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Fenomenologia:

Reconstrução do Método

Pablo Cânovas
Índice

Primeira Parte ou Parte Introdutória


Introdução [
1 - Que é ciência? [Estudar filosofia da ciência Tomista e brevemente estudar outras filosofias]
1.1. - Ciência e arte
1.2. - Como se dividem as ciências
1.3. - Ordem das Disciplinas

2 – segundo problema: Lugar da Fenomenologia na Ordem do Saber [oferecer o quid est temporário e
aparente da Fenomenologia e apresentar o problema do seu quomodo est]
2.1. - Psicologia
2.2. - Semiótica
2.3. - Linguística
2.4. - Lógica

3. As Fenomenologias e a Pluralidade Científica [apresentar a segunda parte como o problema interno


da quantidade de opiniões sobre fenomenologia como o motivo do quid est ser temporário]

Segunda Parte ou parte Sintética

[relembrar o problema das opiniões e apresentar os tipos de fenomenologia]


[analisar cada autor segundo os princípios do que constitui uma ciência e arte ou parte destas, e.g., se o
idealismo transcedental ou criteriologia costitui ciência, ou se a Doutrina-Da-Ciencia é ciência]
3 - Precedentes I: Kant, Hegel e idealismo
Precedentes II: Bergson, Brentano e Hartman
4 - Husserl e suas fases
5 - Peirce e pragmatismo
6 - Frege e lógica pura
6 - Focault e Deleuze
6 – Hermenêutica
6.1. - Gustav Shpet
6.2 - Heidegger e suas fases
6.3 – Gadamer e outros

7 - Tomismo fenomenologico
7.1. - João de São Tomás
7.2. - Millan Puelles e os Llano
7.3. - Santa Teresa Benedita da Cruz
7.4. - Hildebrand
7.5 – Cornelio Fabro
8 - Fenomenologia na filosofia analitica
8.1 – Sellars, Haugeland, McDowell, Brandom e Peregrin
7 - Apel e Habermas
9.5. - Escola Dialógica de Erlangen
9 - Heterodoxia
9.1. - Ortega y Gasset
9.2. - Zubiri

9.6. - tratar rapidamente de opiniões menores de outros [Losev, Vicente Ferreira da Silva, voegelin,
henry michel, perenialismo, cassirer, weil]

Terceira Parte ou Parte Analítica

Críticas à fenomenologia geral


Uma revisão analítica
Uma revisão tomista
Qual fenomenologia? [definir perfeitamente que é uma fenomenologia e a que serve]
Para quê Fenomenologia?
- Psicologia, semiotica e linguística
- Lógica
- Hermenêutica e tradução
- Sociais (AD, Habermas, Searle)

À Carlos Nougué;
O qual sem suas aulas e livros, nada disso seria possível.
Primeira Parte
Ou Parte Introdutória
1. Que é Ciência?

A Ciência, nos ultimos tempos, tem cada vez recorrido mais à filosofia como mãe, como
auxiliadora nos mais difíceis problemas. Que é a revolução quântica na física senão uma revisão
filosófica da física clássica? Aliás, para confirmar o dito, bastaria dar uma olhada no Física e Filosofia1
de Heisenberg. Revisão filosófica, que por sua vez, carece de ainda mais revisões filosóficas! Que é a
metamatemática (ou o estudo de sistemas de lógica que fundamentam sistemas matemáticos) senão
filosofia? Não deve ser coincidência que quase todos grandes matemáticos do século tiveram alguma
relação com filosofia analítica. E, por fim, e dessa vez sem precedentes, que são os pedidos de socorro
oriundos da psicologia, biologia e outras ciências empíricos quanto ao problema mente e corpo? É,
como sabido, um dos problemas mais laboriosos de toda história do pensamento, e têm levado milhares
de cientistas a se aventurarem na filosofia bem como filósofos se aventurarem na ciência.
Ocorre, porém, que não é por mera ocasião dos tempos que a ciência se vê ora tão carente para
com a Filosofia e ora se vê tão avessa à ela 2. Desde a queda da letra e espírito de Santo Tomás de
Aquino nas cátedras universitárias o que ocorre não é mais ciência, senão que um abortivo desta, como
diz o grandíssimo Alvaro Calderón3. Explique-se: A Ciência, tal como vislumbrada pelo intelecto
angélico do Aquinate, não é diferente da Filosofia, que é um todo ordenado, onde cada parte subsiste
em uma anterior e aponta para a que lhe é posterior, como que num movimento helicoidal. Que é,
então, este todo?

1.1. Ciência e Arte

O homem é um animal de ciências e artes. Que é isto? A ciência é o hábito especulativo por
excelência, é o conhecimento de algo (já constituído) em sua essência, razão e fim (i.e., suas quatro
causas), bem como aquilo que lhe é proprio ou lhe é acidental. A arte, por sua vez, dizemos que é um
1 HEISENBERG, Werner. Física e filosofia. 4ª. ed. Trad. Jorge Leal Ferreira. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília,
1999, p. 9-42.
2 Veja-se os dizeres de um certo físico: "Muitos de nós não nos preocupamos mais com essas perguntas, entretanto,
questões como 'de onde viemos?' ou 'para onde vamos', que eram tradicionalmente questões filosóficas, hoje são
recorrentes exclusivamente para a ciência. Os filósofos atuais não têm estudado de acordo com as descobertas mais
recentes da física, e por isso, a filosofia está morta hoje." (HAWKING, Stephens. In: Google Zeitgeist, 2016).
3 CALDERÓN, Alvaro. La Naturaleza y sus causas, I, 2016 p. 105.
hábito prático e produtivo, onde a razão do homem, versando sobre alguma matéria, ordena-la-á a fim
de encerrar certa utilidade4. A arte, ao contrário da ciência, cria seu objeto (ou artefato) como produto
dessa ordenação.
Calderón explica que “ambas, ciência e arte, se especificam em razão de seus
sujeitos, mas o sujeito especifíca a ciência como a forma determina a matéria
(pois o intelecto é como uma matéria plástica que pode receber a forma das
coisas naturais), enquanto o sujeito especifica a arte como o fim determina o
agente”5

Sendo assim, as artes se dividem da mesma forma que se dividem gêneros operativos do
homem: Atos corporais, atos apetitivos e atos da razão. Os primeiros, se referem, é claro, às operações
motoras, transeuntes ou ad extra, do homem. A arte que se ocupa da ordenação de atos corporais é a
arte servil, que se divide, ainda, em mecânica (como a marcenaria) ou arte de uso (como a equitação). A
ultima operação do homem é a racional, uma ação imanente ou ad intra, que começa no interior do
homem e termina no interior do homem (tal qual a lógica, que inicia-se na razão e tem termino na
mesma razão). Por fim, a arte que se ocupa dos atos apetititivos é a prudência, que é a ordenação
particular da razão sobre a vontade livre, para que se distingua a boa escolha da má escolha nas
situações particulares da vida, portanto, a prudência é como o análogo artístico da moral ou ética, e seu
produto ou artefato é o bem particular de cada decisão da vontade.
Importante notar que arte não é o mero produzir ou agir, mas o produzir ou agir por excelência.
Ora, para que seja a arte útil, uma arte precisa recair sobre uma matéria concreta e extrair daí algo de
novo, uma obra particular e individuada. Essa extração se dá por meio da aplicação de uma forma a
uma matéria, e, como já dito, é justamente a ciência que se atualiza segundo a forma na matéria. Sendo
assim, arte e ciência se confundem ou se reduzem uma a outra? Não, porém, podemos dizer que toda
arte possui algo de científico ou recebe algo da ciência. Essa parte científica (que, insista-se, é somente
parte da arte, e não a arte em si) da arte é o que fora chamado durante a escolástica de parte ut docens,
enquanto a parte de fato produtiva é a parte ut utens6. Padre Alvaro Calderón dá-nos exemplo que “a

4 SCHERER, Daniel. A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica. Brasília: Edições Santo Tomás, 2017, p. 32.
5 CALDERÓN, Alvaro. Lógica Mayor apud SCHERER, Daniel in A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica.
Brasília: Edições Santo Tomás, 2017, p. 32.
6 Uma recomendação de tradução poderia ser com o uso de neologismo: parte docente e utente.
prudência docens é a ética, e a ética utens é a prudência”7, ou seja, a contraparte artística, individual e
produtiva da ética é a prudência, e a contraparte científica e universal da prudência é a ética.
Depreende-se como corolário inescapável que, para que haja arte, i.e., boa produção do artefato, é
necessário haver ciência sobre a matéria informada e sobre as causas do artefato, que é justamente o
trabalho da ciência. Nougué, ao tratar da arte serviçal liberal de traduzir, diz: “ A Tradução começa a
ser arte quando aquele que a pratica domina o sujeito de sua arte com respeito a suas causas e efeitos,
partes e propriedades; para a partir disso, repita-se, poder instituir regras ou normas”8.
A ciência, segundo é a “certeza alcançada demonstrativamente, de uma maneira etiológica, faz
do conhecer um verdadeiro saber, isto é, um conhecer científico” 9. Podemos dizer que a ciência é a
perfeição dos atos intelectivos pela luz natural (sendo menor, é claro, ainda inferiores que as
maravilhosas perfeições alcançadas pela luz sobrenatural ou pela lumen gloriae). Millan Puelles expõe
perfeitamente, em termos psicológicos, como se chega à posse do saber científico:

A ciência é o ato no sujeito que aqui e agora realiza a operação intelectual que
constitui o conhecimento científico. O fato mesmo da demonstração como
operação cognoscitiva é o ato científico realmente exercido por um sujeito
determinado. As verdades científicas são objetos das demonstrações que lhes são
respectivas, efetuadas por um sujeito que igualmente poderia não efetuá-las; e,
em consequência, o ato mesmo da demonstração, ainda que realmente não
adcione nada às verdades, perfecciona o sujeito que, deste modo, pode conhecê-
las de maneira científica. Tal ato deixa também, no sujeito, uma disposição,
sobreposta a sua potência intelectual, que se inclina à demonstração, adquirindo-
na, portanto, de modo incoativo, a virtude de inferir conclusões na mesma
matéria. Quando essa disposição se perfecciona mediante novas demonstrações,
deixa de ser mera disposição e se converte em hábito. O hábito científico perfeito
faz que o sujeito que têm-no seja capaz de descorrer por si mesmo na respectiva

7 CALDERÓN, Alvaro. Logica Mayor. Apud SCHERER, Daniel in Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica.
8 NOUGUÉ, Carlos. A Arte de Traduzir in Estudos Tomistas: Opusculos II. 2020, p. 23.
9 PUELLES, Millan. Fundamentos de Filosofia I. Madrid: Ediciones RIALP, 1955, P. 171-172.
ciência, e [também seja capaz de] advertir e eliminar os erros que possam se
entrelaçar com a posse da ciência.1011

Segue Millan Puelles que, embora este ato ou hábito seja simples, a ciência enquanto sistema é
um conjunto, um complexo ou todo, ordenado pela razão em vista da unidade real da coisa. Explique-
se: os atos da inteligência podem capturar senão um aspecto da coisa capturada, como, por exemplo,
pode capturar o cheiro do passaro em um ato, pode seu som em outro, sua imagem noutro e sua
essência em outro. A maneira que a ciência une esses atos é por uma articulação lógica da razão, mas,
não é como criação pura da razão, senão que é em vista da unidade extramental da coisa, que adquire
unidade por sua forma, sua essência, princípio coordenativo das partes materiais.
Ademais, a especificação de ciências, como já dito, é análogo à especificação da matéria por
meio da forma. Complica-se a questão aqui, em vista de que alguns autores se degladeiam em busca da
melhor terminologia para significar essa especificação. Alguns, como o já citado Millan Puelles e
Jacques Maritain falam de um objeto formal da ciência, enquanto outros dizem haver, em verdade, um
sujeito formal. Contudo, não entremos nesta questão por enquanto. Basta saber, pelo momento, que
ambos significam a mesma coisa. Veja-se os dizeres de Carlos Nougué, por exemplo:

Todo e qualquer sujeito de ciência é aquilo mesmo de que formalmente e


absolutamente se tem ciência. É que, se a ciência é um conhecimento certo,
perfeito e atual, e se conhecer uma coisa é simplesmente conhecê-la em si mesma
e não em outra nem por outra, então em toda ciência se tem determinada coisa
que se conhece por si mesma, ainda que nessa mesma ciência também se
conheçam outras, sempre porém pela e na mesma coisa que se conhece por si
mesma. […] não é, obviamente, que destas outras coisas a ciência não tenha
conhecimento também; mas tem-no não enquanto as conhece por si mesmas, e
sim enquanto as conhece por ou em outra coisa que, portanto, é o objeto mesmo
da ciência.12

10 Importante notar que a ciência não tem erros, visto que é perfeição, senão que os erros que residem nela ao modo de
privação, em razão da insondabilidade da realidade e das limitações cognitivas do homem.
11 PUELLES, Millan. Fundamentos de Filosofia I. Madrid: Ediciones RIALP, 1955, p. 172.
12 NOUGUÉ, Carlos. A Arte do Belo. Brasília: Edições Santo Tomás, 2016. p. 156.
Em suma: A ciência, na vida do homem, é um ato ou hábito intelectual que busca as causas;
Enquanto sistema, são entes de razão que coordenam conteúdos com fundamento na unidade real das
coisas mesmas e, por fim, quanto ao conteúdos mesmos, são proposições verdadeiras conformadas com
realidades extramentais.
Passando adiante, as ciências se dividem da mesma forma que o gênero se especifica, isto é,
segundo a redução ao ato por certa forma. No caso da ciência, esta forma é o já exposto sujeito formal.
Uma ciência sem sujeito formal não é ciência, senão que abortivo desta, apenas em potência para ser
ciência. Embora não seja assunto deste livro tratar disso, mas sirva-se de exemplo: A chamada
psicologia terapêutica ou não é ciência ou se reduz à ética. Por que? Bem, veja-se antes que esta
pretende. Pretende a psicologia terapêutica ordenar as paixões do homens de modo que não lhe cause
neuroses, psicoses ou alienações de si. E o que a ética pretende? Pretende justamente isso, claro,
alterando alguns termos viciados da psicologia. Veja-se o excerto de Dom Tiago Sinibaldi sobre a
Moral:
O objeto da moral é constituído pelos atos humanos, enquanto, pelas regras da
moralidade, se hão de dirigir para o nosso último fim. - Por isso, a Moral – é uma
ciência prática, porque aplica os conhecimentos às operações, - e distingue-se das
outras duas partes da Filosofia, que são a Lógica e a Metafísica, porque a Moral
regula os atos da vontade, ao passo que a Lógica dirige os atos de inteligência, e
Metafísica estuda os entes reais.13

E seguirá Scherer:

As categorias aristotélico-tomistas apresentadas – continência, incontinência,


vício humano e vício patológico, bem como as enfermidades da alma per
accidens (de fundo orgânico) e as enfermidades de raiz preternatural – são
muitíssimo mais claras e mais úteis, mesmo do ponto de vista psicoterápico, do
que as imensamente confusas categorias psicopatológicas atuais, como
“neurose”, “psicose”, “perversão” e “psicopatia”. Os autores atuais não só
divergem quanto a seu sentido e etiologia, como falham ao defini-las; além de

13 SINIBALDI, Thiago. Elementos de Filosofia, IV. Florianópolis: Instituto Santo Agostinho, 2021, p. 6.
confundirem, ao tratá-las, planos epistemológicos distintos, como o médico e o
ético.

Poderiam responder, os amantes da psicanálise ou outras escolas escolas de psicologia (sempre


de fulcro idealista e subjetivista), que não poderia ser a psicologia terápica uma ciência moral, pois
antes de mais nada ela estuda atos psicológico-cognitivos, sejam materiais ou espirituais. Contudo, isso
não inflói nem contribói. Como já vimos, uma ciência tem seu objeto primário e os objetos que são
vistos neste e por meio deste, e é plenamente possível, não só possível, como plena verdade, que a
Ética ou Moral se valeu desde sua criação da psicologia e biologia para o fim ordenativo (ou terápico,
para se valer do léxico psicológico).
Sendo assim, devemos ter ciência que em meio à desordem científica que vivemos, cientistas e
ciências que não mais dão ouvidos à filosofia, deixaram, por isso, de ser ciência. Não quer dizer que
deixaram também de operar descobertas! Descobriram e muito! No entanto, os bons cientistas que se
tornarem cônscios da pequeneza teórica das ciências modernas devem reinterpretar todo sistema
científico atual em vista da completa sistematização segundo os mais perfeitos princípios 14.
Alguns, ao ouvirem isso, ficam espantadíssimos. Como pode a ciência ser interpretada? Fatos
são fatos! - Dizem eles. Porém, nem é necessário ir muito longe para mostrar que isso é um absurdo.
Antes, a propria ciência se vê carecendo de interpretações. A física, por exemplo, recorreu às
14 Ao meu ver os livros de grandes filósofos tomistas atuais têm se prestado a esse trabalho: Para Ciência em geral: La
funcion de los saberes liberales de Millan Puelles; Ciencia Aristotelica y Ciencia Moderna; Ciencia y Modernidad;
Filosofia de la Ciencia segun Santo Tomas de Juan Jose Sanguinetti; Filosofía de la Ciencia de la Ciencia; Ciencia,
Razón y Fe de Mariano Artigas;. Para Física: Filosofia de la Naturaleza de Mariano Artigas; . Para a Psicologia: El
hombre: Frontera entre lo inteligible y lo sensible de Carlos Augusto Casanova; Filosofia de la Mente: Una prospettiva
ontologica y antropologica; Neurociencia y Filosofia del Hombre de Juan Jose Sanguinetti; La praxis de la Psicología
y sus niveles epistemológicos según Santo Tomás de Aquino de Martín Echevarría; De la Conocenza I, II; Du Compose
Humain de Matteo Liberatore; Quatre Essais sur l’espirit de Jacques Maritain; Realism Regained: An exact theory of
causation, teleology and the mind de Robert Koons.Para Biologia: Institutiones Philosophicae vol. IV de Joannes
Josephus Urraburu; Aristotle’s Revenge: The Metaphysical Foundations of Physical and Biological Science de Edward
Feser. Para Física: La Naturaleza y sus Causas de Alvaro Calderón; Física e Realidade de Carlos Augusto Casanova;
The Metaphysical Foundations of Physical and Biological Science de Edward Feser. Para Lógica: Logica Mayor de
Alvaro Calderón; Logic and Ontology de J. M. Bochenski; Studies in Logic and foundations of Mathematics; Del
Principio de Contraddizione in Aristotele; Estudios de Logica y Filosofia; Aristotle’s Syllogistic de Jan Lukasiewicz;
Consideraciones sobre la Logica y su historia; La logica formal y su dimension historica; Introduccion al patrimonio
escolastico de Logica; Lecciones de Logica I e II de Vicente Muñoz.
interpretações de Copenhagem do conjunto de proposições que podemos chamar de Física Quântica.
Existe, ainda, um exemplo capaz de tornar o problema ainda mais patente. Benjamin Libet, psicologo
cognitivo do século passado, realizou uma série de experimentos envolvendo o cálculo de pulsos
eletrofisiológicos em 1) atos prémeditados e 2) atos não prémeditados. A conclusão atingida é que .
Esse experimento levou filósofos e psicológos a crerem na falta de um
Libet, descrevendo seu experimento, diz-nos os procedimentos metodológicos tomados:

Cada teste de uma série de 40 testes, em média, foi iniciado como um evento
independente após um atraso determinado pela própria prontidão de cada sujeito
para prosseguir; não havia limite no tempo em que os sujeitos fossem agir; foi-
lhes dada a opção de piscar os olhos se necessário. Para cada ensaio, os sujeitos
foram convidados a realizar uma simples flexão rápida do pulso ou dos dedos em
qualquer momento que sentirem o "impulso" ou o desejo de o fazer; o momento
era para ser inteiramente "ad lib," ou seja, espontânea e totalmente endógena 15

E, ao final, tem por conclusão que:

Este não é o lugar para debater a questão do livre arbítrio versus determinismo
em relação a uma ação voluntária aparentemente endógena que se experimenta
subjectivamente tão livremente desejada(ver Eccles 1980; Hook I960; Nagel
1979; Popper & Eccles 1977). Contudo, é importante salientar que os presentes
resultados e análises experimentais não excluem o potencial para uma
responsabilidade individual "filosoficamente real" e livre-arbítrio. Embora o
processo volitivo possa ser iniciado por atividades cerebrais inconscientes, o
controle consciente do desempenho motor real dos atos voluntários
definitivamente continua a ser possível. As conclusões devem, portanto, ser
tomadas não como sendo antagónicos ao livre arbítrio, mas como afetando a
visão de como o livre arbítrio pode funcionar. Os processos associados à

15 LIBET, Benjamin. Unconscious Cerebral Initiative and the Role of Conscious Will in the Voluntary Action. In The
Behavioral and Brain Sciences, 1985, p. 529-566.
responsabilidade individual e ao livre arbítrio "operar" não para iniciar um ato
voluntário mas para selecionar e controlar resultados volicionais [..]
Alguns podem ver a responsabilidade e o livre arbítrio como operativos apenas
quando os atos voluntários seguem uma deliberação consciente mais lenta de
escolhas alternativas de ação. Mas, como já acima referido, qualquer escolha
volitiva não se torna uma ação voluntária até a pessoa se mover.16

O que poderiamos dizer a Libet, no campo metodológico, é que, muitas vezes, para concluirmos
as coisas que concluímos, tomamos premissas que nunca nos fazemos cônscios. Por exemplo, se digo
que algo na minha frente é água, tomei como premissa, mesmo que nunca me torne cônscio disso, que
isto que está em minha frente é H2O. Sendo assim, que premissas Libet teria na manga para concluir o
que concluiu? Ou será que não posso nem me perguntar isso? Já que, sendo Libet um cientista, teria
acesso absoluto a realidade, falando assim de fatos que nós, meros filósofos, nunca teríamos acesso.
Para nossa sorte, Libet já nos fez o favor de nos dar a sua definição de atos voluntários e de vontade.
Segue o dito:

um ato é considerado voluntário e uma função da vontade do sujeito quando (a)


ele surge endogenamente, não em resposta direta a um estímulo ou sugestão
externa; (b) não há restrições ou compulsões impostas externamente que
controlem direta ou imediatamente o início e a execução do ato; e o mais
importante, (c) os sujeitos sentem-se introspectivamente que estão executando o
ato por sua própria iniciativa e que são livres para iniciar ou não o ato como
desejam. O significado do ponto (c) é claramente ilustrado no caso de estimular o
córtex motor (giro pré-central) em sujeitos humanos acordados. […]
Finalmente, deve-se observar que a ação voluntária estudada foi definida
operacionalmente, incluindo relatórios apropriados e confiáveis de experiências
introspectivas. A definição não está comprometida ou dependente de qualquer
visão filosófica específica da relação mente-cérebro. Entretanto, algumas

16 Ibidem.
implicações que são relevantes para as teorias mente-cérebro serão extraídas da
descoberta.17

Libet, ao recorrer à sua suposta neutralidade operacional e instrumental, não faz nada demais.
Não só não faz nada, como nem verdadeiramente neutro é. Se perguntassemos aos cientistas: Por que
razão, então, procuram a neutralidade científica? Dizer-nos-iam com fervor: Porque é este o método
científico! E, facilmente responderíamos: Qual a razão por trás do método científico, então? Todo
cientistia responde uníssono: Porque é ele que nos leva à verdade. Sim! Perfeito! Então, não é
neutralidade que queremos, mas a verdade. Ocorre, no entanto, que o método científico mesmo não
está mais suficientemente sustentado na Verdade, mas em ideais de neutralidade, instrumentalidade,
quantificação e tantas outras premissas implícitas que escapam ao escopo de nossa presente obra. Ora,
amar a verdade não é ser neutro, não é ser indiferente, senão que é justamente o contrário, é justamente
pender com todo fervor que conseguir àquilo que é verdadeiro. Enfim, o que quero dizer é que a ciência
precisa sim ser revista. Não um revisionismo literário, conspiratório, lúdico, político ou ideológico,
não. Mas um revisionismo cujo epicentro é a Verdade. E como, então, sabemos que a ciência está longe
da verdade? Bem, alguns sinais aparentes saltam a vista. Primeiro, há quase 500 anos nenhum cientista
obedece a mãe da Ciência mesma, que é a Filosofia, a tal ponto que a Ciência hoje se vê separada da
filosofia18. A fim de exemplo: Ora, todos nós ao lermos um documento do século XVI que tenha escrito
algo como “isto é água”, não suporíamos nós todos, agora que sabemos a Verdade, que ele fala de
H2O? Muito embora o escritor de tal documento imaginário não tivesse nem sequer notícia do que é
um hidrogênio, não quer dizer que o que ele tenha escrito não deva ser revisado com base na Verdade e
nela somente. Assim, os que leem atualmente este escritor, já imputam à ele algo que não sabia, pois
estes já sabem que é verdade.
Imagimenos nós quão grandes coisas Libet teria alcançado se, ao invés de apelar à neutralidade,
recorresse ao espírito e letra de Santo Tomás de Aquino. O trabalho do revisionista, então, é olhar para
experimentos como o de Libet, ou qualquer outra descoberta de qualquer tipo, e colocar as lentes que
apenas a filosofia comum da Santa Igreja Católica é capaz de proporcionar. A fim de nos fazermos
sonhar, apenas, nos pergumentos: Que faria Libet se tivesse lido que “Ora, o principio formal primeiro
17 Ibidem.
18 Antes que se pense que isso é algo ruim somente pra Ciência, não o é. A filosofia sofreu e sofre bastante. A chamada
Filosofia Continental e todas suas crias (marxismo, pós-estruturalismo, existencialismo, etc.) são as mais vís criações
em terreno fertil. Ervas daninhas plantadas em jardíns suspensos.
é o ente e o verdadeiro universal, objeto do intelecto. E, portanto, por este modo de moção, o intelecto
move a vontade, apresentando-lhe o seu objeto19” ou que “É forçoso que o motivo seja proporcionado
ao móvel e o ativo, ao passivo, e a essência da potência passiva mesma está em ser ordenada ao que lhe
é ativo […] resulta que o apetite intelectivo é potência diferente do sensitivo.20”
E é justamente isso que queremos: Revisar a fenomenologia. Cremos, aqui, que seja ela uma
descoberta utilíssima, mas, até agora, raramente foi usada com o cuidado que este saber merece.
Sentimos que a fenomenologia tenha sido como brinquedo novo de criança: O brinquedo pode ser
maravilhoso, mas, pela falta de cuidado da criança, ela acabará quebrando-no. Seriamos nós melhores
que um Husserl, Marleu-Ponty ou mesmo um Sartre? Não, nunca! Porém, estes seguiram a revolução
filosófica que lhes precederam (intencionalmente ou não) 21. Para tal fim é mister que tenhamos, em
nossa mente, uma idéia bem clara do que é Filosofia e Ciência, e como devemos buscá-las.

1.2. - Como se dividem as ciências


A Ciência é um todo, composto de partes, estas que, muitas vezes, também são compostas de
outras partes. Quais formas de composições existem, então? E de que modo a ciência é composta?
Santo Tomas distingue duas espécies de todo, sendo o primeiro o todo universal e o segundo o
todo integral. O todo universal contém suas partes virtualmente, em potência, enquanto o todo integral
se dá por soma das partes já existentes. E distingue também as partes destes todos, isto é, um todo pode
ser composto por partes integrantes (e.g., como as paredes e o teto estão para a casa), partes subjetivas
(como sujeitos de um gênero) ou partes potenciais (como a nutritiva e a sensitiva estão para a alma 22).

19 AQUINO, Santo Tomás de. Suma Teológica. Ia IIae, Q. 9, Art. 1.


20 AQUINO, Santo Tomás de. Suma Teológica. Ia Pars, Q. 80, Art. 2.
21 Cf. SCHERER, Daniel. A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica, para uma análise perfeita do assunto da
revolução noética que se deu desde a morte do nosso grande Doutor Angélico.
22 Para que se entenda esse exemplo, devemos nos servir da antropologia tomista, muito embora não seja o sujeito desse
livro. As partes potenciais da alma são distintas segundo o modo pelo qual a operação da alma excede a natureza
corpórea. Assim, a operação racional a excede completamente, nem precisando da natureza corpórea como instrumento;
a potência sensitiva se realiza pelo orgão material mas não pela qualidade material (i.e., o calor, o cheiro, a cor, etc.) e,
por fim, a potência vegetativa se exerce por orgão corpóreo e em virtude de qualidade material. Ademais, o vegetativo e
o sensitivo, embora materiais sob certo sentido, não são partes do corpo, mas partes da alma, pois mesmo o vegetativo
sobreexcede a operação da natureza meramente corpórea, pois a moção dos corpos tem princípio exterior, enquanto que
a moção vegetativa (como sínteses celulares) tem princípio interno. Abstraindo todas as variáveis antropológicas dessa
explicação, sobra certo princípio: A parte potencial estão incluídas em seu todo pela excelência de seu ato; sendo assim,
Ademais, sabemos desde Aristóteles o princípio anti-reducionista que o todo se predica das
partes mas as partes não se predicam do todo. Calderón 23 estabelece sistemáticamente que o 1) o todo
integral se predica das partes integrais não propriamente mas figuradamente (e.g., quando digo a casa é
o teto o digo de forma figurada); 2) o todo integral se predica das partes subjetivas de modo próprio e
unívoco, pois o todo integral está para as partes subjetivas do exato e mesmo modo que o gênero está
para espécie, tanto que, em verdade, pode-se dizer que a parte subjetiva é espécie do todo integral (e.g.,
o leão é animal); 3) o todo universal se diz das partes potenciais de modo proprio mas análogo (e.g., a
alma se diz mais propriamente do intelectivo, analogado maior, e menos propriamente do sensitivo e
menos ainda do vegetativo).
Para que prossigamos com excelência, é mister que se esclareça o problema da distinção entre
ciência e filosofia, ou ciência natural e filosofia, em verdade, o que buscaremos aqui, antes de mais
nada, é se essa distinção é verdadeira, e depois, qual tipo de relação as duas mantêm.
Como já exposto, a razão geral dessa distinção se desvanece, uma vez que, como já vimos,
ciência é o hábito intelectual pela procura das causas, e, então, tanto a filosofia como as chamadas
ciências procuram causas de seus objetos, logo, não há mais razão para distinguir. Ciência e Filosofia,
portanto, são uma e mesma coisa. No entanto, parece ainda haver a distinção entre ciências naturais e
ciências do espírito, como propugnadas pelo idealismo alemão, ou ciências descritivas e ciências puras
como quer o positivismo lógico, ou até ciências e meta-ciências como quer a atual filosofia analítica.
Vejamos a opinião do Padre Calderón, que ao estabelecer a Física Geral (ou Filosofia da Natureza;
Filosofia da Física) se pergunta se esta é distinta das ciências experimentais:

O ente móvel é um todo no qual diferentes partes podem ser distinguidas, e a


questão que nos preocupa agora é saber se as partes passam a se constituir como
sujeitos de novas ciências, subordinadas à Física geral mas especificamente
diferentes dela, ou essas partes podem ser considerados pela mesma física geral,
constituindo apenas capítulos diferentes da mesma ciência. […]
Mas enquanto as espécies de movimentos estão sob consideração da Física Geral
na medida em que nelas ocorrem as paixões comuns do movimento,

a alma racional, por ser a mais perfeita das almas do mundo natural, engloba as potências da alma vegetal e animal. A
alma animal também engloba potências de alma vegetal.
23 Cf. La Naturaleza y sus Causas, I, 2016. p. 103.
consideradas em si mesmas podem dar origem a uma ciência diferente, já que o
específico não decorre per se, mas per accidens do genérico. Assim, a
cosmologia se distingue formalmente da física geral, na medida em que toma
como sujeito não a entidade móvel simpliciter, mas a entidade móvel secundum
lócum.24

Calderón diz o mesmo de outras ciências particulares, como a biologia, a química e a


psicologia, que também são partes subjetivas da chamada Física Geral. E, embora parte subjetiva da
Física Geral ou Filosofia da Natureza, não se reduz à ela a não ser na mesma medida em que o homem
pode se dizer animal (i.e., apenas enquanto se têm em vista sua formalidade, seu plus em relação ao
gênero). Parece, portanto, que as ciências da natureza (ou descritivas, ou experimentais ou particulares,
em geral) são partes da Filosofia, esta, que por sua vez, é o conjunto geral da ciência. No entanto,
contra isto, segue o mesmo Calderón:

Portanto, deve-se dizer, sem maiores investigações, que as chamadas "novas


ciências" não observam o método científico o suficiente para se desenvolver
como deveria. Não são ciências propriamente ditas, mas partes ou abortivos da
ciência..25

Como pode, então, ser uma ciência parte da Filosofia e ser, ao mesmo tempo, abortivo de
ciência? Façamos aqui uma distinção visando solução dessa suposta contradição. Ora, podemos
considerar uma ciência de dois modos, sendo o primeiro o ato ou hábito particular do homem que
chamamos ciência. Deste ponto de vista, a ciência é parte da vida, biografia, do homem. Podemos,
também, considerar a ciência segundo aquilo que é a espécie e gênero, aquilo que é objeto do ato ou
hábito científico, tal qual o ato de conceber tem por o objeto o conceito. Segundo aquele primeiro
modo, de fato, a ciência de fato mal existe nos dias de hoje, pois o hábito científico está deformado, o
vaso do intelecto moderno está rachado. Cientistas não mais querem ouvir os ensinamentos da
Filosofia, que, como já vimos, a ciência é parte. Porém, se aqueles que se julgam fazer ciência, não
fazem segundo a natureza da própria ciência (que é, diga-se, ser filósofica), não fazem mais ciência.

24 CALDERÓN, Alvaro. Umbrales de Filosofia. p. 315-317.


25 CALDERÓN, Alvaro. Umbrales de Filosofia. p. 345-346.
Descobrem coisas incríveis? Sim, descobrem-nas. Mas somente isso. Ademais, quando consideramos a
ciência como sujeito e gênero, consideramos não o que ela é atualmente, na vida dos cientistas, mas o
que ela deveria ser. A física particular, por exemplo, deveria ser ciência submetida à Física Geral
tomista, enquanto esta deveria ser submetida à Metafísica.
Então, sim, há distinção entre ciências particulares e ciências filosóficas, e a razão dessa
distinção é a seguinte: As ciências filosóficas tratam das causas últimas e supremas, enquanto as
ciências particulares procuram as causas próximas 26. Como se sabe, uma causa próxima ou segunda não
pode ser causa senão em razão da causa última ou primeira, donde se entende que as particulares são
filosóficas na medida em que devem se sujeitar às filosóficas (tal qual a física particular deve se
sujeitar à física geral). Porem, em razão do curso histórico, podemos dizer que as ciências particulares
mal existem hic et nunc. Em contrário, o que existe quando se pensa estar fazendo ciência é apenas
uma constante produção de descobertas.
Queremos, também, refutar certa noção infeliz que se difundiu no meio tomista por alguns,
como por Regis Jolivet, que diz o seguinte em seu Curso:

A ciência e a filosofia não tem o mesmo objeto formal. Sem dúvida, de um ponto
de vista material, ciência e filosofia se aplicam ao mesmo objeto: o mundo e o
homem (objeto material). Mas cada disciplina estuda este objeto comum sob um
aspecto que lhe é proprio (objeto formal).A ciência se aquartela na determinação
das leis dos fenômenos. A filosofia quer conhecer a natureza profunda das coisas,
suas causas supremas e seus fins derradeiros 27

Por mais que exista certa similaridade com a opinião destacada acima, a conclusão dessa
passagem pode ser dupla: Ou a ciência é naturalmente falsa, por ser meramente estudo de fenômenos,
ou a filosofia é que é, visto que não se pode chegar no transfenomênico. Então, para evitar tal problema
nos controlemos em dizer somente que as ciências filosóficas tratam das causas ultimas e as ciências
particulares tratam das causas próximas, que dependem por sua vez das últimas.

26 MERCIER, Cardeal Desiré Joseph. Logique: §1; 5, diz o seguinte: A filosofia é a ciência da universalidade das coisas.
As ciências particulares aplicam-se a um grupo sempre mais ou menos restrito de coisas; a ciência geral, a filosofia,
abrange todas elas.
27 JOLIVET, Regis. Curso de Filosofia, 1953, p. 18-19.
Tendo tudo isso em mente, daremos uma breve olhada sobre as principais disciplinas da Ciência
Tomista e suas partes.

1.2.1 – Lógica
A matéria da lógica são os atos da razão, mas seu sujeito formal são entes de razão ou intenções
segunda. Para ser ainda mais específico, não qualquer ente de razão, mas relações de razão com
fundamento in re que levam o homem ao conhecimento da verdade e da ciência. Não poderia ser
qualquer ente de razão, pois a gramática também versa sobre entes de razão como sílabas, substantivos,
ou orações coordenadas adversativas, que não existem na realidade extramental, senão que possuem
existência somente na mente que os pensa e, sendo assim, o ente de razão específico que a lógica trata é
a relação de razão com fundamento -= e que tem por fim a ciência.
Millan Puelles, ao explicar esse fato, começa dizendo o que é necessário para toda arte (i.e.,
atividade humana que estabelece normas diretivas para a produção de algo).

Tais normas supõem a existência de três coisas: 1) a faculdade ou poder do qual


emana a atividade que se intenta dirigir; 2) uma finalidade que se intenta lograr
pondo em jogo esse poder ativo; 3) a possibilidade que este, ainda que tenha
capacidade para alcançar aquele fim, seja também defectível, ou seja, que não
chegue a alcança-lo algumas vezes ou que se alcançe com dificultade que
convém anular ou diminuir. […]
Desta maneira, a lógica, por sua parte, não há de estudar a razão ou poder
discursivo em si mesmo; senão que se interessa pela razão unicamente na medida
em que esta é um poder ao que cabe fixar a finalidade de fazer ciência.
Tampouco há de se estudar a lógica como algo isolado e sem conexão com a
razão; senão que toma-la-á como algo elaborado por esta, como certa obra da
razão. Por último, tampouco é a lógica uma simples meditação ineficaz da
possibilidade que a razão tem de se desviar da busca da verdade científica. A
lógica conta com tal possibilidade: mas do que trata é de evitar os erros
consequentes, ou seja, de aproximar, de uma maneira fácil e adequada, a razão à
sua obra científica.28

28 PUELLES, Millan. Fundamentos de Filosofia. p. 69-70.


Depreendemos, pela propria natureza da lógica, seu lugar especial entre as disciplinas. Ela é a
única disciplina que é tanto arte como ciência. Deduzamos isto: Para que entendamos este problema,
começemos com o que não é problemático. A ciência e a arte se relacionam, pois, como já visto 29, não
se pode bem produzir nem ordenar a não que se tenha ciência do objeto produzido ou da matéria com
que se produz ou do instrumento com que se produz. Assim sendo, a prudência recebe seus princípios
científicos ou docentes da Ética, pois a mesma prudência não pode recair sobre fatos universais
imediatamente, do contrário seria perfeitamente ciência e não arte, donde recorre sua carência para
alguma ciência que lhe ofereça princípios. Então, em todas as artes (ou quase todas, tirando a lógica,
como logo se verá) os seus princípios docentes não lhe são próprios, senão que por analogia apenas,
sendo-lhes próprio apenas os princípios ut utens, enquanto os ut docens recorrem à outras disciplinas
com sujeitos formais distintos. Na lógica, no entanto, ocorre o contrário. Se se começa por sua
consideração artística, não há como considerar as regras universais da razão logradas à ciência sem que
se considere, com o mesmo sujeito formal, seus princípios científicos; bem como se começamos o
raciocínio pela perspectiva científica, é pela mesma consideração das causas universais dos entes de
razão logrados à ciência, que se entende a mesma aplicação ou criação de regras artificiais, sem que se
altere o sujeito formal. Portanto, é pelo fato de que o sujeito formal não se distinguir tanto na parte ut
utens como na parte ut docens da lógica, que afirmamos a lógica ser ciência e arte.30
Por fim, a lógica se distingue ou se dividem em lógica particular e lógica geral. Esta primeira
trata de dirigir, propriamente, o homem à ciência sem erros, enquanto a segunda trata da realidade da
verdade, dos meios, das faculdades, dos métodos e do resultado que é a ciência31.

1.2.2 – Física Geral

29 Cf. nós mesmos, acima, em Ciência e Arte.


30 Aqui nos afastamos de enúmeros erros modernos. Por ser artístico e normativo, nos afastamos do psicologismo de
Dilthey e afastamo-nos da chamada lógica informal que diz ser a lógica mera ciência do discurso, ou como diz Irvirg M.
Copi em sua Introdução à Lógica, que é o estudo dos métodos e princípios para distinguir o raciocínio correto do
incorreto, e ainda contradizemos aqueles que dizem que a lógica é mero conjunto axiomático. Ao dizer que é ciência,
nos distinguimos também da visão inferencialista de lógica, cujo único trabalho da lógica seria meramente explicitar
atos da razão. Nos aproximamos, atualmente, da posição de Kuno Lorenz em Rules versus Theorems: A New Approach
for mediation between intuitionistic and two-valued logic.
31 Cf. SINIBALDI, Dom Tiago. Elementos de Filosofia. Vol. I, p. 53-54.
O sujeito da física geral é o ente móvel, isto é, enquanto apresentado aos sentidos ou ainda
enquanto mescla de potência e ato, que é o mesmo que ser móvel, pois a passagem da potência ao ato é
o movimento32. A Física Geral é a é o “estudo comum ou geral em que este ente [o móvel] é abordado
com independência de suas várias espécies ou modalidades” 33 e pode chamar-se também “filosofia
geral da natureza”34, que é o tratado genérico anteposto ao tratamento especial ou específico.
Este estudo genérico se subdividem especificamente ou segundo a espécie desse sujeito.

Das quatro espécies de mudanças ou movimentos em sentido amplo derivam as


quatro grandes partes do todo universal que é a Física Geral, quer sejam: (I) a
Cosmologia, que estuda o ente móvel segundo o o lugar; (ii) a Química, que
estuda o ente móvel segundo a geração e a corrupção; (iii) a Biologia, que estuda
o ente móvel segundo o aumento e a diminuição; e (iv) a Psicologia que estuda o
ente móvel segundo a alteração.35

Como se verá mais a frente, a fenomenologia, objeto desta obra, tem grande relação com a
psicologia, razão porque a veremos com mais calma agora.

1.2.3 – Psicologia
Por ser a psicologia parte da Física Geral, seus objetos são materialmente os mesmos (tal qual o
gênero do homem e do cachorro são materialmente os mesmos), conquanto a psicologia obtenha um
tratamento especial sobre a alma, que têm poder de mover a si mesma 36, principalmente a alma
humana, mais excelente de todas as almas. Dom Thiago Sinibaldi chama a ciência da alma de
Antropologia, e diz que deve ela ter lugar especial entre as ciências pois é a síntese de todos os entes
visíveis37, razão por que não é estudada somente pela luz da biologia38.

32 Cf. SCHERER, A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica, p. 52.


33 PUELLES, Millan. Fundamentos de Filosofia. Vol. I. p. 216.
34 Ibidem.
35 SCHERER. A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica, p. 55-56.
36 AQUINO, Santo Tomás de. Suma Teológica. Ia Pars, q. 18, a. 2.
37 Cf. SINIBALDI, Dom Thiago. Elementos de Filosofia. Vol. I. p. 42.
38 Uma vez definido o objeto da psicologia segundo o sujeito formal, a distinguimos tanto da lógica, já evitando a priori o
psicologismo, como distinguimos-la da biologia (especielmente da neurociência), não caindo no erro de inúmeros
1.2.4 – Ética ou Ciência Moral
Basta-nos os dizeres do Frade Antoine Goudin na primeira página do quarto volume de sua obra
monumental: “o objeto material da Moral são as afeições e atos humanos; seu objeto formal é a
moralidade de que esses atos ou afeições são capazes; o ponto de vista a apreciar, estes são os primeiros
princípios práticos”.39 Digno de nota o fato que se desdobra, ainda, em (i) Monástica, que aprecia a
moral do indivíduo; (ii) Económica ou Doméstica, que se debruça sobre a moral da casa ou da família e
finalmente (iii) Política, que versa sobre a moral da cidade e da pátria4041.

1.2.5 – Metafísica
Desta vez, daremos voz a Cornélio Fabro:

O objeto material, isto é, aquilo sobre o qual trata a metafísica, são todos os seres
que de algum modo existem. Mas, como sabemos que são seres e que existem?
Não estamos supondo que haja uma metafísica antes de iniciá-la se damos por
certo que coisas existem e que são seres? É justamente o contrário, que o ser
enquanto ser nos seja totalmente desconhecido antes da metafísica, como pode
esta começar carecendo de seu objeto? Antes da metafísica estão a experiência e
o conhecimento prático, as ciências e artes, e técnicas das coisas materiais, os
problemas culturais… isto é, o âmbito das considerações regionais, para usar o
termo de Husserl.
[...]
O objeto formal quo da metafísica é o ser enquanto ser (ens in quantum ens). Não
o fato de existir um indivíduo (não pode haver ciência do individual), senão que
o ato de ser, aquele princípio atuante pela qual a natureza ou essência é esta ou
aquela natureza, de este ou aquele ser. 42

filosofos analíticos e psicólogos cognitivos.


39 GOUDIN, Fr. Antoine. Philosophie suivant les principes de Saint Thomas. Vol. IV. 1864. p. 2.
40 Cf. SCHERER. A Raiz Antitomista da Modernidade Filosófica. p. 74-75.
41 Como se vê, não há distinção intransponível entre ciência dos atos interiores e ciência dos atos exteriores, como é o
caso da ética contra o direito em Kant. Ambas possuem o mesmo princípio genérico que Ética oferece, e são
especificões da ética na medida que a Monástica aplica esses princípios na vida do homem e a Política na vida pública.
42 FABRO, Cornélio. Curso de Metafísica. p. 28-29.
1.2. - A ordem das disciplinas
Como já dito, as ciências se dividem segundo o que tem de formal e as artes segundo ao que
pendem, sendo assim, deve haver uma hierarquia de excelência das disciplinas (ciências e artes), sendo
a mais alta a que possui o objeto ou sujeito mais atual, mais perfeito em ato, e a menos excelente a que
possui o menor e mais efêmero objeto. Essa ordem da excelência é chamado de ordo sustentationis da
disciplinas. Porém, existe também uma ordem pedagógica, uma ordem do conhecimento das ciências,
pois o que é mais excelente só é tomado ciência por meio dos menos excelentes, numa ascenção
intelectual. Essa ultima ordem é a ordem das disciplinas […].

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