ORAÇÃO

DISCURSO
Deus omnipotente e eterno,
Pai, Filho e Espírito Santo, DE ABERTURA CAUSA
dou-vos graças
por ter dado à Igreja
o testemunho heróico
CARD. AGOSTINO VALLINI
do Cardeal François –Xavier Nguyên Van Thuân. Vigário geral
de Sua Santidade
A experiência sofrida no cárcere, para a diocese de Roma
vivida em união com Cristo crucificado
e sob a proteção materna de Maria,
gerou um testemunho resplandecente,
para a Igreja e o mundo,
de união e perdão,
“AS OITO BEM-AVENTURANÇAS DO POLÍTICO”
de justiça e paz.

A sua pessoa amável

e o seu ministério episcopal
irradiaram a luz da fé, DECRETO SOBRE AS VIRTUDES
o entusiasmo da esperança
e o calor da caridade.

Concedei-me agora, pela sua

intercessão,
segundo a Vossa vontade,
a graça que eu imploro,
na esperança de vê-lo,
o quanto antes,
Processo de Beatificação
elevado à honra dos altares. e Canonização do
Amém. Servo de Deus Card. Francisco
Javier Nguyên Van Thuân

20 1
 nesse, in grado eroico, del Servo di Dio Francesco Saverio
Nguyên Van Thuân, Cardinale di Santa Romana Chiesa, in
caso e ad effetto di cui trattasi.
Il Sommo Pontefice ordinò che tale decreto venisse
pubblicato e riportato tra gli atti della Congregazione delle
Cause dei Santi.
Dato a Roma, il 4 del mese di maggio 2017.

ANGELUS Card. AMATO, S.D.B.

Praefectus

† MARCELLUS BARTOLUCCI
Archiepiscopus tit. Mevaniensis
a Secretis

2 19
 Il Servo di Dio era dotato di un’intelligenza fuori dal co-
mune e aveva grande facilità di parola e di scrittura. La sua
vocazione è stata quella di un pastore di anime, che spende
tutte le sue energie per il bene della Chiesa, della pace e della
giustizia. Ebbe l’onore di predicare gli esercizi spirituali a San
Giovanni Paolo II e alla Curia Romana nel 2000. Fu creato car-
dinale da Giovanni Paolo II nel concistoro del 21 febbraio 2001,
con il titolo di cardinale diacono di Santa Maria della Scala. Lo
stesso Pontefice chiese al Servo di Dio di preparare il Compen-
dio della dottrina sociale della Chiesa: il Card. Van Thuân for-
mò una Commissione di lavoro attorno al progetto affidatogli,
partecipò assiduamente alle riunioni, animò, incoraggiò. Con la
sua mitezza e sapienza, aiutò a superare momenti di stallo e di
asperità nel cammino che si rivelò più lungo del previsto. Si
spense serenamente il 16 settembre 2002, in seguito ad una
lunga malattia, circondato da una vasta e solidissima fama di
santità.
Il 22 ottobre 2010 si procedeva con la solenne apertura
della sua Causa di beatificazione e canonizzazione presso il Pa-
lazzo Apostolico Lateranense. La chiusura dell’Inchiesta dioce-
sana ebbe luogo il 5 luglio 2013. La sua validità giuridica è
stata riconosciuta da questa Congregazione delle Cause dei
Santi con decreto del 22 novembre 2013. Preparata la Positio,
si è discusso, secondo la consueta procedura, se il Servo di Dio
abbia esercitato in grado eroico le virtù. Il 13 dicembre 2016 ha
avuto luogo, con esito positivo, il Congresso Peculiare dei Con-
sultori Teologi. I Padri Cardinali e Vescovi nella Sessione Ordi-
naria del 2 maggio 2017, presieduta da me, Card. Angelo Ama-
to, S.D.B., hanno riconosciuto che il Servo di Dio ha esercitato
in grado eroico le virtù teologali, cardinali ed annesse.
Sottoposta infine al Sommo Pontefice Francesco accurata
relazione di tutto ciò per il tramite del sottoscritto Cardinale
Prefetto, Sua Santità, accogliendo i voti della Congregazione
delle Cause dei Santi e ratificandoli, nel giorno odierno dichia-
rò: Constano le virtù teologali di Fede, Speranza e Carità sia
verso Dio sua verso il prossimo e altresì le virtù cardinali di
Prudenza, Giustizia, Temperanza e Fortezza, e le altre virtù an-
18
TRIBUNAL DIOCESANO DO VICARIATO DE ROMA
Sessão de abertura
do Processo de Beatificação e Canonização do
Servo de Deus Card. Francisco Javier Nguyên Van Thuân
Senhores Cardeais, venerandos Irmãos no episcopado,
distintas autoridades, irmãos e irmãs.
1. Lemos no Evangelho de João (12, 24): «o grão de trigo
continuará a ser um como a semente na terra se desagrega para
que a planta possa nascer só grão, a não ser que caia em terra e
morra; só então produzirá fruto em abundância». Jesus fala de si
próprio, do mistério da dor, da solidão do abandono, da morte já
próxima. Sabe que, entregando-se despojado e humilhado na mão
do Pai, a morte se transforma em fonte de vida, precisamente.
Mas, ao falar do grão de trigo, Jesus quis também recordar
aos discípulos o que continuamente lhes tinha anunciado: que
para seguir o Mestre é necessário negar-se a si mesmo e tomar a
sua cruz cada dia e segui-lo. Deste modo salva a sua própria vida
(cf. Mc 8, 35-36) desde a perspectiva evangélica do mandamento
novo: «Ninguém tem maior amor, do que aquele que dá a vida
pelos seus amigos» (Jo 15, 13).
Este relato evangélico parece-me a chave interpretativa da
vida do Servo de Deus, o Cardeal Nguyên Van Thuân, cuja causa
de beatificação e canonização abrimos hoje, com esta sessão
pública.
2. Francisco Xavier Nguyên Van Thuân nasceu a 17 de Abril
de 1928 em Huê, a capital do Vietname imperial. Provinha de uma
família de mártires. Seus antepassados foram vítimas de muitas
perseguições, entre 1644 e 1888. O bisavô paterno contou-lhe que,
aos 15 anos, caminhava todos os dias uns trinta quilómetros para
levar um pouco de arroz e sal a seu pai, que estava preso por ser
cristão. A sua avó, que não sabia ler nem escrever, todas as noites
recitava o rosário pelos sacerdotes junto com a sua família. Sua
mãe, Elisabeth, deu-lhe uma educação cristã: ensinando-lhe as
histórias da Bíblia e falando-lhe da memória dos mártires da sua
família, inculcando-lhe o amor à pátria.
Francisco Javier nunca esqueceu o quanto a sua família
3
sofreu pela fé e este precioso património fortaleceu-o, preparando-
o para enfrentar o seu futuro “calvário”, como uma herança de
grande valor. Tendo-se formado numa vida espiritual sólida,
começou a ver a mão da Providência de Deus em todas as coisas e
a entregar, docilmente, a sua vida à obra do Espirito Santo. Desde
cedo o Servo de Deus sentiu a chamada ao sacerdócio, graças à
educação familiar e à ajuda do seu tio sacerdote, Dinh Thuc Ngo,
que chegou, mais tarde, a ser um dos primeiros bispos do
Vietname.
Em agosto de 1941, entrou no Seminário menor de Na Ninh,
onde viveu com alegria e compromisso os primeiros passos na
formação para o sacerdócio. Teve professores bons e piedosos, que
reforçaram a sua decisão. Entre eles destaca- 2 se a figura do
reitor, o Padre Jean-Baptiste Urrutia, da Sociedade para as
Missões Estrangeiras de Paris, mais tarde Vigário Apostólico de
Huê, a quem o jovem Thuân permaneceu sempre ligado, e ao
Padre Jean-Marie Cressonier, que fortaleceu a sua devoção a
Nossa Senhora, através da espiritualidade do beneditino irlandês:
Columba Marmion, e foi testemunha da beleza da vida despojada,
que o preparou para as futuras privações da prisão.
Desde essa altura, elegeu como modelos de vida três santos:
Santa Teresa do Menino Jesus, que conhecia desde menino graças
à sua mãe, de quem aprendeu o “caminho da infância espiritual” e
de ter fé na oração; São João Maria Vianney, que lhe ensinou as
virtudes da humildade e da paciência, bem como o valor do
esforço e da tenacidade; e São Francisco Xavier, o grande Apóstolo
da Asia, de quem aprendeu a indiferença perante o êxito ou o
fracasso.
Os anos do Seminário menor (1941-1947) foram os anos da
II Guerra Mundial, da chegada do comunismo ao Vietname, da
fuga da sua família da cidade de Huê, da execução do seu tio Khoi
e seu primo Huan como traidores da pátria à mão dos comunistas.
O jovem Thuân sofreu muito, foi invadido pela ira face à injustiça
para com a sua família, que sempre serviu fielmente o seu país.
Por outro lado, compreendeu que não podia seguir a Cristo sem
perdoar os seus inimigos. Nesta difícil luta interna, ajudou-o o
testemunho valente do sacerdote jesuíta mexicano, do qual tinha
lido a biografia, o Padre Miguel Agustín Pro (1891-1927), que foi
detido pela polícia secreta mexicana, o mesmo disse: «não temo a
nada porque pus a minha vida nas mãos de Deus de uma vez por
4 17
DECRETO SOBRE AS VIRTUDES
«Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se
morrer, produz muito fruto» (Jo 12, 24).
Cair na terra e morrer não é apenas o caminho para
produzir fruto, mas também para “salvar a própria vida”, ou seja,
para continuar a viver! Esta entrega, assumida pelo Servo de
Deus Francisco Xavier Nguyên Van Thuân, expressa com eficácia
o percurso da sua vida.
Desde pequeno o Servo de Deus escolheu como modelos de
vida três santos: Santa Teresa de Lisieux, de quem aprendeu “a
via da infância espiritual”; São João Maria Vianney, que lhe
ensinou as virtudes da humildade, da paciência e o valor do
esforço tenaz; e São Francisco Xavier, o grande apóstolo da Ásia,
de quem aprendeu a indiferença diante do sucesso ou do
fracasso.
Bento XVI, em modo solene aos olhos do mundo, dedicou
uma homenagem ao Servo de Deus na sua Carta encíclica Spe
salvi, na qual o indica como exemplo a ser seguido na oração,
particularmente quando se está em uma situação de desespero
aparentemente total, quando tudo faz pensar que não há saída.
Tal foi a condição do Servo de Deus nos intermináveis anos de
sua prisão, durante os quais, porém, «a escuta de Deus, o poder
falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança,
que, depois da sua libertação, permitiu-lhe ser para os homens
em todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande
esperança que não declina» (Carta encíclica Spe salvi, n. 32).
O testemunho de fé, esperança e caridade do Servo de
Deus, que se difundiu, dia após dia, com humildade e discrição, é
um constante convite à santidade colectiva, que encontra sua
máxima expressão na fidelidade a Deus e na ajuda recíproca a
percorrer o caminho da santidade.
O Servo de Deus era dotado de uma inteligência fora do
comum e tinha grande facilidade com a palavra e a escrita. A sua
vocação foi aquela de um pastor de almas, que gasta todas as
 E, fazendo de Jesus o seu centro, a defende. Isto porque a
divisão é autodestruição.
6. Feliz o político que é empenhado na
realização de uma mudança radical.
Tal mudança acontece quando se luta contra a perversão
intelectual; quando não se chama bem aquilo que é mal;
quando não se relega a religião a um fato privado; quando
se estabelecem as prioridades das escolhas com base na fé.
Existe uma só Magna Charta: o Evangelho.
7. Feliz o político que sabe escutar.
Que sabe escutar o povo, antes, durante e depois das
eleições; que sabe escutar a própria consciência; que sabe
escutar a Deus na oração. Disso advirão certezas,
confiabilidade e eficácia para a sua atividade.
8. Feliz o político que não tem medo.
Que não tem medo, antes de tudo, da verdade. «A verdade»,
diz João Paulo II, «não precisa de votos». É feliz o político
que não se deixa intimidar pela mídia. Porque, no dia do
juízo, deverá responder a Deus e não à mídia!
16
todas». Thuân compreendeu que deveria fazer o mesmo, e ante a
desgraça pouco a pouco recuperou o ânimo, acalmando a dor
insuportável.
De 1947 a 1953, foi aluno do Seminário maior de Phu Xuan.
Durante esses anos considerava também tornar-se religioso:
pensava em entrar para os jesuítas, fascinado pela figura de S.
Francisco, seu santo, e pelo padre Pro; considerou também a
possibilidade de tornar-se beneditino devido à sua atracção pela
vida contemplativa; mas no final optou pelo sacerdócio diocesano,
para o qual começou a preparar-se com grande compromisso e
seriedade.
3. Foi ordenado sacerdote em 11 de Junho de 1953 pelo bispo
Urrutia, seu antigo reitor. A sua alegria ao celebrar a santa missa
foi imensa, tanto que não conseguiu conter as lagrimas. A sua
primeira nomeação pastoral foi a paróquia de Quang Binh, a uns
160 km de Huê; mas não pode permanecer mais que umas
semanas por causa de uma forma grave de tuberculose. Teve que
padecer um período de adversidade, saltando de um hospital a
outro, à espera de uma intervenção cirúrgica ao pulmão direito.
Antes da operação fez-se uma última radiografia. Nela a alegada
doença já não aparecia; seus pulmões estavam limpos, tanto que o
médico do hospital militar Dr. Grall, disse-lhe: «É incrível, não
encontrámos nenhum rasto de tuberculose nos pulmões… agora
você está bem e eu não sei explicar porquê». Thuân deu graças a
Deus e à Virgem pelo que ocorreu no seu corpo e propôs-se a fazer
sempre a vontade de Deus.
Passado um tempo de convalescença e um curto período no
qual realizou pequenos ministérios, o bispo Urrutia enviou-o a
Roma para aperfeiçoar os estudos. Foi aluno da Universidade
Urbaniana, onde se doutorou em Direito 3 Canónico em 1959,
com uma tese sobre a organização das capelanias militares no
mundo. Desse período, ele recordou sempre o seu amor à Roma
cristã e suas maravilhosas obras de arte, e também as
peregrinações aos santuários marianos de Lourdes e Fátima, nos
quais pôde interiorizar a mensagem das aparições da Virgem. Na
sua alma ressoam as palavras que a Virgem dirigiu a Bernardete
em Lourdes aquando da terceira aparição no dia 18 de Fevereiro
de 1858: «Não te prometo que sejas feliz neste mundo, só no
outro.», e o jovem sacerdote conservou-as no seu coração,
disponibilizando-se para aceitar as tribulações e sofrimentos que o
5
Senhor lhe iria enviar. De volta ao Vietname, exercia o ministério
de professor e logo o cargo de reitor do seminário menor de Huê,
num momento social e politico muito difícil para o seu país e a sua
família. De facto, o Servo de Deus pertencia a uma família
politicamente relevante para o Vietname. O seu tio Ngo Dimh Diem
foi presidente do pais, até ao golpe militar de 1 de Novembro
de1963, razão pela qual foi assassinado. Francisco Xavier
conheceu uma dor indiscritível e enfrentou esta nova provação,
reconfortado pela fé e sobretudo pelas palavras que sua mãe lhe
disse: «O teu tio dedicou toda a sua vida ao seu país e nada há de
extraordinário que tenha morrido por ele. Como monge [com efeito
era oblato beneditino e tinha feito a sua profissão em 1954 no
mosteiro de San Andreas de Brujas, Bélgica] dedicou a sua vida a
Deus e nada há de extraordinário que tenha morrido quando Deus
o chamou.
Entretanto, a Arquidiocese de Huê tinha ficado sem pastor;
assim sendo, o Conselho presbiteral chamou ao Padre Francisco
Xavier a ocupar o cargo de Vigário Capitular.
4. Ao fim de quatro anos, no dia 13 de Abril de 1967, tinha
então 39 anos, Dom Francisco Xavier foi nomeado bispo de Nha
Trang. Sua mãe, ao saber da notícia, disse: «Um sacerdote é
sempre um sacerdote. A Igreja honrou-te dando-te uma missão
mais importante, mas que isso não te mude enquanto pessoa.
Continuas a ser um sacerdote e isso é o mais importante que
deves lembrar». Recebeu a Ordenação Episcopal a 24 de Junho.
Em Nha Trang levou a cabo um ministério pastoral intenso,
ocupando-se muito da pastoral vocacional e formação dos futuros
sacerdotes. Em oito anos, o número de seminaristas do Seminário
maior passou de 42 a 147 e dos alunos do Seminário menor de
200 a 500. Além do mais, fez muito pela formação dos leigos.
Menos de um ano depois da sua nomeação como bispo, os
comunistas lançaram uma ofensiva para conquistar as cidades do
Vietname do Sul, incluindo Nha Trang. No entanto, o apostolado
do jovem bispo seguia sem restrições; antes pelo contrário, com
generosidade comprometeu-se a nível regional e universal. Era
membro da comissão encarregada de criar a federação das
Conferencias Episcopais da Asia, e em 1971 foi nomeado consultor
do dicastério da Santa Sé, que mais tarde se converteria no
Conselho Pontifício para os Leigos. Ainda, serviu o seu país, como
Presidente do COREV, a agência para a reconstrução do Vietname,
6 15
“AS OITO BEM-AVENTURANÇAS DO POLÍTICO”
1. Feliz o político que tem um alto grau de
consciência e conhece profundamente o seu
papel.
O Concílio Vaticano II definiu a política como «arte nobre e
difícil» (Gaudium et spes 75). Em plena globalização, esta
afirmação resulta ainda mais verdadeira: à fragilidade dos
mecanismos econômicos de dimensão planetária, não se
pode responder senão com a força de uma política global
fundada sobre valores globalmente condivididos.
2. Feliz o político cuja pessoa espelha
credibilidade.
Nos nossos dias, os escândalos no mundo da política se
multiplicam, fazendo que seus protagonistas percam
credibilidade. Para superar esta situação, uma resposta
forte é necessária, uma resposta que implique reforma e
purificação, a fim de reabilitar a imagem do político.
3. Feliz o político que trabalha para o bem
comum e não para o seu próprio interesse.
Para viver esta bem-aventurança, o político interpele a sua
consciência e se pergunte: estou trabalhando para o povo ou
para mim? Para o meu País, para a cultura? Estou
trabalhando para honrar a moralidade? Estou trabalhando
para a humanidade inteira?
4. Feliz o político que se mantém fielmente
coerente.
É preciso uma coerência constante entre a fé e a vida da
pessoa empenhada em política; uma coerência firme entre
as suas palavras e as suas ações: uma coerência que honre
e respeite as promessas eleitorais.
5. Feliz o político que realiza a unidade.
com Ele”» (O caminho da Esperança, nº 623).
13. Estou, pessoalmente, convencido de que a personalidade
do Card. Francisco Xavier Nguyên Van Thuân era extraordinária,
uma personalidade em que a potência transformante da graça
encontrou uma natureza humana especialmente dotada e dócil
para ser formada e transformada pela acção do Espirito Santo.
Quem teve a alegria de o conhecer e de conviver com ele,
creio que pode atestar que o Servo de Deus foi um verdadeiro
discípulo de Jesus, que fez do seguir a Cristo a única ração da
sua vida, que devolvia tudo a Deus, sabendo reconhecer em cada
experiência, a mão providencial de Deus. Na terrível desolação
dos anos de prisão, abriu-se ao sopro ligeiro e refrescante do
Espirito Santo, Deus manifestava-se a ele como um todo e isso
lhe bastava para reduzir o peso e o sofrimento de privação da
liberdade e mesmo da dignidade pessoal, sua extraordinária
experiencia espiritual segue sendo para nós uma valiosa
herança.
O grão de trigo, que caiu em terra, deu o seu fruto.
Encomendo ao Vigário Judicial do Tribunal Diocesano,
Mons. Gianfranco Bella e aos demais oficiais, a honrosa tarefa de
examinar a vida e virtudes cristãs deste insigne pastor, com a
esperança de que a sua vida possa ajudar bispos, sacerdotes e
leigos do nosso tempo a «caminhar sem vacilar pelo caminho da
fé viva, que anima a esperança e obra pela caridade» (Lumen
gentium, 41).
Agostino Card. Vallini
Vigário geral de Sua Santidade
Para a diocese de Roma
14
um ramo do Conselho Pontifício «Cor Unum» encarregada de
ajudar aos mais de quatro milhões de deslocados pela guerra.
5. Oito anos depois, em Abril de 1975, quando todo o Vietname
do Sul se encontrava sobre domínio do Exercito comunista, o Papa
Paulo VI nomeia-o Arcebispo coadjutor de Saigão (Thành-Phô Chi
Minh, Hôchiminh Ville) com direito de sucessão ao Arcebispo
Nguyên Van Binh. As consequências dessa nomeação iriam ser
terríveis.
A poucas semanas do início do seu serviço pastoral em
Saigão, foi detido sob a falsa acusação de “conspiração”
perpetuada pelo Vaticano e os imperialistas. Era o princípio da
tarde de 15 de Agosto de1975, Solenidade da Assunção. O
Arcebispo levou consigo só a sotaina e o rosário. Interpretou à luz
da fé esta terrível prova, ocupando-se em encher de amor a sua
vida de prisioneiro.
Esteve encarcerado primeiro em Nha Trang, a sua anterior
diocese, ficando em prisão domiciliária na paróquia de Cay Vong.
O lugar bem conhecido deulhe animo, foi para ele um convite a
iniciar uma viagem espiritual de purificação interior e de
despojamento total de si mesmo que iria prolongar-se durante
treze anos, dos quais nove em isolamento.
Nesta nova situação não ficou parado. Já no seguinte mês de
Outubro começou a escrever uma serie de mensagens à
comunidade cristã. Um menino de sete anos, de seu nome Quang,
trazia-lhe secretamente, pequenas folhas de papel, tiradas de
antigos calendários, que depois levava para casa para que os seus
irmãos e irmãs pudessem copiar as mensagens do Bispo e difundi-
las. Da compilação de estas mensagens nasceu o livro intitulado
“Mil e um passos no Caminho da Esperança”.
6. O encarceramento em Nha Trang durou sete meses, depois
dos quais foi transferido para o campo de Phu Khanh e encerrado
numa cela estreita e sem janelas. Aí esteve outros nove meses,
debaixo da guarda apertada de homens cruéis que o maltratavam
em qualquer ocasião. Não tinham para com ele o mínimo de
respeito e parecia gostarem de humilhá-lo. Mas, mesmo assim,
não era suficiente, já que rapidamente chegou para ele a prisão
dura, num completo isolamento, sem contacto algum, nem sequer
com os carcereiros. Escreve um biógrafo: «Dia e noite não via mais
que as quatro paredes sujas da cela húmida… Uma lâmpada
pendia do teto por um largo fio eléctrico e difundia uma indistinta
7
luz amarela no imundo ambiente em torno do arcebispo. Thuân
deitava-se sobre uma superfície rija coberta por um colchão de
palha…, mas pela extrema humidade, o colchão estava coberto de
bolor… pouco a pouco o isolamento começou a produzir o efeito
desejado pelos verdugos. Thuân começou a sentir-se aterrorizado
pelo vazio e silêncio, que durante dias inumeráveis, reinavam à
sua volta. Privado de qualquer sinal de presença humana na
envolvente, julgava ouvir sons… os carcereiros utilizavam também
a escuridão para atormentá-lo. Sem aviso prévio ou razão
aparente, a luz da lâmpada da cela apagava-se, às vezes por dias e
Thuân não sabia se era de dia ou de noite… parecia-lhe que já não
existia no mundo dos vivos… Os guardas que lhe levavam a
comida já não falavam… só uma mão… por debaixo da porta
retirava o prato vazio da comida e deixava um outro cheio.» (A.
Nguyên Van Chau, O milagre da Esperança, -ed. Paulinas, 2006,
pp. 226-227). Nestas condições, podem-se imaginar também os
graves sofrimentos físicos relacionados com as consequências das
necessidades naturais. A Cela – 5 continua o biógrafo- «era quente
como um forno e, por causa dos sanitários ao lado, emitia um
odor nauseabundo no calor estival. Asfixiando pela humidade e
pela falta de ar, Thuân deitava-se no chão sujo e aproximava o
rosto da ranhura debaixo da porta, tentado respirar um pouco de
ar… era quase impossível mover-se na minúscula cela, mas Thuân
sabia que não sobreviveria sem fazer o esforço de caminhar. Por
isso começou a dar passos para a frente e para trás, enquanto o
sufocante calor do verão o fazia suar tanto, que a roupa se
agarrava à pele. Após alguns minutos via-se obrigado a deitar-se
no chão e aproximar o rosto à ranhura da porta para tentar
respirar» (p. 228). A sua forte memória também começou a vacilar,
que nem conseguia lembrar-se das orações. Era o limiar da
loucura. «Não tinha nem fome nem sono. Habitualmente vomitava
e padecia constantemente de vertigens e de dores por todo o
corpo… a mente se esvaziava por períodos cada vez mais
largos» (p.228).
Os funcionários comunistas vinham visitá-lo regularmente
para interrogalo e obrigá-lo a assinar uma declaração afirmando
que tinha colaborado com o Vaticano e os imperialistas contra a
revolução comunista. Perante a sua constante recusa, denegriam-
no insistentemente. Nesta terrível situação, o Servo de Deus
compreendeu que podia oferecer todas as dores e sofrimentos a
Deus como sinais do seu amor. Assim a cela, pouco a pouco,
8 13
coisas habitualmente dadas como assentes, assim interpelavam a
imaginação e chegaram a ser estimulantes para a
contemplação» (A. Nguyên Van Chau, O milagre da Esperança, -
ed. Paulinas, 2006, p. 7).
11. No entanto, o Card. Van Thuân foi acima de tudo uma
testemunha da esperança. Acreditava contra toda a esperança,
precisamente a causa das provas que o Senhor tinha permitido na
sua vida. Ele mesmo. Falando de Abraão, escreveu no livro
Peregrinos pelo caminho da esperança: «Toda a vida [de Abraão] foi
uma sucessão de dificuldades. E cumpriu cegamente os
mandamentos, apoiado na sua esperança em Deus, disposto a
seguir a sua voz em qualquer tempo e lugar. “Teve fé, esperando
contra toda a esperança” (Rm 4, 18), como “pai de todos os
crentes”(Rm 4,11)». Portanto, não é exagerado afirmar que o nosso
Cardeal foi um digno discípulo de Abraão, não só imitando a sua
sólida esperança, senão mais transmitindo e consolidando essa
virtude em tantas pessoas, pelo seu exemplo, sua pregação e
escritos. A sua prática da virtude da esperança estava solidamente
enraizada na graça e não nas vãs esperanças terrenas e olhava
para lá do tempo, sem deixar-se enevoar pelas aparentes derrotas
desta vida e actuando para melhorar as realidades deste mundo.
12. Na sua missão de fomentar a esperança, temos que recordar
finalmente o compromisso de Servo de Deus para a difusão da
doutrina social da igreja e o seu trabalho no Conselho Pontifício
«Justiça e Paz».
Tinha a convicção de que uma das tarefas mais urgente e
necessária na sociedade actual é a de semear nela sementes de
confiança, para valorizar os fenómenos sociais, também os
negativos, como provas para o crescimento humano e
sobrenatural. Nesta perspectiva, durante o seu mandato de
Presidente do Conselho Pontifício «Justiça e Paz, o Cardeal
promoveu desde 9 1999, a elaboração de uma síntese autorizada
dos ensinamentos da Igreja no âmbito social, o Compendio da
Doutrina Social da Igreja com o propósito de pôr em evidência o
vínculo da doutrina social com a nova evangelização tão
intensamente desejada pelo Sumo Pontífice João Paulo II.
Escreveu: «A verdadeira revolução, a que será capaz de
transformar tudo, desde o insondável coração humano até às
estruturas políticas, económicas e sociais, não se pode realizar
sem o homem nem sem Deus. Se fará “pelo homem, em Cristo e
embrulhado em duas páginas do «L’ Osservatore Romano» D. Van
Thuân recebeu-as quase como relíquias. No terrível isolamento da
prisão, essas duas páginas do jornal da Santa Sé eram o sinal
sensível perante o qual ele expressava o vínculo de fidelidade ao
Santo Padre.
O Servo de Deus foi dotado de uma inteligência
extraordinária; falava e escrevia com grande facilidade. No
entanto, não era em sentido estrito um intelectual, nem um
escritor. A sua vocação fui a de um pastor de almas. A
inactividade obrigada – como recordei – o levou a escrever para
poder continuar a cuidar do seu rebanho. Ainda que impedido de
exercer o seu ministério. O seu fervor apostólico levava-o a
qualquer iniciativa possível para anunciar o evangelho. Assim foi
que na prisão conseguiu criar pequenas comunidades cristãs que
se encontravam para rezar juntos e sobretudo para celebrar a
Eucaristia, e à noite quando possível organizavam turnos de
adoração perante o Stmo. Sacramento. Logo após a libertação, a
sua intensa actividade pastoral, compatível com o trabalho do
Conselho Pontifício «Justiça e Paz», levo-o a seguir publicando
escritos de caracter principalmente espiritual.
10. Do perfil do Card. Van Thuân não posso de deixar de
recordar outo aspecto muito evidente: o amor pelas pessoas que
brotava do seu coração de pastor.
Quem se aproximava dele ficava impressionado pela sua
bondade, começando pelos carcereiros, tanto que uma vez um
chefe de polícia pediu-lhe para ensinar aos agente as línguas que
ele falava fluentemente e assim os seus carcereiros passaram a ser
seus alunos.
Este estilo de amabilidade foi característico na sua viva. Um
biógrafo escreve: «Manso e alegre, o Cardeal Francisco Xavier
Nguyên Van Thuân sempre recebia os visitantes avançando para
eles com os braços abertos em sinal de boas-vindas… a expressão
era sempre cordial e tranquilizante. Na sua presença, as pessoas
sentiam-se tranquilas e à vontade… Falava devagar, elegendo as
palavras com precisão. A sua voz era suave e a sua palavra
eloquente na sua simplicidade. Era evidente que as suas ideias
simples provinham de uma grande profundidade interior e para
aqueles que o escutavam, as suas palavras os convidavam a
reflectir com um exame de consciência… Sabia dar rapidamente
um novo significado a factos aparentemente banais, normais e a
12
converteu-se num lugar habitável, e a dor deu lugar à alegria e o
sofrimento chegou a ser fonte de esperança.
A 29 de Novembro de 1976, na segunda-feira a seguir ao
primeiro Domingo do Advento, pegaram nele e em outros presos e,
encadeado, levaram-no para outro lugar, a 15Km de Saigão. Logo,
ao fim de dois dias, foi embarcado numa balsa com 1500 presos,
para os quais se fez, de imediato, bom samaritano, confortando-os
dos seus desesperos. Depois de 10 de dias de navegação chegaram
ao campo de prisioneiros de guerra de Vinh Quang, nas
montanhas de Vinh Dao, no Vietname do Norte. Foi designado
para trabalhos agrícolas e nos dias de chuva trabalhava como
aprendiz de carpinteiro. O ambiente prisional era menos cruel que
o anterior, tanto que conseguiu que lhe enviassem um frasco com
vinho que levava a etiqueta: “Remédio para a dor de estomago”.
Assim pode celebrar a Santa Missa. A Eucaristia chegou a ser o
momento central do seu dia, em que recuperava a força para
fortalecer a sua fé e viver cheio de alegria. Celebrava a missa na
palma da mão, com três gotas de vinho e uma de água. Nesse
tempo, aproveitando uma certa tolerância da parte dos guardas,
também se atreveu a confeccionar uma pequena cruz, que
conservou sempre zelosamente.
Ao fim de dois meses, mudaram-no de novo para outro
campo de prisioneiros na periferia de Hanói, onde se viu obrigado
a partilhar a cela com um coronel da Frente de Libertação do
Vietname do Sul. Este era um espião que devia dar informações de
tudo o que Thuân fazia e dizia. No entanto, pouco a pouco, o
companheiro de cela chegou a ser seu amigo, o qual tinha que ser
prudente. Também os guardas tiveram uma atitude mais
benevolente para com ele. Tanto que um deles, a pedido do Servo
de Deus, depois de superar o temor do suicídio, procurou-lhe um
fio de cobre e um pequeno alicate para fabricar uma corrente para
a sua cruz peitoral.
Passados quinze meses neste ambiente, graças também às
pressões internacionais em seu favor, a 13 de Maio de 1978 foi
levado a Giang Xa, uma aldeia situada a uns 20Km de Hanói,
onde permaneceu sob prisão domiciliária no recinto da paróquia,
vigiado dia e noite por um guarda, com autorização para mover-se
e passear, com a condição de não comunicar com as gentes, que
por sua vez tinha sido instruída a não se aproximar dele. D.
Thuân gradualmente começou, audazmente, a realizar actividades
9
pastorais. Os guardas, que estavam do seu lado, permitiam aos
fiéis visitá-lo, às vezes em pequenos grupos. Tudo isto levantou
suspeitas por parte das autoridades, que o mandaram de novo
para o isolamento de uma cela. Assim nas primeiras horas do dia
5 de Novembro de 1982, uma camioneta do governo recolheu-o e
conduzi-o para uma zona militar, a um apartamento que tinha
que habitar com um oficial de polícia, debaixo da custódia de dois
guardas. Durante seis anos viveu sempre isolado num quarto, que
regularmente mudava de estrutura. Mas D. Thuân já não temia o
isolamento, porque se tinha abandonado completamente a Deus.
Celebrava a Missa todos os dias, às três da tarde, seguidamente
fazia uma hora de oração para meditar na agonia e morte de Jesus
na cruz. A sua bondade conquistava, de vez em quando, os
carcereiros, o que aborrecia as autoridades superiores. Por isso,
foi novamente transladado para uma prisão de segurança máxima
e isolado numa cela. A aurora da libertação despontou a 21 de
Novembro de 1988, no dia da festa da Apresentação da Santíssima
Virgem Maria. Tinham passado treze anos.
7. Uma vez libertado, os acontecimentos mais importantes da
vida de D. Thuân podem-se resumir assim: em 1992 foi nomeado
membro da Comissão Católica Internacional para as Migrações,
em Genebra; em Novembro de 1994 foi chamado a ocupar o cargo
de Vice-presidente do Conselho Pontifício “Justiça e Paz”, do qual,
quatro anos mais tarde, a 24 de Junho de 1988, chegou a ser
Presidente.
Como é sabido, durante a Quaresma do Ano Santo de 2000,
pregou os exercícios espirituais ao Santo Padre João Paulo II e à
Curia Romana (1). No final dos exercícios, o Papa disse: «Dou
graças ao queridíssimo D. Francisco Xavier Nguyên Van Thuân
que, com simplicidade e inspirado pelo sopro do Espirito, guiou-
nos no aprofundamento da nossa vocação de testemunhas da
esperança evangélica no início no terceiro milénio. Ele mesmo,
testemunha da cruz, durante os largos anos de encarceramento no
Vietname, contou-nos por várias vezes, actos e episódios da sua
atormentada detenção, e desta forma confirmou-nos na certeza
alentadora de que quando todo se desmorona à nossa volta e
quiçá também dentro de nós, Cristo continua a ser o nosso apoio
invencível.»
---------------------------------------------------------------------------------
João Paulo II, em 15 de Dezembro de 1999, recebendo-o em audiência,
10
disse-lhe: «No primeiro ano do terceiro milénio, um vietnamita pregará os
exercícios espirituais à Curia Romana». Olhando-o intensamente, o Papa
perguntou: «Tem algum tema em mente?» «Santo Padre, cai das nuvens,
estou surpreendido. Se calhar poderia falar da esperança», contestou o
Servo de Deus. E o Papa: «Dê-nos o seu testemunho». Os exercícios
começaram a 12 de Março, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, e
terminaram a 18 de Março seguinte.
---------------------------------------------------------------------------------
Um ano após a sua nomeação como Cardeal, apagou-se
serenamente a 16 de Setembro de 2002.
8. A recordação, ainda que resumida, da vida dessa grande
testemunha da fé suscita grande admiração. Perguntei-me: qual
foi o segredo que permitiu ao Card. Nguyên Van Thuân atravessar
provas tão duras? Donde sacou a força interior para superar as
privações e as humilhações? E quais os traços fundamentais da
sua fisionomia de pastor?
Ao ler a sua biografia convenci-me de que uma parte
importante do seu itinerário espiritual se deve à educação e ao
testemunho recebido na sua família, sobretudo a sua mãe. O
Servo de Deus, nos momentos escuros da sua detenção,
relembrava constantemente os ensinamentos recebidos e à
semelhança dos seus entes queridos, que jamais retrocederam
perante as ameaças e os sofrimentos combatidos com fortaleza
cristã.
Ainda mais, penso que conseguiu superar o desânimo e a
angústia, que tantas vezes poderia tê-lo levado a precipitar-se nas
profundezas do desespero, porque se enraizou fortemente na
palavra de Deus e na Eucaristia, em cuja escola a sua vida se ia
conformando dia após dia.
Na prisão, não pôde levar consigo a Bíblia. Então pôs-se a
recolher todos os bocados de papel que encontrava para fazer uma
minúscula agenda sobre a qual escreveu mais de 300 frases do
evangelho. Este singular texto espiritual foi o seu vade-mécum
quotidiano, do qual tirava a luz e a força. No que diz respeito à
Eucaristia, sabemos que para preservar o Santíssimo Sacramento,
usava inclusive uma caixa de maço de cigarros.
Outro grande apoio foi o seu apego à cátedra de Pedro e a
comunhão episcopal à qual permaneceu sempre vinculado. Em
Hanói, durante o tempo da prisão mais dura, uma senhora da
polícia levou-lhe um pequeno peixe para ele cozinhar. Estava
11