Sei sulla pagina 1di 60

BIBLIOTECA ESCOLAR

da
Escola Secundária com 3º CEB de Tondela

O Prazer
Do Livro
E da Leitura
Pela Voz
Dos Autores
Semana do Livro e do Autor
19 a 23 de Abril de 2010
BIBLIOTECA ESCOLAR
da
Escola Secundária com 3º CEB de Tondela

O Prazer
Do Livro
E da Leitura
Pela Voz
Dos Autores

CAPA
La Tour, Leitora Semana do Livro e do Autor
19 a 23 de Abril de 2010

SUMÁRIO
NOTA INTRODUTÓRIA ……………………………………………………………………………………………. 4
ELENCO DOS ESCRITORES CITADOS E PINTORES REPRESENTADOS:
Miguel de Unamuno.………………………………………………………………….............................. 6
Alexandre Honrado/ Mark Arian.……………………………………………………………………………. 7
António Alçada Baptista/ Chirico.……………………………………………….............................. 8
Carlos Luís Záfon.……………………………………………………………………………......................... 9
Beardsley.……………………………………………………………………………………………………………… 10
Eça de Queiroz.………………………………………………………………………………………………………. 11
Umberto Eco/ Botticell..…………………………………………………………………......................... 12
Edith Chacon Theodoro.……………………………………………………………………………………….. 13
Carlos Drummond de Andrade/ Vuillard.………………………………………………………………… 14
Eugénio Lisboa/ António Bandeira.………………………………………………………………………… 15
Fernando Pessoa/ Van Gogh.……………………………………………………............................... 16
José Jorge Letria/ Pat Lewis..………………………………………………………………………………… 17
José Jorge Letria/ Jan McDonald..…………………………………………………………………………… 18
Jostein Gaarder e Klaus Hagerup/ John Scarlett Davis.……………………………………………. 19
Manuel Alegre/ Rembrandt.…………………………………………………………………………………… 20
Manuel Alegre………………………………………………………………………………………………………… 21
Paul Valéry/ Picasso……………………………………………………………………………………………….. 22
Michel Tournier………………………………………………………………………………………………………. 23
Orphan Pamuk/ Beardsley……………………………………………………………………………………… 24
Oscar Wilde/ Rossi…………………………………………………………………………………………………. 25
Pedro Salinas/ Picasso…………………………………………………………………………………………… 26
Marguerite Yourcenar/ Arcimboldo………………………………………………………………………… 27

2
Julien Green/ Rembrandt……………………………………………………………………………………….. 28
Paul Morand/ Chirico……………………………………………………………………………………………… 29
François Mauriac/ Michel Déon……………………………………………………………………………… 30
D. Duarte/ Botticelli……………………………………………………………………………………………… 31
Garcia de Resende/ Rembrandt……………………………………………………………………………… 32
Fernando Pessoa…………………………………………………………………………………………………….. 33
Almada Negreiros…………………………………………………………………………………………………… 34
Gustave Flaubert/ Raissiguier…………………………………………………………………………………. 35
Stendhal/ Picasso……………………………………………………………………………………………………. 36
Eugenie Montale/ Salvador Perez…………………………………………………………………………… 37
Ortega y Gasset/ José Ferraz de Almeida………………………………………………………………… 38
Azorín/ Marchetti…………………………………………………………………………………………………… 39
Almada Negreiros/ Almada Negreiros…………………………………………………………………… 40
Almeida Garret/ Mattisse……………………………………………………………………………………….. 41
André Malraux/ Amadeo de Souza-Cardoso……………………………………………………………. 42
Vladimir Nobokov…………………………………………………………………………………………………… 43
Octavio Paz/ Picasso………………………………………………………………………………………………. 44
André Gide/ Aung Kyaw Htet………………………………………………………………………………… 45
Santo Agostinho/ Damaskinos………………………………………………………………………………… 46
Padre António Vieira/ Beardsley…………………………………………………………………………… 47
Henry de Motherlant/ Manet…………………………………………………………………………………. 48
Proust/ Picasso………………………………………………………………………………………………………. 49
Virginia Woolf/ Elizabeth Solomon………………………………………………………………………… 50
Descartes/ Rembrandt……………………………………………………………………………………………. 51
Colette/ Saunier……………………………………………………………………………………………………… 52
Roland Barthes/ Visconti………………………………………………………………………………………… 53
Hermann Hesse/ Toulmouche………………………………………………………………………………… 54
Miguel Torga/ Henry Lamb……………………………………………………………………………………… 55
Elizabeth Barret Browning/ Weyden………………………………………………………………………. 56
Luís Vaz de Camões/ Renoir…………………………………………………………………………………… 57
Jean Cocteau/ Macke……………………………………………………………………………………………… 58
Ernst-Roberty Curtius/ Vermeer……………………………………………………………………………… 59
Valery Larbaud/ Fragonard……………………………………………………………………………………… 60

3
NOTA INTRODUTÓRIA

O livro, o leitor, a leitura: tal como refere David Mourão-Ferreira


(1986)*, “uma mensagem que é também um objecto; um
destinatário que é igualmente um consumidor; uma actividade
que pode ser um passatempo, um culto, uma profissão, um
recurso, uma necessidade, uma operação altamente
especializada. E nunca deixa de pressentir-se, como geradora de
luz, uma sombra na sombra desta mesma luz: a presença do
próprio autor.”

Os breves excertos de obras de escritores que aqui se


apresentam evidenciam sobretudo o prazer do Livro e da Leitura,
mas reflectem igualmente opiniões e testemunhos alicerçados
em experiências tão valiosas quanto duais: a de alguns autores
que simultaneamente foram leitores - ou alguns leitores que
também foram autores - e que dão a conhecer, não só as suas
4
perspectivas perante o livro e a leitura, mas também,
indirectamente, o modo como eventualmente gostariam de ser
lidos.

De novo citando Mourão-Ferreira (idem) “Ouve-se sempre com


proveito, a respeito de um templo, o arquitecto que já construiu
outros templos; e, sob diferentes aspectos, ainda mais o
sacerdote que dos templos conhece a específica função
espiritual. Arquitectos e sacerdotes são simultaneamente os
autores; (…)”

E como a leitura não se esgota no palavra, sugerimos que se


“escute” também a voz feita imagem dos pintores que “falaram”
do livro, do leitor, da leitura.

A professora colaboradora da Biblioteca Escolar

da Escola Secundária com 3º CEB de Tondela,

Maria Elisa Figueiredo

* Mourão-Ferreira, D. (1986). Editorial. In Boletim Cultural, VI Série –Nº6. Lisboa:


Fundação Calouste Gulbenkian.

5
LER, LER, LER, VIVER A
VIDA

QUE OUTROS
SONHARAM

Miguel de Unamuno

6
 Alexandre Honrado

O melhor do mundo, para mim, continua a


ser... as histórias. As que nos contam, as
que inventamos, as que nos contam e que
misturamos com as que inventamos.
Histórias.
In Lágrimas quebradas

Mark Arian, Livro Ilustrado

7
 António Alçada Baptista

Uma vez convidaram-me para ir à Faculdade de Letras


onde havia um colóquio sobre três poetas de que eu

gostava muito e de quem fui amigo: Vitorino

Nemésio, Jorge de Sena e o Ruy Belo. Não percebi

nada do que disseram sobre eles. Falaram-me no

transtexto, no metatexto, no hipertexto e a poesia

daqueles meus saudosos amigos ficou inteiramente


fora da minha compreensão.
In A cor dos dias

Chirico, O Arqueologista

8
 Carlos Luís Záfon

(...) - Este lugar é um mistério, Daniel, um


santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem

alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos


que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada
vez que um livro muda de mãos, cada vez que

alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu


espírito cresce e torna-se forte.(...) Quando uma
biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha

as suas portas, quando um livro se perde no


esquecimento, os que conhecemos este lugar, os
guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui.
Neste lugar, os livros de que já ninguém se
lembra, os livros que se perderam no tempo,
vivem para sempre, esperando chegar um dia às
mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na
loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na
realidade os livros não têm dono. (...)

In A Sombra do Vento
9
Beardsley, Pierrot

10
 Eça de Queirós

E nem sei se depois adormeci - porque os meus pés,

a que não sentia nem o pisar nem o rumor, como se

um vento brando me levasse, continuam a tropeçar

em livros num corredor apagado, depois na areia do

jardim que o luar branqueava, depois na Avenida dos

Campos Elísios, povoada e ruidosa como numa festa


cívica. E, oh portento! Todas as casas aos lados eram
construídas com livros. Nos ramos dos castanheiros

ramalhavam folhas de livros. E os homens, as finas

damas, vestidos de papel impresso, com títulos nos


dorsos, mostravam em vez de rosto um livro aberto, a

que a brisa lenta virava docemente as folhas. Ao

fundo, na Praça da Concórdia, avistei uma escarpada

montanha de livros, a que tentei trepar, arquejante,

ora enterrando a perna em flácidas camadas de


versos, ora batendo contra a lombada, dura como um

calhau, de tomos de Exegese e Crítica. (...) E assim


ascendi ao Paraíso.

In A Cidade e as Serras

11
Botticelli, Madonna del Magnificat (pormenor)

 Umberto Eco

O bem de um livro reside em ser lido. Um livro é feito


de signos que falam de outros signos, os quais, por
sua vez falam das coisas. Sem olhos que o leiam, um
livro é portador de signos que não produzem
conceitos, e portanto é mudo.

12
 Edith Chacon Theodoro

Ler

Ler sempre.

Ler muito.

Ler "quase tudo".


Ler com os olhos, os ouvidos, com o tacto,

pelos poros e demais sentidos.

Ler com razão e sensibilidade.


Ler desejos, o tempo, o som do silêncio e do

vento.

Ler imagens, paisagens, viagens.


Ler verdades e mentiras.

Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível, o

impensável, as entrelinhas.
Ler na escola, em casa, no campo, na estrada,

em qualquer lugar.
Ler a vida e a morte.

Saber ser leitor, tendo o direito de saber ler.

Ler simplesmente ler.

13
Vuillard, Rapariga a ler nas ervas

 Carlos Drummond de Andrade

Mas leio, leio. Em filosofias


tropeço e caio, cavalgo de novo
meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas
me vejo viver. Como te devoro,
verde pastagem. (…)

Tudo o que sei é ela que me ensina.


o que saberei, o que não saberei
nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente.
In “Biblioteca Verde”

14
 Eugénio Lisboa

Em sentido muito real, as pessoas que leram boa

literatura viveram mais do que as pessoas que não sabem

ler ou não se querem dar ao trabalho de ler... Não é


verdade que tenhamos uma só vida para vivermos; se

soubermos ler, poderemos viver tantas vida e tantas

variedades de vida quantas desejarmos.

Ler é transformarmo-nos de um em muitos - de singular

em plural.
In Diálogos com a literacia , org. Helena Cidade Moura

António Bandeira, Leitura


15
Van Gogh, Livros

 Fernando Pessoa

Leio e estou liberto. Adquiro objectividade. Deixei de ser eu e


disperso. E o que leio, em vez de ser um trajo meu que mal
vejo e por vezes me pesa, é a grande clareza do mundo
externo, toda ela notável.

In Livro do Desassossego. Bernardo Soares

16
Pat Lewis, Doces Sonhos

 José Jorge Letria

Os livros são a metade dos sonhos que

tu tens...
In “Ler, doce ler”

17
 José Jorge Letria

Os Livros

Apetece chamar-lhes irmãos,

Afagá-los com as mãos,

Abri-los de par em par,

Ver o Pinóquio a rir


E o D. Quixote a sonhar,

E a Alice do outro lado

Do espelho a inventar

Um mundo de assombros

Que dá gosto visitar.

Apetece chamar-lhes irmãos

E deixar brilhar os olhos

Nas páginas das suas mãos.

In Pela casa fora...

Jan McDonald, Rapariga Lendo

18
 Jostein Gaarder e Klaus Hagerup

Um livro é um mundo mágico cheio de


pequenos sinais, em que os mortos podem

regressar à vida e os vivos podem viver

eternamente. É incrível, fantástico e "mágico"


que as letras do alfabeto possam formar tantas

combinações, capazes de encher enormes


estantes de livros e de escancarar-nos um

mundo infindo, que continuará a crescer e a

expandir-se enquanto houver homens sobre a


Terra.
In A Biblioteca Mágica

John Scarlett Davis, Biblioteca de Tottenham


19
Rembrandt, Aristóteles com Busto de Homero

 Manuel Alegre

Li este livro com muito prazer, o que me acontece já

só muito raramente. Não sei se por ter desaprendido

de ler, se por se encorajar uma arte de escrita cujo

principal objectivo parece ser o de aborrecer ou

desinteressar o leitor. Eu ouvi uma vez de um grande

poeta latino-americano o desabafo magnífico: "A


literatura não é para chatear. Quando um
contemporâneo me chateia, volto a Homero para me

divertir.

In A arte de marear
20
 Manuel Alegre

(…) As minhas memórias de Verão são sobretudo

memórias de amor, de mar, de rio, de pesca, de


campeonatos de natação. Mas em S. Pedro do Sul, no

solar da minha bisavó, onde costumava passar o mês de

Setembro, havia um livro que lia e relia sempre: O


Marquês de Pombal, de António Campos Júnior, numa

edição grande, ilustrada. Eram as gravuras que me

fascinavam. (...)

Noutras férias, li O Amor de Perdição. Passei a vida a

fazer de Simão e a sair barra fora enquanto, de um


mosteiro, na margem, um lenço me acenava, ainda acena.

Num certo Julho, em Anadia, li, com minha tia-avó Maria

do Carmo Sampaio, dois livros que para sempre me


marcaram: Cyrano de Bergerac e Frei Luís de Sousa. Estou

sempre a voltar de Álcacer Quibir, a apontar um retrato e

a dizer: Ninguém.

Mas, para dizer toda a verdade, a grande personagem das

férias de Agosto, na minha infância, em Espinho, era o

Texas Jack. Fartei-me de cavalgar nas pradarias,

montando num folgoso ginete chamado Jumper.

In A arte de marear

21
Picasso, Meninas lendo

 Paul Valéry

É preciso olhar os livros por cima do ombro do

autor.

22
 Michel Tournier

Há um milagre de que sou testemunha e actor várias vezes ao


dia, e ao qual no entanto não me consigo habituar: é o milagre
da leitura. Pego num maço de folhas de papel enegrecidas de
sinais. Olho-as, e eis a maravilha: surgem no meu espírito
senhores e belas damas, um castelo, um parque admirável
povoado de estátuas ou de animais raros. Desenrolam-se
histórias ofegantes, divertidas ou comoventes, de tal modo que
tenho dificuldade em reter os meus arrepios, os meus risos ou
as minhas lágrimas. E todas estas aparições apenas têm como
origem aquele papel enegrecido. Que paradoxo!

Será que tais aparições não têm de facto outra origem a não ser
aquele papel enegrecido? Reflectindo bem, há lugar para
dúvidas. E então eu? EU, o leitor? É que esta fantasmagoria que
se desdobra no meu espírito graças ao milagre da leitura é tanto
obra do meu espírito como do próprio texto escrito. Sim, creio
que um livro tem sempre dois autores: aquele que o escreveu e
aquele que o lê. Um livro escrito, mas não lido, não chega
verdadeiramente a existir. É um ser virtual que se esgota no seu
apelo ao leitor; tal qual uma semente que perdidamente voa ao
capricho do vento até que venha a tombar num pedaço de boa
terra onde poderá enfim tornar-se ela própria, isto é: folha, flor
e fruto.

In Petites Proses

23
 Orphan Pamuk
(Prémio Nobel da Literatura 2006)

Um dia li um livro e toda a minha vida mudou.

In A Vida Nova

Beardsley, In Cipit Vita Nova

24
 Oscar Wilde

Os livros que o mundo chama imorais são aqueles que

lhe mostram a sua própria ignomínia.

Rossi, Livros Proibidos

25
 Pedro Salinas

Define-se o leitor deste modo muito simples: o que lê

por ler, por amor invencível ao livro, pelo desejo de

estar com ele horas e horas da mesma forma que

permaneceria com a pessoa amada.

Picasso, Mulher Lendo

26
Arcimboldo, O Bibliotecário

 Marguerite Yourcenar

Uma das melhores maneiras de recriar o pensamento

de um homem: reconstituir a sua biblioteca.

27
 Julien Green

À medida que avançamos na idade, os livros que

nunca mais reabriremos formam uma biblioteca cada

vez mais vasta.

Rembrandt, Mulher velha lendo

28
 Paul Morand

As grandes obras viajam dentro de nós; acontece-lhes

ser, sucessivamente, vários diferentes livros, ao

mesmo tempo que nos tornamos várias pessoas; não

lemos Stendhal, no fim da nossa vida, como o

acolhemos durante a adolescência.

Chirico, A Comédia e a Tragédia

29
 François Mauriac

O pouco que sabemos de nós próprios é por vezes a

personagem de um livro quem no-lo sugere.

 Michel Déon

Uma história não é mais do que um grão de trigo. É

ao ouvinte, ao leitor que compete fazê-lo germinar.


Se não germina, é questão de falta de ar, de sol, de

liberdade, de solidão.

30
 D. Duarte

Saibam que o ler dos bons livros e boa conversação

faz acrescentar o saber e virtudes como cresce o

corpo, que nunca se conhece senão passando por

tempo: de pequeno que era, se acha grande, e o

delgado fornido.

Botticelli, A Senhora do Livro

31
Rembrandt, Retrato de Cornelius C. Anslo com uma mulher

 Garcia de Resende

E vimos em nossos dias

A letra de forma achada

Com que a cada passada

Crescem tantas livrarias

E a ciência é aumentada.

32
 Fernando Pessoa

Isto

Dizem que finjo ou minto

Tudo que escreve. Não.

Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,

O que me falha ou finda,

É como que um terraço

Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é Lina.

Por isso escrevo em meio

Do que não está de pé,

Livre do meu enleio,

Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

33
Almada Negreiros, Fernando Pessoa

34
Raissiguier, O Livro Secreto

 Gustave Flaubert

Pode-se avaliar a qualidade de um livro pelo vigor


dos safanões que ele nos deu e pelo tempo que
levamos depois a recompor-nos.

35
Picasso, A Leitura

 Stendhal

Um romance é como um arco de violino, a caixa de


ressonância é a alma do leitor.

36
Salvador Perez, Mulher com Chapéu lendo

 Eugenie Montale

O livro que o vento da moda traz na crista da onda

pode ter ou não valor literário, mas é quase certo que


quem se deixa seduzir por esse vento e compra o

livro “de que se fala” não é movido pela imperiosa


necessidade de conhecer uma obra de arte, antes pela
urgência de se conformar a uma suposta obrigação

social, a de “estar actualizado”. Ora o “estar

actualizado” é uma das faces do moderno

conformismo.

37
 Ortega y Gasset

Leio para aumentar o meu coração e não


para ter o gosto de contemplar como as
regras de gramática se cumprem uma vez
mais nas páginas do livro.

José Ferraz de Almeida, Moça com Livro

38
Ludovico Marchetti, Um bom livro

 Azorín

O lugar influi na leitura, como influi o momento. Ler

diante do mar um poeta requintado; ler na montanha


um ensaísta da nossa predilecção, associando à

leitura o silêncio, a solidão, a temperatura, o ar, a luz,


é lê-los plena e profundamente. A natureza neste
caso contempla a arte. Da arte à natureza estabelece-

se uma gradação insensível.

39
 Almada Negreiros

Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há


para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não
duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar
uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria
estavam todas muito bem vestidas de quem precisa
salvar-se.

Almada Negreiros, Meninas sentadas lendo

40
Matisse, Leitura

 Almeida Garrett

… Era uma destas brilhantes manhãs de Inverno, como as não há senão


em Lisboa. Abri Os Lusíadas à aventura, deparei com o canto IV e pus-
me a ler aquelas belíssimas estâncias: E já no porto da ínclita Ulisseia…

Pouco a pouco, amotinou-se-me o sangue, senti baterem-me as


artérias da fronte… As letras fugiam-me do livro, levantei os olhos, dei
com eles na pobre nau Vasco Gama, que aí está em monumento-
caricatura da nossa glória naval…E eu não vi nada disso; vi o Tejo, vi a
bandeira portuguesa flutuando como a brisa da manhã, a Torre de
Belém ao longe…e sonhei, sonhei que era português, que Portugal era
outra vez Portugal.

Tal força deu o prestígio da cena às imagens que aqueles versos


evocavam.

41
 André Malraux

Os romances apresentam as personagens como o


indivíduo se vê a si próprio, o áudio visual apresenta-
o como ele vê os outros.

Amadeu de Souza-Cardoso, Entrada

42
 Vladimir Nabokov

O grande artista sobe uma escarpa virgem e, chegado


ao cimo, na curva de uma cornija batida pelos ventos,
quem julgais vós que ele encontra? O leitor ofegante e
feliz. Caiem ambos espontaneamente nos braços um
do outro, e permanecem unidos para sempre se
também o livro viver para sempre.

43
Picasso, Rapariga lendo na praia

 Octavio Paz

Aberto ou cerrado, o poema exige a abolição do


poeta que o escreve e o nascimento do poeta que o
lê.

44
 André Gide

Nada me interessa tanto num livro como a revelação


de uma nova atitude perante a vida.

Aung Kyaw Htet, Rapaz lendo à Janela

45
Damaskinos, Cristo, Rei dos Reis e Grande Patriarca

 Santo Agostinho

Quando rezamos, falamos com Deus; mas, quando


lemos, é Deus que fala connosco.

46
 Padre António Vieira

Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber,
quer errar.

Beardsley, A oração do barão

47
 Henry de Montherlant

Dize-me o que retiveste de uma leitura, dir-te-ei


quem és, pois apenas se presta atenção aquilo que se
é.

Manet, Leitura

48
 Marcel Proust

Na leitura, a amizade é subitamente reconduzida à


sua pureza primordial. Com os livros, nada de
amabilidades. Se passamos a noite com esses
amigos, é porque assim verdadeiramente nos
apetece. A eles, pelo menos, só a contragosto é que
muitas vezes os deixamos. E, quando os deixamos
não há nenhum daqueles pensamentos que estragam
a amizade. Que pensaram de nós? - Ter-lhes-emos
agradado? – E nem há o receio de sermos esquecidos.
Todas essas agitações da amizade expiram no limiar
desta amizade pura e calma que é a leitura.

Picasso, Leitura
49
Elizabeth Solomon, Mais um Capítulo

 Virginia Woolf

Geralmente abordamos os livros com um espírito


confuso e dividido, pedindo ao romance que seja
verdadeiro, à poesia que seja falsa, à biografia que
seja elogiosa, à história que reforce os nossos
próprios preconceitos. Se pudéssemos banir, durante
a leitura, todas essas ideias preconcebidas, seria um
admirável começo. Tentem não dar ordens a um
autor; tratem de se tornar ele próprio. Sejam os seus
colaboradores e os seus cúmplices
50
 Descartes

A leitura de todos os bons livros é como uma


conversa com os melhores espíritos dos séculos
passados, que foram os seus autores, e mesmo uma
conversa bem estudada, na qual eles só nos
descobrem o melhor dos seus pensamentos.

Rembrandt, Retrato de Tito a estudar

51
 Colette

O amor de ler conduz ao amor do livro. […]


Ler é, consoante o livro e o leitor, uma embriagues,
uma honra, o serviço prestado a um culto, uma
paciente prospecção através do escritor e de nós
próprios. Não será coisa fácil ensinar o respeito do
volume perecível, do papel sem duração. Só virá se o
cultivarmos, esse pudor do leitor que consiste em não
coçar a cabeça por cima das páginas, em nos
abstermos de comer enquanto lemos, de dobrar os
cantos das folhas…

Saunier, Cena de Leitura numa Clareira

52
 Roland Barthes

O prazer do texto é este momento em que o meu


corpo vai seguir as suas próprias ideais – porque o
meu corpo não tem as mesmas ideias que eu.

Visconti, Meditando

53
Toulmouche, Lição de Leitura

 Hermann Hesse

Para aprender a ler, é preciso primeiro que tudo ler


muito devagar, e depois é preciso ler muito devagar e,
sempre, até ao último livro que tiver a honra de ser de
ser por vós lido, será preciso ler muito devagar.

54
 Miguel Torga

Acho que as relações dum escritor com o seu leitor só


começam a ter dignidade para lá das portas da
livraria. Cada qual na sua intimidade. A árvore, longe
do fruto que já não lhe pertence; quem o saboreia,
isento de perturbar o gosto com sensações
adjacentes.

Lamb, Mulher do Artista

55
Weyden, Madalena Lendo

 Elizabeth Barret Browning

E só quando de nós nos esquecemos


e com a alma toda mergulhamos
no abismo de um livro, seduzidos
pelo sal da beleza e da verdade,
que dele todo o bem nós retiramos…

56
 Luís Vaz de Camões

Porque quem não sabe arte,


Não na estima.

Renoir, Leitura

57
Macke, Mulher azul a ler

 Jean Cocteau

Uma obra-prima da literatura nunca é mais do que


um dicionário em desordem.

58
 Ernst-Robert Curtius

A ciência dos quadros é fácil comparada com a dos livros.

Vermeer, A Arte da Pintura

59
Fragonard, A Leitora

 Valery Larbaud

À margem e para além dos ofícios, das profissões e das altas


especialidades para que nos preparamos, existe uma
aristocracia aberta a toda a gente, mas que nunca foi muito
numerosa em tempo algum, uma aristocracia invisível,
dispersa, desprovida de sinais exteriores, sem existência
oficialmente reconhecida, sem diplomas ou credenciais e
todavia Maios brilhante do qualquer outra; sem poder
temporal, e que todavia detém um poderio considerável, de
tal modo que muitas vezes tem conduzido o mundo e
condicionado o futuro. É dela que têm saído os príncipes mais
verdadeiramente soberanos que a história conhece, os únicos
que dirigem, durante anos e mesmo séculos depois da sua
morte, as acções de muitos outros homens. Vós podeis fazer
parte desta aristocracia: ela dirige-vos o convite, está à vossa
espera, e a única condição que exige para vos admitir é que
vos tenhais entregue moderadamente, e durante anos e anos,
a uma certa forma de prazer que se chama leitura.
60

Potrebbero piacerti anche