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4.3.2. Mora do Credor…………………………………………………………………………………………... 41
4.3.3. Incumprimento definitivo ………………………………………………………………………………...
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4.4. A declaração de não cumprimento…………………………………………………………………………. 45
4.5. A impossibilidade da prestação…………………………………………………………………………….. 47
4.5.1. Noção
……………………………………………………………………………………………………... 47
4.5.2. Regime da impossibilidade parcial……………………………………………………………………….. 47
Commodum……………………………………………………………………………………………….. 48
4.5.3.
4.6. Cumprimento defeituoso da obrigação…………………………………………………………………….. 48
4.7. A realização coactiva da prestação…………………………………………………………………………. 49
4.7.1. A execução específica……………………………………………………………………………………. 49
4.7.2. Sanção Pecuniária Compulsória………………………………………………………………………….. 49
4.8. Fixação contratual dos direitos do credor…………………………………………………………………... 49
4.8.1. Cláusulas de Exclusão de Responsabilidade……………………………………………………………... 49
4.8.2. Cláusulas de limitação de responsabilidade……………………………………………………………… 50
4.8.3. Cláusulas de fixação de responsabilidade: Cláusula Penal……………………………………………… 50
5. Modificação de Obrigações ……………………………………………………………………………..
51
5.1. Modificação Obrigacional ………………………………………………………………………………….
51
5.2. Modalidades ……………………………………………………………………….………………………. 51
5.3. A Alteração das Circunstâncias ……………………………………………….…………………………… 51
5.4. O desequilíbrio financeiro …………………………………………………………………………………. 53
6. Transmissão das Obrigações ………………………………………………………………………….54
6.1. A Transmissibilidade geral das obrigações ………………………………………………………………... 54
6.2. Cessão de Créditos ……………………………………………………………………………………….... 54
6.2.1. Requisito da cessão de créditos ………………………………………………………………………….. 54
6.2.2. Efeitos da cessão de créditos …………………………………………………………………………….. 56
6.3. A sub-rogação …………………………………………………………………………………………...…. 59
6.3.1. Modalidades de sub-rogação …………………………………………………………………….………. 59
6.3.2. Efeitos da Sub-Rogação ………………………………………………………………………....………. 60
6.4. Assunção de Dívida ……………………………………………………………………..…………………. 61
6.4.1. Modalidades da Assunção de Dívida ……………………………………………………………………. 61
6.4.2. Requisitos da assunção de dívida …………………………………………………………………...…… 63
6.4.3. Regime da assunção de dívida …………………………………………………………………………… 63
6.5. Cessão da Posição Contratual ………………………………………………………………….…………... 65
6.5.1. Requisitos da cessão da posição contratual ……………………………………………………………… 66
6.5.2. Efeitos da cessão da posição contratual …………………………………………………………….…….
67
7. Extinção das Obrigações ………………………………………………………………………………....
69
7.1. Factos extintivos não sucedâneos do cumprimento ………………………………………………………...
69
7.1.1. Revogação ……………………………………………………………………………………………….. 69
7.1.2 Resolução ………………………………………………………………………………………………....
69
7.1.3 Denúncia ………………………………………………………………………………………………….. 69
7.1.4. Caducidade ………………………………………………………………………………………………. 71
7.1.5. Oposição à renovação ……………………………………………………………………………………..71
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7.2. Dação em Cumprimento …………………………………………………………………………………....
71
7.2.1. Pressupostos da dação em cumprimento ……………………………………………………………….... 71
pro solvendo ……………………………………………………………………………………....
7.2.2. Dação 72
7.3. Consignação em depósito ……………………………………………………………………………….......
73
7.3.1. Pressupostos………………………………………………………………………………........................ 73
7.4. Compensação ………………………………………………………………………………..........................
75
7.4.1. Pressupostos ………………………………………………………………………………........................
75
7.5. Novação ………………………………………………………………………………..................................
77
7.5.1. Pressupostos da Novação …………………………………………………………………………………
78
7.5.2. Regime da Novação………………………………………………………………………………............. 79
7.6. Remissão ……………………………………………………………………………….................................
79
7.6.1. Pressupostos ………………………………………………………………………………........................
79
7.6.2. Efeitos da remissão……………………………………………………………………………….............. 80
7.7. Confusão
………………………………………………………………………………................................. 81
7.7.1. Pressupostos da confusão……………………………………………………………………………….... 81
8. Garantia Geral das Obrigações………………………………………………………..............................82
8.1. Meios de conservação da garantia geral ……………………………………………………….....................
82
8.1.1. A declaração de nulidade………………………………………………………......................................... 82
8.1.2. Ação sub-rogatória ………………………………………………………..................................................
83
8.1.3. Impugnação pauliana ………………………………………………………...............................................
83
8.1.4. Arresto………………………………………………………………………………................................. 86
8.2. Garantias especiais das obrigações……………………………………………………................................. 87
8.3. Garantias Pessoais ……………………………………………………................................. ……………....89
8.4. Garantia autónoma …………………………………………………………………………………………..93
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1. Enriquecimento sem causa
1.1. Noção
A proibição do enriquecimento injustificado constitui um dos princípios
constitutivos do nosso Direito Civil. Com base nele, podem-se justificar inúmeros
institutos. Esse princípio vem a ser consagrado no art.473º.1 CC, que permite o
exercício da ação de enriquecimento sempre que alguém obtenha um
enriquecimento, à custa de outrem sem causa justificativa. O instituto tem
determinados pressupostos, vistos como amplos e genéricos, consagrando o
legislador a subsidiariedade do instituto no art. 474º, norma que pretende
estabelecer que a ação de enriquecimento seja o último recursos a utilizar pelo
empobrecido. No entanto esta norma é vista atualmente como uma consagradora,
de uma incompatibilidade de pressupostos entre as situações referidas.
O professor Menezes Leitão entende que a cláusula geral do art. 473º.1,
apresenta-se como demasiado genérica, não permitindo um tratamento dogmático
unitário do enriquecimento sem causa, uma adequada subsunção aos casos
concretos. Estabelece-se assim uma tipologia de categorias que faz uma divisão do
instituto nas seguintes modalidades.
1.2. Modalidades
1.2.1 Enriquecimento por prestação
Situações em que alguém efetua uma prestação a outrem, mas se verifica uma
ausência de causa jurídica para que possa ocorrer por parte deste a recepção dessa
prestação. O requisito fundamental do enriquecimento sem causa é a realização de
uma prestação - animus solvendi - entendida como uma atribuição
finalisticamente orientada, referida determinada causa jurídica.
Este conceito de prestação seria composto pelos seguintes requisitos:
i) atribuição patrimonial que produza no receptor um enriquecimento;
ii) esse incremento de património exige uma consciência de prestação;
ii) o incremento de património de outrem exige também vontade de prestar;
iv) atribuição em que visar a realização de um fim específico;
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A ausência de causa jurídica deve ser definida em sentido subjetivo, como a não
obtenção do fim visado com a prestação.
Se estiver em vista a obtenção de determinado fim e esse fim não vem a ser
obtido→ restituição (473º.2)
Existem várias modalidades possíveis de não obtenção do fim visado com a
prestação:
- condictio indebiti ( alguém realizava uma prestação na intenção de
extinguir uma obrigação, mas se verificava a inexistência da dívida que o
prestante visva solver o que permitia ao solvens exigir a sua restituição);
- condictio ob rem ( alguém realiza uma prestação em vista de determinado
efeito futuro, pelo que a sua não verificação lhe permitia exigir a sua
restituição);
Esta modalidade exige determinados pressupostos adicionais:
i) realização de uma prestação visando um determinado resultado;
ii) correspondendo esse resultado ao conteúdo de um negócio jurídico;
iii) sendo que esse resultado não se vem posteriormente a realizar;
Resultado → tem que corresponder a um comportamento da outra parte, mais
precisamente uma contraprestação, cuja realização se esperava quando se verificou
a prestação.
A condicitio ob rem é excluída sempre que o autor da prestação sabe que o
resultado por ela visado é impossível, agindo contra a boa fé, impede a sua
realização ( 475º).
- condictio ob causam finitam ( hipótese em que a causa jurídica da
prestação realizada desaparece posteriormente à sua realização);
São casos da sua aplicação:
- a aplicação posterior extinção do direito à prestação já recebida;
- restituição do sinal em caso de cumprimento do contrato/ extinção por
impossibilidade ( 442º.1);
- restituição do título da obrigação após a extinção da dívida ( 788º);
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- restituição da prestação em virtude da extinção do contrato por
impossibilidade casual da contraprestação ( 795º.1);
Repetição do indevido:
Pressupostos comuns entre este instituto e o enriquecimento sem causa:
i) animus solvendi( intenção de cumpir a obrigação)- referido no art. 476º.1;
ii) indevido objetivo ( obrigação subjacente a essa prestação);
Se a obrigação que o solvens visou extinguir não se chegou a constituir/ já estava
extinta quando a prestação foi realizada, haverá direito a pedir a sua restituição.
A restituição é excluída perante a verificação de uma obrigação natural (
402º+476º).
A obrigação pode existir no momento da prestação, mas respeitar a sujeitos
diferentes daquele que recebeu/ realizou a prestação. Fala-se em indevido
subjetivo que pode respeitar:
→ ex latere accipientis ( ocorre quando a prestação é realizada a terceiro e não ao
seu verdadeiro credor. É praticamente equiparada ao indevido objetivo, com a
excepção de se poder admitir casos em que a obrigação venha a ser extinta, apesar
de ser realizada terceiro (770º), casos em que a prestação, apesar de ter sido
realizada a terceiro conseguiu obter o efeito que visava - extinção da obrigação-
pelo que não se admite a repetição do indevido);
→ ex latere solventis ( quando a prestação é realizada por terceiro, e não pelo
verdadeiro devedor. Há que tomar em consideração a posição do credor, uma vez
que este recebe o que lhe é devido, pelo que se torna dificilmente sustentável
obrigá-lo pura e simplesmente à restituição, que só é admitida em casos
excepcionais - 477º e 478º);
iii) indevido subjetivo ( sem que tenha lugar entre solvenseaccipiens);
iv) r ealizada naquele momento
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O problema das atribuições patrimoniais indiretas
A tradicional doutrina da deslocação patrimonial considerava como requisito do
enriquecimento sem causa a imediação ( a deslocação patrimonial teria que se
processar diretamente entre 2 patrimónios, não podendo assim ocorrer a
interposição do património de um terceiro, através de um negócio independente
com ele celebrado).
A doutrina moderna contesta este entendimento, defendendo que a prestação, no
enriquecimento sem causa, muitas vezes não se refere imediatamente a uma única
relação de atribuição entre 2 pessoas, mas antes várias relações de atribuição.
Situações denominadas atribuições patrimoniais indiretas ( como a delegação, o
contrato a favor de terceiro, cessão de créditos) - relações trilaterais
essencialmente.
As regras de Canaris deverá ser determinado o obrigado à restituição da prestação
no âmbito das relações trilaterais.
- Manutenção das excepções;
- Proteção contra as excepções de terceiro;
- Justa repartição do risco de insolvência;
1.2.2. Enriquecimento por intervenção
A situação que alguém obter um enriquecimento através de uma ingerência não
autorizada no patrimônio alheio ( como no caso de consumo). Com base no
473º.1 , deva ser atribuída nesses casos ao titular uma pretensão à restituição do
enriquecimento sem causa. O fim da pretensão será a recuperação da vantagem
patrimonial obtida pelo interventor ocorrerá sempre que, de acordo com a
repartição dos bens, essa vantagem considera-se como pertencente ao titular do
direito.
As hipóteses mais comuns reconduzem-se às intervenções em direitos absolutos (
reais, autor, propriedade industrial). Pode abranger ainda outras posições jurídicas
de outra natureza como a proteção contra a concorrência desleal ( direito à
empresa).
A intervenção em caso de obtenção por um concorrente de vantagens
patrimoniais em resultado da violação de uma norma relativa à proteção contra a
concorrência desleal, não permitirão a aplicação deste instituto.
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No caso de a norma violada se destinar a proteger apenas a interesses individuais,
de cuja proteção o concorrente pudesse abdicar contra a renumeração legitima o
recurso à ação de enriquecimento.
Uma outra hipótese em que se pode ponderar a aplicação do enriquecimento por
intervenção diz respeito à oferta de prestações reservada ao pagamento de uma
redistribuição que alguém consegue receber sem a pagar ( ex: utilização de um
transporte sem pagar o respetivo bilhete).
A solução estará na aplicação do enriquecimento por intervenção.
1.2.3. Enriquecimento resultante de despesas efetuadas por outrem
No enriquecimento resultante de despesas efetuadas por outrem no âmbito do
qual se distinguir entre:
➜Enriquecimento por incremento de valor de coisas alheias
Encontram-se situações em que alguém efetua despesas ( gastos de dinheiro,
trabalho) em determinada coisa, que se encontra na posse do benefeitorizante ou,
mesmo não se encontrando na sua posse, ele acredita que a coisa lhe pertence.
Também na situação de alguém, embora conhecendo o caráter alheio da coisa,
desconhece que se encontra a realizar as despesas com materiais alheios. As
despesas determinarem a aquisição de um benefício por outrem, a nossa lei admite
várias situações em que se verifica uma obrigação de restituir, limitada ao
benefício obtido e ao enriquecimento.
➜Enriquecimento por pagamento de dívidas alheias
Hipótese em que o empobrecido libera o enriquecido de determinada dívida que
este tem para com um terceiro sem visar realizar-lhe uma prestação, nem estar
abrangido por qualquer uma das hipóteses em que a lei lhe permite obter uma
compensação por esse pagamento. Existe uma discussão se nessa situação é
admissível o recurso à ação de enriquecimento:
→P ires de Lima + Antunes Varela:entendem que se o terceiro sabe que não é
obrigado ao cumprimento e não tem interesse em cumprir, não lhe assiste tanto
em relação ao credor como em relação ao devedor.
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→ Pessoa Jorge:recusou a possibilidade de uma ação de enriquecimento contra o
devedor;
→ Menezes Cordeiro: rejeitar a situação de inexistência de qualquer ação,
considerando que existe claramente uma deslocação patrimonial sem causa,
admitir uma ação de enriquecimento contra o devedor/ credor, consoante aquele
que se enriquece com a operação;
→ Menezes Leitão: ação de enriquecimento interposta pelo terceiro contra o
credor, considera-se excluída, uma vez que viola as regras relativas ao concurso de
credores, à oposição de exceções e à distribuição do risco de insolvência. O terceiro
que cumpre a obrigação deve, por isso, apenas poder intentara ação de
enriquecimento contra o devedor.
Necessidade de tutela do enriquecido contra a imposição do enriquecimento
Coloca-se o problema do enriquecimento imposto, uma vez que se por um lado o
enriquecido vem a beneficiar das despesas realizadas pelo empobrecido, por outro
lado não tem normalmente possibilidade de impedir a sua realização, leva a
considerar ocorrer a imposição de um enriquecimento forçado.
1.2.4. Enriquecimento por desconsideração de património
A lei admite em certas situações a possibilidade de ultrapassar o património de
alguém com quem o empobrecido entra em relação e demandar diretamente com
base no enriquecimento sem causa um terceiro que obteve a sua aquisição não a
partir do património interposto. Casos em que, com prejuízo para o empobrecido,
se verifica uma aquisição de terceiro a partir de uma património que se interpõe
entre ele e o empobrecido.
Nos casos em que ocorre um fenómeno de desconsideração de um património
intermédio, o património do alienante, com a consequente não sujeição do
empobrecido às regras do concurso de credores nesse património.
1.3. Pressupostos
Todas as categorias de enriquecimento sem causa consistem numa concretização (
473º.1):
- obtenção de um enriquecimento;
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- à custa de outrem;
- sem causa justificativa;
1.3.1. Obtenção de um enriquecimento
O enriquecimento ( 473º.1) é vista como uma vantagem de caráter patrimonial (
excluindo-se vantagens obtidas à custa de outrem, que não sejam susceptíveis de
avaliação pecuniária.
Existe uma discussão se o enriquecimento é uma vantagem patrimonial concreta
de qualquer tipo, com valor pecuniário, obtida pelo enriquecido ou a comparação
entre a situação patrimonial vigente e a situação patrimonial que existirá sem a
obtenção do enriquecimento, mas uma valorização em termos económicos do
património global do receptor.
Na nossa doutrina quase sempre concebido de acordo com a concepção
patrimonial, sendo definido como a valorização/ não desvalorização que o
património apresenta.
Menezes Leitão → a definição em termos patrimoniais do enriquecimento não
seja adequada, uma vez que na lei se faz referência a uma aquisição específica e não
um incremento patrimonial global.
Não é feita referência a um incremento patrimonial global consistindo antes o
enriquecimento numa vantagem patrimonial concreta. Quais as aquisições em que
este pode consistir:
- hipóteses que se reconduzem à aquisição de direitos subjetivos, sejam eles
reais ou crédito;
- extinção de situações passivas como a liberação de obrigações;
A obtenção de vantagens patrimoniais não apreensíveis em termos materiais,
como sucede com as prestações de serviços com utilidades imateriais. No âmbito
da determinação do enriquecimento tem ainda que se tomar em consideração a
poupança de despesas, que de outra forma se teriam realizado. Nesses casos, o que
se obtém à custa de outrem é uma vantagem patrimonial incorpórea, enquanto a
poupança de despesas constitui um mero reflexo dessa vantagem no património
do enriquecido.
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1.3.2. À custa de outrem
A doutrina tem interpretado com a exigência de um concomitante
empobrecimento na esfera de outra pessoa Importa delimitar por que forma deve
ser entendido esse conceito.
Não faz sentido a configurar o requisito “ à custa de outrem” como a exigência de
um empobrecimento concomitante, em relação ao enriquecimento se gerou no
património. Não tem um significado unitário, tendo configuração e relevância
diversas na várias categorias de enriquecimento sem causa. Todas elas verificam
um benefício para outrem que leva reconhecer que é precisamente o conceito de
enriquecimento o facto aglutinador desse instituto.
1.3.3. Sem causa justificativa
O conceito indeterminado em causa, prende-se com a descoberta da profunda
vontade legislativa através da interpretação da lei, considerando-se que o
enriquecimento não terá causa justificativa quando segundo os princípios legais
não haja razão de ser para ele ou quando existam normas que determinem a
manutenção do enriquecimento . Este não pode ser entendido de forma idêntica.
→ enriquecimento por prestação ( incremento consciente e finalisticamente
orientado do património alheio, sendo a não realização do fim visado com esse
incremento que determina a restituição);
→ enriquecimento por intervenção ( parece produtivo o recurso ao conceito de
conteúdo da destinação dos direitos, considerando-se que uma aquisição não tem
causa jurídica quando resulta na apropriação de bens destinadas a outrem através
de um direito subjetivo);
→ enriquecimento por desconsideração do património ( a ausência de causa
justificativa é um elemento que acresce meramente aos outros pressupostos,
adquirindo um sentido técnico, uma vez que se reconduz à verificação de uma
causa menor da aquisição em relação ao terceiro);
1.4. Obrigação de restituição por enriquecimento sem causa
O artigo 479º , delimita o objeto da obrigação de restituição do enriquecimento. O
479º2 acrescenta que a obrigação não pode exceder a medida do locupletamento
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existente à data da citação para a ação de restituição ou no momento em que o
empobrecido tem conhecimento da falta de causa ( 480º, parte final).
O regime determina que a impossibilidade de restituição não extingue a obrigação
( ao contrário do que resulta do art. 790º), implicando a restituição do valor
correspondente e prevendo uma causa de extinção autónoma representada pelo
desaparecimento do enriquecimento, cujos efeitos não variam consoante se
verifique ou não a existência de culpa.
A lei entende que, em virtude da tutela confiança a dissipação do enriquecimento
constitui um risco que cabe ao credor suportar, mesmo em caso de existência de
culpa do devedor. Tal regime só deixa de se aplicar em caso de má fé do devedor (
480º).
A interpretação do art. 479º observa uma extensão de enriquecimento que
segundo o professor Menezes Leitão que se deve delimitar em:
1º Lugar → Determinar consoante a categoria de enriquecimento sem causa, o
que se obteve à custa de outrem;
2º Lugar → o enriquecimento ainda subsiste no momento do conhecimento da
sua ausência de causa ( 479º.2).
A regulação legal de restituição do enriquecimento estabelece uma diferenciação
do que é obtido à custa do empobrecido, nos termos das diferentes modalidades:
- enriquecimento por prestação
O “obtido à custa de outrem” deve ser o próprio objeto prestado. Na hipótese de
pagamento de dívidas alheias, o obtido à custa de outrem reside na liberação do
devedor, correspondendo ao seu aumento patrimonial.
A doutrina tem discutido qual o objeto primário da restituição sendo que há
quem diga que seria a “ poupança de despesas por parte do enriquecido”, outros “
próprio resultado da exploração” e ainda “possibilidade de uso”. O professor
Menezes Leitão sustenta que é o próprio uso/ consumo de bens alheios.
→ enriquecimento por intervenção
Caso em que alguém obtém rendimentos através da exploração de bens alheios,
poderá o interventor simplesmente restituir o valor da exploração desses bens (
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como sustenta Menezes Leitão) ou restituir todo o ganho que obteve em virtude
dessa intervenção ( sustentado por Pires de Lima e Antunes Varela).
O 479º.1 tem como objeto a obrigação da restituição e é dirigido ao que foi obtido
à custa de outrem. Assim o que deve ser restituído é sempre o valor da exploração
e não os ganhos patrimoniais do interventor.
ex: Se alguém ocupar durante as férias uma casa alheia, o objeto da restituição será
o valor locativo da casa.
→ enriquecimento por despesas
Apesar do art. 479º.1 não estabelecer expressamente uma regra que deverá vigorar
a mesma solução, a qual se pode inferir como pões Antunes Varela“ tudo quanto
se tenha obtido à custa do empobrecido”. Deve ser restituído não apenas o objeto
ou o direito primariamente adquirido sem causa, mas também todo o commodum
ex re, o qual abrange os frutos da coisa.
Restituição do valor correspondente, em caso de impossibilidade de
restituição em espécie:
O legislador determina, que verificando-se a impossibilidade de restituição em
espécie ficará o empobrecido obrigado a restituir o valor correspondente ( 479º.1).
Para interpretação desta disposição, haverá que determinar primeiro o sentido
objetivo da impossibilidade de restituição, para depois calcular a dívida de valor.
A aplicação de um conceito de avaliação objetiva do valor, os interesses tutelados
em relação ao enriquecido de boa fé são assegurados através da aplicação do limite
do enriquecimento.
A aplicação do limite do enriquecimento em caso de boa fé enriquecido
O art. 479º.2 determina que a obrigação de restituir não pode exceder a medida de
que tornou o sujeito “mais rico”, existente à data da citação do enriquecido.
Menezes Cordeiro→ a repetição do indevido, sustenta existir uma diferença
radical com o enriquecimento sem causa. Em ambos institutos, quer no dano
seriam sempre determinados em abstrato, o que implicaria necessariamente uma
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absoluta coincidência entre o enriquecimento e o dano. A exclusão do limite do
enriquecimento atual previsto no art. 479º.2.
Menezes Leitão→ a aplicação da limitação ao enriquecimento subsistente às
categorias do enriquecimento por prestação. No âmbito da nossa legislação, um
tratamento unitário, sendo-lhe sempre a aplicável a limitação ao enriquecimento
subsistente aos casos de boa fé enriquecido.
Considera-se verificada a diminuição do enriquecimento → Pela Teoria da
Confiança, considera que a norma prevê a diminuição do enriquecimento tem por
fim a proteção da confiança do receptor, pelo que só se considera como
diminuição do enriquecimento aquelas desvantagens que sejam conexas com o
facto de o enriquecido ter confiado na regularidade da sua aquisição.
→ enriquecimento por prestação
Caso se trate de uma prestação de coisa e se verifique o consumo ( alienação etc.), o
receptor tem que responder apenas pelo valor remanescente do patrimônio.
ex: O receptor não responderá em caso de investimentos falhados do dinheiro
recebido.
O valor do que se obteve à custa de outrem corresponde ao limite do dano e este
deve ser determinado em abstrato, de acordo com o valor comum dessa prestação
de serviços no tráfego.
→ enriquecimento por intervenção
Aqui raramente poderá ocorrer uma restituição em espécie, já que o que
normalmente se obtém é uma vantagem incorpórea , que apenas pode ser
restituída em valor, podendo ser compensada por despesas ou perdas.
Estabelecendo-se uma limitação relativamente às desvantagens que diminuem o
enriquecimento, por forma a que nem todas estas possam considerar-se relevantes
para efeito de limitação da obrigação de restituição, aplicando-se à limitação do
enriquecimento do regime do art. 570º.
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→ enriquecimento por despesas efetuadas
A aplicação do limite do enriquecimento do limite do enriquecimento nos termos
do art. 479º.2, apresenta-se como problemática, uma vez que depende do
desconhecimento da ausência de causa jurídica por parte enriquecido. temos
todavia, de identificar duas situações:
- Consideramos que a aplicação do limite do enriquecimento só se justifica
em caso de boa fé do enriquecido, uma vez que se o enriquecido conhece o
caráter injustificado da aquisição, deve proceder à restituição do valor do
obtido à custa de outrem;
- Havendo boa fé do enriquecido a aplicação do limite para efeitos do 479º.2,
deverá tomar em conta a planificação subjetiva do enriquecido;
1.4.1. Agravamento da Obrigação de Restituição
O art. 480º estabelece um regime especial para o caso de se verificar o
conhecimento da ausência de causa justificativa pelo enriquecido / este ter sido
citado judicialmente para a ação de restituição.
Esta disposição pretende estabelecer um agravamento da responsabilidade do
enriquecido para as hipóteses de ausência de boa fé subjetiva da sua parte.
Para além dessa obrigação de restituição provocar culposamente a perda ou
deterioração do objeto que deveria restituir, o enriquecido deverá indemnizar essa
perda, obrigação que se cumula com a restituição do valor limitada pelo seu
efetivo enriquecimento.
Não parece aplicável neste caso a responsabilidade objetiva que a lei estabelece
para a hipótese de mora do devedor ( 807º). A verificação da perda / deterioração
culposa da coisa deve assumir-se como constitutiva de uma responsabilidade
obrigacional.
Aplicar-se-ão necessariamente a esta situação o regime da responsabilidade
obrigacional, devendo ser o enriquecido a demonstrar que a perda ou deterioração
não procedem de culpa sua ( 799º).
O art. 480º prevê que a responsabilidade do enriquecido se estende ainda frutos,
por culpa sua, deixaram de ser percebidos , articula-se com o regime da restituição
dos frutos pelo possuidor de má fé ( 1271º).
Quanto aos juros das quantias a que o empobrecido tiver direito, parece-nos claro
que essa disposição apenas se pode referir à hipótese de o enriquecido estar
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obrigado a restituir quantias em dinheiro. Mas também no caso do art. 479º.1
impor a restituição do valor, a qual necessariamente se definirá em termos
monetários.
1.5. Transmissão da Obrigação de Restituir
O art. 481º, prevê a hipótese de o enriquecido ter alienado gratuitamente coisa
que devesse restituir, dispondo que essa alienação determina sempre a constituição
de uma nova obrigação de restituir o enriquecimento entre o adquirente e o
empobrecido. A situação depende de se no encontramos:
- antes do cumprimento ( a alienação determina o desaparecimento/
diminuição do enriquecimento na esfera jurídica, pelo que o alienante já
nada terá de restituir);
- depois do cumprimento ( já se verificou a fixação do objeto da obrigação
de restituição do enriquecimento - 480º - pelo que a alienação já não releva
para efeitos do cálculo da obrigação de restituição);
Existem determinados pressupostos para a aplicação do 481º:
i) o alienante se tenha constituído como enriquecido e, portanto como devedor da
obrigação de restituição do enriquecimento;
ii) verificado a transmissão gratuita da coisa que devesse restituir, facto que
importa a extinção da responsabilidade do alienante de boa fé ( 479º.2);
Em caso de ocorrer má fé do alienante ( 481º.2), já não se verifica a extinção da
prestação do empobrecido contra o alienante. Estando o terceiro de má fé, a lei
estabelece que ele responde “ nos mesmos termos” que o alienante.1
Temos também a hipóteses de o alienante estar de má fé e o terceiro de boa fé.
Menezes Leitão diz que o empobrecido não poderá nestes casos optar entre
demandar o alienante pelo valor da coisa, nos termos do art. 480º ou demandar o
terceiro com base no seu próprio enriquecimento ( 481º.1), devendo à semelhança
do que sucede com a invalidade, a ação contra o terceiro ser subordinada à
impossibilidade prática de exercitar a ação de enriquecimento contra o alienante.
1
Pires de Lima e A
ntunes Varela, dizem que a responsabilidade dos dois é solidária ( 497º).
16
1.6. Prescrição do direito à restituição
Existe também a obrigação de restituição por enriquecimento sem causa está
sujeita a um prazo de prescrição ( 482º). A prescrição da obrigação depende da
ultrapassagem de um de dois prazos em que a lei estabelece em alternativa:
- o prazo de prescrição ordinária a contar do enriquecimento, que como se
sabe é de 20 anos ( 309º).
- um prazo de 3 anos a contar do momento em que o empobrecido tem
conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável;
↓
Se o empobrecido deixar passar um destes dois prazos sem exigir a restituição (
332º.1), o enriquecido poderá opor-lhe eficazmente a prescrição do seu direito (
304º1).
Na restituição por enriquecimento sem causa exige-se precisamente esse
conhecimento para início do prazo ( 482º). Será natural já ter decorrido a
prescrição do direito com base na responsabilidade civil, mas tal ainda não ter
acontecido com base no enriquecimento sem causa, referindo a lei expressamente
que tal não prejudica o recurso à ação de enriquecimento ( 498º.4).
17
2. Gestão de Negócios
2.1. Noção
Antigamente denominada como negotiorum gestio, para tutelar a situação dos
ausentes, cujos bens eram objeto da administração por iniciativa espontânea de
outrem, admitindo-se assim que, aquando do seu regresso, os ausentes pudessem
requerer a restituição desses bens a quem se encontrava a exercer a respetiva gestão
( actio negotiorum gestorum directa).
É um instituto jurídico destinado a permitir a realização de uma colaboração não
solicitada entre sujeitos privados, sem descurar a proteção da esfera jurídica do
titular contra intervenções prejudiciais. A lei pondera simultaneamente a proteção
dos interesses do do dono do negócio, através da imposição de deveres ao gestor,
bem como a sua eventual responsabilidade pelos danos que causar, como a
atribuição de uma compensação ao gestor pelas despesas suportadas e prejuízos
sofridos.
2.2. Pressupostos da Gestão de Negócios
A referência aos pressupostos da gestão de negócios encontra-se no art. 464º,
sendo estes:
- assunção da direção do negócio alheio;
- no interesse e por conta do dono do negócio;
- falta de autorização;
2.2.1 Assunção da direção de Negócio Alheio
Negotiorum Gestio ( assunção da direção de negócio) → ação de dirigir negócios,
pressupõe a existência de uma atividade do gestor, designando a expressão negócio
precisamente os atos que dela são objeto, não podendo assim ser considerada
gestão de negócios uma conduta omissiva.
Já quanto aos atos que podem ser objeto dessa atividade, a lei não estabelece
qualquer distinção, podendo abranger-se não apenas negócios jurídicos como atos
jurídicos. A gestão poderá abranger não apenas atos de mera administração, mas
também atos de administração extraordinária. Estão porém excluídos da gestão de
negócios os atos contrários à lei à ordem pública ou ofensivos dos bons costumes.
18
Relativamente à alienidade do negócio parece possível estabelecer uma distinção
entre 2 categorias:
- negócios objetivamente alheios: situações em que a gestão de negócios
implica uma ingerência na esfera jurídica do dominus.
ex: Se alguém resolve reparar o muro da casa de um vizinho que se encontra em
risco de ruína.
- negócios subjetivamente alheios: situações em que o gestor não efetua
qualquer ingerência em esfera jurídica alheia, mas em que é possível
visualizar, a partir da sua intenção, que pretende atuar para outrem.
ex: Se alguém num leilão decide arrematar uma coleção de selos para um amigo
que é colecionador;
2.2.2. No interesse e por conta do dono do negócio
→ Utilidade:
A lei exige que a gestão seja assumida no interesse e por conta do dominus.
Galvão Telles → interpreta esta expressão como referida exclusivamente à
animus alinea negotia gerendi( intenção de gestão);
Menezes Cordeiro e Menezes Leitão → a expressão abrange não só a animus
alinea negotia gernedi ( intenção de gestão), como também a utiliter ( utilidade
da gestão) ;
A tutela dos interesses do dominus exige que não se possa considerar atribuída ao
gestor a possibilidade de exercer a gestão, quando não existe qualquer utilidade
para o dominus. Existem 2 critérios para o momento de determinação da gestão:
- utiliter coeptum ( utilidade da gestão determina-se no momento da sua
assunção);2
- utiliter gestum ( utilidade da gestão determina-se no momento da sua
conclusão);
2
Critério adoptado em Portugal
19
→ Intenção:
O art. 464º vem a exigir uma intenção específica do gestor de atuar para outrem,
sem o que não se verificará a gestão de negócios, como é confirmado pelo art. 472º
que determina que quando o gestor atua desconhecendo a alienidade do negócio,
não se aplica imediatamente o regime da gestão.
A intenção específica é denominada de a nimus alinea negotia gerendi.
2.2.3. Falta de Autorização
Pressupõe a não aplicação do instituto sempre que existe alguma relação específica
entre o gestor e o dominus, que legitime a sua intervenção. O gestor não poderá
recorrer à gestão de negócios se estiver autorizado ou vinculado por negócio
jurídico a exercer a sua intervenção ou se a lei lhe impuser um dever específico de
exercer a gestão.
2.3. Deveres do Gestor para com o dono do negócio
O art. 465º, refere-se aos deveres do gestor para com o dono do negócio sendo
mencionada no art. 466º, a constituição do gestor em responsabilidade para com o
dono do negócio.
O dominus de prosseguir a gestão, a partir do momento em que a inicia,dado que
o art. 466º.1 responsabiliza o gestor pelos danos que causar com a injustificada
interrupção da gestão.
Menezes Cordeiro → entende que não resulta indiretamente consagrado pela lei
um dever de continuar a gestão uma vez que este seria susceptível de execução
específica e o 466º.1, admite uma indemnização pelos danos causados.
Menezes Leitão → não está legalmente consagrada uma obrigação de continuar a
gestão até ter determinado terminus ad quem, uma vez que a lei se limita a
responsabilizar o gestor pelos danos que causar com a interrupção injustificada da
gestão.
O art. 465º.a determina que este dever se relaciona com o requisito do utliter
corresponde à obrigação de manter a utilidade da gestão durante todo o tempo
que este venha ser exercida. Se existir uma contradição entre o interesse e a
vontade do dominus:
20
→G alvão Telles:neste caso o gestor deveria abster-se de agir;
→ Menezes Leitão: Não se deverá atribuir uma hierarquia rígida a este dois
critérios, devendo eles ser combinados em termos de sistema móvel. Parece-nos
que nessa aplicação deverá ter maior peso o elemento da vontade do dominus,
uma vez que cada indivíduo é o melhor juiz dos seus próprios interesses.
No 465ºb podemos rever que o gestor tem o dever de avisar o dominus, logo que
possível de que assumiu a gestão. A sua função não é de tranquilizar o dominus,
mas atribuir ao dominus uma última possibilidade de manter a situação sob seu
controle ainda que indireto. Em princípio o gestor deve aguardar pela decisão do
dominus após o aviso.
O 465º.c e d prevêem ainda o devedor de o gestor prestar contas findo o negócio
ou interrompida a gestão, quando o dono as exigir e ainda todas as informações
relativas à gestão.
O 465º. e , estabelece que o gestor tem o dever de entregar ao dominus tudo o que
tenha recebido de terceiros no exercício da gestão. Este dever corresponde ao
núcleo essencial da actio negotiorum gestorum direta, permitindo ao dominus
exercer o dominium negotii. Havendo pluralidade de gestores, e verificando-se
uma atuação conjunta dos mesmos, são solidárias as suas obrigações para com o
dono do negócio ( 467º).
2.4. Responsabilidade do Gestor
O art. 466º prevê que o gestor é responsável tanto pelos danos que causar com
culpa sua no exercício da gestão como com a injustificada interrupção desta.
Galvão Telles → o desrespeito do interesse ou vontade do dono do negócio não
envolve por si só culpa, representando o facto objetivo da violação da obrigação do
gestor, a que tem que acrescer o requisito subjetivo da culpa.
Antunes Varela → não deve ser exigido ao gestor um padrão de diligência
superior à que ele é capaz, uma vez que se trata uma atuação espontânea e
altruísta.
21
Almeida Costa → a regra geral será a de não se exigir do gestor um zelo de
diligência superior àquela que coloca nos seus próprios negócios.
Menezes Leitão → o gestor deve ficar sempre sujeito à diligência do bom pai de
família, prevista no art. 487º2 uma vez que a intervenção do gestor se apresenta
sempre como uma forma de realizar uma prestação ao d ominus.
2.5. Deveres do dono do negócio para com o gestor
Os deveres do dono do negócio variam consoante se trate de uma gestão:
- regular ( exercida em conformidade com o interesse do dono do negócio, o
gestor tem direito a ser reembolsado de todas as despesas suportadas e
indemnizado dos prejuízos que haja sofrido - 468º.1. Em contrapartida,
não é atribuída ao gestor qualquer remuneração pela sua atuação a menos
que tal corresponda à sua atividade profissional - 470º).
- irregular ( significa que nela não foi respeitado o dever previsto no 465º.a,
sendo que o dono do negócio responde apenas de acordo com as regras do
enriquecimento sem causa- 468º.2);
2.6. Aprovação da Gestão
O art. 469º prevê que a aprovação da gestão envolve a renúncia ao direito de
indemnização por danos devido a culpa do gestor, valendo como reconhecimento
dos direitos que lhe competem.
Galvão Telles → a situação aqui referida não se pode considerar como renúncia à
indemnização, sendo antes um reconhecimento de que a gestão foi regular e
portanto, insusceptível de constituir o gestor em responsabilidade.
2.7. Posição do dono do negócio em face de terceiros
Depende de se a gestão de negócios consiste na:
- Mera prática de atos materiais( situação mantém-se no âmbito das
relações internas entre o gestor e o dominus);
- Prática de atos jurídicos ( coloca-se igualmente o problema da posição do
dono do negócio, em face dos terceiros que celebram esse negócio com o
gestor - resolvendo a lei com recurso ao art. 471º);
22
2.7.1. Gestão de Negócios Representativa
Na gestão de negócios representativa a projeção na esfera do dominus dos efeitos
dos negócios celebrados pelo gestor é realizada através do mecanismo da
representação ( sendo necessário preencher os requisitos do art. 258º). Na gestão
de negócios está porém excluída a possibilidade de existência de procuração. Daí
que a atribuição de poderes representativos só possa ocorrer a posteriori, com
eficácia retroativa por virtude da ratificação ( 268º).
Caso o negócio celebrado pelo gestor não seja ratificado pelo dominus ele não
produzirá efeitos em relação a este, por ausência de poderes representativos, em
relação àquele por quem foi celebrado, verificando-se assim→ ineficácia absoluta.
Há todavia que distinguir entre:
- aprovação ( ocorre nas relações internas, representa um juízo global sobre
toda a atuação do gestor e destina-se a reconhecer-lhe os direitos ao
reembolso de despesas e indemnização);
- ratificação ( ocorre nas relações com terceiros, visando tornar eficaz em
relação ao dominus os negócios com ele celebrados);
2.7.2. Gestão de Negócios Não Representativa
Aquela em que o gestor atua em nome próprio, estando totalmente excluída a
possibilidade de representação, faltando a contemplatio dominii. O 471º manda
aplicar o regime do mandato sem representação ( 1180º).
Quando o gestor celebra o negócio em nome próprio adquire os direitos e assume
obrigações dele derivados mesmo que as partes conheçam a sua qualidade de
gestor.
2.8. Gestão de Negócios alheios julgados próprios e a gestão imprópria
Gestão de Negócios alheios julgados próprios → situação em que o gestor
efetua uma ingerência na esfera jurídica de outrem, verificando-se
consequentemente uma situação de alienidade objetiva do negócio.
O 472º prevê a situação da gestão de negócios alheios julgados próprios , dizendo
que se o gestor exercer a gestão, convencido de que o negócio lhe pertence, o
regime da gestão de negócios apenas se aplica se houver aprovação da gestão.
23
Deste artigo resulta que a intenção da gestão é um dos elementos essenciais de
negócios, uma vez que se ela faltar o gestor não obtém os direitos atribuídos pelo
art. 468º.1.
O dono do negócio respondendo apenas segundo as regras do enriquecimento sem
causa ( 479º1), ficando o gestor sujeito à responsabilidade civil, se a sua ingerência
na esfera jurídica do d ominus for efetuada culposamente.
Uma vez que o gestor desconhece a alienidade faltando assim o requisito da
intenção de gestão, o que determina a exclusão do regime da gestão de negócios.
Porém o dono do negócio pode sujeitar a situação da gestão de negócios alheios, ao
regime da gestão de negócios se proceder à aprovação da gestão ( 469º + 468º.1).
Gestão de Negócios Imprópria → situação em que o gestor gere por conta
própria um negócio que sabe ser alheio, verificando-se assim como no caso da
ausência de animus alínea negotia gerendi ( intenção).
Menezes Leitão → aplica analogicamente o 472º, atribuindo-se ao dominus a
possibilidade de sujeitar também essa situação ao regime da gestão de negócios,
mediante a aprovação .Caso contrário, aplicar-se-á à situação o regime do
enriquecimento por intervenção ou da responsabilidade civil.
24
3. O Cumprimento
3.1. Conceito
Cumprimento→ a realização da prestação devida ( 762º.1) .
Através da realização da prestação verifica-se o que importa a extinção da
obrigação através da satisfação do interesse do credor, com a consequente
liberação do devedor. A importância fundamental do cumprimento no âmbito
das causas de extinção das obrigações, já que corresponde à situação normal de
extinção da obrigação, através da concretização da conduta a que o credor tinha
direito.
3.2. Princípios
➜ Princípio da Pontualidade
Significa a exigência de uma correspondência integral em todos os aspetos (está
consagrado no 406º.1), e não apenas no temporal, entre a prestação efetivamente
realizada e aquela a que o devedor se encontrava vinculado, sem o que se verificará
uma situação de incumprimento ( cumprimento defeituoso).
- resulta a proibição de qualquer alteração à prestação devida. Daí que o
devedor tenha que prestar a coisa/ exatamente nos mesmos termos em que
se vinculou, não podendo o credor ser constrangido a receber do devedor
coisa diferente, mesmo que possuam um valor superior à prestação devida;
- a irrelevância da situação económica do devedor, com esse fundamento,
solicitar a redução da sua prestação;
➜ Princípio da Integralidade
O devedor deve realizar a prestação de uma só vez ( 763º.1), ainda que se trate de
prestação divisível ( ou seja, pudesse ser fracionada em partes sem prejuízo para o
interesse do credor), uma norma supletiva, pelo que se admite a estipulação de
convenção em contrário, bem como se referem excepções. Caso esta seja celebrada
deverá ser naturalmente realizada a prestação em partes (ex: obrigações
fraccionadas- 781º). Poderá haver lugar ao pagamento parcial quando tal situação
resulta dos usos. Inclui-se aqui as situações em que a não permissão do
cumprimento parcial se possa considerar como contrária à boa fé ( 762º.2).
25
A lei admite, que o credor decida exigir apenas uma parte da prestação, tal não
impede o devedor de oferecer a prestação por inteiro ( 763º.2).
➜ Princípio da Boa Fé
Refere que tanto no cumprimento ( 762º.2), como no exercício do direito
correspondente devem as partes de proceder de boa fé. Para se considerar
verificado o cumprimento, não basta uma mera realização da prestação, sendo
antes necessário o respeito dos ditames da boa fé. Os deveres acessórios de conduta
que surgem no âmbito das relações específicas aplicam-se primordialmente na fase
do cumprimento das obrigações, determinando que tanto a conduta do devedor
como a do credor obedeçam a princípio de correção e colaboração recíprocas.
O não acatamento desses deveres acessórios, pode implicar uma situação de
responsabilidade civil ( 817º).
➜ Princípio da Concretização
Significa que a vinculação do devedor deve ser concretizada numa conduta real e
efetiva. Porém o comportamento acatado aquando do cumprimento, vem a ser
juridicamente regulada, não apenas em termos de exigência de certos pressupostos
para o cumprimento, mas também através da disciplina da sua forma de
realização. Para que o cumprimento da obrigação possa efetivamente ocorrer
haverá que respeitar toda a disciplina específica.
- Capacidade:
Não se exige a capacidade do devedor, a menos que a própria prestação consista
num ato de disposição, tendo sido validamente celebrado o negócio jurídico, a
prestação poderá normalmente ser realizada pelo devedor incapaz (764º). A
capacidade do devedor é, exigida se a prestação consistir num ato de disposição,
como sucede sempre que o cumprimento implique a celebração de um negócio
jurídico ou dele resulte diretamente a alienação ou oneração do património do
devedor.
No caso de a prestação ser realizada por terceiro, consistirá sempre num ato
disposição não se encontra vinculação à sua realização por um negócio jurídico
anterior.
↓
A capacidade do terceiro será sempre exigida.
26
Num ato de disposição, o cumprimento devendo ser realizado pelo representante
legal do incapaz. Caso contrário, o credor pode recusar a prestação pois poderá ser
sujeito a um pedido de anulação do cumprimento ( 125º-129º).
- Disponibilidade
O devedor para realizar eficazmente o cumprimento tem que ser titular da coisa e
legitimidade para proceder à sua alienação ( 765º.1). Se o devedor cumprisse a
obrigação com coisa alheia ou com coisa própria de que não pudesse dispor, o
credor estaria sempre sujeito à possibilidade de ver a coisa reivindicada ou o
cumprimento ser anulado.
3.3. Legitimidade
Outro cumprimento verifica-se com a realização da prestação pelo devedor ,
ocorrendo em consequência que as partes no cumprimento sejam apenas na
relação obrigacional . Pode suceder que a prestação seja realizada por um terceiro/
seja efetuada por um terceiro. Nesse caso haverá que verificar se existe
legitimidade para efetuar ou receber a prestação.
→ Ativa: em relação ao autor, a lei generaliza o princípio da legitimidade ativa,
atribuindo-a a todas pessoas, quer estas tenham interesse direto no cumprimento
da obrigação quer não ( 767º.1).
O terceiro só não terá legitimidade para cumprir a prestação tiver caráter
infungível por natureza / convenção das partes ( 767º.2), o credor não poderá ser
constrangido a receber de terceiro a prestação, podendo recusá-la e exigir que o
cumprimento seja realizado pessoalmente pelo devedor.
Se o terceiro tiver legitimidade o credor não pode recusar a prestação por ele
oferecida, se o fizer incorre em mora ( 768º.1 + 813º). A lei apenas admite a recusa
por parte do credor se o devedor se opuser ao cumrpimento, desde que o terceiro
não tenha interesse direto na satisfação do crédito ( 768º.2 + 592º). Oposição do
devedor ao cumprimento nunca obsta a que o credor aceite validamente a
prestação do terceiro ( 768º.2).
Efeitos do cumprimento por terceiro:
- extinção da obrigação, com a liberação do devedor;
27
→ Passiva:legitimidade para receber a prestação é estabelecida em termos mais
restritivos pela lei que determina que a prestação deve ser efetuada ao credor / seu
representante ( 769º). Em princípio só estes têm legitimidade para receber. Na
incapacidade do credor, parece claro que é apenas ao representante legal que a
prestação deverá ser realizada → poderá determinar a anulação do cumprimento (
764º.2).
Tratando-se de representação voluntária ( 771º), tal permite ao devedor recusar a
prestação perante o representante voluntário do credor, determinando a cobrança
da dívida. Se a prestação for realizada a terceiro, a obrigação não se extingue3, há
todavia, casos em que se verifica a extinção da obrigação com a sua recepção por
terceiro, correspondendo a situações previstas no art. 770º.
3.4. Tempo do Cumprimento
O prazo da prestação constitui uma questão relevante no regime do cumprimento,
determinando o momento da realização da prestação . São assim concebidos então
2 momentos distintos:
- pagabilidade do débito( o momento em que o devedor pode cumprir a
obrigação, forçando o credor a receber a prestação, sob pena do credor
entrar em mora);
- exigibilidade do débito( momento em que o credor pode exigir do
devedor a realização da prestação sob pena de o devedor entrar em mora);
O regime do prazo da prestação ( 777º e ss.) centra-se essencialmente na distinção
entre:
- Obrigações Puras( cujo cumprimento pode ser exigido/ realizado a todo o
tempo);
- Obrigações a Prazo ( aquelas em que a exigibilidade do cumprimento ou a
possibilidade da sua realização é diferida para um momento posterior);
A regra geral é a de as obrigações não terem prazo certo estipulado, sendo,
portanto, obrigações puras.
↓
3
Podendo o autor exigir a sua restituição com fundamento no enriquecimento por prestação ( 476º.2)
28
O credor terá direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim
como o devedor de exonerar-se dela ( 777º.1).
- o devedor apenas entrará em mora com a exigência de cumprimento pelo
credor ( interpelação) - 805º.1;
A determinação do prazo do cumprimento pode ser deixada igualmente ao
critério de uma das partes. Relativamente ao credor, a lei determina que quando
este não use da faculdade que lhe foi concedida, compete ao tribunal fixar o prazo
( 777º.3).
Quando o prazo é deixado ao critério do devedor , a lei distingue entre:
- critério objetivo ( o devedor ter nesse momento meios económicos
necessários para realizar a prestação- 778º.1);
- critério subjetivo ( aprouver ao devedor realizar a prestação nesse
momento - 778º.2);
Benefício do prazo:
A possibilidade de a prestação ser realizada/ exigida em momento posterior
constitui um benefício. A determinação da parte a quem compete o benefício do
prazo, que pode caber ao devedor, ao credor ou a ambos. O benefício irá competir
em princípio ao devedor ( 779º)
Regra Geral → o prazo é estabelecido em benefício do devedor, o que significa
que o credor não pode exigir a prestação antes do fim do prazo, mas antes que o
devedor tem o direito de proceder à sua realização a todo o tempo.
Todavia, é possível as partes estabelecem que o prazo corra antes→ em benefício
do credor. O credor tem a faculdade de exigir a prestação a todo o tempo, mas o
devedor só tem a possibilidade de cumprir no fim do prazo.
exemplo: Obrigação da restituição da coisa pelo depositário ( 1194º).
Se for estipulado em benefício de ambas as partes nenhuma delas terá a faculdade
de determinar a antecipação do cumprimento.
Perda do Benefício:
29
Em caso de atribuição do benefício do prazo ao devedor, este pode perder esse
benefício caso a sua situação patrimonial se altere/ pratique algum ato
considerado incompatível com a confiança do credor ( 780º). Não obstante a
estipulação de prazo a favor do devedor o credor pode exigir o cumprimento
imediato da obrigação, se o devedor se tornar insolvente.
Outro caso de perda de benefício do prazo é a não realização de uma prestação
nas dívidas a prestações ( 781º). A perda do benefício do prazo, é no entanto,
pessoal pelo que não se estende aos coobrigados do devedor, nem aos terceiros,
que garantiram o cumprimento da obrigação ( 782º).
Outro caso em que a perda do benefício do prazo ocorre é a insolvência do
devedor, ainda que não judicialmente declarada ( 780º).
Temos também a diminuição de garantias ( situação de por causa imputável ao
devedor diminuírem as garantias do crédito ou não serem prestadas as garantias
prometidas). Em alternativa ao cumprimento imediato da obrigação o credor tem
ainda a possibilidade de exigir do devedor a substituição/ reforço de garantias, se
estas sofrerem diminuição ( 780º.2), exige-se porém que o perecimento das
garantias resulte de culpa do devedor. Se tal ocorrer, o credor pode exigir o
cumprimento imediato da obrigação quando o devedor não presta alguma das
garantias estipuladas, pratica uma infração contratual. Esse comportamento do
devedor põe em causa a confiança o que o legitima a solicitar o cumprimento
imediato da obrigação.
Nas dívidas as prestações, caso o devedor que falte ao pagamento de uma das
prestações, admite-se que o credor possa exigir antecipadamente as prestações
ainda que não se venceram ( 781º).
Do artigo 782º, podemos extrair que a perda do benefício do prazo tem caráter
pessoal. Em caso de perda do benefício do prazo, o credor poderá exigir ao
devedor o cumprimento imediato da obrigação, mas terá que esperar o seu
vencimento normal para exigir o cumprimento aos condevedores/ terceiros
garantes.
3.5. Lugar do Cumprimento
30
As regras relativas ao local do cumprimento especificam onde deve ser realizada a
prestação ( 772º ss.). É usual fazer uma distinção entre os seguintes tipos de
obrigações:
- Obrigações de Colocação: o devedor apenas colocar a prestação à
disposição do credor no seu próprio domicílio ou noutro lugar ( cabendo
assim ao redor o ónus de ir levantar a prestação fora do seu domicílio).
O devedor não pode ser responsabilizado pelo facto de o credor não proceder ao
levantamento da prestação , sendo considerada antes como mora do próprio
credor ( 813º);
- Obrigações de Entrega: o devedor tem efetivamente que entregar a coisa
ao credor no domicílio deste, ou no lugar com este acordado. A prestação só
se considera adequadamente realizada se chega ao domicílio do credor
dentro do prazo acordado, havendo mora do devedor no caso contrário (
804º);
- Obrigações de Envio: o devedor, embora não s limite a colocar a coisa à
disposição do credor, também não tem que lhe assegurar a sua entrega
efetiva . O devedor está apenas obrigado a enviar a coisa para o domicílio do
credor, sendo o transporte da conta e risco deste. O local do cumprimento é
aquele onde o devedor procede à entrega ao transportador, pelo que este
deve apenas assegurar o envio nas condições e prazo acordados.
Se o transporte se atrasa ou a coisa se deteriora o risco correrá por conta do
credor ( 797º);
Regras relativas ao lugar da prestação:
A determinação do lugar de cumprimento cabe em princípio às partes (772º.1),
resultando assim de convenção entre elas, a qual pode ser inclusivamente tácita (
217º).
Não havendo convenção entre as partes a estabelecer o lugar do cumprimento, a
regra geral é a de que ele deve ser realizado no domicílio do devedor ( 772º.1).
31
Se a obrigação tiver por objeto a entrega de uma coisa móvel, a regra é a de que a
obrigação deve ser cumpida no lugar onde a coisa se encontrava ao tempo da
conclusão do negócio, quer seja:
→ coisa móvel determinada ( 773º.1);
→ coisa genérica ( 773º.2);
Se a obrigação tiver por objecto certa quantia em dinheiro a regra é de que a
obrigação deve ser cumprida no domicílio que o credor tiver ao tempo do
cumprimento ( 774º).
As regras gerais cedem em certos casos onde vigoram outras regras havendo por
isso que averiguar se o regime especial do contrato não estabelece regras específicas
para o lugar de cumprimento ( regras gerais diferentes do 772º e ss.).
Mudança de domicílio das partes:
A alteração após a constituição da obrigação do domicílio do devedor nas
obrigações de colocação ou de entrega pode implicar a lesão das legítimas
expectativas da outra parte. A lei determina que a alteração do domicílio das
partes possa não significar necessariamente a alteração do local de cumprimento,
sempre que a parte lesada sofra prejuízos com essa alteração.
- Colocação → 772º.2
- Entrega → 775º
Impossibilidade da prestação no lugar fixado
Tendo as partes fixado um lugar para o cumprimento, pode ser ou tornar-se
impossível realizar a prestação nesse lugar.
- impossibilidade já existia no momento da conclusão do negócio
↓
nulo ( 401º+280º.1)
- posterior à celebração do negócio
↓
extinção da obrigação e perda do direito à contraprestação4 (790º+795º)
4
Isto nos contratos bilaterais
32
- lugar do cumprimento não é essencial, sendo que o facto de se tornar ou
não impossível realizar não é motivo para a considerar extinta
↓
realização da obrigação noutro lugar ( 776º) → fixado pela boa fé e vontade
hipotética das partes
↓
(239º+772º5)
3.6. Imputação do Cumprimento
Imputação do cumprimento → operação pela qual se relaciona a prestação
realizada com uma determinada obrigação, quando existiam várias dívidas entre as
partes e a prestação efetuada não chegue a extinguir todas.
É preciso determinar qual a dívida/s a que o cumprimento se refere, fazendo a
imputação da prestação à dívida que aquela vai extinguir. A imputação do
cumprimento é uma faculdade do devedor, cabendo a este sem necessidade de
qualquer acordo do credor, escolher a dívida que o cumprimento se refere (
783º.1).A faculdade de designação pelo devedor sofre algumas restrições em
relação a certas categorias de dívidas. Trata-se de situações em que a designação
pelo devedor afetaria certos interesses do credor.
- o devedor não pode imputar o cumprimento, contra vontade do credor,
uma dívida ainda não vencida se o prazo tiver sido celebrado em benefício
do credor ( 783º.2). A regra geral é o prazo ser estabelecido em benefício do
devedor ( 779º);
- o devedor não pode imputar o cumprimento, contra a vontade do credor,
uma dívida de montante superior à prestação efetuada ( 783º.2);
- o devedor não pode, contra a vontade do credor, imputar o cumprimento
numa dívida de capital ( 785º.2);
Caso o devedor não efetue a designação, o credor é livre de efetuar ele mesmo a
imputação ( pelas regras do 784º).
5
A lei portuguesa opta pela necessidade da certeza que se deve imprimir ao regime da relação obrigacional
33
3.7. Prova do Cumprimento
A prova do cumprimento compete em princípio ao devedor, uma vez que o
cumprimento constitui um facto extintivo do direito do credor ( 342º.2). O
cumprimento não pode ser provado por testemunhas ( 395º), o modo mais
adequado consiste em o autor do cumprimento exigir do credor uma quitação (
declaração escrita de que recebeu a prestação em dívida. A quitação é um direito
atribuído por lei a qualquer pessoa que cumpre a obrigação ( 787º.1). Pode-se
assim exigir sempre do credor um recibo e, caso este não o disponha, o
cumprimento pode legitimamente ser recusado ( 787º.2).
Por vezes a lei presume que já ocorreu o cumprimento da obrigação em virtude de
já ter decorrido certo prazo sobre a sua constituição ( 312º e ss.).
Se a obrigação aparece referida a determinado documento, quando o devedor
realiza o cumprimento tem o direito de exigir a restituição desse documento (
788º.1).
3.8. Efeitos do cumprimento
O cumprimento produz sempre em relação ao credor a extinção do seu crédito
como contrapartida da prestação recebida , produzindo a liberação da obrigação
do devedor.
3.9. Natureza do Cumprimento
➜Teoria Geral do Contrato
Dominante nos primeiros anos de vigência do BGB. O cumprimento corresponde
sempre a um contrato, exigindo que a oferta da prestação, quer a sua aceitação
“como cumprimento”.
Consequentemente, a eficácia jurídica do cumprimento depende de uma facti
species complexa, onde se inclui a realização efetiva da prestação e um contrato de
cumprimento destinado a produzir esse efeito. O cumprimento é, por isso, uma
consequência de um negócio jurídico, e daí que a aceitação da prestação “como
cumprimento” pelo credor pressuponha um ato de disposição do crédito que só é
eficaz se o credor accipiens tem capacidade para esse ato ou, sendo ele incapaz, se o
representante legal o confirmar.
34
➜Teoria Limitada do Contrato
Sustenta que o cumprimento apenas constitui um contrato, nas hipóteses como a
transmissão, em que a prestação dependa da celebração de um contrato (real).
Nesses casos, é necessário a declaração do solvens de que realiza a prestação com o
fim de cumprimento e a aceitação da prestação pelo credor “com o fim de
cumprimento”, celebrando-se nestes termos um contrato de cumprimento. A
aceitação com o fim de cumprimento representaria nestes casos igualmente um ato
de disposição do crédito. Pelo contrário, a realização efetiva da prestação será
suficiente sempre que não se exija um ato jurídico-negocial de prestação, ou
quando a natureza da prestação torne desnecessária uma declaração de aceitação,
como acontece nas prestações de serviços ou nas omissões.
➞ Teoria do Negócio Unilateral de Cumprimento
Sustenta que a extinção da obrigação é também consequência de um negócio de
cumprimento, mas já não de um contrato, uma vez que é apenas o solvens que tem
que emitir uma declaração negocial no sentido do cumprimento da obrigação.
➞ Teoria do Contrato Real ou do Acordo sobre o Fim
Sustenta que o cumprimento constitui uma facti species composta de 2 elementos:
-a atribuição do devedor (elemento objetivo);
- um acordo das partes sobre o fim de cumprimento dessa atribuição (elemento
subjetivo).
Esse acordo não constituiria um contrato extintivo da dívida, mas apenas um
acordo jurídico-negocial das partes sobre o fim da prestação. Sem a verificação de
um válido acordo sobre o fim da prestação, não se poderia verificar a extinção da
dívida.
➞ Teoria da Realização final da prestação
Entende que o cumprimento não exige nenhum contrato nem qualquer acordo
entre as partes sobre o fim da prestação, mas apenas a definição unilateral pelo
solvens desse fim.
A função desta definição do fim da prestação seria apenas a de a relacionar com
determinada dívida, e não a de produzir o cumprimento como consequência
jurídica, pelo que não se poderia considerar um negócio jurídico, mas apenas um
35
ato jurídico simples, ao qual as normas dos negócios jurídicos apenas seriam
parcialmente aplicáveis. Exigir-se-ia em qualquer caso uma declaração do solvens.
➞ Teoria da realização real da prestação
É amplamente maioritária na doutrina atual. Segundo ela, para o cumprimento é
suficiente a obtenção do resultado da prestação através do ato de prestar do
devedor (ou do seu auxiliar ou mesmo de um terceiro) que de uma forma
objetivamente reconhecível, corresponda à prestação devida.
A Teoria da realização real da prestação encontra-se expressamente consagrada na
nossa lei (Artigo 762º, nº1 – que identifica o cumprimento como a mera
realização real da prestação, não exigindo a emissão de uma declaração negocial ou
sequer uma atuação finalisticamente orientada).
36
4. O Não Cumprimento
4.1.Noção
Não Cumprimento→a não realização da prestação devida por causa imputável
ao devedor, sem que se verifique qualquer causa de extinção da obrigação.
4.2. Modalidades de Não Cumprimento
Com a sistematização da lei portuguesa, esta definição abrange:
- As situações em que o devedor falta culposamente ao cumprimento da
obrigação ( art. 798º ss.);
- As situações em que ele impossibilita culposamente a prestação ( 801º ss.);
O não cumprimento pode ainda ocorrer em termos:
- Definitivos:caso em que já não é concebível a realização, p orque
⇙ ⇓
Impossibilidade de Cumprimento + Incumprimento
(ou porque ela se impossibilitou) D
efinitivo
(ou porque o credor
perdeu o interesse nela)
⇓
Credor verá frustrado o seu direito à prestação, apenas podendo pedir
indemnização por incumprimento.
- Temporários: a prestação não foi realizada no momento devido, mas ainda é
possível a sua realização, através do cumprimento retardado.
Sendo o atraso na realização → devido ao devedor (Mora do Devedor)➛Credor
↓ pode exigir indemnização
37
devido ao credor ( Mora do Credor)
↓
Caber-lhe-á suportar os riscos e as
despesas resultantes.
Existe também uma outra modalidade:
- Cumprimento Defeituoso: caso em que existe a realização de um
prestações, mas em termos tais que permitem uma adequada satisfação do
credor.
Consequências:
- se ocorrer a restituição da prestação realizada e a realização de outro, a
situação aproximar-se-á do cumprimento retardado.
- se a realização da prestação nestas condições levar a uma perda definitiva do
interesse do credor estamos perante uma situação idêntica à do
incumprimento definitivo.
4.3. O retardamento da realização da prestação
4.3.1. Mora do Devedor
Mora do Devedor → situação em que a prestação, embora ainda possível, não foi
realizada no tempo devido, por facto imputável ao devedor ( 804º.2).
Pressupostos:
- Que a prestação seja possível;
- Que a não realização da prestação seja imputável ao devedor;
-
É ainda necessário que seja possível realizar a prestação em data futura. A mora do
devedor depende também, de a prestação não ter sido realizada no tempo devido.
Teremos que recorrer às regras de determinação do tempo do cumprimento, para
averiguar ( 777º).
A regra é a de que as obrigações são puras ( não têm prazo certo estipulado,
cabendo então a qualquer das partes determinar o momento do cumprimento
-777º.1). Aqui o devedor só fica constituído em mora de ter sido judicialmente
interpelado para cumprir ( 805º.1).
38
Interpelação → Comunicação pelo credor ao devedor da sua decisão de lhe exigir
o cumprimento da obrigação6.
Mora ex persona (constituir o devedor em mora a partir da sua
recepção)
⬈
Efeito
⬊
M
ora ex re ( casos em que a mora do devedor é irrelevante para a existência
ou não da interpelação pelo credor- 805º.2)
Em qualquer das situações, o artigo 805º.3, exige que, para que ocorra uma
situação de mora que a obrigação seja líquida ( que o seu quantitativo já se
encontre determinado → in iliquidis non fit mora7. Isto pode ser quebrado em
2 situações:
- a falta de liquidez ser imputável ao devedor, caso em que não deixa de se
considerar verificada a mora para evitar que o devedor beneficie de uma
situação pela qual ele próprio é responsável;
- situação de responsabilidade por facto lícito/ pelo risco, caso em que, apesar
da iliquidez, se considera ocorrer mora a partir da citação para ação da
responsabilidade;
Consequências:
i) Obrigação de indemnizar os danos causados ao credor
Previsto no art.804º.1 , trata-se de uma hipóteses de responsabilidade obrigacional
que, concorre com o dever de prestar, em virtude de o credor conservar o direito à
prestação originária. O credor tem assim direito a uma indemnização pelos danos
sofridos ( como, despesas, lucros cessantes e prejuízos).
A concessão de uma indemnização moratória depende da demonstração de que a
não realização da prestação no tempo devido causou prejuízos ao credor.
Relativamente às obrigações indemnizatória , o art. 806º prevê que a
indemnização corresponde aos juros desde a data da constituição em mora, não se
6
Pode ser expressa ou tácita ( 217º)
7
Enquanto não suceder, a mora não se verifica
39
permitindo ao credor a exigência de qualquer outra indemnização, dispensado-o
da prova dos requisitos da prova dos requisitos do dano e do nexo de causalidade.
No caso da responsabilidade por facto ilícito/ pelo risco, concede-se ao credor a
possibilidade de provar que a mora lhe causou dano superior a estes juros (
806º.3).
ii) Inversão do risco pela perda/ deterioração da coisa devida
A impossibilidade casual da prestação provoca a extinção da obrigação ( 790º),
ficando o devedor liberado, cujo risco corre em princípio por conta do credor. Se
o devedor estiver em mora quando se verifica a impossibilidade superveniente da
obrigação corre por sua conta o correspondente risco (807º.1).
Assim, no caso de venda de um determinado objeto, estando o vendedor em mora,
o risco inverte-se, pelo que ele terá de indemnizar o credor caso se verifique a
perda/ deterioração do objeto que deveria entregar ( 807º.1), a menos que
demonstre que o dano se teria continuado a verificar ( 807º.2).
Extinção da Mora:
A situação da mora ser extinta pode ser uma das seguintes 3 hipóteses:
i) Acordo das partes
As partes podem acordar em diferir para momento posterior o vencimento da
obrigação, com a correspondente extinção da mora.
ii) Purgação da Mora
Situação em que o devedor se apresenta tardiamente a oferecer ao credor a
prestação devida e a correspondente indemnização moratória. A oferta extingue
para o futuro a situação de mora do devedor, mesmo que se verifique a sua não
aceitação pelo credor. A recusa do credor produz uma inversão da mora que deixa
de ser considerada mora do dever para passar a ser qualificada como do credor.
iii) Transformação em incumprimento definitivo
Situação referida no art. 808º.1, quando…
- o credor vem objetivamente a perder o interesse na prestação
40
O atraso verificado na prestação implica que esta deixe de ter interesse para o
credor ( 808º.2),
→ ex: Contratar um transporte para uma determinada zona, onde vai ter lugar um
evento em que o credor necessita de estar presente, e o devedor atrasa-se por forma
a que já não é possível chegar ao local do destino em tempo útil.
- esta não é realizada num prazo suplementar que razoavelmente seja fixado pelo
credor
O credor mantém o interesse na prestação, não obstante a mora, mas apesar disso
não se considera justificado admitir a possibilidade de eternização da situação. O
credor tem, a faculdade de determinar a transformação da mora em
incumprimento definitivo, através da fixação, em termos razoáveis de um prazo
suplementar de cumprimento, com a advertência que a obrigação se terá por
definitivamente incumprida após o decurso deste → intimação admonitória8.
4.3.2. Mora do Credor
Pressupostos
O art. 813º dispõe que o credor incorre em mora, sempre que, sem motivo
justificado, não aceita a prestação que lhe é oferecida nos termos legais/ não
pratica os atos necessários ao cumprimento da obrigação. Assim temos:
- recusa / não realização pelo credor da colaboração necessária para o
cumprimento;
- ausência de motivo justificado para essa recusa/ omissão;
Na maioria dos casos em que o cumprimento da obrigação pressupõe a
colaboração do credor, a não realização dessa colaboração por parte dele improta a
constituição do credor em mora.
A mora do credor pressupõe que a recusa da colaboração devida ocorra sem
motivo justificado. O credor pode ter motivo justificado para recusar a prestação
→ ex: Nos casos de prestação parcial, prestação defeituosa, o credor pode recusar a
prestação sem incorrer em mora.
Os efeitos da mora do credor todavia são independentes de culpa, já que não se
impõe ao credor um dever de colaborar no cumprimento, também não se exige
8
Caso este aviso não seja respeitado pelo devedor, importará então o incumprimento definitivo da obrigação:
41
que a sua omissão da colaboração seja censurável. Em consequência, casos se torne
impossível ao credor prestar colaboração necessária para o cumprimento não
deverá ser aplicado.
Impossibilidade da Prestação / Mora do Credor
O impedimento do credor para aceitar/ colaborar no cumprimento não constitui
uma impossibilidade, mas antes mora, não ficando assim o credor exonerado de
efetuar a contraprestação. Só haveria impossibilidade se mesmo com a colaboração
do credor, fosse impossível para o devedor realizar a contraprestação. Se a razão da
não realização da prestação reside apenas na falta da colaboração do credor, há
mora do credor, tendo este que continuar a realizar a contraprestação.
Exemplo explicativo de Larenz:
Se alguém contrata um guia de montanha para realizar uma escalada e esta não
pode realizar devido ao mau tempo, a situação é de impossibilidade. Se a não
realização se dever ao facto de o credor adoecer e não poder realizar a escalada, a
situação já será de mora do credor.
Antunes Varela → considera que este tipo de situações, seriam de perda do
direito pelo não exercício dele ou por virtude de risco a cargo do credor, aos quais
manda aplicar o regime da mora por analogia.
Baptista Machado → considera que a inutilização da prestação por motivo
atinente ao credor gravita na mesma esfera de problemas do credor , não considera
que esses casos se possam integrar sem mais neste instituto.
Menezes Leitão → deve ser aplicado o regime da mora do credor e não o da
impossibilidade a todos os casos em que o credor omita a prática dos atos
necessários ao cumprimento, independentemente do motivo.
Efeitos da Mora do Credor:
i) Obrigação de Indemnização por parte do credor
Obriga a indemnizar o devedor das maiores despesas que este seja obrigado a fazer
com o oferecimento infrutífero da prestação e a guarda e conservação do respetivo
42
objeto ( 816º).Esta obrigação trata-se antes de uma responsabilidade do por ato
lícito ou pelo sacrifício, uma vez que ao entrar em mora o credor provoca o
sacrifício dos interesses do devedor sujeitando-o a maiores despesas de que aquelas
que se vinculou a suportar ao assumir a obrigação.
ii) Atenuação da Responsabilidade do Devedor
O devedor responde verificado-se a falta culposa de cumprimento da obrigação
pelos danos causados ao credor, presumindo-se a sua culpa no incumprimento (
799º.1), a partir do momento em que o credor entra em mora, a responsabilidade
do devedor atenua-se, determinando a lei que este passa, em relação ao objeto da
prestação , apenas a responder pelo seu dolo. Em relação aos proventos da coisa
apenas responde pelos que efetivamente tenha percebido ( 814º.1) . Para além
disso, durante a mora do credor a dívida deixa de vencer juros, quer legais, quer
convencionados ( 814º.2). A lei estabelece um padrão de diligência em caso de
mora do credor, estabelecendo que ele não responde por negligência, mas apenas
pela sua atuação intencional.
iii) Inversão risco pela perda/ deterioração da coisa
Regra geral, o risco da impossibilidade ( 815º), já é atribuído ao credor, ficando o
devedor exonerado se a prestação se impossibilitar ( 790º.1). Existem, todavia
algumas excepções:
- quando a lei atribui o risco ao devedor ( 796º.2);
- o devedor é responsável perante o credor se a impossibilidade da prestação
resultar de causa que lhe seja imputável ( 801º.1);
O risco da prestação alarga-se por força da atenuação da responsabilidade , passa a
ser considerado como risco da prestação, por conta do credor, as situações em que
a impossibilidade superveniente da prestação resulta da negligência do devedor (
815º.1).
Extinção da mora do credor:
A mora do credor pode se extinguir por:
- o credor, ainda que tardiamente vira prestar a colaboração necessária para o
cumpriemnto. O devedor deve realizar imediatamente a prestação, sem o
que se verificará uma inversão da mora;
43
- consignação em depósito → obrigação considera-se extinta a partir da data
do depósito se este não for impugnado/ se o tribunal julgar improcedente a
impugnação;
4.3.3. Incumprimento definitivo
Incumprimento definitivo da obrigação → verifica-se quando o devedor não
realiza no tempo devido por facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida
a sua realização posterior, em virtude de o credor ter perdido o interesse na
prestação/ ter fixado, após a mora, um prazo suplementar de cumprimento que o
devedor desrespeitou ( 808º).
↓
Constituição do devedor em responsabilidade obrigacional pelos danos causados
ao credor (798º)
⇓
Extinção superveniente do dever de prestar + obrigação de indemnização ( no
caso de uma conduta ilícita e culposa do devedor).
A responsabilidade obrigacional tem pressupostos semelhantes à responsabilidade
delitual:
- ilicitude ( consiste na inexecução da obrigação, que o art.798º define como
a falta de cumprimento)
Pode ser excluída através de uma causa de exclusão da ilicitude:
i) Excepção de não cumprimento do contrato ( 428º);
ii) Direito de Retenção ( 754º);
- culpa ( cabe ao devedor demonstrar que não teve culpa na violação do
vínculo obrigacional- pode aqui também revestir as modalidades de dolo/
negligência);
Limites da responsabilidade do devedor:
- mora do credor ( 814º e 815º);
44
- contratos gratuitos ( 956º e 957º);
A lei vem impor aqui também a apreciação da culpa segundo a diligência do bom
pai de familía ( 799º.2 → 487º.2).
- dano ( o devedor que incumpriu a obrigação, mas tal incumprimento não
provocar danos ao credor, não fica sujeito à responsabilidade).
Neste caso realiza-se:
↓
Em 1º lugar a reconstituição natural (562º) → Não é Possível?
⬋ ⬊
Impossível reparar integralmente Excessivamente
onerosa para o devedor ( 566º)
↓
Indemnização
|
compreende:
⬋ ⬍ ⬊
Danos Emergentes Lucros Cessantes Danos Futuros
( 564º.1) ( 564º.2)
A indemnização abrange o chamado interesse contratual positivo, ou seja todas as
utilidades que se frustraram devido à não realização da prestação. A indemnização
com base na mera culpa, não deve ser transposta para a responsabilidade
contratual, segundo a maioria da doutrina , uma vez que o preceito se encontra em
sede delitual.
45
Mota Pinto + Pessoa Jorge → são contra isto, argumentando que não há
distinção essencial entre as 2 responsabilidades , não há razão para que se leve a
tratar menos favoravelmente o devedor em relação ao comum lesante.
Menezes Leitão → o art. 494º contraria um dos princípios fundamentais da
responsabilidade civil subjetiva , o princípio do ressarcimento integral dos danos
sofridos pelo lesado. São raros os casos de aplicação desta disposição, mas não há
dúvida que a possibilidade de a ela recorrer deve ocorrer igualmente no âmbito da
responsabilidade contratual. A aplicação tanto se poderá justificar no âmbito
contratual como delitual.
Em relação à ressarcibilidade dos danos morais:
Pires de Lima + Antunes Varela → a indemnização com base na mera culpa
introduziria no âmbito da responsabilidade contratual um factor de incerteza e
insegurança no comércio justo, levando à tentativa de converter em dinheiro
muitos prejuízos relativamente insignificantes.
Menezes Leitão → Não há quaisquer obstáculos à admissão dos danos, nos
mesmos termos que na responsabilidade delitual.
- nexo da causalidade ( as regras para o estabelecimento são exatamente as
mesmas que vigoram no âmbito da responsabilidade delitual- 563º);
Ónus da Prova:
Tendo em conta os diferentes pressupostos, sucede que vigoram regras diferentes
para prova desses pressupostos. O art.799º refere que se incumbe ao devedor
provar que a falta de cumprimento não procede de culpa sua, dispensando-se o
credor de efetuar a prova correspondente ( 351º.1).
Existem no entanto demais pressupostos que não têm de ser provados:
- existência prévia de um direito de crédito ( 342º.1);
- se o facto ilícito for uma conduta positiva já será o credor a ter que provar
essa conduta (342º.2);
- existe uma discussão no que toca à prova do nexo de causalidade
→ Menezes Cordeiro: considera que o 799º.1, estabelece uma presunção, a qual
não consistiria numa simples presunção de culpa.
46
→ Menezes Leitão: considera que o artigo 799º.1, consagra uma presunção de
culpa em termos gerais , pelo que a prova caberá ao credor.
Responsabilidade do devedor pelos atos dos seus auxiliares/ representantes
A responsabilidade do devedor cessa sempre que demonstrar que o facto é
imputavél a terceiro ( 799º.1). Não seria correto que essa regra se aplicasse sempre
que o terceiro fosse um representante legal do devedor/ alguém utilizado por este
para o cumprimento da obrigação (800º.1).
4.4. A declaração de não cumprimento
Nos contratos sinalagmáticos verifica-se a reciprocidade entre as prestações de
ambas as partes, o que implica que não se deva permitir a execução de uma das
prestações sem que a outra também o seja . Isto implica um regime especial
admitindo-se
i) excepção de não cumprimento do contrato ( lícita a recusa de cumprimento,
enquanto a outra parte não realizar a sua prestação);
É lícita a recusa do cumprimento, o que impede a aplicação da mora ( 804º ss.) e
do incumprimento definitivo ( 808º). Tendo havido estipulação de prazos certos
diferentes para o cumprimento das prestações, um dos contratantes obriga-se a
cumprir em primeiro lugar. Apesar do art. 428º, nesta hipótese o contraente que
esteja obrigado a cumprir em segundo lugar continua a poder usar da excepção de
não cumprimento, não entrando em mora se não realizar a sua prestação enquanto
a contraprestação não for realizada.
O 428º.1 aplica-se apenas ao contraente que esteja obrigado a cumprir em 1º lugar.
O 429º refere-se à hipótese de se verificar em relação à outra parte alguma das
importâncias que importem a perda do benefício do prazo( 780º- casos da
insolvência, não prestação das garantias ou diminuição das mesmas).
ii) resolução por incumprimento ( o incumprimento definitivo de uma das
prestações permite à outra parte a resolução do contrato);
Prevista no art. 801º.2 , segundo os professores Antunes Varela e Almeida Costa,
a função deste artigo seria a de proporcionar à outra parte uma opção entre:
47
- interesse contratual positivo (exigir simplesmente uma indemnização por
incumprimento, que naturalmente abrangerá todos os danos suportados
em virtude da não realização da prestação pela outra parte);
- interesse contratual negativo ( obter a resolução do contrato, cuja eficácia
retroativa lhe permite liberar-se da sua obrigação, pedindo eventualmente a
restituição da prestação já realizada, acrescida de uma indemnização, que se
limita aos danos derivados da não conclusão do contrato);
Contra estariam:
→ Romano Martinez +Menezes Cordeiro: pois se a resolução do contrato
libera o seu autor do dever de efetuar a contraprestação, não pode porém
prejudicá-lo em termos de indemnização, pelo que ela deve continuar a abranger o
interesse contratual positivo. O credor resolvido o contato deve ser indemnizado
de todos os danos, sendo que a resolução da contraprestação realizada deveria ser
descontada na indemnização.
A indemnização por incumprimento:
Os contratos sinalagmáticos ( 801º.2), perante o incumprimento da outra parte o
contraente fiel pode optar entre obter uma indemnização pelo interesse contratual
positivo/ resolver o contrato. A indemnização por incumprimento( 562º),
significará que o credor deve ser colocado na mesma situação que existiria se não
se tivesse verificado o evento que obriga à reparação. A indemnização por
incumprimento nos contratos sinalagmáticos corresponde a uma indemnização
pela frustração do sinalagma contratual. O credor não tem que realizar a sua
própria prestação, uma vez que as obrigações recíprocas de ambas as partes se
convertem num único crédito à indemnização pelo montante de valor da
diferença de valor entre ambas as prestações. A indemnização é assim fixada
tomando o valor da prestação não cumprida, deduzido do montante
correspondente à poupança de despesas pela não realização da própria prestação.
4.5. A impossibilidade da prestação
4.5.1. Noção
A impossibilidade da prestação ocorre por facto não imputável ao devedor,
verifica-se a extinção da sua obrigação, sem que o devedor incorra em
responsabilidade ( 790º).
48
A impossibilidade da obrigação é devida a facto imputável ao devedor, a extinção
da obrigação constitui o devedor na obrigação de indemnizar o credor pelos danos
causados ( 801º.1). 9
4.5.2. Regime da impossibilidade parcial
No caso das obrigações divisíveis admite-se a impossibilidade da prestação ser :
- apenas parcial ( ex: alguém se obrigar a entregar as 2 peças de porcelana
raras e culposamente partir uma delas)
↓
Ao credor caberá a alternativa entre( 802º.1): →resolver o negócio
⬊
Exigir o cumprimento do que for possível,
reduzindo nesse caso a sua contraprestação
A solução que alguns vêem como mais coerente seria a de a impossibilidade parcial
apenas determine uma extinção parcial do direito à prestação ( prestação
integralmente substituída por uma indemnização ).
O credor pode perante a impossibilidade parcial, optar pela não realização de
qualquer parte da sua própria prestação , para o que tem que recorrer à resolução
do contrato → destruição retroativa do negócio ( 433º).
4.5.3. Commodum
A impossibilidade por facto imputável pode implicar que o devedor venha a obter
um direito sobre certa coisa ( ex: Se um agricultor por culpa sua não conseguiu a
colheita dos frutos necessáriso ao cumpriemnto, pode ainda assim ter direito ao
seguro das colheitas). O art. 803º.2 vem a determinar que o credor pode também
nesses casos exercer o commodum de representação. O credor tem a opção do
commodum caso venha a exercer essa opção, a indemnização será reduzida na
medida correspondente ao valor do commodum ( 803º.2).
4.6. Cumprimento defeituoso da obrigação
9
A situação assemelha-se à do incumprimento. A diferença é que o nexo de imputação se coloca não em relação à
conduta de não realização de prestação, mas antes em relação à conduta de impossibilitar a prestação.
49
Verifica-se cumprimento defeituoso quando o devedor embora realizando uma
prestação, essa prestação não correspondem integralmente à obrigação a que se
vinculou, não permitindo assim a satisfação adequada do interesse do credor.
exemplo: Alguém entregar um bem com defeitos
Nesse caso não se poderá considerar existir cumprimento da obrigação ( 762º.1).
Não se verificando a liberação do devedor podem ocorrer as seguintes situações:
- o devedor constitui-se em mora ( 804º) ;
- incumprimento definitivo da obrigação ( 808º);
Assim no incumpriemnto defeituoso:
i) A ilicitude resulta da violação de deveres secundários de prestação / deveres
acessórios de conduta, que acompanham o dever da prestação;
ii) Ao cumprimento defeituoso é aplicável a presunção de culpa do 799º, que
obriga o devedor a demonstrar que ele não procede de culpa sua.
4.7. A realização coactiva da prestação
O credor tem, em caso de não realização da prestação, uma garantia judiciária da
obrigação, na possibilidade de exigir judicialmente o seu cumprimento e de
executar o património do devedor ( 817º).
4.7.1. A execução específica
Na ação executiva a satisfação do direito do credor faz-se normalmente através da
atribuição de uma indemnização em dinheiro. Ou através de via judicial
↓ ↓
Execução por equivalente E
xecução Específica
Pressupõe: Incumprimento definitivo da obrigação Manutenção na
esfera
(808º) do credor do seu direito
à prestação (827º)
4.7.2. Sanção Pecuniária Compulsória
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Nos casos em que não é possível o recurso à execução específica, a lei admite a
possibilidade de coagir o devedor ao cumprimento, através da denominada sanção
pecuniária compulsória.
→ Pode o Tribunal condenar o devedor no pagamento de uma quantia pecuniária
por cada dia de atraso no cumprimento / por cada infração ( 829ºA. 1);
→ Sanção Pecuniária será fixada segundo critérios de razoabilidade, sem prejuízo
da indemnização a que houver lugar (829º.A, 2)
Os beneficiários da sanção pecuniária compulsória são o credor o Estado, em
partes iguais ( 829ºA, nº3).
4.8. Fixação contratual dos direitos do credor
A indemnização em caso de incumprimento pode ser regulada pelas partes
antecipadamente à sua verificação.
4.8.1. Cláusulas de Exclusão de Responsabilidade
O art. 809º proíbe a estipulação destas cláusulas. Ao credor é assim vedado
renunciar antecipadamente à indenização ( 798º), impossibilidade culposa de
cumprimento ( 801º), mora no cumprimento ( 804º), resolução do cumprimento (
801º.2) ou “commodum” (803º).
Pinto Monteiro → faz uma interpretação que restringe o arat. 809º, admitindo as
cláusulas da responsabilidade por culpa leve.
Antunes Varela → continuam a defender a proibição geral das cláusulas de
exclusão de responsabilidade, com a única excepção da responsabilidade do
devedor por atos dos seus auxiliares.
4.8.2. Cláusulas de limitação de responsabilidade
Menezes Leitão → admite a sua estipulação ao abrigo do princípio da autonomia
privada ( 405º + 809º ad contrarium) . A limitação convencional da
indemnização a um limite máximo e consiste numa cláusula que desempenha
funções relevantes para efeitos de segurança na contratação.
51
4.8.3. Cláusulas de fixação de responsabilidade: Cláusula Penal
As cláusulas de fixação de responsabilidade são amplamente admitidas pelo art.
810º. A cláusula penal tem que ser estipulada num determinado montante
pecuniário.
↓
Caso este não se encontre fixado, a cláusula será nula por indeterminabilidade do
objeto ( 280º.1)
//
Igualmente nula a cláusula penal em que a determinação do seu montante ficasse
na disponibilidade de algumas partes ( 280º.2).
O atual art. 811º parece aproximar-se de uma concepção exclusiva da cláusula
penal, pressupondo todavia a existência de uma obrigação principal.
5. Modificação de Obrigações
5.1. Modificação Obrigacional
Modificação Obrigacional → uma obrigação é modificada sempre que sofra
uma alteração que não acarrete uma quebra de identidade. A manutenção da
identidade de uma obrigação depende, fundamentalmente, da conservação da
prestação ( pode ser compreendida através da locuções vocabulários).
5.2. Modalidades
- Modificações de objeto: aquelas que respeitam à prestação;
- Modificações de conteúdo: deixam incólume a prestação se reportam
tão-só a outros aspectos do normativo obrigacional ( ex: local da prestação);
5.3. A Alteração das Circunstâncias
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A alteração das circunstâncias corresponde a uma situação em que se verifica a
contradição entre 2 princípio jurídicos:
- autonomia privada ( que exige o pontual cumprimento dos contratos
livremente celebrados);
- boa fé ( não será lícito a uma das partes exigir da outra o cumprimento das
suas obrigações sempre que uma alteração do Estado de coisas posterior à
celebração do contrato tenha levado a um desequilíbrio das prestações
gravemente lesivo para essa parte);
O CC consagra uma disposição sobre a alteração das circunstâncias , no artigo
437º , exigindo os seguintes requisitos:
- uma alteração de circunstâncias ( em que as partes fundaram a decisão de
contratar)
Apenas são relevantes as circunstâncias efetivamente existentes à data da
celebração do contrato, e que tenham sido causais em relação à base do negócio
objetiva ( a celebração pelas partes). Não relevam assim:
→ casos de falta representação das partes quanto às circunstâncias presentes/
futuras que apenas colocam um problema de erro;
→ circunstâncias que não se apresentem como causais em relação à celebração do
contrato;
- o caráter anormal( dessa alteração)
Exige-se que essa alteração tenha caráter anormal, ou seja que fosse de todo
imprevisível para as partes a sua verificação. Situações excepcionais como:
→ Uma Revolução;
→ Um Estado de Guerra;
→ Alterações Legislativas completamente inesperadas;
→ Uma Mudança Radical nos pressupostos de facto que determinaram a
celebração do negócio ( exemplo: Crise económica de 2008);
- lesão ( que essa alteração provocou a uma das partes)
Exige-se que a alteração provoque a lesão de uma das partes no contrato, o que
determina o surgimento de um desequilíbrio entre as prestações contratuais. Só
será relevante dela resultar uma modificação no equilíbrio contratual.
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- que a lesão seja de tal ordem que a exigência do cumprimento das
obrigações assumidas seja contrária à boa fé
Exige-se que o desequilíbrio contratual gerado pela alteração das circunstâncias
seja de tal ordem, que torne contrária à boa fé que a parte beneficiada venha a
exigir o cumprimento do contrato. Pode considerar-se que apresenta uma
modalidade específIca do abuso de direito ( 334º).
- que não se encontre coberta( pelos riscos próprios do contrato)
Exige-se que a lesão causada não se apresente como coberta pelos riscos próprios
do contrato. Daqui resulta que a alteração das circunstâncias se apresenta como
subsidiária em relação às regras da distribuição do risco, cessando a sua aplicação
sempre que exista uma regra que atribua aquele risco a alguma das partes.
Uma restrição a este regime resulta do artigo 438º que nega à parte lesada o direito
à resolução ou modificação do contrato se se encontrava em mora no momento
em que a alteração das circunstâncias se verificou. Trata-se de uma solução
coerente com os requisitos deste instituto uma vez que a mora do devedor provoca
uma inversão do risco da prestação ( 807º). Este regime sofre, porém, uma quebra
no art. 830º.3, que vem estabelecer que, na ação de execução específica, a sentença
pode a requerimento do faltoso determinar a modificação do contrato.
A alteração das circunstâncias caracteriza-se por dar origem a um desequilíbrio
contratual. É considerado, como um fundamento para a parte lesada proceder à
resolução do contrato ( 432º.1) ou requerer a sua modificação segundo juízos de
equidade. A parte não lesada tem a possibilidade de se opor à resolução do
contrato se aceitar a sua modificação segundo juízos de equidade.
O professor Menezes Leitão não considera que seja imperativo o recurso a juízo
nesta situação de resolução, apresentando-se como desconforme com o 436º.
→ Almeida Costa: responde afirmativamente, com base nos anteprojetos deste
artigo que a resolução deve ser requerida em juízo;
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→ Vaz Serra: sustenta que a resolução tem apenas que ser declarada à outra
parte, nos termos gerais, pode até nem ser necessária essa declaração se a alteração
for de tal modo óbvia que a declaração não seja de esperar;
Optando-se pela resolução do contrato, aplica-se o 439º, pelo que a extinção do
contrato terá em princípio efeito retroativo ( 434º.1), ainda que nos contratos de
execução continuada/ periódica não abranja normalmente as prestações já
realizadas ( 434º.2).
5.4. O desequilíbrio financeiro
Uma alteração das circunstâncias que os publicistas vierem a aproximar o artigo
437º, assim as transposições jurídico-financeiras adotam o princípio do equilíbrio
financeiro, “ procurando utilizar o instinto individual do lucro”, pressupondo a
segurança e a repartição de riscos ( a contratação pública é ligada a contratos de
longa duração que têm duração maior).
6. Transmissão das Obrigações
6.1. A Transmissibilidade geral das obrigações
Os créditos e as dívidas correspondem a situações jurídicas de natureza
patrimonial, pelo que não deve haver obstáculos à sua transmissão, quer
integrados num património, que isoladamente, até por força do princípio
constitucional que garante a transmissão da propriedade privada ( 62º CRP).
6.2. Cessão de Créditos
Prevista nos arts. 577º e ss. CC, consiste numa forma de transmissão do crédito
que opera por virtude de um negócio jurídico ( normalmente um contrato
celebrado entre o credor e terceiro).
Para cessão de créditos não se exige o consentimento do devedor, nem ele tem que
prestar qualquer colaboração para que esta venha a ocorrer. O crédito é uma
situação jurídica suscetível de transmissão negocial, sem que o devedor tenha que
outorgar de alguma forma colaborar no negócio transmissivo.
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6.2.1. Requisito da cessão de créditos
São os seguintes os requisitos da cessão de créditos:
i) um negócio jurídico a estabelecer a transmissão da totalidade ou de parte
crédito
A cessão de créditos apresenta-se como um efeito desse mesmo negócio. Daí que a
lei determine expressamente os requisitos e efeitos entre as partes que se definem
em função do tipo de negócio que lhe serve de base ( 578º.1 CC), nos termos do
qual se estabelece ainda a garantia quanto à existência e exigibilidade do crédito (
587º CC). Será através do regime do negócio-base que se determinará qual a forma
e o regime jurídico aplicável à cessão de créditos.
O 578º.2 CC exige, salvo o disposto em lei especial a forma de escritura pública/
documento particular autenticado para a cessão de créditos hipotecários.
Efetivamente prevendo genericamente a prestação de coisa futura ( 399º CC),a lei
admite que os bens futuros possam ser objeto de venda ( 880º CC), desde que
esteja preenchido o requisito da determinabilidade ( 280º.1 CC), é possível a
cessão onerosa de créditos futuros, podendo estes resultar quer de negócio jurídico
já celebrado ou ainda não celebrado.
Existe uma discussão se na cessão de créditos futuros, o crédito surge diretamente
na esfera do cessionário ou vem a passar primariamente pelo patrimônio do
cedente:
→ Antunes Varela ( adota a posição tradicional de Larenz): há que distinguir
entre os créditos futuros resultantes das relações já constituídas ( o cedente não
transmitirá apenas o crédito futuro) e os que resultam de relações a constituir (
não poderia ocorrer qualquer transmissão de expectativas, pelo que o crédito
aviria ao cessionário por via da titularidade do cedente e apenas no momento em
que se constituiria.
→ Mota Pinto + Ribeiro Faria: a aquisição dos créditos que se deveriam
verificar na pessoa do cessionário, enquanto destas normas resulta pelo contrário,
o cessionário, pelo contrário o cessionário só virá a adquirir o direito se o cedente,
sem a cessão o tivesse adquirido, ficando o crédito sujeito ao mesmo regime.
Normalmente o negócio jurídico que serve de base à cessão será um contrato. Não
há obstáculos a que a cessão de créditos resulte de negócio jurídico unilateral . O
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negócio que serve de base à cessão é sempre causal, pelo que a cessão de créditos
não constitui entre nós uma forma da transmissão abstrata do crédito ( 578º.1 +
585º CC).
ii) inexistência de impedimentos legais ou contratuais a essa transmissão
Relativamente aos impedimentos legais à transmissão do crédito em certos casos, a
lei proíbe que o crédito seja cedido ( como no direito a alimentos - 2008º CC). Um
casos específico diz respeito à cessão de créditos e direitos litigiosos, ( 579º e ss.
CC). Os direitos consideram-se litigiosos nos termos do 579º.3 CC.
Se apesar da proibição vier a ser realizada a cessão é, esta considerada nula (
580º.1CC), que pode ser invocada pelo cessionário ( 580º.2 CC).
iii) a não ligação do crédito, em virtude da própria natureza da ligação da
prestação à pessoa do credor
Estão nessa situação os créditos que se constituem para a satisfação das
necessidades pessoais do credor ( ex: direito alimentos - 2003º CC).
A prestação encontra-se intimamente ligada à pessoa do credor, não sendo assim
admitida a cessão, uma vez que ela implicaria sujeitar o devedor a ter que realizar a
prestação a pessoa diferente daquela em relação à qual a prestação se encontra. A
natureza da prestação constitui um obstáculo à cessão do crédito, pelo que se ela
apesar disso foi realizada, considera-se nula ( 294º CC).
6.2.2. Efeitos da cessão de créditos
➜Efeitos em relação às partes:
a) transmissão do crédito do cedente para o cessionário
A cessão opera apenas por efeito do contrato, determinando logo este a
transmissão do crédito para o cessionário. Essa transmissão não é imediatamente
oponível a terceiros, nos termos do artigo 583º.1 ou pelo artigo 583º.2, no caso de
conhecimento, sendo a notificação ou a aceitação que decide qual a cessão vai
prevalecer em caso de dupla alienação do mesmo crédito ( 584º).
b) transmissão das garantias e acessórios do crédito
A transmissão do crédito verifica-se com todas as vantagens e defeitos que o
crédito tinha, abrangendo garantias e outros acessórios ( 582º). Relativamente às
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garantias, a lei determina que se transmitem as que não forem inseparáveis da
pessoa do cedente, excepto se estas tiverem reservado ao consentir na cessão (
582º.1).
Quanto aos privilégios creditórios, a sua concessão atende especificamente à causa
do crédito.Já relativamente ao direito de retenção, a questão apresenta-se
controvertida, defendendo a maioria da doutrina que se trata de uma garantia
ligada intimamente à pessoa do cedente, pelo que só poderá ser transmitida por
acordo expresso entre cedente e cessionário.
c) transmissão das excepções
A transmissão abrange ainda excepções que o devedor possuía contra o cedente (
585º). A cessão do crédito não pode colocar o devedor em pior situação do que
aquela que se encontrava antes de ela ter sido realizada.
d) garantia prestada pelo cedente
É um elemento essencial para a cessão a transmissão do crédito pelo que a lei
determina que o cedente tenha quer prestar ao cessionário a garantia da existência
e exigibilidade do crédito ao tempo da cessão, nos termos do artigo 587º.1. No
entanto, o cedente só garante a solvência do devedor se a tanto se tiver
expressamente obrigado ( 587º.2).
A garantia a prestar pelo cedente diz assim ( regra geral), apenas respeito à
existência e exigibilidade do crédito, consistindo numa garantia por vícios do
direito, que compreende o assegurar da subsistência e acionabilidade do crédito ao
tempo da cessão ( 892º e ss.) e acessórios e a faculdade de dispor do crédito ( 956º
e ss.) . No caso de se estar perante uma venda, o cedente terá que restituir ao
cessionário o preço do crédito ( 894º) e responde pelos danos emergentes ( 899º),
podendo ainda constituir-se em responsabilidade pelo incumprimento da
obrigação de convalidação (900º.1). Havendo, dolo da sua parte, o cedente
responderá por lucros cessantes, que podem ter por base o interesse contratual
negativo ( 898º) ou o incumprimento da obrigação de convalidação, no caso de o
cessionário pretender optar por essa solução ( 900º.2). No caso de doação, o
cedente responde se se tiver expressamente responsabilizado ou houver atuado
com dolo ( 956º e 957º).
58
Pode porém além da garantia da existência e exigibilidade do crédito o cedente
ainda assegurar a solvência do devedor, desde que o faça por declaração expressa (
217º).
e) obrigação de entrega de documentos e outros elementos probatórios do
crédito
O cedente deve entregar ao cessionário os documentos e outros meios probatórios
do crédito, em cuja conservação não tenha interesse legítimo ( 586º).
➜Efeitos em relação ao devedor:
A cessão de créditos apenas produz efeitos em relação ao devedor, desde que lhe
seja notificada ( 583º.1). A notificação e a aceitação não estão sujeita a forma
especial ( 219º)10.
Se o devedor antes da notificação ou aceitação, pagar ao cedente ou celebrar com
ele algum negócio relativo ao crédito, o pagamento ou o negócio têm efeitos sobre
o crédito podendo produzir a sua extinção e são oponíveis ao cessionário, excepto
se ele demonstrar que o devedor tinha conhecimento da cessão ( 583º.2).
O devedor pode opor ao cessionário todos os meios de defesa que lhe era lícito
invocar contra o cedente consoante os termos do 585º.
➜Efeitos em relação a terceiros:
A cessão produz efeitos independentemente de qualquer notificação, pelo que, a
partir da sua verificação, os credores do cessionário podem executar o crédito ou
exercer a ação sub-rogatória. Há um caso, em que a eficácia da cessão em relação a
terceiros depende da notificação ou da aceitação da situação de o crédito ser
cedido a mais de que uma pessoa. Neste caso, prevalece a cessão que primeiro tiver
sido notificada ao devedor ou por este tiver sido aceite ( 584º).
Pode, perguntar-se o que sucede se o devedor conhecer a prioridade da primeira
cessão e decidir aceitar a segunda. A questão é legítima, uma vez que não foi
estabelecida nesse domínio a ressalva da possibilidade de o cessionário provar o
conhecimento do devedor da sua prioridade à semelhança do 583º.2.
Pires de Lima e Antunes Varela → defendem a rigidez da solução do 584º, que
se afastaria do regime do artigo 583º.2 +por uma razão certeza e de segurança.
10
Podendo a aceitação ser efetuada tacitamente ( 217º).
59
6.3. A sub-rogação
Sub-rogação → situação que se verifica quando, cumprida uma obrigação por
terceiro, o crédito respectivo não se extingue, mas antes se transmite por efeito
desse cumprimento para o terceiro que realiza a prestação ou forneceu dos meios
necessários para o cumprimento.
A sub-rogação resulta de um ato não negocial, que é cumprimento, sendo a
medida deste que determina a medida da sub-rogação ( 593º.1). A sub-rogação visa
compensar o sacrifício suportado pelo terceiro que cumpriu uma obrigação alheia.
Dado que pressupõe cumprimento de uma obrigação alheia, a sub-rogação é
insusceptível de se verificar em relação a prestações futuras.
6.3.1. Modalidades de sub-rogação
➜ Sub-rogação pelo credor
Prevista no art. 589º. verifica-se através da declaração deste, de que pretende que o
terceiro que cumpre a obrigação venha por virtude desse cumprimento, a adquirir
o crédito.
Requisitos:
- cumprimento da obrigação por terceiro
A declaração de sub-rogação pelo credor tem que ser expressa ( 217º), embora para
ela não se exija forma especial ( 219º). Essa declaração tem que ser emitida até ao
momento do cumprimento para evitar que a obrigação se extingue em lugar de se
transmitir. Ultrapassado este prazo, a sub-rogação não é mais possível.
Ribeiro Faria → a declaração pelo credor “ apenas pode valer como promessa té
ser efetuado o pagamento”.
➜ Sub-rogação em consequência de empréstimo efetuado ao devedor
Prevista no art. 591º, neste caso não é o terceiro que cumpre a obrigação mas antes
o próprio devedor. Porém este vem a efetuar o cumprimento com dinheiro ou
outra coisa fungível emprestada por terceiro, é admitida a sub-rogação, desde que
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haja declaração expressa ( no documento do empréstimo), de que a coisa se destina
ao cumprimento da obrigação.
➜Sub-rogação legal
Pode resultar de determinação da lei, independentemente, portanto, de qualquer
declaração do credor ou do devedor. Nos termos do artigo 592º.1, essa situação
verifica-se sempre que o terceiro tiver garantido o cumprimento ou estiver por
qualquer outra causa diretamente interessado na satisfação do crédito. O requisito
geral é de que o terceiro tenha interesse direto no cumprimento, o que sucederá
sempre que a não realização da prestação lhe possa acarretar prejuízos
patrimoniais próprios.
A situação de o terceiro ser subarrendatário de um prédio. O terceiro que realizar
a prestação em lugar do devedor, para evitar essa lesão, ficará também sub-rogado
nos direitos do credor, nos termos do 592º.
6.3.2. Efeitos da Sub-Rogação
- Transmissão do crédito na medida da sua satisfação
Os efeitos da sub-rogação encontram-se previstos no artigo 539º, onde se
determina que o terceiro adquire na medida da satisfação dada ao direito do
credor, os poderes a que este competiam.
Ocorre assim uma sub-rogação parcial sempre que o terceiro que cumpre a
obrigação, não a faz totalmente. Nesse caso, como a aquisição do direito de
crédito, só se verifica na medida da satisfação dada ao direito do credor ( 593º.1).
Nesse caso, a lei vem prever que a sub-rogação não prejudica os direitos do credor
originário quando outra coisa não for estipulada ( 593º.2).
- Transmissão das Garantias e acessórios do crédito
O art. 594º manda aplicar a esta transmissão as disposições do arts. 582º-584º.
Transmitem-se assim para o sub-rogado as garantias não inseparáveis da pessoa do
credor ( ex: fiança). No caso de sub-rogação parcial parece que as garantias
passarão a beneficiar ambos os créditos, ainda que por força da sua
indivisibilidade, cada credor tenha que exercer o direito real de garantia por
inteiro, estabelecendo-se a preferência de acordo com o 593º.2 e 3.
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- Transmissão das excepções
O art. 594º, não efetua qualquer remissão para o artigo 585º, onde se determina
que as excepções que o devedor tinha contra o cedente podem ser também
invocáveis contra o cessionário.
→ Galvão Telles: a norma aplica-se igualmente à sub-rogação, apesar da não
indicação;
→ Antunes Varela + Ribeiro Faria: a cessão de créditos tem por base um
negócio celebrado entre o cedente e o cessionário, a que o devedor é estranho,
enquanto a sub-rogação pode ser desencadeada pelo próprio devedor ( 590º e
591º). Pareceria neste caso contrário ao princípio da boa fé ( 227º e 762º). O artigo
585º apenas deverá poder ser aplicável aos casos de sub-rogação pelo credor ou de
sub-rogação legal.
- Eficácia da sub-rogação em relação ao devedor e a terceiros
Por força de remissão do 594º aplicam-se à sub-rogação também as disposições dos
artigos 583º e 584º. A sub-rogação deve ser notificada ao devedor, ou por este
aceite, para que se produza efeitos em relação a ele ( art. 583º.1), sob pena de não
lhe ser oponível, a não ser demonstrado o seu conhecimento da sub-rogação (
583º.2). Assim, caso o devedor, ignorando a sub-rogação, vier a pagar ao credor
originário, esse pagamento será eficaz perante o sub-rogado. Em caso de vários
pagamentos do mesmo crédito por terceiro, prevalece a sub-rogação que primeiro
for levada ao conhecimento do devedor ou que este seja aceite ( 584º e x vi 594º).
6.4. Assunção de Dívida
Assunção de Dívida → transmissão singular de uma dívida através de negócio
jurídico celebrado com terceiro.
6.4.1. Modalidades da Assunção de Dívida
➜Assunção Interna e Assunção Externa
O artigo 595º.1 refere-nos que a assunção de dívida pode verificar-se:
- assunção interna ( por contrato entre o antigo e o novo devedor, ratificado
pelo credor)
62
A transmissão de dívidas resulta do efeito conjugado de 2 negócios jurídicos…
➛u m contrato entre o antigo e o novo devedor determinando a transmissão;
➛u m negócio unilateral do credor a ratificar esse mesmo contrato;
Se não existir a ratificação, o contrato entre o antigo e o novo devedor não é eficaz
em relação ao credor, pelo que não pode valer como assunção de dívida. As partes
são, livres de ditar o negócio enquanto o credor não ratificar ( 596º.1), podendo
qualquer delas ficar ao credor um prazo para a ratificação, findo o qual esta se
considerará recusada ( 596º.2). A ratificação ( que pode ser expressa ou tácita),
podendo ser declarada a qualquer das partes, é essencial para que se possa produzir
a assunção de dívidas. Só a partir do momento em que ocorre a ratificação, é que a
assunção de dívidas se torna definitiva, deixando as partes de a poder anular.
Suscita-se se o negócio celebrado entre as partes não poderá valer como promessa
de liberação.
Uma vez realizada, a ratificação terá, eficácia retroativa, considerando-se a dívida
transmitida no momento de celebração do contrato
→ Pires de Lima + Antunes Varela: essa retroatividade não implicará a
inutilização dos atos conservatórios do crédito, praticados no período que medeia
entre a ratificação e o contrato de assunção de dívida;
→ Ribeiro de Faria: na assunção liberatória o efeito retroativo deve ser
considerado como pleno, considerando-se ineficazes os atos conservatórios
praticados pelo credor em face do devedor primitivo;
- assunção externa ( por contrato entre o novo devedor e o credor, com ou
sem consentimento do antigo devedor)
A transmissão da dívida resulta apenas de um único negócio jurídico…
➛ contrato entre o novo devedor e o credor ( ao qual o antigo devedor pode ou
não dar o seu consentimento)
O consentimento do devedor é irrelevante, sendo apenas o acordo entre o credor e
o novo devedor que desencadeia a transmissão da dívida para este último. Tem
sido questionado se em virtude do princípio do contrato poderá ser determinada a
63
liberação da obrigação do primitivo devedor, sem que ele dê o seu acordo. Uma
solução, que é tutelado pela atribuição de caráter contratual à remissão, conforme
determina o artigo 863º.1.
➜ Assunção cumulativa e assunção liberatória de dívida
Uma outra classificação na assunção de dívida respeita à distinção entre a assunção
cumulativa e assunção liberatória de dívida, baseando-se no art. 595º.2.
Distingue-se assim entre a:
- assunção cumulativa de dívida ( em que o antigo devedor não é liberado
da sua obrigação, mantendo-se solidariamente obrigado perante o credor);
Ao verificar-se a transmissão da dívida, o novo devedor pode vir a substituir
integralmente o antigo devedor, que fica assim exonerado
- assunção liberatória de dívida ( em que se verifica a extinção da obrigação
do antigo devedor, ficando exclusivamente obrigado o novo devedor);
Ficar vinculado por essa obrigação exatamente nos termos e em simultâneo com o
primitivo devedor, sem que a vinculação deste seja afetada.
6.4.2. Requisitos da assunção de dívida
- consentimento do credor
Da análise das várias de assunção de dívida resulta que para a transmissão de
dívidas é sempre necessário o consentimento do credor, o que compreende já que
o credor só conta em princípio com o património do devedor para garantir a
realização do seu crédito, se fosse permitido ao devedor transferir para terceiro a
sua obrigação sem consentimento do credor, tal poderia envolver prejuízo para
este que poderia confrontar-se com um novo devedor com uma situação
patrimonial que aquela que possuía o antigo devedor.
→ Mota Pinto: a assunção cumulativa de dívida poderia ser desencadeada por
contrato a favor de terceiro em que as partes, atribuíssem diretamente ao credor o
direito de exigir o cumprimento do promitente. O credor adquire esse direito sem
necessidade de aceitação ( 444º.1), a qual só serviria para tornar irrevogável a
convenção ( 448º).
→ Antunes Varela: que reiteram que no nosso sistema assunção de dívida nunca
pode realizar-se sem o consentimento do credor.
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- existência e validade do contrato de transmissão
A lei exige que esta decorra de um contrato transmissivo da obrigação que exista e
que não seja nulo ou anulável. Não existirem obstáculos legais à transmissão de
dívidas futuras, desde que esteja preenchido o requisito da sua determinabilidade (
280º), quer de negócio já celebrado, quer de negócio a celebrar.
6.4.3. Regime da assunção de dívida
➛regime específico da assunção cumulativa:
É necessário estabelecer uma distinção entre os efeitos na:
- relação interna( entre o antigo e o novo devedor)
Parece claro que se verifica a transmissão da dívida do antigo para o novo devedor,
uma vez que é este objeto do negócio celebrado, o qual não depende da exoneração
concedida pelo credor ( 595º.2).
- relação externa ( dos devedores para com o credor)
A lei determina que, na ausência de exoneração, ambos os devedores respondem
solidariamente, o que se destina a permitir que o credor possa exigir o
cumprimento da obrigação indistintamente a qualquer um dos devedores . A
solidariedade constitui antes um caso de solidariedade imperfeita.
➛regime específico da assunção liberatória:
É o facto de, com a exoneração pelo credor do primitivo obrigado, o novo devedor
se tornar agora o exclusivo devedor, ficando o primitivo obrigado totalmente
liberado da sua obrigação. O novo devedor permanece vinculado à mesma
prestação que era devida pelo antigo devedor, uma vez que o conteúdo da
obrigação não se altera em virtude da sua transmissão.
Operando-se a transmissão da dívida para o assuntor, e sendo o antigo devedor
exonerado pelo credor, naturalmente que este deixará de o poder demandar, caso
se verifique a insolvência do assuntor, quer como devedor quer como garante da
obrigação ( 600º). Mesmo que a assunção de dívida resulte de contrato entre o
antigo e o novo devedor ( 595º.1.a), este não pode ser responsabilizado pela
insolvência do primitivo obrigado, já que do contrato de transmissão não resulta
qualquer garantia relativamente a essa insolvência.
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Transmissão das garantias e acessórios:
Pelo artigo 599º, a transmissão da dívida envolve em princípio igualmente a
transmissão das garantias e acessórios. Relativamente às obrigações acessórias do
primitivo devedor, que não sejam inseparáveis da pessoa deste, estas transmitem-se
em princípio para o novo devedor ( 599º.1). O novo devedor assume todo o
vínculo obrigacional como realidade complexa, abrangendo os deveres da
prestação secundários e os deveres acessórios de informação, lealdade e proteção.
Se se transmite a obrigação de entrega de uma coisa o assuntor, fica vinculado à
entrega das partes integrantes e documentos ( 882ºº.2 e 955º.2), terá por força do
princípio da boa fé ( 762º.2).
Relativamente às garantias que acompanhavam o crédito, a lei determina que elas
se mantêm, com excepção das que tiverem sido constituídas por terceiro ou pelo
antigo devedor, que não haja consentido na transmissão da dívida ( 599º.2).
Meios de defesa do novo devedor:
O art. 598º. vem referir quais os meios de defesa a que pode recorrer o novo
devedor, após a celebração do contrato de transmissão.
Verifica-se que o novo devedor não pode opor ao credor quaisquer meios de
defesa que resultem de relação entre a assunção de dívida.
➥exemplo: Se o antigo devedor prometeu ao novo devedor uma prestação como contrapartida
da assunção de dívida é vedado a este último opor ao credor, quer a excepção de não
cumprimento, fundadas no não cumprimento.
O novo devedor pode opor ao credor os meios de defesa derivados da relação entre
ele próprio e o credor.
➥exemplo: O credor aquando da assunção da dívida, concedeu ao novo devedor uma
moratória no prazo de pagamento o novo devedor poderá opor essas excepções ao credor.
Relativamente aos meios de defesa existem na relação entre o antigo devedor e o
credor, estes poderão ser opostos pelo novo devedor, uma vez que ao assumir a
dívida ele passa a responder exatamente nos mesmos termos em que respondia o
antigo devedor.
➥exemplo: O novo devedor, poderá opor ao credor, quer a nulidade do contrato constitutivo,
quer a sua ineficácia quer a verificação de causas objetivas de extinção do crédito.
66
Já não poderá opor-se ao credor meios de defesas pessoais do antigo devedor,
podem ser utilizados pelo seu titular, como a anulabilidade do contrato por erro
dolo, coação ou incapacidade ( 287º) e a compensação ( 847º).
6.5. Cessão da Posição Contratual
Posição contratual → conjunto de direitos e deveres, faculdades, poderes, ônus e
sujeições que resultam para uma parte da celebração de determinado contrato.
Admite-se por isso na transmissão de obrigações a cessão da posição contratual.
Figuras afins da cessão da posição contratual:
➛Subcontrato:
Sempre que alguém celebrar determinado contrato com base na posição jurídica
que lhe advém de outro contrato do mesmo tipo, já previamente celebrado com
outrem
➥exemplo:
Sublocação ( 1060º e ss.)
➛Adesão ao contrato:
O terceiro vem a constituir-se como parte numa relação contratual existente entre
duas pessoas, participando da posição jurídica a uma delas, sem que esta perca,
por sua vez, a titularidade dessa mesma posição.
➛ S ub-rogação legal forçada( com manifestações no artigo 1057º CC).
6.5.1. Requisitos da cessão da posição contratual
A cessão da posição contratual encontra-se prevista no artigo 424º:
- um contrato a estabelecer a transmissão da posição contratual,
celebrado entre o cedente e um terceiro
A existência de um negócio jurídico a estabelecer a transmissão da posição
contratual, celebrado entre o cedente e um terceiro. Para que se possa falar de
cessão da posição contratual, o negócio terá que ser um negócio unitário, tendo
por objeto a transmissão da posição contratual.
- consentimento do outro contraente
67
- inclusão da referida posição contratual no âmbito dos contratos com
prestações recíprocas
→ Almeida Costa11: defesa de que se pode transmitir a posição contratual de
comprador ou de arrendatário, mas já não a de mutuário ou de doador;
→ Menezes Leitão + Menezes Cordeiro: a orientação anterior só pode ser
compreendida no âmbito de uma concepção que considere a posição contratual
como um simples somatório de créditos e dívidas, sem tomar em consideração a
situação jurídica complexa que ela representa ( inclui situação de outra ordem
como os direitos potestativos e os deveres acessórios).
6.5.2. Efeitos da cessão da posição contratual
- Relação entre cedente e cessionário
a) Transmissão da posição contratual do cedente para o cessionário
Como a posição contratual é transmitida em globo, ela abrangerá todo o
complexo de situações jurídicas de que era titular o cedente em relação ao contrato
( créditos, poderes potestativos e excepções).
➥exemplo: Alguém vendeu um equipamento industrial a que outrem e o comprador resolve
transmitir a terceiro a sua posição contratual, o cessionário pode exigir a entrega do
equipamento, a prestação de informações sobre o seu funcionamento.
A cessão da posição contratual pode abranger a transmissão da faculdade de
anulação do negócio.
➥exemplo: Cedente ter celebrado o negócio se refere a posição contratual transmitida por erro,
dolo ou coacção.
Menezes Leitão → faculdade de anulação é estabelecida no especial interesse
daquele que viu a sua declaração negocial viciada, sendo por isso, uma faculdade
inseparável da pessoa do cedente, que não pode assim ser objeto de transmissão
(582º.1 i n fine).
O cedente pode, solicitar a anulação do negócio que originou a posição contratual
transmitida, caso em que a cessão da posição contratual se tornará nula, por
impossibilidade do objeto ( 280º.1).12
11
Também defendido por G alvão Telles, Vaz Serra, Antunes Varela e R
ibeiro Faria
12
Admite-se que o cedente se possa constituir em responsabilidade civil, ou per ter tido culpa na celebração do
contrato de cessão que veio a ser invalidado ( 227º) ou por abuso de direito ( 334º).
68
b) Garantia prestada pelo cedente relativamente à posição contratual
transmitida
O art. 426º.1, vem determinar, no âmbito da cessão da posição contratual que o
cedente garante ao cessionário , no momento da cessão, a existência da posição
contratual transmitida nos termos aplicáveis ao negócio. A garantia do
cumprimento das obrigações só existe se for expressamente convencionada, nos
termos do 426º.2.
Relação entre o cessionário e o contraente cedido:
A cessão da posição contratual implica a transmissão, do cedente para o
cessionário, do conjunto de situações jurídicas que integravam a posição
contratual transmitida à data da celebração do contrato. O cessionário torna-se, a
partir desse momento, no único titular daquela posição contratual, sendo,
portanto, perante ele que o contraente cedido deve exercer os seus direitos e
cumprir as respetivas obrigações. Se após a transmissão o contraente cedido
efetuar o cumprimento das suas obrigações, esse cumprimento não terá efeito
liberatório, a menos que tenha ainda ocorrido a sua notificação ou
reconhecimento ( 442º.2.).
Quantos às excepções refere o art. 427º. Resulta que ao contrário do que sucede na
cessão de créditos ( 585º), a cessão da posição contratual não implica que a outra
parte conserve integralmente as excepções que possuía contra o cedente , apenas
passando a poder invocar contra o cessionário as exceções que resultam da própria
relação contratual.
Relação entre o cedente e o contraente cedido:
A transmissão da posição contratual do cedente para o cessionário, liberará em
princípio aquele de todas as obrigações, deveres acessórios e sujeições emergentes
do contrato.
Há excepções: se o cedente já tiver causado danos à outra parte no contrato em
virtude do incumprimento da obrigação principal ou de deveres acessórios dele
emergentes, naturalmente que a obrigação de indemnização por esses danos se
mantém na sua titularidade.
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7. Extinção das Obrigações
7.1. Factos extintivos não sucedâneos do cumprimento
Quando as obrigações resultam da autonomia privada, a sua extinção verifica-se
sempre que o negócio que lhes serve de fonte vem a ser posteriormente destruído
ou por negócio jurídico posterior ou através de um facto jurídico.
7.1.1. Revogação
Revogação → extinção do negócio jurídico por virtude de uma manifestação da
autonomia privada em sentido oposto àquela que o constituiu.
Se estiver em causa um contrato, a revogação é necessariamente bilateral,
assentando no mútuo consenso dos contratantes em relação à extinção do
contrato que tinham celebrado (406º.1). Se, estiver em causa um negócio jurídico
unilateral, a revogação igualmente unilateral, baseando-se unicamente numa
segunda declaração negocial do seu autor.
➥exemplo:Promessa pública ( 461º).
70
7.1.2 Resolução
Resolução → extinção da relação contratual por declaração unilateral de um dos
contraentes, baseada num fundamento ocorrido posteriormente à celebração do
contrato.
A resolução processa-se através de um negócio jurídico unilateral. A resolução só
pode ocorrer se se verificar um fundamento legal ou convencional que autorize o
seu exercício ( 432º.1). Se ocorrer esse fundamento, o contrato pode ser resolvido.
Se não ocorrer, a sua resolução não é permitida ( 406º.1). A lei exclui o direito de
resolução nos casos em que não haja possibilidade de restituir o que se houver
recebido ( 432º.2).
7.1.3 Denúncia
À semelhança da resolução, resulta igualmente de um negócio unilateral,
bastando-se, por isso, com a decisão de apenas uma das partes. O seu campo de
aplicação é limitado aos contratos de execução continuada ou duradoura, em que
as partes não estipulam um prazo fixo de vigência.
7.1.4. Caducidade
Caducidade→ extinção em virtude da ocorrência de um facto jurídico
➥exemplo:
O decurso do tempo.
São igualmente aplicáveis à caducidade dos negócios jurídicos os arts. 328º e ss. As
partes podem, estabelecer negócios pelos quais se criem casos especiais de
caducidade, como nos termos do 330º.1. A caducidade é de verificação
automática, resultando imediatamente do facto jurídico que a desencadeia, pelo
que não depende de declaração negocial das partes. A caducidade é apreciada
oficiosamente pelo Tribunal, nos termos do 333º.
7.1.5. Oposição à renovação
Oposição à renovação → as partes convencionam que o contrato vigora por
períodos limitados de tempo, mas simultaneamente prevêem a sua renovação
tácita, se não houver declaração em contrário”.
71
➥exemplo:
Oposição de renovação do contrato de locação ( 1054º e 1055º CC)
A oposição por renovação caracteriza-se por ser de exercicio livre, ser não
retroativa, mas só pode ser exercida num certo lapso de tempo.
7.2. Dação em Cumprimento
7.2.1. Pressupostos da dação em cumprimento
A dação em cumprimento vem referida no artigo 837º e tem 2 pressupostos:
- realização de uma prestação diferente da que for devida
Ou seja que a prestação que o devedor realiza não coincida com aquela a que está
vinculado e que, por isso mesmo, não possa produzir a sua exoneração ( 762º.1.),
por não ser considerada como atuação do vínculo obrigacional.
- acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação
A existência de acordo do credor relativamente à exoneração do devedor com a
realização da prestação diferente da devida.
Forma da dação em cumprimento em cumprimento:
A dação em cumprimento não é sujeita a forma especial ( 219º).
Regime da ação em cumprimento:
A dação em cumprimento determina:
1) A extinção da obrigação que aquela visou satisfazer ( 837º).
2) Sendo a obrigação solidária, a dação em cumprimento produz igualmente a
extinção da obrigação dos outros devedores ( 523º, assim como a sua
realização a um dos credores solidários produz igualmente a extinção (
532º).
3) Sendo o fim da dação em cumprimento a extinção, se a dívida que ela visou
extinguir não existisse tem o autor da dação o direito de recorrer à repetição
do indevido ( 476º.1).
Garantia contra vícios da coisa ou do direito transmitido:
O autor da dação em cumprimento tem que conceder ao credor uma garantia
pelos vícios da coisa ou do direito transmitido nos termos prescritos para a
compra e venda ( 838º). Sempre que a dação em cumprimento tenha conteúdo
72
translativo, o autor responderá pela evicção ( 892º e ss.), bem como por ónus e
limitações existentes ( 905º e ss.) e pelos vícios da coisa ( 913º e ss.).
Invalidade da dação em cumprimento:
Verificando-se a invalidade é manifesto que a relação obrigacional primitiva
continua a subsistir, com todas as suas garantias, salvo se entretanto se tiver
verificado um facto extintivo. No entanto o 839º, determina que se a dação for
declarada nula ou anulada por causa imputável ao credor, não renascem as
garantias prestadas por terceiro, excepto se este conhecia o vício na data em que
teve notícia da dação.
7.2.2. Dação pro solvendo
Dação pro solvendo → execução de uma prestação diversa da devida para que o
credor proceda à realização do valor dela e obtenha a satisfação do seu crédito por
virtude dessa realização ( 840º).
Nesta o crédito subsiste até que o credor venha a realizar o valor dele.
➥exemplo:
Através da venda do bem entregue, da cobrança do crédito cedido u do
cumprimento da dívida assumida por um novo devedor.
Pode ser qualificada como um mandato conferido pelo devedor ao credor para
proceder à liquidação como um mandato conferido pelo devedor ao credor para
proceder à liquidação da prestação realizada e se pagar com o dinheiro obtido por
essa via que não poderá ser normalmente revogado pelo devedor, salvo ocorrendo
justa causa ( 1170º.2). Se a dação tem por objeto a cessão de um crédito ou a
assunção de uma dívida presume-se igualmente feita pro solvendo ( 840º.2).
7.3. Consignação em depósito
Consignação em depósito → possibilidade reconhecida ao devedor nas
obrigações de prestação de coisa de extinguir a obrigação através do depósito
judicial da coisa devida, sempre que não possa realizar a prestação com segurança
por qualquer motivo relacionado com a pessoa do credor, ou quando o credor se
encontre em mora ( 841º.1).
➥exemplo: vendedor desloca-se a cada doo comprador para entregar a encomenda
O
solicitada, mas verifica-se que ele se ausentou inesperadamente no seu domicílio.
73
A lei não considera justo que nestes casos o devedor fique indefinidaemnte
vincuado ao cmprimento, apenas em virtude de o credor não prestar a colaboração
necessária para esse cumprimento, pelo que confere ao devedor a colaboração
necessária para esse cumprimento, pelo que confere ao devedor um meio de
produzir a extinção da obrigação sem a colaboração do credor. Trata-se no
entanto de uma faculdade do devedor que este não é obrigado a exercer ( 841º.2).
7.3.1. Pressupostos
- ter a obrigação por objeto uma prestação de coisa podendo ser uma quantia
pecuniária, ou uma coisa de qualquer outra natureza
➥exemplo:
O facto de se ignorar o paradeiro do credor.
- não ser possível ao devedor realizar a prestação por um motivo relativo ao
credor ( 813º)
➥exemplo:
Casos de o credor recusar receber a prestação ou passar a quitação da dívida (
787º.2).
Regime da consignação em depósito:
Institui-se uma nova relação substantiva, o depósito da coisa devida implica o
surgimento de obrigações a cargo do consignatário. É possível distinguir 3 tipos de
efeitos da consignação em depósito:
➛Instituição de uma relação processual entre o consignante e o credor
➛ Instituição de uma relação substantiva triangular entre o consignante, o
consignatário da coisa devida e o credor
A consignação vai estabelecer uma nova relação triangular entre o consignante,
consignatário da coisa devida e o credor. Através dela o credor adquire
imediatamente um direito à entrega da coisa por parte do consignatário ( 844º).
O consignante será normalmente o devedor, mas a lei à semelhança do que ocorre
com o cumprimento ( 767º) estende a legitimidade para a consignação em
depósito a qualquer terceiro a quem seja lícita efetuar a prestação ( 842º9.
O credor adquire imediatamente o direito de exigir a prestação do consignatário,
independentemente da aceitação ( 844º), podendo o devedor exigir que a coisa
74
consignada não seja entregue ao credor, enquanto este não efetuar aquela
prestação ( 845º).
O consignante pode revogar a consignação mediante declaração feita no processo e
pedir a restituição da coisa consignada ( 845º.1), apenas se extinguindo o seu
direito de revogação se o credor, por declaração feita no processo aceitar a
consignação ou esta for declarada válida por sentença passado em julgado (
845º.2.).
➛Eficácia da consignação sobre a obrigação
Sendo a consignação aceite pelo credor ou declarada válida por decisão judicial,
libera o devedor como se ele tivesse realizado a prestação na data do depósito (
846º). A eficácia extintiva da consignação em depósito retroage assim ao momento
do depósito, o que implica vir a ser a posteriori efetuada uma equiparação da
realização da prestação ao credor, ficando o devedor liberado com a realização
dessa prestação a terceiro ( 770º.e.). O credor vê assim extinto, o seu direito de
crédito, adquirindo outro crédito à entrega da coisa por parte do depositário.
7.4. Compensação
Compensação → quando 2 pessoas estejam reciprocamente obrigados a entregar
coisas fungíveis da mesma natureza é admissível que as respetivas obrigações sejam
extintas, total/parcialmente, pela dispensa de ambas de realizar as suas prestações
ou pela dedução a uma das prestações da prestação devida pela outra parte.
➥exemplo: Se um comerciante deve a outro 1000 €, de um fornecimento que este lhe fez, mas
tem por sua vez um crédito de 1000€ sobre aquele, resultante de um empréstimo antigo, podem
a dívida do fornecimento como a dívida do empréstimo ser declaradas extintas por
compensação entre elas, ficando os dois comerciantes liberados de realizar a sua prestação.
A compensação assegura 2 importantes vantagens:
- forma de facilitação dos pagamentos;
- permite ao seu declarante extinguir a sua obrigação, mesmo que não tenha
qualquer possibilidade de receber o seu próprio crédito por insolvência do
seu devedor.
75
7.4.1. Pressupostos
Previstos no artigo 847º:
- existência de créditos recíprocos
Cada uma das partes tem que possuir na sua esfera jurídica um crédito sobre a
outra parte e só pode operar a compensação para extinguir a sua própria dívida. O
declarante só pode usar para efetuar a compensação créditos seus sobre o seu
credor, estando-lhe vedada a utilização para esse efeito de créditos alheios, ainda
que o titular respectivo dê o seu consentimento ( 851º.2). Não é permitido ao
fiador invocar a compensação com um crédito do devedor, nem ao devedor
solidário invocar o crédito de outro condevedor sobre o credor.
O declarante não pode através da compensação com um crédito seu, extinguir
uma dívida que outrem tenha perante o seu devedor, mesmo que pudesse em
razão da sua fungibilidade, realizar a prestação em lugar dele ( 851º.1.).
- fungibilidade das coisas objeto das prestações e identidade do seu género e
qualidade
Cabendo a uma das partes determinar o objeto da prestação só se poderá recorrer à
compensação se a escolha implicar prestações de coisas fungíveis homogéneas para
ambos os créditos.
Sendo a necessária a identidade de género e qualidade das coisas objeto das
prestações, já não se exige que a sua quantidade seja idêntica. O facto de as dívidas
não serem de igual montante determina apenas que a compensação seja parcial em
relação à dívida de montante superior ( 847º.2). O facto de ainda não não está
determinada a quantidade devida não impede que se opere imediatamente a
compensação ( 847º.3). A diversidade de lugares de cumprimento não constitui
obstáculo à compensação, ainda que o declarante seja obrigado a reparar os danos
sofridos pela outra parte, em consequência de esta não receber o seu crédito ou
não cumprir a sua obrigação no lugar determinado ( 852º).
Existência, validade e exigibilidade do crédito do declarante seja judicialmente
exigível, e que o devedor não possa opor qualquer excepção ( 847º.1.a). Também
não pode ser efetuada a compensação se o crédito ainda não estiver vencido,
mesmo que a falta de vencimento decorra moratória concedida gratuitamente pelo
credor ( 849º), ou a outra parte puder recusar o cumprimento através da
76
invocação da excepção ( 428º e ss.) ou da prescrição ( 300º e ss.) . Exige-se no
entanto que ela tenha ocorrido antes do do momento em que se verificou a
compensabilidade dos créditos ( 850º).
O declarante e o declaratário têm que ser titular de um crédito válido, sem o que a
compensação nunca poderia operar, já que o declarante nem sequer seria devedor.
O crédito do declaratário tem que estar na situação de poder ser cumprido pelo
devedor, uma vez que só nesse caso é legítimo ao declarante invocar a
compensação.
Créditos não compensavéis:
Previstos no artigo 853º
Regime da Compensação:
O 848º, refere que a compensação torna-se efetiva mediante declaração de uma das
partes à outra. Uma vez efetuada essa declaração, os créditos consideram-se
extintos desde o momento em que se tornaram compensáveis ( 854º). Apesar de se
exigir uma declaração de compensação, os efeitos desta retroagem à data
compensabilidade dos créditos. O momento relevante para a extinção da
obrigação, após essa data um dos créditos for cedido a terceiro, o declarante pode
continuar a invocar a compensação ( 853º.2 ad contrarium). Também a prescrição
da obrigação não releva se ela ainda não tinha ocorrido no momento em que os
créditos se tornaram compensáveis ( 850º). Para a compensação se tornar efetiva é
necessária a declaração de uma das partes à outra ( 848º.1.), a qual pode ser feita
judicialmente ( 219º).
A lei estabelece que a declaração de compensação é ineficaz se for feita sob
condição ou termo ( 848º.2).
Pode suceder que existam, quer de uma, quer de outra parte, vários créditos
compensáveis, podendo a qualquer deles ser referida a declaração de compensação.
A escolha dos créditos que ficam extintos pertence ao declarante ( 855º.1),
vigorando na ausência de escolha as regras relativas à imputação do cumprimento
( 855º.2).
Compensação convencional:
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Com base no princípio da liberdade contratual, a denominada compensação
convencional.
Compensação convencional → compensação que, em lugar de ocorrer através de
uma declaração unilateral, resulta de um acordo celebrado entre as partes.
As partes já não estarão sujeitas à maior parte dos pressupostos e limites
estabelecidos para a compensação legal. Exigirá apenas que ambas as partes
disponham de créditos que pretenderam extinguir através do contrato, não sendo
necessário que se trate de créditos recíprocos.
7.5. Novação
Novação → extinção de uma obrigação em virtude da constituição de uma nova
que a substitui.
A razão determinante da extinção da obrigação é neste caso a constituição de um
novo vínculo que, embora se identifique economicamente com a obrigação
extinta, tem uma fonte jurídica diferente.
- novação objetiva: sempre que a nova obrigação se constitui entre os
mesmos credor e devedor da obrigação antifa ( 857º);
Pode representar tanto:
➜ uma mudança no objeto da obrigação ( ex: comerciante obriga-se a entregar
a outro mercadorias, em vez dos 1000€ que lhe devia)
➜ uma alteração na sua fonte ( o mandatário, que deveria restituir ao
mandante 1000€ de quantias que recebera no exercício do mandato)
- novação subjetiva: sempre que se verifica mudança de algum dos sujeitos
da obrigação ( 858º);
➜ por substituição do credor ( que se verifica sempre que um novo credor é
substituído ao antigo, vinculando-se o devedor para com ele por uma nova
obrigação)
➜ por substituição do devedor ( ocorre quando um novo devedor, contraindo
nova obrigação é substituído ao antigo que é exonerado pelo credor)
78
7.5.1. Pressupostos da Novação
- Declaração expressa da intenção de constituir uma nova obrigação em
lugar da antiga
A lei vem determinar que a novação tem que resultar de declaração expressa (
859º), o que implica não se poder inferir uma novação através de uma simples
modificações da obrigação.
- Existência e validade da obrigação primitiva
A existência de uma obrigação antiga, que as partes visam precisamente extinguir e
substituir por uma nova. A novação se torne ineficaz sempre que se verifique que
a referida obrigação não existia ou estava extinta ao tempo em que a segunda foi
constituída e ainda quando, essa obrigação vem a ser declarada nula / declarada (
860º.1).
- Constituição válida da nova obrigação
A nova obrigação tem de ser constituída, uma vez que, se tal não ocorrer, não se
pode verificar a novação, subsistindo assim a obrigação primitiva ( 860º.2), já que
a sua extinção apenas tinha sido determinada em razão da constituição de uma
nova obrigação.
7.5.2. Regime da Novação
A novação resulta a extinção da primitiva e a constituição de uma nova obrigação.
Uma vez que se verifica essa substituição de vínculos, não se vem a operar
qualquer continuidade entre eles, determinando, a lei que, o novo crédito não
recebe as garantias relativas à obrigação antiga ( 861º), nem lhes pode ser opostos
os meios de defesa desta ( 862º). A lei determina a extinção dos meios de defesa em
consequência da novação, a menos que se estipule o contrário ( 862º)..
Relativamente às garantias a sua extinção compreende-se que estas tenham sido
prestadas pelo devedor, quer por terceiro, quer mesmo quando resultem da lei (
861º.1).
No caso de garantia dizer respeito a terceiro, é necessária também a reserva
expressa deste ( 861º.2).
7.6. Remissão
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Remissão → consiste assim no acordo entre o credor e o devedor pelo qual aquele
prescinde de receber deste a prestação devida ( 863º e ss. sendo vulgarmente
designado por perdão da dívida).
➥exemplo:
Se o credor sabe que o devedor se encontra em dificuldades económicas e não tem
condições de cumprir pode acordar com ele em perdoar-lhe a dívida, evitando assim uma ação
executiva que seria destituída de efeitos práticos.
7.6.1. Pressupostos
- existência prévia da obrigação
A celebração depende da existência da obrigação que se visou extinguir. Não é
remissão o denominado reconhecimento negativo de dívida, onde o credor se
limita a declarar perante determinada pessoa que não existe qualquer obrigação
que esta deva realizar perante ele.
- contrato celebrado com o devedor, abdique de receber a prestação
devida
O contrato de remissão constitui sempre para o credor um ato de disposição do
seu direito, ao mesmo tempo que representa em relação ao devedor uma
atribuição patrimonial geradora de enriquecimento. Essa atribuição patrimonial
será normalmente realizada a título de liberalidade.
No caso a remissão por negócios entre vivos é havida como doação ( 863º.2) e
sujeita ao regime dos arts. 940º e ss. São aplicáveis as normas que regulam a doação
designadamente a necessidade de aceitação em vida do remetente ( 945º), com
possibilidade de revogação até esse momento ( 969º).
7.6.2. Efeitos da remissão
A remissão produz a extinção da obrigação, ficando o devedor liberado e vindo o
credor a perder definitivamente o ser o direito de crédito. No caso:
- remissão in rem: existir uma pluralidade de partes, haverá que distinguir
se a remissão foi concedida a todas ou por todas as partes , produzindo a sua
extinção definitiva em relação a todos os sujeitos;
- remissão in personam: apenas concedida por ou em benefício de pessoas
específicas, a remissão apenas produzirá efeitos em relação a estas
,mantendo-se a obrigação para as restantes.
80
Se o regime for o da solidariedade passiva, a obrigação deste extingue-se
mantendo-se a dos restantes devedores que ficam, liberados pela parte relativa ao
devedor exonerado ( 864º.1). Pode suceder que o credor declara reservar o seu
direito por inteiro contra os outros devedores, caso em que eles conservarão o seu
direito de regresso por inteiro contra o devedor exonerado ( 864º.2). Se o regime
aplicável for o da solidariedade ativa, um dos credores solidários concede a
remissão, o devedor fica exonerado, mas apenas na parte relativa a esse credor (
864º.2). A obrigação plural indivisível, a remissão concedida pelo credor a um dos
devedores implica que aquele só possa exigir a prestação dos restantes se lhes
entregar o valor da parte que compete ao devedor exonerado ( 865º.1 e 536º). Se a
remissão for concedida por um dos credores ao devedor, este não fica exonerado
perante os restantes credores, estes só podem exigir-lhe a prestação se lhe
entregarem o valor da parte que competia àquele credor ( 865º.2).
7.7. Confusão
Confusão → extinção simultânea do crédito e da dívida em consequência da
reunião, na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor ( 868º).
➥exemplo:
Se o devedor adquirir por cessão o crédito que sobre ele tinha um credor anterior a
dívida. Deixa de haver qualquer necessidade jurídica de manter a obrigação, como adstrito á
prestação e o beneficiário dela são o mesmo.
Confusão strictu sensu → as situações em que não se verifica a reunião na mesma
pessoa das qualidades de proprietário e titular de um direito real.
Confusão Imprópria → reúnem-se na mesma pessoa as qualidades de devedor e
garante da obrigação.
7.7.1. Pressupostos da confusão
- reunião na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor ( ocorrerá
em virtude da aquisição por uma das partes da posição que a outra ocupava
no crédito/ débito, ou em virtude da aquisição conjunta por um terceiro
das posições que ambas as partes ocupavam na obrigação)
- não se verifique a pertença do crédito e da dívida a patrimónios
separados ( o art. 872º determina a não verificação da confusão);
81
- que não haja prejuízo para os direitos de terceiro ( 871º.1 - a confusão
justifica-se por não haver necessidade jurídica de manter a obrigação, como
instrumento de colaboração intersubjetiva).
8. Garantia Geral das Obrigações
O direito de crédito, recebe a proteção do direito. Essa proteção denomina-se de
garantia das obrigações .
Garantia das obrigações → a ordem jurídica assegura ao credor os meios
necessários para realizar o seu direito em, caso de incumprimento por parte do
devedor.
Garantia Geral - é representada pelo património do devedor.
Garantias Especiais - reforço da garantia geral que pode consistir ou na atribuição
a outra pessoa da responsabilidade pela dívida.
➛garantias pessoais ( atribuição a uma pessoa da responsabilidade pela dívida);
➛ garantias reais ( atribuição a um dos credores da preferência na satisfação do
seu crédito sobre determinado bem, que pode pertencer ou não ao património do
devedor)
A garantia geral é comum a todos os credores e consiste na “ possibilidade de estes
se pagarem em pé de igualdade à custa do património do devedor” ( 601º).
Efetivamente os credores contam apenas para a satisfação dos seus créditos com a
82
possibilidade de executar o património do devedor e proceder á venda judicial dos
seus bens para se pagarem com o produto dessa venda. Por isso mesmo, a posição
dos credores comuns é a de plena igualdade entre si ( par condctio creditorium) ,
verificando-se a insuficiência do património do devedor, ela repercute-se
proporcionalmente em cada um dos créditos.
8.1. Meios de conservação da garantia geral
8.1.1. A declaração de nulidade
O primeiro dos meios de conservação da garantia patrimonial que a lei atribui aos
credores é a declaração de nulidade ( 605º), consiste na faculdade de os credores ,
poderem vir invocar em tribunal a nulidade dos atos praticados pelo devedor. Fica
assim esclarecido que o artigo 605º , atribui aos credores legitimidade para invocar
a nulidade de qualquer ato praticado pelo devedor que os possa prejudicar,
independentemente do momento em que esse ato ocorreu ou das suas
consequências para o património do devedor. A lei esclarece que a declaração de
nulidade aproveita, não apenas ao credor que haja invocado, mas também a todos
os demais ( 805º.2).
8.1.2. Ação sub-rogatória
Previstos nos arts. 606º e ss., nestes artigos temos a:
→ ação sub-rogatória indireta: meio de conservação da garantia geral
representado pela possibilidade que os credores têm de exercer contra terceiro os
direitos de conteúdo patrimonial que competem ao devedor mas que não atribui
qualquer preferência no pagamento aos credores que a ela recorram uma vez que é
exercida em proveito de todos os credores ( 609º);
→ ação sub-rogatória direta: possibilidade conferida a algum ou alguns credores
de exercerem em proveito próprio os direitos que competem ao devedor, para
obterem imediatamente a satisfação dos seus créditos, o que lhes atribui
preferência no pagamento sobre os restantes credores.
Pressupostos da ação sub-rogatória:
A lei estabelece no artigo 606º, os pressupostos da ação sub rogatória:
83
i) omissão pelo devedor de exercer os seus direitos
Reação do credor contra uma conduta omissiva do devedor, pelo que, se o
devedor vir a atuar positivamente em ordem a prejudicar o credor, a via adequada
para este reagir já não será a da ação sub-rogatória, mas a da impugnação pauliana
ou do arresto. Já é permitido o exercício da sub-rogação em relaçã oa direitos
sujeitos a condição ou a prazo, desde que o credor se encontre em condições de
demonstrar que tem interesse em não aguardar pela verificação ou pelo
vencimento do crédito ( 607º).
ii) direitos cujo exercício se omitiu tenham conteúdo patrimonial, não
estando esse exercício reservado ao titular
Excluem-se os direitos de natureza pessoal, aqueles que a lei reserva ao respetivo
titular.
iii) exercício desses direitos se apresenta como essencial à satisfação ou
garantia do direito do credor
O art, 606º.2, não basta qualquer interesse do credor para que a sub-rogação possa
ser decretada, exigindo-se a sua essencialidade para a satisfação ou garantia do
direito do credor.
Regime:
Conforme se deduz ad contrarium do art. 608º, a ação sub-rogatória pode ser
exercida tanto judicial como extrajudicialmente. Exercida a sub-rogação, o artigo
609º, determina que esta aproveita a todos os credores, não atribui a qualquer
preferência no pagamento ao credor que a ela recorre, mas antes determina o
ingresso dos bens obtidos no património do devedor.
8.1.3. Impugnação pauliana
A impugnação pauliana pelo credor dos atos do devedor que o possam prejudicar (
610º e ss.), consiste num meio de conservação da garantia geral, destinada a
permitir aos credores reagir contra os atos do devedor que se apresentam como
lesivos dessa garantia. Essa reação dos credores é admissível quer em relação à
primeira alienação do devedor ( 610º e ss.), quer alienações subsequentes efetuadas
pelo adquirente dos bens ( 613º).
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Pressupostos da impugnação pauliana ( em relação à primeira alienação)
Nos termos dos arts. 610º e ss. a impugnação pauliana tem os seguintes
pressupostos:
- realização pelo devedor de um ato que diminua a garantia patrimonial
do crédito e não seja de natureza pessoal.
è a realização pelo devedor de atos que impliquem diminuição da garantia
patrimonial do crédito. Efetivamente ao contrário da ação sub-rogatória, que
permite ao credor reagir contra as omissões do devedor, a impugnação pauliana é
dirigida contra os atos praticados por ele, destinando-se a impedir que esses atos
possam afetar a garantia patrimonial do crédito. Estão assim em causa atos:
➜negativos no patrimônio( doação de um imóvel)
➜ a umento do seu passivo ( assunção de uma dívida de outrem);
- anterioridade do crédito em relação ao ato ( sendo ele posterior, prática
do ato dolosamente com o fim de impedir a satisfação do futuro credor)
Aquando da constituição do crédito, o credor toma normalmente em
consideração a situação patrimonial do devedor, pelo que é com essa situação que
deve poder contar para efeitos da garantia geral. Admite-se que o credor possa
reagir contra posteriores atos do devedor que afetem essa garantia, já dificilmente
se compreenderia que a sua reação se estendesse aos atos anteriores à constituição
do crédito.
A lei admite, uma excepção que consiste na circunstância de o ato ter sido
realizado dolosamente com o fim de prejudicar a satisfação do direito do fundo do
credor.
A lei resolve a questão da anterioridade em relação aos créditos ainda não exigíveis
ou sujeitos a condição suspensiva, no momento em que o ato é praticado ( 614º).
Relativamente a circunstância de o crédito ainda não ser exigível a lei estabelece
que tal não obsta ao exercício da impugnação ( 614º.1). Mas já relativamente ao
crédito sujeito a condição suspensiva, exclui-se a impugnação admitindo-se apenas
o credor possa exigir a prestação de caução ( 614º.2).
- natureza gratuita do ato ( ou sendo ele oneroso a ocorrência de má fé
tanto do alienante como do adquirente)
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A lei não exige um específico “consilium fraudis” por parte do alienante e do
adquirente. Relativamente aos atos gratuitos, a impugnação pauliana procede,
mesmo que o devedor e o terceiro tenham de boa fé ( como nas doações).
Quando a alienação é a título oneroso, a impugnação pauliana só pode proceder,
se o devedor e o terceiro adquirente tiverem agido de má fé, considerando a lei
como má fé a consciência do prejuízo que o ato causa ao credor ( 612º.2).
- impossibilidade de o credor obter a satisfação integral do crédito ou
agravamento dessa impossibilidade
Previsto no 610º.b, cabe salientar que a demonstração deste requisito não tem que
ser realizada pelo credor, uma vez que é ao devedor ou a terceiro interessado na
manutenção do ato que cabe a prova que o obrigado possui bens penhoráveis de
igual ou maior valor ( 611º).
Pressupostos da impugnação pauliana( em relação às transmissões posteriores)
O art. 613º.1 exige apenas para admitir essa nova impugnação que se verifiquem
os seguintes pressupostos:
- que relativamente à 1ª transmissão se verifiquem os requisitos de
impugnabilidade acima referidos;
- que, no caso de a nova transmissão ser a título oneroso, ocorra má fé, tanto
do alienante como do posterior adquirente.
Efeitos:
- impugnação pauliana em relação ao credor ( encontram-se referidos no
art. 616º, um aspeto importante do regime da impugnação pauliana é o de
que os seus efeitos aproveitam apenas ao credor que a tenham requerido,
616º.4, e que consequentemente, com a impugnação pauliana, não há
qualquer retorno dos bens ao património do devedor);
- impugnação pauliana em relação ao devedor e ao terceiro ( o 617º
ocupa-se dos efeitos da impugnação pauliana nas relações entre o devedor e
o terceiro. Mantém-se válido e eficaz o ato celebrado entre o devedor e o
terceiro, ocorrendo apenas uma situação de responsabilidade do devedor
perante o terceiro, em virtude de o credor ter, em consequência da ação do
devedor lesiva da garantia patrimonial, adquirido sobre o terceiro um
direito à restituição dos bens na medida do seu interesse);
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8.1.4. Arresto
O último dos meios de conservação da garantia geral é o arresto de bens do
devedor ( 619º e ss.).
Arresto → apreensão judicial de bens semelhante à penhora, e sujeita aliás mesmas
regras;
O arresto pode ser requerido sempre que o credor tenha justo receio de perda da
garantia patrimonial do seu crédito ( 619º.1). Basta, que exista um risco de o
devedor ir proceder à ocultação alienação ou dissipação dos seus bens ou que se
verifiquem quaisquer outras circunstâncias que indiquem a possibilidade de
futuro desaparecimento dos bens que constituem a garantia patrimonial do
crédito.
O arresto pode ainda ser decretado em relação ao adquirentes dos bens do
devedor, exigindo-se nesse caso que tenha sido judicialmente impugnada a
transmissão ( 619º.2).
Se o arresto for julgado injustificado ou caducar, o requerente é responsável pelos
danos causados ao arrestado, quando não tenha agido com a prudência normal (
621º). Admite-se, aliás que o requerente do arresto seja logo obrigado a prestar
caução, se tal lhe for exigido pelo tribunal ( 620º).
Decretando o arresto, os bens ficam apreendidos para a garantia do cumprimento
da obrigação, o que implica a ineficácia em relação ao requerente dos atos de
disposição de bens arrestados ( 622º.1 +819º), e a atribuição de preferência sobre
os mesmos bens a partir do arresto ( 622º.2. + 822º.2.).
8.2. Garantias especiais das obrigações
Garantias especiais → situações em que a posição do credor aparece reforçada
para além do que resultaria simplesmente da responsável patrimonial do devedor.
A garantia vai implicar que outros patrimónios para além do património do
devedor sejam sujeitos ao poder de execução do credor ( garantias pessoais) ou ter
caráter qualitativo, quando o credor adquire o direito de ser pago com preferência
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sobre outros credores em relação a bens determinados ou rendimento desses bens (
garantias reais).
É essencial à garantia especial é que um dos credores se encontre , numa posição de
benefício,quebrando-se a normal igualdade entre os credores ( pars conditio
creditorum). Caracterizam-se assim por sujeitar a um terceiro à possibilidade de
execução do seu património, em caso de não cumprimento pelo devedor.13
Os credores titulares garantias reais dizem-se a credores preferenciais mas há certos
casos de garantias especiais.
➜Separação de patrimónios: situação em que a lei prevê a sujeição de certos
bens do devedor a um regime próprio de responsabilidade por dívidas
➥exemplo:Bens comuns do casal
➜Caução: toda e qualquer garantia que, por lei decisão judicial ou negócio
jurídico é imposta ou autorizada para assegurar o cumprimento de obrigações
eventuais de amplitude indeterminada.
A prestação da caução resulta de uma obrigação ou autorização conferida por lei,
decisão judicial ou negócio jurídico e tanto pode concretizar-se através de
garantias pessoais como através de garantias reais.
Relativamente à caução imposta ou autorizada por lei, sempre que esta não
especifique a espécie que ela deve revestir ( 623º.1), determina que a garantia pode
ser prestada por meio depósito. Apenas se nenhum destes meios puder ser
utilizada é lícita a prestação de outra espécie de fiança, desde que o fiador renuncie
ao benefício a excussão ( 623º.2), cabendo ao tribunal apreciar a idoneidade da
caução ( 623º.3.).
Pode ocorrer que a caução após prestada se torne insuficiente ou imprópria, por
causa não imputável ao credor. Neste caso, a lei atribui-lhe o direito de exigir que
esta seja reforçada ( 626º).
➜ Cessão de bens aos credores: exercício consensual da responsabilidade
patrimonial do devedor já que através dela o devedor permite aos credores o
exercício de poderes de administração e disposição do seu património por forma a
13
As garantias reais caracterizam-se por possibilitarem ao credor obter o pagamento preferencial do seu crédito pelo
produto da venda de bens determinados ou de rendimentos desses bens.
88
obterem ao pagamento dos seus créditos, sem terem que recorrer à ação executiva (
831º e ss.).
- Forma: em virtude dos poderes que concede aos credores, a cessão de bens
ao credores é sujeita forma especial, já que o 832º., determina que ela seja
realizada por escrito.
- Objeto: o 831º refere que ele pode consistir em todo o património do
devedor ou apenas em parte dele, o que implica que o objeto do negócio
terá que corresponder a uma universalidade patrimonial.
- Efeitos: i) transmite-se para os cessionários os poderes da administração e
disposição dos bens objeto da cessão ( 834º.1)
ii) restringe a possibilidade de se instaurarem execuções sobre esses
bens, a partir do momento em que a cessão é celebrada, apenas os titulares
de créditos anteriores podem executar esses bens até à data da sua alienação.
Nem os cessionários nem os credores posteriores à cessão podem instaurar
qualquer execução sobre os bens cedidos ( 833º).
- Extinção: ela normalmente ocorrerá com a liquidação do património e
pagamento aos credores, só nessa altura. O 835º, refere que o devedor só
fica liberado em face aos credores a partir do recebimento da parte que a
estes compete no produto da liquidação que receberam.
Desistir a todo o tempo da cessão apenas pode acontecer se cumprir as
obrigações que está adstrito para com os cessionários esclarecendo, no
entanto, que essa desistência não tem efeito retroativo ( 836º).
8.3. Garantias Pessoais
➜ Fiança
O artigo 627º ocupa-se da noção de fianºa. A situação do fiador, é a de garante da
obrigação com o seu património pessoal.
Fiança → garantia pessoal das obrigações, através da qual um terceiro assegura a
realização de uma obrigação do devedor, responsabilizando-se pessoalmente com o
seu património por esse cumprimento.
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A fiança abrange todo o património do fiador, embora possa por limitação
convencional ser restringida a alguns dos seus bens ( 602º). Se não for estabelecido
qualquer critério para a determinação das obrigações a afiançar, o negócio não
poderá deixar de ser considerado nulo por indeterminabilidade do objecto ( 280º).
Forma:
O 628º.1., vem a estabelecer que a forma de prestação de fiança é a forma exigida
para a obrigação principal ainda que se exija a declaração expressa do fiador. Não
fazendo a lei exigência semelhante relativamente à declaração da outra parte no
contrato de fiança, seja ela o devedor ou o credor, estas estão naturalmente sujeitas
ao regime da consensualidade ( 219º).
Características da Fiança:
- Acessoriedade ( aparece referida no 627º.2, significa que a obrigação do
fiador se apresenta na dependência estrutural e funcional. O 631º.1
refere-se que a fiança não pode exceder nem ser contraída em condições
mais onerosas, ficando sujeita à redução tal venha a suceder ( 631º.2).A
invalidade da obrigação principal ( nulidade/ anulabilidade) acarreta
também a invalidade da fiança- 632º.1);
- Subsidiariedade ( possibilidade que do fiador de invocar o benefício da
excussão, como no 638º. O 639º refere que a subsidiariedade opera
mesmo,existindo garantias reais constituídas por 3º antes da fiança, já que o
fiador tem igualmente o direito de exigir a execução prévia das coisas sobre
que recai a garantia geral. O 639º refere que a subsidiariedade da fiança
opera mesmo existindo garantias reais constituídas por 3º antes da fiança, já
que o fiador tem igualmente o direito de exigir a execução prévia das coisas
sobre que recai a garantia real);
Relações entre credor e fiador:
O credor pode exercer perante o fiador os mesmos direitos que tem perante o
devedor, quer estes respeitem à ação do cumpriento, quer à indemnização por
incumprimento, mora ou cumprimento defeituoso.
Os meios de defesa dispostos pelo 637º, o fiador pode exercer perante o credor,
além dos meios de defesa que lhe são próprios, as excepções que competem ao
devedor, salvo se forem incompatíveis com a sua obrigação. O fiador pode assim
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utilizar perante o credor tanto as excepções respeitantes à relação de fiança, como
as excepções relativas à própria obrigação do devedor, não produzindo a renúncia
deste a essas excepções qualquer efeito em relação ao fiador ( 637º.2.. O fiador
pode ainda gozar do benefício da excussão quer em relação ao património quer em
relação ao património do devedor ( 638º(, quer em relação aos bens onerados com
garantia real anterior à fiança ( 639º).
Relações entre devedor e fiador:
O art. 644º consagra a possibilidade de sub-rogação ao determinar que resulta,
apesar da existência de uma obrigação do fiador perante o credor ( 627º.1.).Se o
devedor tiver consentido no cumprimento pelo fiador, não lhe tiver dado
conhecimento, injustificadamente dos meios de defesa que poderia opor ao credor
fica impedido de opor esses meios contra o fiador ( 647º), por razões de tutela da
boa Fé do fiador ( 647º). No entanto, o fiador poderá repetir do credor a prestação
realizada como se fosse indevida ( 645º.2.). A lei admite ainda que o fiador possa,
em certos casos, exigir a sua liberação ou a prestação de caução ( constam do 648º).
Pluralidade de fiadores:
Depreendido dos arts. 649º e 650º. Se cada fiador decidiu isoladamente afiançar o
devedor, o princípio responde cada um pela satisfação integral da dívida ( aplicável
o regime das obrigações solidárias). Tal só não correrá se tiver sido convencionado
entre as partes o benefício da divisão ( 649º.1). Se os fiadores se obrigaram
conjuntamente, ainda que em momentos diferentes, então cada um deles poderá
invocar o benefício da divisão respondendo apenas pela sua parte na obrigação (
649º. 2 e 3).
Cada um dos fiadores ser responsável pelo cumprimento integral da obrigação, o
facto de um deles vir a efetuar esse cumprimento não apenas da obrigação, o facto
de um deles vir a efetuar esse cumprimento não apenas investe nos direitos do
credor contra o devedor por via de sub-rogação, mas também no direito de
regresso sobre outros fiadores com as regras das obrigações solidárias ( 650º.1.).
Extinção da fiança:
A fiança extingue-se quando se extinguir a obrigação principal ( 651º).Se a
obrigação principal for a prazo e se o fiador gozar do benefício da excussão pode
exigir, vencida a obrigação que o credor proceda contra o devedor no prazo de 2
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meses, a contar do vencimento sob pena de a fiança caducar, não terminando no
entanto esse prazo sem que tenha decorrido um mês sobre a notificação ( 652º.1.).
Se a obrigação principal for pura, o fiador goza do benefício da excussão tem
possibilidade tem a possibilidade de exigir a interpelação do devedor a partir do
momento em que haja decorrido + de 1 ano da assunção da fianºa ( 652º.2.). A lei
prevê ainda que o fiador fique exonerado pelo facto, de em virtude da conduta do
credor, ter perdido a possibilidade de sub-rogação nos direitos do credor contra o
devedor, ocorrendo essa exoneração mesmo que se verifique a solidariedade entre
fiadores ( 653º).
A lei tem o cuidado de instituir um prazo supletivo para a obrigação do fiador no
caso da fiança para a garantia de obrigação futura ( 654º). ALém de se admitir ao
fiador a possibilidade de se liberar da garantia se a situação patrimonial do
devedor se agravar em termos de pôr em risco os seus direitos contra este,
admite-se que essa liberação ocorra se tiverem decorridos 5 anos sobre a prestação
de fiança ( 654º).
➜ Subfiança
Prevista no art. 630º, encontramos nesse mesmo artigo a qualificação de sub
fiador.
Subfiança → uma fiança como qualquer outra aplicável as disposições referidas à
fiança, mas em relação ao benefício da excussão estabelece-se que o sub fiador
beneficia deste, tanto em relação ao fiador como em relação ao devedor ( 643º).
Resulta da subfiança que o sub fiador apenas a fiança o fiador perante o credor (
630º), que se estende que a sua garantia não se deve considerar extensiva a outros
fiadores, salvo quando tal seja estipulado.
➜ Retrofiança
Retrofiança → fiança destinada a garantir o eventual crédito que o fiador venha
a adquirir sobre o devedor em consequência da sub-rogação legal que se opera,
caso venha a satisfazer essa obrigação ( 644º + 592º).
Esta está sujeita ao regime geral dos art. 627º e ss.
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➜ Mandato de crédito
Mandato de crédito → contrato em que uma das partes assume perante outra a
obrigação de conferir crédito a um 3º, em nome e por conta própria, passando o
autor do encargo a garantir esse crédito como fiador (629º).
8.4. Garantia autónoma
Garantia autónoma → ocorre quando determinada entidade vem garantir
pessoalmente a satisfação de uma obrigação assumida por 3º, independenteme da
validade de uma obrigação e dos meios de defesa que a ela possam ser opostos,
resultando do princípio da autonomia privada ( 405º).
Modalidades:
- garantia autónoma simples ( partes limitam-se a prever a autonomia da
obrigação do garante em relação à existência, validade ou excepções
oponíveis ao crédito garantido apenas a oponibilidade de exceções próprias
da relação de garantia);
- garantia à primeira solicitação ( partes estipulam ainda que o garante não
porá qualquer excepção à exigência da garantia, mas antes a satisfará
imediatamente sem discussão logo que seja solicitado ao credor);
Forma:
Deverá ser exigida a forma escrita para a declaração do vinculado à garantia
autónoma. Relativamente à declaração de aceitação por parte do beneficiário não
será de exigir forma especial ( 219º), podendo a aceitação ser meramente tácita (
217º + 234º).
Regime:
A garantia autónoma institui uma:
➛ relação triangular, que contém nela ...
- relação de cobertura ( entre o garantido, dador de ordem e garante, em que
há uma um compromisso entre o garante e o garantido pelo qual aquele se
compromete a emitir uma garantia favor da pessoa que venha a ser
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designada por este, exigindo como contrapartida o pagamento de uma
comissão);
- relação de atribuição ( entre o dador de ordem e o beneficiário da garantia
que justifica a sua concessão);
- relação de execução ( entre o garante e o beneficiário da garantia, que
consiste precisamente na prestação da garantia. O garante vincula-se a
prestar ao beneficiário a garantia nos termos exatos em que se obrigou
perante o dador da ordem. Estamos perante um verdadeiro contrato, uma
vez que se exige a aceitação do beneficiário ainda que esta possa ser tácita
pelos termos do 217º).
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