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TÓPICOS ESPECIAIS EM

ENGENHARIA DA
COMPUTAÇÃO
AULA 1

Prof. Luciano Frontino de Medeiros


CONVERSA INICIAL

Esta aula está estruturada de maneira a apresentar uma introdução à


Computação Quântica, evidenciando o tijolo básico na construção de circuitos
quânticos, o q-bit, bem como a combinação de q-bits necessários ao
processamento de informação quântica. O fenômeno do emaranhamento
quântico é explicado, mostrando que certos aspectos do mundo quântico não
podem ser simulados em sistemas clássicos. Ao final, é apresentado um breve
histórico da Física Quântica, que posicionará o aprendiz nos principais eventos
que deram origem ao estudo da Mecânica Quântica, que originou, mais tarde, o
campo da Computação Quântica.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO À COMPUTAÇÃO QUÂNTICA

A Computação Quântica é o estudo das tarefas que podem ser realizadas


pelo processamento da informação contida em sistemas quânticos (Nielsen;
Chuang, 2005, p. 12). A Computação Quântica e a Informação Quântica
nasceram por meio de uma convergência de vários conceitos, alguns referentes
à possibilidade de simulações computacionais mais realísticas de experimentos
físicos. Os computadores conseguiriam simular fielmente os experimentos
físicos, por meio de modelos construídos que espelhem perfeitamente a
realidade? Paul Benioff (1980) expressou as primeiras ideias relacionando a
Mecânica Quântica à Computação, com referência a máquinas de Turing, que
pudessem ser simuladas explorando modelos de hamiltonianos da Mecânica
Quântica. Richard Feynman (1982), então, questionava se os computadores
clássicos poderiam efetivamente simular os eventos físicos.
Usualmente, os cientistas imitam o mundo clássico, descrevendo-o com
base em soluções aproximadas de equações diferenciais. Porém, o mundo real
é o da mecânica quântica. Se tal mundo pudesse ser simulado, ele teria de ser
exatamente simulado. Para sistemas constituídos de uma partícula apenas, a
simulação de probabilidades dada por uma equação de onda de Schröedinger
pode ser muito bem executada de maneira trivial. O problema da simulação
aumenta a complexidade quando se adicionam muitas partículas ao sistema
quântico. A quantidade de variáveis a serem controladas acaba sendo
demasiadamente grande, e um computador normal não pode simular a realidade
para tal conjunto. Para que isso acontecesse, o computador no qual seria feita a
simulação deveria ser construído de acordo com as leis da mecânica quântica.
Feynman vai mais além, afirmando que, mesmo que uma simulação não
seja exata, porém probabilística, o computador clássico ainda não teria
condições de fazer tal simulação quântica. Pode-se usar como justificativa o fato
de haverem efeitos não-locais, que não podem ser simulados por um
computador clássico local; e o problema de existirem variáveis ocultas, que não
podem ser representadas fisicamente e não podem, por consequência, serem
representadas em um computador clássico (Feynman, 1982). Com relação à
presença de efeitos não-locais entre objetos quânticos, os trabalhos mais
significativos publicados foram o de Freedman e Clauser (1972) e o de Aspect,
Grangier e Roger (1982), que realizaram em laboratório o experimento EPR com
fótons, violando as desigualdades de Bell e confirmando os resultados previstos
pela Mecânica Quântica quanto à não-localidade dos eventos quânticos.
Algumas propriedades de sistemas quânticos, tais como os distúrbios inevitáveis
envolvidos no processo de medição, têm uso prático em criptografia quântica
(Bennett, 1973; Bennett et al., 1993; Steane, 1997). Porém, o salto significativo
em direção à Computação Quântica foi dado por David Deutsch, sendo o
primeiro a explorar as possibilidades de fazer computação com sistemas de
mecânica quântica, propondo um análogo à máquina de Turing denominado
Computador Quântico Universal. Neste trabalho, ele ainda propôs a primeira
versão do que hoje é chamado de algoritmo de Deutsch, abrindo caminho para
o desenvolvimento de algoritmos mais complexos e desenvolvimento maior da
Computação Quântica. As operações simples utilizadas por ele no algoritmo são
denominadas agora de portas quânticas. Deutsch se baseou no princípio da
superposição quântica em seu algoritmo, explorando o aspecto do paralelismo
massivo (Deutsch, 1985).
Outra característica de um sistema quântico na forma de um circuito é a
possibilidade de reversibilidade das operações. Ainda que a maior parte do
desenvolvimento da Computação Quântica tenha acontecido na década de
1980, Charles Bennett já havia explorado a possibilidade de uma máquina de
Turing fazendo computação utilizando processos reversíveis (Bennett, 1973). As
portas lógicas utilizadas nos circuitos eletrônicos comuns não poderiam fornecer
reversibilidade, exceto a porta NOT. Ou seja, não é possível restaurar o estado
anterior do sistema após uma operação lógica. Assim, certas portas lógicas,

3
como a porta Toffoli e a porta Fredkin, foram então concebidas de modo a
permitir operações de computação reversível (Fredkin; Toffoli, 1982; Toffoli,
1980). Porém, a reversibilidade não passava de uma curiosidade, pois mesmo
em um circuito digital continua havendo dispêndio de energia para se fazer a
operação reversa, obedecendo à lei de entropia. Com a Computação Quântica,
a reversibilidade permitiria a recuperação dos estados anteriores às operações,
simplesmente invertendo-se o sentido do circuito quântico.
O algoritmo de Deutsch, como proposto inicialmente, utilizava apenas dois
q-bits. Em trabalho subsequente, este algoritmo foi aprimorado de modo a conter
mais q-bits, mostrando que sistemas de Computação Quântica poderiam ser
escaláveis (Deutsch; Jozsa, 1992), sendo conhecido, assim, o algoritmo de
Deutsch-Josza. Foi demonstrado, portanto, que certos problemas
computacionais poderiam ser resolvidos de forma mais eficiente em um
computador quântico do que em um computador clássico (Bernstein; Vazirani,
1993; Berthiaume; Brassard, 1992). Um importante avanço foi feito por Simon
(1994), que descreveu um algoritmo quântico eficiente para o qual não há uma
solução eficiente pela abordagem clássica, mesmo utilizando métodos
probabilísticos e explorando a periodicidade em aritmética modular. Este
trabalho inspirou Peter Shor (1994) a descrever um algoritmo que não era
apenas eficiente em um computador quântico, mas envolvia um problema
fundamental em ciência da computação, a fatoração de números primos muito
grandes. A força do sistema de criptografia RSA, muito utilizado por várias
corporações mundiais, reside no fato de que não é possível fatorar em tempo
polinomial o número composto fornecido para a chave pública de 128 ou 256
bits. Entretanto, Shor demonstrou que um computador quântico, contendo um
número suficiente de q-bits, tornaria possível a descoberta da chave privada do
sistema RSA utilizando este algoritmo, o qual, mesmo sendo probabilístico, é
eficiente (Shor, 1994). Os algoritmos de Simon e de Shor fazem uso das
propriedades de superposição e emaranhamento quântico.
Junto do algoritmo de Shor, outro algoritmo que mostrou a força da
Computação Quântica em relação à Computação Clássica foi o algoritmo
quântico de busca desenvolvido por Lov Grover (1996). Mediante o uso da
superposição e da interferência quântica, Grover mostrou que a busca de um
item em um conjunto de elementos não ordenados poderia ser feita com

4
complexidade menor do que em um algoritmo clássico. Mais tarde, foi
demonstrado que o algoritmo de Grover perfaz uma busca ótima (Zalka, 1999).
A Computação Quântica requer computadores quânticos para sua
execução, e tais computadores estão sujeitos a efeitos de ruído do ambiente que
podem interferir na precisão dos resultados dos algoritmos. A computação
quântica deve ser feita com um grau razoável de acurácia, e conseguir isso é
uma tarefa muito mais desafiadora em relação a computadores clássicos (Nagy
e Akl, 2005). O estudo e desenvolvimento de algoritmos para a correção quântica
de erros, unindo os conceitos da Computação Quântica com a Teoria da
Informação Clássica, é necessário para contornar o problema da presença de
ruído ou efeitos indesejáveis nos circuitos quânticos (Preskill, 1998). Calderbank
e Shor (1996) e Steane (1996) estabeleceram um esquema genérico em que o
processamento da informação quântica pudesse ser utilizado para combater
grande classe de processos de ruído em um sistema quântico propriamente
desenhado para isto (Steane, 1997). Este esquema incluía circuitos com q-bits
adicionais para garantir a fidelidade do processamento quântico no circuito
principal.
O teorema da não-clonagem foi descoberto por Dieks (1982) e Wooters e
Zurek (1982). Este teorema representa um dos aspectos fundamentais da
Computação Quântica, em que não se pode copiar um estado de um q-bit para
outro a não ser que tais estados sejam os estados da base. Ainda que a
clonagem de estados quânticos arbitrários não seja possível, o teleporte
quântico foi proposto por Bennett et al. (1993) como forma de transportar um
estado quântico desconhecido utilizando a propriedade do emaranhamento. O
teleporte quântico é uma técnica utilizada para este transporte de estados
mesmo que não exista um canal de comunicação conectando o transmissor do
estado ao seu receptor. O teleporte quântico enfatiza a possibilidade da
codificação superdensa, de modo que um par emaranhado EPR mais dois bits
de informação clássica equivalem a um q-bit de comunicação quântica (Nielsen;
Chuang, 2005).
Boa parte dos algoritmos descritos anteriormente (basicamente o
algoritmo de Deutsch, Deutsch-Josza e o de Grover) serviu como ponto de
partida para as primeiras implementações práticas. Uma característica relevante
da construção de tais implementações é a não fixação sobre um paradigma,
sendo realizado de várias maneiras: íons aprisionados, fótons, ressonância

5
magnética nuclear (RMN) ou, ainda, usando cavidades de eletrodinâmica
quântica (Medeiros, 2010; Nielsen; Chuang, 2005).
Apesar de certos algoritmos terem sido desenvolvidos pelo
aproveitamento do potencial da superposição e do emaranhamento, alguns
estudos têm mostrado a impossibilidade física de executar certos algoritmos
clássicos em computadores quânticos. Lomont (2000) demonstrou que
algoritmos de correlação ou convolução, técnicas largamente utilizadas na
construção de filtros digitais, são impossíveis de se realizar fisicamente em
estados quânticos.

TEMA 2 – O Q-BIT

Na Computação Quântica, o elemento básico a ser tratado é o q-bit ou


qubit (quantum bit, bit quântico). Enquanto o bit clássico pode somente assumir
dois estados, 0 e 1, o q-bit pode assumir infinitos estados em forma de
superposição de 0’s e 1’s (Nielsen; Chuang, 2005; Preskill, 1998). Para a
representação de q-bits, utiliza-se a notação de Dirac (|.), tal como na
Mecânica Quântica1. Um q-bit recebe a mesma representação de uma função
de onda na Mecânica Quântica, e os estados que este q-bit pode assumir são
|0 ou |1 (de forma análoga à Computação Clássica), ou, ainda, uma
combinação linear entre estes estados. O espaço de estados quânticos
possíveis, no qual os estados |0 e |1 são apenas duas opções, é o espaço de
Hilbert. Uma forma de entender o significado de um estado quântico na notação
de Dirac é utilizar uma representação vetorial em forma de vetor coluna para os
estados,
1
| 0   
0 

e
0 
| 1    .
1

Os estados |0 e |1 definem uma base vetorial para o espaço de Hilbert
de um q-bit. Portanto, um estado quântico qualquer | pode ser representado
mediante uma combinação linear destes estados da base,

1
Essa notação é denominada ket por ser a metade de um bracket (<.|.>).
6
| = |0 + |1 (1)

com  e   2. Representando esta expressão na forma vetorial,

     0  1 0 (2)


|             0    1 .
   0       

Entretanto, não temos acesso ao conteúdo de um q-bit, ou seja, não


podemos saber quais os valores exatos2 de  e . De acordo com o postulado
da medição da Mecânica Quântica, a observação do estado quântico causa o
colapso da função de onda. Quando o q-bit é medido, pode-se obter apenas o
estado |0 com probabilidade ||2, e o estado |1 com probabilidade ||2. As
probabilidades somadas devem resultar em 1, ou seja,
(3)
||2 + ||2 = 1

Por exemplo, o estado quântico normalizado correspondente às


probabilidades iguais entre os estados |0 e |1, ou seja, 50% para cada estado,
e é definido pela seguinte combinação linear:
| 0  | 1 1 1
|     , (4)
2 2 1

com     1 / 2 . Este exemplo ajuda a ilustrar o princípio da superposição de

estados quânticos. Até que se meça o estado |, ou seja, enquanto não se
observa tal estado, ele é, ao mesmo tempo, os dois estados, |0 e |1,
combinados linearmente.
Nielsen e Chuang (2005) ressaltam que, normalmente, nos modelos
abstratos sobre o mundo, existe uma correspondência entre os elementos do
mundo real e os da abstração. No mundo quântico, não é possível a
correspondência direta, e isto torna difícil a intuição do comportamento de
objetos quânticos. Porém, é possível uma correspondência indireta, pois os
estados dos q-bits podem ser manipulados para direcionar a resultados de
medidas, que estarão na dependência de diferentes estados. Portanto, tais
estados quânticos terão consequências reais que podem ser verificadas

2
α e β são denominados também coeficientes dos estados, e podem assumir valores reais ou
complexos (números imaginários). Esta caracterização de números complexos nos coeficientes
torna difícil a visualização da função de onda ou estado como algo possuindo realidade física. A
representação em forma de probabilidades permite uma visualização devido ao resultado do
quadrado do módulo do coeficiente de um número complexo produzir sempre um número real.
7
experimentalmente. O q-bit tem, assim, dois comportamentos: um quando não
se observa, correspondendo ao mundo quântico; e outro após a detecção ou
medida do estado que colapsa a função de onda.
Que quantidade de informação pode armazenar um q-bit? A princípio,
parece que existe um número infinito de informação que poderia ser
armazenada, devido à propriedade de superposição. Mas, após a medida,
apenas um estado é assumido pelo q-bit. Apesar disso, uma questão ainda pode
ser levantada: quanta informação pode ser armazenada em um q-bit se não
houver medição? Porém, de que maneira pode-se quantificar uma informação
se não é possível medi-la? O importante a considerar neste aspecto é que, ainda
que não se realizem medidas, a natureza faz evoluir um sistema de q-bits,
aparentemente acompanhando todas as variáveis que o descrevem, assim como
 e . Ao que parece, uma grande quantidade de informação oculta sobre o
estado de um q-bit é manipulado pela natureza, e parece que aumenta
exponencialmente se aumentarmos o número de q-bits envolvidos (Nielsen;
Chuang, 2005).

Figura 1 – Esfera de Bloch com a representação de um q-bit

Fonte: Adaptado de Nielsen; Chuang, 2005.

Uma forma geométrica de visualizar um q-bit é mostrado na Figura 1, em


que se pode ver a esfera de Bloch. Sobre a superfície desta esfera, um q-bit
pode assumir infinitos valores (Nielsen; Chuang, 2005). Porém, depois da
respectiva medição, os únicos valores são os pontos representados pelos
estados |0 e |1.

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TEMA 3 – COMBINAÇÃO DE Q-BITS

Assim como os bits clássicos são combinados em registradores para


aumentar a faixa de valores binários possíveis, q-bits podem ser combinados
também em registradores nos circuitos quânticos. Para um sistema clássico com
dois bits, os valores possíveis resultariam da combinação entre estes dois bits:
00, 01, 10 e 11. De maneira equivalente, um sistema quântico de dois q-bits terá
quatro estados: |00, |01, |10 e |11. Assim como um q-bit pode estar em um
estado de superposição de dois estados, o sistema duplo de q-bits pode estar
em superposição dos quatro estados respectivos:
(5)
| = 00|00 + 01|01 + 10|10 + 11|11

Um sistema quântico com dois ou mais q-bits utiliza a operação do


produto tensorial para combinar os estados quânticos. O produto tensorial
entre estados quânticos é representado por pelo sinal  (Aharonov, 1998; Ekert
et al, 2000). Utilizando novamente a representação vetorial para os estados
quânticos envolvendo dois q-bits com as respectivas operações de produto
tensorial:
1
0 
1 1
| 00         
0   0   0 
 
0 

0 
 
1 0 1
| 01         
0 1 0
 
0  (6)

0 
0 
0 1
| 10         
1 0 1
 
0 

0 
 
0  0  0
| 11         
1 1 0
 
1

9
Quando uma medida se realiza sobre este sistema de dois q-bits, o
resultado será um estado apenas dentre as quatro alternativas possíveis |ij, com
i,j = {0,1}, e a probabilidade respectiva |ij|2.
Pode-se escolher medir o estado de apenas um q-bit do conjunto,
digamos, o primeiro q-bit. Com um pouco de matemática, pode-se verificar que
a medida deste primeiro q-bit fornecerá o estado |0, com uma probabilidade
|00|2 + |01|2. Após a medição, o segundo q-bit pode assumir qualquer um dos
estados, |0 ou |1. Portanto, o estado final |’ do q-bit será:
 00 | 00   01 | 01
| '  (7)
|  00 | 2  |  01 | 2

O estado quântico após a medida deve ser normalizado, sendo dividido

por |  00 | 2  |  01 | 2 .

TEMA 4 – EMARANHAMENTO QUÂNTICO

Certas representações de dois ou mais q-bits podem existir sem que


tenham sido produzidos por um produto tensorial. Por exemplo, pode-se supor
que dois bits estejam correlacionados quanticamente em um estado
emaranhado. O emaranhamento é uma das propriedades mais “estranhas” no
mundo quântico. Um estado tal como o que segue para os dois q-bits é possível:
| 00  | 11 (8)
2

Este estado faz parte de um conjunto denominado estados de Bell3 ou


estados EPR4. O estado anterior é relacionado ao experimento EPR, em que
duas partículas estão correlacionadas, de maneira que a medição em uma
partícula causará o colapso simultâneo na outra. Deve-se notar que, nos dois
estados apresentados, os q-bits apresentam valores iguais: quando o primeiro
q-bit é |0 , o segundo também é; quando o primeiro q-bit é levado ao estado |1,
o segundo q-bit também vai ao estado |1. Este estado de Bell ou estado EPR
tem a propriedade de originar, após a medida, um estado |00 com probabilidade

3
Devido a John Bell (1928-1990), que estudou em profundidade o experimento EPR, propondo
equações de desigualdades que deveriam provar ou refutar a mecânica quântica.
4
Iniciais de Einstein, Podolsky e Rosen, que argumentaram contra a completude da Mecânica
Quântica apresentando um experimento de pensamento com duas partículas correlacionadas.
10
de 1/2; e o estado |11 também, com probabilidade5 de 1/2. Tais estados não
podem ser resultantes da operação do produto tensorial entre q-bits individuais.
A representação vetorial da expressão (8) é dada pela expressão a seguir:
1
 
| 00  | 11 1 0  (9)

2 2 0 
 
1

John Bell mostrou que as correlações observadas nas medições de pares


EPR “são maiores que quaisquer outras que poderiam existir em sistemas
clássicos” (Nielsen; Chuang, 2005). Portanto, tais resultados mostrariam que a
computação quântica poderia fornecer resultados que iriam além do escopo da
computação clássica.
Para demonstrar o poder da computação quântica, Nielsen e Chuang
(2005) fazem, ainda, uma expansão interessante: para sistemas com n q-bits, os
estados possíveis serão descritos por |x1x2x3...xn. Portanto, o estado quântico de
um sistema com n q-bits conterá 2n estados. Para o caso em que n = 500, este
número é bem maior do que o número de átomos existentes no Universo. É
impossível, portanto, conceber fisicamente um computador clássico que tenha
condições de armazenar toda esta quantidade de informação. Porém, a
Natureza é capaz de manipular essa grande quantidade de variáveis e fazer
evoluir o estado de tal sistema quântico6.

TEMA 5 – BREVE HISTÓRIA DA FÍSICA QUÂNTICA

A Física Quântica é considerada um dos pilares do conhecimento


científico do século XX na abordagem do microcosmo, e com base nos conceitos
nascidos pela Mecânica Quântica, houve considerável desenvolvimento
tecnológico que proporcionou um avanço sem precedentes à humanidade. O
nascimento da Física Quântica é atribuído geralmente aos trabalhos de Max
Planck, em 1900, no desenvolvimento de uma teoria unificadora para conciliar
duas teorias existentes (leis de Wien e de Rayleigh-Jeans) que não explicavam
de forma satisfatória o comportamento da radiação para todo o espectro de
frequências, sendo necessário introduzir o conceito da quantização de energia

5
Ou seja, os dois estados têm igual probabilidade de 50%.
6
Nielsen e Chuang argumentam que “é como se a Natureza mantivesse 2500 folhas de papel de
rascunho escondidas, nas quais ela realiza seus cálculos à medida que o sistema evolui”.
11
(Caruso; Oguri, 2006). Mais adiante, Einstein, em 1905, baseou-se na
quantização de Planck para explicar o efeito fotoelétrico, trabalho que lhe rendeu
o prêmio Nobel de 1921.
A quantização foi utilizada também por Niels Bohr, em 1913,
fundamentando as primeiras ideias sobre a estrutura do átomo, dos orbitais
atômicos e dos saltos quânticos. Porém, em 1924, Louis de Broglie lançou a
concepção de que ondas estariam associadas a partículas com massa, dando
os passos iniciais da abordagem ondulatória. Werner Heisenberg, em 1925,
utilizou uma abordagem matemática conhecida como Mecânica Matricial (teoria
para explicar a evolução de sistemas quânticos), desenvolvendo-a em conjunto
com Pascual Jordan e Max Born. Wolfgang Pauli, em 1924, introduziu o conceito
de spin na explicação da estrutura atômica mediante o princípio da exclusão.
Porém, Erwin Schröedinger, em 1926, desenvolveu sua famosa equação de
onda, nascendo, assim, a Mecânica Quântica Ondulatória. Partículas com
massa teriam propriedades ondulatórias, e a equação de onda de Schröedinger
permite conhecer com certeza a evolução de estados de um sistema quântico,
introduzindo os conceitos de superposição de estados (Caruso; Oguri, 2006).
No entanto, a visão proporcionada pela Mecânica Quântica representou
uma ruptura com o modo clássico de pensar sobre fenômenos físicos, e vários
cientistas, mesmo o próprio Einstein, se opuseram às interpretações da
realidade física à luz da Mecânica Quântica. Para conciliar a versão ondulatória
do mundo quântico com o comportamento clássico do mundo real, Bohr, com
Heisenberg e Born, expressaram o que ficou conhecido como a “interpretação
de Copenhaguen”. Um objeto quântico apresenta um caráter dual,
apresentando-se como onda ou como partícula, mas nunca os dois ao mesmo
tempo. Este é o conceito de “complementaridade”. A equação de onda de
Schröedinger permitiria expressar apenas as probabilidades de ocorrência de
um ou outro estado quântico, e a realidade clássica se manifestaria após o
“colapso” da função de onda. Quando a observação de um sistema quântico é
feita, a onda deixa de existir, dando lugar a apenas uma das possibilidades
(Pessoa Junior, 2005, p. 5).
Qual é o limite de tamanho de um objeto para que ele possa existir em
uma superposição de estados? Para objetos como partículas subatômicas, não
há problemas em adotar esta ideia. E para objetos macroscópicos, é possível a
constatação de superposições? Este é outro ponto de controvérsia da própria

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mecânica quântica, e os adeptos da interpretação de Copenhague assumem que
existiria um limiar acima do qual os eventos deixariam de ter comportamento
quântico e apresentariam o comportamento clássico. Schröedinger não era
partidário dessa visão, e propôs até mesmo um experimento (que leva o seu
nome) mostrando o problema do envolvimento de objetos macroscópicos em um
sistema quântico (Pessoa Junior, 2005).
O experimento é referido como “o gato de Schröedinger”, no qual um gato
seria trancado em uma caixa com uma ampola contendo veneno (Figura 2.a),
que se quebraria ao acionamento de uma reação nuclear (um decaimento
radioativo liberando uma partícula, por exemplo) e tal reação, sendo detectada
por um contador Geiger, mataria o gato (Medeiros, 2010, p. 182-183). Como não
se sabe com certeza quando acontecerá um decaimento radioativo em
determinado período, o gato, enquanto não se observa dentro da caixa, estaria
em uma superposição de estados nos quais estaria “vivo” e “morto” ao mesmo
tempo (Figura 2.b)! Somente ao observar é que se verifica se ou o gato ainda
está vivo (Figura 2.c), ou está morto (Figura 2.d). Esta é uma das situações
paradoxais mostradas pela mecânica quântica quando se emaranham
elementos macroscópicos com objetos quânticos.

Figura 2 – Ilustração do experimento-de-pensamento do gato de Schröedinger

Crédito: Thyago Macson.

Experimentos atuais têm demonstrado a existência de correlações entre


um número maior de objetos quânticos, a distâncias maiores que a escala
microscópica dos eventos, enfraquecendo a ideia de um limiar de realidades.
Pessoa Junior (2005) relata uma série de experimentos, com o número de
objetos quânticos variando desde pares de partículas até quantidades imensas

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de objetos. O experimento mais significativo relatado é o de dois grupos
trabalhando com dispositivos eletrônicos denominados de SQUIDs, em que uma
superposição de correntes elétricas em sentidos opostos envolveu em torno de
1010 (10 bilhões) de elétrons. Experimentos envolvendo moléculas complexas
tais como o fullereno, contendo 60 átomos de carbono (C60), têm evidenciado
características quânticas de superposição de estados (Zeilinger, 2005).
Einstein não aceitava a Mecânica Quântica como uma teoria completa,
propondo outro experimento de pensamento, o famoso experimento EPR, com
o objetivo de demonstrar que a mecânica quântica era incompleta para explicar
os fenômenos quânticos (Einstein; Podolsky; Rosen, 1935). A ideia básica
estava em admitir que um sistema de duas partículas só poderia estar
correlacionado de acordo com o princípio da localidade. Mas como a localidade
não seria satisfeita por existir uma ação desconhecida à distância (violando os
princípios da relatividade), então haveria um elemento de realidade que não
estaria descrito pela teoria quântica. Portanto, a descrição de um objeto quântico
por meio de uma função de onda não era completa, e a mecânica quântica como
ferramenta era insuficiente para descrever os estados de um objeto (Pessoa
Junior, 2005).
Bohr, em sua resposta ao experimento EPR, argumentou que o uso do
critério de realidade usado por Einstein era ambíguo, pois o ato de medição de
um sistema já influenciou o estado do próprio sistema (Bohr, 1935). De certa
forma, Bohr estava implicitamente rejeitando a própria noção de localidade
(Pessoa Junior, 2005). O paradoxo de EPR foi estudado em profundidade mais
tarde por John Bell e somente a partir da década de 1970 é que houve
confirmação experimental das previsões da Mecânica Quântica, em detrimento
da validade do princípio da localidade.
A seguir, encontram-se os fundadores e os principais cientistas que deram
contribuições-chave para o desenvolvimento da Física Quântica.

5.1 Max Planck (1858-1947)

Considerado o fundador da Física Quântica. Introduziu o conceito de


quantum, com base nos estudos da radiação do corpo negro, mostrando que a
energia só pode ser transferida ou absorvida de forma descontínua mediante
pacotes. Descobriu a constante h que leva seu nome. Acreditava que sua
equação de interpolação seria temporária, e que deveria existir uma explicação
14
clássica para o fenômeno. Recebeu o prêmio Nobel de Física em 1918 pela
descoberta do quantum.

Figura 3 – Max Planck

Crédito: molcay/Shutterstock.

5.2 Albert Einstein (1879-1955)

Figura emblemática da física do século XX. Aplicou a quantização


descoberta por Planck na explicação do efeito fotoelétrico (do qual recebeu o
prêmio Nobel de 1921), mostrando que os elétrons saltariam de uma placa
energizada no vácuo apenas quando absorvessem um quantum de energia da
luz incidente. Introduziu o conceito de fóton, enfatizando a explicação
corpuscular para a luz. Suas ideias de probabilidades de transmissão e absorção
de energia influenciaram Max Born na interpretação de probabilidades para a
função de onda de Schröedinger. Estudou, ainda, o movimento browniano. Seus
trabalhos sobre a relatividade especial e geral revolucionaram a física do
macrocosmo.

Figura 4 – Albert Einstein

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Crédito: Naci Yavuz/Shutterstock.

5.3 Niels Bohr (1885-1962)

Considerado uma das principais figuras da Física Quântica, idealizou o


primeiro modelo quântico de átomo 13 anos antes de Schröedinger, mostrando
que as trocas de energia nos átomos são feitas mediante saltos quânticos dos
elétrons em órbitas bem definidas. Introduziu o princípio da complementaridade
na Mecânica Quântica, postulando que fenômenos quânticos não podem se
manifestar simultaneamente como onda ou partícula. Seus embates com
Einstein deram contribuições significativas na concepção da moderna teoria
quântica, sendo considerado um marco da história da física do século XX.
Recebeu o prêmio Nobel de Física de 1922.

Figura 5 – Niels Bohr

Crédito: AB Lagrelius & Westpha/CC-PD.

16
5.4 Werner Heisenberg (1901-1976)

Responsável pela descoberta do princípio da incerteza, postula que não


se pode conhecer com precisão as grandezas referentes à posição e velocidade
de um objeto quântico. Desenvolveu a estrutura da Mecânica Matricial para
explicar os fenômenos quânticos, com Max Born e Pascual Jordan, equivalente
à Mecânica Ondulatória de Schröedinger. Recebeu o prêmio Nobel de Física de
1932.

Figura 6 – Werner Heisenberg

Crédito: molcay/Shutterstock.

5.5 Louis de Broglie (1892-1987)

Apresentou, em 1924, em sua tese de doutorado, a ideia de “ondas de


matéria”, na qual as partículas atômicas teriam ondas associadas e, por isso,
apresentariam características ondulatórias. Experimentos realizados em 1927
confirmaram a existência de tais ondas. Essa concepção influenciou
Schröedinger no desenvolvimento da equação de onda. Recebeu o prêmio
Nobel de 1929.

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Figura 7 – Louis de Broglie

Crédito: molcay/Shutterstock.

5.6 Erwin Schröedinger (1887-1961)

Propôs a famosa equação de onda que leva seu nome, a qual descreve o
comportamento de sistemas quânticos. Propôs também o experimento mental
do “gato de Schröedinger”, lançando a hipótese de possíveis correlações
macroscópicas de objetos quânticos. Não concordava com a interpretação de
probabilidades da equação de onda. Lançou, ainda, as primeiras ideias que
levaram à descoberta da estrutura do DNA. Recebeu o prêmio Nobel de 1933.

18
Figura 8 – Erwin Schröedinger

Crédito: Fundação Nobel-CC-PD.

5.7 Max Born (1882-1970)

Responsável pela interpretação probabilística da equação de onda de


Schröedinger, na qual é possível conhecer-se apenas as probabilidades de uma
partícula ocupar determinada região do espaço. A partir de então, o modelo dos
orbitais dos elétrons no átomo seria visualizado como regiões onde haveria maior
probabilidade de se encontrar os elétrons. Auxiliou, ainda, na concepção da
Mecânica Matricial com Heisenberg e Pascual Jordan. Recebeu o prêmio Nobel
de 1954.

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Figura 9 – Max Born

Crédito: mocaly/Shutterstock.

FINALIZANDO

Nesta aula, o tema da Computação Quântica foi introduzido, mostrando


ao aluno os conceitos básicos envolvidos, as ideias dos precursores no
desenvolvimento deste campo científico, bem como o conceito de q-bit, as
formas de combinação em produto tensorial, assim como o fenômeno exclusivo
do mundo quântico, o emaranhamento, algo impossível de simular em
computadores clássicos. Por fim, um breve histórico da Física Quântica foi
apresentado, para mostrar como este campo se desenvolveu, além das
principais personalidades que estiveram por trás das descobertas chave que
impulsionaram o estudo da Física Quântica, que, mais tarde, levou ao
surgimento da Computação Quântica.

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