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Eu preferiria não 
fazer um prefácio. 

 
(ou, Um prefácio para um Bartleby qualquer) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro de Comunicação e Expressão 
Departamento de Língua e Literatura Estrangeira 
LLE7021 - Literatura Ocidental I - André Fiorussi 
Matheus Lima Alcantara 
Florianópolis, Maio de 2018. 

 
 
Matheus Lima Alcantara - “Eu prefiriria não fazer um prefácio” 

Sobre 

Herman  Melville,  escritor  estado-unidense,  nascido 


em  1819, é mundialmente conhecido por ​Moby-Dick​, um dos 
mais  tradicionais  romances  de  navegação,  sobre  a 
perseguição  à  famigerada  baleia  branca  pelo  Capitão Ahab. 
Apesar  de  seu  atual  reconhecimento  internacional,  grande 
parte  deste só foi ocorrer anos após a morte de Melville, em 
1891.  Autor  de  diversos  contos,  romances  e  poemas,  o 
trabalho  de  Melville  se  encontra  marcado de simbolismos e 
personagens memoráveis. 

Lançada  em  duas  partes,  a  primeira  publicação  de 


Bartleby:  The  Scrivener:  A  Story  of  Wall  Street​,  em  1853, foi 
impressa  na  ​Putnam's  Monthly  Magazine  of  American 
Literature,  Science  and  Art​.  Três  anos  depois,  Melville 
publica  ​Bartleby  novamente,  agora  como  parte  integrante 
de  ​The  Piazza  Tales​,  uma  coleção  de  contos  escritos  pelo 
autor e publicado em sua maioria na mesma revista.  

 
 

Prefácio 

Em  Bartleby,  Melville  constrói  pouco  a  pouco  a  rotina  de  um  escritório 
comum  na  icônica  Wall  Street.  Os  personagens  de  costumes  cíclicos,  falas prontas e 
atitudes  previsíveis  são  pouco  a  pouco  enraizados  no  dia-a-dia  do  pequeno  local  de 
trabalho.  A  atividade  principal em si - os títulos de propriedade, crédito e hipotecas - 
difere muito daquela imagem atribulada à qual associamos a atividade financeira da 
bolsa  de  valores  mais  conhecida  do  mundo. O narrador em si, não deseja nada além 
da  segurança.  Nada  de  riscos,  emoções  ou  grandes  projetos.  Em  sua  companhia 
então,  os  dois  escriturários  Peru  e  Alicate  e  o  fiel-escudeiro-menino-de-recados 
Biscoito  de  Gengibre  mantém  a  rotina  não  atribulada.  Uma  indigestão  na  manhã, 
um  pouco  de  calor  e  destemperamento  à  tarde  são  o  auge  do  desvio  na  calmaria 
esperada.  Nada  que  as  fachadas  cinzentas  e  monótonas  não  dessem  conta  de 
regularizar com o tempo. 
E  é  nessa  rotina,  nesse  balé  simplório  que  o  narrador  -  dono  do 
escritório  -  se  vê  necessitado  de  mais  um  profissional.  Surge  então  Bartleby,  o 
terceiro  escriturário  no  escritório  e  o  objeto  deste  breve  conto.  Inicialmente  um 
profissional  eficiente,  Bartleby  se  mostra  na  verdade  como  mais  do que o esperado, 
a  partir  do  momento  que  profere  pela  primeira  vez  sua  famosa  frase:  “​I  would 
prefer  not  to​”.  Seu  patrão,  se  vê  preso  em  uma  encruzilhada  moral.  Como  punir 
alguém que se nega algo de forma tão sóbria, paciente e até mesmo respeitosa? 
Em  terra  de  homens  de  negócios,  a  razoabilidade  é  lei.  E  portanto 
Bartleby  vai  criminosamente  se  esgueirando  sem  querer  querendo  pela  vida  no 


 
Matheus Lima Alcantara - “Eu prefiriria não fazer um prefácio” 

trabalho.  Ou  pelo  trabalho  que  parece  perturbar  a  sua  vida.  A  negação  de  Bartleby 
se  torna  regra  e  o  narrador  se  vê  confrontado  com  diversos  problemas  morais  que 
atribui  a  Bartleby.  Como  homens  corretos  -  “com  todo  o  respeito  senhor”  -  o 
narrador,  os  outros  escriturários  e  até  o  ​officeboy  se  mostram  incrédulos  quanto  à 
postura  de  Bartleby.  Se  o  leitor  preferir  concordar  com  o  narrador,  pode-se  notar 
uma  certa  melancolia  na  vida  de  Bartleby.  Se  preferir  não,  Bartleby  é  só  uma 
personagem que pensa diferente de todos os outros. 
À  primeira  vista,  Bartleby  soa  só  como  uma  pessoa  estranha,  que 
“preferiria  não”  fazer  o  que  quer  que  se  quisesse  que  ele  fizesse.  Entretanto  o 
escriturário  é  tão  conciso  e  decidido  em  sua  “política”  que  sua  determinação  beira 
níveis  conceituais.  Não  fosse  os  pequenos  biscoitos de gengibre e o pedaço de queijo 
escondido  em  seus  pertences,  Bartleby  não  realizaria  nenhuma  atividade  biológica 
durante todo o conto que não fosse respirar. 
O  leitor  poderia  então  querer  saber  que  diabo  de  conceito  seria  esse  de 
um  homem  que  se  nega  tanto  a  performar  qualquer  tarefa,  que  quase  nega  a  sua 
própria  humanidade.  Isso  depende  muito  de  quem  esse mesmo leitor prefere ouvir. 
Para  os  psicólogos,  Bartleby  provavelmente  seria  algum  tipo  de  depressivo.  Para  os 
médicos,  um  louco.  Para  os  comunistas,  talvez  Bartleby  signifique  a  resistência  do 
operário ao patrão. Uni-vos! Fazei nada!  
Independente da interpretação ela não me pertence. Eu preferiria não. 
É  curioso  ouvir  os  ecos  de  Bartleby  -  ao  negar  quiçá  sua  própria 
existência  -  e  sentir  que  tudo  soa  como  uma  performance.  A  performance  da 
narrativa  nesse  sentido,  escolhe  falar  do  nada. Do não fazer. Ela nega o conteúdo ao 
leitor,  apresentando  em  contraposição  uma  reflexão  forçada.  Por  que  Bartleby  nos 
incomoda  tanto?  Alguns  riem,  alguns  roem  unhas,  chacoalham  pernas,  mordem 
canetas  e  batucam  ao  ler  a  história  do  escriturário  que  preferiria  não  ser  um 
personagem. O que nos resta é analisar o silêncio.  
O  silêncio  que  verte  -  seja do autor, do narrador ou do leitor - é o mesmo 
que  verte  quando  somos  obrigados  a  esperar.  Uma  inquietação,  um  incômodo 
natural  pela  falta  de  desfecho.  Engraçado  é  que  quase  cem  anos  depois,  John  Cage 
decidiu  nos  cutucar  mais  uma  vez  com  esse  mesmo  silêncio.  A  peça  em  três 
movimentos  ​4’33’’  (Quatro  Minutos  e  Trinta  e  Três  Segundos),  de  “instrumentação” 
livre,  foi  apresentada  pela  primeira  vez  em 1952, e o conteúdo da peça não passa do 
mesmo  intervalo  de  tempo  do  mais  puro,  absoluto  e  torturante  silêncio  -  um  “Eu 
preferiria  não  tocar”  -  Executado  “virtuosisticamente”  por  diversos  instumentistas 
até  a  contemporaneidade,  ​4’33’’  nos  abraça  com  a  nossa  própria  inquietude.  O 


 
Matheus Lima Alcantara - “Eu prefiriria não fazer um prefácio” 

silêncio  do  performer  nos  arranca  o  som.  A  fala.  O  canto.  A  ação.  Assim  como 
Bartleby nos arranca da cadeira ao se recusar a tocar a música do homem moderno. 
Talvez  jogar o busto de Cícero pela porta fosse uma forma menos sutil de 
negar  as  narrativas até então recorrentes. Talvez fosse a forma do narrador de jogar 
tomates  na  epopéia  de  Bartleby.  Falar  de  deuses,  heróis,  grandes  acontecimentos  e 
grandes  sentimentos  não  é  nada  para  Melville,  que  prefere  falar  dos  homens 
pequenos.  Por  que  falaríamos  da  raiva  de  Aquiles  se  podemos  falar  da  apatia  de 
Bartleby?  Ou  por  que  sofrer  com  Werther  se  podemos  observar  de  longe  a 
singularidade  do  jovem escriturário e ver os sofrimentos de todos que o rodeiam? Se 
Bartleby  já é algo além de um personagem, que seja performance. A performance do 
não. Da negação. Um homem anão.  
Anão performance, eu adicionaria “com todo o respeito”. 
“Gostaria de mais uma xícara de emoção senhor?” 
“Eu preferiria não” 
Os  gregos  talvez  nunca  entenderiam  o  que  se  passava  na  cabecinha  de 
Bartleby.  Ou  melhor  ainda,  o  que  se  passava  nas  cabeças  de  seus  colegas  e  patrão, 
quando,  afrontados  com  o  “não”  claro  e  amaciado,  não  viram  saída.  Não  havia 
cerveja  ou  expulsão  ou  sanatório  que  pudesse  convencer  Bartleby  a  preferir  fazer 
alguma  das  tarefas  que  lhe  propunham.  O  comportamento  de  Bartleby  é  tão 
desviante  do esperado que todos que convivem com ele tempo suficiente parecem se 
descobrir  contagiados  pelo  seu  modo  de  pensar.  Se  a  doença  pega  com  tanta 
facilidade, talvez não seja tão doença assim. 
Então,  caríssimo  leitor,  ler  Bartleby  é  um  deleite  para  a  sua curiosidade 
mais  mesquinha  e  ordinária  de  ser  humano.  Ao  mesmo  tempo  em  que  você  é 
apresentado  à  uma  situação  totalmente  nova,  o  espaço  se  mostra  totalmente 
simplório.  Só  mais  um  escritório  qualquer,  de  um  advogado  qualquer,  com  uma 
fachada  pouco  iluminada  qualquer,  que  por  acaso  sofreu  a  interferência  de  um 
escriturário  qualquer.  Melville  nos  mostra  que  o  ordinário  é  maravilhoso,  e  a 
solidão  destes  homens,  pelo  visto  também  é  ordinária.  Pelo  jeito o que resta à eles é 
a  leitura  noturna  de  grandes  feitos,  de  grandes  sentimentos  de  amor,  enquanto 
durante o dia se copia a hipoteca de algum milionário de Wall Street. 
Mas  não  se  engane aquele que achar que o ofendo com a mesquinhez do 
homem!  Não!  Somos  apenas  reféns,  homens  desamparados,  que  não  encontraram 
ainda nosso próprio efeito Bartleby para chamar de nosso!  
“Ah, Bartleby! Ah, humanidade!” 
 
 
 


 
Matheus Lima Alcantara - “Eu prefiriria não fazer um prefácio” 

 
Referências Bibliográficas 

MELVILLE,  Herman.  ​Bartleby,  The  Scrivener:  A  Story  Of  Wall-street​.  The  Piazza 
Tales, 1856. - disponível em: 
http://www.gutenberg.org/ebooks/15859​ (acessado em 06/05/2018) 
 
MELVILLE, Herman. ​Bartleby, o Escriturário - Uma história de Wall Street ​(Trad: 
Cássia Zanon), Le Livros. 
 
Wikipedia. ​Bartleby - The Scrivener​ - disponível em: 
https://en.wikipedia.org/wiki/Bartleby,_the_Scrivener ​(acessado em 06/05/2018) 
 
BORGES, Jorge Luis.​ Prólogo ​Bartleby, el escribiente, Biblioteca de Babel, Ediciones 
Siruela, 1997 - disponível em : 
http://borgestodoelanio.blogspot.com.br/2016/05/jorge-luis-borges-prologo-bartleby-el.
html ​(acessado em 06/05/2018) 
 
Wikipedia. ​4’33’’​ - disponível em: 
https://en.wikipedia.org/wiki/4%E2%80%B233%E2%80%B3 ​(acessado em 06/05/2018) 
 
Imagem de pesquisa textual ​“is bartleby”​ - disponível em: 
https://www.google.com/ (acessado em 06/05/2018) 

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