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Disponível em http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n3/v9n3a18.htm
__________________________________________________________ ARTIGO ORIGINAL
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Lucchese R, Barros S. A utilização do grupo operativo como método de coleta de dados em pesquisa qualitativa. Revista
Eletrônica de Enfermagem [serial on line] 2007 Set-Dez; 9(3): 796-805. Available from: URL:
http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n3/v9n3a18.htm
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como uma técnica que vai além da coleta de espaço constituam um grupo, é necessário
dados, vista que, proporciona trocas vivenciais vinculação e interação, no sentido de um
entre os sujeitos pesquisados, possibilitando a objetivo comum.
revisitação e reflexão do cotidiano, E o que devemos entender por tarefa?
exteriorização de sentimentos latentes, Tarefa é um conceito pichoniano dinâmico e
apropriação e reconstrução da realidade, em dialético, é o caminho percorrido pelo grupo
fim, um caminho para constituição do para alcançar os objetivos propostos. É a
saber/fazer na área da saúde e também em operatividade do grupo, “revelada pelos saltos
pesquisa (6,7). qualitativos do coletivo, pelas apropriações de
Partimos do determinante de que saberes e pelo nível de aprendizagem dos
trabalhar com grupos (seja na assistência, integrantes, bem como os instrumentos
ensino ou pesquisa) requer fundamentação mobilizados no processo de aprender a
(10)
técnico-teórica. É esta base que indicará o realidade” .
caminho para o coordenador de grupos O que conduz a tarefa é o contrato
constituir o próprio grupo, os meios para sua grupal, chamado de ‘objetivo contrato’, quando
leitura e, sobretudo, auxiliará no estabelecemos o funcionamento do grupo,
enfrentamento do contexto e âmbito da definindo em conjunto seu(s) objetivo(s), o
(8)
dinâmica grupal . porquê, para quê e como será sua existência.
Considerando este fator determinante, Assim, o GO se estrutura numa técnica
propusemos a elaboração deste artigo, cujo centrada na tarefa, com o objetivo de elaborar
objetivo é discutir a utilização do GO como um esquema conceitual, referencial e operativo
método de coleta em pesquisa qualitativa e as - ECRO comum, em favorecimento à
implicações para o pesquisador quanto ao comunicação e interação, emissor-receptor. Por
desempenho dos papéis de coordenador e/ou meio do ECRO, há a apreensão da realidade
(11)
observador. Em princípio, apresentaremos uma que se propõe estudar .
breve contextualização dos pressupostos Tal realidade é desvelada a partir da
teóricos do GO, na seqüência tratamos da inserção de cada sujeito no grupo e, em dois
caracterização do papel do coordenador nesta níveis articulares: um relacionado à inserção
perspectiva, além de aspectos fundamentais na da pessoa, verticalidade referente à vida
sua condução. pessoal de cada membro, e outro que é a
horizontalidade, a história grupal,
OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS QUE compartilhada entre os integrantes, que surge
SUBSIDIAM O GO com base na existência do grupo até o
O GO é constituído de pessoas reunidas momento presente. Estes níveis representam
com um objetivo comum, o grupo centrado na as histórias do indivíduo e do grupo que se
tarefa mobilizado a aprender a pensar em fundem, conjugando o papel a ser
(12)
termos de resolução das dificuldades criadas e desempenhado .
(9)
manifestadas no campo grupal , isto é, para Neste contexto dá-se o interjogo de
que pessoas que compartilham um mesmo assunção e adjudicação de papéis que são
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planejamento, elaboração das intervenções, tornar explicíto o implícito, por meio das
compreensão dos movimentos grupais e relações grupais.
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avaliação da metodologia . O coordenador cumpre seu papel ao
Quanto aos pressupostos teóricos da ajudar os membros a refletirem, abordando o
técnica de GO, o pesquisador tem a sua obstáculo epistemiológico representado pelas
escolha de um dos dois papéis: coordenador ou ansiedades básicas. “Opera no campo das
observador do grupo. Estes papéis têm função dificuldades da tarefa e da rede de
assimétrica em relação aos demais elementos comunicações. Seu instrumento é a assimilação
que compõem o grupo, e interligam-se na das situações manifestas e a interpretação da
análise do trabalho grupal. O “coordenador do casualidade subjacente” (9).
grupo deve procurar facilitar o diálogo e Cabe neste momento, esclarecer as
estabelecer a comunicação, incluindo-se aqui o ansiedades básicas ou medos básicos: “medo
respeito aos silêncios produtivos, criadores, ou da perda (ansiedade depressiva) das estruturas
que significam um certo insight e existentes e o medo do ataque (ansiedade
elaboração”(15), além de se atentar aos ajustes paranóide) da nova situação, provindo esta
plásticos de fins e objetivos aos meios última de novas estruturas nas quais o sujeito
disponíveis, auxiliando o grupo a desviar-se se sente inseguro por carência de
(9)
dos confrontos estereótipos. instrumentação” . Estas duas ansiedades
Coordenar GO tem vários configuram a resistência à mudança e, elaborá-
desdobramentos e, todos se relacionam à la constitui-se a tarefa do GO.
identificação das dificuldades do grupo em No contexto grupal, o coordenador
participar da tarefa. É essencial para transita entre os conteúdos explícitos e
operatividade do grupo que o coordenador implícitos. Busca desvendar as resistências às
centre sua tarefa nas pessoas que integram o mudanças ao explorar o não dito (não dito,
grupo; ter o cuidado em não centralizar a mas presente nas entrelinhas das
comunicação do grupo em si; não fazer uso do comunicações) a partir do foi dito, isto é, parte
discurso crítico e coercivo em suas de uma realidade apresentada, que aos poucos
intervenções; estar atento aos papéis que a ele revela conteúdos mais profundos dos sujeitos,
são projetados, não se permitindo assumi-los. por meio dos gestos, expressões, olhares e
Atribui-se a este fazer três qualidades, situações compartilhadas (16).
interligadas e de igual valor: arte, ciência e Em síntese, cabe ao coordenador de GO,
(15)
paciência . habilidades específicas, como operar os núcleos
Atentar-se para o jogo de assunção e de resistências diante do novo, desvendar as
adjudicação de papéis no grupo, favorece a mensagens emitidas no campo grupal e,
leitura do mesmo, indicando, por exemplo, o essencialmente explorar os medos básicos de
processo de comunicação e a pertinência à perda e ataque, permitindo elaborar as
tarefa que o grupo assume e apresenta. contradições da realidade, promovendo
Também possibilita desvelar os movimentos de atitudes de mudança. Esta condição tem íntima
relação com a interação ou não das pessoas
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em direção à tarefa , para tanto, de Além de todo este conhecimento
fundamental importância para o epistemológico, que atribui ao
pesquisador/coordenador avaliar sua pesquisador/coordenador de GO condição
metodologia. necessária para compreensão do acontecer
Assim, há uma riqueza de dados grupal e de conduzir a leitura da operatividade
disponibilizados numa pesquisa quando se do grupo, existem outros cuidados que lhe são
aplica o GO, por não se restringir a uma próprios, como o de estabelecer um objetivo
técnica que registra o discurso do sujeito, mas, contrato, juntamente com os integrantes do
preocupa-se com as várias formas de GO (que também são os sujeitos da pesquisa),
comunicação e expressão ocorridas no campo com habilidade suficiente para integrar e
grupal. Para tanto é necessário a atuação de sincronizar a tarefa grupal com os objetivos da
um outro papel, o de observador para pesquisa. Condição singular para fidedignidade
assegurar o registro das informações não- dos dados e realização da pesquisa.
(16, 17)
verbais , pois, as falas dos participantes Escolher e preparar um ambiente
podem ser gravadas em áudio, já o não dito, tranqüilo, sem ruídos que interfiram nas
requer um registro especial, vista que, pode gravações, que garanta privacidade e a mínima
causar constrangimento quando captado por interrupção, iluminação, ventilação e mobília
(18)
meio de gravação audiovisual, interferindo que proporcionem conforto .
drasticamente na dinâmica grupal. São considerações que interferem na
O papel de observador interage com o qualidade dos dados em pesquisa, o ambiente
coordenador, também assimétrico quanto aos e disposição das pessoas devem facilitar a
elementos do grupo, pela função diferenciada interação e o contato face a face,
e, especificamente numa pesquisa, pode ser preferencialmente em círculo, que também
assumido pelo pesquisador ou por um permitirá melhor anglo para o observador e
pesquisador colaborador. É um fazer variáveis pontos para os gravadores. Quanto
privilegiado para a operacionalização e ao número ideal de pessoas para a
processo de análise de uma pesquisa, vista operatividade de um grupo, diversos autores
que, exerce a função de “recolher todo o convergem na indicação de 8 a 12 pessoas; um
material, expresso verbal e pré-verbalmente número inferior poderia não oferecer o
no grupo, com o objetivo de realimentar o dinamismo necessário às interações e trocas
coordenador, num reajuste das técnicas de uns com os outros; um número superior
(9)
condução” . Mantendo-se numa distância poderia tornar a comunicação inviável e
adequada e registrando a ‘história do grupo’, o contribuir para formação de grupos paralelos
observador percebe o acontecer grupal, passa ou subgrupos (ruídos na comunicação).
a compreender as normas que o próprio grupo
desenvolve e sua dinâmica, analisando as O REGISTRO E ANÁLISE DO ACONTECER
reuniões em três categorias: abertura, GRUPAL
desenvolvimento e encerramento. Apresentadas os pressupostos teóricos da
técnica de GO e as implicações dos papéis de
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coordenar e observar GO para o pesquisador, constituição das crônicas das reuniões :.
prosseguimos com as orientações para a
Roteiro para elaboração de crônicas com base no relato descritivo de uma reunião(16):
a - CONSIDERAÇÕES QUANTO AO:
Relato
x O que ocorreu antes de ser dado o enquadre para o início da reunião;
x Como contaria a história do grupo (uma síntese);
Grupo
x Como o tema disparador da reunião foi trabalhado pelo grupo;
x Quais os conteúdos mais relevantes da reunião;
Observador
x Temas que não compreendeu;
x Participantes que incomodaram. Analise o motivo desse incômodo;
x Reações do grupo ao observador. Perceba os efeitos disso no desempenho do papel de observador.
b - ANÁLISE DA REUNIÃO
Abertura
x Tema de maior ressonância grupal. Como foi vivido pelos participantes;
x Como foi vivido pelo Coordenador;
x O clima da reunião. Havia ou não predisposição para o trabalho previsto.
Desenvolvimento
x Temas que surgiram, indicando pares contraditórios, ansiedades, alianças em subgrupos (entre
integrantes, do grupo e em relação ao coordenador);
x Momentos vividos no grupo que indiquem a presença de confusão, dilemas, insights, problematizações;
x Papéis funcionais (voltados à tarefa-objetivos) e disfuncionais (sabotamento ou impostura). Se há
presença de bodes expiatórios, enfocar conteúdo da resistência e o movimento do grupo para evitá-la;
Vetores presentes na reunião.
Encerramento
x Clima e conteúdo do encerramento da reunião;
x Encerramento proposto pelo Coordenador;
x Encerramento do coordenador pelo tempo esgotado.
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