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CADERNO DE
LÍNGUA
PORTUGUESA
SEBENTA DE USO INTERNO – EM DESENVOLVIMENTO DESDE 2008
APOIO ÀS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
PU
TAL
Luanda - Angola
LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – ÍNDICE
ÍNDICE
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 1 - 11ª Classe - Canto interior de uma noite fantástica ……..…. 165
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 2 - 11ª Classe - Dia de faxina ……………………………..……… 166
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 3 - 11ª Classe - No meio do caminho ……………………………. 166
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 1 - 12ª Classe - Ah! Se tu soubesses… ………………………… 167
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 2 - 12ª Classe - À força de um braço ……………………………. 167
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 3 - 12ª Classe – Referências ……………………………………. 168
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 4 - 12ª Classe – Perdição ……………………………………….… 168
TEXTO LÍRICO: TEXTO DE ESTUDO 5 - 12ª Classe - N’gola: Flor de bronze ……………………….….. 169
TEXTO ARGUMENTATIVO: ESTUDO APLICADO ………………………………………………………………… 169
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 1 - 11ª Classe - Eu tenho um sonho …….………… 169
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 2 (editorial) - 11ª Classe - Porque tanta descrença 170
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 3 (discurso político) - 11ª Classe – Discurso ……… 171
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 1 - 12ª Classe – Rioseco …………………………… 171
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 2 (artigo de opinião) - 12ª Classe - A África e a
Europa …………….…………………………………………………………………………..………………… 172
TEXTO ARGUMENTATIVO: TEXTO DE ESTUDO 3 - 12ª Classe - Provérbios: um género da
literatura oral angolana (breves notas). ……………………………………………………………………… 173
TEXTO DRAMÁTICO: ESTUDO APLICADO …………………………………………………………...…………… 174
TEXTO DRAMÁTICO: TEXTO DE ESTUDO 1 - O suicidiota ……………………………………………… 174
TEXTO DRAMÁTICO: TEXTO DE ESTUDO 2 - Quem me dera ser onda ……………………………….. 177
TEXTO DRAMÁTICO: TEXTO DE ESTUDO 3 - Ana, Zé e os escravos ………………………………….. 178
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Pode obter seu Caderno de Língua Portuguesa das formas seguintes:
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PARTE I
INTRODUÇÃO GERAL
Gramática: definição
Gramática é uma palavra de origem grega formada a partir de grámma, que quer dizer letra. Originalmente,
gramática era o nome das técnicas de escrita e leitura.
Posteriormente, passou a designar o conjunto das regras que garantem o uso modelar da língua, a chamada
gramática normativa, que estabelece padrões de certo e errado para as formas do idioma. Gramática também é,
actualmente, a descrição científica do funcionamento de uma língua. Nesse caso, é chamada de gramática descritiva.
A gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão linguístico que socialmente é considerado
modelar e é adoptado para ensino nas escolas e para a redacção dos documentos oficiais.
Há línguas que não têm forma escrita (como algumas línguas indígenas brasileiras e não só). Nesses casos, o
conhecimento linguístico é transmitido oralmente. As línguas que têm forma escrita, como é o caso do Português,
necessitam da gramática normativa para que se garanta a existência de um padrão linguístico uniforme no qual se registre
a produção cultural.
Conhecer a norma culta é, portanto, uma forma de ter acesso a essa produção cultural e à linguagem oficial.
Gramática: divisão
A Gramática divide-se em…
- Fonologia (dimensão fonológica) - estuda os fonemas ou sons da língua e a forma como esses fonemas dão
origem às sílabas. Fazem parte da fonologia a ortoepia ou ortoépia (estudo da articulação e pronúncia dos vocábulos),
a prosódia (estudo da acentuação tónica dos vocábulos) e a ortografia (estudo da forma escrita das palavras/ conjunto
de normas que define a utilização dos sinais gráficos); estuda os sistemas sonoros da língua.
- Fonética (dimensão fonética) - estuda os sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção,
transmissão e recepção e pode subdividir-se em fonética acústica que estuda as propriedades físicas dos sons da fala,
fonética articulatória que estuda o modo como os sons da fala são produzidos pelos órgãos do aparelho fonador, e em
fonética auditiva, que estuda o modo como se dá a percepção dos sons da fala pelo ouvido humano.
- Morfologia (dimensão formal) - estuda as palavras e os elementos que as constituem. A Morfologia analisa a
estrutura, a formação e os mecanismos de flexão das palavras, além de dividi-las em classes gramaticais.
- Sintaxe (dimensão funcional) - estuda as formas de relacionamento entre palavras ou entre orações. Divide-
se em sintaxe das funções, que estuda a estrutura da oração e do período, e sintaxe das relações, a qual inclui a
regência, a colocação e a concordância.
- Morfossintaxe (dimensão formal e funcional) - estuda as categorias gramaticais a partir de critérios extraídos
da morfologia e da sintaxe. A classificação morfológica de uma palavra só pode ser feita eficientemente se se observar a
sua função nas orações. Esse facto demonstra a profunda interligação existente entre a morfologia e a sintaxe. É por isso
que se tem preferido falar actualmente em morfossintaxe, ou seja, a apreciação conjunta da classificação morfológica e
da função sintáctica das palavras.
- Semântica (dimensão significativa) - estuda a relação de significação nos signos1 e da representação do
sentido dos enunciados; estuda as mudanças ou as translações sofridas, no tempo e no espaço, pela significação das
palavras.
1 Semiologia: segundo Ferdinand de Saussure, ciência geral dos signos que estuda todos os fenómenos culturais como se fossem sistemas de signos, isto é, sistemas
de significação. Em oposição à linguística que se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, da linguagem, a semiologia tem por objecto qualquer sistema de
signos (imagens, gestos, vestuários, ritos etc.). Os autores norte-americanos preferem a expressão semiótica (Ferreira, 2004).
- Lexicologia (dimensão significativa) - parte da gramática que se ocupa do valor etimológico e das várias
acepções das palavras; estuda os elementos de formação das palavras; estuda a evolução do léxico.
Comunicação unilateral. A comunicação é unilateral quando estabelecida de um emissor para um receptor sem
reciprocidade. Os meios de comunicação social como o jornal, a rádio e a televisão que difundem mensagem sem receber
resposta são exemplos deste tipo de comunicação.
Comunicação bilateral. A comunicação é bilateral no caso de se estabelecer uma alternância de papéis entre o
emissor e o receptor realizando-se assim, um intercâmbio de mensagens.
Ruído. Entende-se por ruído tudo aquilo que perturba a perfeita transmissão e recepção da mensagem. São
exemplos de ruídos, a interferência de terceiros numa conversa, as gralhas etc.
Redundância. Entende-se por redundância a existência, numa mensagem, de um número de elementos maior
do que o estritamente necessário à transmissão de um conteúdo informativo. Estes elementos em excesso podem
contribuir ao tornar mais clara e inteligível a mensagem.
A redundância manifesta-se de diversas formas:
- sintácticas: Nós estudamos. (O pronome nós é redundante pois marca da primeira pessoa do plural já está
presente na terminação do verbo.)
- gestuais: Não quero a sopa. (A frase é acompanhada por um movimento da cabeça).
Quando a redundância é excessiva a linguagem torna-se confusa e diz-se prolixa; quando a redundância é
insuficiente a linguagem diz-se lacónica e pode tornar-se ininteligível (sobretudo se o excesso de laconismo suprime
elementos essenciais).
Cacofonia: má sonância, resultante da disposição das palavras. Ex.: Alma minha; não pode o Gama mais.
Hiato: dissonância, resultante do emprego de vogais sucessivas. Ex.: Correu-o o Orlando; Maria vá à arca.
Eco: repetição seguida dos mesmos sons. Ex.: Os pardais tais como os pinta Junqueiro; o pai sai e vai com ele; quando
mando, tenho empenho.
Colisão: sequência de consoantes ásperas. Ex.: O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia; pelos montes,
verdejantes quintas, sombreadas de viçosas árvores.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
petróleo, poço, reservatório, perfilagem, sonda, complementação, Este conjunto de palavras integra o vocabulário técnico da área
elevação, escoamento, terrestre, marítimo de engenharia petrolífera.
lei, decreto, acórdão, legislação, código, jurisprudência, parecer, Este vocabulário pertence ao domínio profissional e técnico do
arbitragem, procuração, edital, processo direito.
amor, pátria, tempo, engano, humano, vida, peito, sorte, glória, Na lírica de Camões, poder-se-á inventariar o vocabulário mais
fama, honra, senhora, mulher, pena, prazer, fortuna recorrente.
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Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE I – INTRODUÇÃO GERAL
Linguagem
Linguagem é todo sistema de signos que serve de meio de comunicação entre indivíduos e que pode ser
percebido pelos diversos órgãos dos sentidos. Distingue-se em três tipos:
. Linguagem verbal, que é realizada pela palavra (falada ou escrita);
. Linguagem não verbal, que utiliza outros sinais:
+ sons (linguagem sonora),
+ gestos (linguagem gestual),
+ símbolos (linguagem simbólica – a pomba representa a paz),
+ ícones (linguagem icónica – desenhos em placas na via pública significando castelo, escola etc.);
. Linguagem mista, que utiliza palavras e outros sinais, ou seja, é simultaneamente verbal e não verbal – banda
desenhada, cartaz publicitário etc.
Prosa e poesia
Prosa: forma de discurso oral ou escrito que não obedece às normas da métrica e da rima; forma de escrever
em linhas contínuas.
Poesia: composição (de texto) em verso em que se exprimem emoções ou sentimentos segundo uma
organização rítmica das palavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticos.
PROSA POESIA
EM PROSA/ PROSA
VERSIFICADA LITERÁRIA NÃO LITERÁRIA INTEGRAL
VERSIFICADA
1ª Em verso Não versificada Não versificada Não versificada Versificada
expressão do "não estrutura frásica estrutura frásica expressão do "eu"
2ª expressão do "eu"
eu" apurada corrente
linguagem conotativa
3ª linguagem denotativa linguagem conotativa linguagem denotativa linguagem conotativa
não provoca emoção marcas pessoais do
4ª --- provoca emoção poética provoca emoção poética
poética autor
5ª --- representa o real --- realidade exterior interiorizada realidade exterior interiorizada
rica nos níveis fónico,
6ª --- --- --- ---
morfossintáctico e semântico
7ª --- --- --- --- desvio máximo da norma
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Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE I – INTRODUÇÃO GERAL
a) Protoportuguês - do século IX ao século XII. A documentação desse período é muito rara: são textos
redigidos em Latim Bárbaro, nos quais se encontram algumas palavras portuguesas;
b) Português Histórico - do século XII aos dias actuais. Esse período subdivide-se em duas fases:
- fase arcaica: do século XII até ao século XV. Nessa fase, houve inicialmente uma língua comum ao noroeste
da Península Ibérica (regiões da Galiza e norte de Portugal), o Galego-Português ou Galaico-Português, fartamente
documentado em textos que incluem uma literatura de elevado grau de elaboração (a lírica galego-portuguesa). Com a
separação política de Portugal e sua posterior expansão para o sul, o Português e o Galego se foram individualizando,
transformando-se o primeiro numa língua nacional e o segundo num Dialecto Regional.
- fase moderna: do século XVI aos dias actuais. Deve distinguir-se o Português Clássico (séculos XVI e XVII)
do Português Pós-clássico (do século XVIII aos dias actuais). Na época do Português Clássico, tiveram início os estudos
gramaticais e desenvolveu-se uma extensa literatura, em grande parte influenciada por modelos latinos. No período pós-
clássico, a Língua começou a assumir as características que hoje apresenta.
A partir do século XV, as navegações portuguesas iniciaram um longo processo de expansão linguística. Durante
alguns séculos, a Língua Portuguesa foi sendo levada a várias regiões do planeta por conquistadores, colonos e
emigrantes.
Actualmente, a situação do Português no mundo é aproximadamente a seguinte:
a) em Portugal e no Brasil, é Língua Nacional;
b) em alguns países como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Macau
(Ásia), é a Língua Oficial, o que lhe confere unidade, apesar da existência de variações regionais e da convivência com
idiomas nativos;
c) em certas regiões da Ásia (Goa, Damão, Diu) e da Oceania (Timor), é falado por uma pequena parcela da
população ou deu origem a dialectos2.
a sua unidade. Na realidade, a unidade é garantida por uma das suas realizações - a língua padrão. Esta, actuando
como modelo, como norma, desempenha uma função unificadora. Assim se explica que um português compreenda sem
dificuldade o falar de um brasileiro ou de um angolano (ou vice-versa), ou ainda que um cunenense entenda um
malangino.
Língua: registos
Apesar das variedades, é patente na língua uma base comum que se converte num código conhecido e
partilhado por todos os falantes de uma mesma comunidade, permitindo a comunicação entre todos – a língua padrão
ou norma ou registo corrente.
Quem mais contribui para a normalização linguística é a escola, os meios de comunicação social e a literatura.
É a língua padrão que é exigida habitualmente nas relações sociais de carácter profissional ou oficial (entrevista de
trabalho, carta de pedido de emprego, relatório, prova de concurso público…). A norma deve, pois, ser adquirida durante
a vida escolar, já que o seu domínio é essencial como forma de ascensão social e profissional.
Em relação à norma (ou registo corrente), cada um dos outros registos constitui um desvio, uma variação.
Vejamos alguns desses registos:
. Registo familiar: emprega-se em situações informais (em família, com amigos…), não se afastando muito da
língua corrente. Faz uso de vocabulário e sintaxe simples e pouco variados.
. Registo cuidado: emprega-se em situações mais formais (em discursos parlamentares, em conferências…).
Usa um vocabulário mais seleccionado e uma construção frásica mais elaborada.
. Registo popular: este registo está geralmente associado a um baixo grau de instrução; faz uso de um
vocabulário muito próprio, afastando-se frequentemente das regras da gramática normativa. O registo popular pode
recorrer a:
- regionalismos: usos da língua característicos de determinada região, em nível do vocabulário, da construção
frásica, da pronúncia…;
- gíria: código construído por determinados grupos sociais ou profissionais (por exemplo, a gíria futebolística e
a gíria académica), sendo dificilmente compreendido por quem não pertence ao grupo;
- calão: caracteriza-se pela utilização de termos considerados grosseiros ou obscenos.
Substrato: o Céltico
No entanto, as línguas antigas não desaparecem sem deixar marcas, nomeadamente através das palavras que
ficam. Em Portugal, o mais importante substrato é o Céltico. Dele nos ficaram palavras como: caminho, camisa, légua,
tona.
Outras línguas eram faladas através da Península Ibérica, mas em muito menor escala e, por isso, de importância
muito menor como substrato: o Íbero, o Lígur, o Fenício, o Grego.
A maioria das palavras da Língua Portuguesa veio (para o Português) por via popular: foi o povo que as captou
do falar romano na Península (por vezes já com deturpações fónicas) e as foi transformando segundo os princípios
seguintes…
… do menor esforço: o povo tem a tendência para modificar os fonemas de pronúncia mais difícil;
… da lenta evolução: as modificações processam-se muito lentamente;
… da inconsciência: o povo não se apercebe das modificações que vai fazendo, em virtude da lentidão do
processo.
As alterações sofridas pelos fonemas (sons articulados) ao longo dos tempos são chamadas fenómenos
fonéticos.
Alguns destes fenómenos fonéticos são:
+ Etimologia popular: o povo, perante uma palavra nova, relaciona-a instintivamente com outra, ou outras,
fonicamente semelhantes, guiando-se, assim, por uma falsa etimologia. Ex.: A palavra “viatura” proveio do francês
voiture. Como é que voiture – “viatura”? Por influencia das palavras conhecidas “via” e “viagem”.
. étimos diferentes dão origem a palavras com a mesma forma – palavras convergentes:
COMO como conjunção ou advérbio, deriva de quomodo
como forma verbal, de comedo
FIO como forma verbal, deriva de fidu
como substantivo, tem origem em filu
RIO como forma verbal, tem por étimo rideo
como substantivo, provém de rivu
SÃO como adjectivo, provém de sanu
como forma verbal, deriva de sunt
VÃO como adjectivo, provém de vanu
como forma verbal, de vadunt
PARTE II
GRAMÁTICA
Fonética e fonologia
Fonética
No acto da fala, produz-se um contínuo sonoro que está associado às propriedades físicas dos sons, à sua
própria produção e à sua percepção. Estas são as áreas em que, tradicionalmente, se subdivide a fonética.
- articulatória
Fonética - acústica
- perceptiva
Fonética articulatória
A fonética articulatória estuda os movimentos do aparelho fonador, aquando da produção dos sons, ou seja, da
emissão da mensagem.
Para que haja produção
dos sons característicos
da fala humana é
necessário estarem
reunidas três condições:
corrente de ar, obstáculo à
corrente de ar e caixa de
ressonância.
Estas condição
são reunida pelo aparelho
fonador humano,
constituído pelas
seguintes partes:
- os pulmões, os
brônquios e a traqueia –
órgãos respiratórios que
fornecem a corrente de ar
envolvida na produção dos
sons;
- a laringe, onde
se localizam as cordas
vocais, cuja vibração
intervém na realização de
alguns sons;
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- as cavidades supralaríngeas
(faringe, boca e fossas nasais), que funcionam
como caixas de ressonância.
Fonética acústica
A fonética acústica estuda a transmissão da mensagem, a sua natureza física, sendo o som estudado como um
fenómeno vibratório que possui certas características: amplitude, duração, frequência.
Para que o som seja possível, são necessários três requisitos:
- fonte de energia: proporciona uma vibração que, na fala, corresponde à formação de um fluxo de ar,
necessário à produção da fala;
- fonte sonora: movimentação vibratória do(s) corpo(s) originada pela fonte de energia;
- caixa de ressonância: elementos que irão moldar o som (faringe, boca, fossas nasais).
A partir do momento em que o som é formado, este propaga-se através do ar cmo uma onda sonora que pode
ser medida pela sua…
- frequência, número de oscilações completas que ocorrem por segundo, sendo a sua unidade o Hertz (Hz);
- amplitude, força da vibração responsável pela onda sonora, a qual é medida em decibéis (dB).
No entanto, o ouvido humano não é capaz de identificar todos os tipos de sons. Os únicos sons audíveis têm
uma frequência entre 20 Hz e 20 000 Hz (20 kHz). Os sons acima desta faixa são chamados de ultrassons e os que estão
abaixo são chamados de infrassons.
Fonética perceptiva
A fonética perceptiva (auditiva) estuda a percepção dos sons, desde o aparelho auditivo à recepção da fala.
O aparelho auditivo, responsável pela transformação do som em impulsos nervosos que são transmitidos como
mensagens para o cérebro que as descodifica e interpreta, torna possível a compreensão do enunciado.
O aparelho auditivo humano está dividido em três partes, cada uma com funções distintas e indispensáveis para
o bom funcionamento da audição: ouvido externo, ouvido médio, ouvido interno.
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Ouvido interno, composto pela cóclea, pelo aparato vestibular e pelo órgão de Corti.
- Cóclea: canal em forma espiral onde estão os fluidos responsáveis pela transformação das vibrações
provenientes do ouvido médio em ondas de compressão;
- Órgão de Corti: responsável pela transformação das ondas de compressão em impulsos que são enviados ao
cérebro para serem descodificados;
- Aparato vestibular: formado por três canais semicirculares que se juntam numa zona central, o vestíbulo. Ao
vestíbulo está ligada a cóclea, sede do sentido da audição. Ao conjunto destas duas estruturas chama-se labirinto.
As funções do aparato vestibular são auxiliar na manutenção do equilíbrio e na compensação dos movimentos
da cabeça, para controlar o movimento dos olhos, evitando assim que a visão fique desfocada.
Por fim, o cérebro é o grande responsável pela descodificação da mensagem coptada pelo ouvido em forma de
sequência de sons de fala. À capacidade de identificar e interpretar estas sequências emitidas em impulsos dá-se o nome
de percepção da fala.
Fonologia
A fonética, que estuda a natureza física da produção, propagação e percepção dos sons da fala (fones), está
intimamente relacionada com a fonologia, que tem como objecto de estudo a variedade dos sons e a forma como se
organizam num sistema de contrastes. O trabalho da fonologia reside no interior de uma dada língua, estudando o papel
de cada som e o seu valor distintivo. Além disso, a fonologia estuda tópicos como a estrutura silábica, o acento e a
entoação.
Em português nem todos os sons que pronunciamos têm o mesmo valor, por exemplo, na palavra erro é o timbre,
fechado ou aberto, da vogal tónica que vai estabelecer uma relação de oposição entre o nome e o verbo.
Na série de palavras: faca, vaca, laca, saca, maca, tem-se cinco palavras que apenas se distinguem pela
consoante inicial.
Todo o valor distintivo entre duas palavras de uma língua é estabelecido em termos de oposição ou contraste
entre dois sons, o que revela que cada um desses sons tem uma representação física, que é o fonema. Os sons vocálicos
e consonânticos diferenciadores desta palavras correspondem assim a fonemas diversos.
Os sons linguísticos
Para a classificação dos sons é importante ter em consideração três aspectos:
- como são produzidos;
- como são transmitidos;
- como são entendidos.
Tradicionalmente, devido à complexidade de uma classificação baseada na transmissão e compreensão, a
classificação dos sons assenta essencialmente no modo como os sons são produzidos, na sua articulação. Contudo,
alguns pontos de classificação também se baseiam no modo como são transmitidos, na sua acústica.
Vogais e consoantes
Do ponto de vista articulatório, as vogais podem ser consideradas sons produzidos pela vibração das cordas
vocais e transformados pela forma das estruturas supralaríngeas, que estão abertas ou entreabertas à passagem do ar
na cavidade bucal. Na pronúncia das consoantes, há sempre um obstáculo à passagem do ar na cavidade bucal.
Em relação à função silábica, outro critério distintivo da nossa língua, as vogais são sempre centro de sílaba,
enquanto as consoantes são fonemas que só figuram na sílaba junto a uma vogal.
Semivogais ou glides
As semivogais ou glides situam-se entre as vogais e as consoantes e são os fonemas /i/ e /u/ que quando juntos
a uma vogal, formam uma sílaba. Na transcrição fonética estas vogais assilábicas transcrevem-se [j] e [w].
Vejamos, a título de exemplo:
Tritongos
Os tritongos são formados por uma semivogal, uma vogal e outra semivogal, podendo ser classificados, segundo
a sua natureza composicional, como orais ou nasais. Ex.: enxaguei, delinquiu; xaguão, delínquem, xaguões.
Hiato
Os hiatos são formados pelo encontro de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes. Não constituem
ditongo, uma vez que não se trata de uma vogal e de uma semivogal pronunciadas de forma contínua. São duas vogais
pronunciadas de modo distinto, pois pertencem a sílabas distintas.
Compare-se:
- pais (plural de pai) em que o encontro ai se pronuncia numa só sílaba [ʹpaiʃ].
- país (região) em que o a pertence a uma sílaba e o i a outra [paʹiʃ].
O alfabeto da Língua Portuguesa é formado por vinte e seis letras. Cada uma delas com uma forma minúscula
e outra maiúscula.
GRAFIA Ç DÍGRAFOS Rr Ss Ch Lh Nh Gu Qu
DESIGNAÇÃO cê cedilhado ou cê-cedilha erre duplo esse duplo cê-agá ele-agá ene-agá guê-u quê-u
- Til
O til (~) emprega-se sobre o a e o para indicar que estas vogais são nasais. Ex.: órfã, sermões.
- Apóstrofo
O apóstrofo (') usa-se para assinalar a supressão de um fonema (geralmente vogal), ou de uma sequência de
letras, no verso, na língua oral ou em palavras compostas ligadas pela preposição de. Ex.: minh'alma (por minha alma), c'roa
(por coroa), ‘tá (por está).
- Cedilha
A cedilha (,) coloca-se debaixo da letra c, antes de a, o e u, passando assim aquela letra a representar a fricativa
surda /s/. Ex.: caça, açúcar, preço.
- Hífen
O hífen (-), ou traço de união, emprega-se:
a) para indicar a divisão silábica na translineação;
b) para ligar a preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver; Ex.: hei-de,
hás-de;
c) para ligar os pronomes enclíticos às formas verbais, quando eles se seguem ou neles se intercalam; Ex.: lavo-
me, levar-te-ei;
d) para ligar ocasionalmente encadeamentos vocabulares; Ex.: o desafio Portugal-Espanha;
e) para ligar palavras compostas por justaposição; Ex.: couve-flor, amor-perfeito, pão-de-ló;
f) em palavras derivadas por prefixação; Ex.: além-mar, recém-casado, co-autor, ex-ministro, bem-aventurado, sem-
razão, vice-almirante, ab-rogar, co-habitar, ante-histórico, anti-ruga, contra-senso, circum-navegar, hiper-rugoso, sub-bibliotecário.
O hífen não se emprega na formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento
começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se. Ex.: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno,
extrarregular, infrassom, minissaia, biorritmo, biossíntese, electrossemáforo, microssegundo, microrregião.
O hífen não se emprega, ainda, nas formações em que o prefixo, ou pseudoprefixo, termina em vogal e o
segundo elemento começa por vogal diferente. Ex.: antiaborto, coeficiente, extraordinário, aeroespacial, auto-aprendizagem,
agro-industrial, hidroeléctrico, plurianual .
- Trema
O trema (..) é usado nas palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.: Hüber, Müller, Wölfflin;
hübneriano, mülleriano, wölffliniano.
Acentos gráficos
Os acentos gráficos são sinais diacríticos com os quais se indica, na escrita, a pronúncia de um vogal ou a
sílaba tónica de uma palavra.
O acento grave utiliza-se para marcar a contracção da preposição a com o artigo definido a ou com pronome
demonstrativo começando por a, assim com:
. na contracção da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o. Ex.: à (de a+a),
às (de a+as).
O acento circunflexo utiliza-se para assinalar a vogal tónica oral ou nasal, se esta for a, e ou o fechados, assim
como…
. na sílaba final de uma palavra, quando a vogal respectiva seja o ou e fechados. Ex.: avô, francês, vê.
. na vogal fechada da sílaba tónica das palavras esdrúxulas. Ex.: câmara, esplêndido, estômago.
Sinais de pontuação
Os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita. Embora não consigam reproduzir
toda a riqueza melódica da linguagem oral, eles estruturam os textos e procuram estabelecer as pausas e as entoações
da fala. Basicamente, têm como finalidade…
- assinalar as pausas e as inflexões de voz (entoação) na leitura;
- separar palavras, expressões e orações (que devem ser destacadas);
- esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.
Os sinais gráficos utilizados na pontuação são: ponto (.), vírgula (,), ponto e vírgula (;), dois pontos (:), ponto
de interrogação (?), ponto de exclamação (!), reticências (…), travessão (–).
a) O ponto (.) marca o fim de uma frase de tipo declarativo e corresponde-lhe uma pausa longa. Também se
utiliza na formação de abreviaturas.
b) A vírgula (,) marca uma pausa breve e usa-se para separar…
- elementos de uma enumeração. Ex.: O João comprou livros, cadernos, lápis e uma pasta.
- o vocativo. Ex.: Nuno, fecha a porta.
- os complementos circunstanciais, de modo geral. Ex.: Ontem, à tarde, estive na biblioteca.
- as orações subordinadas que precedem as subordinantes ou nelas estão incorporadas. Ex.: Porque choveu muito,
as batatas apodreceram. O João, quando tu chegaste, estava a tocar violino.
- as orações ligadas assindeticamente, isto é, sem ser por conjunção. Ex.: O Luís levantou-se, abriu a janela, olhou
para o céu azul e sorriu.
- uma oração intercalada ou a relativa explicativa. Ex.: Na próxima semana, informou o meteorologista, o tempo vai
melhorar. O João e a Marta, que já entregaram o exercício, podem sair.
- as conjunções e locuções conjuncionais mas, porém, portanto, por conseguinte… Ex.: A Rita queria levantar-
se, mas não tinha força. Todos os alunos saíram, o Rui, porém, ficou a acabar o trabalho.
- o aposto. Ex.: D. Dinis, o Lavrador, mandou plantar o pinhal de Leiria.
- emprega-se ainda, para evitar a repetição desnecessária de um verbo. Ex.: O Zé é de Cabinda; a Maria, do Huambo;
o Hélder, de Malanje.
A vírgula nunca se utiliza
. Para separar o sujeito de predicado. Ex.: «A Faculdade de Psicologia, reabriu em novas instalações.»
. Para isolar orações relativas adjectivas restritivas. Ex.: «O rapaz, que partiu o candeeiro, terá de o pagar.»
. Entre dois elementos separados pela conjunção coordenativa copulativa. Ex.: «Puskas, Di Stefano, e Valdano
foram figuras históricas do Real Madrid.»
c) O ponto e vírgula (;) frequentemente marca o fim de uma frase e corresponde-lhe uma pausa mais ou menos
longa. Emprega-se…
- para separar as orações coordenadas, sobretudo se são extensas ou formadas por elementos separados por
vírgulas. Ex.: O museu é um centro de cultura; dá a conhecer obras de autores do passado e do presente; torna viva a história de
um povo e ajuda a formar a consciência colectiva.
- em vez de vírgula, quando duas ou mais orações subordinadas dependem da mesma subordinante. Ex.: Não te
esqueças que nós vamos sair; que o teu irmão já fica a dormir; que deves apagar as luzes e deitares-te cedo.
- para separar os vários itens de enunciados, como acontece, por exemplo, em textos de teor legal (leis, decretos,
portarias, regulamentos, estatutos), textos didácticos etc. Ex.:
São deveres do aluno:
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a) ser respeitado, nas suas ideias, bens e funções por todos os órgãos e estruturas existentes na escola, e ser ouvido sobre todos os
assuntos que lhe digam directamente respeito;
b) eleger e ser eleito para os órgãos da escola, de acordo com a legislação em vigor e as regras previstas nos normativos internos da
escola;
c) reivindicar, individual ou colectivamente, junto dos órgãos e estruturas da escola, a melhoria dos processo de ensino/aprendizagem;
d) tomar posição sobre qualquer assunto da vida da escola;
e) participar na elaboração e definição das regras de trabalho e de convívio;
(…)
d) Os dois pontos (:), a que corresponde uma pausa longa, empregam-se para introduzir uma citação (discurso
directo ou não) ou para anunciar uma enumeração ou uma explicação. Ex.: Abri a janela e sorri: o dia estava maravilhoso. Fui
ao mercado e comprei frutos variados: maçãs, uvas, bananas e pêssegos. E o avô abriu: “Quem tudo quer tudo perde”.
e) O ponto de interrogação (?) assinala uma frase interrogativa (directa) e a sua entoação; corresponde-lhe
uma pausa longa. Ex.: Já foste, hoje, ver o teu avô?
O ponto de interrogação não se usa nas frases interrogativas indirectas. Ex.: Perguntei-lhe se queria ir ao cinema.
Para denotar surpresa por vezes combina-se o ponto de interrogação com o ponto de exclamação. Ex.: Trinta e cinco dias
e trinta e cinco noites sobre o mar. E que mar?!
f) O ponto de exclamação (!) assinala uma frase exclamativa e a sua entoação; corresponde-lhe também
uma pausa longa. Ex.: Que lindo vestido compraste!
Também chamado ponto de admiração, o ponto de exclamação coloca-se no final das frases que retractam emoções
e sensações: surpresa, dor, alegria, indignação, revolta, entusiamo etc.
g) As reticências (…) marcam uma pausa correspondente a uma interrupção ou suspensão da mensagem. Ex.:
Se tu soubesses…
h) O travessão (-), a que corresponde também uma pausa mais ou menos longa, serve para…
- no diálogo, introduzir, em discurso directo, a intervenção de um locutor. Ex.: E o aluno respondeu: - Sei eu.
- isolar uma palavra ou outros elementos num texto. Ex.: A verdade – julgo eu – é a que tu conheces.
- destacar, dando ênfase, a parte final de um enunciado. Ex.: Exacta, sei-a – eu dividi / Para dar-ta inteira – a minha
vida.
- exprimir um enquadramento ou uma sucessão na narrativa ou numa enumeração. Ex.:
Numa apresentação oral deve considerar:
- colocar o público à vontade,
- manter o contacto visual com o público,
- modelar a voz para tornar o discurso mais vivo e interessante,
- deixar as mãos livres.
- indicar uma relação de analogia ou de oposição entre dois termos. Ex.: Sempre foi uma relação de amor-ódio.
a) Os parênteses curvos (( )) servem para isolar uma palavra ou palavras, ou até uma ou mais frases (uma
explicação, reflexão, reacção emocional etc.), no conjunto do texto; corresponde-lhes uma pausa mais ou menos longa.
Ex.: O João olhou a prateleira (era onde costumava estar a fotografia do pai) e suspirou.
Os parenteses curvos servem ainda para assinalar uma alínea. Ex.: a) / b) / c)
b) Os parênteses rectos ou colchetes ([ ]), utilizados na Língua Portuguesa, na Matemática, na Informática e
outras áreas, tem um uso restrito. Serva para…
- intercalar, numa frase, observações próprias. Ex.: Dir-me-ão que é limite: deixa ser. / Se me dobrou demais por ser
mulher / [esta rima, mas foi só por acaso]
- isolar uma construção que internamente já está separada por parênteses. Ex.: O estudo clarifica [os riscos do
uso de substâncias químicas (pesticidas e fertilizantes) na agricultura] e propõe uma mudança para um tipo de agricultura mais
natural, a agricultura biológica ou orgânica.
- registar a transcrição fonética. Ex.: [’fiʎu] filho.
- indicar a supressão de partes de um texto. É necessário incluir as reticencias. Ex.: Rosa – disse-lhe ele –, o
linhar não vale vinte e cinco libras, vale quarenta sem regateio […] Por esse preço não vendas, que nem Deus te perdoa…
c) A barra oblíqua ( / ) pode, em contexto, indicar…
- oposição. Ex.: bem/mal, verdadeiro/falso, vivo/morto.
- especificação do ano, em documentos legislativos oficiais. Ex. Decisão 97/481/CE, Decreto-Lei nº 55/2009, de 2 de
Março
- os elementos de uma data escrita em algarismos. Ex.: 14/02/2018
- o final de um verso, numa citação linear. Ex.: Ser poeta é ser mais alto, é ser maior / Do que os homens! Morder
como quem beija! / É ser mendigo e dar como quem seja / Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
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- a mudança de estrofe, quando a barra está duplicada. Ex.: Valeu a pena? Tudo vale a pena / ?Se a alma não é
pequena. // Quem quer passar além do Bojador / Tem que passar além da dor.
A barra oblíqua é ainda utilizada…
- na representação de fonemas. Ex.: /n/, /g/, /ʀ/, /?/
- na divisão das sílabas métricas. Ex.: As / ar / mas / e os / ba / rões / a / ssi / la(dos).
d) As aspas (« ») e as comas ( “ ”) servem para distinguir uma citação do resto do texto. O sinal pontuação
coloca-se depois das aspas, sempre que a pausa coincide com o fim das transcrição de parte de uma frase. Quando se
transcreve toda a frase, o sinal de pontuação coloca-se antes de fechar as aspas ou as comas. Estes sinais auxiliares da
escrita servem para…
- indicar o início e o fim de uma citação destando-a do resto do texto. Ex.: Como diz Fernando Pessoa «Pedras no
caminho? / Guardo todas, um dia vou construir um castelo…», assim também eu penso.
- evidenciar palavras ou expressões que não são de uso habitual, geralmente estrangeirismos, empréstimos,
neologismos, regionalismos, arcaísmos etc. Ex.: O movimento «slow food» está a ganhar adeptos por todo o mundo .
- realçar a expressividade de uma palavra ou expressão. Ex.: A Margot voltou, viu o «seu» livro nas minhas mãos e
franziu a testa. / «Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
- indicar que uma palavra ou expressão é usada em sentido figurado. Ex.: No Paquistão, as crianças são
«esventradas» à nascença. Roubam-lhes os sonhos, os sorrisos, a inocência e a infância, mas aprendem a andar .
- acentuar a ironia de uma palavra ou expressão. Ex.: Pomos à prova todas as nossas capacidades de «socialização»,
enfim, de sobreviver fora de um ambiente que não seja propriamente o nosso .
- indicar o título de uma obra. Ex.: Em «O gorro Vermelho», um título e uma história que imediatamente trazem à memória
«O Capuchinho Vermelho»; Sofia tem de levar o jantar a casa da avó .
Nas obras impressas os elementos que estão entre aspas, muito frequentemente, aparecem em itálico.
Sobre a hierarquia das aspas e das comas, quando uma citação já contiver uma ou mais expressões entre aspas,
etas deverão ser grafadas com um formato diferente das primeiras. Para que não se confundam, a hierarquia habitual é:
aspas (« »), comas duplas (“ ”) e comas simples (‘ ’).
e) O asterisco ( * ) é um sinal auxiliar de escrita utilizado…
- depois e em cima de uma palavra no texto para indicar em nota, no pé da página, qualquer informação
(referência, citação, comentário) sobre o termo ou o assunto que é tratado. Ex.:
Cosmogonia*, ciência e filosofia são três formas que, ao abordar a realidade, a configuram de modo não coincidente.
__________________________________________
* A cosmogonia refere-se às teorias explicativas da origem do mundo.
- antes e em cima de uma palavra do texto para assinalar que se trata de uma forma hipotética. Ex.: formosu- >
*fermosu-
- para indicar uma construção agramatical. Ex.: * O Marcos e a Sofia esteve nos açores. (falta de concordância do verbo
com o sujeito.
f) A chaveta ({ }) é um sinal auxiliar da escrita que serve para indicar as partes ou divisões dum assunto. Se as
divisões se enunciarem antes do assunto dividido, volta-se a chaveta.
g) O fim de parágrafo ( § ) é um sinal auxiliar da escrita pouco utilizado, actualmente, porém, serve para marcar
o fim de um parágrafo nos textos longos.
Transcrição fonética
A representação gráfica dos sons produzidos por um falante usando os símbolos e convenções de um alfabeto
fonético designa-se transcrição fonética. Numa transcrição fonética, os símbolos do alfabeto são colocados entre
colchetes ou parênteses rectos [ ]; assim, a transcrição da palavra mata, usando os símbolos do IPA, será: [’matɐ].
Alfabeto fonético
Um alfabeto fonético é um sistema de representação gráfica dos sons constituído de modo a que cada som
seja representado por um e um só símbolo e que cada símbolo do alfabeto represente um único som da língua (por
exemplo, o símbolo [z] usa-se para representar os casos de <zumbir, exame, peso˃).
. um som único pode ser representado por uma combinação de grafemas (dígrafos): <ch˃, <nh˃ e <lh˃;
. o valor de um grafema pode depender do contexto em que ocorre, como em <casa˃, <saco˃, <mosca˃ ou
em <acto˃, <pera˃;
. um grafema único pode representar mais de um som, como em <óxido˃;
. a ocorrência de um grafema pode não corresponder a um som, como em <acto˃ ou <haver˃.
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O Alfabeto Fonético Internacional (IPA, na sigla em Inglês) é o sistema de notação adoptado pela International
Phonetic Association. O IPA é formado por um conjunto de símbolos e diacríticos (sinais auxiliares) que permitem
representar os sons das línguas.
O subconjunto apresentado a seguir permite representar os sons do português europeu padrão (para representar
outras variedades da língua ou outras línguas será necessário incluir outros símbolos).
CONSOANTES
b bola ɬ mal
t lata ʎ malha
d dar ɾ aro, ir
ð dedo ʀ carro, ré
k oco i fila
CONSOANTES
g gato e fazer
m mola ɛ anel
n nada a mala
VOGAIS
ɲ ninho ɔ mola
f foca o oco
v vento u gato, muro
s caça, saco, fossa ɨ medir
z asa, exame, zumbir ɐ bala
ʃ acha, xícara, mastro j pai
GLIDES
ʒ já, Lisboa w mau
Diacríticos
ACENTO PRINCIPAL DESVOZEAMENTO FRONTEIRA DE SÍLABA NASALIZAÇÃO
Ex.2: “A ciência age para compreender, enquanto a técnica deve compreender para agir” (Gillet apud Santos,
1999, pág. 93).
[ a si’ẽsiɐ ’aʒe parɐ kõpɾiẽ’dɛr ẽ’kwãtu a ’teknikɐ ’deve kõpɾiẽ’dɛr pɐɾɐ ɐ’ʒiɾ ]
Artigo
Artigos são palavras que se empregam para designar seres que são conhecidos (artigos definidos) e seres
que não são conhecidos (artigos indefinidos):
O rapaz viu o filme. (O rapaz - identificado; o filme - identificado)
Um rapaz viu o filme. (Um rapaz - não identificado; o filme - identificado)
O rapaz viu um filme. (O rapaz - identificado; um filme - não identificado)
Todos os artigos podem aparecer em contracção com preposições:
ao (a+o); à (a+a); dos (de+os); no (em+o); pelo (per+o); pelas (per+as); numa (em+uma); dum (de+um) etc.
Nome ou substantivo
Nome ou substantivo é a palavra que tem como propriedades semânticas, sintácticas e morfológicas seguintes:
1-Representar coisas, seres, estados ou qualidades. Ex.: Lisboa, árvore, alegria, inteligência.
2-Ser precedido por determinantes ou quantificadores. Ex:: esta cidade, os frutos, muita paciêcia.
3-Ser flexionável em número, género e grau. Ex.: rapazes, raparigas, rapazito.
Classes de nomes
Nome próprio e nome comum
Os nomes próprios são aqueles que individualizam os seres (pessoas, animais ou coisas), distinguindo-os de
todos os outros da sua espécie. Escrevem-se sempre com maiúscula inicial:
O Pedro tem um gato.
Não sei se irei ao Japão.
Passei em Física.
Os nomes comuns são aqueles que não individualizam os seres:
O rapaz tem um gato.
Não sei se irei àquele país de que te falei.
Passei em todas as disciplinas.
Os nomes não-contáveis designam conjuntos que não podem ser descontinuados, distinguindo partes
singulares ou partes plurais.
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EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Bebi água assim que pude. Os nomes água, outro e verdade designam realidades que não podem
Recebi um anel de ouro. segmentar-se em partes distintas. Ainda que dividamos água em água+água,
Reconheço que não disse a verdade. continuamos a obter água, não admitindo, deste modo, singular ou plural.
Senti um ódio enorme. O nome ódio não integra um conjunto divisível em partes, logo não se poderá
*Senti dois ódios enormes. enumera-lo, não sendo possível determinar a quantidade de ódio.
Os nomes massivos são nomes não-contáveis que referem nomes de matéria ou nomes de substância.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Água, vinho, ar, farinha, açúcar, areia etc. Os nomes massivos podem ser medidos.
Ferro, ouro, prata, cobre
Apesar dos nomes massivos não referirem conjuntos singulares ou conjuntos plurais como segmentos de um
todo, podem ser usados com diferentes valores, no singular e no plural.
Nome colectivo
O nome colectivo designa o conjunto de seres ou coisas, referindo o todo, uma parte organizada como um
todo ou um grupo de seres da mesma espécie.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
A turma fez uma visita de estudo. Turma designa o todo composto por alunos.
A armada abateu um navio inimigo. Armada designa o conjunto de navios de tropas de mar, como parte organizada.
A matilha aproximou-se da caça. Matilha designa um grupo de cães.
Género de nomes
Existem dois géneros gramaticais em Português: o masculino e o feminino. São masculinos os nomes a que
se podem antepor os artigos o, os, um, uns:
o homem, os livros, um erro
São femininos os nomes a que se podem antepor os artigos a, as, uma, umas:
a mulher, a letra, umas plantas
Seres animados
Regra geral: o masculino é indicado pelo morfema -o e o feminino obtém-se substituindo-o pelo morfema -a.
Nesta regra podem incluir-se também os nomes terminados em -e (-o/ -a; -e/ -a):
tio/ tia; aluno/ aluna; gato/ gata; infante/ infanta; mestre/ mestra
Alguns nomes terminados em -e, sobretudo os provenientes de particípios presentes latinos, só têm uma forma
para os dois géneros:
o emigrante/ a emigrante; o estudante/ a estudante; o pedinte/ a pedinte; o ouvinte/ a ouvinte; o gerente/ a gerente; o
servente/ a servente
Os nomes ou substantivos que terminam em consoante formam o feminino com o acrescentamento do morfema
-a:
freguês/ freguesa; marquês/ marquesa; juiz/ juíza; professor/ professora; senhor/ senhora, general/ generala
Alguns nomes terminados em -tor e -dor formam o feminino em -triz, e alguns terminados em -dor formam o
feminino em -dora ou -deira:
actor/ actriz; embaixador/ embaixatriz; imperador/ imperatriz; lavrador/ lavradora e lavradeira; tecedor/ tecedora e tecedeira;
vendedor/ vendedora e vendedeira
Outros nomes formam o feminino com a terminação -essa, -esa, -isa ou -ina:
abade/ abadessa; conde/ condessa; cônsul/ consulesa; duque/ duquesa; poeta/ poetisa; profeta/ profetisa; czar/ czarina;
herói/ heroína
Os nomes terminados no masculino em -ão formam o feminino -ã, -ona, -oa ou -ana:
aldeão/ aldeã; anão/ anã; cidadão/ cidadã; irmão/ irmã; órfão/ órfã; chorão/ chorona; comilão/ comilona; valentão/ valentona;
beirão/ beiroa; leão/ leoa; leitão/ leitoa; João/ Joana; sultão/ sultona
Nota:
a) Não seguem a regra anterior: barão/ baronesa; perdigão/ perdiz; ladrão/ ladra, ladrona, ladroa; lebrão/ lebre
b) Além do nome ladrão, também têm mais do que uma forma no feminino: bretão/ bretoa ou bretã; vilão/ viloa ou
vilã
Os nomes terminados em -eu formam o feminino mudando o -eu em -eia: ateu/ ateia; europeu/ europeia; fariseu/
fariseia; hebreu/ hebreia; pigmeu/ pigmeia; plebeu/ plebeia
O masculino genérico
Às vezes emprega-se o masculino para designar todos os representantes da mesma espécie, abrangendo
ambos os sexos:
O homem terá de respeitar o ambiente.... (homem < homem e mulher)
O leão é o rei da floresta. (leão < leão e leoa)
Número de nomes
Existem dois números em Português:
1º O singular que designa uma pessoa ou coisa;
2º O plural que designa várias pessoas ou coisas.
Formação do plural
Os nomes terminados em vogal ou ditongo formam o plural acrescentando-lhes, no final, um -s:
gato/ gatos; gata/ gatas; peru/ perus; avô/ avôs; irmã/ irmãs; mãe/ mães; céu/ céus
Quando a vogal nasal ou o ditongo nasal, em posição final, são representados graficamente por -m, a palavra
forma o plural em -ns:
armazém/ armazéns; item/ itens; jardim/ jardins; bombom/ bombons; álbum/ álbuns; jejum/ jejuns
Além das variações com -s, muitos nomes sofrem também uma alternância de timbre da vogal tónica, passando
de o fechado (ô) para o médio (ó):
almoço(mô)/ almoços(mó); caroço(rô)/ caroços(ró); coros, corpos, corvos, destroços, fogos, fornos, impostos, jogos, olhos,
ossos, ovos, poços, porcos, postos, povos, rogos, socorros, tijolos
Os nomes terminados em ão apresentam três tipos de plural, de acordo com a terminação que tinham no Latim,
ou então por analogia:
1º tipo: manu(m)>mão/ manus>mãos; germanu(m)>irmão/ germanos>irmãos; orphanu(m)>órfão/ orphanos>órfãos
2º tipo: cane(m)>cão/ canes>cães; pane(m)>pão/ panes>pães
3º tipo: actione(m)>acção/ actiones>acções; leone(m)>leão/ leones>leões; oratione(m)>oração/ orations>orações
Há nomes cujo plural oscila entre duas ou mais formas, podendo adoptar-se qualquer delas. Estão neste caso:
aldeão/ aldeões, aldeãos, aldeães; anão/ anões, anães; ancião/ anciões, anciãos, anciães; refrão/ refrãos, refrães; verão/
verões, verãos
Concluindo, os nomes terminados no singular em -ão formam o plural de três modos diferentes: -ãos, -ães e -
ões.
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Os nomes terminados em -al, -ol e -ul fazem o plural mudando o -l em -is. No Português Antigo o plural era,
respectivamente, em -ales, -oles e -ules. Porém, a partir do século XVI dá-se queda do -l- intervocálico e assim resultam
as formas actuais:
capital/ capitales>capitães>capitais; anzol/ anzoles>anzoes>anzóis; azul/ azules>azues>azuis
Os nomes terminados em -el, tónico ou átono, formam o plural, respectivamente, em -éis (tónico) e -eis (átono).
No Português Antigo o plural de todos estes nomes era em -eles:
papel/ papeles>papees>papéis; móvel/ móveles>móvees>móveis; túnel/ túneles>túnees>túneis
Os nomes terminados em -il tónico formam o plural mudando o -il em -is. No Português Antigo o plural era em -
iles:
ardil/ ardiles>ardies>ardiis>ardis; covil/ coviles>covies>coviis>covis; peitoril/ peitoriles>peitories>peitoriis>peitoris
Os nomes terminados em -il átono formam o plural mudando o -il em -eis. No Português Antigo o plural era em
-iles:
fóssil/ fóssiles>fóssies>fósseis; projéctil/ projéctiles>projécties>projécteis; réptil/ réptiles>répties>répteis
Os nomes diminutivos formados com sufixos -zinho e -zito têm a marca do plural na palavra primitiva e no sufixo:
cãozinho/ cãezinhos; balãozito/ balõezitos; movelzinho/ moveizinhos; hotelzito/ hoteizitos
Os nomes compostos por aglutinação formam o plural segundo as regras dos nomes simples:
bancarrota/ bancarrotas; girassol/ girassóis; malmequer/ malmequeres; varapau/ varapaus
O singular genérico
O singular é, às vezes, usado em substituição do plural, podendo trazer assim mais força expressiva ao nome
em causa.
O homem tem de superar as épocas de crise. (homem<todos os homens).
Se o primeiro elemento é verbo e o segundo é nome, adjectivo ou verbo, só o segundo elemento vai para o
plural:
beija-flor/ beija-flores; mata-borrão/ mata-borrões; porta-voz/ porta-vozes; treme-treme/ treme-tremes; guarda-chuva/
guarda-chuvas
Se o composto é formado por palavra invariável seguida de nome ou outra palavra variável só este segundo
elemento vai para o plural:
bem-aventurança/ bem-aventuranças; ex-presidente/ ex-presidentes; pseudo-sábio/ pseudo-sábios; sempre-noiva/ sempre-
noivas; abaixo-assinado/ abaixo-assinados
Se o composto é formado por dois nomes ligados por preposição, só o primeiro vai para o plural:
ave-do-paraíso/ aves-do-paraíso; caminho-de-ferro/ caminhos-de-ferro; lua-de-mel/ luas-de-mel
Se o composto é formado por dois nomes mas o segundo funciona como determinante, só o primeiro leva a
marca do plural:
navio-escola/ navios-escola; palavra-chave/ palavras-chave
Em muitos nomes compostos, designadamente naqueles em que entram verbos, existe a mesma forma para o
singular e para o plural:
o, os bom-serás; o, os limpa-chaminés; o, os saca-rolhas; o, os salva-vidas; o, os sem-vergonha; o, os sempre-em-pé
Alguns nomes têm forma de plural mas designam um único objecto composto de duas partes iguais ou apenas
um grupo de dois seres:
algemas, calças, óculos, pais(pai e mãe)
Grau de nomes
Os nomes têm formas para indicar o aumento (grau aumentativo) ou a diminuição (grau diminutivo) da ideia ou
do ser:
Normal: rapaz, pardal, casa
Aumentativo: rapagão, pardalão, casarão
Diminutivo: rapazinho, pardalito, casinha
O grau aumentativo ou diminutivo pode ser expresso por dois processos:
Sintético: por meio dos sufixos aumentativos e diminutivos:
rapagão, ricaço, fornalha, bocarra, rapazinho, viela, folheto, riacho
Analítico: por meio de um adjectivo que se junta ao nome:
rapaz grande, casa enorme; rapaz pequeno, casa minúscula
Em muitos casos, os sufixos aumentativos apresentam sobretudo uma tonalidade depreciativa, que se sobrepõe
à primitiva ideia de grandeza:
figurão, pardalão, mulheraça, carantonha, dentuça
Por seu turno, os sufixos diminutivos podem expressar carinho, ironia, desprezo ou depreciação:
mãezinha, empregadito, rapazola, grupelho, livreco
Pronome
Pronome quer dizer em vez do nome.
O pronome é a palavra que faz a vez do nome, em certos casos, para evitar repetição de uma palavra ou até de
uma frase. O pronome nunca precede o nome.
Para além de evitar a repetição, o pronome desempenha outras funções e pode substituir:
. um sintagma nominal:
A Carla passou aqui com o irmão. Ela estava com pressa. (ela<a Carla)
. uma frase:
A Helena está muito zangada e até já o disse. (o<a Helena está muito zangada)
. um adjectivo:
O Rui era simpático, mas já não o é. (o<simpático)
. um sintagma preposicional:
Deu a chave à vizinha. (ou) Deu-lhe a chave. (lhe<à vizinha)
Há casos em que os pronomes não servem apenas para substituir as palavras ou os sintagmas já expressos.
Consideremos as seguintes espécies de pronomes:
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Classes de pronomes
Os pronomes subclassificam-se em pronomes pessoais, pronomes possessivos, pronomes demonstrativos,
pronomes indefinidos, pronomes interrogativos e pronomes relativos.
Pronome pessoal
O pronome pessoal é usado para se referir aos participantes do discurso; pode exercer na frase a função de
sujeito, complemento directo, complemento indirecto, complemento oblíquo ou circunstancial.
O pronome pessoal, no entanto, indica a pessoa:
1ª, a que fala, locutor: eu, nós
2ª, a quem se fala, o destinatário: tu, vós
3ª, de quem se fala: ele (ela), eles (elas)
PRONOMES PESSOAIS
Nº PESSOA PRON.SUJ COMPL.DIR COMPL.IND.S/PREP. COMPL.IND.C/PREP. COMPL. OBLÍQUO/ CIRCUNST.
1ª eu me me mim mim, -migo
SING
2ª tu te te ti ti, -tigo
3ª ele, ela se, o, a lhe si, ele, ela si, -sigo, ele, ela
1ª nós nos nos nós nós, -nosco
PLUR
O pronome pessoal de valor reflexivo ocorre quando o complemento directo ou indirecto representa o mesmo
indivíduo que o sujeito.
PRONOME PESSOAL DE VALOR REFLEXIVO: EXEMPLOS:
Ele vestiu-se depressa.
se, si, consigo Ela só pensa em si.
Os alunos levaram os testes consigo.
O pronome pessoal de valor recíproco indica uma acção mútua entre dois ou mais indivíduos.
PRONOME PESSOAL DE VALOR RECÍPROCO: EXEMPLOS:
Nós e os rapazes encontrámo-nos no bar.
nos, vos, se O Luís e a mãe cumprimentam-se.
Vós vos entendereis.
O pronome pessoal de valor impessoal marca a identificação do sujeito, através da terceira pessoa do
singular.
PRONOME PESSOAL DE VALOR IMPESSOAL: EXEMPLO:
se Come-se bem neste restaurante.
O pronome pessoal de valor inerente ao verbo: o pronome pessoal se pode integrar o verbo.
EXEMPLOS:
Levantou-se cedo. [verbo levantar-se]
Lavou-se e saiu de casa. [verbo lavar-se]
Quando numa oração surgem dois pronomes átonos, com as funções de complemento directo e
complemento indirecto, estes podem ser combinados:
EXEMPLOS:
Traz-mo.. [traz-me+o]
Conto-vo-las. [conto-vos-as]
Entrego-lhos. [entrego-lhes+os]
Pronome possessivo
O pronome possessivo é a palavra que estabelece uma relação de pertença com um elemento do discurso ou
antecedente tomado por um possuidor.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
O determinante possessivo varia conforme a pessoa, o número, o
Estas pinturas são abstractas como as tuas.
possuidor (singular ou plural) e objecto possuído) singular ou plural).
Valor deíctico ou anafórico do possessivo:
Vamos no teu carro. O meu avariou. O enunciador manifesta a relação de pertença relativamente ao
antecedente carro, servindo como correferente do enunciador/ locutor.
Os pronome possessivo deve ser precedido pelo determinante artigo ou
Esta casa é parecida com a vossa.
pelo determinante demonstrativo.
PRONOME POSSESSIVO
UM SÓ POSSUIDOR VÁRIOS POSSUIDORES
Nº PESSOA
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
1ª meu minha nosso nossa
SING
Pronome demonstrativo
O pronome demonstrativo é a palavra que estabelece uma referência de proximidade ou distância com um
participante do discurso ou um antecedente textual.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Isso agrada-me. [ter férias] O pronome demonstrativo retoma uma referência anterior no discurso.
Valor deíctico ou anafórico do pronome demonstrativo:
Comprei um casaco. Este está a ficar velho. O enunciador manifesta a relação de proximidade com o antecedente,
estabelecendo uma referência espacial.
Este dia foi aborrecido, aquele é que foi O enunciador manifesta distância relativamente ao objecto
divertido. demonstrado, estabelecendo uma referência temporal.
Não gosto da minha ideia, essa é melhor. O objecto referido anteriormente no discurso está distante do
enunciador, mas próximo do interlocutor.
Ela afirmou-o com toda a certeza. [Afirmou isso] O pronome demonstrativo retoma um elemento do discurso.
Os pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo não se referem, normalmente, a seres animados e são
invariáveis em género e número, fazendo-se a concordância do masculino singular. São considerados pronomes neutros.
Isto é bonito.
Podes ir-te embora; mas isso não está certo.
Os pronomes o, a, os, as são (pronomes) demonstrativos quando precedem o pronome relativo que ou a
preposição de, equivalendo a "este", "esse", "aquele" etc.
Gosto deste disco. É o que te dei.
Estas luvas são as da Cristina.
O pronome tal é (pronome) demonstrativo quando equivalente a "este", "esta", "isto", "esse" etc.
Não me digas tal!
O pronome demonstrativo pode apresentar grande tonalidade afectiva.
Nem me digas mais nada. Essa não!
Aquilo é que é um homem!
O pronome demonstrativo pode revestir-se de um forte sentido pejorativo.
Aquilo é um homem que não presta para nada!
Pronome indefinido
O pronomes indefinido é a palavra que corresponde ao uso pronominal do determinante indefinido e do
quantificador.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
As minhas amigas de Lisboa não vieram, mas vieram umas outras. O antecedente do pronome indefinito não é
Alguém perguntou por ti. especificado.
PRONOMES INDEFINIDOS
VARIÁVEIS SINGULAR VARIÁVEIS PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
algum alguma alguns algumas
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
todo toda todos todas
muito muita muitos muitas
pouco pouca poucos poucas
tanto tanta tantos tantas
outro outra outros outras
certo certa certos certas
qualquer qualquer quaisquer quaisquer
INVARIÁVEIS
alguém, algo ninguém tudo outrem cada nada
Pronome relativo
O pronome relativo inicia uma oração relativa, retomando o antecedente.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Quem vai ao mar perde o lugar. O pronome relativo inicia:
Trouxe o livro que te prometi. - oração subordinadas substantivas relativas;
- orações subordinadas adjectivas relativas restritivas;
Vem cá a minha amiga, a qual esteve em Londres, - orações subordinadas adjectivas relativas
para me trazer uma prenda. explicativas.
PRONOMES RELATIVOS
VARIÁVEIS SINGULAR VARIÁVEIS PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
o qual a qual os quais as quais
cujo cuja cujos cujas
quanto quanta quantos quantas
INVARIÁVEIS
que quem onde
Cujo (-a,-os,-as) tem, ao mesmo tempo, valor relativo e possessivo, e concorda com o objecto possuído em
género e número:
O salão, cujas portas precisam de ser pintadas, vai ficar pronto dentro de dias.
Pronome interrogativo
O pronome interrogativo é a palavra que identifica o constituinte interrogativo nas frases interrogativas
parciais; palavra que introduz uma pergunta sobre a pessoa ou a coisa que o sintagma ou grupo nominal (que foi
substituído pelo correspondente pronome interrogativo) designaria.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Quem viste?
O pronome interrogativo substitui o constituinte
O que queres?
interrogado.
Quanto custa?
PRONOMES INTERROGATIVOS
VARIÁVEIS SINGULAR VARIÁVEIS PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
qual? qual? quais? quais?
quanto? quanta? quantos? quantas?
INVARIÁVEIS
que? o que? quê? o quê? quem? onde?
O sintagma nominal substituído pelo pronome interrogativo pode aparecer expresso na resposta ou antes (da
resposta):
- Quem é que chegou? - Foi o João.
- Tenho quinze anos. E tu, quantos tens?
Quem emprega-se só para as pessoas, que para as pessoas e seres inanimados, e quê e onde para seres
inanimados. Qual e quais usam-se tanto para animados como para inanimados.
- Quem veio hoje?
- Que homem és tu?
- De que estás a falar?
- Disseste o quê?
- Onde vamos? (onde<a que lugar)
São absolutamente correctas as formas reforçadas que se empregam a nível coloquial e popular.
- O que é que disseste?
Pronominalização
Pronominalizar é substituir um complemento directo ou indirecto (e, até mesmo, um sujeito, um complemento
oblíquo…), numa oração, pelo pronome pessoal correspondente.
Depois do verbo, nas frases declarativas afirmativas: Chamo-me Ary. / Pede-lhe o jornal. / Lembro-me do número. /
Os professores viram os alunos e chamaram-nos.
Antes do verbo…
… nas frases negativas: Não me chamo Ary. / Nunca te enganaste?
… nas frases interrogativas (com o emprego do interrogativo): Como te chamas? / O que lhe aconteceu? / Porque
nos preocupamos com isso? / Quanto te custou esta casa? / Quem me telefonou? Etc.
… depois das conjunções ou locuções subordinativas: Ele quer que lhe digas a verdade. / Como te esqueceste
dos documentos vim trazer-tos. / Se o vires, chama-o. / Quando te levantares, fecha a janela. Etc.
… depois dos advérbios já, ainda, bem, só, sempre, também, talvez, etc.: Já me esqueci disso. / Ainda nos
vamos arrepender. / Bem te avisei. / Também lhe enviaram esse aviso?
… depois das preposições para, de, por, sem, até: Isto é para te lembrares de mim. / Cansei-me de te avisar. Etc.
… depois dos indefinidos todo (a), todos (as), tudo, alguém, nada, ninguém: Todos se esqueceram de tomar
o medicamento. / Tudo se transforma, nada se perde. / Ninguém nos disse nada. / Alguém te perguntou alguma coisa?
No meio do verbo…
… quando o verbo se apresenta no futuro, nas frases declarativas afirmativas: Levarei o livro depois do almoço.
> Levá-lo-ei depois do almoço / Dir-lhe-ei a verdade. / Pagá-la-ei com cheque.
… quando o verbo se apresenta no condicional, nas frases declarativas afirmativas: Comprá-lo-ia se tivesse
dinheiro. / Dir-to-ia se tivesse dinheiro. / (Não o compraria se tivesse dinheiro. / Também o compraria se…) Etc.
Havendo condições que obriguem a anteposição do pronome ao verbo, mesmo com os verbos no futuro e no
condicional, o pronome deve aparecer antes do verbo.
Ex.: Já encontrei o livro que o professor recomendou. Requisitá-lo-ei esta tarde. Só o requisitarei esta tarde.
Adjectivos
Adjectivos são palavras que servem para precisar o significado dos nomes, ao juntar-lhes características que
os delimitam:
Casa pequena.
A casa é pequena.(nome predicativo do sujeito)
Adjectivo é um modificador do nome; a palavra que caracteriza o nome, atribuindo-lhe qualidades (ou defeitos)
e modos de ser, ou indicando-lhe o aspecto ou o estado: sindicato fictício, eficiente, deficitário, representativo. É
necessário apresentar a relação que se estabelece entre o nome e o adjectivo para poder conceituar este último. Na
realidade, nomes e adjectivos apresentam muitas características semelhantes e, em muitas situações, a distinção entre
ambos só é possível a partir de elementos fornecidos pelo contexto:
Ex.: O jovem angolano tornou-se participativo.
O angolano jovem enfrenta dificuldades para ingressar no mercado de trabalho.
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Na primeira frase, jovem é nome, e angolano é adjectivo. Na segunda, invertem-se esses papéis: angolano é
nome, e jovem passa a ser adjectivo.
O adjectivo é um modificador do nome. Ser adjectivo ou ser nome não decorre, portanto, de características
morfológicas da palavra, mas de sua actuação efectiva numa frase da língua; decorre no contexto da morfossintaxe.
Género de adjectivos
A maioria dos adjectivos tem uma forma para o masculino e outra para o feminino, sendo, portanto, adjectivos
biformes:
homem alto/ mulher alta; ramo seco/ terra seca
Adjectivos uniformes são os que têm a mesma forma tanto para o masculino como para o feminino:
homem inteligente/ mulher inteligente; solo fértil/ área fértil
A formação do feminino dos adjectivos é semelhante à dos nomes. Têm forma irregular os adjectivos:
bom/ boa; mau/ má
Nos adjectivos compostos, só o segundo elemento toma a forma do feminino:
luso-brasileiro/ luso-brasileira; herói-cómico/ herói-cómica
Excepto: homem surdo-mudo/ mulher surda-muda
Número de adjectivos
O adjectivo concorda em número com o nome que caracteriza. Quando caracteriza vários nomes do singular,
toma a forma do plural:
livro bonito, livros bonitos, livro e caderno bonitos
A formação do plural dos adjectivos é semelhante a dos nomes:
luso-brasileiro/ luso-brasileiros; médico-social/ médico-sociais; surdo-mudo/ surdos-mudos
Grau de adjectivos
A categoria de grau estabelece uma gradação no significado de uma palavra na relação entre termos de
comparação.
O grau dos adjectivos varia entre normal, comparativo e superlativo.
- Grau superlativo: indica o grau mais elevado da característica expressa pelo adjectivo. Apresenta duas formas:
absoluto e relativo.
. Grau superlativo absoluto: exprime um elevado grau da característica sem estabelecer qualquer relação.
No superlativo absoluto tem-se a considerar o seguinte:
.. Absoluto sintético: é formado na maioria dos casos com a junção do sufixo -íssimo ao grau normal do
adjectivo:
O João é fortíssimo.
.. Absoluto analítico: é formado pela junção do advérbio muito ao grau normal do adjectivo:
O João é muito forte.
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE II – GRAMÁTICA
. Grau superlativo relativo: exprime a característica de um ser ou de um objecto no grau mais elevado ou
menos elevado, em relação a todos os outros seres ou objectos de determinado conjunto. O superlativo relativo pode
ser…
.. Superlativo relativo de superioridade: formado pelo artigo definido, advérbio mais, grau normal do
adjectivo e preposição de:
O João é o rapaz mais forte da escola.
.. Superlativo relativo de inferioridade: formado pelo artigo definido, advérbio menos, grau normal do
adjectivo e preposição de:
O João é o rapaz menos forte da escola.
GRAU EXEMPLO
Grau normal forte
Grau comparativo de superioridade mais forte do que
Grau comparativo de igualdade tão forte como
Grau comparativo de inferioridade menos forte do que
Grau superlativo absoluto sintético fortíssimo
Grau superlativo absoluto analítico muito forte
Grau superlativo relativo de superioridade o mais forte
Grau superlativo relativo de inferioridade o menos forte
Por vezes, empregam-se ainda outros processos para obter a superlativação dos adjectivos:
. recorrendo a outros advérbios de quantidade (imensamente, extraordinariamente etc.):
Estou imensamente satisfeito.
O carro apresentou-se extraordinariamente competitivo.
Classes de adjectivos
Adjectivo qualificativo
Os adjectivos qualificativos exprimem qualidades, estados ou modos de ser expressos pelo nome.
EXEMPLOS:
menino lindo casa grande homem sereno
menino feio casa pequena homem nervoso
Adjectivo relacional
Os adjectivos relacionais combinam-se com nomes, atribuindo um valor temático ou referencial. Normalmente,
derivam de uma base nominal.
EXEMPLOS:
conselho estudantil mulher portuguesa engenheiro civil
população americana amor maternal manifestação popular
Adjectivo numeral
Os adjectivos numerais expressam ordem ou sucessão e precedem o nome, antecedidos por artigos,
demonstrativos ou possessivos. Tradicionalmente, pertencem à subclasse dos numerais ordinais.
EXEMPLOS:
O vigésimo quinto ano de casamento foi festejado com toda a pompa.
Este segundo prato está uma delícia.
O meu primeiro nome é Augusto.
Numerais
Numerais são palavras que indicam uma quantidade de indivíduos ou coisas; são palavras variáveis que indicam
a quantidade exacta de seres ou a posição que o ser ocupa.
Ex.: Sete atletas cortaram a meta.
Numerais cardinais
Numerais cardinais são palavras que indicam (simplesmente) o número de pessoas, animais ou coisas:
Sete atletas cortaram a meta.
- Flexão
Os numerais cardinais um, dois e as centenas a partir de duzentos variam em género: um/ uma; dois/ duas;
duzentos/ duzentas etc.
Ambos, como equivalente do cardinal dois, varia em género:
ambos os homens/ ambas as mulheres
Os restantes numerais cardinais são invariáveis.
Numerais ordinais
Numerais ordinais são palavras que indicam a ordem que as pessoas, animais ou coisas ocupam numa série:
Este atleta foi o sétimo a cortar a meta.
- Flexão
Os numerais ordinais variam em género e número:
primeiro/ primeira; primeiros/ primeiras etc.
Nota: dez mil > décimo milésimo; milhão > milionésimo
Na contagem dos séculos e na enumeração dos reis e dos papas, empregam-se os ordinais: século terceiro ou
terceiro século, D. João Segundo, o papa Bento Sexto; usa-se os cardinais, colocando-os depois: Luís Doze, o papa João Vinte
e Um etc., apesar de que estas numerações, habitualmente, se escrevam em números romanos: século III, D. João II, o
papa Paulo VI, Luís XII, o papa João XXI.
Numerais multiplicativos
Numerais multiplicativos são palavras que indicam o aumento proporcional, a sua multiplicação.
- Flexão
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando equivalem a nomes:
A mãe deu-lhe o triplo dos encargos que me deu a mim.
Quando equivalem a adjectivos, variam em género e número:
Comprou os alimentos em quantidades triplas.
Nota: duplo > dobro, triplo; as restantes formas são eruditas e geralmente substituem-se pelo numeral cardinal
seguido da palavra "vezes": quatro vezes, cinco vezes etc. Aos numerais multiplicativos correspondem verbos duplicar,
triplicar etc.
Numerais fraccionários
Numerais fraccionários são palavras que indicam a diminuição proporcional, a sua divisão:
Comi um terço de maçã.
- Flexão
Os numerais fraccionários concordam com os cardinais que designam o número de partes:
Eu recebi um quinto e tu três décimos do prémio total.
Meio concorda em género com o nome que designa a quantidade:
quatro dias e meio, quatro semanas e meia.
Numerais colectivos
Numerais colectivos são palavras que, mesmo no singular, indicam um grupo de seres; equivalem a nomes.
Eles formam um trio notável.
- Flexão
Os numerais colectivos variam em número:
No concerto, actuaram alguns trios.
Determinante
Determinante é a palavra que ajuda a caracterizar o nome; é a palavra variável que determina o nome,
precedendo-o.
Li o livro que me ofereceste.
Li um livro.
Gosto deste carro.
Gosto daquele carro.
A situação de cada um dos livros ou de cada um dos carros é diferente:
o livro - refere-se a determinado livro, por nós conhecido;
um livro - é uma referência vaga, indefinida;
este carro - será um carro que está "aqui" ao pé do falante ou do emissor e do receptor;
aquele carro - será o carro que estará distante tanto do emissor como do receptor.
A maioria dos determinantes varia em género e número, e essa variação pode até ajudar a distinguir o género e
o número dos nomes invariáveis:
o estudante/ a estudante; nenhum lápis/ nenhuns lápis
Classes de determinantes
Os determinantes subclassificam-se em artigos, determinantes possessivos, determinantes demostrativos,
determinantes indefinidos, determinantes interrogativos e determinantes relativos. Há referências incontestáveis sobre
determinantes numerais, adjectivos, entre outras.
Determinante artigo
O determinante artigo distingue o grau de especificidade do nome, com o qual estabelece concordância de
número e de género.
O artigo definido é usado para determinar um nome, cujo referente real é já conhecido pelo enunciador e
pelo receptor da informação.
O artigo indefinido é usado para determinar um nome, cujo referente real não foi referido anteriormente.
Sobre a classe, conferir em particular o tema dos artigos.
Determinante possessivo
O determinante possessivo é a palavra que influencia a construção referencial do nome que precede, atribuindo-
lhe valor de posse.
Costuma, igualmente, aparecer precedido de outro determinante, o artigo definido; por vezes, é reforçado com
a palavra próprio, que intensifica a noção de posse:
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
As tuas pinturas são abstractas. O determinante possessivo varia em pessoa e concorda em número e género com
o nome que determina.
O meu carro avariou. Valor deíctico ou anafórico do possessivo:
O enunciador manifesta a relação de pertença relativamente ao carro, servindo
como correferente do enunciador/ locutor.
*Minha casa não me agrada. O determinante possessivo deve ser precedido pelo artigo ou pelo demonstrativo.
A minha casa não me agrada.
Esta minha casa não me agrada.
Meu filho, descansa. O determinante possessivo não ocorre precedido de artigo ou demonstrativo
Ana, sua filha, deu-lhe os parabéns. quando desempenha a função de vocativo ou de modificador apositivo.
[a seu pai].
Todos os meus amigos gostam de cinema. Os determinantes possessivos podem ser precedidos de alguns quantificadores.
DERMINANTE POSSESSIVO
UM SÓ POSSUIDOR VÁRIOS POSSUIDORES
Nº PESSOA
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
1ª meu minha nosso nossa
SING
Determinante demonstrativo
O determinante demonstrativo é a palavra que influencia a construção referencial do nome que precede,
atribuindo-lhe valor de proximidade ou distância no tempo ou no espaço.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Estes dias tenho estado de férias. O determinante demonstrativo concorda em género e número com o nome que
determina.
Este carro está a ficar velho. Valor deíctico ou anafórico do demonstrativo:
Aquele ano foi muito intenso. O enunciador manifesta a relação de proximidade com o carro, estabelecendo
Esse carro tem um bom preço. uma referência espacial. O enunciador manifesta distância relativamente ao
objecto determinado, estabelecendo uma referência temporal.
O objecto demonstrativo está distante do enunciador, mas próximo do
interlocutor.
*A essa casa não me agrada. O determinante não pode coocorrer com o artigo.
Esta minha filha é muito distraída. Combinado com o determinante possessivo, o demonstrativo deve precede-lo.
Estive à tua espera todos estes dias. Os determinantes demonstrativos podem ser precedidos de alguns
quantificadores.
DETERMINANTE DEMONSTRATIVO
SINGULAR PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
este esta estes estas
esse essa esses essas
aquele aquela aqueles aquelas
o outro a outra os outros as outras
o mesmo a mesma os mesmos as mesmas
tal tal tais tais
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Podes ver este retracto. este indica o que está mais próximo do locutor:
Este ano, vou brilhar no exame.
Repara nesse retracto. esse indica o que está mais próximo do destinatário:
Vou oferecer-te aquele retracto. aquele indica um afastamento maior em ralação ao locutor e ao interlocutor:
Não me vais falar na mesma coisa. mesmo e outro são determinantes demonstrativos quando precedidos de outro
Comprei aquele outro carro de que te falei. determinante:
Determinante indefinido
O determinante indefinido é a palavra que influencia a construção referencial do nome que precede de modo
indefinido; não sendo identificado o referente do nome que determina.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Umas ouras raparigas vieram à festa. O referente do nome determinado pelo indefinido não é especificado.
Uma certa pessoa perguntou por ti. O determinante indefinido pode ocorrer com o artigo indefinido, sendo
portanto diferente deste.
DETERMINANTE INDEFINIDO
VARIÁVEIS SINGULAR VARIÁVEIS PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
algum alguma alguns algumas
nenhum nenhuma nenhuns nenhumas
todo toda todos todas
muito muita muitos muitas
pouco pouca poucos poucas
tanto tanta tantos tantas
outro outra outros outras
certo certa certos certas
INVARIÁVEL
cada
Determinante relativo
O determinante relativo precede o nome na oração relativa, determinando uma relação entre o referente do
nome e o referente da oração principal.
EXEMPLOS:
O rapaz cuja casa foi assaltada é da minha turma.
Voltei a encontrar aquela senhora cujo nome não me lembro.
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
Página 44 de 183
LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE II – GRAMÁTICA
DETERMINTE RELATIVO
SINGULAR PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
cujo cuja cujos cujas
Determinante interrogativo
O determinante interrogativo precede o nome na oração interrogativa, identificando o constituinte interrogado.
EXEMPLOS:
Que rua procuras?
A qual livro te referes?
Quais livros?
DETERMINANTE INTERROGATIVO
VARIÁVEIS SINGULAR VARIÁVEIS PLURAL
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
QUALIDADE qual? qual? quais? quais?
QUANTIDADE quanto? quanta? quantos? quantas?
INVARIÁVEL
que
Quantificador
O quantificador é a palavra ou locução que expressa uma informação acerca do valor de número, qualidade
ou parte do referente do nome com que se combina. O quantificador apresenta valores de quantidade relativos a
entidades e situações.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Conheci várias pessoas.
O quantificador quantifica o referente
Qualquer dia vou a Roma.
do nome, pessoas, dia e irmãos.
Tenho dois irmãos.
Classes de quantificadores
Quantificador universal
O quantificador universal estabelece uma relação entre o grupo nominal e todos os elementos do grupo a que
pertence.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Todo o homem é mortal. O quantificador universal tem em conta o conjunto de que faz
Qualquer mulher gosta de receber flores. parte o referente do nome (todo o homem, toda a mulher).
QUANTIFICADOR UNIVERSAL
todo/ toda/ todos/ todas ambos
nenhum/ nenhuma/ nenhuns/ nenhumas cada
qualquer
Quantificador existencial
O quantificador existencial atribui informação acerca da existência da entidade referida pelo nome, remetendo
para uma parte do conjunto.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Um filho foi para a praia e o outro ficou em casa. No conjunto dos filhos, remete-se apenas para parte da totalidade.
Vários rapazes foram à discoteca. Dentro do conjunto, identifica-se uma quantidade não precisa.
Poucos rapazes foram para casa. A entidade referida é designada face a um ponto de referência.
Quantificador numeral
O quantificador numeral indica uma quantidade precisa ou o lugar que a quantidade ocupa numa série
ordenada.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
O meu primo fez dois anos.
Tenho o dobro da tua idade. Os numerais referem a quantidade numérica.
Só como metade do bolo.
Quantificador interrogativo
O quantificador interrogativo identifica o constituinte interrogativo nas frases interrogativas, sendo substituído
por um quantificador.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Quantos bolos comeste? As respostas às interrogações recorreriam a numerais:
- Comi dois.
Quanto coube a cada um? - Coube metade.
QUANTIFICADOR INTERROGATIVO
quanto/ quantos
quanta/ quantas
Quantificador relativo
O quantificador relativo tem como antecedente relativizado um grupo nominal introduzido por quantificador.
EXEMPLOS:
Fiz todos os trabalhos quantos pude fazer.
Comi tudo quanto havia.
QUANTIFICADOR RELATIVO
Quanto/ quantos
Quanta/ quantas
Verbo4
Verbo bitransitivo indirecto: o que pede dois objectos indirectos, como o verbo resultar na frase “E desse dano lhe resultou deidade gloriosa.” (Luís de Camões, Os
Lusíadas, VI, 24.) [Sin.: birrelativo.]
Verbo catenativo: verbo lexical que rege a forma nominal de outro verbo, que lhe é contíguo: ele quer comer; ele tentou correr.
Verbo causativo: aquele que expressa noção de causa: mandar (ex.: Mandei-a sair), fazer (ex.: Fiz João escrever), deixar (ex.: Deixei as crianças irem à praia). [Cf.
verbo factitivo.]
Verbo copulativo: verbo de ligação.
Verbo declarativo: verbo dicendi.
Verbo defectivo: o que não tem todos os tempos, modos ou pessoas: abolir, precaver, reaver, relampejar.
Verbo de ligação: aquele que, juntamente com o predicativo, constitui o predicado de um sintagma nominal com função de sujeito; verbo copulativo, verbo predicativo:
ser (ex.: Maria é bonita), andar (ex.: Ela anda triste), estar (ex.: Ele está triste). [É assim denominado por ligar o predicativo ao sujeito.]
Verbo de opinião: verbo que precede uma declaração, indicando ser esta uma opinião ou uma crença; verbo opinativo. [P. ex.: achar, crer, pensar.]
Verbo depoente: o que tem forma passiva e significação activa: rapaz lido, ou viajado, ou experimentado, i. e., ‘que leu’, ‘que viajou’, ou ‘que tem ou adquiriu
experiência’. [Sin.: verbo médio-passivo. Tb. se diz apenas depoente.]
Verbo desiderativo: aquele que exprime desejo.
Verbo desitivo: o que exprime acção que diminuiu ou cessou.
Verbo determinativo: verbo acurativo.
Verbo dicendi: cada um dos verbos como, p. ex., dizer, afirmar, exclamar, perguntar, responder, redarguir, que antecedem, mediata ou imediatamente, uma
declaração, pergunta, etc.; verbo declarativo: “O processo mais simples para isso [para o narrador dar a conhecer ao leitor palavras ou pensamentos de outrem] é
apresentar-nos o indivíduo e deixá-lo expressar-se, acrescentando-se um verbo dicendi (disse, perguntou, respondeu) para anunciar a entrada do novo falante.” (J.
Matoso Câmara Jr., Ensaios Machadianos, p. 25.) [Cf. verbo de opinião.]
Verbo diminutivo: verbo derivado cuja significação se exagera para menos: bebericar (ou beberricar), chamuscar, chupitar, dormitar, namoricar (ou namoriscar),
saltitar, saltaricar, saltarilhar.
Verbo ergativo: verbo intransitivo cujo sujeito não é o agente da acção verbal, mas tema; verbo inacusativo. [P. ex.: O gelo derreteu. Já na frase O calor derreteu o
gelo, calor é agente e gelo, tema.] [Tb. se diz apenas ergativo.]
Verbo estativo: aquele que indica uma situação que não é focalizada como um processo dinâmico. [P. ex.: saber, parecer.]
Verbo factitivo: verbo transitivo directo cujo objecto é, por sua vez, um agente sob a influência de um sujeito:
A mãe adormece a criança (quem adormece é a criança, i. e., o agente). [O carácter factitivo pode ser indicado pelos sufixos -ecer (adormecer, estremecer);-
entar (afugentar, adormentar); -izar (amenizar, cristianizar); -fazer, -ficar (liquefazer e liquidificar, estupefazer e estupidificar; mumificar, rectificar), etc.; pelos
v. causativos fazer, mandar, etc. (fazer o aluno estudar; mandar o homem trabalhar).] [V. verbo causativo.]
Verbo frequentativo: o que exprime acção repetida ou frequente; verbo iterativo: bebericar, escoicear, saltitar.
Verbo imitativo: verbo derivado de um substantivo, e que exprime ação imitativa da qualidade ou estado inerente ao ser que tal substantivo designa: borboletear,
cabriolar, corvejar, encabritar-se, pavonear, peruar, serpear, serpejar, serpentar, serpentear.
Verbo impessoal: aquele que não especifica o sujeito agente e que se apresenta sempre na 3 a pessoa do singular ou em formas nominais: ventar (ex.: Venta muito
aqui), nevar (ex.: Está nevando), haver (ex.: Há crianças na rua).
Verbo inacusativo: verbo ergativo (q. v.). [Tb. se diz apenas inacusativo.]
Verbo inactivo: aquele que não exprime acção, mas estado ou fenómeno, não sendo, pois, activo nem passivo; verbo neutro: chover, relampejar, morrer, viver.
Verbo incoativo: aquele que exprime começo de acção ou de estado: alvorar, alvorecer, amadurecer, anoitecer, florescer.
Verbo intensivo: verbo derivado que exprime reforço da acção.
Verbo intransitivo: o que exprime acção ou estado que não passa ou transita do sujeito a nenhum objecto, como, p. ex., andar, brincar, lutar, trabalhar, nas frases:
O pequeno já anda; A criança brinca; Está sempre a lutar; O homem trabalha.
Verbo irregular: aquele que não segue o paradigma da sua conjugação: estar, haver, trazer, sentir, tossir.
Verbo iterativo: verbo frequentativo.
Verbo lexical: aquele que expressa os significados do mundo extralinguístico.
Verbo médio-passivo: verbo depoente.
Verbo modal: verbo que exprime modalidades lógicas, como possibilidade, necessidade, probabilidade, etc.; verbo auxiliar modal. [Poder e dever, quando seguidos
de infinitivo, são ex. de verbos modais em português.] [Tb. se diz apenas auxiliar modal e modal.]
Verbo neutro: verbo inactivo.
Verbo omnipessoal: o que tem todas as pessoas.
Verbo opinativo: verbo de opinião.
Verbo passivo: o que exprime acção recebida pelo sujeito: ser querido.
Verbo predicativo: verbo de ligação.
Verbo pronominado: verbo pronominal.
Verbo pronominal: o que sempre vem acompanhado de um pronome oblíquo da mesma pessoa que o sujeito, como, p. ex., arrepender-se, queixar-se, aborrecer-se,
babar-se, considerar-se. [Chamam-se essencialmente pronominais quando, como se dá com os dois primeiros mencionados, nunca vêm desacompanhados do
pronome, e acidentalmente pronominais quando, como é o caso dos três últimos, podem vir sem ele. Sin.: verbo pronominado.]
Verbo recíproco: verbo pronominal que designa a acção de dois ou mais sujeitos praticada reciprocamente: Maria e Fernando amam-se; Os contendores atracaram-
se.
Verbo reflexivo: verbo pronominal cujo sujeito e objecto fazem referência ao mesmo ser; verbo reflexo.
Verbo reflexo: verbo reflexivo.
Verbo regular: o que segue o paradigma da sua conjugação: comprar, render, decidir.
Verbo relativo: verbo transitivo indirecto.
Verbo semi-auxiliar: verbo que precisa o início ou o término de um processo indicado por outro verbo, como ir, vir, acabar de em frases como vou sair, venho de vê-
la, acabo de chegar; verbo auxiliar de tempo.
Verbo serial: construção que consiste numa cadeia de dois ou mais verbos, transitivos ou não, que têm o mesmo sujeito, para expressão de casos, tais como
instrumental, dativo, direccional. [Os verbos seriais têm sido considerados característicos de línguas crioulas.]
Verbo substantivo: designação dada outrora ao verbo ser.
Verbo transitivo: o que exprime acção que passa ou transita do sujeito a um objecto directo (verbo transitivo directo, como fazer, comprar, realizar, propor), ou a um
objecto indirecto (verbo transitivo indirecto, como carecer, depender, obedecer), ou ainda, mais raramente, a um complemento circunstancial (verbo transitivo
circunstancial, como ir, sair, tirar).
Verbo transitivo circunstancial: o que pede complemento circunstancial, como, p. ex., o verbo ir em Fui a São Paulo, ou o verbo sair em O vapor saiu do porto de
Santos.
Verbo transitivo directo: verbo transitivo.
Verbo transitivo directo e circunstancial: aquele que pede um objecto directo e um complemento circunstancial, como, p. ex., o verbo tirar em Tirou as crianças da
sala.
Verbo transitivo directo e indirecto: o que pede dois complementos, objecto directo e objecto indirecto, para integrarem-lhe o sentido: contar (ex.: Contei o caso a
meu irmão); dar (ex.: Dei a triste notícia à viúva); exigir (ex.: De todos o soberano exige obediência); verbo biobjectivo, verbo bitransitivo, verbo transitivo-relativo.
Verbo transitivo indirecto: verbo transitivo. [Sin.: verbo relativo.]
Verbo transitivo-predicativo: verbo transobjectivo.
Verbo transitivo-relativo: verbo transitivo directo e indirecto.
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Flexão verbal
Os verbos flexionam-se, em português, em número, pessoa, modo e tempo, cujos valores estão contidos nos
afixos adjuntos ao verbo sob a forma de desinência.
As categorias verbais de voz e aspecto não se manifestam através de processos de afixação, tal como os
tempos compostos. Contudo, os valores aspectuais podem surgir em associação com os tempos verbais.
VERBO
PESSOA
NÚMERO
Primeira Segunda Terceira
Singular Plural
pessoa pessoa pessoa
MODO
TEMPO
Formas finitas Formas não finitas Presente Pretérito Futuro
VOZ
O verbo é constituído, no seu infinitivo impessoal, pelo radical+vogal temática+desinência do infinitivo: amar
< am(radical)+a(vogal temática)+r(desinência).
O tema é constituído pelo radical+vogal temática: ama.
Vogal temática
A vogal temática identifica o paradigma de flexão verbal a que um determinado verbo pertence. Assim, as vogais
temáticas –a, -e, ou –i, que se identificam na forma de infinitivo, fazem corresponder o verbo ao modelo de flexão da
primeira, segunda ou terceira conjugação.
. Primeira conjugação
Paradigma seguido pelos verbos que se identificam pela vogal temática –a-, na forma infinitiva do verbo.
Verbo transobjectivo: verbo transitivo directo, ou, em alguns casos, indirecto, ou pronominal cuja significação exige, como complemento do objecto directo, um
adjunto predicativo: nomear (ex.: Nomeei-o secretário); considerar-se (ex.: Considerou-se elogiado); verbo transitivo-predicativo.
Verbo unipessoal: o que só se usa, normalmente, nas 3as pessoas: acontecer, ganir, ladrar, zurrar, arensar.
Verbo vicário: o que se emprega para evitar a repetição de outro: Necessito viajar, porém só o farei no ano vindouro; Ele trabalha, mas não é tanto como diz.
Verbo volitivo: o que expressa a vontade do emissor.
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. Segunda conjugação
Paradigma seguido pelos verbos que se identificam pela vogal temática –e-, na forma infinitiva do verbo.
. Terceira conjugação
Paradigma seguido pelos verbos que se identificam pela vogal temática –i-, na forma infinitiva do verbo.
EXEMPLOS:
PRIMEIRA CONJUGAÇÃO SEGUNDA CONJUGAÇÃO TERCEIRA CONJUGAÇÃO
vogal temática –A- vogal temática –E- vogal temática –I-
Verbos de 1ª conjugação Verbos de 2ª conjugação Verbos de 3ª conjugação
am- A- r beb- E- r ca- I- r
cant- A- r corr- E- r color- I- r
danç- A- r l- E- r fuj- I- r
gost- A- r mant- E- r sent- I- r
lav- A- r perd- E- r sorr- I- r
pass- A- r sofr- E- r sub- I- r
trat- A- r viv- E- r part- I- r
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
andamos O sufixo –amos codifica simultaneamente o valor de primeira pessoa, de número plural, de tempo presente e modo indicativo.
Andes O sufixo –es codifica simultaneamente o valor de segunda pessoa, de número singular, de tempo presente e modo conjuntivo.
(ele) andaria O sufixo –aria codifica simultaneamente o valor de terceira pessoa, de número singular e modo condicional.
Número de verbo
O verbo é variável em número, sendo flexionado no singular e no plural. O singular tem como referente o sujeito
uma só pessoa ou objecto e o plural tem como referente do sujeito mais do que uma pessoa ou coisa.
EXEMPLOS:
SINGULAR PLURAL
ando andamos
andas andais
anda andam
Pessoa
O verbo possui três pessoas que referem a pessoa gramatical que serve de sujeito: Primeira/Segunda/Terceira.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
ando andamos A primeira pessoa corresponde aos pronomes pessoais: -eu (singular) e nós (plural).
andas andais A segunda pessoa corresponde aos pronomes pessoais: -tu (singular) e vós (plural).
anda andam A terceira pessoa corresponde aos pronomes pessoais: -ele/ela (singular) e eles/elas (plural).
Modo
Os modos verbais expressam gramaticalmente as atitudes e opiniões dos falantes, tais como: constatação,
certeza, dúvida, suposição, permissão, obrigação etc.
- Indicativo
O modo indicativo exprime, regra geral, uma acção, um estado ou um facto considerado como realidade. O
indicativo é o modo fundamental nas frases simples.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Estou na praia. O modo Indicativo projecta as acções no domínio dos acontecimentos, referindo-as
Quando era jovem, lia mais livros. no presenta (estou), no passado (era) ou no futuro (irei).
Amanhã irei ao cinema.
- Conjuntivo
O modo conjunto, por oposição ao modo indicativo, perspectiva as acções, os estados ou os factos no plano de
incerteza, probabilidade, eventualidades ou irrealidades. Embora o modo conjuntivo surja em frases simples e
coordenadas, é fundamental, sobretudo, nas orações subordinadas.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Oxalá esteja bom tempo. O modo Conjuntivo não se pode verificar na realidade, na medida a sua realização
Levantasses-te mais cedo e o dependente de outras acções.
trabalho estaria feito. - esteja apresenta um desejo cuja concretização está dependente de outra acção;
Se quiseres, vem cá jantar. - levantasses expressa a dependência de uma condição;
- quiseres mostra uma possibilidade.
- Condicional
O modo condicional é usado, regularmente, para, em orações condicionadas, referir factos que não se
realizaram e cuja realização é incerta.
EXEMPLO: EXPLICAÇÃO:
Se pudesse, gostaria de visitar Tóquio. O modo Condicional apresenta acções cuja realização é incerta.
O condicional é entendido por alguns autores como uma categoria temporal e não modal, sendo, nesse caso
mais frequentemente referido como futuro do perfeito simples que, na perspectiva de Cunha e Cintra (1998), se
emprega para designar acções posteriores à época de que se fala: Ex.: Tens a certeza de que, passadas as primeiras
semanas, não lamentaria aquele sacrifício? (Augusto Abelaira). Há autores que admitem as duas classificações,
distinguindo a categoria temporal, quando a perspectiva é o passado, e a categoria modal, quando a perspectiva é o
tempo futuro.
- Imperativo
O modo imperativo expressa permissão, obrigação ou ordem, podendo também ser usado para transmitir
informações, instruções, conselhos, convites, súplicas etc.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Anda comigo à praia. O modo imperativo transmite valores de:
Levanta-te e trabalha. - convite;
Amai-vos. - ordem;
Segue até ao fim da rua e vira à esquerda. - conselho;
- informação ou instrução.
Utiliza-se as formas do presente do conjuntivo nas pessoas em que o modo imperativo não tem formas próprias,
e também nas formas negativas. Ex.: Óptimo! Cantem eles! / Não cantes!
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Nos dias quentes, tenho ido à praia. Os exemplos mostram que as formas verbais não finitas:
Vou lendo sempre que posso. - não podem ocorrer numa frase simples como forma única, podendo
Apesar de termos fome, vamos jantar mais tarde. constituir parte de formas compostas (tenho ido);
Vamos indo. - o Gerúndio e o Particípio não admitem flexão de pessoa, número ou tempo
Tenho nadado todos os dias. (lendo, nadado);
Adoro passear. - o Infinitivo não admite flexão de tempo (termos);
- ocorrem nos modos Gerúndio (indo), Particípio (nadado) e Infinitivo
(passear).
- Infinitivo
O modo Infinitivo, quando usado na forma invariável – infinitivo impessoal – não exprime nem tempo, nem
modo. O Infinitivo exibe, deste modo, o processo verbal em potência, de forma vaga.
O modo Infinitivo admite flexão em número e pessoa – infinitivo pessoal – quando tem sujeito próprio.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Rir como um louco. Usos do Infinitivo Impessoal:
Viver para o trabalho. a) sem sujeito determinado, apresentando os estados expressos pelos
verbos de forma genérica;
Marchar. b) com valor imperativo;
Os rapazes estão a dormir e as raparigas a ler. c) numa descrição ou narração;
Este livro é fácil e bom de ler. d) dependendo de adjectivos como fácil, possível, bom etc;
Estou a ouvir. e) precedido da preposição “a” com os verbos estar, andar, ficar etc.
A Joana pediu para nós irmos com ela. Usos do Infinitivo Pessoal:
a) quando o sujeito está claramente expresso;
Antes de saíres fecha a janela. b) quando refere um agente não expresso;
Abandonarem assim um monumento. c) indicando indeterminação do sujeito (terceira pessoa do plural).
- Gerúndio
O modo gerúndio apresenta a acção designada pelo verbo no decorrer do seu desenvolvimento.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Estavam todos rindo como loucos. O gerúndio é usado para:
- dar conta da acção que se desenrola continuamente (rindo);
Vendo que não estavas, voltei para casa. - com o valor de uma acção precedente da acção principal (vendo).
- Particípio
O particípio apresenta o resultado da acção. As formas do particípio são frequentemente usadas com valor
de adjectivo, podendo flexionar-se como tal, ou como constituintes dos tempos verbais compostos.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Bem vista a situação, o exame nem foi difícil. O particípio passado do verbo «ver», vista, é usado com valor de adjectivo,
concordando com o nome em género e número.
Tenho visto muitos estrangeiros. - visto é a forma do verbo principal no particípio do pretérito perfeito composto
do modo indicativo.
Eles tinham dito que não vinham. - dito é a forma do verbo principal no tempo pretérito mais-que-perfeito
composto do modo Indicativo.
Tempo
A categoria verbal de tempo localiza situações, eventos ou estados num determinado ponto de ordenação
linear, orientado do passado para o futuro. Os tempos gramaticais orientam-se em três domínios: passado, presente e
futuro, tendo como referência três pontos de localização temporal:
- ponto da enunciação; - ponto de evento; - ponto de referência.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
A Sofia está em casa. Os exemplos situam as acções tendo em conta três momentos essenciais:
- em está, o ponto de situação e o momento de enunciação são simultâneos;
A Sofia saiu. - em saiu, o ponto de evento é passado relativamente ao momento de fala;
- no terceiro enunciado, têm-se em conta três momentos: o momento de enunciação, sendo-lhe
A Sofia saíra quando tu chegaste. anteriores, tanto o momento de referência, chegaste, como o momento do evento, saíra, que é
o momento que localiza uma maior anteriormente.
. Tempos simples: formam-se pela junção do radical, com a vogal temática, o sufixo de tempo, modo e
aspecto e a desinência de pessoa e número.
INDICATIVO CONJUNTIVO
PRESENTE A acção decorre no momento de enunciação.
IMPERFEITO A acção decorre num momento anterior ao momento de enunciação, não
sendo determinado o momento de fim da acção.
PRETÉRITO
FINITAS
Gerúndio andando
Particípio andado
. Tempos compostos: são constituídos por formas do verbo ter (ou haver), o verbo auxiliar, e o particípio do
verbo principal.
TEMPOS COMPOSTOS
Pretérito Perfeito composto tenho andado, …
Indicativo Mais-que-perfeito composto tinha andado, …
Futuro composto terei andado, …
Perfeito composto tenha andado, …
Pretérito
Conjuntivo Mais-que-perfeito composto tivesse andado, …
Futuro Composto tiver andado, …
Condicional Composto teria andado, …
Infinitivo Impessoal Composto ter andado, …
Gerúndio Composto tendo andado, …
Valores temporais
. Tempos do modo Indicativo
- Presente do Indicativo
O PRESENTE DO INDICATIVO USA-SE PARA: EXEMPLOS:
a) enunciar um evento que ocorre no momento de enunciação; Estou com fome.
b) enunciar acções ou estados permanentes; A Terra gira em torno do Sol.
c) referir acções habituais ou características do sujeito; Levanto-me cedo.
Pareço um palhaço.
d) narrar factos do passado com vivacidade; Vasco da Gama sai de Lisboa e encoraja os seus homens.
e) apresentar um facto no futuro próximo. Amanhã vou à Covilhã.
- Futuro do indicativo
O FUTURO DO INDICATIVO USA-SE PARA: EXEMPLOS:
a) indicar factor futuros; O pai voltará amanhã.
b) expressar incerteza acerca de factos actuais; Será que temos de voltar mais tarde?
c) manifestar uma súplica ou pedido; Poderás sair agora comigo?
d) em enunciados condicionados, expressar factos de Se procurares melhor, verás que encontras.
realização provável.
- Presente do Conjuntivo
O presente do conjuntivo usa-se para apresentar hipóteses, probabilidades ou intenções a partir de um ponto
de enunciação no presente.
- Imperfeito do Conjuntivo
O imperfeito do conjuntivo usa-se para apresentar hipóteses, probabilidades ou intenções, colocando o ponto
de ocorrência do evento no passado.
- Futuro do Conjuntivo
O futuro do conjuntivo usa-se para apresentar hipóteses, probabilidades ou intenções, colocando o ponto de
ocorrência do evento no futuro.
Aspecto
O aspecto é a categoria que permite descrever e identificar o sentido de uma situação, a partir da informação
lexical e gramatical.
Aspecto lexical: apresenta-se através do significado intrínseco que a palavra ou conjuntos de palavras
veiculam, podendo ser alterado pelo aspecto gramatical.
O aspecto lexical permite estabelecer a distinção entre…
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
1)-Situação estativas ou A Maria está doente. - A situação não é dinâmica.
estados (situação não dinâmica) O Pedro é simpático. - Não contém a noção de fim.
- O estado não é delimitado (sem início nem fim).
- A situação é homogénea, a acção não é divisível em momentos.
2)-Eventos (situações dinâmicas)
. Eventos durativos (ou O João leu o livro. - O evento tem duração e tende para o fim.
processo culminado) A Maria lavou a louça.
. Eventos não durativos (ou A Ana espirrou. - O evento é instantâneo, sendo um estado em si mesmo,
ponto) O Luís acordou. portanto, sem estado consequente.
Aspecto gramatical: verifica-se no domínio da predicação, podendo o valor aspectual variar em função do valor
temporal e das combinações com verbos auxiliares e estruturas de quantificação.
O aspecto gramatical pode distinguir-se entre…
acordou.
Estava a estudar, quando chegaste.
Geralmente, no Verão faz calor. . Sem valor temporal. - Advérbios ou locuções com sentido plural.
Os adolescentes são vaidosos. . Sem intervalo de tempo limitado.
Normalmente, os homens gostam de
futebol.
Tenho almoçado em casa. . Estados ou processos com início no - Pretérito Perfeito Composto Indicativo;
Iterativo
A Ana tem estado doente. passado que perduram no presente. - Advérbios ou locuções adverbiais de
tempo.
Voz
A categoria verbal admite duas perspectivas de voz, em português, dependendo da relação de agente entre o
sujeito e a forma verbal.
Na voz activa, o acontecimento ou situação expressa pelo verbo é praticado pelo sujeito.
Na voz passiva, o acontecimento ou situação expressa pelo verbo é sofrida pelo sujeito. O processo de
conjugação da voz passiva compreende o verbo auxiliar ser, no tempo e modo que se quer conjugar, e o particípio
passado do verbo principal. Ex.: O público aplaudiu a cantora (>voz activa). / A cantora foi aplaudida pelo público (>voz passiva).
Tipologias verbais
Verbos regulares
Os verbos regulares são conjugados totalmente conforme o paradigma de conjugação a que pertencem –
primeira conjugação, segunda conjugação ou terceira conjugação. Em português, é nos verbos da primeira conjugação
que há maior regularidade.
Verbos irregulares
Os verbos irregulares não se conjugam conforme o paradigma a que pertencem, podendo haver variações no
radical do verbo ou nos sufixos de flexão. No entanto, os verbos de tipologia irregular podem ter formas regulares.
Verbo defectivo
Os verbos defectivos são usados apenas em alguns tempos, modos ou pessoas, tendo, portanto, formas
inexistentes.
As formas lacunares dos verbos defectivos são supridas pelo emprego de formas verbais ou perífrases
equivalentes. Assim, por exemplo, para substituir a forma defectiva do verbo falir, no Presente do Indicativo, podemos
usar «abro falência»; para substituir a forma defectiva do verbo banir, no Presente do Indicativo, podemos usar «expulso».
. Formas supletivas: quando os verbos são defectivos no seu radical, podem recorrer a formas supletivas para
eliminar essa lacuna. Ex.: verbo ser: és, eras, fui, fosse etc.
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Verbo impessoal
Os verbos impessoais são verbos cuja ideia expressa não pode aplicar-se a pessoas, conjugando-se apenas
na 3ª pessoa do singular.
. Verbos que exprimem fenómenos naturais. chover/ chove/ choveu/ … Conjugam-se na 3ª pessoa
trovejar/ troveja/ trovejou/ … do singular.
ventar/ venta/ ventou/ …
relampejar/ relampeja/ relampejou/ …
amanhecer/ amanhece/ amanhecia/ …
anoitecer/ anoiteceu/ anoitecera/ …
. Verbo haver, quando significa «existir». Há pessoas em casa.
Houve aulas hoje.
Havia dias que não aparecia.
. Verbo fazer, quando significa tempo decorrido Faz tempo que não te vejo.
Verbo unipessoal
Os verbos unipessoais são verbos cuja ideia expressa não pode aplicar-se a pessoas. É apenas conjugado
na 3ª pessoa do singular e do plural.
. Verbos que indicam acções de animais. Ganir/ gane/ ganem/ … Conjugam-se na 3ª pessoa
Ladrar/ ladra/ ladram/ … do singular e do plural.
Zurrar/ zurra/ zurram/ …
Galopar/ galopa/ galopavam/ …
Esvoaçar/ esvoaça/ esvoaçaram/ …
. Verbos que indicam conveniência ou Convém irmos embora.
necessidade, sendo o sujeito uma oração Agrada-nos que venhas.
substantiva.
Classes de verbos
Verbo principal
O verbo principal constitui o núcleo semântico de uma oração e determina a ocorrência do sujeito e dos
complementos.
Dependendo da determinação ou não da selecção de complementos, pode classificar-se como: intransitivo,
transitivo directo, transitivo indirecto, transitivo directo e indirecto e transitivo-predicativo.
Usar-se-ão as seguintes abreviaturas: SUJ. (sujeito), V. (verbo), C.D. (complemento directo), C.I. (complemento
indirecto), C.I. (complemento indirecto), C.OBL. (complemento oblíquo).
O complemento oblíquo é o grupo preposicional ou grupo adverbial seleccionado pelo verbo, que pode ser
substituído por outros grupos preposicionais ou adverbiais (Consultar também o capitulo sobre os Elementos da
Oração…).
Verbo auxiliar
O verbo auxiliar ocorre na oração ou frase sem determinar o sujeito ou os complementos e precedendo o
verbo principal ou o verbo copulativo. Os verbos auxiliares são usados na formação de tempos compostos, na
formação da voz passiva ou em perífrases de valor aspectual.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Eu tinha dito que era melhor esperares. Os verbos auxiliares precedem o verbo principal na formação de…
Este vestido foi oferecido pela maria. . tempos compostos;
Os amigos estão a chegar. . voz passiva;
. perífrases com valor aspectual.
Em síntese, os verbos principais são aqueles que exprimem o significado do verbo, em certos casos de
conjugação; os verbos auxiliares são aqueles que transmitem algumas características pronominais da classe dos
verbos, como sejam: tempo, modo, pessoa, e até o aspecto e a voz. Nos exemplos seguintes…
A forma verbal simples estudou, inclui em si todas as características do verbo: tempo, modo, pessoa...
A forma verbal composta é constituída por um verbo principal estudar (estudado, estudada, estudar), que exprime
sobretudo o significado do verbo, e um verbo auxiliar ter (tem), ser (foi), andar (anda a) que auxiliam o principal,
transmitindo algumas características próprias da classe dos verbos, como sejam: tempo, modo, pessoa, e até o aspecto
e a voz.
Os verbos auxiliares:
Verbo copulativo
Os verbos copulativos (ou predicativos, ou de ligação) transmitem uma informação acerca do sujeito, através
de um complemento essencial para a designação do sujeito, o predicativo do sujeito.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Os verbos copulativos seleccionam
sintagmas, cujos núcleos podem ser: São verbos copulativos:
A minha mãe é bibliotecária. . nominais ser, estar, ficar, parecer,
A turma está irrequieta. . adjectivais permanecer, continuar,
No debate, a Ana ficou contra mim. . preposicionais tornar-se e revelar-se.
Os feirantes continuam muito mal. . adverbiais
Formas de conjugações
Conjugação pronominal
. A conjugação pronominal efectiva-se com os pronomes pessoais o, a, os, as; a acção do sujeito reflecte-se
num outro. Os pronomes tomam por vezes as formas lo, la, los, las e no, na, nos, nas.
Ex.: Ela ama-o com todo o afecto.
amo-o, ama-lo, ama-o; amamo-lo, amai-lo, amam-no
. A conjugação pronominal reflexa é feita com os pronomes me, te, se, nos, vos, se; a acção do sujeito recai
sobre ele próprio. Ex.: Sentei-me nas escadas.
sento-me, sentas-te, senta-se; sentamo-nos, sentais-vos, sentam-se
. A conjugação pronominal recíproca é formada com os pronomes pessoais do plural, exprimindo
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reciprocidade na acção praticada; a acção de cada um dos sujeitos recai mutuamente sobre ambos.
abraçamo-nos, abraçais-vos, abraçam-se
Conjugação perifrástica
A forma perifrástica é constituída por um verbo principal no infinitivo ou no gerúndio, e um verbo auxiliar, no
tempo que se quer conjugar.
Alguns dos verbos auxiliares da conjugação perifrástica são: ir, vir, andar, dever, deixar, estar, ter, haver,
começar, acabar, continuar. Ex.: Tenho de comprar o livro. (>ideia de necessidade) / A neve ia caindo. (>ideia de duração)
Conjugação do verbo LOUVAR (ou TER SIDO LOUVADO), (conjugação na voz passiva)
TEMPOS COMPOSTO
MODOS
PRESENTE PRET.IMPER. PRET.PERFEITO PRET.M.Q.PERFEITO FUTURO
eu tenho sido louvado eu tinha sido louvado eu terei sido louvado
--- --- tu tens sido louvado tu tinhas sido louvado tu terás sido louvado
ele tem sido louvado ele tinha sido louvado ele terá sido louvado
INDICATIVO
nós temos sido louvados nós tínhamos sido louvados nós teremos sido louvados
vós tendes sido louvados vós tínheis sido louvados vós tereis sido louvados
eles têm sido louvados eles tinham sido louvados eles terão sido louvados
eu tenha sido louvado eu tivesse sido louvado eu tiver sido louvado
--- --- tu tenhas sido louvado tu tivesses sido louvado tu tiveres sido louvado
ele tenha sido louvado ele tivesse sido louvado ele tiver sido louvado
CONJUNTIVO
nós tenhamos sido louvados n. tivéssemos sido louvados nós tivermos sido louvados
vós tenhais sido louvados vós tivésseis sido louvados vós tiverdes sido louvados
eles tenham sido louvados eles tivessem sido louvados eles tiverem sido louvados
eu teria sido louvado
tu terias sido louvado --- --- --- ---
ele teria sido louvado
CONDICIONAL
n. teríamos sido louvados
vós teríeis sido louvados
eles teriam sido louvados
IMPERATIVO --- --- --- --- ---
OUTRAS FORMAS
PESSOAL IMPESS. GERÚNDIO PART.PASSADO
eu ter sido louvado
tu teres sido louvado ter sido tendo sido louvado ---
INFINITIVO ele ter sido louvado louvado
nós termos sido louvados
vós terdes sido louvados
eles terem sido louvados
Advérbio
Na palavra advérbio, assim como na palavra adjectivo, existe o prefixo latino ad, que indica a ideia de
proximidade, contiguidade. Portanto o nome praticamente já diz o que é o advérbio: é palavra capaz de caracterizar o
processo verbal, indicando circunstâncias em que esse processo se desenvolve. A função principal do advérbio é ser
modificador da frase ou do grupo verbal.
Advérbio é a palavra (por vezes considerada invariável) que serve para determinar ou intensificar o sentido do
verbo, do adjectivo ou de outro advérbio.
- Junto de um verbo:
Não percebeste bem o que te quis dizer.
Estávamos descansados, quando, repentinamente, começou a chover.
- Junto de um adjectivo:
Ela é muito elegante.
- Junto de um (outro) advérbio:
Correu-me bastante mal o dia.
- Pode equivaler a uma frase:
"- Foste ao cinema?
- Não! (<Não fui ao cinema!)"
A locução adverbial é o conjunto de duas ou mais palavras que funciona como um advérbio. Formam-se
geralmente associando…
. uma preposição e um nome
. uma preposição e um adjectivo
. uma preposição e um advérbio.
EXEMPLOS:
À direita podem observar a Torre de Belém.
Sintam-se à vontade.
Fui de novo à Quinta da Regaleira.
Ainda não sei para onde vou.
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Flexão adverbial
Grau de advérbios
A categoria de grau estabelece uma gradação no significado de uma palavra ou na relação entre termos de
comparação.
O grau dos advérbios varia entre normal, comparativo e superlativo.
Comparativo
. de superioridade: mais perto
. de igualdade: tão perto
. de inferioridade: menos perto
Neste caso, e nos outros, o comparativo de inferioridade, substitui-se pelo de superioridade do advérbio
antónimo:
em vez de menos perto, dizemos mais longe
em vez de menos cedo, dizemos mais tarde etc.
Ex.: A patrícia estava mais longe do que o João. (e não "menos perto")
Superlativo absoluto
. analítico: muito perto
. sintético: pertíssimo
Superlativo relativo
. de superioridade: o mais perto
. de inferioridade: o menos perto
Os advérbios bem e mal, à semelhança dos adjectivos bom e mau, também apresentam comparativos e
superlativos irregulares:
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
O Zé escreveu melhor a carta. melhor = advérbio
Antes de adjectivos formados pelo particípio do verbo, os graus comparativo e superlativo sintético dos
advérbios bem e mal são: o mais bem e o mais mal:
EXEMPLOS:
Quero o trabalho o mais bem feito possível.
O monumento mais bem conhecido de Lisboa é o Mosteiro dos Jerónimos.
Foi o livro mais mal escrito que li.
Classes de advérbios
Advérbio de predicado
O ADVÉRBIO DE PREDICADO:
- ocorre internamente ao grupo verbal com função de Vou para aí.
complemento oblíquo, modificador do grupo verbal ou Almocei bem.
predicativo do sujeito; Ele ficou ali.
- pode ser afectado pela negação; Não vou para aí.
Não almocei bem.
Ele não ficou ali.
- não é afectado por estruturas interrogativas. É para aí que vais?
Almoçaste bem?
Foi ali que ele ficou?
Advérbio de frase
O ADVÉRBIO DE FRASE:
- modifica a frase; Provavelmente, vou chegar tarde.
Felizmente, consegui acabar a tempo.
Naturalmente, estarei presente.
- não é afectado pela negação; *Não provavelmente, vou chegar tarde.
*Não felizmente, consegui acabar a tempo.
*Não naturalmente, estarei presente.
- não é afectado por estruturas interrogativas. *É provavelmente que vais chegar tarde?
*É felizmente que vais conseguir acabar a tempo?
*É naturalmente que estarás presente?
Advérbio conectivo
O ADVÉRBIO DE FRASE:
- estabelece relações entre frases ou constituintes Saí de casa. Seguidamente, tomei um café.
de frases; A professora chamou as alunas, nomeadamente a Ana e a Maria,
para justificarem o sucedido.
- estabelece relações, por exemplo, de Comi demais, consequentemente tive uma dor de barriga.
consequência, contraste ou ordenação; A Maria, porém, havia-me avisado.
Preparei os legumes, seguidamente temperei a carne.
- não é afectado pela negação; *Comi demais, não consequentemente tive uma dor de barriga.
*A Maria, não porém, havia-me avisado.
*Preparei os legumes, não seguidamente temperei a carne.
- não é afectado por estruturas interrogativas; *Foi consequentemente que tiveste uma dor de barriga?
*A Maria havia-te avisado, porém?
*Temperaste seguidamente a carne?
- podem ocorrer entre o sujeito e o predicado (ao A Maria, porém, havia-me avisado.
contrário das conjunções).
Advérbio de negação
O ADVÉRBIO DE NEGAÇÃO:
- nega o sentido afirmativo de uma frase ou constituinte; As flores [não] são bonitas.
- ocorre como modificador do grupo verbal ou de um O João não ofereceu flores à mae.
constituinte do grupo verbal. O João ofereceu não flores, mas um perfume à mãe.
Advérbio de afirmação
O ADVÉRBIO DE AFIRMAÇÃO:
- usa-se nas respostas às interrogativas totais; Gostaste do filme?
- Sim.
- ocorre como modificador de um constituinte, para reforçar Não fui à sessão da tarde, mas sim à da noite.
o valor afirmativo.
Advérbio interrogativo
O ADVÉRBIO INTERROGATIVO:
- identifica o constituinte interrogativo. Onde estiveste?
Como chegaste?
Advérbio relativo
O ADVÉRBIO RELATIVO:
- identifica o constituinte relativizado numa oração relativa A discoteca onde estive era enorme.
e é substituível por um grupo adverbial ou preposicional. [Estive lá / na discoteca]
Preposição
A preposição é a palavra invariável que estabelece relação entre elementos da frase; palavra invariável que liga
dois elementos da oração, subordinando o segundo ao primeiro.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Em chegando a casa, dou-te uma ajuda. A preposição pode ter como complemento:
Vou para casa. - orações;
- grupos nominais;
Estou preparada desde já. - advérbios.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Jantai com ele! - verbo e pronome
Comprei uma pulseira de prata. - nome e nome
Fugiu durante a guerra. - verbo e nome
Contracção de preposições
As preposições a, de, em e por podem aparecer contraídas com o artigo definido e com alguns determinantes
e pronomes
a+a>à; a+o>ao; de+a>da; de+o>do; em+a>na; em+o>no; per+a>pela; per+o>pelo; a+aquela>àquela;
a+aquele>àquele; de+ela>dela; de+ele>dele; em+esta>nesta; em+este>neste…
Conjunção
A conjunção é a palavra invariável que serve para relacionar orações ou elementos semelhantes da mesma
oração; palavra invariável que relaciona orações, constituintes coordenados e orações subordinadas complectivas
e adverbiais.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Fui ao supermercado e voltei. A conjunção estabelece relações entre:
A Ana e a mãe saíram. -orações
Pedi-te que voltasses cedo. - constituintes coordenados
Vou sair, embora esteja frio. - orações subordinadas complectivas
- orações subordinadas adverbiais.
Classes de conjunções
Conjunção coordenativa
As conjunções coordenativas ligam orações da mesma natureza ou palavras que, na oração, desempenham
iguais funções; relacionam termos ou orações cuja função é idêntica, introduzindo o elemento coordenado.
EXEMPLOS:
Eu e a Maria fomos à praia.
Eu não vou à viagem, nem me importo com isso.
Conjunção subordinativa
As conjunções subordinativas estabelecem uma relação de dependência entre orações; relacionam orações,
em que uma depende ou completa o sentido da outra, introduzindo orações subordinadas complectivas e orações
subordinadas adverbiais.
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EXEMPLOS:
Diz-me que trouxeste o que te pedi.
Peço que faças o trabalho.
EXEMPLOS:
O prédio ruiu, porque não era conservado.
A Ana foi a Paris, visto que teve oportunidade para isso.
EXEMPLOS:
Tenho trabalhado para que tudo volte ao normal.
Estudei bastante a fim de que possa subir as notas.
EXEMPLOS:
Nunca apareces quando te peço.
Sempre que posso vou a Serralves.
EXEMPLOS:
Ainda que quisesse, não conseguiria ir agora de férias.
Parece que vai chover, embora esteja calor.
EXEMPLOS:
Nada disto teria acontecido, se fizesses o que te digo.
Gostaria de ir ao Namibe, se tivesse dinheiro.
EXEMPLOS:
Está de tal forma frio, que nem vou sair da cama.
Foi uma situação tão engraçada que ninguém ficou indiferente.
Interjeição
A interjeição é a palavra invariável que exprime emoções, sensações, estados de espírito, ou que procura agir
sobre o interlocutor, levando-o a adoptar determinados comportamentos sem que se faça uso de estruturas linguísticas
mais elaboradas.
A interjeição é frequente nas frases exclamativas e, na escrita, costuma ser acompanhada de ponto de
exclamação:
Ah! que grande asneira fizeste.
Oxalá cheguemos a tempo!
INTERJEIÇÕES E LOCUÇÕES INTERJECTIVAS
SURPRESA ah! oh! ih! olá! ole! ena! chiça! caramba! diabo!
credo! cáspite! essa agora! meu Deus!
APLAUSO ah! oh! eia! upa! viva! vamos! coragem! bravo! bis! apoiado!
força! muito bem!
ALEGRIA ah! oh!
CHAMAMENTO ó! eh! pst! pchiu! olá! olé! socorro! ó da guarda! aqui d´el-rei!
DOR ai! ui! ah! ai de mim! pobre de mim!
DESEJO oxalá! salve! bem haja! Deus queira! quem me dera!
CÓLERA apre! irra! toma!
INDIGNAÇÃO oh! ui! uh! credo! abrenúncio! Jesus!
DÚVIDA hum! ora! credo!
CANSAÇO uf! ah!
REPULSA ui! safa! fora! morra! abaixo! chiça! abrenúncio! tarrenego!
ORDEM caluda! silêncio! fora! arredo! basta! alto! alto já!
SILÊNCIO chiu! pchiu! caluda! silêncio!
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Não se deve confundir a interjeição de chamamento, ó (- Ó Fernando, anda cá!) com a interjeição oh!, que pode
exprimir surpresa, alegria, dor etc:
- Oh! que pouca sorte tivemos!
Chama-se também à interjeição, palavra-frase, por constituir, só por si, uma frase.
Frase
Parágrafo é parte de um texto escrito que desenvolve uma ideia básica e que se inicia com a mudança de linha
tendo a primeira linha destacada pelo avanço (ou recuo) ligeiro em relação às outras.
Frase é um conjunto de palavras em volta de um verbo ou de verbos; unidade gramatical organizada em volta
de um verbo ou de verbos.
Frase é um enunciado de sentido completo, unidade mínima de comunicação, que pode ser constituída por
uma única oração (frase simples), por mais do que uma oração (frase complexa) ou apenas por um verbo (frase
elíptica, estando os restantes constituintes subentendidos).
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Hoje comi um gelado. Frase simples
Hoje comi um gelado que era delicioso. Frase complexa
Comi. (Por exemplo, como resposta à questão: “Comeste um gelado?”) Frase elíptica
Elementos do predicado
O predicado pode ser constituído apenas por um verbo ou locução verbal.
Ex.: O meu primo adoeceu.
Ele está a sofrer.
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. Complemento directo. Refere-se ao ser sobre o qual recai a acção expressa pelo verbo. Pode ser constituído
por um nome (ou expressão nominal), pronome, numeral ou oração completiva.
Ex.: Ele comprou estas revistas.
Nunca pensei isso.
Tem tartes de maçã? Quero duas, por favor.
Ela pediu que viesses cedo.
. Complemento indirecto. Nome ou pronome que refere o ser sobre o qual recai indirectamente a acção
expressa pelo verbo. Geralmente é precedido pela preposição a. Ex.: Empresta o teu livro ao Paulo.
. Predicativo do sujeito. Palavra ou expressão que se junta ao verbo para lhe completar o sentido e caracterizar
o sujeito. Os verbos que servem de ligação entre o sujeito e o predicativo do sujeito chamam-se verbos copulativos ou
de ligação (ver, estar, andar, ficar, continuar, parecer, permanecer...).
Ex.: Ele parecia feliz.
A Gabriela continua doente.
. Predicativo do complemento directo. É a palavra ou expressão que completa o sentido do verbo e caracteriza
o complemento directo.
Ex.: Os alunos consideram aquele professor antipático. (aquele professor > complemento directo, antipático > predicativo
do complemento directo)
O Daniel tornou aquela viagem um inferno. (aquela viagem > complemento directo, um inferno > predicativo do complemento
directo)
O predicativo do complemento directo pode vir antecedido de por ou como.
Ex.: Eles tratavam a vizinha por avó.
Considero aquele homem como um modelo a seguir.
. Complemento agente da passiva. Este complemento só existe nas frases que estão na forma passiva e indica
o ser que pratica a acção sofrida pelo sujeito. Geralmente é introduzido pela preposição por. Ex.: A animação foi feita pela
Deolinda.
O agente da passiva é o complemento de um verbo conjugado na voz passiva e designa o ser que pratica a
acção sofrida pelo sujeito. Pode ser representado por um nome ou pronome. Ex.: O espectáculo foi visto por todos.
. Aposto ou continuado. O aposto ou continuado é o nome ou expressão nominal que se junta a outro nome
ou a um pronome, a título de explicação ou de apreciação. Coloca-se separado por vírgulas.
Ex.: Carata, a minha vizinha, partiu uma perna.
Vocês, os optimistas, são mais felizes.
Visitei os meus avós, pessoas adoráveis.
. Vocativo. O vocativo é a palavra ou expressão que, numa frase, indica a pessoa, animal ou coisa personificada,
a quem nos dirigimos directamente. O vocativo pode ser precedido da interjeição ó, e separa-se sempre por vírgula(s)
dos outros elementos da frase.
Ex.: Marta, chega-me esse livro.
Ouve lá, Rita, por acaso viste o meu irmão?
Nem penses numa coisa dessas, ó Tiago!
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
As crianças dormem. Na frase simples, o verbo ocorre a apresentar
As crianças dormem no quarto. uma propriedade ou a estabelecer uma relação
As crianças estão irrequietas. entre membros da frase.
A frase complexa combina mais do que um verbo principal ou copulativo, obtendo unidades frásicas
complexas.
Oração. Cada unidade frásica contida dentro de uma frase complexa denomina-se oração.
Oração é um conjunto de palavras em volta de um verbo; unidade gramatical organizada em volta de um verbo.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
ORAÇÃO ORAÇÃO
Estudo. Frase simples.
Vou ao mercado.
As crianças dormem, enquanto os pais jantam. Na frase complexa, podem identificar-se mais do
As crianças dormem no quarto, pois estavam cansadas. que um verbo principal ou copulativo como
predicado de cada uma das orações.
As crianças estão irrequietas, os adultos estão tranquilos.
Orações coordenadas
As orações coordenadas são autónomas, não dependem umas das outras, isto é, cada uma tem sentido próprio;
são sintacticamente independentes, uma não exerce função sintáctica em relação à outra. Na palavra coordenação existe
o prefixo co-, que indica nivelamento, igualdade, companhia ; e o mesmo prefixo de cooperar, co- líder, co-piloto.
Nas frases complexas formadas por coordenação, as orações surgem ligadas por conjunções coordenativas
ou por pausas. De acordo com o sentido das conjunções ou locuções coordenativas que as unem, as orações
coordenadas recebem nomes diferentes.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Encontrei a Ana, encontrei a Sofia, mas a ti não te vi. As orações coordenadas assindéticas estão ligadas pela pausa, podendo
Vou ao supermercado, vou ao talho e venho para casa. combinar-se numa frase complexa orações sindéticas e assindéticas.
A Maria está elegante, tem um vestido preto, arranjou o Uma frase complexa constituída apenas por coordenadas assindéticas é
cabelo, maquilhou-se, nem parece a mesma. usada para fazer uma enumeração.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Ontem fui à praia e amanhã vou passear no campo.
As conjunções coordenativas nunca
Vou ao cinema ou vou ao teatro.
ocorrem na primeira oração coordenada,
Visitei um museu, mas não o pude ver todo.
precedem apenas a segunda oração
Tenho algum tempo, logo fico um pouco mais.
coordenada.
A Ana tem dor de cabeça, porque apanhou demasiado sol.
Nem almocei, nem lanchei. Quando se recorre às conjunções
Não só ontem fui à praia, como amanhã vou passear no campo. correlativas, estas ocorrem antes de cada
Logo, ou vou ao cinema ou vou ao teatro. uma das orações coordenadas.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Vou a um concerto ou vou ao teatro. A verdade de uma oração constrói-se com base na
Nem fui ao concerto nem fui ao teatro. verdade da oração alternativa e vice-versa.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
O Manuel foi às aulas, mas o professor faltou. A segunda oração coordenada apresenta uma ideia que
Estou indisposto, todavia vou à escola. contradiz a informação expressa na primeira oração.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Vamos para a praia que o sol está a abrir. A segunda oração coordenada apresenta a justificação da
Não vou sair pois está um tempo desagradável. proposição inicial.
Orações subordinadas
Ao contrário das orações coordenadas, as orações subordinadas estão dependentes de uma outra oração (a
oração subordinante ou principal), com a qual estabelecem uma determinada relação. Na palavra subordinação existe
o prefixo sub-, que indica posição inferior: a oração subordinada é sintacticamente dependente da principal.
A ligação entre a oração subordinada e a oração subordinante pode ser estabelecida por uma conjunção ou
locução subordinativa, por um pronome relativo ou por um pronome ou advérbio interrogativo (por um verbo no infinitivo,
no gerúndio ou particípio passado).
Nas orações ligadas por subordinação existe uma estrutura de encaixe, ou seja, a oração subordinada é um
constituinte da oração subordinante.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Está calor, embora seja Verão. A oração subordinante pode constituir uma unidade de sentido, como acontece
no primeiro exemplo, ou pode necessitar de ver o seu valor completo pela
Pensei fazer um piquenique.
oração subordinada, como acontece na segunda frase complexa.
As orações subordinadas podem assumir diferentes funções sintácticas na frase que as assemelham a
expressões nominais, adjectivais ou adverbiais. Como tal, constituem-se as seguintes tipologias de orações
subordinadas: subordinadas substantivas, subordinadas adjectivas e subordinadas adverbiais.
Orações subordinadas adjectivas relativas explicativas. Estas orações acrescentam ao antecedente uma
informação acessória, podendo, portanto, ser suprimidas. Separam-se obrigatoriamente por vírgula.
Orações subordinadas adjectivas relativas restritivas. Estas orações restringem, isto é, limitam o sentido
do nome (ou do pronome) antecedente, sendo, por isso, indispensáveis ao sentido da frase. Não se separam, na escrita,
por vírgula.
Pode deduzir-se que a oração subordinada adjectiva relativa restritiva pode ser finita, quando recorre do modo
indicativo (…), ou não finita, quando são usados o infinitivo, gerúndio ou particípio.
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJECTIVAS RELATIVAS RESTRITIVAS
FINITAS EXPLICAÇÃO:
A ideia que me deste foi espectacular. A oração subordinada adjectiva relativa restritiva recupera o
tratava o tema do valor do antecedente, limitando o seu sentido: a ideia que
O filme que vi ontem
terrorismo. me deste e só essa, ou o filme que vi e só esse.
NÃO FINITAS Correspondendo às finitas:
INFINITIVAS a cantar.
Ouvia-se um pássaro Ouvia-se um pássaro que cantava.
GERUNDIVAS cantando.
O livro policial que foi comprado no Natal é empolgante.
PARTICIPIAIS O livro policial comprado no Natal é empolgante.
O livro policial que se comprou no Natal é empolgante.
Orações subordinadas adverbiais causais. Indicam o motivo ou a causa por que acontece o que se afirma na
oração subordinante. Estabelecem com a oração subordinante uma relação de causa ou apresentam um motivo ou
razão.
A oração subordinada adverbial causal pode ser finita, quando recorre ao modo indicativo, ou não finita, quando
são usados o infinitivo, gerúndio ou particípio.
Orações subordinadas adverbiais concessivas. Apresentam um contraste face ao que se esperaria ou seria
previsível perante o exposto na oração subordinante. Assim, a oração subordinada concessiva tanto enuncia uma
situação inesperada, como uma expectativa contrariada.
A oração subordinada adverbial concessiva pode ter um carácter factual, quando apresenta uma ideia
contrastiva, ou condicional, quando a ideia expressa é simultaneamente contrastiva e condicional, com recurso a formas
verbais finitas (conjuntivo) ou não finitas (infinitivo, gerúndio e particípio).
Apesar de estar frio, passeio na praia. Mesmo se estiver frio, irei passear na praia.
INFINITIVAS
NÃO Fui à livraria, apesar de ter pressa. Mesmo que possa ter pressa, irei à livraria.
FINITAS GERUNDIVAS Embora estando frio, estou a passear na praia. Mesmo estando frio, irei passear na praia.
PARTICIPIAIS Mesmo apressado, fui à livraria. Mesmo se apressado, irei à livraria.
ORAÇÕES COORDENADAS
ASSINDÉTICAS Elas falaram, ralharam, choraram.
COPULATIVAS Ele trabalha e diverte-se. / Não vou trabalhar, nem fico em casa.
SINDÉTICAS
ADVERSATIVAS Foste, mas já não chegaste a tempo. / Ela é bonita, contudo é antipática.
DISJUNTIVAS Quer chova, quer neve. / O réu ora afirmava isto, ora dizia aquilo.
CONCLUSIVAS Tu sabes, logo (portanto) não reprovarás.
EXPLICATIVAS Sai dessa cama, pois não estás doente.
Entoação da frase
A entoação da frase é a curva melódica efectuada pela voz humana ao pronunciar as palavras e as frases.
Estas três frases…
O pai saiu de casa.
O pai saiu de casa?
O pai saiu de casa!
são absolutamente iguais, se se excluir o sinal de pontuação, o qual indica, em certa medida, a entoação da
frase.
Com efeito, é a entoação que se dá à frase que faz com que essa mesma frase seja perfeitamente compreendida.
Tipos de frase
A frase, quanto aos tipos, isto é, consoante a intenção de comunicação do seu emissor, pode ser declarativa,
interrogativa, imperativa ou exclamativa.
- Frase de tipo declarativo. Contém a intenção de informar sobre um acontecimento, descrever uma situação...
e tem as marcas do código oral (entoação descendente), código escrito (ponto final).
Ex.: Ontem fui ao cinema.
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- Frase de tipo interrogativo. Contém a intenção de formular uma pergunta, apresentar uma dúvida... e tem as
marcas do código oral (entoação ascendente), código escrito (ponto de interrogação).
Ex.: Que filme foste ver?
- Frase de tipo exclamativo. Contém a intenção de exprimir sentimentos (satisfação, alegria, surpresa,
indignação...) e tem as marcas do código oral (entoação descendente e prolongada), código escrito (ponto de
exclamação).
Ex.: Um filme magnífico!
- Frase de tipo imperativo. Contém a intenção de aconselhar, fazer pedidos ou chamadas de atenção, ordenar...
e tem as marcas do código oral (entoação descendente), código escrito (modo imperativo do verbo, ponto final ou ponto
de exclamação).
Ex.: Fala-me desse filme!
Formas de frase
Em função da natureza da mensagem que se pretende transmitir, é possível associar ao tipo de frase
(declarativa, interrogativa, exclamativa ou imperativa) uma ou várias formas de frases:
Forma afirmativa / forma negativa;
Forma activa / forma passiva;
Forma enfática.
EXEMPLOS:
Vais para casa mais cedo?
- Sim, vou.
Ontem trabalhei até mais tarde, hoje vou mais cedo para casa sim.
EXEMPLOS:
O dia hoje está quente. – frase na forma afirmativa
O dia hoje não está quente. – frase na forma negativa
As frases de forma negativa requerem a presença de elementos negativos, que poderão ser: não, nem, sem,
ninguém, nada, nunca ou nenhum. Nas frases de forma negativa, a negação ocorre sobre o predicado.
As frases de forma negativa poderão construir-se com:
a) Os marcadores de negação:
EXEMPLOS: CARACTERÍSTICAS:
Nós não vimos o filme. Não é o marcador mais generalizado da negação frásica:
Esta casa não foi edificada nas melhores condições. - geral, precede o primeiro elemento verbal;
O atleta não ganhou a corrida dos cem metros. - estabelece com o verbo uma unidade sintáctica que não pode
não
Não o atleta ganhou a corrida dos cem metros. ser fragmentada;
Não assistiu à prova nenhuma pessoa. - quando não existe outro elemento a negar a frase precedendo
Assistiu à prova nenhuma pessoa. o núcleo verbal, o “não” é obrigatório.
Nem comemos peixe nem comemos carne. Nem é o marcador de negação que ocorre na coordenação:
nem Não lemos o jornal nem vemos o filme. - pode preceder ambas as orações coordenadas ou apenas a
última.
Os alunos saíram da aula sem terem terminado o Sem funciona como uma preposição de valor negativo:
trabalho. - nega a oração subordinada, sendo o seu primeiro elemento;
sem
Os alunos saíram da aula sem não terem terminado - Sem não ocorre na oração subordinada com outro elemento
o trabalho. negativo.
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b) Os quantificadores negativos:
EXEMPLOS: CARACTERÍSTICAS:
Ninguém pode sair da sala.
ninguém
Ela não contou a verdade a ninguém.
Nada foi feito para impedir o distúrbio.
nada
Não foi feito nada para impedir o distúrbio. Os quantificadores negativos podem ocorrer:
Nunca soubemos o que tinha acontecido. - isolados e estabelecerem eles próprios a negação;
nunca
A Filipa não sai nunca de casa. - em complementaridade de domínios negativos.
Nenhum aluno resolveu o exercício.
nenhum/
Em aula nenhuma leram um livro completo.
nenhuma
Não vi nenhum livro danifica.
EXEMPLO: EXPLICAÇÃO:
O Tiago é que arrumou o quarto. - frase de tipo declarativa e de forma afirmativa e enfática
Eu cá nunca arrumo o quarto. - frase de tipo declarativa e de forma negativa e enfática
Pode-se concluir que uma frase pertence necessariamente a um dos quatro tipos, o qual pode combinar-se com
uma ou mais formas.
TIPO DECLARATIVA TIPO INTERROGATIVA TIPO IMPERATIVA TIPO EXCLAMATIVA
FORMA AFIRMATIVA Este homem puxa o burro. Queres que empurre? Empurra com força. Que burro teimoso!
Este homem não puxa o Não queres que Não empurres com força. O burro não é teimoso!
FORMA NEGATIVA
burro. empurre?
Este homem puxa o burro. Queres que empurre? Empurra com força. Que burro teimoso empurra
FORMA ACTIVA
este homem!
O burro é puxado por este Queres que o burro Que o burro seja Que burro teimoso é
FORMA PASSIVA
homem. seja empurrado? empurrado com força. empurrado por este homem!
É o homem que puxa o Será que queres que João, empurra tu com Este burro é que é teimoso!
FORMA ENFÁTICA
burro. empurre? força.
Construção frásica
Tipos de estrutura
A língua portuguesa obedece a um padrão de combinação entre as palavras. Nas frases declarativas, a
construção mais usual é aquela em que o sujeito precede o verbo, sucedendo-lhes os complementos. Diz-se, então, que
a ordem sintáctica regular em português é SVO (sujeito-verbo-objectos).
No entanto, o padrão básico pode ser alterado, verificando-se alterações de natureza discursiva. Os tópicos
marcados não correspondem ao caso típico da ordem de palavras em português. Neste tipo de estruturas, que não são
discursivamente neutras, as expressões assume um estatuto diferente conforme assumam a posição de tópico (posição
inicial) ou a informação de maior grau de novidade (posição final). Veja-se os exemplos:
Podem ainda surgir outros tipos de estruturas em que a ordem básica SVO é alterada:
Processos sintácticos
Concordância
A concordância é o processo sintáctico que se verifica entre duas ou mais palavras que partilham elementos ao
nível da flexão de pessoa, género ou número, em função do lugar que ocupam na frase.
Assim, é obrigatório haver concordância entre sujeito e verbo flexionado no predicado, entre determinantes e
nome, entre quantificador e nome, entre nome e adjectivo, entre sujeito e predicativo do sujeito, entre complemento directo
e predicativo do complemento directo e entre sujeito e particípio passado em construções passivas.
Concordância entre:
EXEMPLOS: REGRA:
SUJEITO E VERBO FLEXIONADO NO PREDICADO
O verbo flexionado no predicado concorda em pessoa e número com o sujeito.
Eu fui a Paris.
Surge no singular quando a entidade designada é singular ou no plural quando a entidade é plural.
Tu foste a Bruxelas.
A pessoa varia conforme o enunciador coincida com o sujeito (1ª pessoa), o sujeito seja o
Eles viajaram.
interlocutor (2ª pessoa) ou uma entidade distinta das anteriores (3ª pessoa).
Eu e a Susana fomos a Paris.
O verbo flexiona-se na 1ª pessoa do plural, quando um dos constituintes nominais do sujeito
Eu, a Anabela e o Tiago visitámos
composto corresponde à 1ª pessoa;
Montamartre.
A viagem e a estadia custaram 500 O verbo flexiona-se na 3ª pessoa do plural quando o sujeito é composto por dois elementos na 3ª
euros. pessoa do singular;
O meu primo e grande amigo veio O verbo flexiona-se na 3ª pessoa do singular, quando a entidade designada é singular, mesmo
connosco. quando o sujeito é composto.
Chegamos hoje de Paris eu e a
Quando o sujeito composto ocorre em posição pós-verbal, o predicado pode conjugar-se no plural,
Anabela.
conforme acontece quando o sujeito é pré-verbal, ou no singular, quando uma das entidades pode
Cheguei hoje de Paris eu e a Anabela
actuar independente da outra.
[não chegou/ chegou depois].
DETERMINANTE E NOME
O Luís é bom rapaz.
Aquela casa tem vários jardins. Os determinantes precedem o nome, flexionando-se no mesmo número e género.
Num certo dia fui a Troia.
O meu quarto fica no sótão. Os determinantes possessivos, além de estabelecerem concordância em número e género, fazem-
As tuas pinturas são abstractas. no também em pessoa.
QUANTIFICADOR E NOME
Conheci várias pessoas.
Diversos rapazes foram à discoteca. Os quantificadores concordam com o nome, flexionando-se no mesmo número e género.
O meu primo fez dois anos.
NOME E ADJECTIVO
Os gatos pretos não me dão azar.
Aquelas casas são lindas.
Enquanto modificador do nome, o adjectivo ocorre no mesmo número e género daquele.
A casa é lindíssima.
Os rapazes são audazes.
SUJEITO E PREDICATIVO DO SUJEITO
A casa é enorme.
O predicativo do sujeito concorda com o sujeito em número e género, quando o predicativo do
Os quartos são espaçosos.
sujeito é constituído por grupo adjectival ou grupo nominal
Elipse é o processo sintáctico que consiste na omissão de expressões que são recuperáveis através do
contexto linguístico ou da situação.
1.- As expressões elípticas podem ocorrer com um antecedente na estrutura frásica que permite inferir o valor
da expressão omitida.
EXPRESSÕES ELÍPTICAS NÃO REALIZADAS NA SEGUNDA ORAÇAO, MAS IDENTIFICÁVEIS
EXEMPLOS: ATRAVÉS DO ANTECEDENTE, NA PRIMEIRA ORAÇÃO:
O Manuel chumbou o ano e a Ana também [-]. [chumbou o ano]
O Manuel contou-me que chumbou o ano, mas a
[me contou que chumbou o ano]
Ana não [-].
Ofereci uma blusa à mãe e a Ana [-] um livro. [ofereceu à mãe]
As zonas antigas das cidades estão mais
[zonas] [das cidades]
degradadas que as [-] recentes [-].
O jornal X refere que as campanhas eleitorais são
as mais dispendiosas de sempre, porém o jornal Y [ao facto das campanhas eleitorais serem as mais dispendiosas de sempre]
apresenta dados contrários [-].
2.- Este processo permite evitar repetições redundantes, ou seja, os enunciados tornar-se-iam demasiados
longos e acabariam por desviar a atenção da informação focada. Este é, portanto, um processo sintáctico muito recorrente
e importante para a eficácia do processo comunicativo.
Num determinado contexto situacional, é possível interpretar as expressões elípticas.
EXEMPLOS: CONTEXTO SITUACIONAL:
Estando numa loja a escolher vestidos, uma mulher dirige-se para o funcionário e aponta
Levo aquele.
para o funcionário e aponta para um vestido entre vários outros.
Estando duas pessoas a ver televisão, uma tem o comando remoto e faz um movimento
Não mudes!
para carregar no botão e outra reage à acção, fazendo um pedido.
Frase parentética: surge intercalada numa oração ou no final da frase, como comentário ou explicação
acerca da entidade referida no grupo nominal, quando intercalada, ou em toda a frase, quando final. O carácter parentético
das orações intercaladas é fornecido pelas pausas, na oralidade, ou por vírgulas ou traços, na escrita.
As orações parentéticas, ocorrendo intercaladas, constituem modificadores apositivos que não contribuem
para a construção de sentido do referente, mas para estender o seu âmbito de significado.
EXEMPLOS: EXPLICAÇÃO:
Os assaltantes, crê-se, encontraram-se ainda em parte incerta. As orações parentéticas:
O local vandalizado, diz-se, ficou num estado lastimável. - apresentam uma posição não confirmada;
Esta terra, como eu digo, está de mal a pior. - salientam um ponto de vista pessoal;
A situação, acredito, está prestes a ser resolvida. - citam a fonte de uma informação;
O episódio, como refere o jornal, terá acontecido durante a madrugada. - apresentam o locutor de um enunciado oral
Tudo isto se deu bem cedo – disse um popular – ainda estava deitado e ouvi barulhos. transposto para a escrita;
-adicionam informação acessória à interpretação do
O Sr. Manuel, que é sereno e nada teme, apanhou o susto da sua vida.
enunciado, na medida em que não definem
O assalto, que foi capa de jornal, deixou os moradores em estado de alerta.
restritivamente a entidade a que se apõem.
Estudo da palavra
A palavra é uma unidade gráfica e fonológica, com significado ou função gramatical e pertence a uma
determinada classe.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Hoje vi o luar sob o céu estrelado. Pode identificar-se oito palavras, separadas pelos espaços em branco.
Aquele rapaz teve uma atitude sjeiola. A forma sublinhada não é identificada como uma palavra em língua portuguesa.
Este fim de semana vou a Paris. Pode reconhecer-se na palavra sublinhada um sentido cristalizado na língua.
Palavra simples6
A palavra simples é formada por um único radical e admite afixos derivacionais, sendo uma unidade de
sentido indivisível. Ex.: dou / damos; lindo / linda; bomba / bombas; tempo / tempos.
Palavra complexa
A palavra complexa é divisível em unidades menores de sentido, sendo formada através dos processos de
derivação ou composição. Ex.: dádiva, lindamente, bomba-relógio, contratempo.
Base: é o constituinte a partir do qual se formam novas palavras, podendo corresponder a um radical, a uma
palavra simples ou a uma palavra complexa.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
cas- > casario A palavra casario é derivada da base correspondente ao radical.
sol > solar A palavra solar é derivada da base correspondente à palavra simples.
solar > solarengo A palavra solarengo é derivada da base correspondente à palavra complexa.
Palavra invariável: não admite qualquer especificação de flexão. São palavras invariáveis as preposições e
conjunções.
- Interfixo / infixo: afixo que ocorre entre duas formas de base ou entre a base e um afixo; afixo no interior da
palavra. Ex.: o l de chaleira, o t de cafeteira, o z de capinzal.
6 Palavra primitiva. Palavras primitivas são aquelas que não são formadas a partir de outras palavras; ou são palavras simples que não têm origem em nenhuma
outra; elas sim, estão na origem de outras que se formam a partir delas: água, mar.
7 O radical é o constituinte que permite criar novas palavras, transmitindo uma mesma base de significação.
Derivação
A derivação é o processo de formação de palavras a partir de outras já existentes. As palavras derivadas
estabelecem com a palavra base uma relação semântica e formal.
A derivação por afixação é o processo morfológico de formação de palavras que consiste no acréscimo de um
afixo a uma base, ou na redução de um som ou sons de uma palavra. As palavras assim formadas adquirem um novo
significado e, em alguns casos, mudam de categoria gramatical (isto é, passam a pertencer a uma classe de palavras
diferente da palavra que lhe deu origem).
Na derivação por afixação, as palavras podem ser formadas por prefixação, sufixação e parassíntese.
Prefixação
Na prefixação, o afixo é colocado à esquerda da base: contar - des - contar > descontar; colocar - re - colocar >
recolocar; contente - des - contente > descontente; feliz - in - feliz > infeliz.
Os prefixos não alteram a acentuação da base, nem a classe da palavra da base.
PREFIXOS COMUNS EM PORTUGUÊS (ORIGEM LATINA)
PREFIXOS EXEMPLOS SENTIDO
Ab- abdicar afastamento
Abs- abstémio, abster
Ad- adjacente, adjunto aproximação
A- acercar, aproximar
Des- desaparecer, desobedecer separação
desregrar, desfaçatez acção contrária
Dis- disseminar, dispersar separação
Di- dilatar movimento para diversos lados
dissabor, dissemelhante negação
Ex- exportar, expatriar movimento para fora
E- emigrar
In- (im-) ingerir, inalar, importar movimento para dentro
I- imigrar
In- (im-) inacabado, imortal negação
I- ilegal ausência
Per- perseguir, perfurar movimento através
Pos- póstumo, pospor posterioridade
Pre- preceder, prefácio anterioridade
Re- refazer, repor repetição
Trans- transpor, transmontano movimento para além de
Vice- vice-presidente substituição, em lugar de
Vis- visconde
Sufixação
Na sufixação, o afixo é colocado à direita da base.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
amoroso, amorosamente O sufixo –oso foi associado à base amor. À nova base amoros- uniu-se o
sufixo –mente.
felizmente, infelizmente O sufixo –mente foi associado à base feliz. Juntando o mesmo sufixo à base
infeliz- foi criada uma nova palavra por sufixação.
cafeteira, cafézinho À base caf- é associado o sufixo –teira e à base e, neste caso, palavra
simples, café é associado o sufixo –zinho.
Os sufixos alteram a posição do acento principal da base (a sílaba tónica de feliz é –liz, passando o acento
principal de felizmente a estar na sílaba –men-); determinadas classes de palavras (do adjectivo feliz forma-se o advérbio
de modo felizmente).
Os sufixos, por outro, podem ser classificados em…
- Nominais, quando formam nomes.
- Adjectivais, quando formam adjectivos.
- Verbais, quando formam verbos.
- Adverbiais, quando formam advérbios.
SUFIXOS AUMENTATIVOS
SUFIXOS EXEMPLOS SUFIXOS EXEMPLOS
-ão cadeirão -edo rochedo
-aça mulheraça -eirão bonacheirão
-aço giraço -orra cabeçorra
-ada chuvada -orro cachorro
-aréu mundaréu -uça dentuça
-arra bocarra -zarrão homenzarrão
SUFIXOS DIMINUTIVOS
SUFIXOS EXEMPLOS SUFIXOS EXEMPLOS
-acho/ -a riacho -ilho/ -a pecadilho
-abre casebre -im espadachim
-eco/ -a trabalheco -inho/ -a casinha
-ejo lugarejo -ino/ -a pequenino
-ela ruela -isco/ -a chuvisco
-ete palacete -ito/ -a livrito
- eto/ -a maleta -ucho pequenucho
-ico/ -a namorico -zinho/ -a pãozinho
-icho/ -a barbicha -zito/ -a nuvenzita
Parassíntese
Na parassíntese, o afixo é colocado, simultaneamente, tanto à esquerda (prefixação) como à direita (sufixação)
da base.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
encurtar O processo de associação simultânea do prefixo en- e sufixo –ar associados à base curt- furmou uma nova palavra.
desalmado O processo de associação simultânea do prefixo des- e sufixo –ado associados à base alm- formou uma nova palavra.
Derivação imprópria
A derivação imprópria consiste em formar nomes (nominalização) a partir de palavras ou expressões não
nominais.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Ele foi empurrado contra a parede. / A tua casa tem um contra: fica longe. preposição > nome
O João regressa amanhã. / É preciso pensar no amanhã. advérbio > nome
Conversão
Obtém-se uma nova palavra partindo de outra já existente, sem qualquer transformação formal da mesma,
por conversão. O processo de conversão integra a palavra numa nova classe de palavras.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Vamos comer sopa. O verbo comer foi convertido em nome, bastando, para
O comer está na mesa. isso, antepor o artigo o.
Luanda é cidade capital de Angola. Sendo a primeira utilização de capital a de adjectivo, é
Visitei a capital de Portugal. regular encontra-la como nome.
Aprecio o silêncio da noite. Muitas vezes os nomes, adjectivos ou verbos ganham
Silêncio! Prestem atenção ao filme. expressividade tornando-se interjeições.
Composição
A composição é o processo morfológico que consiste em formar uma nova palavra pela união de duas ou mais
bases. Podem ocorrer dois processos de composição: composição morfológica ou composição morfossintáctica.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
ortografia Junção do radical orto- à palavra grafia.
homonímia Junção do radical homo- ao radical –nímia.
aguardente Junção das palavras água e ardente.
embora Junção das palavras em, boa e hora.
fidalgo Junção das palavras filho, de e algo.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
abelha-mestra / trabalhador-estudante Junção de palavras das classes nome+nome.
amor-perfeito / ferro-velho Junção de palavras das classes nome+adjectivo.
belas-artes / primeiro-ministro Junção de palavras das classes adjectivo+nome.
azul-marinho / luso-africano Junção de palavras das classes adjectivo+adjectivo.
guarda-chuva / beija-flor Junção de palavras das classes verbo+nome.
lua-de-mel / caminho-de-ferro Junção de palavras das classes nome+preposição+nome.
contra-atacar Junção de palavras das classes preposição+verbo.
Extensão semântica. Dada a necessidade de referenciar novas realidades, as palavras podem adquirir novas
significações, alargando o âmbito do seu significado. Assim, por exemplo, a informática, como área recente da
realidade, tem levado ao alargamento semântico do léxico português:
- rato (componente periférico do computador);
- janela ( área de visualização de documento informático);
- abrir, fechar, copiar, salvar (acções praticadas em ambiente informático).
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Neologismos. Os neologismos são palavras ou expressões novas que integram o léxico da língua, num período
recente, não tendo, no entanto, sido dicionarizadas. Os neologismos surgem como necessidade para referenciar um novo
aspecto da realidade ou por questões de prestígio social, quando existem já palavras na língua para referir a realidade
em causa.
aeródromo, aeroporto, estádio, patologia, televisão, conceptismo, fixismo, radiodifusão...
Arcaísmo. Os arcaísmos são palavras e locuções que, pertencendo ao léxico do português, caíram em desuso:
soidade (saudade), asinha (depressa), catar (inquirir), enha (minha), mui (muito), viver a sabor (viver em função do prazer)...
Cultismo. Consiste no uso de palavras rebuscadas das línguas de prestígio (Latim, Grego...): cátedra, óculo,
madre, padre, pleno (cheio), cardíaco...
Truncação (ou truncamento). Forma-se novas palavras a partir da eliminação da sequência final da palavra,
não havendo alteração do sentido ou da classe da palavra: quilo < quilograma; pneu < pneumático; foto < fotografia; metro
< metropolitano; manife < manifestação; otorrino < otorrinolaringologista; moto < motociclo.
Acronímia
Os acrónimos são palavras derivadas das iniciais de várias palavras. Ex.:
ONU < Organização das Nações Unidas
CITA < Centro de Informação e Turismo de Angola
SIDA < Sindroma de Imuno Deficiência Adquirida
OVNI < Objecto Voador Não Identificado
LASER < Ligths Amplification by Simulated Emission of Radiations
Sigla
As siglas formam-se, como os acrónimos, através das iniciais de várias palavras. No entanto, distinguem-se
daqueles por os seus elementos serem pronunciados separadamente. Ex.:
CPLP < Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa
HIV < Vírus de Imunodeficiência Humana
AFP < Agência France-Presse
OMS < Organização Mundial de Saúde
ONG < Organização Não Governamental
As siglas podem pronunciar-se letra a letra ou como qualquer outra palavra (pronúncia silábica). As letras que
compõem as siglas podem surgir separadas ou não por um ponto. Ex.: C.P.L.P., H.I.V., A.F.P., O.M.S., O.N.G.
8O empréstimo verifica-se quando há adopção de uma palavra ou expressão de uma língua estrangeira. Este fenómeno pode ser estudado no âmbito do
neologismo.
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Entrecruzamento (/amálgama9). Palavras entrecruzadas são aquelas que resultam do cruzamento de duas
palavras, em que se utilizou o início de uma e a parte final de outra: informática < informação automática; bit < binary digit;
cibernauta < cibernético astronauta.
Hibridismo. Palavras híbridas são aquelas que têm elementos de idiomas diversos: agrónomo (lat. agro + grego
nomo), decímetro (lat. deci + grego metro), sociólogo (lat. socius + grego logo), monossílabo (grego mono + lat. sílaba), televisão
(grego tele + lat. visione)
Onomatopaísmo. As onomatopeias são palavras que resultam da reprodução de vozes ou ruídos, tanto de
animais como de abjectos: tic-tac, toc-toc, trimm!!, có-có-ró-có-có, miar, cacarejar, chilrear, coaxar…
Expressão idiomática
Expressão idiomática é uma combinação fixa de palavras que adquire um significado que não pode ser
compreendido pela divisão das palavras da expressão idiomática. Estas expressões são vulgarmente conhecidas como
«franses-feitas».
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
andar de boca em boca informação transmitida oralmente
perder a cabeça tomar uma atitude imponderada
sem pés nem cabeça sem sentido
dor de cotovelo inveja
ter língua de serpente maldizer
dar com a língua nos dentes pronunciar-se indiscretamente
com uma mão à frente e outra atrás sem recursos materiais
fazer o gosto ao dedo ter uma experiência agradável
ter as costas largas acarretar com culpas alheias
ferver em pouca água exaltar-se sem motivos suficientes
ficar em águas de bacalhau deixar um assunto pendente
deitar areia nos olhos enganar
consoantes); cal-do (a primeira sílaba é fechada pois termina em consoante e a segunda sílaba é aberta pois acaba em vogal) .
Classificação das sílabas quanto à acentuação
- Sílaba tónica: é a sílaba proferida com mais intensidade do que as outras. Esta possui o acento tónico.
- Sílaba subtónica, quando a sílaba mantém aberta a pronúncia, mas é menos intensa do que a tónica e,
geralmente, não tem acento gráfico, embora o possa ter tido no passado.
- Sílaba átona: todas as outras sílabas da palavra que não têm acentuação tónica. Ex.:
te lha do
SÍLABA ÁTONA SÍLABA TÓNICA SÍLABA ÁTONA
ad mi ra vel men te
S. ÁTONA S. ÁTONA SÍLABA SUBTÓNICA S. ÁTONA SÍLABA TÓNICA S. ÁTONA
De acordo com a posição em relação à sílaba tónica, a sílaba átona pode ser…
- Pretónica: antes da sílaba tónica. Ex.: telhado.
- Postónica: depois da sílaba tónica. Ex.: telhado.
Contagem silábica
As palavras podem classificar-se quanto ao número de sílabas.
Número de sílabas Exemplos:
Monossílabo 1 é, eu, há, dó, mão, cruz, teu, sim, quais
Dissílabo 2 fo-lha, te-la, pra-ta, a-í, me-sa, u-va, ma-nha, ru-a, qual-quer
Trissílabo 3 fun-da-ção, mé-di-co, a-ba-no, or-gu-lhar, ar-tis-ta, fu-ra-cão
Polissílabo mais de 3 gra-má-ti-ca, a-pren-di-za-gem, so-bre-tu-do, an-ti-ga-men-te, in-com-pre-en-sí-vel
Mnemónica para a classificação das palavras quanto à acentuação com a utilização do acrónimo EGA:
E representa a terceira sílaba a contar do fim (palavra Esdrúxula)
G representa a segunda sílaba a contar do fim (palavra Grave)
A representa a última sílaba (palavra Aguda)
Há palavras monossilábicas que não têm acento tónico (palavras átonas); pronunciam-se subordinando-se à
palavra a que se ligam e podem classificar-se em…
- Proclíticas: as que se pronunciam subordinando-se ao acento tónico da palavra seguinte. Ex.: O livro. Que lindo.
- Enclíticas: as que se pronunciam subordinando-se ao acento tónico da palavra anterior. Ex.: Comeu-a. Deu-ma.
- Mesoclíticas: as que dependem do acento tónico tanto da palavra que as precede como da que as sucede.
Ex.: Amá-lo-á.
Denotação. A denotação é o valor constante associado ao significado de uma palavra, remetendo para o aspecto
da realidade imediata que referencia.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
pé A palavra apresentada corresponde, na realidade, à parte inferior do corpo que se articula com a perna.
gato O sentido denotativo da palavra refere o animal mamífero doméstico.
Conotação. A conotação corresponde aos sentidos que uma palavra pode assumir em contextos ou situações
distintas entre si.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
1)-Preciso de usar pé de cabra para arrancar este Não deixando de ter o valor denotativo apresentado anteriormente, a palavra pé pode
prego. referenciar outras realidades, se tivermos em conta os seus significados conotativos:
2)-Aos 40 anos já aparecem os primeiros pés de 1)-Ferramenta de carpintaria.
galinha. 2)-Ruga no canto do olho.
3)-O navio naufragado foi encontrado a 30 mil pés 3)-Unidade de medição.
de profundidade.
1)-O João é um gato. O significado denotativo de gato assume novos valores quando alterado o contexto:
2)-Há um gato na montagem do sistema 1)-Homem bonito e atraente.
mecânico, por isso não funciona. 2)-Erro.
Monossemia. Quando uma palavra admite um único significado, diz-se monossémica. De notar, que esta
propriedade se verifica em palavras de carácter predominantemente técnico. Sendo uma das características da língua
ser económica, o mais usual é que a mesma palavra possua vários sentidos.
EXEMPLO EXPLICAÇÃO
ornitologia Independentemente do contexto ou da situação, esta palavra remete sempre para a área da zoologia que estuda as aves.
Polissemia10. Quando a mesma palavra pode adquirir vários significados, existindo entre eles traços de sentido
comuns, diz-se polissémica, ou seja, pode assumir vários significados.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
O meu leitor de CD’s está avariado. O nome leitor refere o electrodoméstico com a função de ler ou identificar a informação
digital de um Compact Disk.
O Pedro é o leitor mais assíduo desta O nome leitor refere a pessoa que se dedica à acção de ler, enquanto acto de identificar o
biblioteca. sentido da informação veiculada por palavras, frases ou textos.
Relações semânticas
Relações de hierarquia
Hiperonímia. Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas unidades lexicais, partindo do genérico
(hiperónimo) para o específico (hipónimo), sendo que o primeiro impõe sempre as suas propriedades ao segundo, criando
assim, entre eles, uma dependência semântica.
10Polissemia: multiplicidade de significados de uma palavra (p.ex.: bolo, referindo-se a 'doce' e a 'pancada de palmatória' etc.). Do fr. Polysémie. (In Aulete Digital,
Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa)
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
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Ex.: O termo meio de transporte impõe as suas propriedades semânticas aos seus hipónimos : autocarro, avião, comboio,
metro, barco etc.
Um hiperónimo pode substituir, em todos os contextos, qualquer um dos seus hipónimos; o contrário não é
possível.
Hiponímia. Relação hierárquica de inclusão semântica entre duas unidades lexicais, partindo do específico
(hipónimo) para o genérico (hiperónimo), sendo que o primeiro, para além de conservar as propriedades semânticas
impostas pelo segundo, possui os seus próprios traços diferenciadores.
Ex.: O significado de gato implica o significado de animal.
Relações de inclusão
Holonímia. Relação de hierarquia semântica entre duas unidades lexicais; uma denota um todo (holónimo)
sem impor obrigatoriamente as suas propriedades semânticas à outra, considerada sua parte (merónimo).
Ex.: Carro estabelece uma relação de holonímia com volante, sem porém lhe impor as suas propriedades.
Meronímia. Relação de hierarquia semântica entre duas unidades lexicais, uma denotando a parte
(merónimo) e criando uma relação de dependência ao implicar a referência a um todo (holónimo), relativo a essa parte.
Ex.: A unidade lexical dedo (merónimo) implica a unidade lexical mão (holónimo).
Relações de equivalência
Sinonímia. Relação de equivalência semântica entre duas ou mais unidades lexicais que reenviam para o
mesmo referente. Pode verificar-se diferentes relações entre sinónimos:
Sinónimos totais ou absolutos
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Ontem fui ao dentista. Os significados das palavras são idênticos, verificando-se sobretudo
Ontem fui ao estomatologista. com termos técnicos.
Sinónimos relativos
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Esta rosa é linda. As palavras têm o mesmo valor denotativo, mas podem adquirir
Esta rosa é bonita. diferentes valores conotativos.
Sinónimos parciais
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Vou iniciar a minha formação como estagiário. As palavras são consideradas sinónimas apenas em
Vou iniciar a minha formação como aprendiz. determinados contextos.
Relações de oposição
Antonímia. Relação de oposição entre o significado de duas unidades lexicais que apresentam, em comum,
alguns traços semânticos permitindo relacioná-las de forma pertinente. Os antónimos podem assumir tipologias distintas:
Antónimos conversos
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
esposa / marido A relação de oposição entre as palavras estabelece-se com base em
mãe / filho duas posições que podem assumir pontos de vista alternantes.
professor / aluno
Antónimos direccionais
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
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descer / subir Partindo de um determinado ponto de referência, podem assumir-se
ir / vir duas direcções opostas.
chegar / partir
Antónimos não-binários
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Janeiro / Fevereiro Relação entre palavras que integram conjuntos ciclicamente
terça-feira / quarta-feira organizados.
Outono / Inverno
Relações de homofonia. Propriedade semântica característica de duas unidades lexicais que possuem a
mesma forma fonética mas significados diferentes.
Ex.: passo / paço; sem / cem.
Relações de homografia. Propriedade semântica característica de duas unidades lexicais que possuem a
mesma forma gráfica (homógrafos), formas fonéticas idênticas, mas conservando significados diferentes.
Ex.: copia (verbo copiar) e cópia (nome masculino); domestica / doméstica; sé / se; este / Este…
Relações de paronímia. Propriedade semântica característica das unidades lexicais com sentidos diferentes,
mas com formas relativamente próximas.
Ex.: exprimir / espremer; emigração / imigração; previdência / providência; cumprimento / comprimento; conjectura /
conjuntura.
RELAÇÕES ENTRE AS PALAVRAS
DE HIERARQUIA hiperonímia hiponímia
SEMÂNTICAS DE INCLUSÃO holonímia meronímia
DE EQUIVALÊNCIA sinonímia (total / parcial)
DE OPOSIÇÃO antonímia (contraditória / contrária / conversa)
FONÉTICAS DE HOMONÍMIA
E DE HOMOFONIA
GRÁFICAS DE HOMOGRAFIA
DE PARONÍMIA
Campo semântico. Campo semântico é o conjunto de sentidos que pode ter uma mesma palavra. A mesma
palavra pode assumir vários valores em função do contexto (frases, sequências de frases, discursos ou textos) e da
situação.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
Nunca parti o pé. (“parte inferior do corpo que se articula com a perna) A palavra pé partilha traços de sentido em todas
Plantei um pé de café. (“exemplar individual de uma planta”) as expressões, no entanto refere elementos da
Acabei de gastar o meu pé de meia. (“poupança”) realidade distintos.
Infelizmente, não passo de um pé de chinelo. (“pessoa pobre”)
Siga a ordem de contagem. (“conjunto seriado”) O campo semântico de ordem é vasto, sendo o
Coloquei o dinheiro à ordem. (“depósito bancário”) sentido verificado pelo contexto ou situação em
Preciso de ordem em casa. (“sossego”) que a palavra é enunciada.
este mosteiro foi criado pela ordem de Cister. (“organização religiosa”)
Campo lexical. Campo lexical é o conjunto de palavras que remete para diferentes elementos de um
determinado domínio da realidade. Sendo o léxico da língua um sistema vasto, podem identificar-se campos lexicais em
que conjuntos de palavras estabelecem entre si relações semânticas e remetem para uma mesma realidade extra-
linguística.
EXEMPLOS EXPLICAÇÃO
leão, elefante, tigre, tubarão, falcão, jacaré etc. Este conjunto lexical remete para o campo de animal.
pai, mãe, filho, tio, sobrinho, avô, cunhado etc. As palavras organizam-se em torno do campo lexical de parentesco.
ensinar, aprender, professor, aluno, aprendizagem, O campo lexical de ensino organiza este conjunto de palavras em torno
estudo, etc. de uma mesma realidade.
Figuras de estilo
Figura(s) de estilo é um desvio em relação ao uso corrente da língua com o objectivo de embelezar e conferir
expressividade ao que se diz e ou se escreve. Aparece(m) com maior frequência nos textos literários.
Em nível fónico
+ Aliteração: repetição intencional de sons consonânticos dentro da mesma palavra ou em várias palavras
seguidas. Ex.:
"Olha a bolha d'água
no galho!
Olha o orvalho!" (Cecilia Meireles)
+ Assonância: repetição intencional dos mesmos sons vocálicos. Ex.:
"Tem um nome estranho a Isa:
Não é Isabel nem Isaura,
também não é Isadora
e não chega a ser Elisa
nem um resto de Luisa.
A Isa é Isa, é isso." (João Pedro Mésseder)
Em nível morfossintáctico
+ Anáfora: repetição, no início de frases ou de versos sucessivos, de uma palavra ou grupo de palavras. Ex.:
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não." (Sophia de Mello Breyner Andresen)
+ Assíndeto: consiste na omissão das conjunções entre as palavras ou frases sucessivas. Ex.:
"(...)
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
(...)" (António Gedeão)
+ Elipse: omissão de uma palavra ou palavras que se submetem facilmente. Ex.:
"- Sabei que não fui um homem qualquer!
- Calculo!
- E amo-vos! Tenho a ousadia de o confessar!
- Também eu!" (Gentil Marques)
+ Enumeração: é a apresentação sucessiva de vários elementos da mesma classe gramatical. (ver também
gradação)
Ex.: "No ar, na cal, no vidro, tocava a sua felicidade... "
"Um grito que atravessava as paredes, as portas, a sala, os ramos de cedro." (Sophia de Mello Bregner Andresen)
+ Hipérbato: consiste na inversão da ordem mais habitual das palavras na oração ou da ordem das orações no
período. Ex.: "Gato escaldado de água fria tem medo. (em vez de: "... tem medo de água fria.")
+ Interrogação retórica: não é uma verdadeira pergunta para a qual se espere resposta. O seu objectivo é dar
vivacidade ao discurso, criar expectativa. Ex.:
"Vais morrer com a saia rota,
sem flores nos cabelos...
- Mas isso que importa
se depois de morta
até as mãos da terra
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE II – GRAMÁTICA
hão-de floresce-los?" (José Gomes Ferreira)
+ Paralelismo: repetição da mesma estrutura frásica. Ex.:
"Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
(...)" (Sophia de Mello Bregner Andresen)
+ Polissíndeto: é o contrário do assíndeto, ou seja, é a repetição intencional de conjunções. Ex.:
"Elas cortam o pão e aquecem o café.
Elas picam cebolas e descascam batatas.
Elas mingam sêmeas e restos de comida azeda.
Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com
latas e buchas e fruta..." (Maria Velho da Costa)
+ Quiasmo: consiste na existência de quatro elementos dispostos dois a dois, segundo uma estrutura cruzada.
Ex.:
"Ó minha menina loura,
Ó minha loura menina,
Dize a quem te vê agora
Que já foste pequenina..." (Fernando Pessoa).
+ Repetição: repetição de palavras para intensificar ou reforçar uma ideia, ou exprimir a duração de alguma
coisa. Ex.:
Muita aflição, muita dor, muitas lágrimas, muitas preces; muitos votos e ladainhas, muitas bofetadas em si mesmo, muitas
demonstrações de contrição e muitos clamores a Nossa Senhora... " (António Sérgio).
+ Zeugma: consiste na omissão de algum termo contido numa proposição anterior. Ex.: "O noivo vai a cavalo e o
arrependimento a garupa." (> o arrependimento vai a garupa) (Provérbio)
Em nível semântico
+ Alegoria: série de metáforas, comparações, imagens, utilizadas para concretizar um pensamento ou uma
realidade abstracta. Ex.: "O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece
uma estrela; com aquele não ter osso nem espinhas, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta hipocrisia tão
santa (...), o dito polvo é o maior traidor do mar." (P. António Vieira, Sermões de Santo António)
+ Antítese: apresentação de um contraste ou oposição entre duas ideias ou duas coisas. Ex.:
"A morte sabe dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida com clemência." (Camões)
+ Apóstrofe: chamamento ou interpelação de pessoas ou de alguma coisa personificada. Ex.: "Tu, só tu, puro
Amor, com força crua." (Camões)
+ Comparação: consiste em estabelecer uma relação de semelhança por meio da conjunção como ou de outra
expressão equivalente (à semelhança de, tal, mais do que...), ou de verbos que sirvam para comparar (parecer,
assemelhar-se, lembrar...). Ex.: "[Os seus olhos] eram azuis como o céu e o mar em ribeiros, azuis como a nossa felicidade, os
nossos risos, o nosso amor." (Ilse Losa)
+ Eufemismo: consiste em expressar uma ideia ou uma realidade desagradável de uma forma atenuada, mais
suave. Ex.:
"Frade: Pera onde levais gente?
Diabo: Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo." (>inferno) (Gil Vicente)
+ Gradação: trata-se de uma enumeração em que se verifica uma progressão de sentido crescente ou
decrescente. Ex.:
"Ocorrem-me em revista exposições, países,
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!" (Cesário Verde)
+ Hipálage: é uma inversão de sentido em que se transfere para uma palavra uma característica que, na
realidade pertence a outra. Ex.: "[Beatriz] Abria os olhos molhados de culposas lágrimas." (Beatriz é que é culposa e não as
lágrimas) (Camilo Castelo Branco)
+ Hipérbole: emprego de termos exagerados, a fim de pôr em destaque determinada realidade. É uma das
figuras mais comuns na linguagem corrente. Ex.: "um calor de morrer; surdo como uma porta; suar em bica; ficar sem pinga de
sangue."
+ Ironia: consiste em exprimir uma ideia dizendo precisamente o contrário. Ex.:
"E irritando-se mais:
- Deixe, que a sua mãe também é um bom anjinho, não haja dúvida!"
+ Metáfora: consiste na substituição de um termo por outro, com o qual apresenta semelhanças. É uma espécie
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de comparação abreviada, porque não está presente a palavra ou expressão comparativa. Ex.:
"As tuas mãos são passarinhos brancos." (Ilse Losa)
"- Uma borboleta branca - retorquiu Sexta-Feira - é um malmequer que voa." (Michel Tournier)
+ Imagem: consiste no recurso a aspectos sensoriais para, a partir daí, provocar uma forte evocação afectiva e
os seus consequentes efeitos sugestivos e emocionais. Ex.: Os teus olhos são dois lagos encantados onde o céu se mira como
um espelho!" (Érico Veríssimo, Clarissa)
+ Metonímia: substituição de um termo por outro com que está em íntima ligação. Ex.: É frequentemente usada na
linguagem corrente:
"Comprei uns ténis." (>uns sapatos para jogar ténis)
"Vou beber um copo." (>o conteúdo de um copo)
+ Oximoro: ligação de dois termos que se esclarecem, mutuamente. Ex.: "Amor é fogo que arde sem se ver."
(Camões)
+ Perífrase: designa algo ou alguém de um modo mais descritivo, alongado e enfático e não pelos termos
habituais, ou seja, diz por muitas palavras o que poderia ser dito por poucas. Ex.: "Que depois de morta foi rainha." (>Inês de
Castro) (Camões)
+ Personificação: atribuição de propriedades humanas a animais, coisas ou ideias. Ex.: "O vento soluça e geme..."
(António Nobre)
+ Pleonasmo: consiste em reforçar uma ideia pela repetição de palavras com significado idêntico . Ex.: "(...) gritar
e ninguém responder é a tristeza mais triste que eu conheci." (Alves Redol)
+ Sinédoque: consiste em tomar a parte pelo todo ou vice-versa, o singular pelo plural ou vice-versa. Ex.: "Que,
da ocidental praia lusitana." (Portugal) (Camões)
+ Sinestesia: consiste na mistura de sensações que pertencem a sentidos diferentes . Ex.:
"E fere a vista com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada." (>sensações visuais e tácteis) (Cesário Verde)
- Informativa ou referencial: o emissor procura basicamente informar; as palavras são usadas no seu sentido
denotativo. A mensagem centra-se na informação que o emissor transmite ao receptor. Predomina em jornais, livros
didácticos e científicos.
“Aos 86 anos, Alberto Silva vai organizar uma prova de ciclismo para veteranos e tentar bater o recorde de velocidade. Tudo
por amor a Angola.
Pepino foi futebolista, corredor de longas distâncias e é ciclista desde o fim dos anos 70. Esteve em Portugal para dar a
conhecer – e cativar participantes – a competição que está a organizar, o Desafio Pepino. Numa primeira etapa, perfez 550
quilómetros entre Benguela e Luanda, com o objectivo de entregar uma carta ao Presidente José Eduardo dos Santos.”
(Texto de César Avó, in revista Tabu, 27 de Outubro de 2007 – com supressões)
- Emotiva ou Expressiva: revela a atitude do emissor perante a mensagem que produz, caracterizando-se pela
expressão de sentimentos e emoções. Segundo o psicólogo e linguista alemão Buhler, citado por Gomes (s/d, pág.62), o
discurso centrado no eu estaria impregnado de uma função expressiva.
“Não ‘guento mais!... Eu toda muito pobrezinha em minha casa e aquele Pedro de Andrade cheio de riqueza, sem filho nem
filha para lhe receber… Vou mesmo amigar com esse homem… (pára) Mas… se fico só com ele e depois adianto não partir?...
(Continua a andar) Ah, não importa, vou mesmo… Se não aprenhar, paciência, vou embora outra vez. Não ‘guento mais!...”
(José Mena Abrantes, Teatro - I volume, Ed. Cena Lusófona, 1999)
- Apelativa: o emissor pretende agir sobre o receptor, quer movê-lo a uma determinada acção, atitude,
comportamento. Segundo Buhler, supracitado (idem), o discurso centrado no tu estaria impregnado de uma função
apelativa.
“Cuidado com as minas!
Elas mutilam e matam!”
- Poética: o emissor aproveita a própria mensagem, nos sons, nas palavras, para sugerir, ampliar impressões…
está presente em textos de natureza muito diversa, mesmo nas produções verbais mais correntes.
“Sou mais um caule na floresta densa
Um tronco de preguiça vertical
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Inerte, muda e anónima presença
Perdida no silêncio vegetal.” (Miguel Torga)
- Fática: emissor e receptor procuram verificar se o canal de comunicação funciona e se mantém o contacto
entre os dois participantes do acto comunicativo.
“-Oi.
-Oi.
- Tudo bem?
- Tudo. Você?
- Bem, bem.
- Então, tudo bem.
- Escuta…
- Arrã.” (Luís Fernando Veríssimo, O Melhor das Comédias da Vida Privada, 1ª ed., Dom Quixote, 2005)
- Metalinguística: emissor e receptor usam o código com o mesmo conteúdo semântico e sempre que se estuda
a língua através da língua. O dicionário é um exemplo típico desta função.
“-Olá, Bento, eu sempre na excelência com minha cachopa.
-Mano Tamoda, cachopa é quê?
-Cachopa é donzela.
-Donzela é quê? – interrogou Kidi.
-Donzela é ninfa.
-Ninfa é quê.
-Ninfa é muchacha ou muchachala…” (Uanhenga Xito, in Mestre Tamoda)
Jakobson, citado por Gomes (idem), nas suas conferências (em 1960 e 1962), fez corresponder a cada um dos
seis elementos da comunicação uma determinada função ou papel. Assim…
... ao destinador (emissor ou locutor), fez Jakobson corresponder uma função emotiva (ou expressiva);
… à mensagem corresponderia uma função poética (ou estética);
… ao destinatário, uma função conativa (ou apelativa);
… ao contexto, uma função referencial (denotativa ou informativa);
… ao código, uma função metalinguística;
… ao canal, uma função fática.
São três os processos de que dispõe o narrador para relatar as palavras e o pensamento dos personagens.
- Discurso directo11. No discurso directo, o narrador reproduz as palavras dos personagens tal como eles as
pronunciaram. Geralmente um enunciado em discurso directo é marcado pela presença de verbos como dizer,
perguntar, responder, reclamar, comentar, propor..., que podem estar colocados antes, no meio ou depois das
palavras do personagem.
Ex.1: A criança perguntou:
- Já posso sair da mesa?
Ex.2: - Vim cedo para casa - explicou ele -, porque o professor faltou.
- Discurso indirecto livre 13. Os enunciados do narrador e do personagem, no discurso indirecto livre,
aproximam-se. Esta forma de discurso resulta da ligação do discurso directo e do discurso indirecto. O discurso
indirecto livre mantém as características da transposição do discurso directo para o indirecto, mas sem recorrer ao verbo
declarativo e à conjunção introdutória da oração subordinada. Do discurso directo, o indirecto livre conserva as
interrogações, as exclamações, a pontuação.
Ex.1: Carlos tranquilizou Miss Sara. Oh, ela via bem que mandemoiselle estava boa... Oh, se fosse uma criança inglesa,
saia com ela para o ar... Mas estas meninas estrangeiras, tão débeis, tão delicadas. E o labiozinho gordo da inglesa traia um desdém
compassivo por estas raças inferiores e deterioradas.
- Mas a mamã não é doente?
Oh! Não! Madame era muito forte. O senhor esse sim, parecia mais fraco.
Ex.2: A pergunta do mestre não lhe saía da cabeça. Se observou bem a Lua! Que sim, que a tinha observado bem. Que
mais queria ele saber?
Formas de tratamento
12Idem: Discurso indirecto, texto no qual o narrador, escritor etc. reproduz as palavras de alguém citando-as em orações subordinadas com os conectivos que e se,
ou em orações reduzidas de infinitivo, seguindo-se a um verbo dicendi, ou descrevendo-as em suas próprias palavras. Exs.: Então ele disse que era melhor deixar o
menino entrar; Indignado, o marquês asseverou que ela estava muito enganada; O rapaz perguntou se ele queria entrar; Depois de examinar longamente o documento,
Pedro garantiu tratar-se de uma fraude.
13Idem: Discurso indirecto livre ou discurso indirecto aparente, forma de narrativa que concilia os discursos directo e indirecto, com ausência de verbos dicendi e
dos conectivos subordinantes que e se, e no qual também se inserem falas directas de personagens.
As formas de tratamento são modos diversos de se dirigir a pessoas de respeito com respeito.
Os pronomes de tratamento abrangem dois tipos: o familiar e o protocolar.
Os pronomes do tipo familiar são: o Senhor, a Senhora, Você, usados também em alguns meios sociais, que
se abreviam da seguinte maneira: o Sr., a Srª., V.
Os pronomes do tipo protocolar são os que se empregam na correspondência oficial.
Propriedades de um texto
A palavra texto provém do Latim textu-, que significa “tecido, entrelaçamento”. Tendo em conta esta origem
etimológica, nunca se deve esquecer que o texto resulta desta acção de tecer, de entrelaçar unidades que formam um
todo inter-relacionado.
Pode definir-se texto como um conjunto de frases relacionadas entre si que formam um todo com sentido.
À pergunta: O que é que faz com que um texto possa ser considerado um texto? respondem alguns autores do
seguinte modo: um texto, para ser texto, deve ter, pelo menos, as seguintes propriedades:
1. adequação no uso dos vários registos de linguagem mobilizados;
2. coerência: organização estruturada da informação que o texto contém;
3. coesão: eficiente uso de mecanismos linguísticos que ligam as várias ideias;
4. progressão temática: que cada elemento novo desenvolva os (e se integre nos) elementos conhecidos
(dado/novo, pressuposições, implicações);
etc.
Ao considerar as propriedades que fazem com que um texto seja texto, convém não esquecer o seguinte:
- esta “identificação” das várias propriedades de um texto justifica-se por razões metodológicas; na prática,
porém, nem sempre é fácil delimitar as fronteiras entre elas; porque,
- por vezes, um mesmo fenómeno envolve uma ou mais propriedades;
- autores há que se limitam aos aspectos específicos da textualidade, não considerando dimensões não
propriamente linguísticas.
Adequação
Fala-se de adequação de um texto, quando quem fala ou escreve produz um enunciado (um texto) que está em
sintonia com a sua cultura, com a cultura daquele a quem se dirige, com as exigências do contexto (espácio-temporal)
em que se encontra etc.
Se alguém (estudante de uma das turmas da escola do ensino secundário, por exemplo) se dirigir a uma colega
nestes termos “Sabei, Senhora Minha, que o Vosso Pai…”, certamente o fará, apenas, num contexto de humor ou no
ensaio de alguma peça dramática. Não deixaria de provocar um sorriso quem, numa situação corrente, assim se
expressasse no século XXI.
Do mesmo modo, numa conferência formal, ou num programa formal de televisão, não é de esperar que um
ministro ou o presidente de uma qualquer instituição refira, a dado momento: “O gajo foi bué porreiro co’a malta.” Chocaria
muita gente. Mas já se ouviu coisa pior…
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Há registos de linguagem mais cuidados, reservados a situações exigentes. Há outros, que correspondem a
situações correntes; e há registos que só costumam ser usados em contextos restritos (familiar, técnico-prossionais,
desportivos etc.). Há, ainda, o calão, que implica componentes éticas e estéticas e que, genericamente, se evita…
Assim, por exemplo, verbos socialmente “neutros”, como “respondeu” ou “disse”, nas expressões “Ela
respondeu…”, “Ela disse…” podem ser considerados de uso corrente; mas, se for substituído por outros (em parte)
sinónimos, verifica-se que acrescentou-se informação (conotativa, sociolinguística, estilística, psicológica…) que lhe fica
associada:
“Ela retorquiu…”, “Ela contrapôs…”, “Ela replicou…”, “Ela objectou…” …
“Ela respondeu…”, “Ela disse…”, “Ela afirmou…”
“Ela espumou…”, “Ela rosnou…”, “Ela berrou…”, “Ela cacarejou…” …
A adequação implica, pois, uma apropriada operacionalização e mobilização dos registos de língua, do uso da
sinonímia, do uso de hiperónimos e hipónimos, da operacionalização dos mecanismos de coerência e coesão etc.
Importa, pois, das várias possibilidades que a língua disponibiliza, saber escolher aquelas que se afiguram mais
de acordo com a maneira de ser dos falantes, com o seu estatuto, a situação em que se encontram etc. A isso chama-se
adequação.
Coerência
Diz-se que um texto é coerente quando aquilo que ele transmite está de acordo com o conhecimento que cada
falante tem do mundo e quando nele são respeitados três princípios gerais: o princípio da não contradição, que assegura
que, num texto, as situações representadas não sejam logicamente incompatíveis; o princípio da não tautologia, que
garante a ausência de repetições de informação desnecessárias; o princípio da relevância, que obriga a que as situações
representadas estejam relacionadas entre si.
Assim, o enunciado “Tenho dormido pouco. No fim-de-semana vou aproveitar para me deitar tarde.” Não é
coerente pois nele se desrespeita o princípio da não contradição. Já no exemplo, “Tens que estudar duas horas por dia
pois não podes deixar de te dedicar ao estudo cento e vinte minutos por dia.”, a segunda parte do enunciado é redundante
em relação à primeira, havendo, portanto, desrespeito do princípio da não tautologia. Por fim, no exemplo que se segue,
é evidente a violação do princípio da relevância uma vez que a resposta não tem qualquer relação de sentido lógico-
conceptual com a pergunta: “- Gostas de ler? – A minha mãe comprou-me um vestido nos saldos.”
Coesão
Os fragmentos de um texto estão ligados entre si, isto é, estabelecem entre eles determinadas relações através
de uma série de mecanismos, fundamentalmente linguísticos, a que se dá o nome de coesão.
“Entende-se por coesão um conjunto de processos que, recorrendo a determinados grupos de vocábulos, ou classes de
palavras, permite fazer um texto a partir de um “puzzle” de frases soltas (ou mesmo uma frase a partir de palavras soltas). Imaginemos
um conjunto de 50 cartões, cada um com uma frase simples. Essas frases só constituirão um texto quando, para além de estarem
dispostas segundo uma dada ordem entre si, estiverem articuladas de forma a que umas possam remeter para outras, construindo
uma mensagem uniforme [ou plural, se o objectivo for esse]. (…)”
Edite Prada, in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 10 de Fevereiro de 2006
A coesão textual manifesta-se nas várias articulações gramaticais do texto. Um texto, portanto, sobretudo
extenso, não é um somatório de frases desgarradas. Entre elas, há “articuladores”, “ligados”, “grampos”, “clipes” lexicais
que estabelecem ligações semânticas entre elas, de modo a obter-se um conjunto significativo.
Assim como uma peça de vestuário não existiria, se apenas se tivesse fragmentos de tecido, assim um texto
não pode existir, se não houver elementos que liguem os vários constituintes do mesmo.
No mundo têxtil, tem-se, pois, as linhas, os pontos, as molas, os botões, os fechos etc. que se encarregam de
fazer essas ligações, essas conexões. E no mundo do texto? De que elementos se dispõe?
- anáfora: repetição de uma informação variando os mecanismos (O filme foi interessante. Nós vimo-lo duas
vezes, porque O nos agradou mesmo.) Imagine-se o texto: “O filme foi interessante. Nós vimos o filme duas vezes, porque
o filme nos agradou memo.”
- deíxis (demonstração): referências ao contexto…
- tempos e modos: pode identificar-se relações de tempo (passado, presente, futuro) ou de modo (certeza,
dúvida, desejo…), assim ligando acções, factos, ideias…
- conectores (enlaces): conjunções, preposições etc.
- relações semânticas: o uso de hiperónimos/hipónimos, sinonímia etc. auxiliam nas ligações textuais…
Em síntese, essencialmente do plano gramatical (embora, também, com repercussões semânticas), a coesão
inclui todos os mecanismos (linguísticos, paralinguísticos) susceptíveis de assegurar a ligação entre as frases de um
texto. Trata-se, em síntese, de mecanismos…
- de entoação e de pontuação;
- de referência (extratextual (deíxis) e intratextual (anáfora, catáfora));
- de substituição (sinonímia, hiponímia/hiperonímia; pronominalização…);
- de apagamento ou elipse;
- de ligação (“conectores discursivos” ou “marcadores textuais” – causais, temporais, condicionais, consecutivos,
finais…)
-…
Para… Usa-se…
... articular ideias de contraste, oposição, mas, porém, todavia, contudo, no entanto, apesar de, ainda que, embora, mesmo que, por mais
restrição que, se bem que…
… adicionar e agrupar elementos e ideias e, além disso, e ainda, não só… mas também / como ainda, bem como, assim como, por um
lado… por outro lado, nem… nem (negativa)
... introduzir uma conclusão a partir da ideia pois, portanto, por conseguinte, assim, logo, enfim, concluindo, em conclusão
principal
... resumir, reafirmar por outras palavras, ou seja, em resumo, em suma, ou melhor…
... exemplificar por exemplo, isto é, ou seja, é o caso de, nomeadamente, em particular, a saber, entre outros…
... comparar como, conforme, também, tanto... quanto, tal como, assim como, pela mesma razão...
… indicar uma consequência por tudo isto, de modo que, de tal forma que, daí que, tanto…. que, é por isso que…
… dar uma opinião na minha opinião, a meu ver, em meu entender, parece-me que…
… exprimir dúvida talvez, provavelmente, é provável que, possivelmente, porventura…
… insistir nas ideias já expostas com efeito, efectivamente, na verdade, de facto…
… esclarecer, explicar uma ideia quer isto dizer, isto (não) significa que, por outras palavras, isto é…
… organizar as ideias por ordem sequencial em primeiro lugar, num primeiro momento, antes de, em segundo lugar, em seguida,
(tempo ou espaço) seguidamente, depois de, após, até que, simultaneamente, enquanto, quando, por fim, finalmente,
ao lado, à direita, à esquerda, em cima, no meio, naquele lugar…
… introduzir raciocínios que apresentam a com o intuito de, para (que), a fim de, com o objectivo de, de forma a…
intenção, o objectivo com que se produz o
que é descrito anteriormente
… anunciar uma ideia de causa pois, pois que, visto que, já que, porque, dado que, uma vez que, por causa de…
… indicar uma hipótese ou condição se, caso, a menos que, salvo se, excepto se, a não ser que, desde que, supondo que…
… exprimir um facto dado como certo com certeza, naturalmente, é evidente que, certamente, sem dúvida que…
… evidenciar ideias alternativas fosse… fosse, ou (…ou), ora… ora, quer… quer…
Formas nominais
Para além das formas verbais flexionadas (em pessoa, número, tempo e modo), os verbos podem ainda assumir
formas nominais:
Infinitivo Pessoal – relaciona-se com um sujeito que pode estar ou não expresso. Usa-se na 3ª pessoa para indicar a indeterminação do sujeito.
Impessoal – não tendo sujeito próprio, usa-se para fazer sobressair uma acção que é encarada de um modo geral, abstracto, ou usa-se para
designar estados de coisas (morrer, desmaiar, estar, ser etc.). Por vezes pode ter o valor de um imperativo.
Particípio Usado isoladamente – sem auxiliar – representa uma acção acabada no presente, no passado ou no futuro. Muitas vezes equivale a um
adjectivo.
Gerúndio Utiliza-se para representar uma acção simultânea de outra. É muito utilizado em complexos verbais que sugerem duração da acção, uma
acção que se realiza por etapas.
a.- Repetição
Ex.: As crias ficam indefesas quando nascem e precisam de muitos cuidados. Os animais que podem esconder as crias
num lugar seguro, como um ninho, têm normalmente vários filhotes. Os animais que não o podem fazer têm apenas um ou dois
filhotes, para os poderem vigiar com atenção.
b.- Substituição
. por sinonímia
Ex.: Os ratos têm grandes ninhadas – oito crias é bastante frequente. Os filhotes nascem num ninho que os mantém quentes.
. por antonímia
Ex.: A Rita não disse a verdade. A história que contou não passa de uma enorme mentira.
. por hiperonímia/ hiponímia
Ex.: A Lili gosta de peixe, muito particularmente de sardinhas. (hiperónimo/ hipónimo);
Os filhotes da girafa são um alvo fácil para leões, leopardos e panteras, mas as mães usam as suas poderosas pernas para
os defender desses felinos. (hipónimos/ hiperónimo).
. por holonímia/ meronímia
Ex.: Depois das obras a minha casa ficou muito mais bonita. A sala, então, está fantástica! (holónimo/ merónimo).
Progressão temática
Quando duas pessoas se encontram, ou se correspondem, perguntam com frequência: “Novidades?” Já os
latinos procediam de modo idêntico: “Quid novi?” (Que há de novo?). É nesta busca de “novas” que radica uma das mais
antigas manifestações de comunicação humana: a narrativa. Quem não contasse… morria (lembre-se As Mil e Uma
Noites). Ora, os textos narrativos caracterizam-se, justamente, por manterem, constante e progressiva, essa sede de
“novidade”.
De modo semelhante, também num qualquer texto informativo, expositivo, argumentativo… deve haver
“avanços” na informação prestada (“progressão temática”). Se assim não for, o texto torna-se repetitivo, enfadonho,
desinteressante, soporífero, sebáceo (isto é, com “bamba” a mais para tão pouco “músculo”). Ao conhecimento dado
como adquirido, pressuposto (como sendo partilhado pelos interlocutores) tem de acrescentar-se algo de novo. Ora, esta
oposição dado/novo (ou conhecido/desconhecido) constitui uma importante componente da enunciação, em geral, e do
enunciado (oral ou escrito), em particular. Veja-se o seguinte exemplo:
O Joaquim comprou uma bicicleta.
O que é que neste enunciado pode representar novidade? Não se sabe; essa resposta pode ser dada se se
conhecer a situação dos interlocutores. Com efeito, nesta frase, tanto pode constituir novidade
- o próprio Joaquim (imagine-se que quem tinha ficado de comprar a bicicleta foi o Júlio);
- o acto de comprar (imagine-se que o Joaquim vive na miséria ou é muito avarento);
- o facto de ser uma (imagine-se que ele tinha prometido comprar oito);
- o facto de ser uma bicicleta (imagine-se que ele tinha prometido comprar uma mota de alta cilindrada); etc.
À medida que a novidade se vai incorporando no “conhecido”, vai-se buscando uma informação nova que, por
sua vez, passará a fazer parte do universo conhecido (ou “tema”). Quando um elemento da frase assume o lugar de tema,
por exemplo, encabeçando a ordem da frase, fala-se em “tematização” (ou “topicalização”).
Considere-se, a mero título de exemplo, o seguinte fragmento de Cecília Meireles (id. págs. 42-43). Note-se
como, do ponto de vista do ambiente, a escritora define três planos, linguisticamente concretizados por deícticos
(demonstrativos, advérbios de lugar etc.):
1º plano: aqui, este, perto de mim…
2º plano: aí, depois, esse, a seguir…
3º plano: ali, além, lá, lá longe, aquele…
“Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos jasmins e grandes
campânulas roxas, por onde flutua uma borboleta de marfim, com um pouco de ouro nas pontas das asas” (1º plano).
“Mas, logo depois, entre o primeiro plano e a casa fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros azuis tão rápidos e
certeiros que seria impossível deixar de fixá-los (…)” (2º plano).
“…Por detrás, estão as velhas casas, pequenas e tortas, pintadas de cores vivas, como desenhos infantis, com seus varais
carregados de toalhas de mesa, saias floridas, panos vermelhos e amarelos, combinados harmoniosamente pela lavadeira que ali os
colocou” (3º plano).
Veja-se, como exemplo, o seguinte fragmento de Lanza del Vasto (id. pág. 48):
“Não falemos das alterações que o progresso das máquinas faz constantemente sofrer às instituições humanas. Falemos,
somente, das vantagens pelas quais os loucos se deixam atrair: poupam tempo, poupam esforços penosos, produzem a abundância,
multiplicam o intercâmbio e levam a um contacto mais íntimo entre os povos, acabarão por assegurar a todos os homens a felicidade
perpétua.”
Veja-se também:
a. Honrar pai e mãe.
b. Honrarás pai e mãe.
c. Honra pai e mãe.
Diálogo ( ou conversacional)
Aquele que corporiza (em discurso directo), e alternadamente, o intercâmbio das falas de duas ou mais
personagens.
Este protótipo textual, no entanto, exige a existência de, pelo menos, dois interlocutores que tomam a palavra
alternadamente e tem marcas específicas, tais como:
. o uso do travessão (ou equivalente);
. o sujeito das frases com verbo declarativo costuma aparecer depois do verbo;
. o uso do discurso directo, com as respectivas marcas linguísticas etc.
O protótipo textual narrativo inclui a entrevista, a mesa-redonda, a conversa telefónica…
Veja-se, a título de exemplo, estes dois fragmentos numa ressonância a Saint-Exupéry ((id. págs. 46-47):
A – O principezinho perguntou ao homem o que é que ele fazia. Ele esclareceu-o que era um acendedor de estrelas, tendo
deixado o principezinho muito intrigado. Pôs-se, então, a falar sozinho e a contar estrelas em voz alta…
B - - O que é que fazes? – perguntou o principezinho.
- Sou um acendedor de estrelas! – respondeu ele.
Intrigado, o principezinho inquiriu:
- E o que é um acendedor de estrelas? …
O resumo
Resumir é reduzir um texto às suas partes mais importantes, usando palavras claras e precisas.
Partindo do texto a resumir, deve proceder-se da seguinte forma:
A síntese
Embora se aproxime muito do resumo e, portanto, as regras para a sua preparação e redacção sejam
semelhantes, a síntese – a que se chama, por vezes, resumo crítico – tem as suas especificidades:
. é menos impessoal do que o resumo, pois é redigida na 3ª pessoa, com indicação de nome dos autores, e é
mais dirigida ao leitor apresentando um carácter apreciativo, pois permite que se destaquem as intenções do autor;
. embora mantenha a neutralidade e a fidelidade na reconstituição das ideias do texto original, confere maior
liberdade na ordem e na organização das ideias;
. usa-se, com frequência, para comparar vários textos entre si, dando-se, nesse caso, maior relevo à
confrontação dos textos do que à reconstituição exaustiva das ideias dos textos-base.
A tomada de notas
Não são só os textos escritos que são objecto de resumo ou de síntese. Muitas vezes ter-se-á a necessidade de
resumir ou sintetizar o conteúdo de uma conferência ou de um colóquio a que se tenha assistido, de um programa de
rádio ou de televisão ou até de algumas aulas.
Para tal, saber tirar apontamentos é uma garantia de que se adquire apenas a informação que é realmente
importante. Pretender tomar nota de tudo o que se ouve numa destas situações não permite prestar atenção aos
conteúdos, e é provável que se percam conceitos importantes.
A apresentação:
. escrever com letra clara;
. deixar margens para fazer anotações;
. destacar os títulos escrevendo-os em maiúsculas ou sublinhando-os.
Os conteúdos:
Não reproduzir na íntegra. Para tomar apontamentos:
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. ouvir atentamente;
. compreender;
. anotar as ideias-chave de uma forma sintética e esquemática.
Debate
O debate é uma discussão entre várias pessoas que, tendo opiniões diferentes sobre um tema, procuram
convencer o público que as ouve. Cada participante procura defender as suas ideias a refutar as dos outros.
Funções do moderador:
. Abrir a sessão, introduzindo o tema e apresentando os participantes.
. Dar a palavra aos participantes, garantindo uma distribuição equilibrada do tempo.
. Animar o debate, com novas perguntas e sínteses parciais sempre que for oportuno.
. Dar a palavra ao público para que interrogue os participantes.
. Encerrar o debate, fazendo um balanço final.
Relatório
O Relatório é um texto escrito para descrição de factos passados com o objectivo de conduzir a uma decisão e,
daí, a uma acção; texto escrito para apresentação de acontecimentos, de informações, de visitas de estudo, de
experiências etc.
. Parte central, que constitui o desenvolvimento do assunto, devendo conter uma parte descritiva da situação
e dos factos e outra argumentativa, com a inclusão dos aspectos positivos e negativos;
. Conclusão onde são apresentadas as ilações mais importantes e as propostas de actuação.
. Importa não esquecer que…
. num relatório é importante não só a recolha e organização da informação, como também a sua apresentação;
. um relatório obedece a um guião previamente elaborado;
. o relatório deve ser claro, objectivo e tão sucinto quanto possível.
Elaboração de guiões
Guião para o relatório de uma excursão
a) Porquê, quem e como organizou a excursão;
b) O que é que se esperava da excursão;
c) Crónica da excursão;
d) O que é que impressionou particularmente;
e) Em que é que a excursão resultou diferente das expectativas;
f) Significado e balanço da excursão.
Maria Teresa Serafini,
Como se faz um trabalho escolar
Visita de estudo
A proposta de organização de uma visita de estudo tem como objectivo desenvolver as competências
seguintes:
. planificar devidamente uma actividade, isto é, prepará-la, executá-la e avaliá-la;
. conhecer melhor a realidade social em que a (nossa) escola se insere;
. estabelecer e/ ou desenvolver relações interpessoais positivas;
. promover a interdisciplinaridade, através do contributo dos saberes de outras áreas disciplinares.
Entrevista
A Entrevista é um diálogo que visa conhecer as ideias de uma pessoa com o objectivo de divulgá-las. O
entrevistador funciona como representante da curiosidade popular junto da pessoa em foco.
A Entrevista é uma importante base do trabalho jornalístico, uma vez que, muitas vezes, o repórter é testemunha
directa dos factos. Ele pode reconstituir os acontecimentos através da própria observação ou da indagação e depoimento
quando não tenha estado presente.
A Entrevista é uma técnica de comunicação que pode apresentar diversas modalidades em função dos domínios
e dos objectivos visados – da entrevista radiofónica e televisiva, à entrevista utilizada no domínio socioprofissional, entre
outras.
Porém, qualquer um destes tipos de entrevista, nomeadamente a entrevista desenvolvida em contexto escolar,
tem em vista recolher dados de informação e opinião sobre temas específicos.
2º Antes da entrevista
a)- Escolha do tema
É necessário precisar muito bem o tema sobre o qual se deseja obter informações. Por exemplo: perante o tema
“A droga”, eis alguns aspectos sobre os quais se deverá indagar:
. Que drogas existem;
. O que provocam;
. Por que razões criam dependência;
. Como se cura um toxicodependente etc.
b)- Escolha da pessoa (ou pessoas) a entrevistar
Deve ser conhecedora do tema. Por exemplo, no caso do tema “A droga”, poderão entrevistar-se:
. psicólogos;
. responsável por um centro de atendimento a toxicodependentes.
Às vezes, a pessoa a entrevistar não se escolhe pelo tema, mas por ter sido protagonista de algo que interessa
conhecer.
c)- Procura de informação (documentação) sobre o tema ou a pessoa, em livros, dicionários, enciclopédias
etc., o que permitirá:
. não perder tempo com perguntas cujas respostas se podem obter por iniciativa própria;
. fazer perguntas inteligentes cujas respostas não tenham sido encontradas em nenhum livro.
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d)- O questionário
Deverão anotar-se as perguntas, procurando que elas sejam abertas, isto é, que evitem a respostas SIM ou
NÃO. Por exemplo:
. A pergunta “Este centro funciona bem?” não é boa, porque, provavelmente, a resposta será: SIM.
. A pergunta “Pode explicar como funciona este centro?” está bem formulada.
e)- Formação da equipa (3 a 5 membros)
A entrevista pode ser preparada e realizada por uma só pessoa. No entanto, se se trabalhar em equipa, será,
com certeza, mais elaborada, abarcará mais aspectos e far-se-á com maior espírito crítico.
3º Durante a entrevista
a)- Situar o entrevistado, mediante uma breve introdução:
. Quem é: nome, idade, sexo, onde vive…
. A sua actividade: ofício, ocupação …
. Dados curiosos ou de interesse, anedotas significativas…
b)- As perguntas
Devem ser:
. claras e precisas;
. directas;
. abertas;
. relacionadas: evitar “saltitar” de um assunto para outro;
. respeitadoras: nunca perguntas muito pessoais (íntimas);
. ordenadas: devem apresentar-se pela ordem em que foram preparadas. Admitem-se novas perguntas quando
a resposta exige alguma clarificação ou aprofundamento.
c)- As respostas
Deverão ser registadas exactamente como o entrevistado respondeu. Se for possível, deverá recorrer-se à
gravação (áudio ou vídeo); se não, deverão ser tomadas notas.
4º Depois da entrevista
A redacção
Depois da entrevista transcrita, poderão ser feitas algumas modificações, respeitando sempre as respostas:
modificar para aclarar ou tornar mais compreensível; suprimir repetições desnecessárias…
Costuma redigir-se uma introdução e um parágrafo final (despedida, síntese, agradecimento…)
É conveniente mostrar ao entrevistado a redacção definitiva para que ele autorize a publicação e para que, se
for necessário, corrija alguma resposta que, no seu entender, não reflicta bem o que ele pretendia dizer. Assim, serão
evitadas possíveis reclamações.
5º Técnicas de entrevista
. Solicita-se a entrevista com antecedência. Faz-se o pedido por carta ou telefone. A pessoa a ser entrevistada
é que marca o lugar, a hora e a duração da entrevista.
. Informar-se bem sobre o assunto da entrevista e preparar as perguntas também com antecedência.
. A entrevista, embora planeada previamente, deve ser flexível para permitir improvisação e, portanto,
espontaneidade no decorrer do diálogo.
. Conduzir a entrevista como uma conversa, fazendo anotações só se for o caso e quando se certificar de que
se entendeu os factos correctamente.
Configuração gráfica
A configuração gráfica constitui um meio de estruturar e dar forma ao texto, ou seja, corresponde à organização
dos diversos elementos gráficos que integram as páginas que compõem um trabalho académico, um livro ou outras
publicações.
Através desta configuração estabelece-se/ define-se os tipos e corpos de letra, o alinhamento às margens, o
espaço entre letras e o espaço entre linhas (entrelinhamento), a distribuição do texto em termos de títulos, subtítulos,
parágrafos, legendas; bem como o destaque que merecem, e muitas outras características verbais ou icónicas.
A disposição gráfica dos elementos que constituem as páginas contribui para a sua caracterização qualitativa,
pelo que a preocupação com os itens que abarca tem sido crescentemente notada.
Uma configuração gráfica eficaz é aquela em que os vários elementos foram adequadamente seleccionados/
definidos e posicionados, ou seja, não só não interferem na qualidade da leitura, como lhe conferem fluidez.
Note-se que a configuração gráfica pode ser da responsabilidade do autor, quando se aplica a teses, ensaios ou
quaisquer outros trabalhos académicos. Ao obstante, esta é uma competência essencialmente atribuída ao designer
gráfico (ou designer editorial) na concretização dos projectos gráficos que resultam na paginação de uma obra destinada
à edição/ publicação.
Tipos de letra
A escolha do tipo de letra é, normalmente, uma das primeiras etapas da configuração gráfica. O responsável
pela configuração pode optar entre dois tipos de letra: a letra de imprensa e a letra manuscrita.
A letra de imprensa corresponde a um estilo de carácter tipográfico, seja pelo processo de composição
tipográfica ou de fotocomposição, seja pela reprodução manuscrita.
Aa Bb Cc
As famílias tipográficas mais comummente utilizadas em trabalhos académicos ou em obras impressas são a
«Times New Roman» (criada em 1932), a «Helvetica» (desenvolvida em 1957) e a «Arial» (concebida em 1982). Estas
são fontes preferenciais pela sua excelente legibilidade.
Aa Bb Cc
Independentemente do tipo de letra, o autor tem ao seu dispor duas variações possíveis: a letra maiúscula e a
letra minúscula.
Letra maiúscula
A letra maiúscula corresponde à configuração gráfica que cada letra do alfabeto pode assumir, por oposição à
letra minúscula.
ABC
Letra minúscula
A letra minúscula corresponde à configuração gráfica que cada letra do alfabeto pode assumir, por oposição à
letra maiúscula.
abc
Abreviatura
No decurso da construção do seu texto, o autor pode fazer uso de abreviaturas, por forma a assegurar uma
maior fluidez do discurso.
A abreviatura constitui uma forma convencionada de representação gráfica de uma palavra através da escrita
de apenas um subconjunto das suas letras, ou seja, trata-se de uma forma encurtada ou reduzida de uma palavra,
constituída por uma ou mais letras dessa palavra, seguidas de um ponto, e que se pronuncia como se estivesse por
extenso. A finalidade da representação escrita de uma palavra com menos letras do que as da sua grafia normal é a
economia de tempo e espaço, bem como um incremento da fluidez do discurso escrito.
Alínea
Por forma a melhor estruturar o seu texto, sobretudo quando entende necessária a enumeração de diversos
itens ou assuntos, o autor pode socorrer-se de uma série de alíneas, ou seja, pode apresentar as suas ideias através de
uma listagem onde regista a subdivisão de unidades textuais.
Parágrafo
As divisões principais que estruturam o discurso escrito são os parágrafos. Trata-se de uma forma de
organização do texto, caracterizada pela unidade das ideias nele incluídas, tendo em conta o seu sentido completo e a
sua independência sintáctica.
Cada parágrafo corresponde a uma unidade autossuficiente de um discurso escrito, ou seja, inicia e encerra a
abordagem de um determinado ponto de vista ou ideia. Porém, em regra, cada novo parágrafo vem na enfiada do anterior
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e prepara o subsequente parágrafo. No caso de o texto corresponder a um diálogo, cada parágrafo pode equivaler à
mudança do protagonista do discurso.
O início de um parágrafo é efectivado numa nova linha do texto. Esta linha pode, ou não, estar re-entrada em
relação à margem esquerda. O parágrafo é delimitado por ponto final (.), ponto de interrogação (?), ponto de exclamação
(!) ou reticências (…).
Em termos de formatação o parágrafo é identificado pelo símbolo: ¶.
Em termos de revisão de provas o sinal tipográfico correspondente à divisão de parágrafo é: §.
Período
Cada parágrafo pode ser constituído por períodos. Cada período é caracterizado por conter uma ou mais frases
simples (em que existe um único verbo principal ou copulativo) ou complexas (que contêm mais do que uma oração, logo,
mais do que um verbo principal ou copulativo) e por ser delimitado por ponto final (.), ponto de interrogação (?), ponto de
exclamação (!) ou reticências (…).
Espaço
Elemento crucial para a inteligibilidade de um texto é o espaço ( ). Este, aparentemente «vazio» elemento da
configuração gráfica desempenha um papel fundamental pois, codificado por unidades de medida, serve para separar
letras, palavras, linhas, parágrafos, estruturando a informação de forma distinta e favorecendo a sua imediata percepção.
Margem
A margem corresponde ao espaço em branco em volta do «corpo de texto», ou mancha escrita de uma página.
Podendo ser superior, inferior e lateral, direita ou esquerda.
A formatação requerida para as margens do texto é variável de acordo com as finalidades do autor, as normas
instituídas, a linha gráfica do editor, ou da entidade receptora do trabalho etc. No entanto, é usual deixar 2,5 centímetros
nas margens superior, inferior e direita, e 3 centímetros na margem esquerda.
Formas de destaque
O autor tem ao seu dispor um conjunto de recursos de configuração textual que lhe permitem pôr em evidência
um palavra, uma expressão, uma frase ou uma parte específica do texto. As formas de destaque incluem: itálico (cursivo
ou grifo), negrito, sublinhado, subscrito, sobrescrito.
c) Edição;
d) Local, editora, data (normalmente mete-se apenas o ano); se o livro não traz a data especificada escreve-
se s/d.
Por regra, as obras serão apresentadas em ordem alfabética.
Observações:
a) Quando o livro é da autoria de uma só pessoa deve ser apresentado, em bibliografia, na seguinte forma:
KEITA, Boubacar N. História da África Negra. 1ª Edição. Luanda: Texto, 2009.
Na elaboração do trabalho científico é importante observar as normas metodológicas estabelecidas pela escola
ou por cada instituição e é também importante não se esquecer do professor ou do orientador respectivo; todo o trabalho
científico requer um guia ou orientador; este vai tirar certas dúvidas sobre como fazer uma citação bibliográfica e não só,
quando, como e onde colocar a nota de rodapé, quantas páginas deve ter o trabalho, o quê que nunca deve aparecer no
trabalho etc. Apesar disso, vale apenas ter em conta o seguinte decálogo, sobre elaboração de um trabalho escrito:
1º Escrever em folhas brancas, formato A4, de preferência;
2º Não escrever no verso das folhas;
4º Não entregar folhas com rasuras;
5º Dactilografar ou processar o texto; não sendo possível fazê-lo, escrever de forma legível;
6º Na primeira página, deve figurar o título do trabalho, a identificação do seu autor, o nome da pessoa ou
entidade a quem se dirige (ou, se for o caso, da disciplina a que se destina e da escola) e a data;
7º Fazer, se o tamanho do trabalho o justificar, um índice, colocando-o na 2ª página ou no fim;
8ª Numerar as páginas, sem contar com a da capa e com a numeração visível apenas a partir da página 2;
9º Pôr capas no trabalho, sempre que possível;
10º Usar uma só cor, de preferência (todas, excepto a vermelha e similares).
bbbbbbbb
boca de um beco Foi grande a balbúrdia,
Na Bica do Belo A turba se ria,
Um bravo cadélo O bruto bramia,
Berrava: báu, báu. E o broma a bater!
vvvvvvv
Vinde ouvir caros ouvintes - Adivinhais o motivo
(Vale a pena). Era uma vez Porque assim se ataviou?
Vitorino Vaz Ventura É porque ia a Vila Verde,
Dos Arcos de Val de Vez À vôda do Pai-Avô.
tttttttttt
Triste tralha atrapalhado Com tripas de atum de truz.
De taipar tanta trapeira,
Consertar tanto telhado, Eis trinta e três cães famintos
Estragar tanta goteira, (outros dizem trinta e seis)
Entram de tropel ladrando
Na festa de Santo Entrudo Que estrago!... Agora o vereis:
Entra trôpego e zoupeiro,
De tamancos tosco e rude, Transtes, trancas, tocos, tronxos,
No int’rior do seu palheiro. Estoiram… Tudo é trope!
Bater, latir, tombos, roncos
Sentou-se num tamborete, Terminam este aranzel.
Sem dizer nem chuz nem buz,
E pôs-se a entrudar sozinho
sssssssss
Para fazer sabonetes Vamos dizer a segunda
Mui belos e transparentes Simples, fácil de fazer:
Inventou certo estrangeiro - Põe-se sal e cascas d’alhos
Três receitas excelentes: E azeite doce a ferver.
Deita-se nesta mistura
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Sumo de limão azedo, Depois de tudo amassado,
Com soda, melaço e rosas Põe-se em frasquinhos, ao sul,
Colhidas de manhã cedo. Faz-se em bolas e embrulha-se
Em papel verde ou azul.
rrrrrrrrr
Um rato roento roía
O rabo do rodovalho
E a Rosa Rita Ramalho
De o ver roer se ria.
1.- Diante dos colegas, pronuncie-se, com diferentes entoações, a interjeição Ah!, tentando traduzir vários sentimentos:
espanto, admiração, indignação, desilusão, alegria etc.
3.- Leia-se cada um dos pares de frases abaixo, procurando traduzir os sentimentos/ atitudes indicados.
B Exercícios de improvisação
Os exercícios que agora são propostos poderão ajudar a descobrir o actor que há dentro de cada um (pessoa). A turma
deve ser dividida em grupos, desenvolvendo cada uma das tarefas apresentadas; em alternativa, poderá ser escolhida uma única
actividade para ser realizada por todos os grupos em simultâneo.
PARTE III
ESTUDO DE TEXTOS
Notícia
A notícia é um texto breve que dá conta de um acontecimento actual, imprevisível ou insólito.
A notícia, para possibilitar uma leitura rápida, segue uma estrutura tradicional…
. título (e, por vezes, ante-título e/ ou subtítulo), que deve ser breve e atractivo;
. primeiro parágrafo ou lead, destacado graficamente ou não, que responde, sempre que possível, às questões:
quem? (quem é o sujeito da notícia?), o quê? (o que é noticiado?), quando? (quando aconteceu o que é noticiado?),
onde? (onde aconteceu o que é noticiado?);
. corpo da notícia, isto é, o desenvolvimento do texto nos parágrafos seguintes, que devem responder às
questões: como? (como aconteceu o que é noticiado), porquê? (por que razão aconteceu o que é noticiado?).
Por apresentar informações importantes no início (lead), de forma resumida, e, depois, os pormenores (corpo da
notícia), de forma desenvolvida, diz-se que a notícia segue a técnica da "pirâmide invertida" - ao contrário do conto, em
que os acontecimentos mais importantes (o clímax) são narrados no final do texto.
Além da clareza e simplicidade, caracteriza-se pelo uso da terceira pessoa e pelo predomínio de substantivos.
Reportagem
A reportagem é um texto longo, que relata acontecimentos de forma pormenorizada, com base em depoimentos
reunidos pelo jornalista/ (repórter), presente no terreno e testemunha directa dos acontecimentos, conferindo aos factos
ocorridos vida, cor, relevo e humanidade. Pode ter origem numa notícia cujo acontecimento merece ser desenvolvido e é
o mais característico dos textos jornalísticos.
Devido à sua extensão, a reportagem é introduzida por um lead, que resume o assunto, e apresenta fotografias
que ilustram a informação transmitida (linguagem icónica). Pode, também, apresentar subtítulos que orientam a leitura.
É um discurso feito, predominantemente, na terceira pessoa; embora objectiva e verdadeira, a narração pode
ser personalizada, pelo que é possível usar, também, a primeira pessoa. Apresenta depoimentos em discurso directo e
indirecto e, apesar do nível de língua corrente, o seu autor revela maiores preocupações estilísticas do que nos outros
géneros jornalísticos.
Preparação de uma reportagem:
. planificar e organizar a reportagem;
. colher informações pormenorizadas;
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Crónica
A crónica ou comentário é um texto breve que apresenta uma informação comentada. Distingue-se dos
anteriores géneros jornalísticos pelo seu carácter subjectivo, uma vez que nela o cronista faz uma interpretação pessoal
de um assunto do quotidiano.
Surge, geralmente, num espaço fixo do jornal, sendo assinada pelo seu autor. Este revela liberdade de extensão
e de estilo, podendo redigir um texto reflexivo, narrativo, lírico, político, irónico, polémico, ligeiro etc.
Pela exploração do sentido conotativo das palavras e por recorrer a jogos de palavras, a crónica, considerada o
soneto dos jornalistas, apresenta uma linguagem próxima da linguagem literária.
Cronologia
A cronologia é uma listagem de situações e eventos, de acordo com uma ordem cronológica, isto é, de acordo
às datas e épocas em que vão acontecendo. É constituída por frases curtas, com verbos no presente do indicativo.
Biografia
A biografia é uma narração da vida e obra de uma personalidade, seguindo uma ordem cronológica. É redigida
na 3ª pessoa e apresenta datas, lugares, factos e pessoas importantes na vida dessa personalidade. Ao autor da biografia
dá-se o nome de biógrafo.
Autobiografia
A autobiografia é o relato da vida de um indivíduo realizado por ele próprio. Dado que o relato é feito na primeira
pessoa, além do carácter informativo, tem, também, um carácter expressivo.
Acta
A acta é o resumo do que ocorreu numa reunião, sobretudo das decisões aí tomadas. É redigida por quem
exerceu as funções de secretário(a).
A acta deve indicar…
. a data e o local da reunião;
. quem presidiu e quem esteve presente/ ausente;
. a ordem de trabalhos;
. a síntese das principais intervenções e decisões;
. a fórmula de encerramento;
. as assinaturas do presidente e do secretário.
Numa acta, todos os números devem ser escritos por extenso, os espaços em branco devem ser trancados e
não deve haver rasuras, nem siglas ou abreviaturas.
Modelo de Acta
Acta nº___________
(Introdução)
------- Aos______________________ dias do mês de __________________, de __________________, pelas ________________
horas e _______________ minutos, no (a) (local) ______________________, sob a presidência de
___________________________, teve lugar a reunião de _________________, (quem), com a seguinte ordem de trabalhos: --------
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
_________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________
-------- Ponto único __________________________________________________________________________________________
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
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(Desenvolvimento)
--------- A reunião abriu _______________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(Encerramento)
-------- Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião, da qual se lavrou a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser
assinada pelo presidente e por mim, que a secretariei:
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O/ A Presidente: ___________________________________________________________________________________________
O/ A Secretário(a): __________________________________________________________________________________________
Carta
A carta é um meio de comunicação escrita entre duas pessoas. Ela pode ser familiar, comercial e oficial.
para escrever uma carta familiar, é importante atender-se às seguintes regras:
- localidade e data: à direita da folha, na parte superior;
- saudação: um pouco mais abaixo, à esquerda;
- estabelecimento do contacto: logo no início da carta; consiste numa espécie de saudação e na expressão da
vontade ou do desejo de que todos estejam bem;
- desenvolvimento: tudo quanto se quer comunicar;
- fórmula final: despedidas (devem estar de acordo com a saudação);
- assinatura: em baixo, à direita da folha.
Subgéneros da narração
Poema épico ou epopeia
A epopeia é um poema narrativo escrito em estilo elevado pois tem como objectivo pôr em destaque a grandeza
de acontecimentos e personagens, de um indivíduo ou de um povo, e, por isso, inclui frequentes recursos expressivos
como a personificação, a apóstrofe, a hipérbole e a perífrase. Reveste-se de aspectos heróicos e míticos. Ex., Os Lusíadas.
A epopeia eterniza lendas a um texto em prosa dando seu recado a respeito de séculos e tradições ancestrais,
preservando-as ao longo dos tempos pela tradição oral ou escrita.
Romance
O romance é um género narrativo de maior complexidade que a novela e o conto. Geralmente a acção é extensa
e complexa, incluindo, em muitos casos, ramificações secundárias.
Os personagens apresentam uma caracterização complexa, recorrendo-se, muitas vezes, à análise da sua vida
interior.
O tempo e o espaço também apresentam maior elaboração do que na novela e no conto.
A diferença entre romance e novela não é clara, mas costuma-se definir que no romance há um paralelo de
várias acções, enquanto na novela há uma concatenação de acções individualizadas. No romance um personagem pode
surgir em meio a história e desaparecer depois de cumprir sua função. Outra distinção importante é que no romance o
final é um enfraquecimento de uma combinação e ligação de elementos heterogéneos, não o clímax.
Há de notar que o romance tornou-se género preferencial a partir do Romantismo, por isso ficando o termo
romance associado a estes. Entretanto o realismo teria no romance sua base fundamental, pois apenas este permitia a
minúcia descritiva, que exporia os problemas sociais.
Considera-se que o romance nasceu no início do século XVII, sendo o precursor deste género o Dom Quixote
de La mancha. Na tentativa de parodiar a novela de cavaleria, Miguel de Cervantes, um dos grandes clássicos da
literatura, não só escreveu, como ajudou a firmar as pernas daquele que viria substituir a epopeia, género que agonizava
e desapareceria no século XVIII, com o advento da era industrial. O romance é, portanto, a epopeia burguesa moderna,
segundo Hegel.
A diversidade do romance permite dividi-lo em subgéneros: romance de aventuras, romance histórico, romance
policial, romance psicológico etc.
Alguns conhecidos romancistas da Língua Portuguesa: Eça de Queirós, Ferreira de Castro, Fernando Namora,
Jorge Amado, Vergílio Ferreira, Augustina Bessa-Luís, Lídia Jorge etc.
Crónica
A crónica é uma narração histórica que ordena os factos pelo tempo em que foram acontecendo, sem transpor
os objectivos de um texto literário.
Uma crónica é uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos
jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal.
Crónica é um género literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de
uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar
aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou
das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem.
A palavra crónica deriva do latim chronica que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos
em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve
registo de eventos. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crónica passou a fazer parte dos jornais. Ela
apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris.
Tipos de crónicas: humorista, poético, moralista, dissertativo, narrativo, descritivo, narrativodescritivo.
Novela
A novela costuma situar-se a meio caminho entre o romance e o conto, tanto quanto à extensão como à
complexidade da acção, dos personagens, espaço e tempo. Não existe na novela a tendência para a minuciosa
elaboração do romance e a acção desenvolve-se de modo rápido.
Uma novela é uma narração em prosa de menor extensão do que o romance. Em comparação ao romance,
pode-se dizer que a novela apresenta uma maior economia de recursos narrativos; em comparação ao conto, um maior
desenvolvimento de enredo e personagens. A novela seria, então uma forma intermediária entre o conto e o romance,
caracterizada, em geral, por uma narrativa de extensão média na qual toda a acção acompanha a trajectória de um único
personagem (o romance, em geral, apresenta diversas tramas e linhas narrativas).
Etimologicamente, folhetins televisivos de longa duração deveriam ser chamados em Português de tele-
romances, mas o termo de origem espanhola já está consagrado: telenovelas.
São novelistas, entre outros, Bernardim Ribeiro, com "Menina e Moça", Aquilino Ribeiro, com o "Malhadinhas",
e Camilo Castelo Branco, em muitas das obras.
Parábola
A parábola é uma narrativa alegórica que transmite uma mensagem por meio de comparação ou analogia e
que, normalmente, encerra com um preceito moral ou religioso.
Parábola, originária do grego parabole, significa narrativa curta ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida
também como fábula. Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma razão moral que
pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias
simbólicas ou indirectas.
Sinteticamente: narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto dos elementos evoca outras
realidades, tanto fantásticas, quanto reais.
Conto
O conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais
características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. O conto precisa causar
um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade.
Sobre a origem do conto, de o livro do mágico (cerca de 4000 a.C.), escrito pelos egípcios, até a Bíblia
encontram-se textos com estrutura de contos. No entanto, a autoria deles foi perdida. O primeiro grande contista da
História é tido como Luciano de Samosata (125-192). São da mesma época Lucius Apuleius (125-180) e Caio Petrónio.
O conto tem uma estrutura ainda mais simples do que a novela. Relata um episódio, um caso ou uma situação
exemplar.
A acção tende para a concentração dos eventos. O(s) personagem(s) tende(m) a identificar-se com o(s) tipo(s).
A descrição está ausente, ou quase: pelo contrário, o diálogo é, às vezes, muito importante.
Alguns autores de contos: Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Trindade Coelho, José Rodrigues Miguéis, Vitorino
Nemésio, Vergílio Ferreira etc.
Fábula
A fábula é uma narração de coisas imaginárias que esconde uma verdade moral; pode ter personagens tanto
inanimados como animados (até pessoas).
As fabulas são narrativas curtas, na qual os personagens são, principalmente, animais e nelas, sempre, no final,
mostram uma lição de moral.
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A fábula é uma história narrativa que surgiu no Oriente, mas foi particularmente desenvolvido por um escravo
chamado Esopo, que viveu no século 6º a.C., na Grécia antiga. Esopo inventava histórias em que os animais eram os
personagens. Por meio dos diálogos entre os bichos e das situações que os envolviam, ele procurava transmitir sabedoria
de carácter moral ao homem. Assim, os animais, nas fábulas, tornam-se exemplos para o ser humano. Cada bicho
simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como, por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a
formiga, o trabalho etc. É uma narrativa inverosímil, com fundo didáctico. Quando os personagens são seres inanimados,
objectos, a fábula recebe o nome de apólogo. A temática é variada e contempla tópicos como a vitória da fraqueza sobre
a força, da bondade sobre a astúcia e a derrota de preguiçosos.
Lenda
A lenda é uma narração (em prosa ou em verso) de factos históricos deformados pela imaginação do narrador
ou de acontecimentos que nunca sucederam.
Lenda é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos.
De carácter fantástico e (ou) fictício, as lendas combinam factos reais e históricos com factos irreais que são
meramente produto da imaginação aventuresca humana.
Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações
plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como
acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Pode-se entender que lenda é uma degeneração do Mito. Como diz o dito
popular "Quem conta um conto aumenta um ponto", as lendas, pelo facto de serem repassadas oralmente de geração a
geração, sofrem alterações à medida em que vão sendo recontadas.
- A acção
+ Quanto à relevância dos acontecimentos…
. Principal ou central: acontecimento de maior importância;
. Secundária(s): acontecimentos de menor relevo em relação à acção principal.
+ Quanto à estrutura da sequência narrativa:
. Introdução: corresponde à situação inicial (informação sobre o tempo e o espaço, apresentação dos
personagens...);
. Desenvolvimento: a sucessão das peripécias e o ponto culminante;
. Conclusão ou desenlace.
+ Quanto à organização das sequência narrativas e/ ou das acções:
. Encadeamento: ordenação cronológica dos acontecimentos: A » B » C » D » ...
. Alternância: as sequências e/ ou acções vão correndo alternadamente, chegando a entrelaçar-se: A » B » A »
B » ...
. Encaixe: uma acção e/ ou sequência é introduzida noutra: A » B « A.
+ Quanto à delimitação:
. Fechada: a acção é totalmente solucionada;
. Aberta: não se apresenta a solução definitiva.
- Os personagens
+ Quanto ao papel ou relevo…
. Principais, centrais ou protagonistas (individuais/ colectivos): à volta dos quais decorre a acção;
. Secundários: que participam na acção sem um papel decisivo (individuais/ singulares);
. Figurantes (colectivos): os que servem apenas para funções decorativas dos ambientes.
+ Quanto aos processos de caracterização…
. Directa: através de palavras do personagem acerca de si próprio, de palavras de outros personagens, de
afirmações do narrador;
. Indirecta: deduções do leitor acerca do personagem, a partir das suas atitudes, do seu comportamento;
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- O espaço
. Físico: lugar(es) onde decorre a acção;
. Social: corresponde ao ambiente social, económico, cultural e moral em que vivem os personagens;
. Psicológico: diz respeito à vivência íntima dos personagens; é o espaço dos pensamentos, dos sonhos, dos
desejos dos personagens.
- O tempo
. Da história ou cronológico: corresponde ao decurso e duração dos acontecimentos, marcados
cronologicamente por anos, dias, horas etc.
. Do discurso: corresponde ao modo como o narrador organiza o tempo da história, alongando, resumindo,
alterando ou omitindo os dados do tempo cronológico.
. Histórico: é o contexto histórico (época, período) em que se situa a narrativa.
- O Narratário
O personagem a quem o narrador se dirige ou conta a história. Pode ser intradiegético/ presente ou
extradiegético/ ausente.
- Os modos de apresentação
+ Narração
Forma de expressão literária que confere dinamismo à acção e se utiliza para contar factos.
+ Descrição
Representação de paisagens, lugares, coisas ou seres integradas na narração; constitui um momento de pausa
na acção. São formas de descrição:
. O retracto: descrição oral ou escrita de pessoa ou coisas. Ao se construir um personagem é frequente o
retracto, ou seja, uma descrição literária que saliente: traços importantes do aspecto físico (estatura, pele, rosto, olhos,
cintura, voz, gestos, vestuário...); estado civil, idade e profissão; personalidade, comportamentos, hábitos; marcas
hereditárias; educação, meio em que se insere...
Muitas vezes o retracto faz a caricatura do personagem, exagerando os seus traços mais salientes.
. A exposição: pode surgir quando a descrição procura dar a conhecer o assunto que se propõe desenvolver ou
apresentar, em pormenor, o tempo, o espaço ou as circunstâncias de um acontecimento.
+ Diálogo
Conversação entre duas ou mais pessoas.
O diálogo corresponde à conversa entre dois ou mais interlocutores; nos momentos de diálogo, o narrador
desaparece dando lugar aos personagens intervenientes na acção.
+ Monólogo ou solilóquio
Forma dramática ou literária em que o personagem fala sozinho, como que consigo mesmo, expressando de
maneira lógica o que se passa em seu espírito, em sua consciência.
O personagem fala sozinho, isto é, dialoga consigo mesmo; é um discurso de um personagem que fala sozinho
(consigo próprio).
+ Efusão lírica
Uma forma de monólogo, embora possa surgir ligada ao comentário, através da qual, o personagem ou o
narrador expande os seus sentimentos pessoais e o que sente, recorrendo a frases inspiradas ou cheias de entusiasmo.
+ Comentário
Interpretação e explicação que se dá às frases; actos ou acontecimentos. Permite dar conta, de forma reflectida,
do assunto de um acontecimento ou facto e tomar posição sobre o assunto.
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Uma das formas do comentário é a reflexão (comentário que procura fazer considerações atentas e
ponderadas).
Subgéneros da poesia
+ Écloga
É um pequeno poema pastoril que apresenta, na maioria das vezes, a forma de um diálogo entre pastores ou
de um solilóquio: “Aí dando um passo lento, depois outro, o poeta murmurou a sua écloga.”(Eça, Maias, II, c.3, p.129, 3ªed.).
Écloga é um poema idílico ou pastoril em que se louvam os encantos da vida do campo. Teve grande voga
(popularidade, forma, moda) no século XVI, com Bernardini Ribeiro, Sá de Miranda e Camões.
Este género lírico radica na tradição greco-latina de poetas como Tedorito (Grécia) e Virgílio (Roma).
Coimbra, 20 de Maio de 1943. Miguel Torga, no livro Miguel Torga Obra Completa.
<http://olhaioliriodocampo.blogspot.com/2013/03/ecloga-um-poema-de-miguel-torga.html>. Acesso em 08 Fev 2015.
+ Canção
É um poema que exprime admiração ou entusiasmo por algo ou alguém; composição poética destinada a ser
cantada ou acompanhada com instrumentos musicais.
Esta composição poética clássica foi criada por Petrarca na Itália, e depois cultivada também em Portugal,
nomeadamente por Sá de Miranda e Camões.
Quanto ao assunto pode ser de tipo amoroso, filosófico, satírico ou amoroso. Na sua estrutura, apresenta em
muitos casos, uma introdução, texto (o desenvolvimento do assunto) e cabo ou finda.
Canção II (Camões)
Vira-se claramente,
ó Dama delicada,
que em vós se esmerou a Natureza;
e eu, de gente em gente,
trouxera trasladada
em meu tormento vossa gentileza.
Somente a aspereza
de vossa condição,
Senhora, não dissera,
por que se não soubera
que em vós podia haver algum senão.
E se alguém, com razão,
«Porque morres?» dissera, respondera:
«Mouro porque é tão bela
que inda não sou pera morrer por ela».
E se porventura,
Dama, vos ofendesse,
escrevendo de vós o que não sinto,
e vossa fermosura
tão baixo não descesse
que a alcançasse um baixo entendimento,
seria o fundamento
daquilo que cantasse
todo de puro amor,
por que vosso louvor
em figura de mágoas se mostrasse.
E onde se julgasse
a causa pelo efeito, minha dor
diria ali sem medo:
«quem me sentir verá de quem procedo».
Então amostraria
os olhos saudosos,
o suspirar que a alma traz consigo,
a fingida alegria,
os passos vagarosos,
o falar, o esquecer-me do que digo;
um pelejar comigo,
e logo desculpar-me;
um recear, ousando;
andar meu bem buscando,
e de poder achá-lo acovardar-me;
enfim, averiguar-me
que o fim de tudo quanto estou falando
são lágrimas e amores;
são vossas isenções e minhas dores.
<https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20130619215430AAdnYA2>.
Acesso em 08 Fev 2015.
+ Ode
Teve origem na poesia grega clássica; na sua forma mais característica é composta por três estâncias: estrofe,
antístrofe e epodo14.
É escrito em estilo elevado e apresenta como temas a exaltação de cidadãos ou acontecimentos da vida pública,
os prazeres da existência, os encantos da vida rústica e reflexões filosóficas ou morais.
Do grego odé e do latim õde (ou õda), originariamente, e desde Homero, (ode é) um poema destinado a ser
cantado, podendo igualmente significar qualquer forma de canto alegre ou triste ou o acto de cantar. Os seus vários
significados abarcavam também o canto de louvor , o canto fúnebre, o canto religioso, o canto mágico, o canto de guerra
ou hino e pressupunha o acompanhamento de instrumentos musicais. O sentido da palavra modificou-se, todavia,
passando a significar uma poesia rimada de assunto elevado, normalmente escrita em forma dedicatória de acordo com
um estilo e sentimentos nobres.
Alguns autores de odes: Pindaro e Safo (Grécia), Horácio (Roma) e, em Portugal, Correia Garção, Bocage e
Ricardo Reis.
Ode à Paz
14 Epodo: termo grego epodos (“depois do canto”) com que se designa a terceira das estrofes da chamada ode pindárica; poemas líricos em que se alternam versos
grandes com versos pequenos; terceira estrofe da ode antiga ou remate final, em que o coro canta agrupado no centro do palco; na poesia latina, epodo, é um poema
lírico de versos jâmbicos. Ex. de Ode:
(ESTROFE)
Rumorejam os templos de festins com hecatombes,
rumorejam as ruas, a transbordar de hospitalidade.
Refulge, em seus reflexos, o ouro das trípoles lavradas, que puseram
(ANTÍSTROFE)
à entrada do templo. É aí que Delfos administra,
junto da linfa corrente de Castália,
de Apolo o maior santuário. Ao deus, ao deus
se dê glória. Será o maior em ventura.
(EPODO)
Pois outrora, a Creso, senhor da Lídia,
domadora de cavalos,
quando, para cumprir os desígnios
fixados por Zeus
o exército persa arrasou Sardes,
- a esse salvou Apolo
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Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
+ Hino
De estrutura idêntica à do ode, é composto em honra de uma divindade, de uma personalidade excepcional ou
de um ideal cívico ou patriótico.
Hino é uma composição poética (musical), geralmente para o coro, de cariz comunitário (patriótico15, académico,
profissional, religioso etc.).
Correia Garção e Cruz, e Silva são alguns dos poetas portugueses que escreveram hinos.
Hino de Paz
De seguida acordei
Triste desilusão
O mundo que sonhei
Era imaginação
Tentei sonhar de novo
E o sonho não voltou
E agora, recordando, estou
Valentim Matias.
<http://www.portaldofado.net/component/option,com_jmovies/Itemid,336/task,detail/id,838/>.
Acesso em 08 Fev 2015.
15 O hino nacional é uma composição (poética) musical patriótica que é aceite pelo governo de um país como música oficial do Estado. In
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hino_nacional. Acesso em 08 Fev 2015.
ANGOLA AVANTE
(Coro)
Angola, avante! Revolução,
Pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade,
Um só povo, uma só Nação!
(Coro)
Angola, avante! Revolução,
Pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade,
Um só povo, uma só Nação!
+Elegia
Composição lírica inspirada por algum acontecimento triste, como uma morte ou uma despedida. A elegia, assim
como a ode, tem forma variável. A elegia surgiu na Grécia Antiga. Na literatura grega e latina, era composta em dísticos
(estrofe de dois versos).
Elegia crepuscular
“A morte chegou
e arrebatou-te
sem teres tempo de te opores
Sabiamente soubeste
alegrar a tua existência
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e
num longo adeus
deixaste o espaço azul
e foste para o país do sonho
Nem tempo tiveste de pôr em prática
os sonhos que te banhavam
Adeus viajante do tempo”
+Epitáfio
Em geral, são versos escritos em túmulos para homenagear pessoas ali sepultadas, mas figuradamente podem
ser dirigidos a outros seres.
Vinicius de Morais
+Madrigal
Como composição lírica, manifesta um sentimento subjectivo; pela espécie de sentimento, expressa um
galanteio dirigido à formosura da mulher; pelo tratamento, é gracioso e leve. Exprime um pensamento fino, terno ou
galante e que, em geral, se destina a ser musicada. O madrigal aborda assuntos heróicos, pastoris e até libertinos.
“ Madrigal”
“Dormias, Márcia, e eu vi Cupido ansioso
Já dum, já do outro lado
Querer furtar-te um beijo gracioso,
Que tu, a cada arquejo descansado,
Na linda boca urdias.
Graciosíssimo, oh! Márcia!... Não sabias
Como o nume girava de alvoroço.
Escondendo-lhe o jeito
De o dar do melhor lado. Eu vim, e dei-to
Bem na boca, e logrei o esperto moço.”
+Acalanto
É uma cantiga para embalar crianças.
“Deita, filho
E constrói teu sono
O medo já vem
Fecha os olhos dos ouvidos
Faz escuro aos ruídos
Amortece o brilho desse som.
A angústia gira muda…
Da noite sem insónia
Dorme filho
Faz silêncio na Amazónia.”
Millôr Fernandes
+Trova
Trova inicialmente era qualquer poema ou canção, chamando-se trovador o poeta, ou vate, aquele que
declamava a trova. Depois, passou-se a chamar trova a forma fixa que hoje é empregada, isto é, o poema autónomo de
quatro versos em redondilha maior.
A definição de trova que foi adoptada como definitiva, segundo Luiz Otávio, é composição poética de quatro
versos de sete sílabas cada um, rimando pelo menos o segundo com o quarto verso e tendo sentido completo.
Para Jorge Amado, "quanto à trova, não pode haver criação literária mais popular, que fale mais directamente
ao coração do povo. É através da trova que o povo toma contacto com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a
trova e o trovador são imortais”.
Fernando Pessoa considera que "a trova é o vaso de flores que o povo põe à janela de sua alma”.
+ Vilancete
Surgido pela primeira vez no Cancioneiro Geral, segundo os aspectos etimológicos, vilancete diz respeito à
cantiguinha vilã. Tal composição origina-se de um mote pequeno, sendo esse popular ou alheio, desenvolvendo depois
nas coplas (estrofes) da glosa ou volta e se constituindo do metro tradicional, ou seja, aquele formado de cinco a sete
sílabas. Destinando-se de forma específica ao canto, desapareceu no século XVIII, haja vista que os árcades e pré-
românticos deixaram de cultivá-lo.
O texto em exemplo, a seguir, se constitui de um mote de três versos e de duas voltas de sete versos (redondilha
maior):
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+ Sextina
É constituída por seis estrofes de seis versos (sextilhas) e um terceto a fechar. É uma forma poética complexa,
em que existe a repetição de palavras em posição diferente, de estrofe para estrofe.
A sextina é um poema que apresenta um dos sistemas estróficos mais difíceis e raros.
Compõe-se de seis sextetos e um terceto final, a coda. Utilizando versos decassilábicos, tem as palavras (ou as
rimas) finais repetidas em todas as estrofes, num esquema pré-determinado. Assim, as palavras (ou rimas) que aparecem
na primeira estrofe, na sequência de versos 1, 2, 3, 4, 5, 6, repetem-se na estrofe seguinte, na sequência 6, 1, 5, 2, 4, 3.
E se faz na estrofe seguinte a sequência 6, 1, 5, 2, 4, 3 em relação à estrofe anterior. E assim até a sexta estrofe,
finalizando os sextetos. O terceto final, ou coda, tem, em cada verso, no meio e no fim, marcando as sílabas tónicas, as
palavras (ou rimas) utilizadas no poema todo, na posição em que se apresentaram na primeira estrofe.
A Sextina surge pela primeira vez na poesia provençal. Seu inventor é o trovador Arnaut Daniel (séc. XII). Na
literatura portuguesa tem, entre seus cultores, Camões e, na atualidade, Américo Facó e Jorge de Lima, na Invenção de
Orfeu.
A sextina aqui publicada, uma obra-prima, é provavelmente a primeira a ser escrita em português. Seu arcabouço
é difícil: uma composição não rimada, composta de seis estrofes de seis versos cada uma, e em que as palavras finais
de todas as estâncias repetem as da primeira, nesta ordem:
1… A B C D E F
2… F A E B D C
3… C F D A B E
4… E C B F A D
5… D E AC F B
6… B D F E C A
Veja-se o texto:
+ Balada
Balada é uma canção (popular), de ritmo lento, com uma narrativa. É constituída, geralmente, por três estrofes
com o mesmo tipo de rima e seguidas por um fecho ou conclusão (em francês chamado "envoi").
Inicialmente, na Idade Média, a balada surgiu na forma de canto acompanhado de coreografia, tornando-se
concebida posteriormente apenas como recitação lírica. A partir do século XIV ganhou moldes que se assemelham aos
atuais, constituída de três oitavas e uma quadra. Vejamos, pois, um exemplo da modalidade em questão, sob a autoria
de François Villon, intitulada:
+ Soneto
Soneto (sonetto em italiano, pequena canção ou, literalmente, pequeno som) é um poema de forma fixa,
composto por 14 versos.
Pode ser apresentado em três formas de distribuição dos versos:
- Soneto italiano ou petrarquiano: apresenta 2 estrofes de quatro versos (quartetos) e 2 de 3 versos (tercetos);
- Soneto inglês ou Shakespeariano: três quartetos e um dístico;
- Soneto monostrófico: apresenta uma única estrofe de 14 versos.
Para além destas formas, pode haver o acréscimo (geralmente de três versos) feito aos 14 versos de um soneto.
Este acréscimo é chamado de estrambote e o poema passa a chamar-se soneto estrambótico. O termo deriva do
italiano strambotto ("extravagante, irregular"). Uma vez que o soneto é caracterizado exactamente como um poema de
14 versos — tradicionalmente dois quartetos e dois tercetos —, o acréscimo de um ou mais versos no final do poema (de
acordo com a conveniência do escritor), faz da obra um soneto irregular — estrambótico, como usado por exemplo por
Miguel de Cervantes.
O soneto de tipo clássico, ou italiano, é praticado desde o século XVI; é constituído por duas quadras e dois
tercetos decassilábicos. O soneto inglês é constituído por três quadras e um dístico.
A rima mais frequente nas quadras é abba, aparecendo também a rima abab.
Nos tercetos, as rimas costumam ser alternadas, quando há apenas duas: cdc - dcd. Quando há três rimas,
costumam aparecer num dos seguintes esquemas: cca - eed, cdc - ede ou cde - cde.
O soneto clássico fecha com chave de ouro. Isto quer dizer que nas duas quadras e no primeiro terceto se vão
desenvolvendo ideias ou apresentando factos de forma a que, no último terceto, surja uma conclusão fortemente emotiva
e muitas das vezes acompanhada de um efeito de surpresa.
Vinícius de Morais, Camões, Antero de Quental e Bocage são destacados como autênticos sonetistas, sendo
os três últimos representantes da Literatura Portuguesa.
Veja-se o texto seguinte:
Soneto de separação
Vinícius de Morais.
<http://www.portugues.com.br/literatura/poemas-forma-fixa.html>. Acesso em 08 Fev 2015.
+ Haicai
É um poema de forma fixa de origem japonesa. Foi no século XX que começou a ser praticado no Brasil. O haicai
é um poema pequeno de apenas três versos, que segue algumas normas: a) o 1º e o 3º versos são redondilhas menores
(5 sílabas) e o 2º é uma redondilha maior (7 sílabas), com 17 sílabas métricas ao todo; b) os versos podem ser rimados
ou não; c) fala directa ou indirectamente sobre a natureza, representada pelas estações do ano; d) reflecte um momento
vivido pelo poeta; e) linguagem simples; f) não tem título.
+ Décima
Improviso com canto lento, próximo a uma declamação, com estrofes de 10 versos. A décima era uma estrofe
da literatura clássica na Europa do século XV e XVI e, segundo a maioria dos autores, veio para a América pelos
colonizadores e aqui ganhou força especialmente no canto improvisado. Sua estrutura é a seguinte: rima abbaaccddc,
com versos heptassílabos ou octossílabos.
+ Acróstico
Poema em que letras dos versos, as primeiras, no sentido vertical, formam o nome de pessoa ou uma frase ou
apenas uma palavra.
+Rondel
Rondel vem do francês arcaico, que, por sua vez, originou-se do Latim rotundu, e significa redondo, em forma
de roda. É uma forma de poema originário da poesia lírica francesa, mais tarde utilizada em outras línguas, como a
Inglesa. Foi Inventado ao mesmo tempo em que o rondó e, por isso mesmo, por ele confundido, sobretudo, no século
XVI. Serve aos galanteios amorosos e aos sentimentos delicados.
É um poema composto de treze versos, distribuídos em três estrofes, sendo duas quadras seguidas de uma
quintilha, de forma que os dois primeiros versos da primeira quadra se repetem no final da segunda, e o primeiro verso
da quadra inicial repete no fecho da quintilha, assim: ABab / abAB /abbaA (as maiúsculas representam os versos que são
repetidos como estribilho). Como exemplo, as duas primeiras estrofes do poema Marinha, de Olavo Bilac (com uma ligeira
variante na rima da segunda estrofe baAB e terceira ababA):
As variações na segunda e terceira estrofes acontecem porque o rondel não obedece a esquema fixo de rimas,
nem de metro; entretanto, no que se refere ao metro, dá-se preferência aos versos heptassílabos (sete sílabas) ou
octossílabo (oito sílabas).
Se Helena apartar
Se He / le / na a / par / tar - 5 sílabas métricas, verso pentassílabo ou redondilha menor
Nascerão a brolhos
Nas / ce / rão / a / bro (lhos) - 5 sílabas métricas, verso pentassílabo ou redondilha menor
(Camões)
. rica: correspondência de sons de palavras de diferente categoria gramatical; quando a rima acontece entre
palavras de classes gramaticais diferentes;
Ex.: cantando/ bando, mar/ navegar, vagos/ lagos, quem/ tem.
Nota: Com a rima pobre e rica, quanto aos valores, podemos ainda considerar:
. rara: quando a rima acontece entre palavras de difícil combinação melódica;
Ex.: Cisne/ tisne
. preciosa: quando a rima acontece entre verbos na forma verbo-pronome com outras palavras;
Ex.: estrela/ tê-la, tranquilo/ segui-lo.
2.- A intencionalidade emocional moderada tem duas componentes: uma que é deliberada (conciliare) e outra que
não o é (delectare). Ambas produzem uma emoção ligeira (por exemplo, a simpatia), que tem o nome de ethos.
a)- O objectivo da primeira componente, deliberada (conciliare > ganhar), é o de persuadir o público pelo ethos, (hábito/
costume).
b)- A componente não deliberada (delectare > regozijar-se) visa o prazer estético do público. A ausência de intenção
consiste no facto de o texto remeter para si próprio.
3.- A intencionalidade passional (movere, concitare) consiste na procura de emoções violentas (ódio, lamentações,
medo) que subjugam o público. Não representa, como o ethos, uma impressão estática (um estado de alma), mas sim,
uma excitação momentânea (a explosão de um sentimento). É o pathos clássico. É nele que a psicologia intencional da
retórica atinge o seu apogeu. Os textos que manifestam o efeito do pathos são os que pertencem ao tipo judicial ou ao
tipo deliberativo. É em especial o fim, e por vezes também o princípio, que se apropriam desta função.
Tipos de argumentos
Entre os argumentos mais usuais, pode-se encontrar os seguintes:
. argumentos de autoridade – incluem as opiniões emitidas por pessoas/ entidades de prestígio na matéria a
tratar e os textos de normativos legais, entre outros;
. argumentos universais – reportam-se a saberes universalmente aceites;
. argumentos proverbiais ou de saberes popular – assentes em valores de verdade aceites por todos, como é,
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Subgéneros da argumentação
- O género judicial/ argumentação judicial . referência temporal primária: futuro;
. domínio temático: justiça ou injustiça; . modelos: discurso político, texto publicitário, poesia
. função textual: acusação ou defesa; didáctica, utopia e sermão.
. emoções: severidade ou clemência;
. referência temporal primária: passado; - O género epidítico/ argumentação epidítica
. modelos: discurso de tribunal, drama sociocrítico, . domínio temático: honra ou desonra;
sátira, apologia. . função textual: louvor ou ataque;
. emoções: alegria ou ódio;
- O género deliberativo/ argumentação deliberativa . referência temporal primária: presente;
. domínio temático: ganho ou perda; . modelos: elogio, panfleto, literatura de circunstância:
. função textual: exortação ou aviso; panegírico, encómio, epitáfio.
. emoções: medo ou esperança;
É raro que estes géneros apareçam na sua forma pura; em geral, trata-se de uma combinação dos domínios
temáticos, das funções textuais, das emoções, das referências. Assim, uma acusação pode comportar momentos
deliberativos (por exemplo, apelo à rectidão do juiz), mas também momentos epidícticos (por exemplo, difamação do
acusado).
Artigo de opinião
Um artigo de opinião é um texto argumentativo no qual o autor apresenta o seu ponto de vista sobre um tema
polémico da actualidade, uma decisão política, um filme, um livro, uma peça de teatro, uma exposição, um jogo de futebol
etc. para além de dar a conhecer aos seus interlocutores aspectos da temática em questão, o autor do artigo procura
convencê-los da sustentabilidade da sua tese e, por isso, precisa de apresentar bons argumentos. A publicação de artigos
de opinião visa incentivar a expressão livre do pensamento dos cidadãos, o debate crítico, a troca e confronto de ideias
e a assunção pública de posições de uma forma civicamente responsável.
“Angola tem destas coisas e, por isso, às vezes me aborreço com esta minha pátria. Estava eu, expectante, à espera dos
resultados do Prémio Cultural Angola 30 anos, que em princípio visariam laurear os artistas angolanos que mais se destacaram pelos
seus feitos e contribuições em prol da cultura angolana durante os trinta anos da nossa independência, quando fui surpreendido pelos
resultados, anunciados com grande pompa e circunstância, em cerimónia presidida pelo vice-ministro da Cultura, o cantor André
Mingas.
Para a literatura, o escritor José Luís Mendonça, para o teatro Horizonte Njinga Mbandi, para a música Artur Adriano e
Miguel Rudolfo, para as artes plásticas Sebastião Erasmo e António Gonga e para a dança apenas Domingos Nginzani… E mais
ninguém.
Independentemente da minha opinião sobre os agraciados, houve um que me deixou insatisfeito particularmente: o prémio
para a categoria de Dança. Nada tenho contra o vencedor, até porque não o conheço. (….) Sei que esteve fora do país durante um
tempo considerável….”
Discurso político
Um discurso político é sempre uma proposta ideológica e é normalmente produzido por um indivíduo que se
dirige a sectores específicos da população. Assim, o discurso político pode ser visto como um texto argumentativo,
sendo fundamental compreender o seu contexto e a intenção comunicativa do seu emissor. Num discurso político deve-
se distinguir aquilo que é objectivamente dito daquilo que pode ser subentendido.
Carta de reclamação
A reclamação/ protesto é uma particular de texto argumentativo.
Fazer uma reclamação é formular uma queixa ou protesto por um facto que se considera injusto ou devido. A
reclamação deve basear-se em factos objectivos e pode fazer-se pessoalmente, por telefone ou por escrito. Deve ser
clara, precisa e formulada com cortesia.
No texto de reclamação, devem indicar-se dados precisos:
. Quem reclama
O reclamante deve fazer constar os seus dados pessoais (nome, morada, telefone) e assinar a reclamação,
colocando a respectiva data.
. Porque reclama
O reclamante deve explicar com clareza o motivo da reclamação (o que ocorreu, onde, que prejuízo foi causado
etc.).
. O que reclama
O reclamante deve indicar também que solução espera obter (por exemplo, a devolução do dinheiro, a troca de
um artigo, a melhoria de um serviço ou o pagamento de uma indemnização).
A reclamação assume, com frequência, a forma de carta, que deverá obedecer à seguinte estrutura:
. fórmula de saudação;
. exposição do assunto;
. fundamentação da reclamação;
. pedido de reparação ou compensação;
. fórmula de despedida.
Ricardo Luandino
Avenida 4 de Fevereiro, 90
Luanda, Angola
Tel. (222) 671003
Exmos. Senhores
Todavia, três dias após a compra, verifiquei que o referido aparelho encrava sempre que se
carrega na tecla 3.
Deste modo, venho pela presente carta denunciar o defeito mencionado, solicitando que V.
Exas. se dignem mandar repará-lo ou procedam à substituição do aparelho por outro idêntico, no
prazo de cinco dias.
Fico, pois, a aguardar uma resposta de V. Exas., na convicção de que o problema será
prontamente resolvido.
Exmos. Senhores
No dia 10 de Janeiro de 2018, adquiri, no vosso estabelecimento localizado no Belas Shopping, em Luanda,
um telemóvel, conforme factura nº 2033000, de que junto fotocópia em anexo.
Todavia, três dias após a compra, verifiquei que o referido aparelho encrava sempre que se carrega na tecla
3.
Deste modo, venho pela presente carta denunciar o defeito mencionado, solicitando que V. Exas. se dignem
mandar repará-lo ou procedam à substituição do aparelho por outro idêntico, no prazo de cinco dias.
Fico, pois, a aguardar uma resposta de V. Exas., na convicção de que o problema será prontamente
resolvido.
Editorial
O editorial é um texto de opinião assinado por um elemento da direcção editorial do jornal ou revista e,
consequentemente, implica a sua credibilidade e responsabilidade. O seu objecto é um facto/ ideia/ assunto relevante da
actualidade que o editorialista analisa e acerca do qual se pronuncia, marcando as opções editoriais da própria publicação
e, desta forma, contribuindo para formar a opinião do leitor.
Publicidade
A publicidade é o acto de divulgar um produto com o objectivo de persuadir o destinatário a adquiri-lo –
publicidade comercial – ou com o intuito de modificar um comportamento de que resultem benefícios para o indivíduo
e/ ou para a sociedade – publicidade institucional.
Elementos constitutivos de um anúncio publicitário
. Título – contém o essencial da mensagem, procurando atrair a atenção para o produto e para o texto que o
acompanha.
. Texto – normalmente argumentativo, explica e completa a informação contida no título.
. Slogan – em poucas palavras, contém o essencial da mensagem, quer do título quer do texto.
. Ilustração/ foto – complementa e, por vezes, até substitui o próprio texto, uma vez que a imagem consegue,
com grande eficácia, transmitir a mensagem pretendida.
A linguagem da publicidade
a. Recursos para envolver o receptor:
. diferentes tipos de frases:
- frases imperativas (“Não saia de casa.”; “ Descubra a diferença.”);
- frases interrogativas (“Foi você que pediu?”; “É a tua primeira vez?”);
. marcas da segunda pessoa: pronomes pessoais; pronomes e determinantes possessivos; verbos (“Faça uma pausa.”;
“Para ti e para a tua família.”);
. marcas da primeira pessoa do plural (“ O automóvel com que todos sonhamos.”; “A nossa cerveja.”);
. locuções verbais com valor de obrigação (“Tens de experimentá-lo.”)
b. Recursos para elogiar a qualidade dos produtos:
. gradação de adjectivos e advérbios (“Míele, sempre melhor”);
. outras formas de exprimir o superlativo:
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE III – ESTUDO DE TEXTOS
- prefixos (“extrafino”; “superconcentrado”; “ultra-suave”);
- repetição da mesma palavra (“Branco mais branco não há.”).
c. Recursos expressivos:
. jogos de sons, aliterações e rimas (“A sede que se deseja.”);
. expressões correntes e provérbios transformados (“No melhor sangue cai o HIV.” “Mais molhos que barriga.”);
. antíteses (“Vá para fora cá dentro.”; “Mais por menos.”);
. paralelismos e repetições (“Os melhores produtos pelos melhores preços.”; “Onde você estiver, está lá.”; “Em todo o lado,
a toda a hora.”);
. hipérboles (“Fortifica até à ponta dos cabelos.”; “Temos mil e uma soluções.”)
Sermão
O sermão é um discurso de natureza religiosa feito num púlpito, principalmente em igrejas cristãs; censura ou repreensão
verbal; qualquer discurso longo e enfadonho.
“Ia Jonas, pregador do mesmo Deus, embarcado em um navio, quando se levantou aquela grande tempestade; e como o
trataram os homens, como o trataram os peixes? Os homens lançaram-no ao mar a ser comido dos peixes, e o peixe que o comeu,
levou-o às praias de Nínive, para que lá pregasse e salvasse aqueles homens. É possível que os peixes ajudam à salvação dos
homens, e os homens lançam ao mar os ministros da salvação?!
Vede, peixes, e não vos venha vanglória, quanto melhores sois que os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar
Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra.” Pe. António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes
Curriculum vitae
Curriculum vitae é uma expressão latina que significa “percurso de vida”.
O curriculum vitae, muitas vezes designado por currículo pessoal, apenas por currículo ou pela abreviatura
CV, é um documento que tem como objectivo apresentar o seu autor a um possível empregador, pelo que deve despertar
o interesse do seu destinatário de forma que este queira saber mais acerca do aspirante ao emprego ou à bolsa de estudo
e o chame para uma entrevista. Por isso, um bom currículo é aquele em que o candidato apresenta de forma convincente
as suas competências, a sua experiência e os seus objectivos.
Yara Roberto
Rua Rainha Ginga, 7, r/c
LUANDA
Ex.mos Senhores:
O vosso anúncio publicado no Jornal de Angola, em 08 de Fevereiro de 2015, despertou-me grande interesse.
Nele procuram um colaborador que tenha formação na área de Multimédia, com alguma experiência. Penso que
a minha preparação nessa área ficará bem evidenciada através da leitura do meu Curriculum Vitae, que anexo.
Entusiasma-me, particularmente, a possibilidade de, na vossa empresa, poder viajar por todo o país exercendo uma
actividade que sempre me aliciou.
Na entrevista que V. Ex.ª quiserem conceder-me, terei oportunidade de completar todas as informações que
considerarem pertinentes.
Na expectativa das vossas prezadas notícias, apresento os meus melhores cumprimentos e subscrevo-me.
De V. Ex.ª.
Assinatura
CURRICULUM VITAE
de
Eva Luísa António Francisco
1. IDENTIFICAÇÃO
Nome: Eva Luísa António Francisco.
Filiação: Luís Francisco Maneco e Isabel António.
Naturalidade: Seles; Cuanza Sul.
Nacionalidade: Angolana.
Data de Nascimento: 29 de Maio de 1981.
Estado Civil: Solteira.
Bilhete de Identidade Nº001949738KS036.
Nº de Telemóvel: 912462004/ 923508395.
E-mail: nguevaluisa@hotmail.com.
Residência: Rua da Praia da Nicha; Bº Partido; Comuna do Benfica, Samba/ Luanda.
2. HABILITAÇÕES LITERÁRIAS
. Frequência da 12ª Classe, Curso de Ciências Físicas e Biológicas. Escola do Ensino Secundário do II Ciclo
nº1043, Samba. Luanda (2011).
. 9ª Classe, Escola do Ensino Secundário do II Ciclo nº1043, Samba. Luanda (2008).
. 7ª e 8ª Classes, Escola do II e III Níveis Comissário Ngongo. Porto Amboim/ Cuanza Sul (1999-2000).
. 5ª e 6ª Classes, Escola do II e III Níveis do Seles. Seles/ Cuanza Sul (1997-1998).
. Iniciação à 4ª Classe, Escola Primária nº75. Seles/ Cuanza Sul (1988-1995).
3. FORMAÇÃO PROFISSIONAL
. Curso de Decoração, Culinária e Pastelaria, Escola Ir. Trindade, Morro Bento, Samba/ Luanda (2009).
. Curso Básico de Enfermagem, CEFOPROSA, Kilamba-Kiaxi/ Luanda (2001).
4. EXPERIÊNCIA DE TRABALHO
. Técnica de Farmácia, Farmárcia FarmaRosa, Samba/ Luanda (2004-2006).
. Enfermeira, Posto Médico Joaquim Mayala, Maianga/ Luanda (2001).
5. OUTRAS INFORMAÇÕES
. Disponível aos serviços voluntários de saúde; adaptável, confiável, honesta e amistosa.
. Hobbies: gosta de ler, apreciar a um filme, ouvir música, cantar (no coro religioso).
Assinatura:
_____________________________
21Este exemplo de curriculum vitae foi adaptado do curriculum feito pela estudante Eva Luísa António Francisco como exercício de aula de Língua Portuguesa, na
então Escola 1043/ Puniv da Samba, actual Liceu nº 9006 do Talatona, no ano lectivo 2009.
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE III – ESTUDO DE TEXTOS
História
O teatro nasceu quando o homem teve necessidade de sublinhar, com gestos, danças e sugestivos acenos de
voz, a exteriorização do que pensava e sentia. É, pois, tão velho como o próprio homem.
De facto, de todas as artes, a arte dramática é a que se encontra mais intimamente ligada ao dia-a-dia do homem
e terá nascido, como representação propriamente dita, na mais remota Antiguidade, tendo adquirido maior importância
na Grécia Antiga, com o culto ao deus Dionísio, filho de Zeus.
Durante a Antiguidade, ou chamada Época Clássica, o teatro dividiu-se em tragédia e comédia, destacando-se
como seus cultores, respectivamente, Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes.
Entretanto, na Idade Média, a representação aparece, muitas vezes, associada às festividades e celebrações
de carácter religioso.
Gil Vicente foi o primeiro dramaturgo português que deu consistência literária às representações teatrais, que se
podem agrupar em dois grandes blocos: o teatro religioso e o teatro profano.
Tragédia. É a representação de um facto trágico. O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) descreve a
tragédia como a imitação de uma acção nobre e completa (possuindo, portanto, uma unidade). Ainda de acordo com
Aristóteles, os personagens devem ser de elevada condição (heróis, reis, deuses), a linguagem deve ser elevada e o final
deve ser trágico (terminando, geralmente, com a morte).
Um dos mais conhecidos foi William Shakespeare, que escreveu, entre outras, as seguintes tragédias: Romeu
e Julieta, Hamlet e Otelo.
Drama. Etimologicamente, significa acção, o que faz com que o subgénero drama chegue a se aproximar e/ ou
identificar o género dramático. Como género dramático, apresenta um conflito, ainda que sem a grandiosidade da
tragédia. Geralmente de carácter realista, centra-se nos problemas do homem contemporâneo; apresenta situações
sérias com desenlace infeliz mas não trágico.
Comédia. Peça de teatro que utiliza o cómico de personagens e de situações. De modo geral comédia é o que
faz rir. É pois uma representação que faz uso do humor. Aristóteles distingue a tragédia da comédia dizendo que a
primeira trata principalmente de heróis (homens superiores), enquanto a segunda fala sobre as pessoas comuns. A sua
função era exercer a crítica, denunciando os vícios e os costumes, expondo-os ao riso do público. Actualmente, a comédia
é uma poderosa arma de crítica social, política e económica.
Farsa. É uma pequena peça teatral, centrada numa intriga simples, recorrendo frequentemente a estereótipos,
e inspirando-se em cenas familiares e do quotidiano (sociais e profissionais). Distintamente da comédia, a farsa, não tem
preocupações com a verosimilhança, buscando apenas o humor.
Elegia. Como género dramático, é um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a morte é elevada como
o ponto máximo do teto. Um bom exemplo é a peça Romeu e Julieta de William Shakespear.
Epitalâmia. Texto (dramático) relativo às noites nupciais líricas, ou seja, noites românticas com poemas e
cantigas. Um bom exemplo de epitalâmia é a peça Romeu e Julieta nas Noites Nupciais.
Sátira. Texto (dramático) de carácter ridicularizador, podendo ser também uma crítica indirecta a algum facto ou
a alguém. Uma piada é um bom exemplo de sátira.
- A acção
+ Quanto à natureza: decorre rápido, sem paragens; é representada por personagens (actores) frente a
espectadores; desenvolve-se num andamento progressivo, tendo geralmente uma introdução, um desenvolvimento e um
desfecho.
+ Quanto à estrutura interna, compõe-se de três momentos…
. Exposição (introdução) – apresentação dos personagens e dos antecedentes da acção;
. Conflito (desenvolvimento) – molas de acção e peripécias;
. Desenlace – desfecho da acção.
+ Quanto à estrutura externa um texto dramático pode apresentar-se como uma unidade ou dividido em…
. Actos – muda-se de acto quando algo importante vai marcar a acção, fazendo-a avançar; por exemplo, a
mudança de cenário.
. Cenas – muda-se de cena quando surgem novas situações – a entrada de um novo personagem, a passagem
do dia para a noite, …
. Quadros – os quadros são representações duma cena em que os personagens, trajados convenientemente e
colocados em atitudes fixas, formam um grupo mudo e imóvel.
- Os personagens
+ Quanto à importância:
. Principal ou protagonista – desempenha o papel mais importante;
. Secundário – desempenha um papel de menor relevo;
. Figurante – não desempenha qualquer papel específico.
+ Quanto ao processo de caracterização:
. Directa – por palavras que o personagem diz de si próprio ou por palavras de outros personagens;
. Indirecta – o espectador tira as suas conclusões e a partir do que os personagens dizem ou fazem.
- O espaço
+ Caracterização do espaço cénico (cenário, adereços, efeitos de luz e som, guarda-roupa, caracterização de
actores): é feita através das notas de encenação.
- O tempo
+ Tempo da representação (do discurso): geralmente breve; a acção dura tanto quanto o tempo da
representação.
+ Tempo representado (histórico): época recriada no palco pelos actores.
SUMMA BUROCRÁTICA
Já não se pode ouvir falar contra a burocracia. Não se pode. É fácil de mais. Quero, ao contrário, defender aqui
uma tese impopular: não basta a burocracia que há. É preciso aumentá-la, dispersá-la, complicá-la. Muito, mesmo. E o
argumento é simples: enquanto a burocracia se mantiver num nível tolerável, nós toleramo-la. Será uma forma gramatical
arrevesada, mas nós toleramo-la, mesmo assim. Mas se a burocracia se torna insuportável? Suportá-la-emos? Ainda não
sabemos, mas nessa altura se verá.
É curial, portanto, que a burocracia se estenda, se adense e se aprofunde, que se aperte o cerco. Ponham-se
os olhos em ministérios e serviços públicos – ali sim, temos um bom exemplo de como optimizar os processos para que
eles não funcionem. Porque reparem que as coisas, se não são infinitamente complexas, quando deixadas ao seu próprio
critério, funcionam bem. Olhem os lírios dos campos, olhem os peixes dos mares. A Natureza toda, com seus ciclos
regulares. Mesmo um grupo de crianças de seis anos, se não for monitorizado por um adulto profissionalizado em
crianças, que as irrite com sugestões e ideias de brincadeiras, arranja sem qualquer dificuldade um esquema de
funcionamento. Qualquer organismo se organiza, se equilibra espontaneamente.
É por isso que é preciso optimizar as condições que façam com que os serviços não funcionem. Tem de se dar
uma ajudinha científica à realidade. Há vários métodos empíricos, todos eles testados com êxito. Por exemplo, é de inteira
conveniência que os funcionários andem em serviço fora da empresa todo o dia. Assim, se algum consumidor tiver a
veleidade de uma reclamação, de um tímido protesto, é informado de que o senhor Matos ou anda fora em serviço ou já
saiu e só volta amanhã. Outra regra de ouro: nunca divulgar que funcionário é responsável por que área dos serviços.
Ou ir ainda mais longe, e fazer constar que a Dona Mariquita trata dos pagamentos em atraso, para grande espanto da
própria Dona Mariquita, que há vinte anos não faz absolutamente nada. Arriscaria ainda outra regra, de mui longo alcance:
contratar exclusivamente pessoas da mesma família. Isto é arriscado, mas ousar lutar, ousar vencer. As pessoas da
mesma família tendem a ir de férias juntas, a ficar doentes juntas e, em geral, a ter as mesmas idiossincrasias. Isto
causaria ausências colectivas que poderiam facilmente bloquear os serviços. Uma rixa familiar seria uma festa, uma
zanga conjugal poderia e deveria fazer um grande número de vítimas inocentes. Um outro princípio simples é,
naturalmente, afastar o mais possível uns dos outros os vários departamentos dos serviços. Assim, para alcançar entregar
um requerimento em Santos, seria necessário ir consultar as instruções a Entrecampos, copiar a minuta ao Cais do Sodré,
comprar o papel formato X em Sacavém, ir comprar o selo a uma loja especializada ali à Avenida da República, vir
carimbá-lo, enfim, à Praça da Figueira e subir a entregá-lo em Entrecampos. Assim, sim, seria impossível. São tudo
pequenas coisas, eu sei, mas de magnas consequências.
Luísa Costa Gomes, Isto e mais isto e mais isto (Crónicas 1998-1999), Ed. Notícias, 2000
In MAGALHÃES & COSTA, Língua Portuguesa 10ª Classe. Portugal: Porto, 2005, pág. 47
Eu próprio escrevi extensivamente acerca da vinda de uma “sociedade superindustrial”. No entanto, nenhum destes
termos, incluindo o meu, é adequado.
Algumas destas frases, ao enfocarem num único factor, estreitam, ao invés de dilatarem, a nossa compreensão.
Outras são estáticas, dão a entender que uma nova sociedade pode entrar na nossa vida suavemente, sem conflito nem
tensão. Nenhum destes termos começa sequer a revelar toda a força, todo o âmbito e todo o dinamismo das mudanças
que avançam impetuosamente para nós nem das pressões e dos conflitos que desencadeiam.
A humanidade defronta-se com um salto quantum para a frente. Defronta-se com a mais profunda sublevação
social e reestruturação criativa de todos os tempos. Sem o reconhecermos claramente, estamos ocupados a construir
uma notável civilização nova a partir do zero. É este o significado da Terceira Vaga.
Até agora, a espécie humana suportou duas grandes vagas de mudança, cada uma das quais obliterou
largamente anteriores culturas ou civilizações e substituiu-as por modos de vida inconcebíveis para os que chegaram
antes. A Primeira Vaga de mudança – a revolução agrária – levou milhares de anos a esgotar-se. A Segunda Vaga – a
ascensão da civilização industrial – levou uns meros trezentos anos. Hoje a história é ainda mais acelerativa e é provável
que a Terceira Vaga a assole e se complete em poucas décadas. Nós, os que compartilhamos o planeta neste momento
explosivo, sentiremos portanto todo o impacto da Terceira Vaga no decorrer da nossa própria vida.
Desmembrando a nossa família, abalando a nossa economia, paralisando os nossos sistemas fiscais e
destruindo os nossos valores, a Terceira Vaga afecta toda a gente. Desafia toda as relações de poder e os privilégios e
as prerrogativas das actuais elites em perigo, e fornece o pano de fundo contra o qual se travarão as lutas-chave pelo
poder de amanhã.
Muito desta civilização emergente contradiz a antiga civilização industrial tradicional. É, simultaneamente,
muitíssimo tecnológica e anti-industrial.
A Terceira Vaga traz consigo um modo genuinamente novo baseado em fontes de energia renováveis e
diversificadas; em métodos de produção que tornam obsoleta a maioria das linhas de montagem; em famílias novas e
não-nucleares; numa nova instituição que pode chamar-se “chalé electrónico”, e nas radicalmente modificadas escolas e
corporações do futuro. A civilização emergente escreve, para nós, um novo código de comportamento e leva-nos para
além da estandardização, da sincronização e da centralização, para além da concentração de energia, dinheiro e poder.
Esta nova civilização, ao desafiar a antiga, derrubará burocracias, reduzirá o papel do estado-nação e originará
economias semiautónomas num mundo pós-imperialista. Requer governos mais simples, mais eficazes e, todavia, mais
democráticos do quaisquer que hoje conhecemos. É uma civilização com a sua própria e característica perspectiva do
mundo, com as suas maneiras próprias de lidar com o tempo, o espaço, a lógica e a causalidade.
Sobretudo, (…) a civilização da Terceira Vaga começa a colmatar a brecha histórica entre produtor e consumidor,
dando origem à economia “produ-sumidora” de amanhã. Por esta razão, entre muitas, poderia - com alguma ajuda
inteligente da nossa parte – vir a ser a primeira civilização verdadeiramente humana da História.
Alvin Toffler, A Terceira Vaga, Ed. Livros do Brasil, 1999 (data da 1ª edição: 1980), (texto com supressões)
In MAGALHÃES & COSTA, Língua Portuguesa 10ª Classe. Portugal: Porto, 2005, pág. 60
O QUE É A CIÊNCIA?
Se estiver sentado numa cadeira a ler este livro, como consegue ver as suas páginas? Em que consiste o papel?
Como é que as figuras são impressas com tantas cores? O que é que o mantém sentado na cadeira? E porque é que
não cai pelo chão abaixo? Estes são os tipos de perguntas para as quais a ciência procura uma resposta. Algumas das
respostas podem parecer óbvias: não se cai pelo chão abaixo, porque este é sólido. Mas isto leva-o a outra pergunta:
porque é que é sólido? A ciência é uma busca sem fim, porque os cientistas não se contentam com a primeira explicação
que encontram, procurando sempre explicações melhores, tentando descobrir as fundamentais para que tudo seja como
é.
Estudar todo o Universo é uma tarefa gigantesca. Por isso não admira que existam tantas áreas diferentes na
ciência. A física investiga a energia e a matéria, o material de que tudo é feito. A química estuda as substâncias básicas,
ou elementos, que se encontram no Universo e como estes se combinam para formar substâncias mais complexas,
chamadas compostos. O estudo das plantas e dos animais chama-se biologia. Observa como eles crescem, se alimentam
e se reproduzem, e como mudam no decurso de longos períodos de tempo. A forma e a estrutura da Terra são estudadas
na geologia, enquanto a meteorologia observa o estado do tempo e a atmosfera da Terra. A matemática – estudo dos
números, formas e quantidades – permite aos cientista efectuar medições e cálculos e compreender os resultados das
sua experiências e investigações.
A ciência não se limita ao que acontece dentro de um laboratório – está sempre à nossa volta. As máquinas
começam a funcionar e desempenham as suas tarefas porque obedecem a certas leis científicas que controlam o seu
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE III – ESTUDO DE TEXTOS
funcionamento. E se se avariam é porque outras leis científicas as impedem de funcionar. Estas leis foram descobertas
porque os cientistas olharam para o mundo à sua volta e observaram acontecimentos, por exemplo a transformação da
água em gelo. Um cientista apresenta uma explicação para um tal acontecimento. Esta explicação tem depois de ser
testada. Se for sempre verdadeira em todos os testes, pode então considerar-se uma lei científica. A lei que regula a
congelação actua sempre nos Pólos Norte e Sul e de cada vez que fazemos gelo num congelador.
Actualmente a vida das pessoas é muito diferente do que era para as que viveram há 5000 anos. Ao longo dos
tempos, na sua busca do conhecimento, os cientistas fizeram muitas descobertas. O modo como estas descobertas são
postas em prática para construir máquinas e para tornar certas tarefas mais fáceis chama-se tecnologia. A tecnologia
mudou em grande medida a vida das pessoas. Ajudou a produzir mais alimentos, por exemplo, e a tornar as nossas
casas mais confortáveis.
Graças à tecnologia, temos sistemas de transportes mais rápidos e seguros, que levam pessoas e mercadorias
com facilidades de um lado para outro – mesmo até ao espaço. É também a tecnologia que nos permite comunicar com
outras pessoas a grandes distâncias. Os avanços na medicina ajudam-nos a viver mais tempo e a ser mais saudáveis.
Novas drogas e máquinas, por exemplo, podem prevenir e curar muitas doenças. Contudo, a ciência também nos trouxe
armas mais mortíferas e a poluição que danifica o ambiente. Mas a ciência está ao serviço de todos nós e podemos
utilizá-la paro o bem e para o mal.
tambor. Não se ouvia um som. Mas eu notava que às vezes aplicava as baquetas com grande energia. E a mulher lá
continuava, dum lado para outro, toc, toc, a arrepelar as mãos. (…)
A mulher estava, de certeza, à espera de alguém, provavelmente o tal Augusto, que não era o do chapéu. Eu
comecei a enternecer-me e quase a desejar que o Augusto se mostrasse. (…)
Mas o receio de que pudessem surgir mais personagens inquietou-me. Qual Augusto! Não me apetecia nada
que a casa se me enchesse de cavaleiros, de ciclistas, de pugilistas e meninas do can-can. (…)
Em circunstâncias difíceis como esta, não há nada como recorrer a um especialista. Telefonei a um amigo, que
é escritor. Atendeu rabugento, porque foi acordado. É um escritor dos diurnos, nove às cinco.
“Ouve, meu caro, desculpa lá, mas estão a aparecer-me personagens em volta do computador. O que é que eu
faço?”
O meu amigo formulou muitas perguntas sábias. É um grande especialista em personagens. Se eram pesadas
ou leves, grandes ou pequenas, silenciosas ou barulhentas, sentimentais ou secas. “Têm máscara?”, inquiriu. “Não?
Então são de grau inferior…” Quando eu o informei de que eram pequenas e silenciosas ele sugeriu-me com um tonzinho
superior de quem enuncia uma evidência: “Agarra nas três e atira-as pela janela”. “E se atinjo alguém? Estás a ver-me
em tribunal por defenestrar personagens, com danos para os utentes da via pública?” “Então, conduta do lixo com elas.”
“Não posso fazer uma coisa dessas, sempre são gente.”
Do lado de lá do telefone o meu amigo fez um “ts” de impaciência. Desconfio de que trata as personagens dele
com uma certa dureza. É o que dá a experiência.
“Escuta, não andas agora a escrever umas crónicas, uns comentários, ou lá o que é?” Como é que ele sabia?
Isto é uma cidade muito bem informada. Admiti.
“Então, faz o seguinte: aprisiona-as no texto.”
Foi o que eu fiz.
IGUAL A SI PRÓPRIO
Sereno na sua conduta, digno na sua postura, parecia consciente de que a verdadeira felicidade se encontra
interiormente. Era um daqueles seres que aparentam considerar que têm o suficiente para si, vivendo harmoniosamente
com os outros e com a natureza em geral.
Não era branco, nem norte-americano, mas parecia viver num mundo de magnifica abundância, onde há o
suficiente para toda a gente. Da sua dignidade transparecia uma equilibrada noção de partilha. Adivinhava-se mesmo
satisfação interior no seu partilhar.
Não era alto, nem forte, nem espadaúdo, mas movimentava-se com a tranquilidade de quem nada teme.
Desviando-se inteligentemente de situações conflituosas, evitava riscos desnecessários, parecendo que a sua atitude
pacífica gerava paz em torno de si. Nunca o vi fugir de nada, nem de ninguém. Encarava as situações mais difíceis com
a mesma serenidade de sempre.
Não precisava de jóias, roupa extravagante, carros topo de gama ou qualquer tipo de artefacto para chamar as
atenções. Pelo contrário, utilizava a simplicidade como uma bênção que permanentemente lhe iluminava a vida.
Parecia que nada lhe era exigido, mas que procurava cumprir esforçadamente, como se toda a tentativa fosse
um sucesso e todo o esforço uma vitória. Como se não precisasse de competir com ninguém por coisa nenhuma. Como
se bastasse ser igual a si próprio, no natural desenvolvimento da sua trajectória evolutiva.
Vivia sem a preocupação de agradar aos outros, como se ninguém tivesse o direito de o julgar. Mas parecia
profundamente responsável e com um enorme prazer de realização pessoal. Prazer que o preenchia, sem necessitar de
excessos viciosos na sua relação com a vida material.
Não sendo um universitário, nem um grande especialista fosse do que fosse, advinhava-se-lhe o sentido de que
não há nada que não possa fazer, satisfeito com o seu conhecimento interior e com o seu saber. Para ele a ignorância
poderia ser apenas uma ilusão que não o chegava a afectar.
Talvez se sentisse diferente dos outros embora igual em essência, sem necessidade de reclamar qualquer tipo
de superioridade. Por isso seria tolerante.
Por isso admitiria os outros como eles são, amando-os incondicionalmente apenas porque são. Por isso nunca
teria imposto nada. Por isso tudo partilhava. (…)
Luís Portela, in Jornal de Notícias, 06-09-2001
In MAGALHÃES & COSTA, Língua Portuguesa 10ª Classe. Portugal: Porto, 2005, pág. 150
Fevereiro de 2018, Pela Coordenação da Disciplina de Língua Portuguesa
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LICEU Nº 9006 – TALATONA – LUANDA Caderno de Língua Portuguesa – PARTE III – ESTUDO DE TEXTOS
A LUAVEZINHA
(primeira estória para a Rita)
Minha filha tem um adormecer custoso. Ninguém sabe os medos que o sono acorda nela. Cada noite sou
chamado a pai e invento-lhe um embalo. Desse encargo me saio sempre mal. Já vou pontuando fim na história quando
ela me pede mais:
- E depois?
O que Rita quer é que o mundo inteiro seja adormecido. E ela sempre argumenta um sonho de encontro ao
sono: quer ser lua. A menina quer luarejar e, os dois, faz contar-nos assim, eu terra, ela lua. As tradições moçambicanas
ainda lhe aumentam o namoro lunar. A menina ouve, em plena verdade da rua: “olha os cornos da lua estão para baixo:
vai cair a chuva que a lua guarda na barriga”.
Me deu, um destes dias, a ideia de lhe contar uma estorinha para fazer pousar o sonho dela. E desencorajar
seus infindáveis “e depois”. Lhe inventei a estória que agora vos conto.
Era uma avezita que sonhava em seu poleirinho. Olhava o luar e fazia subir fantasias pelo céu. Seu sonho se
imensidava:
- Hei-de pousar lá, na lua.
Os outros lhe chamavam à térrea realidade. Mas o passarinho devaneava, insistonto: vou subir lá, mais acima
que os firmamentos. Seus colegas de galho se riram: aquilo não passava de menineira. Todos sabiam: não havia voo
que bastasse para vencer aquela distância. Mas o passarinho sonhador não se compadecia. Ele queria luarar-se. Pelo
que tudo ficava nada.
Certa noite, de lua inteira, ele se lançou nos céus, cheio de sonho. E voou, voou, voou. Perdeu conta do tempo.
Em certo momento ele não sabia se subia, se tombava. Seus sentidos se enrolaram uns nos outros. Desmaiou? Ou
sonhou que sonhava? Certo é que seu corpo foi sacudido pelo embate de um outro corpo.
E pousou naquela terra da lua, imensa savana pétrea. A ave contemplou aquela extensão de luz e ficou
esperando a noite para adormecer. Mas noite nenhuma chegou.
Na lua não faz dia nem noite. É sempre luz. E o pássaro cansado de sua vigília quis voltar à terra. Bateu as asas
mas não viu seu corpo se suspender. As asas se tinham convertido em luar. Com o bico desalisou as penas. Mas penas
já nem eram: agora, simples reflexos, rebrilhos de um sol coado. O pássaro lançou seu grito, esses que deflagrava antes
de se erguer nos céus. Mas sua voz ficou na intenção. A ave estava emudecida. Porque na lua o céu é quase pouco. E
sem céu não existe canto.
Triste, ela chorou. Mas as lágrimas não escorreram. Ficaram pedrinhas na berma da pálpebra, cristais de prata.
A avezita estava cativa da lua, aprisionada em seu próprio sonho. Foi então que ela escutou uma voz feita de ecos. Era
a própria carne da lua falando:
- Eu sonhei que tu vinhas cantar-me.
- E porquê me sonhaste?
- Porque aqui não há voz vivente.
- Eu também sonhei que haveria de pousar em ti.
- Eu sei. Agora vais cantar em luar. Eu sonhei assim e nenhum sonho é mais forte que o meu.
É assim que ainda hoje se vê, lá na prata da lua, a pupila estrelinhada do passarinho sonhador. E nenhuma
criatura, a não ser a noite, escuta o canto da avezinha enluarada. Sobre as primeiras folhas da madrugada, tombam gotas
de cacimbo. São lagriminhas do pássaro que sonhou pousar na lua.
- E depois, pai?
O CASTIGO DA RAPOSA
Depois de muitas queixas sobre a falta de tranquilidade, sobretudo à noite, no bairro do tio Kondombolo, o Soba
decidiu mandar chamar à Ombala o Galo e a Raposa.
Pretendia ter uma conversa muito séria com os dois, pois os habitantes daquela zona da cidade queixavam-se
de não poder dormir.
Todas as noites uma barulheira danada, entre galinhas e pintos no bairro do tio Kondombolo, o Galo.
Não faltou quem afirmasse categoricamente que era a Raposa a causadora de toda aquela zaragata, aquela
confusão nocturna.
Os protestos foram tantos que o Soba decidiu mandá-los chamar para pôr a claro a questão que estava prestes
a causar mesmo um confronto armado, com tiros, pauladas e tudo, por parte de algum vizinho mais nervoso.
A Raposa, que é manhosa, ficou tanto aflita, assustada mesmo, pois sabia melhor que ninguém que era ela a
verdadeira culpada. Assim, foi procurar o Galo a casa, de manhã cedo, para fazer-lhe a proposta. Sugeria que se
apresentassem juntos, como amigos, de modo que o Soba nada teria de dizer, limitando-se possivelmente a umas
recomendações.
Kondombolo, porém, há já muito tempo que queria ver-se livre da Raposa. Mal a viu ao longe e adivinhando-lhe
as intenções escondeu a cabeça debaixo da asa.
A Raposa chegou entretanto. Cumprimentou com toda a humildade, com o falso carinho que só ela é capaz de
fingir, e fez a proposta esperada:
- Querido Amigo Galo, vim cá para irmos juntos ao Soba. Apresentando-nos os dois, nada temos a recear e
acabam-se as intrigas. Não achas?
O Galo debaixo da asa responde:
- Estou cheio de medo, amiga Raposa. Sabes lá o que nos espera? Para evitar maiores castigos, pedi à minha
mulher n’Sanji, a Galinha, que me cortasse a cabeça. Apresentando-me com a cabeça cortada, o Soba perdoar-me-á
certamente de todos os erros que tenho cometido. Como vês já estou de cabeça cortada.
A Raposa, atrapalhada, pergunta:
- E como é que conseguiste cortar a cabeça e continuar a falar?
Isso não é problema. Pedi à minha mulher n’Sanji que fizesse o trabalho: cortar-me a cabeça de um só golpe,
deixando-a ligada ao corpo pela pele. Assim fez e aqui estou. Quando voltar é só dar um ponto e fica tudo na mesma.
A Raposa, oportunista, não quis saber de mais nada. Correu para casa. Contando tudo à mulher, pediu-lhe que
lhe cortasse a cabeça rapidamente por que já era tarde para a hora marcada. O Galo já estava pronto, podia chegar
primeiro a casa do Soba e assim só ele é que seria perdoado. Que cortasse depressa para que ele corresse e chegasse
primeiro.
A mulher da Raposa foi buscar um grande njaviti e de um só golpe decepou a cabeça ao marido, deixando-a
pendurada a sangrar. Mas quando viu o marido cair morto, ficou desesperada e furiosa. Correu à casa do Kondombolo
para castigá-lo pela mentira que levara o marido à morte.
Kondombolo já tinha partido quando chegou a mulher da Raposa. Esta encontrou a Galinha atrás de uma
espessa rede, a chocar e mal-humorada.
- Onde está o teu marido? – gritou-lhe de fora a Raposa. – Onde está, que quero hoje mesmo dar cabo dele, de
ti e de toda a vossa família se te atreveres a sair daí.
- Não te preocupes que o Galo foi ao Soba contar-lhe tudo. É o merecido castigo para o teu marido e para ti, já
que vocês não têm feito outra coisa na vida senão assaltar traiçoeiramente as capoeiras para se banquetearem com os
pintos, as galinhas e os galos que aí dormem indefesos sem fazer mal a ninguém. É bem feito e não tornes a aparecer
para que te não suceda o mesmo. Nós vamos organizar a nossa defesa.
Durante as duras batalhas travadas pela libertação do nosso país da invasão inimiga os pioneiros lutaram
heroicamente contra forças mais poderosas e venceram, pondo em prática prodígios de invenção. Avó Chica conta várias
vezes a estória do castigo da Raposa e termina sempre dizendo:
- Os pioneiros ganhavam sempre porque a inteligência e a astúcia é a arma dos fracos contra os fortes e os
malvados.
Avó Chica, porém, não consegue nunca reter a lágrima teimosa que reflecte, brilhante como sol, o seu neto
pioneiro, Zito, igual a todos os seus netos pioneiros, vítimas dos assassinos definitivamente derrotados pela força
invencível da sua inteligência, honestidade e coragem.
achavam uma palanca com ar de doente e duas crias. E ele, maldosamente, pensou: “Depois de comer aqueles
desgraçados, já tenho uma cama fofa para me deitar e dormir uma boa soneca”. E quando, sorrateiro, ia saltar sobre o
fraco animal... catrapuz!... caiu num buraco fundo. E mal caiu, começou num berreiro que, se assustou uns, não assustou
outros, pois a armadilha fora o resultado de muitas conversas, discussões e trabalho nocturno de vários chefes de família
das redondezas...
E por uma ou outra razão, ninguém se aproximou do rei; mas no íntimo todos se sentiam mais felizes por verem
o tirano naquelas condições. (...)
CANÇÃO
BUCÓLICA
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
S. Martinho de Anta, 30 de Abril de 1937
in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa,
Eugénio de Andrade (org.), Ed. Campo das Letras, 2000
In MAGALHÃES & COSTA, Língua Portuguesa 10ª Classe. Portugal: Porto, 2005, pág. 127
Luanda, 31-7-1952
António Jacinto, in Nuvem Passageira,
colectânea de Poesia por Filomena Gloveth e Seomara Santos, UEA, 2005
In MAGALHÃES et alii, Língua Portuguesa 11ª Classe. Portugal: Porto, 2008, págs.149-150
DIA DE FAXINA
Hoje é sexta-feira
Desta semana, deste mês, deste ano.
Podia ser outro dia qualquer
duma outra semana, dum outro mês, dum outro ano
Passado ou futuro.
NO MEIO DO CAMINHO
AH! SE TU SOUBESSES…
Se tu soubesses, querida
o que promete meu coração
nesta terna noite silenciada
por este negro manto-embrião…
Se soubesse, amada
a dulce26 dor de amar
neste instante eterno da nossa vida
que eu anseio com muito amor amar…
Se soubesses…
Oh!, quem saberá, meu amor
o destino da alma do cantor?
À FORÇA DE UM BRAÇO
26 dulce: doce
27 purgar: purificar, eliminando as impurezas.
28 cepa: base do tronco de uma árvore com raízes grossas; em sentido figurado refere-se à origem, raça, geração.
REFERÊNCIAS
Há sempre um passado
Gravado na extensão das coisas
Há sempre um passado
Sustentando as nossas ousadias
PERDIÇÃO
Eu não entendo
o que quer dizer viver
origem e fim da vida…
porque devo eu crer
que ela grátis me foi dada?
Tomaz Vieira da Cruz, In Moreira & Pimenta, Literatura 12ª Classe, Portugal: Porto, 2007, pág. 250
EU TENHO UM SONHO
Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco naquela que irá ficar na história da nossa nação como a maior
manifestação pela liberdade. Há um século, um grande Americano, a cuja sombra simbólica nos acolhemos hoje, assinou
a Proclamação de Emancipação30. Essa proclamação de extraordinária importância foi como um grande farol que veio
iluminar a esperança de milhões de escravos negros, que ardiam nas chamas da asfixiante injustiça. Foi como uma aurora
jubilosa que vinha pôr fim à longa noite do seu cativeiro.
Mas, cem anos volvidos, o Negro ainda não é livre. Cem anos volvidos, a vida do Negro continua a ser
desgraçadamente tolhida pelas algemas da segregação e pelas grilhetas da discriminação. Cem anos volvidos, o Negro
vive numa ilha deserta de pobreza no meio dum vasto oceano de prosperidade material. Cem anos volvidos, o Negro
continua confinado aos cantos da sociedade americana e sente-se exilado na sua própria terra.
Por isso, viemos aqui hoje denunciar uma situação vergonhosa. Em certo sentido, viemos à capital da nação
descontar um cheque. Quando os arquitectos da nossa república escreveram as palavras magníficas da Constituição e
da Declaração de Independência, estavam a assinar uma letra de que todos os Americanos se constituíam sacadores.
Essa letra era uma promessa de que a todos os homens, fossem pretos ou brancos, eram garantidos os direitos
inalienáveis “à Vida, à Liberdade e à busca da Felicidade”.
É hoje evidente que a América não pagou a letra no que aos seus cidadãos de cor diz respeito. Em vez de honrar
essa obrigação sagrada, a América passou ao povo negro um cheque sem cobertura, um cheque em cujas costas está
escrito “insuficiência de fundos”. Mas nós recusamo-nos a acreditar que o banco tenha aberto falência. Recusamo-nos a
acreditar que não haja fundos suficientes nos vastos cofres de oportunidades deste país. Por isso viemos descontar este
cheque, um cheque que nos vai dar acesso imediato à riqueza da liberdade e à segurança da justiça.
30Proclamação da Emancipação (Emancipation Proclamation) promulgada pelo presidente Abraham Lincoln no dia 1 de Janeiro de 1863, que liberou todos os
escravos nos estados que se haviam separado da União.
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Viemos também a este lugar sagrado para lembrar à América a grande urgência da hora presente (…) Chegou
a hora de cumprir as promessas da democracia. Chegou a hora de sair do negro e árido vale da segregação para a
estrada soalheira da justiça racial e implantá-la no rochedo sólido da fraternidade. Chegou a hora de fazer da justiça uma
realidade para todos os filhos de Deus. (…)
Há quem pergunte aos militantes dos direitos civis: “Quando é que vos ireis dar por satisfeitos?” Não iremos dar-
nos por satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores inenarráveis da brutalidade policial. Não iremos dar-nos por
satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados da fadiga e da viagem, não puderem encontrar pousada nos motéis das
estradas e nos hotéis das cidades. Não podemos dar-nos por satisfeitos enquanto o essencial da mobilidade do Negro
for de um gueto pequeno para outro maior. Não iremos dar-nos por satisfeitos enquanto os nossos filhos se virem
espoliados da sua identidade e privados da sua dignidade por tabuletas em que se lê “Só Para Brancos”. Não podemos
dar-nos por satisfeitos enquanto um Negro do Mississipi não puder votar e um Negro da Nova Iorque achar que não tem
razões para votar. Não, não, não nos damos nem daremos por satisfeitos enquanto a equidade não jorrar como uma
fonte e a justiça como corrente que não seca. (…)
Não nos deixemos afundar no vale do desespero. Digo-vos hoje, meus amigos: mesmo que tenhamos de
enfrentar as dificuldades de hoje e de amanhã, eu ainda tenho um sonho. Um sonho que mergulha profundamente as
suas raízes no sonho americano.
Tenho um sonho de que um dia esta nação se irá erguer e viver o significado autêntico do seu credo – temos
por verdades evidentes que todos os homens foram criados iguais.
Tenho um sonho de que um dia nas vermelhas encostas da Geórgia os filhos dos antigos escravos e os filhos
dos antigos donos de escravos conseguirão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.
Tenho o sonho de que até o Estado do Mississipi, um Estado asfixiado pelo calor da opressão, se irá transformar
num oásis de liberdade e justiça.
Tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos irão um dia viver num país em que não serão julgados
pela cor da sua pele mas sim pelo conteúdo do seu carácter (…)
E quando tal acontecer, quando todos fizermos soar o sino da liberdade, quando o fizermos soar por todas as
aldeias e lugarejos, por todos os Estados e todas as cidades, então sim, iremos poder apressar a chegada do dia em que
todos os filhos de Deus, pretos e brancos, serão capazes de se dar as mãos e cantar a letra do velho espiritual negro:
“Finalmente livres, finalmente livres. Obrigado, Deus Todo-poderoso, somos finalmente livres.”
C. Carson (org.), in Eu tenho um sonho, A autobiografia de Martin Luther King,
trad. de Francisco Agarez, Lisboa, Ed. Bizâncio, 2003 (texto com supressões)
In MAGALHÃES et alii, Língua Portuguesa 11ª Classe. Portugal: Porto, 2008, págs.16-18
acesso em todos recantos, nas cidades e nas bwalas, e levar para ali onde ainda não há a água, a escola, o enfermeiro,
os medicamentos, as tecnologias de produção e conservação de alimentos, a higiene, não é algo avulso, sem uma
estratégia e uma linha de rumo. É um trabalho de formigas e gigantes que vai transformar o país. Porquê então a
descrença?
DISCURSO
Angola, país diverso na sua composição cultural e nas suas estruturas territorial, económica e social, pode,
através do uso inteligente das Tecnologias de Informação e de Comunicação, fortalecer a sua unidade nacional, reduzir
as assimetrias, diminuir as distâncias interprovinciais, fornecer informação igualitária e proporcionar oportunidades
similares aos seus cidadãos, incrementando, deste modo, a dinâmica do seu desenvolvimento.
A riqueza da Sociedade do Conhecimento reside na sua multiplicidade e na participação dos vários actores
sociais que garantem a sua interligação e criam condições para a sua convergência. A construção sólida da Sociedade
do Conhecimento impõe, pois, uma congregação de esforços públicos e privados, por forma a que a mesma se
implemente nas instituições dos órgãos de soberania, nas escolas, nas cidades e comunas, na administração pública e
no sector privado. Neste domínio, devemos ser ambiciosos e a nossa ambição deve ter a dimensão do nosso território
nacional, imprimindo-se um ritmo mais rápido à adopção, utilização e domínio das Tecnologias da Informação e
Comunicação, tendo sempre em conta a nossa realidade, fundamentalmente o nível dos nossos recursos humanos e a
nossa diversidade cultural linguística.
A construção da Sociedade do Conhecimento em Angola deve ser encarada como um desígnio nacional e uma
prioridade política do Governo, como consagra o Plano de Acção aprovado em 2005 pelo Conselho de Ministros.
Efectivamente, o Plano de Acção para a Governação Electrónica bem como o Plano de Acção para a Sociedade da
Informação constituem duas provas cabais da nossa ambição, do nosso interesse e da nossa visão de futuro, para a
concretização de uma Estratégia para o Desenvolvimento das Tecnologias de Informação até ao ano 2010.
O Governo pretende desenvolver uma acção catalisadora, por forma a transitarmos de uma sociedade
reconhecidamente analógica para uma sociedade definitivamente digital, isto é, a passarmos de uma sociedade onde a
informação e o conhecimento se encontram apenas ao alcance de uma minoria esclarecida para outra na qual a
informação e o conhecimento são produtos ao alcance de todos.
Tenhamos todos, pois, a ousadia e a determinação de criarmos as condições que permitam a emergência e a
solidificação da nova era da Sociedade do Conhecimento, a fim de o Povo Angolano poder desfrutar um futuro mais
desenvolvido, mais digno e mais sábio.
RIOSECO
Kwanza largou o balde com a isca e apetrechos. Correu no primeiro coqueiro e começou a marinhar no pau com
leveza tal que dava a ilusão, quase, de ser o coqueiro quem se escorregava pelo corpo da criança. O carpinteiro coçava
a barba, boquiaberto com a ligeireza do garoto, “sangue do avô dele que veio das bandas do rio. Rio misturado com mar
é ele próprio. Que bonito. Eu não hei-de morrer sem ficar um dia inteiro a olhar o sítio onde esse grande rio que lhe deu
o nome. O rio que o mar não aguenta a força dele.” – disse para a mulher.
“Mentira. Não tem nenhum rio com essa força toda. No mar é preciso respeitar. Todos. Até um rio grande deve
respeito no mar.”
“Mentira, qual nada! Não é o rio que entra no mar? Nenhum dia nem noite o mar entrou pelos rios dentro deles
a molhar as tuas nacas de milho com água salgada. Nenhuma noite nem nenhum dia.”
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“Mas o mar é muito mais grande que todos os rios. Na contra-costa, já me explicaram, a gente fica só a olhar e
não tem outro lado da água, é tudo azul até no fim que não se vê. O mar é muito grande e as ondas dele têm muito mais
força que os rios todos juntos. Xé!”
“O mar é só assim por causa dos rios que lhe trazem a água. Os rios é que enchem o mar. Nenhum dia viste um
mar encher um rio, já falei. Isto é tudo água que vem da nossa terra. Sem a nossa terra, sem os rios que atravessam
muito tempo, devagar e depressa, depressa e devagar, a secar e a encher na chuva, onde é que estava o mar? Sem a
nossa terra, onde nascem os rios, o povo daqui não tinha mar para pescar. Não há mar sem rio, eu já falei.”
“E também não tinhas peixe sem mar. E não tinhas feito uma cacimba sem o mar” – pilheriou Noíto com risadas
mas a meditar. O marido tinha cabeça. A ela nunca lhe havia passado na ideia. Afinal era mesmo isso. Os rios nascendo
assim de um fiozinho de água, serpenteando e engrossando por entre as colinas debruadas de floresta, os rios é que
eram a mãe da vida.
“Mas, Zacaria. Tira daí esse teu feitiço de fazer uma cacimba sozinho, arrancar a areia com uma corda e um
balde e encontrares na água, na pá e na enxada. Tira isso!”
“Porquê?”
“Para não abusares de Deus e do diabo.”
“Mas não devíamos perder isso.”
“Guarda na cabeça. Tu é que ensinaste. Se guardas assim, a mostrar, roubam-te. Na cabeça nunca nos roubam.
Ou então ainda te prendem. Ou não ouviste já estórias de pessoa que prenderam por estar só a pensar uma coisa que
nem era?”
E Zacaria, mão na barba (…), foi desmontando e mostrando, para a mulher, uma certa tristeza de recordação
sem despedida. Kwanza descascara os cocos com a faca de Kakuarta. Dois furos em cada um. E a água boa na boca
de Noíto e Zacaria. Depois começaram a comer a noz que o miúdo tirara de sapiência, quase inteira no arredondamento.
Zacaria, de vez em quando, levava a mão esquerda à omoplata direita, apalpava e fazia um esgar de dor.
(…)
Kwanza artilhou as linhas ante a curiosidade de Zacaria, lembrando-se das canas de bambu, da sua infância, a
bóia, bocado de cabaça por onde passava a linha, tudo tão diferente.
O miúdo iscou a linha de Noíto, lançou ele, recolheu um pouco e entregou para as mãos dela. Depois, artilhou a
outra linha, afastou-se cinco passos e atirou-a, chumbada a badalar no mar.
“Vó! Vó! Puxa! Puxa!”
A linha começara a fugir das mãos de Noíto.
“Puxa! Tem peixe com ele!”
Uma mão à frente da outra, Noíto a recolher a linha com energia.
Era um parguete mulato de dois palmos.
A ÁFRICA E A EUROPA
O fracasso da recente cimeira Europa-África não tem sido objecto de qualquer análise séria nos media europeus.
No contexto global em que vivemos, esta ausência é preocupante, pois revela que a Europa ou nunca entendeu a África
ou deixou de a entender.
O silêncio diz tudo: “Isto é África. O que se espera?” Há um ditado africano que diz: “Enquanto a história da caça
ao leão for contada pelos caçadores, os leões serão sempre predadores.” O pouco de história de África que os europeus
conhecem é a história do caçador, a história europeia de África, e enquanto isto não mudar a África só confirmará aos
europeus o que já “sabem” dela. Ou seja, nada que sirva para fundar outro tipo de relações que não as coloniais e as
neocoloniais.
Para começar, seria importante ter em mente que a recente cimeira ocorreu no seguimento de várias outras – a
Cimeira África-EUA, em 2005, a Cimeira África-América Latina, em 2006, e a Cimeira África-China, em 2007 – e que
todas elas, sobretudo as duas últimas, tiveram resultados palpáveis, apesar de terem ocorrido com parceiros para quem
a África, até há pouco, era algo estranho e remoto. Ou seja, ao contrário da Europa, os novos parceiros não tiveram
dificuldades em entender a nova África.
E O QUE É A NOVA ÁFRICA? É uma África que procura aprender as lições da globalização neoliberal, para
receber dela não apenas os custos, como até aqui, mas também pulso de pan-africanismo, mais pragmático do que o
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anterior, centrado em instituições novas ou renovadas, quer de âmbito continental (a União Africana) quer de âmbito
regional (por exemplo, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC), apostado em resolver com recursos
internos as crises que ocorrem (do Darfur ao Quénia) e alimentando-se das vitórias que nascem da união. Em suma, a
África sente que é preferível caminhar com os seus próprios pés, mesmo que sangrem, do que com muletas, mesmo que
de ouro.
Por outro lado, a nova África interroga-se hoje intensamente sobre donde vem. Está em curso uma revisão
profunda da história do colonialismo, que envolve uma reflexão sobre a África pré-colonial. O debate é intenso, mas
emerge dele um sentimento de que a África não pode desperdiçar nenhuma experiência histórica africana, mesmo que
ela tenha sido desvirtuada e manipulada pelo colonialismo. Daí uma reavaliação dos sistemas de governo tradicionais
(as autoridades tradicionais) e o modo como podem ser postos ao serviço de uma democracia que não seja apenas uma
imitação ou imposição ocidental.
A QUESTÃO DA RELAÇÃO entre cidadania e etnicidade torna-se premente. Mas os africanos sabem que por
detrás do “tribalismo” de que a África é acusada pelo Norte desenvolvido está o verdadeiro tribalismo, o tribalismo que
divide a África em duas tribos: a dos que têm tudo e a dos que não têm nada, a imensa maioria. É neste tribalismo
profundo que assenta o tribalismo que interessa aos media ocidentais. Violência no Quénia? “Isto é África. O que se
espera?”
(…)
A imaginação catastrófica do Ocidente não sabe ler África senão através de metáforas apocalípticas, como
genocídio e limpeza étnica. Se procurasse entender, veria que por detrás da violência estão conflitos de terra e pelo
controlo de recursos naturais. E também em relação a eles a Europa não se pode considerar inocente. A politização da
etnicidade começou com o colonialismo e se, depois das independências, as potências colonizadoras tivessem cumprido
os compromissos assumidos de facilitar a reforma agrária, a tribo dos camponeses pobres não existiria hoje. De África, a
Europa só vê as realidades que confirmam a sua nostalgia do colonialismo.
A literatura angolana é já secular. Mas não o é porque sob a forma escrita ela se sedimenta no século XIX. A
criação verbal oral é bem mais antiga. Remonta aos primórdios da própria comunicação humana. Por isso, qualquer
definição de literatura angolana hoje não pode perder de vista aquele segmento a que se chama oratura ou literatura
oral. Trata-se de um acervo de textos orais que podem presentemente ser conservados com recurso a escrita.
Conscientes do seu valor andavam alguns autores do século XIX. Não faz sentido ignorar tais aspectos, na medida em
que eles traduzem muito mais do que isso. Revelam a coexistência de três tradições em que a literatura angolana se
desenvolve. A mais antiga, a literatura oral ou oratura, é aquela que nos remete para os tempos imemoriais.
Quando, nos anos 60, o linguista ugandês Pio Zirimu forjou o termo oratura, tal se produzia no calor de um
debate que decorria nas universidades de Makerere no Uganda, Nairobi no Quénia e Dar es Salaam na Tanzânia sobre
a hegemonia das línguas europeias. Mais de quarenta anos passados, são muitos os defensores da ideia segundo a qual
a oratura não é apenas uma vertente das literaturas modernas em África. Encerra em si as conotações de um
sistema estético, um método e uma filosofia.
Mas se tivéssemos que acompanhar os debates que se desencadearam em Angola sobre o uso das línguas
locais e das suas literaturas orais, iríamos encontrá-los nos jornais publicados em Luanda no século XIX. Tal era o vigor
das reflexões que autores como Joaquim Dias Cordeiro da Matta e o suíço Héli Chatelain deixaram para a história
valiosas recolhas. No entanto, a atitude assumida por J. D. Cordeiro da Matta não pode ser comparada com a de Héli
Chatelain, na medida em que, no plano do conhecimento, o primeiro desenvolve uma visão a partir de uma visão
endógena. O segundo é movido por um interesse fundamentalmente etnográfico e exógeno (…).
Em todos os trabalhos de pesquisa realizados sobre a literatura oral angolana nos séculos XIX e XX, os
provérbios ocuparam sempre um lugar de destaque. (…) No contexto plurilinguístico angolano, podemos hoje falar
de uma teoria dos géneros da literatura oral angolana. O ensaísta angolano António Fonseca, a partir dos materiais
do século XIX, articulou uma sistematização que permite identificar os mesmos géneros, apesar de distintas as
denominações, em todas as línguas nacionais. (…)
No quadro da classificação de textos literários orais, o provérbio representa o tipo de textos que, apesar da
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sua autonomia, pode, no entanto, entrar na construção de outros textos. Constituindo uma categoria de um conjunto que
inclui ditados e máximas, caracteriza-se pela brevidade, associando-se-lhe uma estética da transmissão de
pensamentos, crenças, ideias, valores e sentimentos. No que à sua estrutura diz respeito, o provérbio é um texto
sintético e de uma grande densidade semântica.
Um provérbio carrega sempre dois sentidos: um sentido literal e um sentido conotativo, implicando um
significado secundário. A passagem do primeiro ao significado secundário, cuja coerência é possível detectar em
determinadas circunstâncias, constitui o núcleo da sua beleza, justificando, por isso, o esforço de interpretação que ele
exige. A estrutura dos provérbios normalmente é bipartida, apresentando premissas em dois membros ou orações da
frase, numa configuração aparentemente silogística.
(…)
Além do sentido literal e do sentido conotativo, há que referir o tema, isto é, a lição a reter, a síntese do que
subjaz ao significado das palavras e de que se parte para extracção da ideia, do valor, do pensamento, enfim, o
ensinamento moral ou filosófico. Ao incidirmos sobre o tema, estamos a dar destaque à natureza pedagógica dos
provérbios, porque deste modo a eles se recorre para se exprimir algo que diga respeito aos diferentes aspectos da
vida.
O SUICIDIOTA
CENA ÚNICA
(Cena nua. Em primeiro plano, um banco comprido coberto por um pano preto. Do lado do público , um abismo
imaginário. Um homem entra com intenção de se suicidar, lançando-se no vazio. Hesita)
SUICIDA
(de cima do banco, reparando no público)
Vá! Dêem-me uma boa razão para eu não o fazer… para vocês é fácil, aí sentados a olhar para mim. Não vos
custa nada, o problema não é vosso. Mas eu tenho boas razões para estar aqui… Além do mais sempre me atraíram as
alturas… A vertigem… Essa bocarra a agarrar-nos pelo umbigo, a puxar, a puxar… É como voltar a ter o cordão a ligar-
nos à mãe perdida, ao calor e segurança do útero, à calma total, ao nada… (tem um ligeiro desequilíbrio) Não, cair não…
Quando saltar, há-de ser por vontade própria… Sou eu que decido!
NOIVA
(aproximando-se por trás, receosa e em lágrimas)
Meu amor, o que estás aí a fazer?.... Olha que podes cair… Desce daí, meu amor…
(…)
NOIVA
Por favor… Não faças isso… Desce…
SUICIDA
Mas isso o quê, caraças! (à parte) Até tiram a vontade de um tipo se suicidar, (alto) Se não desapareces daqui
é que me atiro mesmo!...
(A Noiva retira-se a chorar; o Suicida senta-se no banco, com os pés para o abismo) São todas iguais…
Incapazes de entender um gesto elevado, de compreender o que quer que seja… Agora já nem me lembro por que é que
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me queria matar… Idiota! (deita-se no banco e fecha os olhos; aparece um enorme Pássaro Negro; olha atentamente
para o Suicida e depois retira-se; e esfrega as mãos e o corpo; olha fixamente para o abismo) Será que eu consigo?...
(põe-se de pé no banco, voltado para o público; fecha os olhos)
(…)
(Barulho intenso de cidade. Contra-luz. Um foco ilumina uma Mulher Bonita. Esta fala como se o Suicida
estivesse diante dela)
MULHER BONITA
Sabes que não tens razão! Eu fiz tudo o que podia… Não dá mais, não consigo, preciso de respirar, de ar, não
posso passar a vida numa gaiola… Tu até tinhas obrigação de me entender… Nunca te vi desenhar pássaros presos,
estão sempre a voar bem alto, livres, perdidos no céu… Quero ser como eles!... (pausa longa) Percebes, não é?... É só
isso, não tem nada a ver contigo… Quero ser um dos teus pássaros, poder voar… Mas sem te pertencer… Não me levas
a mal, pois não?... Tchau! (fim de contra-luz).
SUICIDA
Um dos meus pássaros!... Com aquele cu como é que pode querer ser um dos meus pássaros?... Que se lixe
também ela! (fixando o abismo) Que isto é alto, não há dúvida. Se saltar fico mesmo feito em pedaços… Em pedaços,
inteiro, que mais dá? Só preciso mesmo de tomar a decisão.
(Abaixa-se e fica de cócoras no banco. Contra-luz. Dois militares estão de pé por trás dele, fixando-o com
atenção. O Suicida não se volta, mesmo quando eles falam)
MILITAR 1
Os seus argumentos têm uma certa lógica, mas eu pessoalmente continuo sem perceber por que razão você
não disparou no exacto momento em que os seus camaradas o fizeram. Nunca se saberia quem foi o autor do tiro fatal.
Era por isso mesmo que uma dessas armas, logo por azar a sua, estava carregada com balas de verdade e as outras
não. Para todos serem responsáveis e nenhum ser culpado. Não consegue entender isto?
(…)
Agora com a sua indecisão e a sua demora em disparar, pôs em cheque os seus camaradas, fez o papel de
bonzinho e obrigou-nos a ser o que não queríamos – desumanos! Porque isso sim, fuzilar um homem duas vezes é ser
desumano… Como diz? (pensa que o Suicida tinha dito algo, mas este abana a cabeça para dar a entender que não
disse nada) Ponha-se no meu lugar, você é um militar, fez a sua instrução, sabe perfeitamente quais são as regras
disciplinares, sabe que tem de cumprir as ordens superiores sem as discutir… Por que razão não reagiu à ordem de fogo?
MILITAR 2
E não venha outra vez com essa história da imagem do homem a desfazer-se em pedaços e a explodir em todas
as direcções, porque isso só acontece nos filmes de bonecos. Normalmente caem redondos, sem dizer um ai. Inteiros!
MILITAR 1
Nós vamos ter em consideração o seu passado, os bons serviços que prestou, mas olhe que não se vai livrar de
uma punição rigorosa. Foi um péssimo exemplo para todos os seus camaradas. Em guerra não podemos ter sentimentos.
Ou são eles, ou somos nós!...
(…)
(Fim lento do contra-luz. O Suicida vai erguendo-se em câmara-lenta, até ficar de pé. Levanta os braços. Sempre
levantamento, esboça o movimento de um pássaro a voar. Ouvem-se gargalhadas. Passam três jovens com ar de quem
bebeu de mais. Riem muito depois de cada fala)
JOVEM 1
(para os outros)
Olha para aquele! Julga que é um passarinho…
JOVEM 2
Ó amigo! Olhe que se esqueceu da asa delta…
JOVEM 3
Se quiser um pára-quedas, eu empresto…
(…)
(Saem a rir, cruzando-se com um Polícia, que os olha desconfiado. Este dirige-se ao Suicida)
POLÍCIA
O que é que o senhor está a fazer aí em cima do muro?
SUICIDA
(meio irritado com a interpelação)
O que vê! A apreciar a paisagem…
POLÍCIA
Não se arme em esperto comigo. Desça daí imediatamente. Não sabe que não pode danificar o património
público?... Desça daí? (o Suicida obedece com relutância) Os seus documentos! (o Polícia afasta-se um pouco para lê-
los melhor, mas não nota nada de anormal) Vou ficar de olho no senhor. Quando voltar a passar, não o quero ver mais
aqui, entendido? (o Suicida encolhe os ombros; o Polícia sai)
SUICIDA
Mas por que é que não me deixam em paz? Um tipo nem sequer pode reflectir se quer morrer ou viver. É tudo
a chatear… Uns a agarrar, outros a empurrar, acabamos por não ter tempo para saber o que queremos.
(…)
[O Suicida] Estremece com um arrepio. Senta-se lentamente. Contra-luz. Por trás dele ilumina-se um espaço
com luz vermelha. Duas mulheres dançam em silêncio uma dança lasciva. O Pássaro Negro surge e faz amor com uma
delas, enquanto a outra o abraça e afaga. Ouvem–se, gravados, gemidos e arfares. A luz e o som vão esbatendo-se, à
medida que o Suicida vai ficando iluminado. A mulher que faz amor com o Pássaro soergue-se)
MULHER 1
Chamaste-me?
(…)
SUICIDA
Não te chamei. Mas já que está aqui, se quiseres podes ficar um bocadinho.
MULHER 1
Eu não vou onde não me chamam… (faz menção de se retirar) Nunca fico muito tempo onde não posso amar.
SUICIDA
E quem te disse que aqui não podes amar? Não estou aqui eu?
MULHER 1
(quase a sair)
Tu já não estás aí! Tu não existes!
SUICIDA
Olha para esta! Só porque disse que não a chamei. Parece que ficou ofendida, a cabra…
(Entram todos os actores e sentam-se no palco como se fossem também espectadores. Fixam o Suicida)
SUICIDA
O que é que foi? Por que é que estão todos a olhar para mim? (gira sobre si no banco, dirigindo-se ora aos
actores, ora aos espectadores) O que é? Nunca me viram? Nunca viram um homem a suicidar-se? O que é que vocês
querem? Espectáculo? Querem ver como me mato?... Não queriam mais nada, não? O suicídio é uma coisa séria, um
acto íntimo, sagrado. O que é que vocês queriam? Que me matasse aqui mesmo? Mato-me mas é o caraças, seus
merdas. EU QUERO VIVER! Matem-se vocês primeiro, seus…
(Tanto gira que se desequilibra e acaba por cair no abismo, com um grito medonho e prolongado. O Pássaro
Negro aproxima-se e cobre-o com as asas. Entra o Polícia, olha em volta com atenção, não vê ninguém, afasta-se com
ar satisfeito)
POLÍCIA
Foi-se embora… Eu sabia! O respeitinho pela farda ainda é uma coisa muito bonita!
José Mena Abrantes, Teatro (2º volume) (Angola), Ed. Cena Lusófona, 1999 (texto com supressões)
In MAGALHÃES et alii, Língua Portuguesa 12ª Classe. Portugal: Porto, 2008, págs.136-140
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Manuel Rui, Quem me dera ser onda, 7ª ed., Ed. Cotovia, Lisboa, 2004
In MAGALHÃES et alii, Língua Portuguesa 12ª Classe. Portugal: Porto, 2008, págs.145-148
ANA, ZÉ E OS ESCRAVOS
(Os escravos são trazidos aos empurrões debaixo de uma grande assente, deitada, em cima de quatro cubos,
formando uma espécie de mesa. Entram D. Ana, o Padre e o capitão do Navio Negreiro, como se atravessassem
corredores escuros e estreitos.)
D. ANA
Venha ver, Padre. Sem medo… Não lhe tinha dito? Passaram-se já anos desde a abolição do tráfico e nunca
deu tanto lucro embarcar estas «cabeças de alcatrão» para o Brasil. Com receio que a fonte se esgote, até os mais
tímidos se meteram no negócio. Não há como uma boa proibição para espevitar a iniciativa criadora dos comerciantes.
PADRE
Mas não corre o risco de mais tarde ou mais cedo ser envolvida nalgum escândalo legal? A Igreja de Lisboa, por
exemplo, tem insistido comigo para que denuncie os maus tratos contra os escravos e condene o transporte da mão-de-
obra para fora da Província.
D. ANA
(ao Capitao)
Dizemos-lhe, Capitão?
CAPITÃO
(encolhendo os ombros)
Se o Senhor Padre fala de facto com Deus, com certeza que este já lhe contou tudo o que há para contar.
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D. ANA
(ao Padre)
Vê estes túneis? Levam directamente aos porões dos meus navios que partem para o Brasil… (apontando aos
escravos) Só aqui estão 200… o que vem a dar… aí uns 150 contos de reis. Depois, o resto é com o Capitão, que é
pessoa discreta…
PADRE
(ao Capitão)
Mas não tem receio de um dia ser apanhado? Com todos esses navios ingleses a patrulhar as nossas águas…
CAPITÃO
Eu cá não nasci para ter medo. No embarque da carga está tudo em ordem. Só entram cascos de… azeite com
água doce. Lá fora, em viagem, só se deixa agarrar quem não tem unhas.
D. ANA
E quanto ao problema legal… Adivinha quem vem cá jantar esta noite?
PADRE
Oh, D. Ana! Outra vez o Governador em sua casa?... Olhe que já se comenta na Igreja…
D. ANA
Invejas, Padre. O que lhes rói é eu estar de bem com o novo Governador. Mas vem também jantar, Padre. É
uma ceia quase íntima…
PADRE
Como não, D. Ana. A propósito, ainda tem daquela água ardentezinha da sua fazenda?...
(…)
(A cala é definida pelas suas estruturas, com as grades colocadas. Deitado na tábua assente em dois cubos, Zé
do Telhado dorme agitado, debatendo-se com um pesadelo e com o calor. Um degredado, seu companheiro de cela,
olha-o em silêncio. Zé do Telhado grita e acorda de repente, sobressaltado.)
ZÉ DO TELHADO
Onde estou? O que se passa?
DEGREGDADO
(trocista)
Calma, amigo. Estás na fortaleza de S. Miguel, cidade de S. Paulo de Assunção de Luanda, Colónia de Angola,
ano de 1862… Não te preocupes. A primeira noite é a mais difícil.
ZÉ DO TELHADO
Água… não há aqui água (o degredado estende-lhe uma lata e observa-o), sonhei que estavas de novo a ser
preso… (começa a reconhecer a cela com o olhar). Como é isto aqui?
DEGREDADO
Já te irás habituando… Está à vontade. (apresenta-se) O meu nome é Joaquim Figueiras. Mas todo mundo me
trata por «figuerinhas»…
ZÉ DO TELHADO
A mim conhecem-me por Zé do Telhado…
DEGREDADO
(erguendo-se surpreendido)
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ZÉ DO TELHADO
Esteve por pouco, mandaram-me para cá quando já só faltavam uns 10 centímetros de parede… (inspecciona
a ceda) E daqui, com é? Foge-se?
DEGREDADO
Para onde? O melhor é ficares quieto. Se te portares como eles querem, até te deixam passear à vontade pela
cidade. Senão, apodreces aqui dentro até ter juízo. Às vezes somos piores que escravos…
ZÉ DO TELHADO
…Mas isso não acabou já?
DEGREDADO
Acabar? Os escravos? E depois quem é que trabalha nesta terra?... (mudando de conversa) Mas conta como é
que te agarraram, ao fim de todos estes anos?...
ZÉ DO TELHADO
Um dos meus homens… por causa da «massa» e de uma «gaja». Nunca percebeu que não éramos bandidos
iguais aos outros…
(…)
(Todos os actores que faziam comentários na cena anterior, imobilizam-se numa «muralha» humana, que
pretende representar a mata. O empacasseiro desapareceu para além deles.)
EMPACASSEIRO
(voltando para junto de Zé do Telhado)
Patrão! O boi-cavalo que costumas montar, soltou-se e anda não se sabe bem por onde.
ZÉ DO TELHADO
Vai saber pra que sítio fugiu. Naturalmente foi parar a uma povoação e têm-no lá preso para receber recompensa.
Então?...
EMPACASSEIRO
O boi-cavalo encontra-se preso numa sanzala pertencente ao soba Muteca.
ZÉ DO TELHADO
Bem, vai buscar o boi, mas não digas que pertence ao «Kimuezo».
EMPACASSEIRO
O soba não entrega o boi-cavalo sem lhe pagarem cinquenta cabeças de gado.
ZÉ DO TELHADO
Só?
EMPACASSEIRO
O patrão fala só? São cinquenta…
ZÉ DO TELHADO
E por que é que ele pede este preço?
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EMPACASSEIRO
Pelo estrago que fez nas lavras, e aindsa…
ZÉ DO TELHADO
Ainda o quê?...
EMPACASSEIRO
…para pagar multa pelo atrevimento
ZÉ DO TELHADO
Volta lá e previne-o que é melhor entregar o boi-cavalo sem mais palavreado.
EMPACASSEIRO
Digo-lhe de quem é o boi-cavalo?
ZÉ DO TELHADO
Não dizes coisa nenhuma. Que entregue o boi e que não se atreva a perguntar mais nada.
EMPACASSEIRO
O soba declara terminantemente que o boi cavalo não sai das suas terras enquanto o dono não lhe pagar os
prejuízos e a multa…
ZÉ DO TELHADO
Muito bem! Vou lá eu…
(Zé do Telhado agarra numa espingarda e avança em direcção da «muralha» humana estática que, nesse
momento, se anima e se transforma no povo da aldeia do soba. Enquanto recuam, ouvem-se vozes: «vem aí o ‘Kimuezo’!
Vem aí o ‘Kimuezo’!» Os filhos do soba recebem Zé do Telhado…)
FILHO 1
Que pretende, Kimuezo?
ZÉ DO TELHADO
Quero ver o soba, imediatamente!
FILHO 2
Não pode vir, está doente. Como ele é teu amigo e tu és grande e forte, manda-te dizer, pela minha boca, que
te autoriza a levares não só o teu boi-cavalo, mas ainda tudo quanto quiseres desta povoação.
ZÉ DO TELHADO
Não pretendo nada. Só quero ver o soba.
(Quando o soba finalmente resolve a aparecer, Zé do Telhado mata-o com uma coronhada da arma na cabeça.
Todos ficam imobilizados).
(ao empacasseiro): - Vai buscar o nosso boi-cavalo. Toca diante de ti todo gado que encontrares nesta povoação.
(aos filhos do soba): - Andem lá para diante! De hoje para o futuro ficaram sendo meus escravos…
(…)
Minha Mãe
(todas as mães cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis…
Mas a Vida
matou em mim essa esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Nós mesmos
nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as Mães
cujos filhos partiram)
vamos em busca da Vida!.
José Mena Abrantes, in Dolbeth & Pereira, Português 12ª Classe, Angola: Texto, 2006, págs. 133-141.
(*) Excerto do poema «Adeus à Hora da Largada», de Agostinho Neto.
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BIBLIOGRAFIA
AULETE DIGITAL. Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa. Brasil: Lexikon Editora digital. [Em linha], URL: <
http://www.auletedigital.com.br> [página disponível em 10/12/2015].
DOLBETH, Luisa / PEREIRA, Anny. Português, 11ª Classe, 2º Ciclo do Ensino Secundário. 1ª Edição. Luanda: Texto
Editores, 2010.
_____________________________ Português, 12ª Classe, 2º Ciclo do Ensino Secundário, Reforma Educativa. 1ª
Edição. Luanda: Texto Editores, 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. 3ª Edição. Brasil: Positivo, 2004.
[Em linha], URL: <http://www.4shared.com/rar/tXgFx3D1/Dicionario_-_Novo_Dicionario_A.html> [página
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FLORIDO, Maria Beatriz / SILVA, Maria Emília Duarde da. Gramática básica da Língua Portuguesa. 1ª Edição. Portugal:
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_____________________________ Programas de Língua Portuguesa, 10ª, 11ª e 12ª Classes, 2º Ciclo do Ensino
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MAGALHÃES, Olga / COSTA, Fernando / SILVA, Lília. Língua Portuguesa, 11ª Classe, Reforma Educativa. 1ª Edição.
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MAGALHÃES, Olga / COSTA, Fernando. Língua Portuguesa, 10ª Classe, Reforma Educativa. 1ª Edição. Portugal: Porto
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MESQUITA, Helena / PEDRO, Gonçalves. Língua Portuguesa, 1º Ciclo do Ensino Secundário, 9ª Classe, Reforma
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SANTOS, Maria Eduardo Vaz Monis dos. Desafios Pedagógicos para o Século XXI. 1ª Edição. Lisboa: Horizonte, 1999.