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TEXTUALIDADE

AULA 1

Prof. Jeferson Ferro


CONVERSA INICIAL

Olá! Nesta aula, vamos abordar a noção de texto e pensar sobre as


formas em que essa unidade de linguagem existe no mundo: de onde vem e
como se organiza e se relaciona com a comunicação. Serão abordadas as
seguintes temáticas:

1. O texto e suas origens


2. Texto e contexto
3. Texto e informação
4. Texto e discurso publicitário
5. Estratégias de leitura

CONTEXTUALIZANDO

Afinal de contas, o que é um texto? Um conjunto de palavras, certo? Sim,


mas não apenas isso. De um ponto de vista mais abrangente, qualquer coisa
que seja vista como uma unidade de comunicação pode ser entendida como um
texto. Assim, uma imagem – fotografia, charge etc. –, uma fala, o verso de uma
canção, podemos pensar em todas essas coisas como textos, pois são produtos
de linguagem, de extensão definida, que comunicam.
Mas vamos aqui adotar uma noção mais delimitada. Para nós, um texto
será um conjunto de palavras que constitui uma unidade linguística de extensão
delimitada e que comunica alguma coisa numa determinada língua. Além disso,
esse conjunto será composto por partes menores, como frases e sinais de
pontuação, e será gravado sobre alguma superfície visível.
Um texto pode ser composto por uma única frase? Pode. É o caso de
slogans publicitários, por exemplo. Uma fala – um discurso, uma oração etc. –
constitui um texto? Sim, justamente porque podemos transcrevê-la e colocá-la
no papel. Um texto pode ser infinito? Em tese, pode. Mas para efeitos de análise,
ele sempre terá um “ponto final”, ou seja, se o queremos ter na mão, ler e
analisar, sob a perspectiva do tempo presente, ele precisa ter um tamanho finito.
Essa última questão, na verdade, é bem complicada. Imagine que
considerássemos a Wikipédia como um texto, por exemplo. Seria possível dizer
onde ela começa e termina? Cremos que não, pois a todo momento novos
verbetes estão sendo escritos, e verbetes antigos estão sendo reescritos. Assim
a Wikipédia provavelmente seja um texto infinito. Mas deixaremos esses casos
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extremos de lado: para nós, um texto será um conjunto finito de elementos da
linguagem verbal, regido pela sintaxe (as regras gramaticais) da língua
portuguesa, e que está (ou pode estar, no caso de uma fala, por exemplo) escrito
sobre algum suporte material. Cabe um mundo inteiro de coisas interessantes
dentro desta definição, não é mesmo? Então, vamos conhecê-la.

TEMA 1 – O TEXTO E SUAS ORIGENS

Obviamente, falar sobre a origem do texto significa falar sobre a origem


da escrita, certo? Antes de surgir um texto foi preciso que as pessoas
aprendessem a escrever. E a escrita é, em sua origem, a transcrição da fala, a
sua expressão visual. Ela realiza a organização de símbolos gráficos que
representam símbolos sonoros, e que, submetidos a um conjunto de regras,
expressam significados.
Aqui temos um primeiro ponto muito importante: a comunicação por meio
da fala e dos gestos é natural ao ser humano, ou seja, nascemos com essa
capacidade, que se desenvolve por meio da convivência com outros seres
humanos; já a escrita não. A escrita é uma tecnologia, uma invenção do ser
humano, e para dominá-la é necessário um processo de aprendizado que
envolve duas, e não apenas uma, habilidades: ler e escrever. Por isso, não é
todo ser humano que chega a desenvolver essas habilidades que, via de regra,
requerem um longo processo de ensino formal.
Mas como e por que nossos antepassados aprenderam a escrever?
A escrita é nosso primeiro computador, ou seja, ela foi criada como uma
forma de registrar dados, de contar as coisas – como o número de ovelhas que
o João deixou para tosquiar na última feira da primavera, por exemplo. Seu
desenvolvimento está diretamente ligado ao crescimento populacional das
primeiras comunidades humanas. Na medida em que as cidades foram
crescendo, tornou-se necessário desenvolver um sistema de contabilidade para
ajudar na administração da vida cotidiana.
Prova de que a escrita é uma consequência natural do crescimento
populacional é o fato de que ela se desenvolveu em três lugares, em momentos
distintos, de forma completamente independente.

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Confira:

Quadro 1 – Surgimento da escrita

Escrita 3.300 anos a.C. Mesopotâmia (Iraque) e


cuneiforme/hieróglifos Egito
Escrita chinesa 1.200 anos a.C. China
Glifos maias 200 anos a.C. Civilização Maia
(América Central)

Figura 1 – Exemplo de escrita cuneiforme, que nasceu no Oriente Médio

Crédito: Couperfield/Shutterstock.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o desenvolvimento da escrita seguiu


um caminho: da reprodução gráfica de imagens que representam coisas e
ideias para os símbolos abstratos que representam os sons da língua
(fonemas). Assim, o alfabeto é um ponto de chegada na evolução da escrita, e
levou séculos para que a humanidade chegasse até ele, partindo da escrita
cuneiforme até o alfabeto fenício, que gerou todos os demais alfabetos
modernos. Nosso alfabeto latino é um sistema de representação que comporta
26 símbolos fonéticos com os quais podemos fazer infinitas combinações,
criando todos os textos que habitam nossa língua – e mais algumas outras. Isso
não significa, todavia, que a escrita ideográfica tenha sido abandonada – o
chinês e o japonês usam ideogramas, apesar de também terem sistemas de
escrita fonética.
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Os primeiros “textos” de que se tem notícia foram escritos em tabuletas
de argila. Ao longo da história, escrevemos em paredes, pedras, ossos, madeira,
casco de tartarugas, peles de animais etc., praticamente em qualquer superfície
que aceitasse a escrita. Até que os chineses, por volta do século II a.C.,
inventaram o papel, e esse material foi se expandindo ao redor do globo como
uma superfície privilegiada para receber a palavra escrita. Outro grande
momento foi a invenção da prensa de tipos móveis, pelo alemão Gutemberg, por
volta de 1450. Essa nova tecnologia mudou radicalmente a disseminação do
conhecimento ao tornar a impressão de livros algo muito mais fácil e rápido do
que era anteriormente. Foi uma pandemia dos textos: livros e jornais passaram
a povoar as ruas das grandes cidades europeias e mudaram radicalmente a
história da humanidade.
A escrita continua sendo a principal tecnologia que temos para guardar e
disseminar informação de todo tipo. Mas não é só de informações contábeis que
se fez a história da escrita. Muito pelo contrário, pois desde sua origem ela foi
usada para contar histórias, para falar de nossos desejos, de nossos sonhos e
medos – pense nas longas narrativas inscritas nas paredes dos templos
egípcios, contando histórias da vida e do reino além da morte. E a publicidade,
que escreve até no ar, será que faz outra coisa que não falar de sonhos e
desejos, habilmente combinados com informações precisas sobre os produtos à
venda? Pois é, talvez ela represente o estágio final da evolução da escrita.

Saiba mais

Assista ao vídeo a seguir, que conta a história da escrita. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=Y4OI4wnU-Rg>. Acesso em: 22 mai.
2020.

TEMA 2 – TEXTO E CONTEXTO

Agora que já sabemos o que é um texto e, em linhas gerais, como a


humanidade chegou a ele, vamos pensar em como os textos se relacionam com
o mundo.
Um primeiro aspecto a se observar é que nós organizamos os textos em
gêneros: notícia, artigo de opinião, poema, anúncio, receita, email, tese,
relatório, conto etc. São diversos os formatos que a linguagem escrita pode
assumir e, combinando a forma (aspectos da estrutura do texto) com o conteúdo
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e a intenção, podemos definir algumas fronteiras razoavelmente claras sobre os
diferentes conjuntos nos quais os textos se classificam, os chamados gêneros
textuais.
Graças à existência desses gêneros, que funcionam como convenções
(formas que repetimos automaticamente), já sabemos de antemão o que esperar
de um texto – o que não impede que sejamos surpreendidos algumas vezes.
Outro aspecto a se observar é que um texto está sempre estabelecendo uma
relação com o mundo, que busca envolver seu leitor. Se escrevo um texto, é
porque quero me comunicar com alguém, e para isso dependo de algum
conhecimento compartilhado – algo que nós dois, autor e leitor, sabemos sobre
o “mundo” do qual eu vou falar. Isso fica muito claro no caso das manchetes de
jornal, observe:

Quadro 2 – Manchetes de jornais

1. Pipoco arrasta multidão na Barra (Correio da Bahia, 27/02/2019)


2. Escola não vai mais filmar alunos (Uol, 25/02/2019)
3. Com 21 hotéis fechados, Slaviero doa alimentos a pessoas vulneráveis
(Gazeta do Povo, 26/03/2020)

No jornalismo – assim como na publicidade – a primeira intenção do texto


é fisgar a atenção do leitor. Por isso os títulos das matérias devem ser breves
e, em alguma medida, impactantes. Isso significa que eles sempre dependem de
algum conhecimento compartilhado, ou seja, de um contexto familiar ao leitor
– o que implica, para o autor, pensar no que o leitor sabe. Reflita sobre as três
manchetes listadas acima: você é capaz de dizer qual é o assunto de cada um
dos textos? Se sim, é porque você conhece o “contexto” da notícia, ou seja,
compartilha do conhecimento de mundo necessário ao entendimento da
manchete – e, por extensão, do texto. Vamos lá: 1. “Pipoco” é o nome de um
bloco de carnaval de Salvador, e “Barra” é um bairro da cidade; 2. Um debate
acalorado tomou conta da política brasileira no início de 2019 e alguns deputados
queriam permitir que alunos filmassem seus professores para denunciá-los por
propaganda ideológica; 3. A pandemia de coronavírus fechou o comércio em
março de 2020 em quase todo o Brasil, Slaviero é uma rede de hotéis da cidade
de Curitiba.

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Sem saber dessas coisas, sem conhecer esse “contexto”, seria difícil
entender as manchetes, não é? Outro aspecto importante dessa relação do texto
com o mundo tem a ver com a forma como nos comunicamos, com o tipo de
vocabulário, com as estruturas – se são mais formais ou diretas, por exemplo.
Tudo isso diz muita coisa sobre a sociedade em que o texto foi escrito. Quer ver?
Observe os dois trechos reproduzidos abaixo:

Relatório do Sr. Trajano Reis, diretor do Serviço Sanitário do Paraná


(1918)
Em Paranaguá, n’aquella epocha, ia effectuar-se o casamento de uma
filha do syrio Barbosa. Do Rio de Janeiro vieram assistir ás bodas
alguns syrios, que estavam com o mal incubado. De Antonina e
Morretes seguiram para aquella cidade, com o mesmo fim dos do Rio,
alguns patricios do Sr. Barbosa. Folgaram juntos e cada um dos
residentes em Antonina e Morretes trouxe consigo o gérmen do mal,
que se disseminou com rapidez entre as populações das referidas
cidades. Em Paranaguá, por sua vez, os hospedes fluminenses não só
padeceram da molestia, como também a transmitiram aos patricios e á
população. (Xavier, 1998)

Coronavírus: número de passageiros cai até 50% nos transportes do


Rio
Os principais meios de transporte da região metropolitana do Rio de
Janeiro registraram hoje (17) queda de até 50% no número de
passageiros, depois que o Poder Público recomendou isolamento
social como forma de prevenção ao coronavírus.
Em um balanço parcial, o consórcio Rio Ônibus, que reúne as
empresas que atendem ao município do Rio, informou que a redução
no movimento de passageiros na manhã de hoje pode ter sido de mais
de 50% em relação à demanda normal. Até ontem (16), quando o
governo de estado anunciou situação de emergência, a queda estava
estimada na faixa de 20% a 30%. (Lisboa, 2020)

Ambos os textos tratam do mesmo tema: a epidemia de gripe. Além disso,


podemos também afirmar que ambos se caracterizam pelo caráter informativo,
ou seja, têm como intenção primordial trazer alguma nova informação ao leitor.
No caso da notícia sobre a frota de ônibus no Rio de Janeiro, destacam-se os
dados e as datas – nada mais objetivo. Por outro lado, percebemos que os textos
pertencem a gêneros distintos: enquanto o primeiro é um relatório de um
funcionário público, dirigido a seus superiores, e que emprega a narrativa, o
segundo é uma notícia publicada em um portal, dirigida ao público geral.
Com um século de distância entre eles, é possível perceber como a língua
portuguesa mudou, e como as escolhas vocabulares podem nos dizer algo sobre
a sociedade de seu tempo. Quais palavras chamaram sua atenção no primeiro
texto? As que possuem uma grafia muito diferente da que usamos hoje, como
epocha, effectuar-se, aquella? Ou então aquelas que nos soam grosseiras e
ofensivas, com a palavra syrios para se referir a pessoas de uma determinada

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origem étnica, ou ainda mal incubado e gérmen do mal para se referir à doença?
Certamente, hoje em dia tais usos da língua seriam inaceitáveis. Mas será que
“n’aquella epocha” elas causavam desconforto a alguém? Será que a epidemia
de gripe espanhola, que acometeu a cidade de Curitiba cem anos atrás, veio
junto do preconceito e da violência contra certos grupos de imigrantes? Todas
essas questões se referem a aspectos da construção do texto que se relacionam
com o mundo, ou seja, com a sociedade sobre a qual ele fala, de onde ele saiu
e para quem ele se dirige. E tudo isso é parte do contexto que influencia na
produção de sentido do texto.

TEMA 3 – TEXTO E INFORMAÇÃO

Todo texto transmite informações, certo? Na verdade, depende do que


consideramos informação. No mundo da informática, por exemplo, isso é bem
simples de entender, pois só existem duas opções: 0 ou 1 (bits). Essas são as
duas únicas informações que circulam pelos circuitos eletrônicos de nossos
computadores. 0 significa não para o fluxo de energia, 1 significa sim. Com essas
duas informações é possível representar textos, imagens, filmes e tudo o mais
que circula pela internet. Esses zeros e uns se agrupam em sequências de oito
dígitos, que formam os bytes, por isso dizemos que uma selfie tem, por exemplo,
1.2 megabytes, ou seja, um milhão e duzentas mil sequências de oito dígitos
(zeros e uns). Os softwares que rodam em nossos celulares e computadores são
responsáveis por traduzir essas sequências numéricas em uma imagem que
nosso olho reconhece como “aquela foto que eu bati”.

Quadro 3 – Exemplo de byte

Byte 0 0 1 0 1 1 1 0

Mas, no caso dos textos, como funciona? Podemos supor que as palavras
são as unidades mínimas, que se juntam e formam frases, e depois parágrafos,
e depois textos. Mas toda palavra dentro de uma frase transmite alguma
informação? Não exatamente. Há palavras cuja função é mais “organizar” o
sentido da frase do que transmitir alguma informação, caso das preposições,
conjunções e artigos, por exemplo. Pense: que informação a palavra “de”
transmite? É algo muito abstrato, não é? Isso nos leva a uma distinção
fundamental da língua: sintaxe e semântica. Grosso modo, podemos dizer que

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a sintaxe é o conjunto de regras que determinam as relações entre as palavras
dentro das frases para que elas façam sentido. Assim, a frase abaixo não faz
sentido, certo?

queda número de janeiro 50% principais no passageiros de de de meios rio


metropolitana até do região hoje registraram os transporte

Não faz sentido porque suas palavras estão completamente


desordenadas dentro da frase, por isso é impossível entender qualquer
informação que elas poderiam comunicar. Mas quando organizamos as
palavras:

Os principais meios de transporte da região metropolitana do Rio de Janeiro


registraram hoje queda de até 50% no número de passageiros.

Aí a coisa funciona, não é mesmo? Dentro da sintaxe correta, é possível


compreender o sentido das palavras, que é o campo da semântica. Assim, de
uma forma bastante genérica, podemos dizer que a sintaxe é a gramática da
língua e que a semântica é o significado das palavras (aquilo que está no
dicionário). Para que um texto faça sentido, é preciso articular as duas coisas.
Também é possível pensar numa frase que demonstre a relação inversa, ou seja,
uma frase em que a sintaxe funciona, mas a semântica não. O linguista Noam
Chomsky criou esse exemplo, na década de 1950, para demonstrar a diferença
entre sintaxe e semântica:

Incolores ideias verdes dormem furiosamente.

Esta frase está gramaticalmente correta, não é? Sua sintaxe está


perfeita. Mas qual é seu significado? A semântica aqui parece “bugada”, certo?
Alguém poderia dizer: “mas a palavra verde está sendo usada de forma
metafórica, pode se referir à ecologia, e a palavra ‘incolor’ pode se referir a um
posicionamento político etc.” Sim, com muita criatividade, é possível conceber
um sentido para esta frase, mas isto nos levaria a uma série de informações que
estão fora do texto, ou seja, no contexto. Daí concluímos que o sentido de um
texto depende: do significado das palavras (semântica), da sua organização nas
frases (sintaxe) e do conhecimento de mundo envolvido no ato de produção e
recepção deste texto (contexto). Estes três aspectos são indissociáveis para a
produção de sentido e a transmissão de informações por meio dos textos.
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Mas é preciso também lembrar que a linguagem não serve apenas para
transmitir informações. Você se lembra das “funções da linguagem” do
Jakobson? Este linguista, inspirado num modelo matemático elaborado para
descrever o processo de comunicação dentro do computador, percebeu que a
linguagem humana serve para muitas coisas além de transmitir informações, e
concebeu seis funções distintas: emotiva, referencial, poética, fática,
metalinguística e conativa. Traduzindo esses termos, a linguagem serve para:
expressar a emoção do falante, dar alguma informação sobre o mundo, chamar
nossa atenção para a mensagem, estabelecer contato com o interlocutor,
esclarecer dúvidas do processo comunicativo, agir sobre o interlocutor. Na vida
real, raramente um texto fará apenas uma dessas coisas, e a informação que ele
transmite frequentemente virá acompanhada de alguma outra intenção
comunicativa, como a de convencê-lo a interpretá-la de uma determinada
maneira. Vejamos um exemplo:

1.Ana foi à festa.


2.Eu não acredito que Ana foi à festa.
3.Sabia que a Ana foi à festa?

A frase 1 simplesmente transmite uma informação, portanto cumpre a


função referencial da linguagem – dizer algo sobre o mundo, neste caso, que
existe uma “Ana”, que está acontecendo uma festa, e que esta Ana foi a esta
festa. Na frase 2, além da informação, acrescenta-se uma expressão de emoção
do falante: o “não acredito” não é uma afirmação literal, mas antes uma
demonstração de revolta em relação ao fato, exercendo, portanto, a função
emotiva da linguagem. Na frase 3, percebe-se o tom de provocação, certo?
Podemos imaginar que o falante sabe que o interlocutor está interessado na Ana,
e por isso, ao dizer a frase, age sobre ele, fazendo-o sentir ciúmes, ou ainda
induzindo-o a ir à festa – função conativa da linguagem.
Assim, fica claro que textos transmitem informações, mas fazem muito
mais do que isso. E também é preciso notar que as informações, muitas vezes,
são apresentadas de tal forma a provocar alguma mudança de atitude no
interlocutor. Isso é essencial na publicidade, que usa a linguagem para
convencer as pessoas a comprar produtos, serviços e ideias.

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Leitura obrigatória
Em sua biblioteca virtual, acesse o livro Comunicação e Expressão (León
et al.). Leia o Capítulo 2. Níveis e Funções da Linguagem, p. 25.

TEMA 4 – TEXTO E DISCURSO PUBLICITÁRIO

No que você pensa quando vê ou ouve a palavra discurso? Em um


político em cima de um palanque? Na sua mãe, muito brava por algo que você
fez? No dia da sua cerimônia de formatura?
A palavra se encaixa em todas estas situações, mas não é disso que
estamos falando. Neste momento, tratamos do conceito linguístico de discurso,
que diz respeito às formas de uso da linguagem de uma determinada área da
comunicação, que servem a seus propósitos. Pense em um médico falando, ou
em uma revista da área de engenharia. Estes textos trariam discursos bem
diferentes daquele usado por publicitários, não é mesmo?
E qual é o propósito da publicidade? Vender, claro. Então, podemos
entender que o discurso da publicidade é um conjunto de práticas linguísticas
que ela emprega para atingir seus objetivos. Esse vender deve ser entendido de
uma forma abrangente, pois além de objetivamente vender um produto ou
serviço, também significa vender uma ideia ou conceito, influenciando as
pessoas a verem a realidade de uma determinada forma. Portanto, podemos
dizer que a publicidade quer sempre convencer o público de alguma coisa.
Vejamos dois exemplos para analisar como isso acontece:

Campanha Coronavírus – Spot para idoso (março de 2020)

Atenção! Se você tem mais de 60 anos, fique em casa, mesmo sem


sintomas. As demais pessoas devem fazer sua parte. Reduzir a
circulação é extremamente importante para diminuir a transmissão do
coronavírus. Só procure um hospital de referência se estiver com falta
de ar. Dúvidas, ligue 136 ou acesse saúde.gov.br/coronavírus. Quer
saber mais? Baixe o aplicativo “coronavírus SUS”. (Brasil, 2020)

Esse texto é a locução de um spot, ou seja, um anúncio em áudio


normalmente veiculado no rádio. Trata-se de uma campanha de saúde, de
caráter essencialmente informativo, já que seu objetivo é o de dar informações
às pessoas sobre como proceder durante a epidemia de coronavírus. Mas ela
não faz apenas isso, pois tenta também convencer as pessoas a fazerem “a
coisa certa”, e para isso usa o imperativo – “fique em casa” – e também a
argumentação – “é extremamente importante”. Há uma carga emocional no

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texto, seu sentido de urgência e necessidade. Podemos entender que ele usa
primordialmente as funções referencial (falar sobre algo que está no mundo) e
conativa (ação sobre o interlocutor) da linguagem.

Filme “Realidade Possível” (setembro de 2018)

(Agência: Commonwealth//McCann – Redatores: Leo Razera e


Augusto Meira)

Imagine um lugar assim. Onde o progresso é visto nas ruas, e não


apenas numa bandeira. Um lugar onde o seu dinheiro vai para onde
deveria ir e você pode ter tudo aquilo que pagou pra ter. Imagine um
lugar onde o interesse de alguns nunca é colocado acima do interesse
de todos, onde as coisas funcionam do jeito que deveriam funcionar.
Imagine viver onde tudo é como deveria ser. Imaginou? Chegou a hora
de acelerar na direção da mudança. Chevrolet Cruze, um carro como
todos deveriam ser. (Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=CAGD6PgWae4>. Acesso em: 22
mai. 2020.)

O texto deste anúncio compõe a narração (off) de um filme publicitário,


veiculado na televisão e no meio digital. Talvez você não tenha percebido, mas
ele tem uma estreita relação com o contexto de sua época: a corrida eleitoral de
2018, em que Jair Bolsonaro foi eleito presidente. O sentimento de revolta contra
a corrupção e o desperdício de dinheiro público, bastante disseminado no público
alvo da campanha, dá o tom do anúncio. Não há qualquer informação sobre o
produto – a nova versão do automóvel Chevrolet Cruze – que só é mencionado
textualmente ao final do anúncio. Portanto, o texto trabalha com a imaginação
do leitor, exercendo um forte apelo emocional para promover uma identificação
com o produto. A função emotiva e a referencial (indiretamente) são as mais
destacadas aqui.
Percebemos assim que o discurso publicitário tem como elemento
principal as estratégias de convencimento. Dependendo do que se anuncia,
ele poderá ser mais informativo, mais emotivo, mais imperativo (no caso de dar
ordens para o interlocutor, como no primeiro exemplo) etc. Ler o contexto e
escolher a estratégia mais adequada é o desafio do publicitário.

TEMA 5 – ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Vamos agora refletir um pouco sobre o processo de leitura em sua


essência. Como nosso cérebro aborda um texto? Antes de começar a ler,
propriamente, há uma série de informações que nosso cérebro apreende do que
está em volta do texto a partir de um simples olhar. A formatação, a presença de

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imagens, o veículo de publicação, a estrutura física (parágrafos, extensão), tudo
isso forma um conjunto de informações que nós automaticamente ativamos no
ato da leitura e que, entre outras coisas, nos indica o gênero do texto, conforme
vimos anteriormente. Nossa bagagem de leitura entra em campo, sem que nós
nos demos conta disso, toda vez que nos deparamos com um texto. Observe as
duas imagens abaixo:

Figura 2 – Relatório

Crédito: Guitarfoto Studio /Shutterstock.

Figura 3 – Impresso antigo

Fonte: Biblioteca Digital Nacional.

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Na Figura 2, temos um relatório impresso, sobre uma prancheta. Nossos
olhos identificam gráficos e números. Se já vimos gráficos semelhantes,
sabemos o que esperar e como ler esse material – do contrário, pode ser uma
tarefa bastante difícil. Na Figura 3, identificamos que se trata de uma página
impressa de uma publicação antiga – a cor da folha, a borda da página e a
tipografia assim nos indicam (trata-se de uma página da revista “Illustração
Paranaense”, de novembro de 1927). O título e o formato do texto indicam que
se trata de um poema.
Essa estratégia de comparar um texto com os outros textos que já lemos
ao longo da vida é algo natural e automático, e também vale quando começamos
a efetivamente ler as palavras na superfície do papel. O pesquisador Frank Smith
(1999) compara a leitura a um “jogo de encaixe”. Com isso ele quer dizer que
quando lemos um texto, encaixamos os novos conhecimentos que o texto nos
traz com aqueles que já temos em nossa mente. Assim, se não temos peças
para encaixar com o texto, não conseguiremos compreendê-lo. Vejamos um
exemplo – leia atentamente o texto abaixo:

Há um trabalho desenvolvido pelo EMITENTE no sentido de centrar a


atenção do DESTINATÁRIO sobre suas próprias atitudes e intenções,
a fim de solicitar respostas comportamentais. Esse tipo de trabalho,
que será levado em consideração em várias das secções seguintes,
costuma referir-se a uma teoria dos “speech acts”. Esclarecido que
essa noção de ‘speech acts’ deve também referir-se a atos não
expressos verbalmente, podemos ater-nos à repartição canônica,
embora insuficiente, entre atos LOCUCIONÁRIOS, atos
ELOCUCIONÁRIOS e atos PERLOCUCIONÁRIOS. (ECO, 2014)

Você seria capaz de explicar para alguém o que leu? Acreditamos que
não (a intenção era essa). Isso significa que, ainda que sejam poucas as
palavras do texto que você desconhece – o que não deixa de ser relevante –,
você não faz ideia do assunto sobre o qual ele trata. Não há “pecinhas” na sua
cabeça para encaixar com aquelas que o texto oferece, e por isso não há
possibilidade de compreensão.
Mas, então, como é possível aprender coisas novas? É claro que
podemos encontrar novas palavras, novos conceitos e aprendê-los por meio da
leitura – isso deve acontecer com muita frequência ao longo da sua vida
acadêmica. Há dois aspectos que são decisivos para o sucesso desse processo:
1. Quantidade de novas informações; 2. Pontos de referência. Um ou dois novos
conceitos em um texto já é uma quantidade razoável – dependendo da

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complexidade, mais do que isso pode comprometer a aprendizagem. Se as
novas informações podem ser comparadas a outras que já temos em nossa
mente, o aprendizado fica mais fácil.
Isso tudo vale tanto para você, leitor quanto para o você futuro,
publicitário. Quando estiver escrevendo, pense no que os seus leitores já sabem,
no que eles precisarão descobrir para absorver sua mensagem.
Para finalizar, vejamos algumas estratégias que podem ajudar você a
encarar textos difíceis. Se você se deparar com um texto do qual percebe que
“não entende nada”, dê um passo atrás – sim, afaste-se e tente olhar para o texto
em seu todo. Parta do olhar macro (tamanho, partes, título, imagens etc.) para a
micro (parágrafos, frases, palavras). A lista de passos a seguir oferece um
caminho.

1. Pré-leitura: antes de começar a ler, olhe para o texto como um todo. Onde
ele começa e onde termina? É dividido em partes? Tem tabelas ou
figuras? Preste atenção no título e subtítulos (se houver). A partir disso,
estabeleça hipóteses sobre o texto – Do que ele fala? Tem relação com
outros textos que eu já li? Qual será a intenção do autor?
2. Leitura: leia e teste as hipóteses que você levantou. Identifique palavras
difíceis e busque-as no dicionário. Destaque trechos que lhe parecem
importantes, conceitos ou termos fundamentais.
3. Pós-leitura: reveja suas hipóteses e tente resumir o que você leu. Se você
for capaz de explicar o texto, é prova de que o entendeu bem.

TROCANDO IDEIAS

Você já se deparou como uma propaganda que não entendeu à primeira


vista? Por quê? Havia alguma palavra que você desconhecia? Faltava-lhe
alguma informação de contexto? Conte para seus colegas e, se possível,
compartilhe a peça publicitária.

NA PRÁTICA

Que tal trabalharmos as estratégias de leitura elencadas acima para


abordar um texto difícil que cruzou sua vida? Caso você não tenha ideia de qual
texto abordar, aqui vai uma sugestão: o artigo científico “A persuasão na
perspectiva da publicidade: algumas aproximações iniciais”, de Martina Eva

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Fischer. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0937-1.pdf>.
Acesso em: 22 mai. 2020.
Divida seu trabalho em três etapas:

1. Pré-leitura: a partir do título e do resumo do texto, estabeleça hipóteses;


2. Leitura: leia, destaque trechos e conceitos, confira suas hipóteses;
3. Pós-leitura: resuma sua compreensão do texto, como se precisasse
explicá-lo a alguém.

FINALIZANDO

Nesta aula, começamos tentando definir o que é um texto, e como ele


surgiu na história da humanidade. Em seguida, pensamos a respeito da relação
do texto com o mundo, e em como ele depende do conhecimento compartilhado
entre autor e leitor para gerar sentido.
Pensar na estrutura do texto nos leva a refletir sobre dois aspectos
centrais da linguagem verbal, a sintaxe e a semântica, e como esses dois
aspectos também se unem ao conhecimento contextual do leitor para que o texto
exerça suas funções. Isso porque um texto não existe apenas para informar, mas
também para emocionar e fazer o leitor levantar da cadeira, entre outras coisas.
Por fim, refletimos sobre os processos cerebrais envolvidos na atividade
da leitura, e em como é importante entender o tipo de relação cognitiva que
podemos ter com um texto. A partir dessa compreensão é possível aplicar
estratégias que nos levam a interpretar textos difíceis, como o de um artigo
científico, por exemplo, e ampliam nossa capacidade de leitura e compreensão
textual.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Campanha Coronavírus. Ministério da Saúde, 2020. Disponível em:


<https://www.saude.gov.br/campanhas/46452-coronavirus>. Acesso em: 22
mai. 2020.
ECO, U. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva, 2014,
XAVIER, V. O mez da grippe. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LISBOA, V. Coronavírus: número de passageiros cai até 50% nos transportes
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