenvolvimento e evolução do US$446,8
2a Sinopec Group China
capitalismo, existindo, portanto, há vários séculos. Obviamente, bilhões
a globalização das últimas décadas foi muito intensa, porque Inglaterra / US$431,3
3a Royal Dutch Shell
as inovações da Revolução Técnico-Científica-Informacional Holanda bilhões
permitem um deslocamento cada vez mais rápido, muitas vezes em China National US$428,6
4a China
tempo real (quando se pensa em deslocamento imaterial). Petroleum Corp (CNPC) bilhões
US$382,5
5a Exxon Mobil EUA
bilhões
2. A desconcentração geográfica
US$358,6
da indústria 6a BP Inglaterra
bilhões
A principal característica econômica do mundo atual é a ação US$339,4
7a State Grid China
bilhões
de empresas transnacionais ou multinacionais, que determinam um
mundo cada vez mais integrado, gerando a chamada globalização US$268,5
8a Volkswagen Alemanha
bilhões
da economia.
US$247,7
A expansão das transnacionais ocorreu a partir da Segunda 9a Toyota Japão
bilhões
Guerra Mundial, quando as maiores empresas instalaram filiais
US$221,0
nos países periféricos, buscando matéria-prima, mercados consu- 10a Glencore Suíça
bilhões
midores e mão de obra barata.
Tabela construída a partir de informações fornecidas pela revista Fortune, 2015.
As inovações tecnológicas nos transportes e nas comunica-
ções levaram a transnacionalização a essas grandes corporações.
A concentração do capital industrial, típica da fase monopo-
Há 20 anos, elas instalavam uma subsidiária para produzir e lista – caracterizada pelo poder dos trustes americanos, europeus
vender bens em um país estrangeiro. Hoje, uma transnacional pode e japoneses (zaibatsus), que monopolizavam ou oligopolizavam
desenhar o produto em um país, fabricar as peças em outros seis, as economias nacionais –, ganha dimensão planetária com a
dependendo do preço, e montar o produto em um sétimo. A fábrica globalização. A principal diferença é a característica transnacional
instalada no país que oferecer as melhores condições à unidade da que essas corporações adotam, ou seja, não respeitam as fronteiras
empresa é a vencedora. nacionais, dificultando a compreensão da origem do capital que
A Nike desenha o tênis nos Estados Unidos e transmite o controla as empresas.
desenho, por modernos meios de comunicação, à subsidiária de Essa concentração aumenta com a absorção de empresas de
Taiwan, que contrata (terceiriza) quarenta indústrias na Ásia para países periféricos (Electrolux – Prosdócimo, Mahler – Cofap,
fabricá-los. Da base asiática, eles são vendidos para todo o mundo. Nestlé – Garoto...), fusões de corporações (Peugeot – Citroën,
A descentralização industrial não ocorre apenas no nível interna- Pirelli – Dunlop, Boeing – McDowel...), ou, ainda, associações e
cional. Dentro dos países, as indústrias migram, também, em busca de parcerias em que as empresas mantêm suas identidades.
menores custos de produção (mão de obra, transportes, impostos, etc.).
116 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 25

Este pode determinar grande semelhança ou proximidade entre


pessoas de áreas muito distantes do planeta. Elas podem se vestir da
Aquisições e monopólios
mesma forma, comer em lanchonetes semelhantes, ou seja, usufruir
Um monopólio é caracterizado por uma única empresa que dos mesmos hábitos de consumo. É a possibilidade de compra que
domina a oferta de determinado produto ou serviço. Quando isso une essas pessoas, mesmo que elas estejam a quilômetros de distância.
ocorre, a concorrência é eliminada, tendo como consequência
Ao mesmo tempo, algumas fronteiras não só existem como
o preço abusivo, já que o produto ou serviço é oferecido com
crescem cada vez mais. São as fronteiras que separam as classes
exclusividade.
sociais. Os poucos metros que separam a favela de um prédio de
A prática de formação de monopólios e conglomerados de luxo em uma grande cidade brasileira escondem a notável fronteira
empresas se torna cada vez mais comum no cenário internacional, que existe entre essas pessoas.
no qual prevalece a busca pelo lucro.

©peeterv/iStock
Em 2014, o Facebook comprou o aplicativo de mensagens
WhatsApp pelo valor de US$21,8 bilhões. A transação deu à
empresa uma posição marcante na indústria de telecomunicações,
concorrendo com outros aplicativos de mensagens, como o Viber,
e com grandes companhias já estabelecidas no mercado, como a
Telecom Italia. ©banar/iStock

Segregação na cidade do Rio de Janeiro.

A proximidade física e o abismo com relação ao consumo


torna a convivência nas grandes cidades cada vez mais violenta.
Daí a tendência, cada vez maior, de classes média e alta se isolarem
em condomínios fechados ou áreas exclusivas, o que se chama de
segregação espacial.

4. As contradições da globalização Por uma outra globalização


O processo de globalização apresenta uma série de contradições. Milton Santos foi um

©TV Brasil/Wikimedia
Uma de suas principais tendências é a de redução das “distâncias”, dos mais consagrados
com a formação de um mundo cada vez “menor” ou mais integrado. geógrafos brasileiros e
No entanto, percebe-se um aumento das “distâncias” entre países considerado por muitos
centrais e periféricos e entre as classes sociais dos diferentes países. o maior pensador da
história da geografia
Outra base da globalização é a descentralização do processo
do Brasil. Ao longo de
produtivo, tanto intra quanto internacionalmente, com a caracte-
sua trajetória, abordou
rística de economia de rede. Contudo, as decisões e o controle do
inúmeros temas relacionados à epistemologia da geografia,
processo estão cada vez mais concentrados nos países centrais. Ou
ao espaço urbano e à globalização, sempre se posicionando
seja, a sede da empresa continua no país de origem, que, na maioria
criticamente em relação aos sistemas mundiais vigentes.
das vezes, é um país central.
Em seu livro Por uma outra globalização, escrito em 2000,
Além disso, é comum se dizer que o mundo globalizado
Milton Santos defende a ideia de que é necessário haver outra
é um mundo sem fronteiras; na verdade, é um mundo em
interpretação sobre o processo de globalização e os sistemas
que são criadas novas fronteiras. Estas não estão associadas,
globais vigentes. Comenta também que deve haver um limite
necessariamente, à distância ou aos níveis municipais, regionais e
ao discurso defendido pelas mídias e que as relações globais
nacionais. O que define proximidade ou distância, hoje, é o consumo.
devem ser analisadas mais profundamente.
Globalização econômica, política, social e cultural GEOGRAFIA I 117
Módulo 25 1ª Série

Spielberg e volta para casa em um ônibus de marca Mercedes.


Santos divide a globalização em três aspectos. O primeiro Ao chegar em casa, liga seu aparelho de TV Philips para ver o video-
é o seguinte: fazem-nos acreditar na globalização como uma clipe de Michael Jackson e, em seguida, deve ouvir um CD do grupo
fábula. Essa visão é sustentada pela mídia e pelo capital finan- Simply Red, gravado pela BMG Ariola Discos, em seu equipamento
ceiro, que cria a ideia de “aldeia global”, levando a crer que há AIWA. Veja quantas empresas transnacionais estiveram presentes
uma difusão instantânea da informação atingindo todos os nesse seu curto programa de algumas horas.
lugares do globo. Há, também, o mito de que o tempo e o espaço
PRAXEDES et al. O Mercosul. São Paulo: Ed. Ática, 1997 (adaptado).
estão contraídos, como se houvesse as mesmas oportunidades
e facilidades para todas as pessoas. Com base no texto e em seus conhecimentos de geografia e história,
marque a resposta correta:
O segundo aspecto é enxergar a globalização tal qual
ela é, ou seja, perversa. O acesso aos meios de informação (A) O capitalismo globalizado está eliminando as particularidades
se dá de forma desigual, assim como o acesso à renda, ao culturais dos povos da terra.
saneamento básico, à saúde e à educação. A realidade se (B) A cultura, transmitida por empresas transnacionais, tornou-se
mostra segregacionista e excludente, havendo a necessidade, um fenômeno criador das novas nações.
(C) A globalização do capitalismo neutralizou o surgimento de
por parte do capitalismo, de produzir a pobreza e a fome como
movimentos nacionalistas de forte cunho cultural e divisionista.
forma de garantir a mão de obra barata e a mais-valia. Além (D) O capitalismo globalizado atinge apenas a Europa e a América
disso, as pessoas são estimuladas a apresentar comportamento do Norte.
competitivo, egoísta e corrupto. (E) Empresas transnacionais pertencem a países de uma mesma
O terceiro é a globalização como ela deveria ser, ou seja, cultura.
homogeneizante. A grande diversidade étnica, cultural e
02 (ENEM) Em 1999, o Programa das Nações Unidas para o Desen-
filosófica do mundo abre a possibilidade da produção de uma volvimento elaborou o “Relatório do Desenvolvimento Humano”, do
globalização que gere a mistura de povos, podendo entrar em qual foi extraído o trecho abaixo:
confronto com o caráter eurocentrista vigente atualmente.
O problema está no uso que se dá à técnica, que poderia ser Nos últimos anos da década de 1990, o quinto da população mundial
mais bem aproveitada, para alcançar lugares mais remotos e que vive nos países de renda mais elevada tinha:
valorizar a diversidade.
• 86% do PIB mundial, enquanto o quinto de menor renda,
apenas 1%;
• 82% das exportações mundiais, enquanto o quinto de menor
renda, apenas 1%;
• 74% das linhas telefônicas mundiais, enquanto o quinto de
menor renda, apenas 1,5%;
01 Como podemos caracterizar a globalização? • 93,3% das conexões com a internet, enquanto o quinto de menor
renda, apenas 0,2%.
02 Por que a globalização foi importante para o desenvolvimento
das empresas multinacionais? A distância da renda do quinto da população mundial que vive nos
países mais pobres – que era de 30 para 1, em 1960 – passou para
03 Por que as empresas multinacionais instalam núcleos produ- 60 para 1, em 1990, e chegou a 74 para 1, em 1997.
tivos em países periféricos?
De acordo com esse trecho do relatório, o cenário do desenvolvi-
04 Quais são as novas fronteiras criadas pela globalização? mento humano mundial, nas últimas décadas, caracterizou-se pela:

05 Quais são as principais consequências sociais do processo de (A) diminuição da disparidade entre as nações.
globalização? (B) diminuição da marginalização de países pobres.
(C) inclusão progressiva de países no sistema produtivo.
(D) crescente concentração de renda, recursos e riqueza.
(E) distribuição equitativa dos resultados das inovações tecnológicas.

01 (ENEM) 03 (ENEM)
Sozinho vai descobrindo o caminho
A sociedade global
O rádio fez assim com seu avô
As pessoas alimentam-se, vestem-se, moram, comunicam-se
divertem-se por meio de bens e serviços mundiais, utilizando Rodovia, hidrovia, ferrovia
mercadorias produzidas pelo capitalismo mundial, globalizado. E agora chegando a infovia
Suponhamos que você vá com seus amigos comer Big Mac e tomar Para a alegria de todo o interior.
Coca-Cola no McDonald’s. Em seguida, assiste a um filme de Steven GIL, G. Banda Larga Cordel.
118 GEOGRAFIA I
1ª Série Módulo 25

O trecho da canção faz referência a uma das dinâmicas centrais da


globalização, diretamente associada ao processo de:

(A) evolução da tecnologia da informação. 01 (UNICAMP) Observe atentamente a ilustração apresentada


(B) expansão das empresas transnacionais. adiante. Ela mostra as marcas da sociedade atual em uma “paisagem
(C) ampliação dos protecionismos alfandegários. primitiva”:
(D) expansão das áreas urbanas do interior.
(E) evolução dos fluxos populacionais.

04 (UERJ)

A partir das informações apresentadas, explique como e por que,


hoje, os espaços geográficos estão “mundializados”.

02 (UNICAMP)

1500-1840
A fusão da Sadia com a Perdigão, em maio de 2009, resultou na
criação da Brazil Foods, décima maior empresa alimentícia do
continente americano e segunda do país.
Esse evento decorre de uma estratégia das grandes corporações e
representa uma tendência mundial da atual fase do capitalismo.

A denominação da atual fase do capitalismo e uma justificativa para 1850-1930


a adoção dessa estratégia estão indicadas em:

(A) liberal – redução dos preços das mercadorias.


(B) monopolista – ampliação da participação no mercado.
(C) monetarista – diminuição dos custos de comercialização.
(D) concorrencial – aumento da escala de compras da companhia.
1950
05 (UERJ)
Historiadores dizem que a globalização não é novidade,
lembrando que o mundo estava até mais integrado há um século.
O problema desse raciocínio é que induz a uma tremenda subes-
timação das mudanças, que fizeram do fenômeno assunto tão 1960
candente. Por isso, o Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento
Humano de 1999 apresenta longa lista de fatos inéditos que dife-
renciam a atual conjuntura de qualquer fase anterior.
VEIGA, José Eli da. Cidades imaginárias: o Brasil é menos
urbano do que se calcula. Campinas: Autores Associados, 2002 (adaptado).
As transformações representadas na figura a seguir permitiram ao
autor considerar que há “aniquilamento do espaço pelo tempo.”
Um dos fatos inéditos que individualizam o atual processo de I. (1500-1840): a melhor média de velocidade das carruagens e
globalização está corretamente identificado em: dos barcos a vela era de 16 km/h;
II. (1850-1930): as locomotivas a vapor alcançavam em média
(A) os fluxos migratórios mundiais abrangem um grande número 100 km/h; os barcos a vapor, 57 km/h;
de trabalhadores. III. (anos 1950): aviões a propulsão alcançavam 480-640 km/h;
(B) a circulação de capitais internacionais envolve volumes signi- IV. (anos 1960): jatos de passageiros alcançavam 800-1.100 km/h.
ficativos de recursos.
(C) o comércio entre transnacionais constitui a maior parte das HARVEY, D. A condição pós-moderna. Edições Loyola, 1989. p. 220 (adaptado).

trocas mundiais de bens.


a. Por que, observando a figura, é possível afirmar que há “aniqui-
(D) as exportações de mercadorias representam uma parcela expressiva
lamento do espaço pelo tempo”?
da economia mundial.
b. Justifique sua resposta relacionando-a ao processo de globalização.
GEOGRAFIA II 119
Módulo 21 1ª Série

China: evolução econômica


e ação geopolítica

Você sabia que 15% da economia do mundo

©Nikada/iStock
inteiro pertence somente à China?
Hoje, a China se apresenta como um dos maiores produtores
industriais no mundo, tendo um crescimento colossal no número
de exportações, cerca de 1.693,42%, desde 1978 até hoje.
Com uma mão de obra qualificada e abundante, além de incen-
tivos fiscais para empresas estrangeiras, o país se tornou a segunda
maior economia global devido às suas exportações, ficando atrás Cidade de Xangai
somente dos Estados Unidos.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, vamos estudar a evolução política, territorial e,
– Estudar o crescimento econômico da China nas últimas décadas;
principalmente, econômica da República Popular da China. Além
C2 – estudar o socialismo de mercado;
disso, veremos como funciona seu sistema duplo de “socialismo – identificar a importância das Zonas Econômicas Especiais para o
de mercado”. crescimento econômico do país.

1. Antecedentes
Para se analisar, na perspectiva da Geografia, a evolução socio- Em 1978, foi aprovado o programa das “Quatro Modernizações”
econômica e política de uma sociedade milenar como a chinesa, (indústria, agricultura, ciência e tecnologia e forças armadas), o
deve-se concentrar no período pós-Revolução Socialista de 1949. marco do socialismo chinês atual, que se define como socialismo
A partir desse importante movimento político, em meados do de mercado, porque combina manutenção do centralismo político
século XX, o país mais populoso do mundo passou a integrar o socialista com práticas econômicas semelhantes às do capitalismo.
bloco socialista em uma ordem mundial marcada pela bipolaridade. As reformas começaram com a permissão para que deter-
No entanto, é importante frisar que o alinhamento com a União minadas empresas transnacionais se instalassem no país em
Soviética durou pouco tempo e, depois da ruptura entre os dois associações de capital com o governo chinês e com a criação das
gigantes socialistas, a China buscou caminhos próprios no campo Zonas Econômicas Especiais (ZEE) ao longo da costa, para facilitar
socialista, os quais envolveram experiências como o Grande Salto as exportações.
para a Frente, uma tentativa de expansão econômica baseada na

©Picsfive/iStock
coletivização do campo e na industrialização, no final dos anos 1950.
Após a frustração com os resultados do Grande Salto para a
Frente, ocorreu a Revolução Cultural, uma grande campanha político-
-ideológica implementada a partir de 1966, que visava neutralizar a
crescente oposição de alguns setores menos radicais do partido.
A China sofreu uma grande modificação em 1976, com a morte
de Mao Tsé-Tung, grande líder nacional desde a Revolução de 1949.
Após um período de disputa pelo poder, o país passou a ser liderado
por Deng Xiaoping, que assumiu um país com sérios problemas
econômicos e iniciou uma série de reformas que transformaram a
China na potência que se conhece hoje.
A política de modernização de Deng Xiaoping objetivava Etiqueta comum em produtos industrializados ao redor do globo.
ampliar as trocas comerciais, adquirir modernas tecnologias e elevar
o nível de consumo da população.
120 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 21

Zonas Econômicas Especiais

Harbin

Shenyang

Qinhuangdao
PEQUIM Dalian
Tianjin Yantai
Qingdao
CHINA Lianyugang

Nantong
Xangai
Ningho

Wenzhou

Zona Econômica Especial Fuzhou


Xiamen
TAIWAN
Zona de Desenvolvimento Guangzhou Shantou
econômico e tecnológico Shenzhen
Zhuhai
Hong Kong
centro econômico principal Beihai Zhanjiang

2. Economia chinesa Como a China ainda é oficialmente socialista, o país passa a


ter dois sistemas econômicos, porque a discrepância entre as áreas
As Zonas Econômicas Especiais são típicas zonas francas, especiais e o restante do país se torna cada vez maior.
beneficiadas por concessões alfandegárias e fiscais, em que as O grande crescimento, aliado ao grande volume de reservas
associações podem ser até inteiramente estrangeiras. cambiais, permite maiores parcerias e presença no comércio
Com a abertura econômica chinesa, o país atraiu grandes inves- mundial. A infraestrutura de transportes e comunicação foi bastante
timentos estrangeiros, interessados no baixo custo de produção local melhorada com inversões em portos, aeroportos e linhas aéreas.
e no enorme potencial do mercado consumidor. O país oferece mão Além disso, ocorreu um aumento significativo na produção de bens
de obra e infraestrutura e recebe capital e tecnologia, conseguindo de consumo e bens duráveis nos últimos anos.
taxas de crescimento muito superiores às do resto do mundo. No setor agrícola, foram eliminadas as comunas populares,
e os camponeses foram autorizados a vender no mercado livre
©shansekala/iStock

os excedentes das metas de produção previamente estabelecidas


(contratos de responsabilidades).

3. A geopolítica chinesa
A coexistência dos dois sistemas econômicos ficou evidente em
1997 e 1999, quando Hong Kong e Macau, até então dominadas
respectivamente pela Inglaterra e Portugal, voltaram ao controle
chinês. Essas duas áreas, sob regime capitalista, foram reincorpo-
radas como Regiões Administrativas Especiais, com expressiva
autonomia, comprovando que, nesse momento, nenhum regime é
incompatível com a China.
China: evolução econômica GEOGRAFIA II 121
e ação geopolítica Módulo 21 1ª Série

CHINA RÚSSIA

CAZAQUISTÃO

Harbin
MONGÓLIA

Ürümqi
QUIRGUISTÃO Turpan Shenyang
Kashgar COREIA
PEQUIM DO NORTE
Estrada do Karakoram Dalian
Yinchuan Tianjin
COREIA
DO SUL
Xining Lanzhou
Zhengzhou
Qufu (1.545 m)
Nanjing
Tibet Xi’an
Wuhan Xangai
Chengdu
Hangzhou
Lassa

NEPAL
Fuzhou
BUTÃO Cavernas de Longgong
ÍNDIA
Guangzhou
Kunming TAIWAN
BANGLADESH
Nanning
ÍNDIA
MYANMAR Macau Hong Kong OCEANO
VIETNAME PACÍFICO
GOLFO DE Haikou
BENGALA LAOS
TAILÂNDIA
Regiões Administrativas Especiais.

O aumento da força geopolítica do país e a bem-sucedida


reincorporação de Hong Kong e Macau aumentaram a pressão
“Fábrica do mundo” é responsável por um terço
sobre Taiwan, que não tem sua independência reconhecida, sendo
do crescimento econômico mundial
considerada pela China como uma “província rebelde”.
Pequim (China) – o anfitrião dos Jogos Olímpicos de 2008
A definição da China como um país socialista de mercado
ainda é o país que mais cresce ao ano no mundo. Há 30 anos
ocorre porque, apesar dos grandes avanços no processo de abertura
e com uma taxa média de 9% ao ano, alavancada pelo setor
econômica, não há importantes movimentos de flexibilização
industrial, o país conseguiu tirar 400 milhões de pessoas da
política, com a manutenção do sistema monopartidário e uma série
pobreza, quadruplicou a receita per capita e promoveu o maior
de restrições às liberdades individuais no regime ditatorial chinês.
processo de urbanização já visto na história.
Esse imobilismo no campo político ficou claro, para o mundo e
para os chineses, quando, em 1989, protestos estudantis foram Hoje o país apresenta a segunda maior economia global, por
violentamente reprimidos pelo governo local, evento que ficou isso agrega cerca de um terço do Produto Interno Bruto global.
conhecido como Massacre da Praça da Paz Celestial. Com tudo isso, a China se candidatou aos Jogos Olímpicos como
uma forma de mostrar ao mundo como seu crescimento tecno-
lógico, social e econômico havia superado barreiras e previsões.
O uso da Zonas Econômicas Especiais foi o grande estandarte
para alavancar a economia do país, atraindo capital estrangeiro
e fazendo uso das vantagens locacionais. Para se ter uma ideia,
122 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 21

a China é hoje a segunda maior consumidora de petróleo no


mundo, é a maior produtora de carvão, aço e fertilizantes e é a
maior produtora de eletroeletrônicos no planeta. A pesquisa 01 O que foi a Revolução Cultural Chinesa?
da empresa de economia Goldman Sachs prevê que a China
disputará o posto de maior economia global com os Estados 02 O que foi a política das Quatro Modernizações?
Unidos em 2039, e o ultrapassará no ano seguinte.
03 O que é o socialismo de mercado?

©TomasSereda/iStock
04 O que são ZEE?

05 Explique a atual situação de Hong Kong.

01 (ENEM)
Os chineses não atrelam nenhuma condição para efetuar
investimentos nos países africanos. Outro ponto interessante é
a venda e compra de grandes somas de áreas, posteriormente
Produção industrial chinesa. cercadas. Por se tratar de países instáveis e com governos ainda não
consolidados, teme-se que algumas nações da África tornem-se
literalmente protetorados.

Colonialismo chinês? BRANCOLI, F. “China e os novos investimentos na África: neocolonialismo ou mudanças na arquitetura
global?” Disponível em: <opiniaoenoticia.com.br>. Acesso em: 29 abr. 2010 (adaptado).
©mirocco/iStock

A presença econômica da China em vastas áreas do globo é uma


realidade do século XXI. A partir do texto, como é possível carac-
terizar a relação econômica da China com o continente africano?

(A) Pela presença de órgãos econômicos internacionais como o


Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que
restringem os investimentos chineses, uma vez que estes não
se preocupam com a preservação do meio ambiente.
(B) Pela ação de Organizações Não Governamentais (ONGs)
que limitam os investimentos estatais chineses, uma vez que
estes se mostram desinteressados em relação aos problemas
sociais africanos.
(C) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos realizados
pelos países ocidentais, promovendo o crescimento econômico
de algumas regiões desse continente.
A expansão da economia chinesa no continente africano já
(D) Pela presença cada vez maior de investimentos diretos, o que pode
ocorre há muitos anos. Ao fornecer capital para o continente, o representar uma ameaça à soberania dos países africanos ou mani-
país asiático recebe em troca acesso aos recursos naturais, além pulação das ações desses governos em favor dos grandes projetos.
de estender suas influências políticas. Nota-se que as principais (E) Pela presença de um número cada vez maior de diplomatas,
áreas que recebem investimento são os setores de petróleo e o que pode levar à formação de um Mercado Comum Sino-
mineração, envolvendo Angola, Sudão e Zâmbia. Além disso, -Africano, ameaçando os interesses ocidentais.
a China fornece crédito barato para projetos de infraestrutura.
02 (UERJ) Em 2008, ocorreram os primeiros Jogos Olímpicos
No entanto, a expansão mais evidente da China no continente
na China. O governo chinês, que vem há três décadas realizando
ocorreu décadas atrás, junto ao superciclo de commodities,
mudanças na economia, apostou no sucesso dos jogos como um
dando grande impulso às economias africanas. reforço à sua imagem internacional.
Tais atividades criam temor nas economias do Ocidente
Essa expectativa se contrapõe à constatação da seguinte disparidade
e nas próprias economias do continente africano. Portanto
socioespacial existente no país:
o discurso de uma nova etapa de colonialismo já vem sendo
utilizado, uma vez que as obras de infraestrutura, por exemplo, (A) Redução das diferenças de renda nas cidades – ampliação das
não usam mão de obra africana, e sim asiática. diferenças de renda no campo.
(B) Preservação do consumo de produtos tradicionais pelos setores
urbanos – crescente ocidentalização dos camponeses.
China: evolução econômica GEOGRAFIA II 123
e ação geopolítica Módulo 21 1ª Série

(C) Crescimento da acumulação de capital nas áreas urbanas – Quadro II


manutenção de bolsões de pobreza nas áreas rurais.
(D) Ampliação do setor econômico estatal nas províncias litorâneas Distribuição de renda na China
– estagnação dos investimentos públicos no interior. (percentual sobre o total da renda nacional)

03 (UERJ) 20% mais 60% 20% mais 10% mais


ano
pobres intermediários ricos ricos
Quadro I
Número de empresas entre as 500 maiores do mundo 1992 6,2 49,9 43,9 26,8

posição/país 1993 2008 2005 5,7 46,5 47,8 31,4


1o EUA 159 140
Há 30 anos, a República Popular da China iniciou uma política de
2o Japão 135 68 reformas da economia planificada implantada por Mao Tsé-Tung.

3o França 26 40 A partir da análise dos dados das tabelas, duas transformações


socioeconômicas resultantes dessa política reformista são:
4o Alemanha 32 39
(A) liderança tecnológica – redução dos lucros empresariais.
5o China 0 37 (B) estatização da produção – ampliação de leis previdenciárias.
(C) diversificação industrial – restrição dos direitos trabalhistas.
6o Reino Unido 41 26 (D) concentração de capital – aumento das desigualdades sociais.

04 (UERJ)
Como a elite chinesa vê o mundo
Por favor,
seja generoso
Prada Hermes Europa
Bolsa de
Valores
África
Oceano Atlântico liquidação de fechamento
EUA América
Canadá
Japão Oceano Pacífico Latina
Taiwan
Hong Kong

Praça da
Palácio Imperial Paz Celestial

Disponível em: <www.economist.com> (adaptado).

A imagem acima, publicada na capa da revista americana (A) pátria do isolacionismo, em divergência com os problemas
The Economist, em março de 2009, apresenta, de forma caricaturada, comerciais da União Europeia e com a integração política na África.
a visão de mundo da atual elite chinesa. (B) território da democracia, em desacordo com as ambiguidades
políticas das nações desenvolvidas e com o autoritarismo do
De acordo com essa perspectiva, a China, diante do restante do antigo Terceiro Mundo.
mundo, poderia ser percebida como:
124 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 21

(C) nação urbanizada, em contraposição com a decadência parcial Em 1993, o automóvel ainda era privilégio de apenas 0,1% dos
do setor imobiliário americano e com a ruralização dos países chineses. Bastaria que 1% da população desse país tivesse acesso a tal
africanos e latino-americanos. produto, e então haveria 12 milhões de automóveis na China, quanti-
(D) potência emergente, em contraste com o relativo declínio das
dade comparável ao mercado da General Motors em toda a Europa.
demais potências econômicas e com a insignificância dos países
subdesenvolvidos. The New York Times Magazine, fev. 1996 (adaptado).

05 (UFG) A China é o país mais populoso do mundo, tem a Considerando as características da economia e da sociedade
terceira maior área de extensão territorial e destaca-se devido ao chinesas:
seu acelerado crescimento econômico, fato que renova a disputa a. explique a existência de alto poder de atração de investimentos
pelo poder entre as grandes potências mundiais. produtivos estrangeiros no país, a partir da análise da tabela.
O papel geopolítico da China atualmente é o de: b. aponte uma razão para o grande potencial de crescimento
econômico do país, tomando por base a tabela e o texto.
(A) substituir a Rússia na luta pela hegemonia política no pós-
-Guerra Fria. 02 (UFRJ)
(B) retomar a disputa nuclear enfrentando a força da Coreia do Norte. China – um país, dois sistemas
(C) estabelecer apoio às organizações socialistas em Cuba e na
América Latina.
(D) disputar com os EUA a liderança pelo controle dos mercados
mundiais.
(E) competir com o Japão pelo domínio geopolítico do Leste Asiático.

01 (UERJ)

regiões e cidades Hong Kong


Despesa mensal média de uma família chinesa com regime econômico
especial
alimentação US$12
educação US$5 Aproximadamente 20% da população mundial vive na China sob
saúde US$2 o regime comunista. No entanto, no território do Estado chinês
existem regiões e cidades que adotam práticas capitalistas. Em meados
vestuário US$6 de 1997, Hong Kong, um dos maiores centros financeiros mundiais,
lazer US$1 voltou a ser controlado pelo Estado chinês, sem alterar sua condição
econômica anterior.
poupança US$11
Apresente duas razões para que a China mantenha práticas capita-
listas em algumas áreas do seu território.

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GEOGRAFIA II 125
Módulo 22 1ª Série

Ásia Meridional: quadro natural,


demográfico, econômico e geopolítico

Você sabia que chove muito mais na Ásia do que


na Amazônia?
É verdade que essa grande quantidade de chuva concentra-

©Daniel Bhim-Rao/iStock
-se em apenas um período do ano, mas o fato é que as grandes
tempestades do verão do subcontinente indiano são responsáveis
por grandes tragédias.
Paralelamente, porém, as chuvas contribuem para a existência
de sociedades milenares associadas à agricultura do arroz, a
chamada rizicultura, que depende do sistema de chuvas das Expectativas de aprendizagem:
monções asiáticas e da construção do relevo, denominado curvas – Estudar o quadro natural e o quadro demográfico do
de nível, facilitando o acúmulo da água. subcontinente indiano e estabelecer as relações entre eles;
C2 – estudar a evolução econômica e o quadro geopolítico da Ásia
No presente módulo, analisaremos o quadro natural e humano Meridional;
dessa região do planeta. – observar as consequências do quadro natural.

1. Quadro natural determinam a formação de um centro de baixa pressão e, com


isso, os ventos ocorrem do mar para a terra. No inverno, ocorre
A Ásia Meridional, ou subcontinente indiano, possui como a inversão do processo: a baixa pressão está no mar, e os ventos
estrutura fundamental a Península Hindustânica e está posicionada são continentais.
entre os Himalaias e o Oceano Índico.
A geomorfologia tem como unidades fundamentais o dobra- ÁSIA
mento cenozoico dos Himalaias, o Planalto do Decão e, entre eles, alta
pressão
a Planície Indo-Gangética.

n
baixa
ac
ra
HIM
baixa OCEANO pressão
M AL Cadeia pressão
ia ÍNDICO
de AIA Mahabharata
Ca S
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Planície Indo-Gangética
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Montes Víndias Montes. inverno


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4.000 metros pressão


2.000 Península
do Decã
1.000
400
200
I. Ceilão
0
OCEANO
Formação geomorfológica da Ásia Meridional. ÍNDICO

Essa planície é formada pelo trabalho de sedimentação dos Rios


Indo e Ganges, que determina grande fertilidade dos solos devido alta alta
a essa característica aluvional (acúmulo de sedimentos fluviais). pressão pressão
verão
O clima da região sofre grande influência do mecanismo Regime de monções.
das monções. No verão, as altas temperaturas do continente
126 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 22

A alternância entre ventos marítimos no verão e continentais

©Veni/iStock
no inverno determina grande variação na pluviosidade. O verão
é muito úmido, e o inverno, seco, como se pode observar no
climograma a seguir:

Mumbai
pluviosidade (mm) temperatura (°C)
35°
700
30°
600
25°
500
20°
400

300 15° Rio Ganges, na Índia.

200 10°

100 5° 2. O quadro humano


0 0 O subcontinente indiano possui três das dez maiores popula-
J F M A M J J A S O N D
ções absolutas do mundo.
A Índia possui mais de 1,2 bilhão de habitantes, sendo o
Além dos ventos úmidos, deve-se considerar a influência
segundo país mais populoso do planeta, mas, como possui cresci-
do relevo, pois as grandes altitudes dos Himalaias representam
mento populacional superior ao da China (1,2% ao ano × 0,49% ao
um bloqueio para a circulação do ar e, com isso, a umidade fica
ano), pode se tornar o mais populoso em curto espaço de tempo.
concentrada na Ásia Meridional.
O Paquistão possui mais de 190 milhões de habitantes, sendo
A enorme pluviosidade no verão da Ásia Meridional tem
o sexto mais populoso e, como cresce mais rapidamente do que o
efeitos contraditórios na região. Por um lado, viabiliza a rizicultura
Brasil, pode se tornar a quinta maior população do mundo.
inundada típica da região, pois fornece a umidade suficiente para
o cultivo do arroz e proporciona a fertilização dos solos com as Bangladesh, apesar de seu território muito reduzido, possui a
inundações sazonais e o consequente acúmulo de sedimentos. oitava maior população do mundo, com mais de 160 milhões de
pessoas, o que caracteriza uma das maiores densidades demográficas
Por outro lado, essas inundações são responsáveis por grandes
do planeta, superando incríveis mil habitantes por km2.
tragédias, com um enorme número de vítimas fatais todos os anos.
Essa enorme população na Ásia Meridional está distribuída
Quanto à rede hidrográfica, os grandes destaques são os Rios
de forma muito irregular, com grande concentração nos vales
Indo e Ganges.
fluviais e nos deltas dos rios, formando os chamados “formigueiros
O Rio Indo possui cerca de 2,9 mil quilômetros de extensão, humanos”, áreas de enorme densidade demográfica de base rural,
tem sua nascente no alto dos Himalaias, na região tibetana. Tem um associadas à rizicultura inundada.
trecho de quase mil quilômetros entre algumas das montanhas mais
Os indicadores sociais, nessa região, não são favoráveis, o que
altas do mundo, atravessando o noroeste da Índia, a Caxemira e o
se reflete em índices de desenvolvimento humano muito baixos. A
norte do Paquistão. Seu regime tem forte influência do derretimento
melhor situação é a do pequeno Sri Lanka, que, no entanto, tem
de geleiras e neve nas montanhas. Recebe vários rios na planície,
apenas a 92a posição em uma lista com 186 países no mundo.
no Paquistão e tem sua foz no mar de Omã.
A Índia, apesar da importância econômica, possui a 136a posição.
O Rio Ganges também nasce com forte influência do degelo
O Butão, a 140a, o Paquistão e Bangladesh dividem a 146a, e o Nepal,
himalaico, tem uma extensão de aproximadamente 3 mil quilo-
a 157a, o que coloca esse conjunto de países com padrões sociais
mêtros, inicialmente nas montanhas e, depois de atravessar o norte
semelhantes aos da África Subsaariana.
da Índia e Bangladesh, deságua na Baía de Bengala, no Oceano
Índico, formando um grande delta. No caso indiano, destaca-se o predomínio hindu, apesar da
existência de grande diversidade étnica. Mesmo sendo oficialmente
Além de sua importância econômica, o Ganges é sagrado para
proibido desde a independência, em 1947, o sistema de castas
os seguidores do hinduísmo, que acreditam que se banhar em suas
continua muito influente, principalmente no interior do país.
águas determina a redenção dos pecados.
Ásia Meridional: quadro natural, demográfico, GEOGRAFIA II 127
econômico e geopolítico Módulo 22 1ª Série

As castas são uma forma de estratificação social, caracterizada

©Aania/iStock
pela transmissão hereditária de uma posição social que inclui
o ofício a ser exercido pelo indivíduo. A urbanização diminui a
importância desse sistema, que, no entanto, continua atingindo
milhões de pessoas e é questionado porque praticamente impede
a mobilidade social.

Família hindu.

As castas ainda dividem a Índia britânico, as castas ganharam outras divisões e tornaram a
Apesar de a Constituição indiana ter abolido oficialmente sociedade indiana mais fragmentada e hierarquizada. Com
o sistema de castas há mais de 50 anos, a divisão social baseada isso, nota-se que a sociedade indiana com base em castas é
nas crenças do hinduísmo ainda persiste no país, tendo hoje mais movida pela hierarquia, pelos deveres e por benefícios diferentes.
de 2 mil castas e 20 mil subcastas. As castas são determinadas

©Bartosz Hadyniak/iStock
no nascimento e se dividem em diferentes classes com base na
pureza do ser.
Embora a discriminação esteja proibida por lei, o antigo
sistema hindu permanece vivo e ainda causa transtornos
violentos, principalmente na área rural. O governo indiano
tentou algumas medidas para reduzir a influência do sistema de
castas na sociedade, como o sistema de cotas para aqueles que
eram julgados como menos puros ou os impuros – párias, classe
de impuros ou intocáveis que exercem trabalhos “sujos”, como
recolher lixo ou fezes. No entanto, tais projetos causaram revolta
e ondas de protesto.
Vale ressaltar que as características das castas eram menos
rígidas e menos complexas, servindo apenas como caracterís-
tica do indivíduo na sociedade. Porém, após o imperialismo
Líder brâmane navegando no Rio Ganges.

3. Antecedentes
O domínio inglês sobre a Ásia Meridional terminou em 1947. A independência ocorreu, para decepção de Gandhi, com a
Essa colônia gigantesca se estendia por uma enorme área dos formação de dois países:
Himalaias até o Oceano Índico. A impressionante população local,
com predomínio hindu, forma um mosaico de raças, religiões e • a Índia, com população predominantemente hindu e liderança
línguas, sendo falados mais de 3 mil idiomas e dialetos. de Jawaharlal Nehru, que correspondeu à parte mais central da
colônia (a Península Hindustânica);
No processo de independência, o desejo de Mahatma Gandhi, • o Paquistão, com a liderança de Muhammad Ali Jinnah, que
seu grande líder, era a formação de uma nação unitária com convi- foi dividido em uma parte ocidental e outra oriental (atual
vência de todas as etnias e religiões. Porém, houve grande resistência Bangladesh).
dos extremistas hindus e dos muçulmanos. Para estes, havia o risco
de que a formação de um Estado com maioria da população hindu
representasse uma ameaça de opressão.
128 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 22

Cabul CHINA 4. A economia


AFEGANISTÃO
Islamabad A economia da Índia, e também do Paquistão e de Bangla-
TIBETE desh, é tradicionalmente conhecida como agrícola, com grande
Lahore
Siquim importância da rizicultura inundada, que mantém centenas de
PAQUISTÃO
OCIDENTAL Deli NEPAL milhões de pessoas na produção do arroz no delta dos rios e nas
BUTÃO
planícies fluviais.
Carachi
Daca No entanto, nos últimos anos, a Índia vem tendo um enorme
ÍNDIA Calcutá crescimento econômico, constituindo um dos principais países
MIYANMAR emergentes do planeta, integrando com a China, o Brasil e a Rússia
Mumbai
o grupo denominado Brics.
PAQUISTÃO
ORIENTAL As condições sociais da gigantesca população local (1,1 bilhão
de habitantes) são, de maneira geral, muito ruins, o que se reflete
em um baixíssimo IDH. O sistema de castas dificulta a mobilidade
Chennai GOLFO DE
BENGALA
social, que é fundamental em um país de enormes desigualdades.
MAR ARÁBICO

©Creativemarc/iStock
SRI LANKA
Colombo

Formação geopolítica da Ásia Meridional, em 1971.

A situação territorial descontínua do Paquistão, dividido em


parte ocidental e oriental (os lugares onde havia predomínio de
muçulmanos), terminou em 1971, com o processo de independência
de Bangladesh, num conflito em que a Índia apoiou os rebeldes.
A complexa demarcação da área dos países que nasciam teve
como base o predomínio das populações em cada uma das regiões,
cabendo ao então vice-rei, Lord Mountbatten, a criação do mapa Periferia indiana.
dos novos países, ou seja, a definição dos territórios.
Por outro lado, a população indiana é tão grande que, mesmo
©gmutlu/ iStock

com as condições sociais ruins da maioria, deve-se considerar


que a sua classe média é gigantesca em termos absolutos, embora
correspondendo a baixo percentual no país. Por isso, há um mercado
consumidor interno expressivo e a existência de mão de obra
qualificada, muito mais barata que a dos países mais desenvolvidos
e que tem como vantagem comparativa o fato de o inglês ser um
dos idiomas oficiais do país.
Destacam-se, na parte moderna da economia indiana, o setor de
serviços, com a instalação de inúmeros call-centers, e a informática,
com a instalação de diversas empresas estrangeiras do setor, sendo
a região de Bangalore denominada Vale do Silício indiano.
©gmutlu/iStock

Porção que pertencia ao Paquistão. Hoje, Bangladesh.

O processo de partilha foi extremamente conturbado e


violento, definido à época como o maior divórcio do mundo. Com
a divisão, ocorreu o deslocamento de milhões de pessoas: hindus,
que moravam nas partes que se transformariam no Paquistão,
para a Índia; muçulmanos, que residiam na parte que seria a Índia,
para o Paquistão. Calcula-se em 1 milhão o número de pessoas
assassinadas por radicais das duas religiões.

Bangalore.
Ásia Meridional: quadro natural, demográfico, GEOGRAFIA II 129
econômico e geopolítico Módulo 22 1ª Série

Apesar de a maioria da população local ser muçulmana, quem


comandava a área (sob o controle central da Inglaterra) era um
Crescimento com desigualdade pode ameaçar
marajá hindu, que tentou conduzir a Caxemira à independência,
Índia como potência em 2020
sem estar sob o domínio de nenhum dos dois estados que nasciam.
Na tentativa de manter seu ritmo de crescimento e evitar
A pressão interna e o desejo do Paquistão de incorporação
distúrbios sociais que possam vir a ameaçar a segurança social
da área contribuíram para a decisão do marajá de se unir a Índia.
do país, o governo indiano vai enfrentar o desafio de estender
A partir daí, eclodiu uma insurreição entre os muçulmanos da
os benefícios dessa prosperidade a mais camadas da sociedade.
Caxemira, com o apoio paquistanês. As forças indianas reagiram, e
O modelo de desenvolvimento econômico que o país adotou –
uma guerra não declarada entre os dois países arrastou-se até julho
resultando no crescimento médio de 8%, ao longo dos últimos
de 1949, quando foi assinado um acordo.
quatro anos – foi, de forma paradoxal, a causa para o aumento
da desigualdade. O país apostou em grande parte nos setores Cerca de um terço da área da Caxemira, no norte e no oeste,
de serviço, telecomunicações e tecnologia da informação, passou ao controle do Paquistão, sendo atualmente denominada
aumentando a prosperidade da parte urbana da Índia. Contudo, de Caxemira Livre e Territórios do Norte, e o restante ficou sob o
a porção rural, na qual cerca de 60% da população vive, foi controle indiano.
mantida amplamente à margem dessa prosperidade. Elas Em 1962, ocorreu um conflito de fronteira entre a Índia e a
ficaram limitadas às atividades agrícolas de baixa rentabilidade China, com vitória chinesa, que incorporou uma parte da área, que
e a uma força de trabalho sem qualificação. O último relatório tinha ligação com o Tibete, já controlado pelo país.
do Banco Mundial mostrou que o país conseguiu tirar uma
Conflito na Caxemira
pequena parte da população da linha de pobreza extrema,
porém os padrões de consumo da população rica se elevaram AFEGANISTÃO
As fronteiras disputadas

de forma muito superior aos das camadas mais pobres. Sob administração chinesa,
Sob controle reivindicada pela Índia
do Paquistão
©Gawrav Sinha/iStock

(População: 3 milhões)

CAXEMIRA
PAQUISTÃO

Sob controle
Linha de da Índia
controle CHINA
(População: 9 milhões)
(criada em
1948)

Família pobre indiana com acesso à tecnologia, revelando um pequeno avanço


80 km ÍNDIA
monetário do país.

Um novo conflito ocorreu em 1965, porém não houve alte-


5. A Caxemira rações territoriais. A partir daí, tem havido diversas ações de um
Um importante elemento complicador nas instáveis relações movimento que utiliza ataques terroristas na Caxemira indiana, e
indo-paquistanesas é a disputa pelo controle da região da Caxemira. o governo da Índia acusa o Paquistão de o apoiar.
A Caxemira é uma região montanhosa localizada no extremo É importante destacar que os conflitos entre a Índia e o
norte da Índia britânica, como se pode observar no mapa a seguir: Paquistão geram preocupações que transcendem o aspecto regional,
pois os dois países possuem armas nucleares.

Caxemira

tão
quis
Pa

Índia
01 Identifique dois fatores que facilitaram o crescimento
econômico da Índia nas últimas décadas.

02 Como podemos caracterizar o fenômeno das monções?

OCEANO 03 A Caxemira é motivo de disputas entre quais países?


ÍNDICO
130 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 22

04 Qual gênero agrícola tem maior expressão na Índia? Como ele 03 Índia, Bangladesh e Japão são países considerados “formigueiros
é cultivado? humanos”, mas apresentam diferentes perfis socioeconômicos. Isso
significa que:
05 O que é o Vale do Silício indiano?
(A) a adoção da política neomalthusiana tem resultado numa visível
melhoria de vida da população daqueles países.
(B) as grandes concentrações populacionais não determinam neces-
01 (ENEM) sariamente a ocorrência de graves problemas sociais.
Lucro na adversidade (C) a superpopulação é um fator determinante para tornar esses
países áreas de repulsão de investimentos.
Os fazendeiros da região sudoeste de Bangladesh, um dos (D) o endividamento externo e as grandes desigualdades sociais
países mais pobres da Ásia, estão tentando adaptar-se às mudanças são causas diretas da superpopulação.
acarretadas pelo aquecimento global. Antes acostumados a produzir (E) são países superpopulosos, que possuem problemas de pobreza
arroz e vegetais, responsáveis por boa parte da produção nacional, e miséria, resultados do grande número de habitantes.
eles estão migrando para o cultivo do camarão. Com a subida do
nível do mar, a água salgada penetrou nos rios e mangues da região, 04 (UFRRJ) No mapa a seguir, encontra-se identificada uma das
principais áreas de tensão do planeta na atualidade.
o que inviabilizou a agricultura, mas, de outro lado, possibilitou a
criação de crustáceos, uma atividade até mais lucrativa.
O lado positivo da situação termina por aí. A maior parte da AFEGANISTÃO CAXEMIRA

população local foi prejudicada, já que os fazendeiros não precisam


Islamabad CHINA
contratar mais mão de obra, o que aumentou o desemprego. A flora
PAQUISTÃO NEPAL
e a fauna do mangue vêm sendo afetadas pela nova composição da Nova Deli
água. Os lençóis freáticos da região foram atingidos pela água salgada.
BANGLADESH
Globo Rural, jun. 2007, p. 18 (adaptado). ÍNDIA
MYANMAR

A situação descrita acima retrata:

(A) o fortalecimento de atividades produtivas tradicionais em BAÍA DE BENGALA


Bangladesh em decorrência dos efeitos do aquecimento global.
MAR DA ARÁBIA
(B) a introdução de uma nova atividade produtiva que amplia a SRI LANKA
oferta de emprego.
(C) a reestruturação de atividades produtivas como forma de Assinale a alternativa que apresenta uma das razões para o conflito
enfrentar mudanças nas condições ambientais da região. entre Índia e Paquistão, pelo controle dessa região:
(D) o dano ambiental provocado pela exploração mais intensa dos
recursos naturais da região a partir do cultivo do camarão. (A) Disputa pelo controle das cidades consideradas sagradas por
(E) a busca de investimentos mais rentáveis para Bangladesh crescer ambos os povos.
economicamente e competir no mercado internacional de grãos. (B) Existência de reservas de urânio, cobiçadas pelos dois países
com capacidade nuclear.
02 (UNIRIO) (C) Conflitos religiosos, pelos quais budistas e muçulmanos já
Dilúvio – Chuvas torrenciais fizeram mais de 30 milhões de travaram três guerras e adotaram práticas de terrorismo.
vítimas no sul da Ásia. As enchentes, que começaram há dois meses, (D) Aspirações nacionalistas dos povos da Caxemira, que reivin-
dicam a sua separação e independência do Paquistão.
já mataram mais de 2 mil pessoas na Índia.
(E) Disputas territoriais decorrentes do processo de independência
Revista IstoÉ, 2 ago. 1998.
desses dois países, com o fim do domínio britânico.
A notícia anterior refere-se às:
05 (FUVEST)
(A) chuvas frontais que ocorrem com frequência em regiões de A economia da Índia tem crescido cerca de 8% ao ano, taxa
clima equatorial.
que, se mantida, poderá dobrar a riqueza do país em uma década.
(B) chuvas orográficas de inverno, que ocorrem no Sudeste Asiático
por influência das monções. Empresas indianas estão superando suas rivais ocidentais. Profis-
(C) monções asiáticas, decorrentes do deslocamento da zona sionais indianos estão voltando do estrangeiro para seu país, vendo
temperada para o sul do continente. uma grande chance de sucesso empresarial.
(D) monções de inverno, decorrentes dos ventos secos que sopram Beckett et al., 2007. Disponível em: <www.wsj-asia.com>. Acesso em: jun. 2011 (adaptado).
do continente para o oceano.
(E) monções de verão, quando os ventos úmidos sopram do oceano
para o continente.
Ásia Meridional: quadro natural, demográfico, GEOGRAFIA II 131
econômico e geopolítico Módulo 22 1ª Série

O significativo crescimento econômico da Índia, nos últimos anos, Verão


apoiou-se em vantagens competitivas, como a existência de: ventos
zona de convergência intertropical
(A) diversas zonas de livre-comércio distribuídas pelo território
nacional.
(B) expressiva mão de obra qualificada e não qualificada.
(C) extenso e moderno parque industrial de bens de capital no
noroeste do país.
(D) importantes “cinturões” agrícolas, com intenso uso de tecno- Himalaias
logia, produtores de commodities.
(E) plena autonomia energética propiciada por hidrelétricas de Trópico de Câncer
baixas pressões
grande porte.

OCEANO Equador
ÍNDICO
01 (UFRJ) O termo “monções”, derivado de uma palavra árabe que
significa estação do ano, designa a mudança de direção e de sentido
dos ventos do inverno e do verão no sul e no sudeste da Ásia. altas pressões
Inverno Trópico de Capricórnio
ventos
zona de convergência intertropical
Com o auxílio dos mapas apresentados, explique a distribuição anual
das chuvas associada ao mecanismo das monções no subcontinente
indiano.

02 (UFRJ) Na Índia, o setor de serviços tecnológicos se trans-


formou em um dos principais motores da economia e permitiu que
Himalaias altas pressões
o país crescesse a uma média de 6% ao ano, desde o começo dos
frente polar anos 1990. As maiores empresas mundiais da área de informática
Trópico de Câncer e de telecomunicações têm filiais nesse país.

OCEANO
ÍNDICO
Equador

baixas pressões

Trópico de Capricórnio

Bangalore, o Vale do Silício indiano, uma ilha futurista em meio ao caos urbano que caracteriza
a maioria das cidades indianas.
Folha de S. Paulo, 10 set. 2006 (adaptado).

Apresente dois fatores que propiciaram os investimentos externos


no setor de serviços tecnológicos na Índia.
GEOGRAFIA II 132
Módulo 23 1ª Série

Oriente Médio: quadro natural e caracterização geral

Você sabia que os Rios Tigre e Eufrates são


utilizados há mais de 8 mil anos para as
mesmas práticas?
A região da Mesopotâmia, onde se localizam os Rios Tigre
e Eufrates, também é conhecida como Crescente Fértil. O nome
surgiu porque a fertilidade proveniente dos sais minerais dos rios
permitiu uma revolução agrícola por volta do VI milênio a.C., na

©tunart/iStock
qual o homem deixou de ser um coletor que dependia da caça e
dos recursos naturais e passou a desenvolver práticas agrícolas.
Além da agricultura, os rios também serviam como vias
de transporte, fonte de alimento e fornecedor de água. Os rios
exercem todas essas funções até hoje. Também são responsáveis
pelo abastecimento hídrico de uma região desértica que apresenta
sérios problemas com a seca. Expectativas de aprendizagem:
– Caracterizar o quadro natural do Oriente Médio;
Neste módulo, estudaremos essa e outras peculiaridades
C6 – estudar a relação das características naturais com o
naturais, além de caracterizar o desenvolvimento sociocultural da desenvolvimento da sociedade;
região que é considerada o berço das civilizações. – estudar a diversidade étnica do Oriente Médio.

1. Síntese teórica O relevo é majoritariamente planáltico, com poucas planícies,


apesar da Planície da Mesopotâmia, localizada entre o Irã e o
Iraque. Há diversas cordilheiras, com alguns pontos de altitude
1.1 O quadro natural superior a 5 mil metros. A existência desses dobramentos modernos
Denomina-se Oriente Médio a parte ocidental do extenso associa-se ao encontro entre as placas tectônicas, o que justifica,
continente asiático, localizada em uma posição centralizada quando também, a ocorrência de terremotos.
se considera a massa de terras emersas formada pela Eurásia e
África, limitada pelos Mares Mediterrâneo, Vermelho e Arábico
(parte noroeste do Oceano Índico) e pelo Golfo Pérsico.
PLACA EURO-ASIÁTICA
MAR USBEQUISTÃO
Istambul NEGRO GEORGIA
Batumi
Ancara AZERBAIJÃO
ARMENIA
Esmirna TURQUEMENISTÃO
TURQUIA MAR
CÁSPIO
Adana Tabriz
HIMALAIA
Chipre Alepo Teerã
Nicósia Kirkuk
LÍBANO
SÍRIA
IRAQUE AFEGANISTÃO
Beirute
Damascu Isfahan PLACA
Israel Bagdá IRÃ
ARÁBICA
Alexandria Porto Said
Abadan
JORDÂNIA Baçorá
Cairo PAQUISTÃO
KUWAIT
Shiraz
Bahrein
Bandar Abbas
Catar
EGITO GOLFO
Doha
PÉRSICO
es GOLFO
Meca Riade
Abu Dhabi rab
Assuão os Á DE OMÃ
Jidá irad nidos Mascate OCEANO
Em U
ARÁBIA SAUDITA
ÍNDICO
Porto Sudão
OMÃ PLACA AFRICANA

Zufar
SUDÃO MAR
VERMELHO IÉMEN
Iémen Áden MAR
ARÁBICO
Placas tectônicas que envolvem a região.
Cartum ERITREIA Sana

GOLFO Socotorá
DE ÁDEN
DJIBOUTI
ETIÓPIA Zeila
SUDÃO
DO SUL SOMÁLIA

Localização do Oriente Médio.


Oriente Médio: quadro natural e caracterização geral GEOGRAFIA II 133
Módulo 23 1ª Série

©1001nights/iStock
Forte terremoto deixou dezenas de
mortos no Irã e no Paquistão
Um terremoto de grande magnitude, 7.7 na escala Richter,
atingiu casas e edificações nos dois lados da fronteira entre o Irã
e o Paquistão, no dia 16 de abril de 2013, deixando dezenas de
mortos. O tremor foi sentido até na Índia. Mesmo após quatro
anos, o evento ainda deixa marcas.
A principal causa para as sequelas do terremoto, o pior em
50 anos, é a falta de infraestrutura e planejamento de evacuação
do país, uma vez que este apresenta baixos IDHs e construções
antigas que não conseguem sustentar tremores, ao contrário
do que ocorre no Japão, por exemplo. O país asiático possui
uma engenharia voltada para impedir a queda de construções,
caso haja algum tremor.
Paisagem característica do Oriente Médio. O caso do Irã é um de muitos, assim como o Haiti ou o
próprio Paquistão, onde os estragos feitos por tremores fazem
A vegetação associa-se diretamente a essas condições climáticas, vítimas e arrasam cidades inteiras.
havendo um domínio xeromorfo, com espécies espinhentas e com

©133/iStock
raízes profundas.
O relevo exerce importante influência sobre o clima local, tanto
por determinar concentração da umidade em determinados lados
das encostas como por causar temperaturas muito reduzidas nas
áreas mais altas.
A rede hidrográfica é condicionada pelas características
climáticas, destacando-se os Rios Tigre, Eufrates e Jordão.
O déficit hídrico local é importante fator nos constantes conflitos.
Por tal razão, o controle dos recursos hídricos é ponto-chave na
geopolítica da região.

Tragédia causada por terremoto.


©andersen_oystein /iStock

1.2 O quadro humano


A maior parte da população do Oriente Médio é árabe, o que
faz com que a visão geral sobre a área seja de uma região árabe. No
entanto, há, também, a população turca, os persas, os iranianos, os
curdos, em vários países, e os judeus (idioma hebraico), de Israel.
©stevenallan/iStock

Rio Tigre.

Grupo judaico reunido.


134 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 23

A maioria da população é islâmica, mas há também impor-


tantes contingentes cristãos e os judeus, em Israel. Síria e da Faixa de Gaza. O despejo de resíduos e a falta de
saneamento básico já poluíram o rio de tal maneira que certas
A visão de uma população árabe-muçulmana merece algumas
práticas humanas são proibidas. Mesmo assim, Israel já captou
ressalvas, pois há grupos não árabes que são muçulmanos (persas,
boa parte desse recurso para si, por meio de sucessivas invasões.
turcos e curdos) e, por outro lado, árabes não muçulmanos.
Nota-se, então, que os acordos de compartilhamento de
água em regiões transfronteiriças não estão sendo cumpridos.

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©134/iStock
Grupo islâmico reunido.

A diversidade ocorre também dentro dos principais grupos


religiosos:

• Entre os islâmicos/muçulmanos, estão sunitas, xiitas e outros


grupos minoritários.
• Entre os cristãos, estão maronitas, católicos, etc.
• Na população judaica, encontram-se grupos ortodoxos, ultra-
ortodoxos, reformistas, etc.

A grande diversidade que caracteriza o Oriente Médio dificulta


a definição de quais países integram a região, gerando confusão com
outros recortes geográficos.
Como exemplos dessa confusão estão os casos do Egito, país
africano com grande ligação com a região, e do Afeganistão, Trecho do Rio Jordão.
tratado, por alguns autores, como país da Ásia Central e, por outros,
como país do Oriente Médio.
2. Oriente Médio, mundo
Água como arma de guerra
árabe e mundo islâmico
Além das questões religiosas, os conflitos no Oriente Médio Como foi visto, o Oriente Médio é uma parte da Ásia com
também ocorrem por outros fatores, como a escassez de água população predominantemente árabe-muçulmana, portanto é
regional. Mesmo o tema sendo pouco comentado, é de conheci- uma região geográfica. A sua definição não é exatamente étnica
mento público que os recursos hídricos provocam ou contribuem nem religiosa.
para o acirramento ou a criação de conflitos. O exemplo clássico, Ao referir-se ao mundo árabe, designa-se a maior parte do
nesse caso, é a invasão das Colinas de Golã, na Jordânia, onde está Oriente Médio, mas também a região ao norte da África, incluindo
a nascente do Rio Jordão, por parte de Israel. Percebe-se, então, países como Líbia, Argélia, Tunísia e Marrocos.
que conflitos entre israelenses, palestinos e jordanianos giram em A definição de mundo islâmico é ainda mais ampla, pois inclui:
torno da disputa pelo Rio Jordão. Portanto, é impossível dissociar
a invasão de terras da busca dos recursos hídricos. • o Oriente Médio (exceto Israel);
• os países do norte da África;
Entre as principais fontes hídricas do Oriente Médio, o • outros países africanos, como a Somália e parte da Nigéria;
Rio Jordão é afetado pela poluição e pela seca, além de suprir • diversos países da Ásia que não são árabes nem fazem parte do
um terço do abastecimento de Israel e do consumo da Jordânia, Oriente Médio, como o Paquistão, Bangladesh e a Indonésia
Cisjordânia, (maior população muçulmana/islâmica do mundo).
Oriente Médio: quadro natural e caracterização geral GEOGRAFIA II 135
Módulo 23 1ª Série

Países Baixos

Reino Alemanha
Unido

França Cazaquistão Mongólia


Bósnia
Kosovo
Herzegovina
Bulgária
Uzbequistão Quirguistão
Macedônia
Albânia Turquia Turcomenistão
Tadjiquistão China

Tunísia Síria
Israel Afeganistão
Marrocos Iraque Irã
Jordânia
Líbia Paquistão
Argélia Egito
República Arábia Saudita
Saaraui Omã Índia
Emirados
Árabes Unidos Bangladesh
OCEANO
Mauritâniia Mali
Níger Chade PACÍFICO
Senegal Têmem
Gâmbia Sudão
Guiné-Bissau Guiné
Gana Nigéria Etiópia
Serra Leoa Sri
Lanka Brunei
Libéria Togo
Benin Somália Malásia
Costa do Quênia Cingapura
Marfim OCEANO
ÍNDICO
OCEANO Tanzânia
ATLÂNTICO
membros da Liga Árabe
muçulmanos
minoria muçulmana

3. O fundamentalismo islâmico

©GeorgiosArt/iStock
Nas últimas décadas, nota-se o avanço do elemento religioso
como fator decisivo de luta política no Oriente Médio. O funda-
mentalismo islâmico é cada vez mais importante em todo o mundo
muçulmano, ou seja, não apenas no Oriente Médio, mas também
no norte da África, no Paquistão, na Indonésia, etc.
A Revolução Iraniana foi decisiva nessa expansão. Em 1979,
cresceram as manifestações contrárias à ditadura do xá Reza Pahlavi,
insufladas por lideranças tradicionais que exigiam o retorno do
aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado na França. A violenta repressão
às manifestações, com um saldo de milhares de mortos, não impediu
a deposição do regime e a instalação de uma república islâmica
no país.
Com a volta do aiatolá Khomeini do exílio, este assume o poder,
incentivando a ação de grupos fundamentalistas que se proliferam
em toda a região. A situação de pobreza da população e o fim do
Aiatolá Khomeini.
sonho de progresso criam um terreno próspero para o crescimento
do fanatismo religioso.
136 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 23

Considerando as características do Oriente Médio, o lento processo


de assimilação e consumo de um produto cultural como o jazz, em
países dessa região, tem como principal motivo:
01 Trata-se de um grupo étnico que se configura como a maior (A) a condição de subdesenvolvimento, resultante da baixa renda
nação sem pátria no mundo, ou seja, sem um Estado constituído. per capita.
No total, eles formam uma população superior a 30 milhões de (B) o conservadorismo nas práticas socioculturais, pela preponde-
habitantes. Qual população está sendo descrita? rância do islamismo.
(C) a dificuldade de penetração da cultura estrangeira, pelo predo-
02 Apresente as características do clima do Oriente Médio. mínio da população rural.
(D) a política cultural de proibição à importação de produtos
ocidentais, em função da crise do petróleo.
03 Identifique os principais rios do Oriente Médio.
02 (UFF) Partido Islâmico Fundamentalista, na Turquia. Frente
04 Caracterize o Oriente Médio em termos de estabilidade Islâmica de Salvação, na Argélia. Hezbollah, no Líbano. Hamas, na
tectônica. Palestina. Esses são exemplos de organizações e facções políticas de
crescente poder de influência no mundo islâmico. Sua expansão tem
05 (UFPE) Esse país localiza-se no Oriente Médio, onde ocupa como base o fundamentalismo, cujo fortalecimento relaciona-se ao (à):
uma ampla península desértica. É considerado o berço do
islamismo. Anualmente, grandes migrações temporárias, com (A) descrédito das populações quanto à capacidade de moderni-
milhões de peregrinos, dirigem-se à Meca. A riqueza do país provém zação socioeconômica, por meio da importação de modelos
da exploração de grandes jazidas petrolíferas. culturais do Ocidente.
(B) retorno aos princípios do pan-arabismo com objetivo de
mesclar a fé muçulmana à social-democracia.
(C) instituição de leis impopulares, baseadas em rígidos e ultrapas-
sados códigos sociais do Corão, por governos favoráveis aos EUA.
(D) ação antidemocrática das lideranças xiitas, dispostas a cumprir
1 acordos de paz com o Estado de Israel.
(E) derrota da teocracia iraniana diante das monarquias tradicio-
2 5 nais do Golfo Pérsico, militarmente apoiadas pela Rússia.
3
03
4
O Islã foi o alicerce sobre o qual se ergueu um grande império.
O mundo muçulmano, que se estende pelo Oriente Médio, África do
OCEANO ÍNDICO
Norte, Ásia Setentrional e um pequeno trecho da Europa, é o fruto desse
império. Mundo árabe não se confunde com mundo muçulmano. [...]
O país descrito está indicado no mapa por qual número? Qual o O Oriente Médio, núcleo histórico e cultural do Islã e do mundo árabe,
nome do país? figura como foco de conflitos geopolíticos, nacionais e religiosos. Um
dos eixos desse conflito é a disputa pela influência na região petrolífera
do Golfo Pérsico. O outro eixo é a questão nacional entre Israel e
Palestina, que tem repercussões mundiais.
MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o Ensino Médio. São Paulo: Atual, 2008. p. 523.
01 (UERJ)
O processo de urbanização abriga a expansão e posterior Com base no texto apresentado e nos conhecimentos gerais sobre a
mundialização da indústria do entretenimento, na qual se insere cultura árabe no Oriente Médio, podemos afirmar, como a diferença
entre mundo árabe e islamismo, que:
a música popular urbana. Foi assim que o jazz, que evoluiu
das tradições rurais negras do sul algodoeiro norte-americano, (A) árabe é uma expressão utilizada para expressar os costumes e
conquistou as grandes cidades industriais do nordeste daquele país, a cultura muçulmana.
nas primeiras décadas deste século. Prosseguindo em sua difusão, (B) o islamismo deve ser a religião oficial de qualquer nação que
penetrou nos anos 1950 no poderoso mercado europeu e nas nações queira se tornar árabe.
(C) árabe refere-se à língua e muçulmano, à religião.
africanas, em rápido processo de urbanização.
(D) as diferenças entre mundo árabe e mundo muçulmano são
Não foi tão bem-sucedido nos países ibero-americanos, pois praticamente nulas, e tais expressões podem ser utilizadas como
estes já tinham consolidado sua própria música popular urbana sinônimas.
(o tango, o samba, a rumba, etc.). No Oriente Médio, encontrou (E) árabe é o nome da região geográfica em que habitam os povos
peculiar resistência... islâmicos.

HOBSBWAN, Eric. História social do jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1989 (adaptado).
Oriente Médio: quadro natural e caracterização geral GEOGRAFIA II 137
Módulo 23 1ª Série

04 (ENEM)
No mundo árabe, países governados há décadas por regimes
políticos centralizadores contabilizam metade da população com 01 (PUC-Rio)
menos de 30 anos; destes, 56% têm acesso à internet. Sentindo-se
sem perspectivas de futuro e diante da estagnação da economia,
esses jovens incubam vírus sedentos por modernidade e demo-
cracia. Em meados de dezembro, um tunisiano de 26 anos, vendedor
de frutas, põe fogo no próprio corpo em protesto por trabalho,
justiça e liberdade. Uma série de manifestações eclode na Tunísia
e, como uma epidemia, o vírus libertário começa a se espalhar
pelos países vizinhos, derrubando, em seguida, o presidente do
Egito, Hosni Mubarak. Sites e redes sociais – como o Facebook e o
Twitter – ajudaram a mobilizar manifestantes do norte da África
às ilhas do Golfo Pérsico.
SEQUEIRA, C. D.; VILLAMÉA, L. “A epidemia da liberdade”. IstoÉ Internacional. 2 mar. 2011
(adaptado).

Considerando os movimentos políticos mencionados no texto, o Disponível em: <www.vox.com>. Acesso em: 4 jun. 2014 (adaptado).
acesso à internet permitiu aos jovens árabes:
A imagem noturna feita por satélites mostra a região do Oriente Médio
(A) reforçar a atuação dos regimes políticos existentes. e parte do norte do continente africano. Veem-se as luzes noturnas dos
(B) tomar conhecimento dos fatos sem se envolver. aglomerados humanos, os círculos brancos indicam as áreas onde essa
(C) manter o distanciamento necessário à sua segurança. concentração é mais expressiva, e as letras “A” indicam as áreas onde
(D) disseminar vírus capazes de destruir programas dos computadores. a população é bem escassa.
(E) difundir ideias revolucionárias que mobilizaram a população.
a. Identifique a condição ambiental que possibilita a concentração
05 (UFLA) Observe as informações abaixo: demográfica observada nas áreas circundadas.
b. Com relação aos grandes vazios demográficos marcados com a
• Civilização ocidental: herdeira das culturas grega e romana. letra “A”, explique a condição climática que afasta a concentração
Dominante em vários continentes e grandes regiões. Convive de população.
com outras culturas.
• Civilização islâmica: cultura muçulmana. Abrange a região 02 Leia o texto a seguir:
que vai da Turquia ao Paquistão e Bangladesh. O elemento
unificador é a religião maometana. O que domina o mundo hoje é o confronto entre grupos
• Civilização hindu: abrange a Índia e países vizinhos. O islâmicos prontos a tudo, inclusive ao suicídio, e o império
elemento unificador é a mistura de religião e filosofia. Também americano, que possui as armas mais poderosas, mas não consegue
é considerada um conjunto de ideias. controlar totalmente o Afeganistão, o Iraque e os outros países do
Oriente Médio.
Indique a alternativa que define uma “civilização”:
TOURAINE, Alain. Um novo paradigma para compreender o mundo hoje.
(A) A identidade cultural mais ampla de um povo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. p. 76.

(B) A abrangência regional.


(C) O tipo de religião dominante. Considerando o confronto entre os grupos mencionados no texto,
(D) A dominação político-social imposta. apresente e explique uma das razões do interesse estadunidense
no Oriente Médio.
GEOGRAFIA II 138
Módulo 24 1ª Série

Israel e a Questão Palestina

©Aytac Unal/iStock
O que levou a Al-Qaeda, organização responsável
pelo ato terrorista de 11 de setembro, a
considerar o Estado Islâmico um grupo terrorista Expectativas de aprendizagem:
muito radical? – Compreender o conflito entre Israel e os povos árabes;
A notícia de que a Al-Qaeda rompeu laços com um aliado C2 – estudar a disputa territorial entre os palestinos e os judeus;
– conhecer as principais dificuldades para a obtenção da paz na
armado islâmico, sob o argumento de que suas atitudes são muito Palestina.
radicais, inclusive dentro de uma luta aberta que faz uso do
terrorismo, levou o mundo a questionar o que estava acontecendo
entre os árabes. povo, como parece para muitos, ela envolve um dos conceitos mais
A atuação dos responsáveis pela criação do Estado Islâmico importantes da geografia: território.
(EI) envolve um gigantesco genocídio e um conjunto incalculável Neste módulo, estudaremos as relações geopolíticas entre
de crimes contra a humanidade. A luta desse grupo não tem como Israel e Palestina, os grupos terroristas atuantes e as novas relações
principal ponto a religião ou simplesmente a trajetória de um na região.

1. Síntese teórica
A intensificação da discriminação ao povo judeu na Europa, no
ONU: plano de partilha da Palestina
século XIX, fez crescerem os movimentos sionistas, que pregavam o
retorno dos judeus à Palestina e o estabelecimento de uma comunidade
Haifa
autônoma na região, então controlada pelo Império Otomano e habitada
por palestinos.
MAR MEDITERRÂNEO
Com o apoio financeiro para a viagem e a compra de terras por Nablus
grupos judaicos poderosos, como os Rothschild, surgiram, em 1882, as Jerusalém
Tel Aviv
primeiras colônias judaicas na área. A entrada de judeus na Palestina se
acelerou com a Primeira Guerra Mundial, quando o Reino Unido assumiu
a responsabilidade sobre a região e apoiou a criação de um Estado judeu.
Gaza
Os conflitos com os árabes se acirraram, com os imigrantes judeus
passando a controlar as melhores terras, sob o apoio de fundos interna-
cionais. Também foram criados grupos militares clandestinos judaicos
TRANSJORDÂNIA
que promoviam ações terroristas contra árabes.
Com a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha perdeu o controle Estado árabe
político da região e a ONU estabeleceu, sem consultar os palestinos, um EGITO
Estado judaico
plano de divisão da região em três partes: um Estado judeu, um Estado
árabe e a cidade de Jerusalém, como “cidade aberta” ou “internacional”, cidade
por se tratar de uma cidade sagrada para o judaísmo, o islamismo e internacional
também para o cristianismo.
©Yhbv24/iStock

Os árabes não aceitaram a partilha, por tal razão ocorreu a primeira


guerra entre judeus e árabes: a Guerra de Independência de 1948 – com
vitória de Israel, que ampliou seu território.
Em 1967, uma nova guerra aconteceu entre esses povos. Em apenas
seis dias, Israel venceu a guerra e ampliou mais uma vez seu território com
a conquista da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, além das Colinas de Golã,
pertencentes à Síria, da Península do Sinai, território egípcio, e do setor
oriental de Jerusalém.
Na Guerra do Yom Kipur, em 1973, Síria e Egito tentaram recuperar,
sem sucesso, os territórios ocupados por Israel. Posteriormente, com a
assinatura do acordo de Camp David, em 1979, Israel devolveu ao Egito Cúpula da Rocha, na Cidade Velha de Jerusalém.
a Península do Sinai em troca do reconhecimento do Estado judeu.
Israel e a Questão Palestina GEOGRAFIA II 139
Módulo 24 1ª Série

Observe-se, nas imagens a seguir, a evolução territorial ao Durante esse longo período de conflitos, surgiram diversas
longo desse processo: organizações para lutar pela criação de um Estado palestino; dentre
elas, a de maior representatividade foi a Organização para a Liber-
MAR LÍBANO MAR LÍBANO tação da Palestina. Sob a liderança da OLP e de outras organizações
MEDITERRÂNEO MEDITERRÂNEO
palestinas, começou, em 1987, um movimento da população árabe,
SÍRIA SÍRIA que, com paus e pedras, enfrentou o exército israelense. A Intifada,
como ficou conhecida a revolta, ganhou força, apesar da violenta
repressão por parte de Israel.
Amã Amã Não tendo como controlar a rebelião popular nos territórios
Tel Aviv Tel Aviv
ocupados e sob pressão internacional, Israel resolveu negociar com
Cisjordânia
a OLP, reconhecida pela ONU como única e legítima representante
Jerusalém Jerusalém

Mar Morto
Mar Morto

Gaza Gaza do povo palestino.


Assim, em 1993, foi realizado em Oslo um acordo entre a OLP
e Israel, concedendo autonomia relativa aos territórios ocupados,
que passaram a ser administrados pelos palestinos de forma gradual.
ISRAEL ISRAEL
Sinai Sinai Entretanto, o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin
por fanáticos judeus e a derrota do Partido Trabalhista para o direitista
Likud e seus aliados religiosos atrapalharam o processo de paz.
EGITO EGITO Com a chegada da OLP ao poder, passando pelos Acordos
JORDÂNIA JORDÂNIA de Oslo, para exercer a Autoridade Nacional Palestina (ANP), os
Teba Teba conflitos passaram a ocorrer mais intensamente entre o governo de
a ia Israel e os movimentos fundamentalistas, principalmente o Hamas
aA rábi aA
ráb
d ARÁBIA d ARÁBIA
G olfo SAUDITA G olfo SAUDITA e o Hezbollah.
1949: plano de partilha da ONU. 1949: Depois da Guerra Nos anos seguintes e, de certa forma, até os dias atuais, ocorreu
Árabe-Israelense de 1948, uma série de avanços e retrocessos no processo de paz, com diversos
Estado judeu a Cisjordânia passou à
Estado árabe administração da Jordânia acordos sendo minados pelos radicais, tanto israelenses, contrários à
e Gaza à do Egito. devolução dos territórios conquistados em guerra, quanto palestinos
sob controle internacional
fundamentalistas, contrários às negociações com Israel.
MAR LÍBANO MAR LÍBANO Em janeiro de 2006, o Hamas venceu as eleições na Palestina,
SÍRIA

SÍRIA

MEDITERRÂNEO MEDITERRÂNEO passando a controlar a ANP nessa parte da região, enquanto o Fatah,
principal grupo da antiga OLP, continuou no poder na Cisjordânia.

2. A importância dos
Tel Aviv
Amã
Tel Aviv
Amã
recursos hídricos
Cisjordânia Cisjordânia
Jerusalém Jerusalém O intenso conflito na região da Palestina envolve disputa pela terra,
Mar Morto
Mar Morto

Gaza Gaza confrontos religiosos (judaísmo × islamismo), estratégias geopolíticas,


com destaque para a sólida aliança entre Estados Unidos e Israel, com
o Estado judaico constituindo o aliado basilar da potência americana
no conturbado xadrez do Oriente Médio.
Sinai ISRAEL Sinai ISRAEL
No entanto, não se pode esquecer a importância do controle
da água em uma região de clima árido e semiárido. Entre as áreas
em disputa, existem importantes fontes de recursos hídricos, com
EGITO EGITO destaque para as Colinas de Golã, área síria controlada por Israel
JORDÂNIA JORDÂNIA desde 1967, onde se encontra a nascente do Rio Jordão e diversos
Teba trechos da Cisjordânia próximos a esses rios e que Israel resiste, por
bia bia
a Ará a Ará motivos óbvios, a devolver ao controle palestino.
lfo d ARÁBIA lfod ARÁBIA
Go SAUDITA Go SAUDITA Essa situação define um dos mais importantes exemplos do que
1967: Na Guerra dos Seis Dias, 1997: O Sinai foi devolvido ao se pode chamar de hidrogeopolítica no mundo atual, e constitui
Israel ocupou Sinai, Gaza, Egito em 1979, Gaza foi
devolvida aos palestinos em
mais um dos fatores de instabilidade nessa região, dificultando ainda
Cisjordânia, Golã e o
setor oriental de Jerusalém. 1994, mas 70% da Cisjordânia mais a obtenção da paz efetiva.
ainda está ocupada por Israel.
140 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 24

Luta pela água

A Cisjordânia tem importância militar para Israel e fornece 25% da água consumida no país.
A água é bombeada de lençóis subterrâneos alimentados pelas chuvas.

ISRAEL CISJORDÂNIA JORDÂNIA

14,4 km 49,8 km

m Amã
,2 k
48 lençol de
Yarkon-Taninim lençol
oriental
fronteira
pré-1967
Vale do
Tel Aviv Rio Jordão

MAR
MEDITERRÂNEO

Colinas de Golã.
©gkuna gkuna /iStock

negociada para o conflito

©Kordas/Wikimedia
LÍBANO
com Israel que resulte em SÍRIA

dois Estados, coexistindo Haifa


pacificamente, lado a lado.
Em dezembro de 2010, o
Brasil reconheceu o Estado
Tel Aviv - Yafo
da Palestina nas fronteiras
de 1967 – iniciativa que foi Jerusalém JORDÂNIA

seguida por quase todos


os países sul-americanos.
O Brasil apoiou e copatro-
cinou a resolução 67/19 da Bersebá

Ruínas de antiga cidade palestina.


ONU, que elevou o status da
Palestina a Estado observa-
dor não membro das EGITO
Reconhecimento do Estado Nações Unidas.
palestino nas fronteiras de 1967 O ex-presidente Luiz
O início das relações entre o Brasil e a Palestina remonta Inácio Lula da Silva fez visita
a 1975, quando a Organização para a Libertação da Palestina oficial à Palestina em 2010.
(OLP), na qualidade de movimento de libertação nacional, Por ocasião da posse da
Estado de Israel, que é reconhecido
foi autorizada a designar representante em Brasília. Em 1993, presidenta Dilma Rousseff, o internacionalmente. Enquanto isso, o
o Brasil autorizou a abertura da Delegação Especial palestina presidente Mahmoud Abbas Estado da Palestina ainda não tem seu
território reconhecido por todos os países.
em Brasília, cujo status foi equiparado ao de uma Embaixada esteve no Brasil. Em 2012,
em 1998. Em 2004, foi aberto o Escritório de Representação do o ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar
Brasil em Ramalá. A partir do reconhecimento, pelo Brasil, do Patriota, visitou a Palestina. Mais recentemente, o então vice-
Estado da Palestina (dezembro de 2010), a Delegação Especial -presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Saúde,
passou a denominar-se Embaixada da Palestina. Alexandre Padilha, estiveram no país.
Em harmonia com os princípios estabelecidos pela A cooperação humanitária é uma vertente importante do
Constituição Federal e pelo Direito Internacional, o Brasil apoia relacionamento bilateral. Em 2007, o Brasil doou US$10 milhões
o direito de autodeterminação do povo palestino e uma solução para atividades humanitárias na Palestina. Em 2009, doou mais
Israel e a Questão Palestina GEOGRAFIA II 141
Módulo 24 1ª Série

US$10 milhões para a reconstrução de Gaza. Os países do IBAS


(Índia, Brasil e África do Sul) também doaram conjuntamente
US$3 milhões à Palestina, montante investido nas áreas de 01 O que foi o Acordo de Camp David?
saúde, educação, agricultura e assistência a refugiados. Mais
recentemente, o Brasil doou 11,5 mil toneladas de arroz à 02 No plano de divisão feito pelo ONU pós-Segunda Guerra
Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Mundial, o que foi decidido para a cidade de Jerusalém?
Palestina (UNRWA). Em 2012, o intercâmbio comercial brasi-
leiro com a Palestina registrou US$22,5 milhões. O comércio 03 O que foi a Intifada?
com a Palestina deverá ser beneficiado pela entrada em vigor
do Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a Palestina, 04 Quais são os interesses norte-americanos no Oriente Médio?
assinado em 2011 e em processo de aprovação interna.
Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/pt-BR/ficha-pais/5629-estado-da-palestina>. 05 Qual é a importância das Colinas do Golã?

Muro do apartheid
©aicragarual/iStock
01 (ENEM)
Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou
um plano de partilha da Palestina que previa a criação de dois
Estados: um judeu e outro palestino. A recusa árabe em aceitar a
decisão conduziu ao primeiro conflito entre Israel e países árabes.
A segunda guerra (Suez, 1956) decorreu da decisão egípcia de
nacionalizar o canal, ato que atingia interesses anglo-franceses e
israelenses. Vitorioso, Israel passou a controlar a Península do Sinai.
O terceiro conflito árabe-israelense (1967) ficou conhecido como
Guerra dos Seis Dias, tal a rapidez da vitória de Israel.
Em 6 de outubro de 1973, quando os judeus comemoravam
o Yom Kipur (Dia do Perdão), forças egípcias e sírias atacaram de
Os israelenses começaram a construir, em 2002, entre Israel surpresa Israel, que revidou de forma arrasadora. A intervenção
e a Cisjordânia, um “muro de proteção” destinado a impedir americano-soviética impôs o cessar-fogo, concluído em 22 de
ataques palestinos. A construção do muro foi iniciada após outubro.
uma onda de atentados suicidas em Israel no início da segunda
Intifada (revolta palestina contra a ocupação israelense), em A partir do texto, assinale a opção correta:
setembro de 2000.
Atualmente, o muro está dividindo vilas, terras e famílias. A (A) A Primeira Guerra Árabe-Israelense foi determinada pela ação
presença de oito metros de altura de concreto lembra aos pales- bélica de tradicionais potências europeias no Oriente Médio.
tinos, diariamente, sobre a separação, a alienação das suas terras (B) Na segunda metade dos anos 1960, quando explodiu a Terceira
e plantios, aos quais alguns conseguem chegar apenas passando Guerra Árabe-Israelense, Israel obteve rápida vitória.
por postos de controle militar israelense, ocasionalmente. Além (C) A Guerra do Yom Kipur ocorreu no momento em que, a partir
de decisão da ONU, foi oficialmente instalado o Estado de Israel.
disso, separa os palestinos da cidade sagrada de Belém do resto
(D) A ação dos governos de Washington e de Moscou foi decisiva
da Cisjordânia. Por esse motivo, também é conhecido como para o cessar-fogo que pôs fim ao primeiro conflito árabe-
“muro do apartheid”. -israelense.
Mesmo com todos os conflitos existentes, a população (E) Apesar das sucessivas vitórias militares, Israel mantém suas
palestina encontrou outra maneira de se apropriar dessa dimensões territoriais tal como estabelecido pela resolução
de 1947 aprovada pela ONU.
barreira. Artistas de todos os tipos utilizam o muro como
tela para expressar sua indignação e rabiscar suas palavras
de ordem. Durante a Copa do Mundo de 2014, foi utilizado
para projetar as partidas do evento esportivo, que congrega
32 nações diferentes e tem como slogan oficial “Juntos num só
ritmo”, que é mais uma provocação à construção do paredão.
142 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 24

02 (ENEM) A figura apresenta as fronteiras entre os países envol- (B) a Guerra dos Seis Dias insere-se no contexto de outras disputas
vidos na Questão Palestina e um corte, no mapa, da área indicada: entre árabes e israelenses, por causa das reservas de petróleo
localizadas naquela região do Oriente Médio.
LEGENDA (C) a Guerra dos Seis Dias significou a ampliação territorial de
I. Líbano
II. Síria
Israel, com a anexação de territórios, justificada pelos israe-
III. Cisjordânia I lenses como medida preventiva para garantir sua segurança
IV. Israel II contra ações árabes.
VII
V. Egito (D) o discurso de Obama representa a postura tradicional da diplo-
VI. Jordânia III
O L macia norte-americana, que defende a existência dos Estados
VII. Mar Mediterrâneo
de Israel e da Palestina, e diverge da diplomacia europeia, que
limite IV VI condena a existência dos dois Estados.
Israel/ V
Oeste Leste
Cisjordânia Vale do
Mediterrâneo platô central 890 m 05 (ESPM) Leia o texto:
Jordão 1.040 m
880 m 650 m –310 m
planície 210 m
costeira nível do mar
0 7 km A existência de um país supõe um território. Mas a existência
Israel Cisjordânia Jordânia
de uma nação nem sempre é acompanhada da posse de um
território e nem sempre supõe a existência de um Estado. Pode-se
Revista Hérodote. Números 29 e 30 (adaptado).
falar, portanto, de territorialidade sem Estado, mas é praticamente
Com base na análise da figura apresentada e considerando o conflito impossível nos referirmos a um Estado sem território.
entre árabes e israelenses, pode-se afirmar que, para Israel, é impor- SANTOS, Milton. O Brasil. 2000.
tante manter ocupada a área litigiosa por se tratar de uma região:
Das palavras de Milton Santos, podemos deduzir que:
(A) de planície, propícia à atividade agropecuária.
(B) estratégica, dado que abrange as duas margens do Rio Jordão.
(A) nação, Estado e território são categorias excludentes.
(C) habitada, majoritariamente, por colônias israelenses.
(B) não existe nação sem Estado.
(D) que garante a hegemonia israelense sobre o Mar Mediterrâneo.
(C) a categoria território é imprescindível à existência de um Estado.
(E) estrategicamente situada devido ao relevo e aos recursos hídricos.
(D) as fronteiras delimitam os territórios, mas não os Estados.
(E) um Estado é sempre composto por uma única nação.
03 (UERJ) A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,
1948) conta hoje com a adesão da maioria dos Estados Nacionais.
O conteúdo desse documento, no entanto, permanece como um
ideal a ser alcançado. Observe o que está disposto em seu artigo XV:

I. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.


II. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, 01 (FUVEST) Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou,
nem do direito de mudar de nacionalidade. de seus vizinhos árabes, as áreas hachuradas assinaladas no mapa
Disponível em: <portal.mj.gov.br>. a seguir, por I, II, III e IV:

Desde a década de 1960, em virtude de conflitos, o direito expresso LÍBANO


nesse artigo vem sendo sonegado à maior parte da população SÍRIA
I
pertencente ao seguinte povo e respectivo recorte espacial: MAR
MEDITERRÂNEO
(A) Árabe – regiões ocupadas pela Índia. III JORDÂNIA
II
(B) Esloveno – distritos anexados pela Sérvia.
(C) Palestino – territórios controlados por Israel.
(D) Afegão – províncias dominadas pelo Paquistão. ISRAEL

04 (UNICAMP) Em discurso proferido em 20 de maio de 2011, EGITO


0 73 km IV
o presidente dos EUA, na época, Barack Obama, pronunciou-se
sobre as negociações relativas ao conflito entre palestinos e isra-
Golfo
elenses, propondo o retorno à configuração territorial anterior à ARÁBIA
de Suez SAUDITA
Guerra dos Seis Dias, ocorrida em 1967.

Sobre o contexto relacionado ao conflito mencionado, é correto


afirmar que:
a. Identifique as áreas e explique o interesse de Israel por elas.
(A) a criação do Estado de Israel, em 1948, marcou o início de um
b. Considerando os acordos de paz realizados até o final de 1995,
período de instabilidade no Oriente Médio, pois significou o
comente a atual situação política de cada uma delas.
confisco dos territórios do Estado da Palestina, que existia até
então, e desagradou o mundo árabe.
Israel e a Questão Palestina GEOGRAFIA II 143
Módulo 24 1ª Série

02 (PUC-Rio) Nacionalismo: ideologia política que reivindica para um


povo o direito de formar uma nação. [...] Como o Estado-nação
MAR LÍBANO está referenciado ao território, o nacionalismo é, também, suporte
MEDITERRÂNEO
ideológico para a defesa e a conquista territorial e para as guerras
Haifa entre Estados.
SÍRIA
CASTRO, Iná Elias de. Geografia e política – Território, escalas de ação e instituições.
Nazaré Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

Hadera
Netânia Com base nas informações anteriores, indique uma área na
figura selecionada em que ainda não há a consolidação de um
Cisjordânia

Rio Jordão

Estado-nação e identifique uma condição espacial que dificulta


Tel Aviv esse processo.
Faixa Jerusalém
de
Gaza MAR
MORTO

Dimona

ISRAEL

EGITO JORDÂNIA

Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <www.mre.gov.br>.

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GEOGRAFIA II 144
Módulo 25 1ª Série

Oriente Médio: os constantes conflitos

©anek_s/iStock
Você sabia que a Arábia Saudita tem o
equivalente a 264 bilhões de barris de petróleo?
A Arábia Saudita, hoje, é o principal país exportador dessa
commodity, possuindo cerca de 25% da reserva mundial. Assim, esse
país, localizado ao sul do Oriente Médio, possui vital importância nas
negociações do preço do barril do petróleo com o restante do mundo.
É um dos líderes da OPEP, associação que controla as principais
reservas petrolíferas do mundo. Expectativas de aprendizagem:
É importante destacar que, apesar da grande riqueza gerada – Identificar os principais conflitos do Oriente Médio, destacando
pela comercialização do chamado “ouro negro”, a sociedade saudita C3 suas causas;
– estudar a importância do petróleo na geopolítica local;
é marcada pela grande disparidade social e econômica. Isso ocorre
– identificar as constantes ações dos EUA na região.
porque os detentores das reservas de petróleo, chamados sheiks, são,
em sua maioria, representantes de empresas privadas, não havendo
a partilha dos lucros. especial para os mais notáveis participantes, sendo eles agentes
Neste módulo, veremos os motivos dos principais conflitos, externos à região, como os Estados Unidos, ou agentes regionais,
incluindo o petróleo, dentro do Oriente Médio, com um olhar como o Iraque.

1. Introdução

©tunart/Stock
O Oriente Médio é uma região conhecida internacionalmente
pelos constantes conflitos que ocorrem no interior dos países e
entre diferentes Estados Nacionais ou, ainda, entre diferentes povos.
A importância assumida por esses conflitos derivou, em grande
parte, do fato de ocorrerem em uma área onde se encontram
mais da metade das reservas mundiais de petróleo e os principais Ruhollah Khomeini.
exportadores do produto. Em decorrência disso, o Oriente Médio
tem sido palco de disputa das potências com o objetivo de assegurar O aiatolá Khomeini voltou do exílio e assumiu o poder, incen-
sua influência e acesso às reservas petrolíferas. tivando a ação de grupos fundamentalistas que proliferavam em
Somam-se, ainda, as contradições existentes entre os diversos toda a região. A situação de pobreza da população e o fim do sonho
países árabes locais e destes com Israel. Tais conflitos não se devem de progresso criaram um terreno próspero para o crescimento do
fanatismo religioso.
apenas ao petróleo, mas também às características de formação
histórica e cultural da região. O país foi rapidamente envolvido em um conflito com
o vizinho Iraque e, ainda assim, o regime político teocrá-
tico manteve-se firme. Nos dias atuais, passados mais de
2. A Revolução Iraniana 30 anos do movimento revolucionário, há importantes questiona-
Em 1979, cresceram no Irã as manifestações contrárias à mentos internos, inclusive quanto à lisura dos processos eleitorais,
ditadura do Xá Reza Pahlavi, insufladas por lideranças tradicionais e externos, principalmente por parte dos Estados Unidos e de seus
que exigiam o retorno do aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado aliados, relacionados ao programa nuclear iraniano.
na França. A violenta repressão às manifestações, com um saldo
de milhares de mortos, não impediu a deposição do regime e a 3. A Guerra Irã-Iraque (1980-1988)
instalação de uma república islâmica no país.
Desde a década de 1970, existia uma controvérsia entre o Irã e
o Iraque em relação à delimitação das fronteiras entre os dois países
no Estreito de Chate Alárabe. Tal disputa vai servir como pretexto
para a invasão do Irã pelo Iraque, em setembro de 1980.
Oriente Médio: os constantes conflitos GEOGRAFIA II 145
Módulo 25 1ª Série

No f u n d o, o

©KeithBinns/iStock
ataque do Iraque Estado Islâmico
tinha como objetivo
O grupo Estado Islâmico nasceu como uma derivação
a conquista de
da Al-Qaeda, fundamentado nos mesmos princípios dessa
influência e de uma
organização. Contudo, as ações do EI ficaram gradativamente
posição dominante
mais radicais, até mesmo para os padrões da Al-Qaeda, o que
na região. Além disso,
provocou a separação entre as duas organizações terroristas.
o Iraque contava com
o apoio de potências Os objetivos do Estado Islâmico são expandir o seu califado
ocidentais e dos Posição do Iraque no Oriente Médio. (liderança islâmica) por todo o Oriente Médio, pautando-
países árabes conservadores que temiam o avanço do fundamenta- -se pela Lei Islâmica interpretada com base no Alcorão, e
lismo islâmico em seus territórios. estabelecer conexões na Europa e outras regiões do mundo,
com o propósito de realizar atentados que lhe possam conferir
Após um longo período de combate em que não houve
autoridade por meio do terror. A concepção de jihad, ou
vencedores, foi realizada a paz entre os dois países em 1988. Como
Guerra Santa, para o EI, é a mesma de outras organizações
resultado da guerra ficaram um grande número de mortos e a
terroristas, como a Al-Qaeda ou o Hamas: expandir o modelo
economia do Irã e a do Iraque bastante debilitadas.
teocrático radical islâmico de governo pelo mundo, por meio
dos métodos terroristas.
4. A Guerra do Golfo (1990-1991) É curiosa a grande adesão de simpatizantes não islâmicos
Mal havia saído da guerra com o Irã, o Iraque invadiu o Kuwait e, frequentemente, de origem europeia às causas do EI. Muitos
e o anexou. Desse modo, conquistaria as enormes reservas petrolí- jovens do Ocidente se oferecem para integrar o grupo e servir
feras do Kuwait e uma excelente saída para o mar, assumindo uma ao seu propósito jihadista.
posição de destaque na região. Desde que deu início ao levante, em junho de 2014, o
Estado Islâmico já conquistou partes da Síria e do Iraque, onde
©Rockfinder/iStock

dominou regiões estratégicas e zonas de grande importância


econômica, como a cidade iraquiana de Mossul, rica em reservas
de petróleo e detentora da maior usina hidrelétrica do país.

©Juanmonino/iStock

Tropas iraquianas. Síria, zona dos principais conflitos travados pelo Estado Islâmico.

Contudo, a reação contrária foi forte: Em janeiro de 1991,


sob o comando dos EUA e aprovação do Conselho de Segurança 5. A invasão do Iraque pelos EUA
da ONU, uma coalizão com tropas de 20 países atacou as forças Os Estados Unidos realizaram, a partir de março de 2003, uma
iraquianas e retomou rapidamente o Kuwait. O Iraque se rendeu, nova invasão no Iraque, alegando ligações do país com terroristas
sofrendo pesadas sanções internacionais e ficando com a sua e a existência de armas químicas que colocariam em risco a
infraestrutura praticamente destruída. O país chegou até mesmo a segurança dos EUA.
perder a soberania sobre partes de seu território.
Apesar de alguma resistência por parte dos iraquianos, as forças
Saddam Hussein foi mantido no poder, pois não interessava aos terrestres dos EUA, com o apoio dos britânicos, tiveram uma vitória
vencedores sua destituição, já que seu governo servia como uma fácil e rápida do ponto de vista militar, determinando o final do
barreira ao avanço dos muçulmanos mais radicais. governo de Saddam Hussein.
146 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 25

• Os EUA realizaram o ataque sem a aprovação do Conselho de

©Rockfinder/iStock
Segurança da ONU, sofrendo fortes críticas de vários países,
como a França, a Alemanha e o Brasil.
• A declaração chamada de Doutrina Bush, dentro do contexto
posterior ao 11 de setembro de 2001, apregoou o direito a ataques
preventivos, sempre que o país pudesse vir a ser ameaçado. No
caso iraquiano, não foram encontradas as armas químicas e
é pouco provável alguma ligação de redes terroristas como a
Al-Qaeda com o território iraquiano (segundo o FBI, dos 19
terroristas nos aviões do 11 de setembro, 15 eram da Arábia
Saudita, 2 dos Emirados Árabes, 1 do Egito e 1 do Líbano).
• Há, no Iraque, uma grande divisão interna, pois uma parte da
Tropas americanas no Oriente Médio. população é xiita e outra parte é sunita, além de haver curdos
no norte do país.
É importante ressaltar que essa nova Guerra do Golfo possui
algumas diferenças fundamentais em relação ao conflito do início
da década de 1990:

A saga dos curdos

Povo sem pátria ARMÊNIA AZERBAIJÃO


Ancara

300.000 curdos
TURQUIA
Vinte e cinco
milhões de curdos MAR CÁSPIO
13,5 milhões de curdos
vivem espalhados 18% da população
por seis países,
sonhando com
a independência.
SÍRIA

1 milhão Teerã
6% da população
IRÃ
MAR IRAQUE 5 milhões
Área de MEDITERRÂNEO Damasco 7% da população
5 milhões
maioria curda Bagdá
20% da população

Os curdos, povo sem território, se apresentam, hoje, como baixas ou extremamente baixas. Seus costumes e tradições antigas
uma grande ameaça para os países vizinhos e principalmente para envolvem honra e bravura, o que permite atos de bravura como
a Turquia. Durante a guerra contra o Iraque, a Turquia proibiu o suicídio. O povo curdo é o maior “povo sem pátria” do planeta.
que os Estados Unidos usassem o sul do país para invadir o norte Turquia e Iraque tiveram posições diferentes com relação à
do Iraque, por temer perder o controle na região entre os países. presença de curdos no território. Enquanto no Iraque, no pós-guerra,
O maior medo era de que, no Iraque pós-Saddam Hussein, os os curdos iraquianos entraram em acordo com os Estados Unidos
curdos pudessem proclamar um Estado independente. para estar dentro do planejamento de reconstrução do país, na
Hoje, os curdos vivem como etnia minoritária entre a Turquia, a cultura e a língua curda foram fortemente reprimidas.
maioria árabe do Oriente Médio, mas suas origens na região são O Partidos dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) possui um
muito mais antigas, remontando à pré-história da civilização. braço armado que durante 20 anos promoveu e vem promovendo
Mantiveram suas raízes e identidade própria mesmo adotando atentados terroristas em território turco. O resultado desse conflito é
o Islã durante a expansão maometana. Uma das marcas do povo o número alarmante de 40.000 mil mortes, principalmente de civis,
curdo é a vivência nas montanhas, onde as temperaturas são como forma de repressão.
Oriente Médio: os constantes conflitos GEOGRAFIA II 147
Módulo 25 1ª Série

01 (VUNESP) Quais as principais potências econômicas que 04 Apresente uma diferença básica entre a primeira intervenção
participaram da Guerra do Golfo (1991)? Indique os motivos dos EUA no Iraque, em 1990, e a segunda, em 2003.
político e econômico que as levaram a se envolver no conflito.
05 O fundamentalismo islâmico começa a ser mais comentado
02 Apresente três fatores que originaram os conflitos entre países como fenômeno político e religioso a partir do final da década
do Oriente Médio. de 1970. Identifique os principais eventos que inauguraram tal
notoriedade.
03 Qual é a atual situação dos curdos?

01 (UERJ) Observe a imagem abaixo, do episódio ocorrido nos 02 (CESGRANRIO) Na última década do século XX, verificou-
EUA no dia 11 de setembro de 2001: -se o recrudescimento da ideologia do nacionalismo em todo o
mundo, gerando a ocorrência de movimentos separatistas, que,

Disponível em: <antimason.ru>.


não raramente, desembocam em sangrentos conflitos, a exemplo
do que ocorreu entre o Iraque de Saddam Hussein e a etnia:

(A) armênia.
(B) libanesa.
(C) sunita.
(D) palestina.
(E) curda.

03 (UNIFESP) No mapa a seguir, encontram-se em destaque um


país e aspectos de seu território que despertam oposição de países
ocidentais:

Mar
Mediter- Mar
râneo Cáspio
A queda das torres do World Trade Center foi certamente a
mais abrangente experiência de catástrofe que se tem na História,
inclusive por ter sido acompanhada em cada aparelho de televisão, 30°
nos dois hemisférios do planeta. Nunca houve algo assim. E sendo
imagens tão dramáticas, não surpreende que ainda causem forte
Mar Vermelho

impressão e tenham se convertido em ícones. Agora, elas repre-


sentam uma guinada histórica?
Oceano
HOBSBAWM, Eric. 10 set. 2011. Disponível em: <blogs.estadao.com.br>. 50° Índico

A guinada histórica colocada em questão pelo historiador Assinale a alternativa que indica corretamente o título adequado
Eric Hobsbawm associa-se à seguinte repercussão internacional da ao mapa:
queda das torres do World Trade Center:
(A) Geórgia – poços de petróleo.
(A) Concentração de atentados terroristas na Ásia Meridional.
(B) Irã – instalações nucleares.
(B) Crescimento do movimento migratório de grupos islâmicos.
(C) Afeganistão – bases terroristas.
(C) Intensificação da presença militar norte-americana no Oriente
(D) Paquistão – centros de formação islâmica.
Médio.
(E) Iraque – focos de insurgência às tropas estrangeiras no país.
(D) Ampliação da competição econômica entre a União Europeia
e os países árabes.
148 GEOGRAFIA II
1ª Série Módulo 25

04 (ENEM) Na América do Sul, as Forças Armadas Revolucioná-


rias da Colômbia (Farc) lutam, há décadas, para impor um regime
de inspiração marxista no país.
Hoje, são acusadas de envolvimento com o narcotráfico, o qual 01 (UFG – adaptada)
supostamente financia suas ações, que incluem ataques diversos, O que domina o mundo hoje é o confronto entre grupos islâmicos
assassinatos e sequestros. prontos a tudo, inclusive ao suicídio, e o império americano, que
Na Ásia, a Al-Qaeda, criada por Osama bin Laden, defende o funda- possui as armas mais poderosas, mas não consegue controlar total-
mentalismo islâmico e vê nos Estados Unidos da América (EUA) e
mente o Afeganistão, o Iraque e os outros países do Oriente Médio.
em Israel inimigos poderosos, os quais deve combater sem trégua.
A mais conhecida de suas ações terroristas ocorreu, em 2001, quando TOURAINE, Alain. Um novo paradigma para compreender o mundo hoje.
foram atingidos o Pentágono e as torres do World Trade Center. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 76.

A partir das informações fornecidas, conclui-se que: A região conhecida como Oriente Médio é uma área de constantes
conflitos. Explicite os principais agentes internos e externos, bem
(A) as ações guerrilheiras e terroristas no mundo contemporâneo como as principais motivações desses conflitos.
usam métodos idênticos para alcançar os mesmos propósitos.
(B) o apoio internacional recebido pelas Farc decorre do desconhe- 02 (UFRJ) O petróleo constitui, atualmente, uma das principais
cimento, pela maioria das nações, das práticas violentas dessa fontes de energia e matéria-prima do mundo. Seu ritmo de consumo
organização. se acelera a cada dia, o que leva os países a intensificar a produção
(C) os EUA, mesmo sendo a maior potência do planeta, foram nacional, fazer acordos internacionais e valorizar outras fontes de
surpreendidos com ataques terroristas que atingiram alvos de energia.
grande importância simbólica.
(D) as organizações mencionadas identificam-se quanto aos
princípios religiosos que defendem. Reservas mundiais de petróleo
(E) tanto as Farc quanto a Al-Qaeda restringem sua atuação à área
geográfica em que se localizam, respectivamente, América do Sul
e Ásia.
América do Norte – 3%
Antiga URSS – 6%
05 (UERJ) Europa – 2%
América Latina e Caribe – 14%
Texto I África – 7%
Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Rússia, Ásia e Oceania – 4%
Oriente Médio – 64%
Dmitri Medvedev, assinaram, no dia 8 de abril de 2010, em Praga,
um histórico acordo de redução de armas nucleares que cortará em
cerca de 30% o número de bombas atômicas instaladas em ambos os
países. A assinatura do acordo representa o início da concretização
de uma das metas do Governo Obama, que diz querer ver um Consumo mundial de petróleo
mundo livre de armas nucleares.
Disponível em: <noticias.r7.com> (adaptado).

Texto II América do Norte – 26%


Antiga URSS – 13%
Nos próximos anos, o presidente Barack Obama vai decidir se Europa – 18%
colocará ou não em operação uma nova classe de armas capaz de América Latina e Caribe – 6%
atingir qualquer lugar do planeta, lançada do solo dos EUA, com África – 4%
Ásia e Oceania – 28%
precisão e força suficientes para reduzir a dependência americana Oriente Médio – 4%
em relação ao arsenal nuclear.
Folha de S. Paulo. 24 abr. 2010 (adaptado).

As alterações na política armamentista do governo norte-americano,


de acordo com as reportagens, apontam para novas tensões nas Explique dois problemas de ordem geopolítica relacionados às
relações internacionais. Essas tensões estão associadas ao seguinte reservas conhecidas e ao consumo de petróleo no mundo.
contexto:

(A) cooperação entre China e Índia.


(B) crise em países do Oriente Médio.
(C) supremacia da Comunidade Europeia.
(D) polarização entre as ex-repúblicas soviéticas.

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