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Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 09, n. 03, p. 796 – 805, 2007.

Disponível em http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n3/v9n3a18.htm
__________________________________________________________ ARTIGO ORIGINAL

A utilização do grupo operativo como método de coleta de dados em pesquisa qualitativa

The use of operative group as a collection of data method in qualitative research

La utilización del grupo operativo como método de colecta de datos en investigación


cualitativa

Roselma LuccheseI, Sônia BarrosII

RESUMO besides others diverse ways of communication


A pesquisa qualitativa como opção and the relationship in the group. The
metodológica está cada vez mais presente nos technique guides the planning, the functioning
estudos de enfermagem, modalidade que abre and the analysis of the group and of the
campo para utilização da tecnologia de grupos research itself. It makes possible to the
para coleta de dados. Trabalhar com grupo researcher/coordinator more assertive actions
requer fundamentação técnico-teórica, assim, referring to the methodological conduction of
este artigo tem o objetivo de discutir a the study. We consider that the relevance of
utilização do grupo operativo (GO) como the OG application in the qualitative research in
método de coleta em pesquisa qualitativa e as nursing is significant and, it is up to the
implicações para o pesquisador quanto ao interested nurse to seek the construction of
desempenho dos papéis de coordenador e/ou such know-how, since in his or her formation
observador. A opção pelo GO como método de the teamwork is not a privilege.
coleta de dados disponibiliza ao pesquisador o
registro do discurso oral, das diversas outras Key words: Group processes; Qualitative
formas de comunicação e das relações no research; Nursing research; Research
campo grupal. A técnica norteia o personnel.
planejamento, operacionalização e a análise do
grupo e da própria pesquisa, possibilitando ao RESUMEN
pesquisador/coordenador ações mais assertivas La investigación cualitativa como opción
quanto a condução metodológica do estudo. metodológica está cada vez más presente en
Consideramos que a relevância da aplicação do los estudios de enfermería, modalidad que
GO na pesquisa qualitativa em enfermagem é permite la utilización de tecnología de grupos
significativa e, cabe ao enfermeiro interessado para colecta de datos. Trabajar con grupo
buscar a construção deste saber/fazer, vista requiere embasamiento técnico-teórico. Así,
que sua formação não privilegia o trabalho em este artículo tiene el objetivo de discutir la
grupo. utilización del grupo operativo (GO) como
método de colecta de datos en investigación
Palavras chave: Processos grupais; Pesquisa cualitativa y las implicaciones para el
qualitativa; Pesquisa em enfermagem; investigador con relación al desempeño de las
Pesquisador. funciones de coordinador y/ o observador. La
opción por GO como método de colecta de
ABSTRACT datos ofrece al investigador el registro del
The qualitative research as methodological discurso oral, de las diversas otras formas de
option is more and more present in the nursing
studies. It is a modality that allows the use of
the technology of groups to collection of data. I
Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato
Technical – theoretical basis is required to work Grosso, Faculdade de Enfermagem (FAEN). Membro do
Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos em Saúde Mental.
with a group. Therefore, this article aims to
Doutor em Enfermagem pelo Programa Interunidades de
discuss the use of the operative group (OG) as Doutoramento da Escola de Enfermagem da Universidade
a method of collection in qualitative research de São Paulo (EEUSP) e Escola de Enfermagem de Ribeirão
and the implications to the researcher referring Preto da Universidade de São Paulo (EERPUSP). E-mail:
roselmalucchese@hotmail.com
to the performance of the roles of coordinator II
Professor Associado da Universidade de São Paulo.
and/ or observer. The option of OG as Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e
collection of data method offers to the Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de
researcher the register of oral discourse, São Paulo (EEUSP). Livre-docente e Doutor em
Enfermagem pela EEUSP. E-mail: sobarros@usp.br

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Eletrônica de Enfermagem [serial on line] 2007 Set-Dez; 9(3): 796-805. Available from: URL:
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comunicación y de las relaciones en el campo significativa y, le toca al enfermero que tiene


grupal. La técnica orienta el planeamiento, el interés buscar la construcción de este saber/
modo del operar y el análisis del grupo y de la hacer, ya que su formación no privilegia el
propia investigación. Este proceso posibilita al trabajo en grupo.
investigador/coordinador acciones más
asertivas con relación a la conducción Palabras clave: Procesos de grupo;
metodológica del estudio. Consideramos que la Investigación cualitativa; Investigación en
relevancia de la aplicación de GO en la Enfermería; Investigadores.
investigación cualitativa en enfermería es

INTRODUÇÃO de esclarecer quais conceitos e teorias servirão


(3)
A pesquisa na modalidade qualitativa está de alicerce às articulações interpretativas .
cada vez mais presente nos estudos científicos Do mesmo modo que a pesquisa
de enfermeiros, fato constatado quando qualitativa conta com diversidade de tipos, a
consideramos o número crescente de artigos forma de obtenção de dados também é
publicados em periódicos, dissertações e teses variada, desde observação de sujeitos/atores,
norteados pelos diversos tipos metodológicos. uso de diário de campo, entrevistas abertas e
Tal vez seja uma escolha facilitada pela as semi-estruturadas, dinâmica de grupo,
possibilidade de alcançar as respostas para documentos, relatos de vida, fotografias,
inquietações particulares que envolvem o áudios, e outros. A escolha por um método de
(1)
cuidado e a assistência de enfermagem . coleta de dados deverá seguir o rigor da linha
Além das características sociais que da pesquisa qualitativa, podendo optar por
compartilham tanto o processo de trabalho em uma técnica específica ou por múltiplos
saúde (como produção social) quanto à métodos; lembrando, sobretudo, do rigor ético
característica da metodologia qualitativa em atendendo à Resolução nº. 196/96, do
preocupar-se com uma realidade que não pode Conselho Nacional de Saúde - Diretrizes e
ser quantificada, mensurada, assim, abarcando Normas Regulamentares de Pesquisa em Seres
(4)
o universo dos significados, motivos, Humanos .
aspirações, crenças, valores e atitudes Dentre os métodos de coleta de dados,
(2)
presentes nas relações e ações humanas . este texto destaca a coleta por meio do grupo,
Assim, os trabalhos produzidos a partir distinto da conhecida ‘entrevista coletiva’ que
desse método vêm desvendando os fenômenos promove um encontro pontual para discussão e
subjetivos da experiência humana no processo resposta de questionamentos, colhendo-se,
(5)
saúde-doença, contribuindo para construção do assim, os discursos dos sujeitos . O trabalho
(1)
conhecimento na área de enfermagem . O grupal como método de coleta de dados pode
núcleo básico de um trabalho qualitativo é a ser feito por diversos enfoques. No presente
pretensão de lidar com o significado atribuído trabalho destacamos o grupo focal norteado
pelos sujeitos aos fatos, relações, práticas e pela técnica de grupo operativo (GO),
fenômenos sociais, ou seja, “interpretar tanto tecnologia desenvolvida pelo psicanalista
as interpretações e práticas quanto as argentino Pichon-Rivière. Este instrumento
interpretações das práticas”. Há necessidade vem se desvelando, em nossas pesquisas,

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como uma técnica que vai além da coleta de espaço constituam um grupo, é necessário
dados, vista que, proporciona trocas vivenciais vinculação e interação, no sentido de um
entre os sujeitos pesquisados, possibilitando a objetivo comum.
revisitação e reflexão do cotidiano, E o que devemos entender por tarefa?
exteriorização de sentimentos latentes, Tarefa é um conceito pichoniano dinâmico e
apropriação e reconstrução da realidade, em dialético, é o caminho percorrido pelo grupo
fim, um caminho para constituição do para alcançar os objetivos propostos. É a
saber/fazer na área da saúde e também em operatividade do grupo, “revelada pelos saltos
pesquisa (6,7). qualitativos do coletivo, pelas apropriações de
Partimos do determinante de que saberes e pelo nível de aprendizagem dos
trabalhar com grupos (seja na assistência, integrantes, bem como os instrumentos
ensino ou pesquisa) requer fundamentação mobilizados no processo de aprender a
(10)
técnico-teórica. É esta base que indicará o realidade” .
caminho para o coordenador de grupos O que conduz a tarefa é o contrato
constituir o próprio grupo, os meios para sua grupal, chamado de ‘objetivo contrato’, quando
leitura e, sobretudo, auxiliará no estabelecemos o funcionamento do grupo,
enfrentamento do contexto e âmbito da definindo em conjunto seu(s) objetivo(s), o
(8)
dinâmica grupal . porquê, para quê e como será sua existência.
Considerando este fator determinante, Assim, o GO se estrutura numa técnica
propusemos a elaboração deste artigo, cujo centrada na tarefa, com o objetivo de elaborar
objetivo é discutir a utilização do GO como um esquema conceitual, referencial e operativo
método de coleta em pesquisa qualitativa e as - ECRO comum, em favorecimento à
implicações para o pesquisador quanto ao comunicação e interação, emissor-receptor. Por
desempenho dos papéis de coordenador e/ou meio do ECRO, há a apreensão da realidade
(11)
observador. Em princípio, apresentaremos uma que se propõe estudar .
breve contextualização dos pressupostos Tal realidade é desvelada a partir da
teóricos do GO, na seqüência tratamos da inserção de cada sujeito no grupo e, em dois
caracterização do papel do coordenador nesta níveis articulares: um relacionado à inserção
perspectiva, além de aspectos fundamentais na da pessoa, verticalidade referente à vida
sua condução. pessoal de cada membro, e outro que é a
horizontalidade, a história grupal,
OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS QUE compartilhada entre os integrantes, que surge
SUBSIDIAM O GO com base na existência do grupo até o
O GO é constituído de pessoas reunidas momento presente. Estes níveis representam
com um objetivo comum, o grupo centrado na as histórias do indivíduo e do grupo que se
tarefa mobilizado a aprender a pensar em fundem, conjugando o papel a ser
(12)
termos de resolução das dificuldades criadas e desempenhado .
(9)
manifestadas no campo grupal , isto é, para Neste contexto dá-se o interjogo de
que pessoas que compartilham um mesmo assunção e adjudicação de papéis que são

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funcionais, rotativos e complementares. São x Afiliação e pertença: afiliação ou


quatro os papéis desempenhados pelos sujeitos identificação representa o primeiro
no contexto do GO, o porta-voz que é o momento da história do grupo, em
depositário da ansiedade grupal, conjuga a que a pessoa guarda uma distância
verticalidade e a horizontalidade, isto é, fala de até se integrar ao grupo. Ao
sua vida pessoal articulando-a com o processo acontecer uma maior integração, a
atual que acontece no aqui e agora do grupo afiliação torna-se pertença,
em relação à tarefa. Assim, emerge um contribuindo para um mútuo
conteúdo a ser interpretado pelo coordenador e reconhecimento resultando na
integrantes, pois indica a operatividade do melhoria de vínculos,
grupo. O segundo é o bode expiatório que é o conseqüentemente, aumentando o
depositário de aspectos negativos e compromisso e a oportunidade
(9,10)
atemorizantes do próprio grupo ou da grupal .
mobilização em direção à tarefa. É visto como x Cooperação representa a articulação
aquele que impede a realização da tarefa, das necessidades grupais e
representando os mecanismos de segregação e individuais, tendo como base os
uma ameaça à integração e comunicação do papéis diferenciados que, em prol da
(9)
grupo . operatividade do grupo, devem ser
O líder é o terceiro papel e depositário de assumidos por diferentes pessoas,
aspectos positivos do grupo, que por indicando um caráter flexível e
intermédio dos fenômenos grupais (no interdisciplinar. Neste momento, é
acontecer grupal) obtém a liderança dos que se encontram a confrontação da
demais. Há um destaque, para a íntima relação verticalidade e horizontalidade no
entre os papéis de bode expiatório e líder, no grupo, discriminando distinções e
(9,10)
qual o surgimento do primeiro favorece a elucidando diferenças .
liderança, por meio de um processo x Pertinência refere-se ao grau de
dissociativo. O último papel é o de sabotador, ‘centramento’ do grupo na tarefa e,
que representa a liderança de resistência à o quanto é capaz de esclarecer a
mudança. Em alguns casos, o próprio grupo mesma, de forma criativa e
(9,10)
pode estereotipar este papel quando não produtiva .
desvanece o conteúdo emergente traduzido x Comunicação aqui abrange qualquer
pelo porta-voz, considera-o fora de contexto e tipo de comunicação, com seus
(9)
o visualiza como um sabotador . elementos essenciais (emissor,
A técnica de GO também conta com seis receptor, mensagens, codificação e
pontos de referência para interpretação do decodificação). Indicador que avalia:
acontecer no campo grupal, chamados de os papéis e as características
vetores. São dispositivos qualitativos que nos comunicacionais,
permitem analisar a relação entre conteúdos metacomunicacionais (o conteúdo
explícitos e implícitos do grupo, que são: veiculado da mensagem, o como ela

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se realiza e quem o faz) e os ruídos; O PESQUISADOR NA ASSUNÇÃO DO PAPEL


assim como, a elaboração das DE COORDENADOR E/OU OBSERVADOR
contradições e seus pares que Nas produções científicas em
representam possíveis obstáculos à enfermagem, são vários os pesquisadores que
elaboração de vínculos e de utilizam atividades e técnicas grupais no intuito
(9,10)
conhecimento . de coletar dados de pesquisa, representando
x Aprendizagem é a mudança uma significativa exploração deste método na
qualitativa do grupo, reflete o grau pesquisa profissional(13). Muitos destes
de plasticidade diante dos referem-se à técnica de grupo focal, aplicada
obstáculos, da resolução de na obtenção de dados qualitativos, mobilizando
ansiedade, adaptação ativa à discussão sobre um tema em particular,
realidade, criatividade, possibilidade envolvendo sentimentos, emoções, opiniões e
de integração, superação de as relações dos atores envolvidos no processo.
contradições. Assim, o grupo é Os dados são coletados baseados na discussão
capaz de elucidar seu próprio mobilizada. A dinâmica de um debate refere-se
processo, em um espiral, acessando a “uma troca de ponto de vista, idéias e
(14)
seu desenvolvimento, transformando experiências” .
dialeticamente quantidade em Ao optar pela técnica de grupo para
(9,10)
qualidade . obtenção de dados empíricos, o pesquisador
x Tele é um conteúdo implícito, além de exercer a função de estudioso do
representando os aspectos latentes fenômeno em questão, também congrega o
da história dos sujeitos e do grupo. fazer de coordenador do grupo.
Significa distância e, como as Assim, a responsabilidade do
pessoas ampliam ou diminuem as pesquisador/coordenador de grupo se amplia.
distâncias entre elas. Traduz-se Como pesquisador é predicado a escolha de
como transferência positiva ou referenciais teórico-metodológicos, respeito
negativa que se dá entre os ético-científico, elaboração do
membros do grupo e com o projeto/planejamento, operacionalização e
coordenador, em situação que o divulgação do estudo. Como coordenador de
grupo encontra-se ante a mudança, grupo, é preciso compartilhar recursos
despertando atitudes, que podem inerentes à condição de coordenar grupos
estereotipar ou mobilizar o como em qualquer outra circunstância, como
‘centramento’ da tarefa. Momento na capacitação de pessoal, na assistência ou no
(5)
sensível que atinge as ansiedades ensino .
básicas (descrita a seguir), Para coordenação de grupos é preciso
necessitando de habilidade do discernimento quanto ao processo grupal, seu
(9, 10)
coordenador em interpretá-los, . funcionamento, dinâmica e, sobretudo, que
suas ações/intervenções sejam subsidiadas por
pressupostos teóricos, que sustentarão tanto o

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planejamento, elaboração das intervenções, tornar explicíto o implícito, por meio das
compreensão dos movimentos grupais e relações grupais.
(8)
avaliação da metodologia . O coordenador cumpre seu papel ao
Quanto aos pressupostos teóricos da ajudar os membros a refletirem, abordando o
técnica de GO, o pesquisador tem a sua obstáculo epistemiológico representado pelas
escolha de um dos dois papéis: coordenador ou ansiedades básicas. “Opera no campo das
observador do grupo. Estes papéis têm função dificuldades da tarefa e da rede de
assimétrica em relação aos demais elementos comunicações. Seu instrumento é a assimilação
que compõem o grupo, e interligam-se na das situações manifestas e a interpretação da
análise do trabalho grupal. O “coordenador do casualidade subjacente” (9).
grupo deve procurar facilitar o diálogo e Cabe neste momento, esclarecer as
estabelecer a comunicação, incluindo-se aqui o ansiedades básicas ou medos básicos: “medo
respeito aos silêncios produtivos, criadores, ou da perda (ansiedade depressiva) das estruturas
que significam um certo insight e existentes e o medo do ataque (ansiedade
elaboração”(15), além de se atentar aos ajustes paranóide) da nova situação, provindo esta
plásticos de fins e objetivos aos meios última de novas estruturas nas quais o sujeito
disponíveis, auxiliando o grupo a desviar-se se sente inseguro por carência de
(9)
dos confrontos estereótipos. instrumentação” . Estas duas ansiedades
Coordenar GO tem vários configuram a resistência à mudança e, elaborá-
desdobramentos e, todos se relacionam à la constitui-se a tarefa do GO.
identificação das dificuldades do grupo em No contexto grupal, o coordenador
participar da tarefa. É essencial para transita entre os conteúdos explícitos e
operatividade do grupo que o coordenador implícitos. Busca desvendar as resistências às
centre sua tarefa nas pessoas que integram o mudanças ao explorar o não dito (não dito,
grupo; ter o cuidado em não centralizar a mas presente nas entrelinhas das
comunicação do grupo em si; não fazer uso do comunicações) a partir do foi dito, isto é, parte
discurso crítico e coercivo em suas de uma realidade apresentada, que aos poucos
intervenções; estar atento aos papéis que a ele revela conteúdos mais profundos dos sujeitos,
são projetados, não se permitindo assumi-los. por meio dos gestos, expressões, olhares e
Atribui-se a este fazer três qualidades, situações compartilhadas (16).
interligadas e de igual valor: arte, ciência e Em síntese, cabe ao coordenador de GO,
(15)
paciência . habilidades específicas, como operar os núcleos
Atentar-se para o jogo de assunção e de resistências diante do novo, desvendar as
adjudicação de papéis no grupo, favorece a mensagens emitidas no campo grupal e,
leitura do mesmo, indicando, por exemplo, o essencialmente explorar os medos básicos de
processo de comunicação e a pertinência à perda e ataque, permitindo elaborar as
tarefa que o grupo assume e apresenta. contradições da realidade, promovendo
Também possibilita desvelar os movimentos de atitudes de mudança. Esta condição tem íntima
relação com a interação ou não das pessoas

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(16)
em direção à tarefa , para tanto, de Além de todo este conhecimento
fundamental importância para o epistemológico, que atribui ao
pesquisador/coordenador avaliar sua pesquisador/coordenador de GO condição
metodologia. necessária para compreensão do acontecer
Assim, há uma riqueza de dados grupal e de conduzir a leitura da operatividade
disponibilizados numa pesquisa quando se do grupo, existem outros cuidados que lhe são
aplica o GO, por não se restringir a uma próprios, como o de estabelecer um objetivo
técnica que registra o discurso do sujeito, mas, contrato, juntamente com os integrantes do
preocupa-se com as várias formas de GO (que também são os sujeitos da pesquisa),
comunicação e expressão ocorridas no campo com habilidade suficiente para integrar e
grupal. Para tanto é necessário a atuação de sincronizar a tarefa grupal com os objetivos da
um outro papel, o de observador para pesquisa. Condição singular para fidedignidade
assegurar o registro das informações não- dos dados e realização da pesquisa.
(16, 17)
verbais , pois, as falas dos participantes Escolher e preparar um ambiente
podem ser gravadas em áudio, já o não dito, tranqüilo, sem ruídos que interfiram nas
requer um registro especial, vista que, pode gravações, que garanta privacidade e a mínima
causar constrangimento quando captado por interrupção, iluminação, ventilação e mobília
(18)
meio de gravação audiovisual, interferindo que proporcionem conforto .
drasticamente na dinâmica grupal. São considerações que interferem na
O papel de observador interage com o qualidade dos dados em pesquisa, o ambiente
coordenador, também assimétrico quanto aos e disposição das pessoas devem facilitar a
elementos do grupo, pela função diferenciada interação e o contato face a face,
e, especificamente numa pesquisa, pode ser preferencialmente em círculo, que também
assumido pelo pesquisador ou por um permitirá melhor anglo para o observador e
pesquisador colaborador. É um fazer variáveis pontos para os gravadores. Quanto
privilegiado para a operacionalização e ao número ideal de pessoas para a
processo de análise de uma pesquisa, vista operatividade de um grupo, diversos autores
que, exerce a função de “recolher todo o convergem na indicação de 8 a 12 pessoas; um
material, expresso verbal e pré-verbalmente número inferior poderia não oferecer o
no grupo, com o objetivo de realimentar o dinamismo necessário às interações e trocas
coordenador, num reajuste das técnicas de uns com os outros; um número superior
(9)
condução” . Mantendo-se numa distância poderia tornar a comunicação inviável e
adequada e registrando a ‘história do grupo’, o contribuir para formação de grupos paralelos
observador percebe o acontecer grupal, passa ou subgrupos (ruídos na comunicação).
a compreender as normas que o próprio grupo
desenvolve e sua dinâmica, analisando as O REGISTRO E ANÁLISE DO ACONTECER
reuniões em três categorias: abertura, GRUPAL
desenvolvimento e encerramento. Apresentadas os pressupostos teóricos da
técnica de GO e as implicações dos papéis de

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(16)
coordenar e observar GO para o pesquisador, constituição das crônicas das reuniões :.
prosseguimos com as orientações para a

Roteiro para elaboração de crônicas com base no relato descritivo de uma reunião(16):
a - CONSIDERAÇÕES QUANTO AO:
Relato
x O que ocorreu antes de ser dado o enquadre para o início da reunião;
x Como contaria a história do grupo (uma síntese);
Grupo
x Como o tema disparador da reunião foi trabalhado pelo grupo;
x Quais os conteúdos mais relevantes da reunião;
Observador
x Temas que não compreendeu;
x Participantes que incomodaram. Analise o motivo desse incômodo;
x Reações do grupo ao observador. Perceba os efeitos disso no desempenho do papel de observador.
b - ANÁLISE DA REUNIÃO
Abertura
x Tema de maior ressonância grupal. Como foi vivido pelos participantes;
x Como foi vivido pelo Coordenador;
x O clima da reunião. Havia ou não predisposição para o trabalho previsto.
Desenvolvimento
x Temas que surgiram, indicando pares contraditórios, ansiedades, alianças em subgrupos (entre
integrantes, do grupo e em relação ao coordenador);
x Momentos vividos no grupo que indiquem a presença de confusão, dilemas, insights, problematizações;
x Papéis funcionais (voltados à tarefa-objetivos) e disfuncionais (sabotamento ou impostura). Se há
presença de bodes expiatórios, enfocar conteúdo da resistência e o movimento do grupo para evitá-la;
Vetores presentes na reunião.
Encerramento
x Clima e conteúdo do encerramento da reunião;
x Encerramento proposto pelo Coordenador;
x Encerramento do coordenador pelo tempo esgotado.

Outro dispositivo que também pode ser da metacomunicação (conteúdo veiculado da


aplicado é a elaboração simultânea de uma mensagem, de como ela se realiza e quem o
síntese, seguindo o protocolo: identificação dos faz); das alianças e pactos; dos papéis
vetores predominantes; o registro da emergentes (porta-voz, sabotador, líder e bode
contradição central que operou no GO; dos expiatório); das descobertas e inovações, dos
(16)
medos explícitos e latentes; das ansiedades saltos de qualidade na produção coletiva .
eminentes; dos temas emergentes; dos A elaboração da crônica e síntese, após
referencias pessoais, institucionais e cada GO, além de efetivar o registro da
contextuais; do(s) principal(ais) obstáculo(s); reunião, que pode configurar num diário de

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campo para a pesquisa, também avança na Consideramos que ao aplicar a técnica


análise da mesma, principalmente, quando GO, o pesquisador/coordenador tem o
pode contar com uma construção conjunta privilégio de não só coletar e registrar dados
entre observador e coordenador. Dito em comunicados oralmente (como ocorre numa
outras palavras, ao se analisar a reunião e, entrevista), mas, existe a possibilidade de
sobretudo, quando referenciamos os vetores contar com o observador, que tem papel
(pertença, cooperação, pertinência, imprescindível para a captação da comunicação
comunicação, aprendizagem e tele) para a não-verbal, das impressões, emoções, além de
interpretação do acontecer grupal, já contribuir na discussão e compreensão dos
principiamos o tratamento dos dados de forma movimentos grupais. É uma atitude de
sistematizada, possibilitando uma conexão dos complementação da coordenação do GO.
dados à formulação de alternativas para Destacamos, ainda, que pelas leituras
futuras categorias empíricas. freqüentes das reuniões de GO, o
Em nossas pesquisas, para identificação pesquisador/coordenador tem condições de
de categorias empíricas, utilizamos como acompanhar a pertinência à tarefa, o interjogo
método de análise de dados, tanto para o de papéis, as situações defensivas, as
discurso gravado, quanto para o diário de ansiedades mobilizadas diante dos temas
(6)
campo (crônica e síntese) a análise temática trabalhados. Condição própria que permite
(7)
ou a análise do discurso . avaliação continua da metodologia aplicada,
assim, no decorrer da pesquisa, vão emergindo
CONSIDERAÇÕES FINAIS conteúdos que podem, antes do termino da
As bases teóricas que fundamentam a coleta de dados, sinalizar alguns resultados.
técnica de GO possibilitam múltiplas ações na Acreditamos, então, que há possibilidade de
saúde, ensino, trabalho e especialmente, na flexibilidade e re-planejamento da pesquisa,
pesquisa. Como tecnologia em pesquisa sem negar os referenciais teórico-
qualitativa, o GO norteia o planejamento, metodológicos propostos.
operacionalização e a análise do grupo. É uma Por último é relevante comentar sobre o
técnica desenvolvida a partir de uma teoria que falso pressuposto de que a formação do
explicita sua forma de pensar no sujeito, na enfermeiro nas instituições de ensino e de
sua relação com o objeto, tendo como base as saúde privilegie o trabalho em grupo como
relações e vínculos que as pessoas manifestam espaço de mudança. O embasamento teórico
no grupo, num caráter dinâmico e sobre grupos, por muitas vezes, é
interdisciplinar. negligenciado no processo ensino-
A técnica disponibiliza ao aprendizagem e na educação permanente. É
pesquisador/coordenador recursos que necessário que o enfermeiro busque a
modelam a sua intervenção em grupo, construção deste saber. Em específico,
permitindo um posicionamento mais assertivo coordenar GO compreende o desenvolvimento
na condução das reuniões e da própria de saberes e fazeres pautados no referencial
pesquisa. teórico-metodológico pichoniano, requer

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formação apropriada e, quando associado à 9. Pichon-Rivière H. O processo grupal. Trad.


de Marco Aurélio Fernandes Velosso. 2ª ed.
experiência de gerenciar grupos, abre espaço
São Paulo: Martins Fontes; 1986.
de múltiplas possibilidades na profissão. 10. Gayotto MLC, Domingues I. Liderança:
aprenda a mudar em grupo. 3ª.ed. Petrópolis:
Vozes; 1998.
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qualitativas: a vivência da mulher no período
(organizador). Grupoterapia hoje. Porto
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