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Duarte Canau
Índice:
3. O Procedimento Administrativo …
…………………………………………………………………………………………………….……29
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4.5. Procedimento Regulamentar……………………… ………………………………………………………………………………………….
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1. O Direito Administrativo como Direito Constitucional concretizado
O Estado Novo era de matriz francesa e não protegia os particulares, tal como
estudámos no semestre passado (os articulares só tinham acesso aos tribunais
administrativos depois de terem recorrido a todos os outros institutos; havia uma
limitação dos direitos dos particulares; o contencioso meramente anulatório, etc),
ao passo que a Constituição da República Portuguesa assegura aos particulares
direitos fundamentais face à Administração, nomeadamente nos artigos 266º e
seguintes, relativos à chamada Constituição Administrativa ou da Administração
Pública. Assim, com esta passagem de Administração agressiva para uma
Administração interventiva, os institutos do Contencioso Administrativo do
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Estado Novo foram postos em causa. Este exemplo refuta aquela tese de que o
Direito Constitucional passa, e o Direito Administrativo permanecesse. Não é
verdade, temos uma uma dependência do Direito Administrativo face ao Direito
Constitucional, visto que é a Constituição legítima e limita a actuação da
Administração Pública.
Assim, teremos uma Administração mais interventiva se a Constituição de
cariz socialista ou comunista, ou menos interventiva se a Constituição for liberal
ou conservadora.
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Administrativo enquanto domínio privilegiado de realização dos direitos
fundamentais pois é preciso que existam os meios contenciosos adequados, de
forma a assegurar a sua tutela plena e efectiva.
Por outro lado, a extensão da protecção jurídica no que respeita ao acesso aos
tribunais e a processo judicial deve ser vista como a concretização de um programa
de extensão dos direitos fundamentais materiais. Assim, a consideração dos
direitos fundamentais como direitos subjectivos com uma eficácia procedimental
permite garantir a respectiva protecção jurídica ainda antes da intervenção dos
tribunais.
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A Constituição Portuguesa estabelece um Contencioso Administrativo
integralmente jurisdicionalizado e destinado à tutela plena e efectiva dos direitos
dos particulares nas relações jurídicas administrativas, conforme decorre das
disposições dos 202º e seguintes e números 4 e 5 do art.268º.
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Consequências práticas do Princípio da Prossecução do Interesse Público:
- É a lei que define os interesses públicos a cargo da Administração não pode
ser a Administração a defini-los ( salvo se a lei a habilitar para o efeito);
- Uma noção de conteúdo variável ( o que ontem foi considerado conforme
ao interesse público pode hoje ser-lhe contrário);
- A prossecução obrigatória da Administração ( visto ser essa mesma
atividade que justifica a autonomização da administração no quadro das
funções do Estado);
- Princípio da Especialidade ( interesse público delimita a capacidade jurídica
das pessoas coletivas);
- Desvio de Poder ( só o interesse público definido por lei pode constituir
motivo principalmente determinante de qualquer ato da Administração. Se
a Administração praticar um ato que não tenha o interesse público este será
ilegal e inválido);
- Corrupção ( prossecução de interesses privados em vez do interesse público
por parte de qualquer órgão/ agente administrativo no exercício das suas
funções, acarretando sanções quer administrativas quer penais);
- Dever da Boa Administração ( obrigação de prosseguir o interesse público
exige que a Administração adote para cada caso concreto as melhores
soluções possíveis do ponto de vista Administrativo);
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Exemplo: Não é possível ir a tribunal obter a declaração de que determinada
solução não é a mais eficiente, os tribunais só podem pronunciar-se sobre a
legalidade das decisões administrativas
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bloco legal, como diz Hauriou: Constituição, Lei Ordinária, Regulamento,
Contrato Administrativo;
A violação por parte da Administração Pública implica a violação da legalidade (
hoc sensu ) e constitui ilegalidade.
Modalidades:
i) Preferências de Lei (nenhum ato de categoria inferior à lei pode contrariar o
bloco da legalidade, sob pena da ilegalidade);
ii) Reserva de Lei ( nenhum ato de categoria inferior à lei pode ser praticado sem
fundamento no bloco de legalidade);
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princípio da legalidade cobre todas as manifestações, a Administração só pode
fazer aquilo que lei lhe permitir que faça. Wolff o princípio da legalidade só se
aplica à administração agressiva. Quanto à constitutiva o princípio da legalidade
aplicar-se-á na sua formulação tradicional.
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O Professor Freitas do Amaral diz que nenhum dos 3 pode ser considerado exceção
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A Administração Pública fica dispensada de seguir o processo legal e pode agir
sem forma de processo, mesmo que isso implique o sacrifício de direitos/
interesses dos particulares. Posteriormente terá de indemnizar os particulares
cujos direitos tiverem sido sacrificados ( ex: 3º.2 CPA).
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Sem dúvida que é um ato de autoridade, uma decisão unilateral que define o
direito no caso concreto;
É importante fazer uma ressalva de que os atos são sempre um resultado de uma
mistura entre o exercício de poderes vinculados e discricionários. O que fará
sentido nos atos é indagar em que medida estes são vinculados ou discricionários.
exemplo: No caso acto tributário, a vinculação é quase total, mas ainda há uma
pequena zona em que existe discricionariedade ( um prazo). Assim na linguagem
corrente estaríamos a falar de atos predominantemente vinculados ( também se
podendo falar no mesmo mas para atos discricionários).
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Natureza:
Para haver discricionariedade é necessário que a lei atribua à Administração o
poder de escolha entre várias alternativas de decisão diferentes. Importa apurar se
essa escolha é livre. Pode o órgão escolher livremente qualquer uma das várias
soluções?
A escolha da decisão a tomar não está apenas condicionada pela competência do
órgão decisório e pelo fim legal. A realidade dos nossos dias demonstra que tal
escolha é sobretudo condicionada e orientada por ditames que fluem dos
princípios e regras gerais que vinculam a Administração Pública, estando o órgão
administrativo obrigado a encontrar a melhor solução para o interesse público.
Engisch acentua que na discricionariedade apesar de a norma abrir à
Administração a faculdade de escolha entre várias alternativas possíveis, “ o
exercício do poder de escolha deve ir endereçado a um escopo e resultado da
decisão que é o “único ajustado”.
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Vemos também a liberdade probatória, em que a Administração para tomar uma
dada decisão tem de apurar a verificação dos pressupostos da mesma, a luz dos
meios de prova existentes. Temos também a justiça burocrática, em que a
Administração tem de avaliar pessoas ou comportamento com base em critérios de
justiça material ( ex: classificação de exames escolares).
Fundamento:
Porque é que em certos casos a lei regula o exercício dos poderes administrativos
com grande minúcia e noutros casos remete a decisão para outro órgão
administrativo?
A minuciosidade completamente precisa é impossível e mesmo inconveniente . Na
maioria dos casos o legislador reconhece que não lhe é possível prever
antecipadamente todas as circunstâncias em que a Administração vai ter de atuar.
O poder discricionário visa, assegurar o tratamento equitativo dos casos
individuais , como diz o prof. Vieira de Andrade, não é um mal necessário que
deva ser reduzido ao mínimo, antes desempenha um papel positivo e
indispensável, quer para a realização do interesse público, quer para a defesa
adequada dos interesses dos particulares.
Engisch defende que o poder discricionário, pode ser considerado como a melhor
solução, aquela em que, dentro de determinados limites, alguém, olhando como
pessoa consciente da sua responsabilidade, faça valer o seu próprio “ ponto de
vista”. Juridicamente fundamenta-se no:
- princípio de separação de poderes;
- conceção do Estado Social de Direito;
Âmbito:
Os aspetos que podem ser de discricionariedade são os seguintes:
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- momento da prática do ato ( A Administração terá a faculdade de praticar
o ato agora/mais tarde, conforme melhor entender);
- decisão de praticar ou não um certo atoadministrativo;
- determinação dos factos e interesses relevantespara a decisão;
- determinação do conteúdo ( discricionariedade de escolha de uma entre
várias condutas positivas possíveis - discricionariedade optativa ( preditas
em alternativa na norma) / discricionariedade criativa ( núcleo mínimo
identificador do género da medida);
- formaa adoptar para o ato administrativo;
- formalidadesa observar na prática do ato ;
- fundamentação ou não da decisão ( casos em que ela não imponha tal
obrigação, é discricionária a decisão de fundamentar ou não o ato- 124º);
- faculdade de apor c ondições, termos, modos ( 149º CPA);
Limites:
- limites legais ( resultam da própria lei. A lei estabelece que mais ou menos
limitações conforme entender -266º.1),
- autovinculação:
i) no âmbito da discricionariedade esta pode ser exercida caso a caso, adotando a
cada uma solução que lhe parecer mais ajustada ao interesse público;
ii) na base de uma previsão do que poderá vir a acontecer a Administração pode
elaborar normas genéricas em que enuncie a que ela própria obedecerá na
apreciação de cada caso futuro;
Pelo facto de a Administração estar vinculada ao respeito das normas que ela
própria elaborou, ela não fica absolutamente impedida de fundamentalmente
mudar o critério na apreciação de casos. O CPA ( 152º.1.d ) não impõe à
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Administração o dever de “ decidir de modo idêntico casos semelhantes”. O CPA
admite que ela decida de modo diferente mas impõe que esta terá de explicar as
razões que a levaram a mudar de critério. A possibilidade de autovinculação da
Administração Pública não pode ser ilimitada , sob respeito do artigo 112º.5 CRp,
o instrumento normativo através do qual se auto vincula não pode
cumulativamente ter eficácia externa e interpretar/ revogar preceitos legais.
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Impugnação de atos discricionários ( como atacar uma ato administrativo
discricionário):
- competência ( a competência do órgão é sempre vinculada);
- vício da forma ( preterição de formalidades essenciais que devessem ser
observadas antes de tomada a decisão);
- violação da lei ( ofensa de quaisquer limites impostos ao pdoer
discricionário);
- fundamento em quaisquer defeitos de vontade ( como no erro de facto);
Outras figuras afins:
- Interpretação de conceitos indeterminados:
Impõe um problema complexo da relação entre a discricionariedade e a
interpretação de conceitos jurídicos indeterminados.
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tona-as juridicamente obrigatórias. Há uma vinculação jurídica a normas
extrajurídicas.
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- imposição expressa do limite do respeito pelos direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos às atividades de natureza policial, com objeto a
prevenção de crimes contra a segurança do Estado ( 272º.3 CRP);
- alargamento constitucional da responsabilidade civil da Administração
( 22º CRP);
- concessão do direito de acesso dos particulares ao Provedor de Justiça a
fim de prevenir e reparar injustiças ( 23º CRP);
exemplo: Se a lei disser que ao fim de 5 anos de serviço um funcionário tem direito
a um subsídio, isso significa que o funcionário pode pedir a concretização legal
deste direito, que é visto como um direito subjetivo.
exemplo: A lei estabelece que para preencher um lugar de professor tem de realizar
um concurso legal e preencher determinadas condições legais.Se concorre com 2
outras pessoas,1 ganha e não preenche as condições legais, a pessoa que tem um
direito prejudicado, essa pessoa fica prejudicada ilegalmente. A decisão sobre a
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proteção deste direito, finda-se pela proteção de um interesse legalmente
protegido;
Tipos de interesses:
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- diferenciados ocasionais2/ reflexamente protegidos3 ( não são objeto de
qualquer intenção normativa de proteção. A legalidade vigente visa
tutelá-los nem em primeira nem em segunda linha. Exemplo: os
importadores de certo produto, que podem ser beneficiados com a
proibição de importação por concorrentes);
- semidiferenciados ( compreendem os interesses coletivos , ou seja da
generalidade dos residentes de determinada circunscrição- artigo 68º.1 e 3
CPA);
- difusos ( interesses desprovidos de radicação subjetiva, que cabem a um
grupo muito vasto de pessoas, não sendo desse modo divisíveis);
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Vieira de Andrade
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Marcelo Rebelo de Sousa e André Salgado de Matos
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Amaral), o princípio da igualdade abrange no seu conteúdo, fundamentalmente,
duas vertentes:
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O princípio da igualdade, tanto hoje como ontem, constitui um importante limite
que não só os tribunais como a própria Administração Pública deve observar na
sua atividade. As diferenças de tratamento devem radicar em critérios que
apresentem uma conexão bastante com os fins a prosseguir com a regulação
jurídica. Este princípio surge, assim, enquanto limitação ao exercício de poderes
discricionários da Administração, de tal modo que esta apena os pode utilizar de
modo uniforme em circunstâncias idênticas [124º.1. d), CPA].
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Desta definição e do art. 7.º do CPA podemos retirar três pressupostos essenciais
do princípio:
i) adequação: significa que as medidas tomadas devem ser ajustadas ao fim que
se pretende atingir.
ii) necessidade: pressupõe que a medida seja aquela que lese em menor medida os
direitos e interesses dos particulares. Deste modo, do ponto de vista do princípio
da proporcionalidade a medida administrativa necessária é a que corresponder à
menos lesiva.
iii) equilíbrio (proporcionalidade stricto sensu). Este pressuposto exige que os
benefícios que se espera alcançar com uma medida administrativa adequada e
necessária para suportar , à luz de certos parâmetros materiais, os custos que ela
por certo acarretará (art. 7.º, n.º 2, CPA).
Se uma medida não preencher, portanto, estes requisitos acima expostos, se não
for adequada, necessária e equilibrada, trata-se de uma média ilegal por não
respeitar o princípio da proporcionalidade.
Fica, deste modo, claro que o princípio da proporcionalidade é uma das pedras
basilares no que toca aos princípios da atividade administrativa, a par daqueles
que se encontram, quer de forma explícita, quer de forma implícita, na CRP ou
no CPA e que funcionam como limites e reguladores da Administração Pública.
Posto isto, existem dois princípios concretizadores da boa fé,são eles: o princípio
da primazia da materialidade subjacente e o princípio da tutela da confiança. O
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primeiro tem a sua positivação no artigo 6º do CPA, pelo que aquilo que se
encontra aqui implícito é que deve "ponderar-se o objetivo visado com a atuação
empreendida" ou seja, quer isto dizer que a administração estando adstrita ao
princípio da boa fé não poderá aproveitar-se de uma ilegalidade cometida por um
particular para alcançar um objetivo visando os meios mais prejudicados, pois
vejamos, se um particular pagar a renda faltando, porém, poucos cêntimos para a
totalidade da mesma, a administração não poderá simplesmente executar uma
ordem de despejo, uma vez que nesse caso estaria a violar quer o princípio da
proporcionalidade,quer o princípio da boa fé. Neste caso concreto, poderíamos
ainda invocar o abuso de direito, na medida em que ainda que seja da competência
da administração pública exercer ordens de despejo, seria, efetivamente, um abuso
de direito da sua parte fazê-lo perante uma situação como a invocada acima,
porém, alguns autores são da opinião de que o abuso de direito poderá estar
implícito no princípio da proporcionalidade, não se falando então em abuso de
direito.
Por fim, importa referir o princípio da tutela da confiança, que por sua vez irá ao
encontro de todos os já mencionados, na medida em que pretende igualmente
proteger os particulares do exercício infundado e inesperado de atos provindos da
administração pública.
- investimento de confiança;
- nexo de causalidade;
-frustração da confiança.
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exemplo, encontram-se, efetivamente, todos os pressupostos da tutela da
confiança, bem como a violação da mesma por parte da administração, pelo que o
particular poderia, efetivamente, analisando os pressupostos da responsabilidade
civil (facto, ilicitude, dano, culpa e nexo de causalidade), pedir uma indemnização,
porém o ato exercido pela administração pública jamais poderia ser anulado, na
medida em que se constitui um ato necessário de natureza pública.
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interesses protegidos pela ordenamento jurídico relevantes na decisão, tem como
objetivo essencial o de assegurar a concórdia da atuação administrativa com o
sistema normativo, e consequentemente à ideia de justiça.
No artigo 9º CPA encontramos o princípio da imparcialidade. Também na CRP,
no seu artigo 266º encontramos referência ao princípio então abordado,
conjugado com outros principio fundamentais ao Direito Administrativo,
nomeadamente: princípio da proporcionalidade, igualdade e justiça.
Neste sentido, António Francisco de Sousa afirma que a consagração destes
princípios contribuiu para um bom relacionamento da Administração Pública
com os cidadãos que com ela se relacionam, bem como com os que dela são parte
integrante na execução de funções.
Assim sendo, o princípio da imparcialidade significa que a Administração Pública
deve tomar as suas decisões tendo por base critério objetivos e de interesse público,
sendo que as decisões não podem ter em influência os interesses pessoais da pessoa
ou órgão que emana a decisão, nem os interesses políticos do governo.
Segundo Diogo Freitas do Amaral, o princípio aqui retratado apresenta duas
vertentes:
- Vertente Positiva:
A imparcialidade relaciona-se com a obrigatoriedade da Administração Pública
ponderar todos os interesses, sejam eles de carácter público ou privado, que sejam
importantes para uma tomada de decisão, e sendo assim respeitando o princípio
da persecução do interesse público, proteção dos cidadãos e proteção dos direitos.
Todas as decisões da Administração Pública podem ser anuladas em sentença,
sempre que nos atos praticados pela AP não tiverem sido ponderados todos os
interesses relevantes para a questão, sendo que estamos perante um caso de vício
na decisão.
No centro desta questão, Diogo Freitas do Amaral entende que a relação entre
imparcialidade e justiça não se resume a uma mera ideia de busca pela solução mais
justa para o caso concreto (princípio da justiça), mas sim que a preocupação do
legislador nesta matéria se prendeu com o não existirem dúvidas de que a decisão
da Administração não seguiu os critérios da imparcialidade.
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Também António Francisco de Sousa nos diz que a violação deste princípio gera
uma violação da lei que a regula, tendo em conta o consagrado não só no CPA,
como também na CRP.
Este princípio constitui assim um limite ao exercício do poder discricionário que
visa proteger os cidadãos da Administração, e também proteger a Administração
dos funcionários que a integram.
- Vertente Negativa:
Nesta segunda vertente, o conceito de imparcialidade significa que os agentes
dotados do poder de tomar a decisão não podem estar relacionadas com casos que
envolvam interesses pessoais, familiares e de interesses relacionados com todos
aqueles que os relacionam proximamente, numa perspetiva mais emocional, como
determinam os artigos 69º a 76º do CPA. Assim sendo, através da suspeição e do
impedimento, é possível garantir a correção da sua conduta.
O artigo 76º do CPA estatui as consequências para com as normas que tratam a
imparcialidade:
- Todos os atos e contratos administrativos em que intervenha um órgão ou
agente impedido de intervir, ou em relação ao qual tenha sido declarada
suspeição, serão anuláveis nos termos do artigo 76º/1 do CPA;
- Perda de mandato de todos os membros de órgãos autárquicos que violem as
garantias de imparcialidade da Administração.
- Existência de uma falta disciplinar grave, nos termos do artigo 76º/2 do CPA,
para os órgãos ou agentes que não comunique ao responsável pela direção do
procedimento que se encontram numa situação de impedimento.
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3. O Procedimento Administrativo
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informações e na formação e manifestação da vontade de órgãos da Administração
Pública.
De acordo com o n.º 3 do novo artigo 2.º, existe uma submissão da Administração
Pública aos princípios gerais da atividade administrativa sendo que o legislador
ordinário não pode dispensar a Administração Pública do cumprimento:
a) Das disposições do CPA concretizadoras de normas constitucionais;
b) Dos princípios gerais do CPA que, em rigor, são mais do que princípios da
atividade administrativa
Por fim, a norma do n.º 5 sobre aplicação supletiva torna mais claro que, na
relação com os procedimentos administrativos especiais, todas as normas de
conteúdo das garantias do CPA – e não apenas as que densificam direitos
fundamentais dos administrados – se aplicam na ausência de uma norma
equivalente do regime especial em apreço. Se se preferir, aplicam-se havendo
lacuna de regulamentação no regime procedimental aplicável.
Neste contexto e sob o ponto de vista do seu âmbito de aplicação o novo CPA
insere exatidões cujo sentido fundamental se traduz no seu alargamento. Nestes
termos, retiram-se do novo artigo 2.º duas coordenadas essenciais:
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b) A Parte II do Código, consagradora de regras sobre a estrutura, funcionamento
e competências dos órgãos, aplica-se apenas a estruturas tradicionais da
Administração «em sentido orgânico» cujo elenco integra a totalidade dos órgãos
da Administração direta, indireta e às entidades administrativas independentes,
hoje vistas como o «quarto bloco» da estrutura administrativa do Estado.
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3.3. Natureza Jurídica do Procedimento Administrativo
Na opinião de Freitas do Amaral, confrontam-se, a respeito da natureza jurídica
do procedimento administrativo enquanto processo ou não, duas teses opostas:
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mediatamente concorrem para atingir a finalidade do ato principal, o resultado
jurídico unitário que será o objetivo de todo o procedimento.
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Desta fase pode também resultar a tomada de Medidas Provisórias ( medidas que
se mostrem necessárias se houver justo receio de sem tais medidas, se constituir
uma situação de facto consumado ou se produzirem efeitos de difícil reparação
para os interesses públicos/ privados em presença → 89º.1 CPA). Qualquer
alteração deve ser fundamentada ( 89º.2,3 e 4 CPA) e caducam segundo os termos
do art. 90º CPA.
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Uma vez que a lei não determina qualquer critério de opção do instrutor pela
audiência escrita ou oral, compete ao director do procedimento, que goza de um
poder discricionário, decidir se a audiência prévia dos interessados deve ser escrita
ou oral (art. 122º .1 CPA).
Importa referir, que a falta de audiência prévia do interessados, nos casos em que
seja obrigatória por lei, constitui uma ilegalidade e tem como consequência a
anulabilidade (art. 163º.1 CPA).
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interessados, no processo de instrução. Caso não o tenha feito, deverá marcar-se
uma nova audiência, de âmbito meramente instrutório.
Pode também dar-se a extinção do ato pelas seguintes causas:
- desistência/ renúncia dos interessados (131º CPA),
- deserção dos interessados ( 132º CPA);
- impossibilidade/ inutilidade superveniente (95º CPA);
- falta de pagamento de taxas ( 133º CPA);
- deferimento tácito ( 130º)
3.4.6 Fase Complementar
É aquela onde são praticados determinados actos e formalidades, posteriores à
decisão final do procedimento.
- exemplo: registos, arquivos, notificação da decisão, publicação no Diário da
República, entre outras (artigo 114ºCPA).
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● de conteúdo estritamente procedimental ( consagrados nas alíneas nº 1 e
2);
Nesta modalidade permite-se que o órgão competente para a decisão final e os
interessados definam os termos do procedimento ( exemplo: definir a
interpretação de um conceito indeterminado).
Estes acordos têm também várias vantagens ( tanto para a Administração como
para os particulares):
● Flexibilização do Sistema ( ao disponibilizar a participação dos
particulares interessados, enquanto detentores de uma vontade
constitutiva, que criará um vínculo obrigacional);
● Melhor aplicação da Solução ao caso concreto ( a decisão feita por
cooperação da Administração e Particular, estará sempre melhor
consagrando um solução mais conciliadora e harmoniosa);
● Diminuição da Litigiosidade ( os seus requisitos conferem uma maior
força vinculativa e uma aumento da confiança jurídica);
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O professor designa os acordos endoprocedimentais ainda de contratos
obrigacionais, uma vez que a Administração está obrigada a emitir um certo
ato( pelo princípio p acta sunt servanda)
O novo CPA consagra este regime expressamente no seu art. 66º. Desta
consagração suscitam-se 4 grandes questões:
● Quem pode pedir auxílio?
A resposta a esta pergunta advém do proémio do art. 66º.1, podendo destacar “ o
órgão competente para a decisão final” e a possibilidade de “ a requerimento do
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particular” e também perante a “ solicitação de quaisquer outros órgãos da
Administração Pública” .
Devemos também observar alguns dos motivos que podem levar estas entidades a
pedir auxílios. Em relação ao primeiro motivo presente na alínea a do artigo 66º,
podemos desdobrar o mesmo em 2 situações principais:
i) impossibilidade legal de o órgão competente desenvolver a atividade
administrativa;
ii) deter capacidades fácticas para desenvolver a atividade instrutória;
O artigo 66º não regula também, a forma do pedido de auxílio no entanto este
deverá ser feito de acordo com os termos do artigo 64º.1, assim a forma verbal é
admissível no entanto a forma vista como preferível é a escrita.
Os órgãos dispõem de um prazo estipulado como útil na sua falta deve
considerar-se aplicado o prazo supletivo do art. 86º1 CPA, de 10 dias.
Ao art. 66º.2, aplicam-se as restrições previstas na LADA em relação à
comunicação e transmissão de documentos e dados, sendo que essa restrição pode
ser:
i) absoluta ( impedindo de forma permanente o acesso ao conteúdo dos
documentos em causa);
ii) relativo ( operam apenas durante um determinado prazo);
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determinados critérios do 2º CPA ( nomeadamente os critérios orgânicos), mas
atualmente já se aplicaria o CPA na sua totalidade;
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O professor Rui Lanceiro, diz que mesmo existindo um dever jurídico isso não
significa o órgão não possa recusar o pedido quando for justificado, como por
exemplo se não estiverem preenchidos os requisitos do artigo 66º. A possibilidade
de recusar um destes pedidos provém da competência genérica dos órgãos
administrativos.
A recusa remete para a competência decisória presente no art. 51º que define o
âmbito dos conflitos de atribuições e de competências. Convém também ver que
no caso de recusa prevista no artigo 66º.3, a tutela administrativa, prevista nesta
alínea vê 2 hipóteses de resolução para casos diferentes:
● mesma hierarquia ( 51º CPA e 66º.3 2ª parte) → o órgão superior de
hierarquia irá resolver;
Por exemplo, o Ministro da Saúde, sobrepõe-se ao Diretor Geral da Saúde.
● não estamos na mesma hierarquia ( temos pessoas colectivas diferentes -
66º.3 parte final) → quem deter superintendência irá resolver;
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A segunda modalidade destaca ainda duas configurações importantes de reter (
77º.2 e 77º.5 CPA):
● deliberativa ( emissão de 1 só ato administrativo complexo pelos vários
órgãos participantes em conjunto, substituindo os atos autónomos - 77º.3.a
CPA);
Este tipo de conferências carecem de unanimidade na decisão como dispõe o
artigo 81º 5.
● de coordenação ( emissão de um ato administrativo plural individualizado
em vários atos autónomos em simultâneo - 77º.3 CPA);
Este instituto pode ser realizado por acordo entre os órgãos envolvidos,
dependendo de lei, regulamento, contrato interadministrativo ou portaria ( 78º.1
CPA), tendo esta de ser reportada a uma situação concreta ( 79º.1 CPA), sendo
convocada no prazo de 15 dias úteis ( 79º.2 e 3 CPA).
3.5.4. Pareceres
Segundo, o professor Freitas do Amaral, os pareceres são “atos opinativos
elaborados por peritos especializados em certos ramos do saber, ou por órgãos
colegiais de natureza consultiva”.
De harmonia com o artigo 91º do Código do Procedimento Administrativo
(CPA), os pareceres são obrigatórios ou facultativos, conforme a lei imponha ou
não a necessidade de eles serem emitidos, e vinculativos ou não vinculativos,
conforme a lei imponha ou não a necessidade de as suas conclusões serem seguidas
pelo órgão decisório competente.
Segundo o artigo 92º.1 CPA , os pareceres têm determinados requisitos de forma,
nomeadamente serem, fundamentados, expressos e claros ( 92º.1 CPA) e também
requisitos no que toca ao seu prazo, observa-se que na falta de disposição especial
de um prazo será de 30 dias ( 92º.3), no entanto se o responsável fixar um prazo
este terá de respeitar os termos do art. 92º.4 CPA.
4. Regulamento Administrativo
4.1. Noção
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Regulamento → normas jurídicas emanadas no exercício do poder administrativo
por um órgão da Administração ou por outra entidade pública ou privada para tal
habilitada por lei.
A noção de regulamento compreende 3 elementos essenciais:
- material ( pois tem natureza normativa, e é encarado como uma regra da
conduta social, dotada das características da generalidade - pois se aplica a
uma pluralidade de destinatários- e abstração - pois pode se dar a
circunstância de se aplicar a 1 ou mais situações definidas pelos elementos
típicos da previsão normativa);
- orgânico-formal ( é por regra ditado por 1 órgão de 1 pessoa coletiva
pública integrante da Adm. Pública, podendo este poder característico ser
exercido por entidades que não integram a Administração há que ter uma
lei habilitante -136º.1 CPA);
- funcional ( o regulamento é emanado no exercício do poder
administrativo);
Neste artigo , notamos evidentemente que o regulamento não consta nas formas
de lei , excluindo um conceito exclusivamente material de lei.
Segundo o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, o que caracteriza a lei não é a sua
generalidade e abstracção , mas sim , o seu carácter político.
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Deste modo , não há dúvidas de que a distinção substancial entre lei e
regulamento , esta no facto de a lei partilhar de um carácter primário da função
legislativa e o regulamento partilhar de um carácter secundário da função
administrativa, estando sempre subordinado ao princípio da legalidade.
ii) Uma lei posterior revoga um regulamento que seja contrário àquilo que nela se
dispõe .
- Os regulamentos têm de ser habilitados por lei . Esta vinculação à lei pode
ser total – por exemplo , a lei que determina que o montante de uma taxa
seja anualmente actualizado por regulamento no valor decorrente da
aplicação da taxa de inflação vertida no ano anterior ou parcial - leis
habilitantes da emissão de regulamentos independentes e internos;
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- São proibidos os regulamentos retroativos , ou seja , é proibida a estatuição
de efeitos normativos para o passado . Somente nos casos em que a lei o
admite, sob pena de violação da reserva de lei;
Esta questão tem alguma importância , uma vez que o regime geral dos
regulamentos constante do CPA é muito sintético , podendo as suas lacunas
parcialmente integradas pela aplicação do acto administrativo.
- Função de complementação das leis ( visa a regulação de aspectos que a lei não
regulou directamente);
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- Organização ( incide sobre aspectos relativos à estruturação orgânica e
institucional da administração pública);
- Funcionamento( aspectos relativos à actividade interna da administração);
- Policía (disciplinam relações entre a administração pública e os particulares
, ou destes entre si);
- Fiscais (estabelecem taxas , tarifas , preços a pagar pelos particulares em
contrapartida de prestações administrativas);
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A doutrina alemã recusa aos regulamentos internos a qualidade de regulamentos administrativos . No entanto isto
não tem qualquer fundamento na ordem jurídica nacional.
46
obrigatória apenas nos procedimentos que visem a adopção de regulamentos
desfavoráveis para os seus destinatários.
Por outro lado , a apreciação pública é exigida para todos os regulamentos, mesmo
aqueles que estão sujeitos a audiência dos interessados .
Por outro lado ,temos os requisitos específicos , como por exemplo : promulgação
e referenda ministerial (artigos 134º ,b) ; 140º , 137º CRP).
47
➛ para um regulamento ser legal , tem de ser emitido pelo órgão a que a lei atribui
competência para tal ;
➛idoneidade do autor;
Os regulamentos internos , são uma excepção pois podem ser expedidos sob forma
oral.
48
de forma expressa para os decretos regulamentares não promulgados ou cuja
promulgação não tenha sido objecto de referenda ministerial.
Os regulamentos que violem a lei ordinária têm , de igual modo , como único
desvalor a nulidade , uma vez que a anulabilidade permitiria a produção de efeitos
jurídicos até à posterior anulação. Ou seja , o regulamento ilegal teria a
virtualidade de suspender a lei por si violada bem como a de revogar a lei por si
violada. Ora , ambas as consequências são expressamente proibidas pela nossa
Constituição ( 112º, nº5).
Será importante referir que a invalidade dos regulamentos pode ser total ou
parcial , conforme a omissão de requisitos de legalidade respeite as suas normas ou
apenas parte delas.
Requisitos de eficácia :
49
ii) Requisito de eficácia geral dos regulamentos externos é a publicação no Diário
da República , tal como sucede com as leis;
Cessação da vigência:
5. Ato Administrativo
5.1. Noção
O 148º CPA fornece uma definição legal de ato administrativo estatuindo que
consiste nas decisões que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem
produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta. O novo
artigo veio restringir o âmbito da figura do ato administrativo aos atos decisórios
com eficácia externa sendo que, para que um ato jurídico concreto seja qualificado
como ato administrativo, é necessário que ele possua um conteúdo decisório, ou
seja, o ato administrativo tem de consistir numa decisão que produza
acontecimentos não se esgotando assim num juízo de valor ou opinião como é o
caso dos pareceres não vinculativos, das informações e das propostas.
50
Este artigo exige que, dentro do universo dos atos jurídicos concretos com
conteúdo decisório se estabeleça a distinção entre os atos que visam produzir
efeitos externos e atos internos, este requisito tem o objetivo de excluir os atos
decisórios praticados no âmbito de relações intra-administrativas ou
interorgânicas.
Como refere Aroso de Almeida «Os atos internos podem ser de dois tipos:
consoante sejam praticados fora do âmbito de procedimentos administrativos com
relevância externa (emissão de ordens de serviço) ou no âmbito de procedimentos
administrativos com relevância externa, sendo que aqui apenas são internos os
atos que certos órgãos pratiquem em relação a outros órgãos da mesma entidade
pública».
51
vontade. Por isso, a força jurídica do ato administrativo concretiza-se na vocação
para definir situações jurídicas com força vinculativa tanto para o próprio autor
do ato como para os seus destinatários.
É na obrigatoriedade que reside a força do ato administrativo que justifica que ele
seja qualificado como uma manifestação de poder no sentido em que exprime
poderes de definição jurídica unilateral que os eventuais interessados têm o ónus
de impugnar dentro de prazos curtos sob pena de verem precludida a
possibilidade de exigirem a respetiva eliminação da ordem jurídica.
52
construção assenta no pressuposto de que, como os atos anuláveis são
desconformes às normas por ele impostos, o ordenamento jurídico não lhes pode
atribuir relevância sem admitir que eles sejam ou possam ser válidos. No momento
em que o ato anulável é praticado constitui-se na esfera daqueles que ele venha a
lesar o direito de fazer valer a invalidade e exigirem a anulação – ónus de
impugnação.
53
o pressuposto de comportamentos ulteriores cuja eficácia está em declarar
ou conservar situações preexistentes sem que a sua identidade e conteúdo
sejam alterados e sem que haja lugar a uma verdadeira constituição;
54
● Atos Punitivos: aqueles que impõem a alguém uma sanção de caráter
administrativo ( por exemplo, uma pena disciplinar a funcionário público,
em consequência da violação de alguns deveres funcionais do seu cargo);
ii) atos que eliminam encargos: dispensa( ato que permite a alguém,nos termos
da lei o não cumprimento de uma obrigação geral); renúncia ( ato pelo qual um
órgão da Administração que despoja da titularidade de um direito legalmente
disponível);
55
“Objetivamente considerada, a evolução normativa revela a troca de um
entendimento formal e conceptualista do direito de acesso aos tribunais
administrativos por uma visão material assente numa ideia de justiça orientada
teleologicamente (afetada à tutela de direitos ou interesses) ” – Acórdão do
Tribunal Constitucional nº 499/96.
56
i) atos administrativos com conteúdo de Direito Administrativo: atos que
fazem a aplicação de Direito Adminsitrativo ( exemplo: nomeação de funcionário
público);
ii) atos administrativos com conteúdo de Direito Privado: atos que
incorporam a atos privados, que aplicam normas de Direito Privado reguladas por
este ( ex: compra e venda de um imóvel);
iii) atos administrativos com duplo conteúdo ( Administrativo e Privado):
atos em que para e tomar uma decisão um órgão da Administração tem
simultaneamente de aplicar o Direito Administrativo e Privado
57
- o ato tem que se inscrever no âmbito das atribuições da pessoa coletiva;
- o órgão que pratica o ato tem que ter competência para tal;
- o órgão tem que estar legitimado para o exercício dessa competência.
O CPA também exige que seja indicado no ato a autoridade que o praticou
(151º/1 a)) e que seja por esta assinado (151º/1 g)). Tal confere aos particulares,
sujeitos ao poder da Administração, um esclarecimento quanto à autoridade por
detrás dos atos em questão.
Quanto aos destinatários, apenas é exigida uma identificação clara dos mesmos
(art. 151º/1 b) do CPA).
- forma:
De acordo com o art. 150º.1 do CPA, exige-se que a forma dos atos seja a forma
escrita, ressalvando-se uma exceção relativamente a atos praticados por órgãos
colegiais (150º/2 do CPA). A redução dos atos a forma escrita permite que se tome
o devido conhecimento dos mesmos.
58
quais a lei exige que seja respeitado um certo modelo legal, denominados atos
praticados perante forma solene.
- formalidades:
Uma das formalidades essenciais alicerçadas ao ato administrativo é a
fundamentação do mesmo, nos casos designados no art. 152º/1 do CPA.
Este dever de fundamentação também se encontra parcialmente consagrado no
art. 268º/3 da CRP.
iii) Objeto:
Quanto ao conteúdo e objeto dos atos administrativos, os requisitos de validade
dos mesmos coincidem em parte com os dos negócios jurídicos privados. Por este
motivo, vamos servir-nos de disposições do Código Civil na exposição dos
mesmos.
Um ato jurídico será válido quanto ao objeto se este for determinável, legal e
possível (art. 280º ad contrarium CC). As mesmas exigências se aplicam aos
efeitos (conteúdo do ato) e, em caso de atos certificativos, devem ser verídicos. Por
este modo, assegura-se o respeito pelo princípio da legalidade, consagrado no
266º2 CRP e ainda no3º do CPA.
59
A lei exige também que o ato administrativo discricionário não esteja viciado por
erro, dolo ou coação, pois tal iria contra a vontade real do órgão com
competências para a prática do ato.
iv) Fim:
→ Sérvulo Correia: o fim do ato administrativo é aquele interesse público cuja
realização o legislador pretende quando confere à Administração um determinado
poder de agir;
Uma das grandes exceções a esta regra geral está prevista no 156º.1 CPA,
relativamente a atos com eficácia retroativa, que produzem efeitos antes do
momento da sua prática. As situações em que a eficácia retroativa do ato é ou não
atribuída ao mesmo pelo seu autor encontram-se previstas no 156º.2 CPA.
O CPA exige que os atos cuja publicação seja exigida por lei sejam publicados, por
modo a garantir a sua eficácia (158.2) e o conhecimento dos mesmos pelos seus
destinatários.
60
6.3. Interpretação do Ato Administrativo
7. Invalidade
O Código do Procedimento Administrativo (CPA) trata do tema da invalidade do
ato administrativo no artigo 133.º e seguintes.
61
Durante muitos anos, a ilegalidade era considerada a única fonte de invalidade,
todo ato administrativo ilegal era inválido, e vice versa. Hoje em dia, existem
outras fontes de invalidade, tais como: ilicitude, vícios de vontade, entre outras.
As formas de ilegalidade dos atos administrativo são conhecidas por Vícios do ato
administrativos. As ilegalidades, podem ser de natureza orgânica, formal, ou
material.
Os vícios da vontade são três: erro, coação e dolo. Tradicionalmente eram
considerados como ilegalidades, sendo associados à violação da lei. No entanto, na
opinião do professor Freitas do Amaral, se um órgão administrativo se engana
quanto aos factos com base nos quais pratica o ato administrativo, estando em
erro ou sendo forçado a fazê-lo, não se pode afirmar que haja violação da lei. Esta
posição, de "desculpabilização" da administração, é criticada pelos que entendem
que a questão dos vícios da vontade não têm relevância na teoria do ato
administrativo, tratando-se antes de uma problemática do negócio jurídico e do
direito privado. Deste modo, tratando-se de atos vinculados os vícios da vontade
não relevam, pelo que surgem duas opções perante o ato administrativo: ou a
administração atuou bem, sendo o ato assim válido ou, inversamente, atuou mal
por qualquer fator originando a ilegalidade do ato (através de uma plausível
violação da lei) independentemente do contexto em que ocorre.
62
administrativas, mas foi necessário proibir administração de se imiscuir de
questões judiciais.
Divide se em:
- Usurpação do poder legislativo:ex: criação de impostos pelo ministro,
através de despacho ministerial ou deliberação camarária.
- Usurpação judicial: administração pratica ato pertencente ao tribunal. ex:
Câmara Municipal ordenar demolição de obras feitas num terreno.
ii) Incompetência: prática de um ato por um órgão, ato este incluído nas
atribuições ou competências de outro órgão da administração. Ela pode ser:
- absoluta ou por falta de atribuição: pratica atos fora da atribuição da
pessoa colectiva.
- relativa: um órgão pratica atos que não lhe compete, mas pertence a
competência de outro órgão da mesma pessoa colectiva.
- em razão da matéria: um órgão invade poderes conferidos a outro órgão
em função de natureza dos assuntos ou matérias. Ex: subalterno praticar
actos que não constam na delegação de poderes a si conferida.
- em razão da hierarquia: quando a invasão de poderes conferidos a outro
órgão em função grau hierárquico. Ex: subalterno invade competência do
superior.
- em razão do lugar:quando a invasão ocorre, tendo em conta o território.
ex: a câmara municipal de Sintra deliberar sobre matérias competente a Câmara de
Cascais.
- em razão do tempo: um órgão exercer poderes em relação ao passado ou
futuro, a competência tem de ser estabelecido em relação ao presente.
63
ex: 1 regulamento se não for escrito, não é válido 112º nº 6 Constituição da
República Portuguesa
iv) Violação de Lei: quando a administração nada decide quando a lei exige uma
decisão, ou decidir coisa diversa da que a lei exige. Deve haver um respeito ao
princípio de legalidade. Tem como modalidades:
- Falta de base legal ( não há lei que autoriza prática de certo ato- falta de
precedência de lei);
- Incerteza /ilegalidade ou impossibilidade do conteúdo;
- Incerteza, ilegalidade ou impossibilidade do objecto do ato;
- Dos pressupostos relativos ao conteúdo do ato;
- Ilegalidade dos elementos acessórios incluídos pela administração no
conteúdo do ato;
64
Cumulação de Vícios:
Pode existir o caso em que dois ou mais vícios concorrem, no mesmo ato. Os vícios
são cumuláveis, ou o mesmo ato violar várias leis ou formas legais.
Como pode existir um ato que viole a lei, e seja desvio de poder.
Ilicitude: coincide com a ilegalidade, o ato torna se ilícito por ser ilegal.
Existem atos ilícitos, sem ser ilegal: ofensa de direito absoluto do particular (ex:
propriedade), violação do contrato não administrativo, ofensa de bons costumes e
ordem pública, ato que contém a forma de usura.
Este regime legal caracteriza-se pelos atos nulos não produzirem qualquer efeito
jurídico. Porém, tanto o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, como o Professor
Freitas do Amaral entendem que a nulidade não deve ser confundida com a
inexistência. Com efeito, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa refere que os vícios
de que padece o ato nulo, embora graves, não perturbam a sua qualificação
65
jurídica. Assim, o ato nulo é juridicamente existente, embora não produza efeitos
jurídicos (162º.1 CPA). Já o Professor Freitas do Amaral admite que o regime da
inexistência assemelha-se bastante ao da nulidade, contudo, este ressalva que se
admite o aproveitamento de partes do ato nulo ou de conversão (164º. 3 CPA),
algo que seria impensável e inconcebível para os atos juridicamente inexistentes.
Interessa ainda salientar que os atos nulos podem ser objeto de reforma ou
conversão ( 164º.4 CPA) e que a nulidade é insanável, quer pelo decurso do
tempo, quer por retificação. Quer isto dizer que o ato nulo não pode ser
transformado num ato válido. Porém, podem ser concedidos alguns efeitos
jurídicos a situações decorrentes de atos nulos procurando, assim, respeitar os
princípios da boa fé, da proteção da confiança e da proporcionalidade, ou a outros
princípios jurídicos constitucionais.
Qualquer sujeito, público ou privado pode desobedecer ao ato nulo e a sua
nulidade pode ser conhecida a todo o tempo, por qualquer autoridade
administrativa ou por qualquer tribunal (162º.2 CPA). Importa ainda referir que
a sua impugnação não está sujeita a qualquer tipo de prazo e que a nulidade pode
ser declarada a todo tempo, com efeitos erga omnes, pelos tribunais
administrativos ou pelos órgãos administrativos competentes para a anulação
(162º.2 CPA).
A nulidade pode também ser conhecida a todo o tempo por qualquer órgão
administrativo (134º. 2 CPA). O reconhecimento judicial da existência de uma
nulidade tem natureza declarativa e assume a forma de declaração de nulidade.
66
É sanável por decurso de tempo, por ratificação, conversão, ou reforma. Os atos
nulos só são objectos de reforma ou conversão.
De acordo com o artigo 58º. 2 do CPTA, deixam de poder ser impugnados fim de
1 ano.
67
Um ato irregular é válido e existente. Neste tipo de situações, a lei pode impor
uma sanção criminal ou disciplinar ao agente infrator.
Resta-nos saber qual a forma de invalidade que prevalece. Como tal, podemos
distinguir três hipóteses:
a) se todas as fontes de invalidade que afetam o ato são geradoras de anulabilidade,
o ato é anulável;
b) se todas as fontes de invalidade que afetam o ato são geradoras de nulidade, o
ato é nulo;
c) se uma ou mais fontes de invalidade gerarem anulabilidade e outra (ou outras)
determinarem nulidade, então prevalece a sanção mais forte: o ato é nulo.
68
iii) termo final/ condição resolutiva: uma vez atingindo o termo ou a condição,
cessam os efeitos ( e x: uma bolsa de estudo durante 1 ano letivo);
69
Em segundo lugar, a declaração de nulidade, de inexistência e de caducidade são
atos meramente declarativos de um ato administrativo, enquanto a revogação é
um ato constitutivo que destrói os efeitos de um ato anterior.
iii) critério do autor: este pode ser o próprio autor do ato revogado e aqui
estamos no âmbito de uma retração ou um órgão administrativo distinto. Na
segunda hipótese, o ato revogatório é realizado pelo superior hierárquico do autor
do ato revogado acerca de atos de um subalterno ou então pelos órgãos tutelares
quanto a atos praticados por órgãos sujeitos a uma tutela administrativa.
70
➛conveniência: fundamento da inconveniência encontra a sua razão de ser num
juízo de mérito;
O Professor Freitas do Amaral defende uma terceira categoria de fundamento:
➛revogação sancionatória: d evido ao incumprimento por parte do particular
de cláusulas, deveres ou obrigações que o ato primário lhe impunha;
v) critério sobre os seus efeitos: podem cessar para o futuro no caso da revogação
ab-rogatória. Enquanto na revogação anulatória são destruídos de forma total os
efeitos produzidos no passado e para o futuro. A eficácia da revogação abrogatória
é ex nunc («desde agora») e a eficácia da revogação anulatória é ex tunc («desde
então»).
A segunda exceção é quando tenha sido utilizada forma mais solene para a emissão
do ato do que a legalmente prevista, como por exemplo, o ato sujeito por lei à
forma de portaria, mas praticado por decreto.
A forma da revogação a respeito dos atos administrativos suscita uma divergência
por parte da doutrina:
→ Marcello Caetano: a revogação deveria revestir a forma efetiva do ato
revogado, ou seja, a revogação deveria revestir a mesma forma que fosse utilizada
para emitir o ato administrativo;
→ Sérvulo Correia: defende que a revogação deveria munir-se de forma devida,
independentemente da forma que efetivamente tivesse sido utilizada para emitir
esse ato administrativo;
71
deverão ser observadas as formalidades “exigidas para a prática do ato revogado ou
anulado que se mostrem indispensáveis à garantia do interesse público ou dos
direitos e interesses legalmente protegidos dos interessados”.
Por regra, a revogação é livre, exceto nas situações previstas no art.166º e 167º.1-3
CPA, nomeadamente os atos nulos, os atos anulados contenciosamente, os atos
revogados com eficácia retroativa, a irrevogabilidade resulte de vinculação legal, os
atos a revogar resultem para a Administração obrigações legais ou direitos
irrenunciáveis e os atos constitutivos de direito.
No que toca aos atos “ constitutivos de direitos”, cuja revogação é condicionada ,
por respeito do princípio geral da segurança jurídica e proteção de confiança , só
sendo revogáveis mediante as condições do 167º.2 CPA e para todo o efeito
consideram-se “ atos constitutivos de direitos”, os atos que recaiam sobre o
expresso no 167º.3. Esses atos atribuem posições jurídicas de vantagem a
particulares, a partir do momento em que lhes é atribuída as pessoas têm um
poder para desenvolver a sua vida jurídica. O professor Gomes Canotilho , que o
princípio da confiança,postula que os cidadãos têm o direito de poder confiar em
que as decisões públicas incidentes sobre os seus direitos e posições jurídicas, se
ligam os efeitos jurídicos previstos e prescritos por essas normas.
72
Em relação aos prazos da revogação, esta pode ser praticada a todo o tempo,
porém existem exceções segundo o art.167º/4 do CPA. O prazo é de 1 ano nos
atos
constitutivos de direitos revogáveis por superveniência de conhecimento técnico,
científico e alteração objetiva de circunstâncias e pode ser extensível a 2 anos por
razões fundamentais.
73
afetação que restrinja o conteúdo essencial do direito, os beneficiários de boa-fé
têm direito a uma indemnização pelo valor económico do direito ou pela parte do
direito restringido. Nos casos em que a afetação não restrinja o conteúdo essencial
do direito dá lugar a uma indemnização pelo sacrifício.
Quanto aos que sejam ilegais, será que a sua anulação administrativa é um dever
jurídico a cujo cumprimento estejam obrigados os órgãos administrativos tenham
praticado/ se tais órgãos dispõem de um poder discricionário?
74
Existe um conjunto de casos em que, por imperativo do princípio da legalidade e
por 1 dever de justiça, a Administração tem o dever de anular atos que considere
ilegais:
- em sede de reclamação;
- em sede recurso hierárquico;
- recurso hierárquico impróprio /tutelar;
Estas figuras são garantias não contenciosas dos particulares com fundamento no
52º.1 CRP, sendo que uma vez acionadas pelos titulares de interesse legítimo, dão
ao reclamante o direito de obter uma decisão justa ( no caso de o ato ser ilegal, terá
de ser a anulação).
Teríamos também o caso:
- quando a própria Administração se apercebe, por si ou por denúncia que
praticou um ato ilegal
75
ii) Suspensão administrativa (por ato administrativo):
Ocorre sempre que um órgão para o efeito competente decida, por ato
administrativo, suspender um ato administrativo anterior, não tendo um motivo
específico para o fazer.
Deste modo, a sua função não será destrutiva, mas meramente corretiva, destina-se
a corrigir erros, como por exemplo:
1. Os “erros de cálculo” que serão os erros ocorridos na realização de operações
matemáticas
2. Os “erros materiais” que serão os erros ocorridos na redação de um ato
administrativo.
Existe assim dois regimes jurídicos para a retificação; se, por um lado, os erros
forem manifestos, ou seja, se forem evidentes, será aplicado um regime especial*,
regulado no art. 174.º CPA; se, por outro lado, estes não forem manifestos, ou
seja, duvidosos, difíceis de detetar, a retificação será regulada pelo regime geral da
revogação.
76
Regime especial (art. 174.º CPA)
a) Os erros manifestos podem ser retificados pelo órgão competente para a
revogação do ato;
b) A retificação pode ser feita a todo o tempo, ou seja, mesmo depois de expirado
o prazo mais longo que existisse para a revogação;
c) A retificação pode ter lugar oficiosamente ou a pedido dos interessados;
d) A retificação tem efeitos retroativos;
e) A retificação deve ser feita sob a forma e com a publicidade usadas para a
prática do ato retificado.
No entanto, estes atos configuram uma modificação do ato ilegal anterior, e não
já, como na anulação administrativa, uma forma de o extinguir. Assim sendo, é
aplicado a estes atos o regime estatuído pelo 164.º.1 CPA, regime através do qual
são aplicadas as normas que regulam a competência para a anulação administrativa
dos atos inválidos e a sua tempestividade
77
c) “Conversão” será, por fim, o ato administrativo pelo qual se aproveitam os
elementos válidos de um ato ilegal para com eles se compor um outro ato que seja
legal.
Por fim, de referir as linhas gerais do regime jurídico comum a estes três atos:
i)Os atos nulos só podem ser objeto de reforma ou conversão (164.º.2 CPA);
ii) As normas de competência e tempestividade aplicáveis são as da anulação
administrativa dos atos inválidos ( 164.º.1 CPA);
iii) A reforma e a conversão obedecem às normas procedimentais aplicáveis ao
novo ato (164.º.4 CPA);
iv) Em caso de incompetência, o poder de ratificar o ato ilegal cabe ao órgão
competente para a sua prática – e não ao órgão que agiu com competência (
164.º.3 CPA)
v) Desde que não tenha havido alteração ao regime legal, a ratificação, a reforma
e a conversão retroage os seus efeitos à data dos atos a que respeitam (
164.º/5,1ªparte CPA);
vi) Em ordem a garantir a tutela jurisdicional efetiva, a eficácia retroativa de tais
atos não prejudica a possibilidade de anulação dos efeitos lesivos produzidos
durante o período de tempo que os tiver precedido, quando os mesmos sejam
praticados na pendência de processo impugnatório e respeitem a atos que
envolvam a imposição de deveres, encargos, ónus ou sujeições, a aplicação de
sanções ou a restrição de direitos e interesses legalmente protegidos ( 164.º.5,
2ªparte CPA).
78
Neste contexto, a Administração Pública age segundo parâmetros respeitantes do
princípio da autotutela administrativa – as decisões da máquina administrativa
«projetam-se»nas esferas jurídicas das referidas e hipotéticas entidades de forma
direta e imediata, não necessitando de qualquer decisão judicial.
79
serem voluntariamente cumpridas pelos respetivos destinatários se esgote. -
princípio da da humanidade da execução: estabelece a premissa maior de que,
durante o processo de execução coerciva, a Administração não se pode habilitar a
violar direitos fundamentais dos particulares visados no caso concreto; durante o
processo de execução, a dignidade humana deve ser, logicamente, preservada.
Freitas do Amaral aceita a posição de Paulo Otero quando este último afirma
que a Administração não necessita de uma expressa lei habilitadora de cada
utilização do privilégio de execução prévia na execução das suas decisões, também
é certo que só o poderá fazer pelas formas e nos termos previstos no presente
Código ou admitidos por lei.
- Notificação do destinatário;
É essencial assimilarmos que, para que o fenômeno administrativo tome lugar, é
ainda necessário que a decisão do agente administrativo seja pronta e claramente
notificada ao seu destinatário (antes de se iniciar o mesmo processo de execução).
Assim, concluímos que o ato exequendo, per si, não é condição suficiente da
execução administrativa; tem de ser «acompanhado» por uma notificação
80
expressa e válida. Tal como indica Esteves de Oliveira os atos materiais e jurídicos
da execução administrativa, se o procedimento administrativo não foi notificado,
são ilegais por vício do respetivo procedimento, esse que pode ser, por legítimo
direito, invocado pelo particular.
9. O Contrato Administrativo
81
João Caupers explica que a noção de que o contrato administrativo equivale ao
acordo de vontades pelo qual é constituída, modificada ou extinta a relação
jurídico-administrativa, entendemos que ela assentava no critério do objeto,
apresentando uma clara influência da lei alemã.
Tinha o inconveniente de não fornecer qualquer chave para a qualificação da
relação jurídica de que depende a qualificação do contrato. Apesar das críticas que
lhe dirigiu Diogo Freitas do Amaral, afigurou-se-nos preferível a noção dada por
Sérvulo Correia, que combina o critério do objeto com o critério estatutário: O
contrato administrativo constitui um processo próprio de agir da Administração
Pública que cria, modifica ou extingue relações jurídicas, disciplinadas em termos
específicos do sujeito administrativo, entre pessoas coletivas da Administração ou
entre a Administração e os particulares.
Paulo Otero considera mesmo sustentável a defesa de uma preferência legal pela
utilização do contrato administrativo relativamente ao ato administrativo.
O contrato administrativo ficou então colocado no mesmo plano do ato
administrativo, enquanto meios normais de exercício da atividade administrativa
pública.
Já Marcelo Rebelo de Sousa faz uma explicação diferente desta noção acima
representada, partindo por partes. Em primeiro lugar, dirige a atenção para a
qualificação do contrato administrativo como acordo de vontades que decorre de
forma implícita, tratando-se de um ato positivo e imaterial e de forma explícita, a
sua natureza de ato bilateral: o contrato administrativo só fica perfeito com o
concurso de duas vontades contrapostas, ao contrário só fica perfeito com o
concurso de duas vontades contrapostas, ao contrário do que se passa com os atos
unilaterais, ainda que dependentes de iniciativa do interessado ou de aceitação do
destinatário.
A bilateralidade é a característica estrutural que permite distinguir o contrato
administrativo de todas as restantes formas jurídicas de atividade administrativa,
em particular o ato administrativo.
82
tinha que ser entendida com alguma cautela. Lida à letra, ela parece excluir do
âmbito do conceito de contrato administrativo aqueles atos bilaterais que
produzem efeitos meramente declarativos sobre relações jurídicas administrativas
(por exemplo, um contrato pelo qual as partes acordem sobre a nulidade de um
outro contrato administrativo). Ora, estes contratos não criam, modificam ou
extinguem relações jurídicas administrativas, mas não podem deixar de
considerar-se como contratos administrativos (sobre os contratos declarativos). O
aspeto relevante para o recorte da noção de contrato administrativo não é, assim, a
constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas administrativas e sim a
produção visada de efeitos sobre relações jurídicas administrativas.
83
9.1. Princípios da Contratação Pública
- princípio da igualdade: consagrado no 1º.4 CCP – que é, como se sabe, um
princípio essencial da Constituição da República Portuguesa aplicável
designadamente à atividade administrativa pública – impõe o tratamento
igualitário de todos os interessados na adjudicação de um contrato público que se
encontrem em condições objetivamente idênticas relativamente à capacidade de
execução das prestações contratuais.
- princípio da boa fé: sendo que os arts. 76º, 79º e 105º CCP concretizam o
principal corolário do princípio no que se refere à contratação pública.
84
contraente público impor ao co-contratante prestações desprovidas de ligação ao
objeto do contrato ou que se revelassem desproporcionais.
O 281º CCP, que aparentemente lhe sucedeu, representa uma resposta mais
equilibrada às preocupações do legislador: o contraente público não pode assumir
direitos ou obrigações manifestamente desproporcionados ou que não tenham
uma conexão material direta com o fim do contrato.
85
Debruçando-nos sobre o princípio da concorrência, este só pode ser aplicado para
a formação de contratos cujo objecto abranja prestações susceptíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado (16º CCP). Qualquer interessado pode
apresentar-se a um procedimento, com vista a celebrar um contrato com a
entidade adjudicante que propôs o concurso. Desta forma, poderá ser escolhida a
melhor proposta, sendo assim uma nomeação mais imparcial. Outro
procedimento, distinto do concurso público é o ajuste directo (estes são os dois
principais procedimentos). Há ainda mais três procedimentos para além dos dois
acima referidos, que são o concurso limitado por prévia classificação, o
procedimento de negociação e o diálogo concorrencial (procedimentos
intermédios entre o ajuste directo e o concurso público).
86
- extinção por acordo das partes (revogação);
- extinção por decisão unilateral da Administração (rescisão);
- extinção por facto jurídico alheio às partes (caso de força maior).
87
ou seja, aqueles exercidos no âmbito das funções dos titulares de órgãos,
funcionários e agentes, ou que decorram desse exercício. Para além disso, o
legislador consagra um regime de responsabilidade solidária, através do direito de
regresso expresso no art. 271.º.2 CRP.
88
e morais resultantes da negligência e dos atrasos da equipa médica. Analisando a
decisão do STA, que versa sobre o acerto da decisão do TCA Norte, não poderia
ser aplicável o regime da responsabilidade contratual por se entender que, entre o
utente e o Hospital, não haveria nenhum negócio jurídico porque ‘’nem o utente
pode escolher o médico, nem os funcionários podem escolher o paciente, devendo
a atendimento seguir as regras legais aplicáveis e de acordo com o que for definido
pela Direcção do Hospital.
Não há, portanto, uma vontade das partes a que a lei atribua efeitos jurídicos, mas
sim um serviço público posto à disposição dos utentes’’, afastando assim a
justificação do TCA Norte para presumir a culpa, ao abrigo do 799º.1 CC.
Por outro lado, o TCA Norte entendeu aplicar o art. 493.º/2 CC, que o STA
considerou inaceitável porque ‘’os actos praticados no âmbito do Serviço Nacional
de Saúde, num Hospital Público, são indiscutivelmente praticados ao abrigo de
normas de direito público, pelo que a responsabilidade civil emergente da prática
de tais actos (apesar de ser chamada “civil”) é responsabilidade prevista, na data
dos factos, no Dec. Lei 67/2007.
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No entanto, a ilegalidade é uma condição necessária, mas não suficiente da
ilicitude; esta implica também a violação de posições jurídicas subjetivas de
terceiros, com a inerente produção de danos ou prejuízos, para efeitos de
responsabilidade da Administração.
A culpa “define um nexo de ligação do facto ilícito a uma certa pessoa”, logo, a
violação ilícita dos direitos ou interesses de outrem tem de estar ligada a uma certa
pessoa, de maneira que se possa afirmar “não só que foi obra sua, mas também que
ela podia e devia, nas circunstâncias, ter agido diversamente”, exprimindo assim
uma ideia de censura ou reprovação da conduta do agente.
Há ainda que ter em conta que na responsabilidade civil, está em causa uma
questão elementar de justiça comutativa, que se reflete em saber quem é mais justo
que suporte o dano. E ainda, que a administração pública implica iniciativa e uma
atitude proativa em busca da concretização do interesse público, sendo este o
objetivo da sua própria existência. Logo, não é conveniente, ao fazer recair a
obrigação de indemnizar nos agentes, representantes e funcionários desta, apenas
com os critérios enunciados, desencorajá-los de agirem no sentido de fazerem tudo
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o que for necessário ou conveniente para que a Administração cumpra a missão
que lhe compete.
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a pessoa coletiva pública, já que o facto danoso não se insere no exercício de uma
função administrativa.
i) culpa leve: alguma falta de diligência e zelo, não houve, portanto, diligência
manifestamente inferior à diligência exigida no desempenho da função em causa,
embora houvesse culpa do agente em causa. O artigo 7º.1 RCEEP estabelece que
nestes casos há responsabilidade exclusiva da pessoa coletiva pública servida pelo
autor do facto, sem direito a regresso contra aquele que agiu.
No entanto, neste instituto cabe salientar que operam presunções legais ilidíveis
de culpa leve, estatuídas nos 10º.2 e 3 RCEEP, quanto à prática de atos jurídicos
ilícitos e sempre que tenha havido incumprimento de deveres de vigilância.
Portanto, a menos que se prove a existência de dolo ou culpa grave dos titulares
em causa, a responsabilidade de indemnizar recai apenas sobre a Administração.
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- nexo de causalidade: entre o facto ilícito e o prejuízo, de tal modo que se
possa concluir que o facto foi causa adequada e previsível do prejuízo.
Mas nada impede o lesado de provar o dolo ou a culpa grave do autor do ato
jurídico ilícito em causa, e de o demandar nos mesmos termos que a entidade
pública, sendo titular de um dos seus órgãos. Pode, portanto, haver
responsabilidade solidária, com base no artigo 8º .2. RCEEP.
Há, portanto, ilicitude, mas não se verifica culpa. Há só uma falta do serviço ou
funcionamento anormal do serviço, logo, constitui uma responsabilidade objetiva.
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consiga provar haver uma força exterior e independente da atividade e dos seus
riscos inerentes, que levou à verificação dos danos.
Sendo que no âmbito de responsabilidade objetiva por ato lícito, ou pelo sacrifício
o legislador condiciona o dever de indemnizar à verificação da existência dos
requisitos da especialidade e da anormalidade do prejuízo.
Não há assim lugar a indemnização por danos comuns, ou seja, os danos que
recaiam genericamente sobre todos os cidadãos ou sobre categorias amplas e
abstratas de pessoas; ou por danos normais, sendo estes os que se possam
considerar habituais e aceitáveis dentro do “mínimo de risco” que é próprio da
vida em sociedade.
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As garantias dos particulares de que se ocupa o Direito Administrativo asseguram
mecanismos de reação e defesa perante atos da Administração. Segundo o Prof.
Freitas do Amaral.
Garantia dos Particulares → meios criados pela ordem jurídica com a finalidade
de evitar ou de sancionar as violações do direito objetivo, as ofensas dos direitos
subjetivos ou dos interesses legítimos dos particulares, ou o demérito da ação
administrativa, por parte da Administração Pública.
- Direito de resistência:
Relativamente ao direito de resistência, este consiste na faculdade de contrariar
qualquer ordem ofensiva de direitos, liberdades e garantias, e de afastar pelo uso
da força qualquer agressão, quando for impossível recorrer à autoridade pública.
Esta resistência pode efetivar-se relativamente a uma agressão privada ou a um ato
da autoridade pública, sendo esta segunda a que mais releva para o nosso estudo.
Requisitos:
- presença de uma agressão ou de uma ordem que ofenda os direitos,
liberdades e garantias do agente;
- necessidade;
- proporcionalidade;
-
Modalidades:
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Resistência Passiva- verifica-se quando existe uma ordem que ofenda direitos
liberdades e garantias, e consiste em não fazer o que é imposto ou fazer o que é
vedado.
Resistência Defensiva- verifica-se quando existe uma agressão de agentes, e
consiste na resposta à agressão
- Direito de petição:
Ambas as garantias são insuficientes, uma vez que cobrem poucos casos e por
serem confiadas a órgãos políticos estão sujeitas a ser apreciadas de acordo com
critérios de conveniência política, e nem sempre por critérios de imparcialidade.
Estas garantias são mais vantajosas para os particulares, uma vez que os órgãos
administrativos não atendem, geralmente, a motivações de caráter político. No
entanto, os órgãos da Administração Pública estão muitas vezes orientados na sua
tomada de decisão por critérios de eficiência na prossecução do interesse público, e
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não tanto pelo respeito à legalidade e aos interesses dos cidadãos. Por este motivo
surgiram as garantias contenciosas, que vamos desenvolver posteriormente.
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➜Oposição administrativa: atribuída aos contra-interessados em certos
procedimentos administrativos, define-se como uma contestação relativamente a
pedidos formulados por outrem à Administração ou relativamente a iniciativas da
Administração das quais se tenha conhecimento. A lei atribui a legitimidade para
exercer esta contestação;
Esta figura justifica-se pelo facto de os atos administrativos, em geral, poderem ser
revogados ou anulados pelo órgão que os praticou. Hoje em dia, a reclamação
prévia não é necessária para efetivar uma impugnação contenciosa, sendo
facultativa. Salvo lei especial, o prazo para apresentar uma reclamação é de 15 dias
(191º. 3 CPA), e o prazo para o órgão competente decidir sobre a reclamação é de
30 dias (192º.2 CPA).
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hierarquia e é necessário que tenha sido praticado ou omitido um ato
administrativo por um subalterno que não goze de competência exclusiva.
Quanto aos prazos para a interposição do recurso, nos casos em que o objeto é a
impugnação de um ato, estes encontram-se estipulados legalmente nos 188º.1 e 2 e
198º. 1 CPA, sendo, em regra, o prazo de 30 dias. Importa notar que a
extemporaneidade do recurso hierárquico implica automaticamente a
extemporaneidade da impugnação contenciosa subsequente. Se o objeto do
recurso for a contestação da omissão de um ato, o prazo conta-se da data do
incumprimento do dever de decisão (188º.3 CPA). A interposição do recurso
pode ter consequências suspensivas ou não suspensivas, ocorrendo a suspensão
automática do ato em causa até à reapreciação do superior hierárquico. Em regra,
os recursos hierárquicos necessários têm efeito suspensivo, e os recursos
hierárquicos facultativos não têm (189º. 1 e 2 CPA). A autoridade ad quem deve
pronunciar-se em 30 dias, podendo alongar-se o prazo até aos 90 dias (198º.º 1 e 2
CPA).
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Recursos hierárquicos impróprios- o ato administrativo é impugnado a um
órgão da mesma pessoa coletiva daquele que praticou o ato, sobre o qual exerce
poderes de supervisão. Só admissível nos casos expressamente previstos por lei
(199º, nº 1 CPA) e quando a lei atribua poder de supervisão sobre um órgão de
uma pessoa coletiva a um mesmo órgão da pessoa coletiva, fora do âmbito de uma
relação hierárquica ( 176º. 1). São aplicáveis a este recurso, subsidiariamente, as
disposições que regulam o recurso hierárquico ( 176º. 3 CPA).
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Esta figura está consagrada no 23º da CRP e detém apenas poderes persuasórios e
não decisórios. No entanto, as recomendações deste órgão, que goza de imenso
prestígio e independência, são, normalmente aceites pela Administração Pública,
podendo o Provedor de Justiça denunciar os casos em que as suas opiniões não são
tidas em conta em conferências de imprensa ou no seu relatório anual.
Pelos motivos relevados, aparenta ser mais correto não classificar este órgão como
administrativo ou político, dada a natureza particular da sua atividade.
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- Garantias quanto às operações materiais da Administração (por ex:
direito à suspensão provisória da sua prática, por meio de uma providência
cautelar não especificada);
- Garantias de caráter urgente (p or ex: direito à intimação da
Administração para “prestação de informações”, “consulta de processos” ou
“passagem de certidões”;
No entanto, o princípio da separação de poderes não foi posto em causa, uma vez
que os Tribunais não têm competência para avaliar o mérito da ação
administrativa, mas apenas a respetiva legalidade.
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