Sei sulla pagina 1di 6
Palmeiras selvagens Desta vez o médico e o homem chamado Harry sairam juntos pela porta, até o escuro portico, para o vento escuro ainda tomado pelo choque das palmeiras invisiveis. O médico carregava o uisque — a pequena garrafa meio cheia; talvez ele nem soubesse que a tinha na mio, talvez fosse s6 a mao e nao a garrafa que ele brandia no rosto invisivel do homem parado acima dele. Sua voz era fria, precisa convincente — o puritano de quem se poderia dizer que estava prestes a fazer o que devia fazer porque era um puritano, que talvez ele préprio acreditasse estar prestes a fazé-lo para proteger a ética e a santidade da profissio escolhida, mas que na verdade o faria por- que, embora ainda néo fosse velho, acreditava-se velho demais para aquilo, velho demais para ser acordado 4 meia-noite e arrastado, igado, desprevenido e ainda tonto de sono, para aquilo, a brilhante ¢ selvagem paixao que nao o havia atingido quando era jovem o bastante, merecedor o bastante, e com cuja perda ele acreditava nio 86 estar conformado, como ter tido sorte e razdo em ter sido eleito para perdé-la. — Vocé a assassinou — disse ele. (243) — Sim — disse 0 outro, quase impaciente; nisso o médico reparou entio, ¢ 86 nisso. — O hospital. O senhor telefona ou.. — Sim, a assassinou! Quem fez isso? — Bu. Nao fique ai parado falando. O senhor vai telef... — Quem fez isso, eu pergunto? Quem operou? Exijo saber, —Fui eu, jé disse. Eu proprio. Em nome de Deus, homem! — Ele agarrou o braco do médico, apertou-o, 0 médico o sentiu, sentiu a mao, ele (o médico) ouviu a prépria voz também: — O qué? — disse. — Vocé? Vocé fez isso? Vocé mesmo? Mas eu pensei que vocé fosse o... Eu pensei que vocé fosse o amante, era 0 que ele queria dizer. Eu pensei que fosse vocé quem... porque o que ele esta- va pensando era Isto é demais! Existem regras! Limites! Para a fornicacao, 0 adultério, o aborto, o crime e 0 que ele queria dizer era Para a dose de amore paixdo e tragédia que esté reservada a qualquer homem a ndo ser que se torne Deus e sofra assim tudo que Satands poderia ter imaginado! Ele até disse alguma coisa por ai, afinal empurrando com violéncia a mao do outro, nfo exatamente como se fosse uma aranha ou um réptil ou uma mancha de sujeira, mas como se tivesse encontrado pendurado na manga um panfleto ateu ou comunista — algo que nao violasse tanto quanto afrontasse aquele espirito profundo ¢ agora incapaz de morrer, dessecado, que havia conseguido se aposentar na pura mora- lidade. — Isto é demais — gritou ele. — Fique aqui! Nao tente fugir! Nao hi lugar pra se esconder onde nao se possa aché-lo. — Fugir? — disse o outro. — Fugir? Quer telefonar para uma am- bulincia, pelo amor de Deus? — Eu vou telefonar, nao duvide disso! — gritou o médico. Estava no chao sob o alpendre agora, no frio vento negro, ja se afastando, comecando a correr repentina e pesadamente com suas grossas per- nas sedentirias. — Nao se atreva a tentar — gritou, voltando-se. — Nao se atreva a tentar! — Ele ainda tinha a lanterna; Wilbourne ob- servou 0 facho de luz balancando em direcdo a sebe de espirradeiras [24a] como se também ele, 0 pequeno facho fiitil de vaga-lume, lutasse contra 0 peso constante do vento negro e impiedoso. Ele ndo se esque- ceu disso, pensou Wilbourne, observando a luz. Mas provavelmente ele nunca se esqueceu de coisa alguma na vida exceto que jd esteve vivo uma vez, que deve ter nascido vivo, pelo menos. E com esta palavra ele desper- tou para 0 seu coracio, como se todo 0 terror profundo apenas aguardasse até cle estar pronto. Podia sentir o duro vento negro tam- bém, enquanto piscava seguindo a luz cambaleante, até que esta atra- vessou a sebe e desapareceu; ele piscou continuamente contra 0 vento negro, sem poder parar. Meus canais lacrimais ndo esto fincio- nando, pensou, ouvindo seu coragdo que rugia ¢ trabalhava. Como se ele estivesse bombeando areia e ndo sangue, algo ndo liquide, pensou. Ten- tando bombear. Deve ser por causa deste vento que acho que ndo posso respi- rar, ndo propriamente que ndo possa respirar, encontrar algo em alguma parte para respirar, porque aparentemente o coragdo pode suportar qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa. Ele se voltou e atravessou 0 alpendre. Desta vez como antes ele € © constante vento negro eram feito duas criaturas tentando passar por uma tinica entrada. S6é que ele ndo quer realmente entrar, pensou. Nao precisa. Nao tem necessidade. Sé estd me atrapathando pela diversdo, pela farra. Podia senti-lo na porta ao tocar a macaneta, depois, perto, podia ouvi-lo também, um sibilo, um murmirio. Era uma brincadei- ra, quase uma gargalhada presa, apoiando seu peso na porta junto com o peso dele, fazendo a porta ficar leve, muito leve, sub-repticio, fazendo seu peso sentido somente quando o homem chegou a fechar a porta e desta vez com muita facilidade por ser tao firme, apenas brincalhao e prendendo o riso; nao queria realmente entrar. Ele fe- chou a porta, observando a ténue luz que descia sobre a entrada, vinda do quarto, diminuir, tremelicar e se recuperar como 0 pouco vento que tivesse podido permanecer na casa, caso 0 tivesse querido, houvesse ficado preso ao se fechar a porta, ¢ se esgueirado tranquiila- (245) mente para fora com 0 ultimo estalido de fechamento, risonho ¢ constante, de todo nao indo embora; ¢ cle se voltou para escutar, a cabeca ligeiramente inclinada em direcdo ao dormitério no processo da escuta. Mas nenhum ruido veio de 4, nenhum ruido na entrada a no ser o vento murmurando contra a porta da estéril entrada aluga- da onde estava parado, imével para escutar, pensando tranqiiilamen- te, Adivinhei errado, B incrivel, ndo que eu tenha tido que adivinhar, mas que tivesse adivinhado tao errado nao se referindo ao doutor, nao pen- sando no doutor agora (Com uma parte da mente que nao estava usando agora ele podia ver: a outra entrada limpa, arrumada, man- chada de marrom, a prova de vento, com madeira de encaixe, a lan- terna ainda brilhando sobre a mesa ao lado da apressada maleta, as grossas canelas escavadas pelas intumescidas varizes, como cle as vira sob 0 camisolio, escavadas de uma forma ultrajada e convencida e ja- mais aplacavel por qualquer outra coisa que nao fosse isso; ele até podia ouvir a voz nao elevada, mas excitada, um pouco estridente, ir- reconciliével também, ao telefone: — E.um policial. Um policial. Dois se necessario. Ouviu bem? — Ele ird acorda-la também, pensou ele, vendo isso também: o quarto de cima, a mulher gorgénea na camiso- la cinza de colo alto erguida sobre 0 cotovelo na insossa cama cinza, a cabeca de lado para ouvir, e sem surpresa pois estaria ouvindo ape- nas o que ha quatro dias vinha esperando ouvir. Ela voltard com ele — se ele vollar, pensou. Se ndo ficar sentado do lado de fora com um revdlver para guardar as saidas. E talvez ela esteja com ele também). Porque isso nao tinha importancia, era como colocar uma carta no correio; nio importava qual caixa, s6 que ele tivesse esperado até tao tarde para despachar a carta, ele, apds os quatro anos e em seguida os vinte meses, 0s quase dois anos mais ¢ entdo acabou, estaria formado, Es- traguei até essa parte da minha vida que joguei fora, pensou ele, imével sob o murmiirio risonho do vento que aguardava sem pressa, a cabeca ligeiramente voltada para a porta do dormitério, ouvindo, pensando (246) com aquela camada trivial da sua mente que nao precisava usar. Entiio néio é sé por causa do vento que ndo posso respirar, entdo é possivel que para sempre eu tenha adquirido, ganhado, um pouco de asfixia, comecando a respirar nao mais depressa porém mais profundamente, nao conse- guia parar, cada inspiracdo mais e mais rasa e mais ¢ mais dificil e mais mais proxima do limite dos pulmées, até que logo escaparia deles in- teiramente e jamais haveria de fato ar algum fosse onde fosse, piscan- do continua e dolorosamente por efeito da repentina granulacao das palpebras, como se a areia preta, obstruida para sempre de toda a umidade, na qual o forte coracao escavava e extrafa, estivesse a ponto de estourar através de todos os dutos e poros, como dizem que acon- tece com o suor da agonia, pensando, Calma, agora. Com cuidado agora. Quando ela voltar desta vez ela terd que comegar a segurar firme. Cruzou o vestibulo em direcdo 4 porta do quarto. Ainda nao havia outro ruido senao o do vento (havia uma janela, a esquadria de- sencaixada; 0 vento negro sussurrava € murmurava contra ela, mas sem entrar, ndo queria, nao precisava). Ela estava deitada de brucos, os olhos fechados, a camisola (a vestimenta que nunca possuira, nunca usara antes) torcida a sua volta bem sob os bragos, 0 corpo nao espalhado, nao largado, mas ao contrario, até um pouco tenso. O sus- surro do vento negro enchia o quarto mas vinha do nada, de forma que logo pareceu a ele que o ruido fosse isto sim o murmirio da pro- pria lumindria colocada sobre uma mala, em pé, ao lado da cama, o rocar e murmurar da luz débil e opaca sobre a carne da mulher —a cintura ainda mais fina do que ele acreditara, antecipara, as coxas apenas largas uma vez que estavam achatadas também, o elegante e nitido corte do ventre entre a depressao achatada do umbigo ¢ 0 rente calice de pélos pabicos e nada mais, nenhuma sombra solapa- da de negrume inextirpavel, nenhuma forma de morte corneando- 0; nada para ver, ¢ contudo estava l4, ele impedido de observar a prépria corneacio, podendo apenas olhar para baixo até a invisivel [247]

Potrebbero piacerti anche

  • Medicoeomonstro 87-109
    Medicoeomonstro 87-109
    Documento12 pagine
    Medicoeomonstro 87-109
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Nuvemdamorte
    Nuvemdamorte
    Documento2 pagine
    Nuvemdamorte
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Babel
    Babel
    Documento4 pagine
    Babel
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Meninaquebatizou
    Meninaquebatizou
    Documento6 pagine
    Meninaquebatizou
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Ficcoes
    Ficcoes
    Documento6 pagine
    Ficcoes
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Di Algo
    Di Algo
    Documento2 pagine
    Di Algo
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Coyote
    Coyote
    Documento3 pagine
    Coyote
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Geracaolinguagem
    Geracaolinguagem
    Documento5 pagine
    Geracaolinguagem
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Rio Lit Era Rio
    Rio Lit Era Rio
    Documento3 pagine
    Rio Lit Era Rio
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Imagensfieis
    Imagensfieis
    Documento8 pagine
    Imagensfieis
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora
  • Fabulas
    Fabulas
    Documento6 pagine
    Fabulas
    lauradavina
    Nessuna valutazione finora