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Copo americano.

De vez em quando eu vejo as sombras se movendo no canto do quarto.


Quando Maria e Paula falaram que queriam fazer a brincadeira do copo
aqui em casa, eu relutei de prontidão pelo medo que eu sinto dessas
coisas sobrenaturais. Elas insistiram tanto, chegando a me chamar de
covarde e medrosa. Falaram que eu não era amiga delas de verdade e
que o único motivo delas quererem fazer contato com o mundo dos
espíritos era por causa de uma tendência numa rede social. Para elas,
aquilo iria alavancar as curtidas, o número de seguidores. Em resumo
eram apenas adolescentes querendo chamar a atenção para si. Eu
também tinha vontade de me destacar, mas confesso que dessa forma
eu jamais teria imaginado, era uma coisa que eu nunca havia pensado.
Mexer com algo que não entendo apenas por fama… No dia marcado ela
apareceram na minha casa por volta das dez horas, com a intenção de
realizar a invocação à meia-noite. Eu sentia minhas pernas tremerem
como uma vara verde e percebi que elas também estavam
desconfortáveis com toda aquela situação, mas mesmo assim, quando
chegou a hora marcada, começamos o maldito ritual. Todas nós fizemos
uma oração, porque o livro pedia. Sentamos em volta da mesa e cada
uma de nos pôs o dedo sobre o copo. Começamos a evocar nomes de
espíritos e pedir manifestações, mas nada acontecia. Estávamos ficando
mais calmas, poque o ceticismo começou a ficar mais forte entre nós.
Paula fazia perguntas vulgares enquanto Maria, mais religiosa que nós,
indagava a presença de algum ser naquele lugar. Quando estávamos
desistindo, algo assustador aconteceu. O copo começou a vibrar de uma
maneira medonha. Cada uma de nós perguntou se era a outra que
estava fazendo aquilo e cada uma de nós negava veementemente. Até
que o copo estourou violentamente. Maria foi atingida por um caco de
vidro no rosto, causando um corte desde a boca até o olho esquerdo,
que ficou cego. Paula teve uma sequência de vômitos e um desmaio
profundo. A falta de oxigênio no seu cérebro causou uma sequela que
ela vai carregar pelo resto da vida. Para mim, a que tinha mais medo do
mundo espiritual, recebi o dom de ouvir os mortos. Mesmo quando
durmo eu os escuto soprando suas palavras na minha orelha e, no meio
das trevas, ver suas formas distorcidas e ameaçadoras…

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