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~ CAPITULO 9 - A PSICOLOGIA CLINICA EM SARTRE: DO CAMINHO Da NAUSEA AOS EMPREENDIMENTOS BIOGRAFICOS, [ATRAVES DO METODO DA PSICANALISE EXISTENCIAL 9:1 A PSICANALISE EXISTENCIAL DE SARTRE E SEU CAMINHO METODO- LOGICO EM DIREGAO A UMA PSICOLOGIA CLINICA CIENTIFICA Sartre explicita seu método para a investigagio do_psicoligico, no capitulo de O ser eo nada intitulado “Psicandlise Existencial”, complementando-o em seu Questito de meétodo. Em seu método “psicandlise existencial” prope uma forma objetiva de investigar a dimensio de ser do sujeito humano, compreendido enquanto ser-no-mundo, como ser-em-situagao, um singular/universal. objetivo da psicanélise sartriana é deciftar o nexo existente entre osdiversos comportamentos, gostos, gestos, emoges, raciocinios do sujeito concreto, 20 extrair o significado que salta de cada um desses aspectos em diregio a um fim. Isto quer dizer que a psicandlise existencial deve decifrar © projeto de sex de cada individvo estudado, pois é cle que define o que so para onde se encaminham os diferentes movimentos de uma pessoa no mundo, “Esta unidade, que 0 ser do homem considerado, é uma livre unificagio [.] Ser, para Flaubert, assim como para todo sujeito de uma ‘Diografi’, € unificar-se no mundo. A unificagdo irredutivel é a unificagao de um ‘projeto original’, unificagio que deve se mostrar a nés como um absoluto no substancial” SARTRE, 1997, p. 687). © ponto de partida da investigagio deve ser os aspectos concretot da vide de um sujeito, ou seja, os fenémenos de sua vida de relagées, de -234- SAmrne PSICOLOGIA CLNtey homem em situagio. Aqui se delineia 0 método sartriano: por um lado, ele é comparativo, ou seja, estabclece ligagdes entre os diversos aspectos que presidem a vida de um sujeito, procurando atingir o projeto original que dé sentido 20 conjunto; é, nesse sentido, um método compzeensivo ou sintético, jé que pretende chegar “a intuigo do psiquico, atingida por dentro”, como diria Jaspers (1979). Por outro, o método deve ser progressivo ¢ regressivo, como vimos no livro Questia de método, ou seja, deve situar os aspectos objetivos (época, cultura, sociedade, nivel social, estrutura familiar, ete), que definem os contornos de ser de um sujeito concreto, reenviando-os ao mesmo tempo, a sua subjetividade, a fim de se compreender a apropriagio singular desses aspectos mais universais. A expressio da pessoa em gestos, atos, palavras, obras, deve, assim, ter sua dimensio subjetiva e objetiva. O sujeito € ‘um singular/universal, pois, ao mesmo tempo, em que € idiossincritico, € resultante de seu tempo, de sua cultura ¢, portanto, uma ponte para compreendé-los. A concepgio de homem que subjaz a teoria sartriana ¢ historica dialética, segundo a qual, o sujeito s6 pode ser compreendido levando-se em conta sua histéria individual, tanto quanto a de sua conjuntura familiar © a de seu contexto social e cultural, tendo como fundo de sustentacéo a nogio que “ele se fiz e € feito” no/por esse conjunto de fatores. Toda a psicologia existencialista pauta-se nessa antropologia, servindo de embasamento tedrico para 2 concretizacao da psicandlise existencial. Tal psicanilise, 20 atingir a compreensio da unificacio irredutivel do sujeito ~ 0 projeto de ser =, possibilita o entendimento dos diversos aspectos do psiquismo do sujeito, seu movimento no mundo, bem com suas contradigdes de ser, seus impasses sociolégicos ¢ psicolégicos que podem levar, conforme as citcunstincias, & constituigéo de complicagbes psicol6gicas e, mesmo, a loucura, Essa compreensio psicolégica é, portanto, etapa essencial de uma intervengio clinica, Sendo assim, a psicanilise existencial coloca-se como 0 método necessério para a concretizagio de uma psicologia clinica cientifica. Sartze, com a clareza do potencial clinico de sua psicandlise, afirma, como jé vimos, que sua “psicandlise ainda nio encontzou o seu Freud” (SARTRE, 1997, p. 703), assinalando que o que faltava a cla era ser “posta em prtica” A estratégia por cle utilizada a partir de seus delineamentos teérico- metodologicos om vistas & viabilizacao de sua psicandlise foi o da claboragio -235- canizute9 de biografias, por possibilitarem uma compreensto rigorosa do ser dos seus biografados, ou seia, esclarecerem 0 processo de suas personalizagbes, em suas dimensdes objetivas e subjetivas, chegando 20 projeto € ao desejo de sex dos escritores estudados. Essas biografias trazem, com isso, uma grande contribuigio a0 entendimento dos camninhos de uma psicologia clinica sartriana, eee ‘A biografia deve expor um homem enquanto totalizacio, € no como um conjunto fragmentério de comportamentos, emogies, desejos, afirma Sartre. O existencialista critica, assim, a forma mecanicista como as biografias, em geral, sfo elaboradas: Veja, entretanto, isto que chamam de pricologia. Realicam uma biografia 20 azar, e 0 género de descrigio que voce encontra ali € mais ou menos perpassado pela narrativa de acontecimentos exteriotes € por alusdes aos grandes icones explicativos de nossa época: hereditariedade, educagdo, meio, constituigto fisiologica (SARTRE, 1997, p. 685). Dessa forma, critica os bidgrafos “que realizam uma narrativa historica feita “por fora”. Sartze, em suas biografias, ndo faz uma simples descriglo da facticidade (nazrativa dos futos vivides), ou uma biografia de Linhagem (onde nasceu, filho de quem, casou com quem, teve quantos filhos, escreveu quantas obras, ete.). Suas biografias sio realizadas “por dentro”, quer dizer, colocam o sujeito concreto, através de um movimento de compreensfio, no qual busca esclarecer as condigdes epocais, culturais, sociais, familiares, além das subjetivas, psicol6gicas, que possibilitaram a seu biografado chegar a ser quem ele foi e come chegou 2 st-lo, nfo abrindo mio do movimento, constante da andlise empreendida, entre 0 sujeito ¢ ¢ objetividade, movimento dialético este produtor do psiquico, Portanto, nessas biografias, nfo so somente 0s fatos vividos, linhagem familiar, a data de nascimento, a histéria de relagses, as obras, que sio explicitados, mas, em uma perspectva meee coe rico e sociolégico em cada um de seus as] Sy 1oment pansies gceedaer aun familia, o sentido da obra produside por esses escritores em seu contexto cultural, enfim, a intersec¢io de todas ‘esas variiveis. Realiza, também, a discussio de todos esses elementos em una perspectiva regessva, ot ej, tomando igualmente como objeto de andlise 2 forma singular como o escritor experimentou as mediagoes a -236- Sherme eAsicolocta cute desses diferentes aspectos, aquilo que ele fez daquilo que todos esses fatores fizeram dele, abordando, por fim, a sua obra literdria, como expressio subjetiva. Emerge do texto a personalidade, naquilo em que ela se constituiu, assim como of vicios e patologias decorrentes do processo de personalizago, cujo nexo compreensivo seri sempre o projeto de ser. Dessa forma, salta aos olhos do leitor um individuo conereto, vivo, em “carne ¢ 0860”, contextualizado em seu ambiente familiar, cultural, epocal. Permite, com essa sintese, verificar as consequéncias trazidas por seu processo de personalizacio para a realidade de ser do sujeito. Chega, assim, a0 que poderiamos considerar como uma rigorasacompreensio psicolégica dos sujeitos estudados. ‘Vamos, portanto, acompanhar o desenvolvimento dos empreen- dimentos biogrificos de Sartre, para entender com clareza os caminhos de sua psicandlise existencial poder refletic sobse a sua viabilidade clinica. Neste capitulo, nos deteremos na andlise da biografia de Jean Genet, intitulada Saint Genet: comédient ef martyr, ¢ de Gustave Flaubert, intitulada L'idiot de la famille, que foi a tltima grande obra de Sartre, sintese de todo seu percurso tebrico-metodolégico. Antes, porém, analisaremos o seu primeiro romance, editado em 1938, chamado La nausée, no qual narra © que poderiamos considerar um processo psicoterapéntico de Roquentin, seu principal personage, delineando, pela primeira vez, uma elaborasio nna diresao da clinica, que aponta para o que poderia vir a se constituir em uma “psicoterapia sartriana’, \ 9.2 A NAUSEA: © PROCESO PSICOTERAPEUTICO DE ROQUENTIN A néusea 60 primeito romance de Sartre a ser publicado. Comegara a redigi-lo em 1931, pasando por diferentes manuscritos, que se chamaram, sucessivamente, Fato sobre a contingéncia, Melancolia, até que, finalmente, para fins de publicago, em 1938, por sugestio de Gaston Gallimard (que seria, daquele momento em diante, o editor de Sartre), intitulou-se 4 ndusea. O livto & escrito em forma de diétio e narra as experiéncias vividas por Antoine Roquentin, historiador que se fixou em Bouville, cidade do interior da Franga, para pesquisar sobre o Marqués de Rollebon, um personagem da vida politica francesa do século XVIIL. cairut0 9 -287- ‘A narrativa de Roquentin comesa por uma série de acontecimentos que estavam ocorrendo em sua vida sem que ele conseguisse compreendé- los. As mudangas diziam respeito A sua relag20 com os objetos. “Os objetos aio deveriam tocar, escreve Antoine em seu diario, jé que nio vivem. [..] E a mim eles tocam ~ € insuportivel. Tenho medo de entrar em contato com eles exatamente como se fossem animais vivos” (SARTRE, 2000, p. 26). Essas mudangas se expressavam através de uma “metamorfose insinuante e delicadamente horrivel de todas as sensagbes; era a niusea”. Em diferentes ocasiées, caminhando na rua, jogando pedras ao mat, sentado em um café, subitamente, Antoine era tomado por aquela iritante experimentasio, uma espécie de enjoo adocicado, uma leve tontura, uma néusea, sem que conseguisse facilmente dela se livrar e sem perceber o que © levava 20 acesso emocional. Era uma experimentagio psicofisica, corpo € consciéncia envolvidos no acontecimento. Questionava-se acerca da mudanga que estava lhe ocorrendo nas tiltimas semanas? Era uma mudanga difusa, que nao se fixava em nada. O que mudou? Foi ele? Foi o quarto onde se encontrava, a natureza ao seu redor? Conclui, aos poucos, que ele mesmo 6 que foi se transformando. Mas como? De que maneira? O que esti acontecendo? Declara: “Nao creio que a profisio de historiador incite A anilise psicolégica. Em nosso trabalho lidamos com sentimentos inteiros: ‘Ambigio, Interesse. No entanto, s¢ tivesse um minimo de conhecimento de mim mesmo, seria esse 0 momento de utilizé-lo” (SARTRE, 2000, p. 17). Otha-se no espelho, mas nio se reconhece. Nao consegue entender nada de seu rosto: ali esto o mesmo nariz, boca, orelhas, mas jé nfo tem expresso humana. Nao consegue definir se é bonito ou feio, nem encontrar sentido nessa face, nem em seu corpo. Por que no consegue compreender seu rosto? Por ser um homem sozinho? As pessoas que convive em sociedade aprendem a se enxergar através dos outros, j4 que estes fazem 0 papel de espelho. E ele que néo tem ninguém? Como escapar a esse carne nua € crua, essa natureza sem homem? Roquentin vive inteiramente 36, nunca fala com ninguém, a nfo ser conversas formais com 0 autodidata (estudioso que sempre encontra na biblioteca), ou uma relago amorosa, de tempos em tempos, que tem com « dona do café “Rendez-vous des Cheminots", perto de onde mora, a qual tem virios amantes, sendo ele somente mais um deles, Pela primeira vez.o incomoda estar 6; gostaria de poder dividir com alguém o que the esté acontecendo. Lembra-se de Anny, 238- ‘Sanne EA PsIcoLostA cuca sua ex-namorada, que faz quatro anos que nfo vé. Experimenta um tédio enorme de viver, Bouvillee seus habitantes acomodados, mergulhados ema seus habitos e problemas pequeno-burgueses o enojam; o Sr. De Rollebon © enfada, suas pesquisas o desagradam. Nada mais tem muito sentido, A nndusea se apossa dele, estd nele sem que consiga dela se livrar. Sente medo sobte o que pode vir a lhe acontecer. Podemos notar, portanto, que © que Antoine vem descrevendo desde 0 inicio de seu didrio se encaixa, perfeitamente, nas queixas iniciais de qualquer paciente em seu processo psicoterapéutico. Descrevem as ‘emogdes, os impasses psicolégicos que os acometem, sem que consigam compreendé-los. Sio tomados por eles ficam assustados. Somente conseguia sair da néusea quando escutava uma musica specifica. Era a miisica que sempre pedia para tocarem quando ia a0 café “Rendez-vous des Cheminots”, a cangio de jazz Some of these days. Absorvia-se na musica, ela o fazia viajar a outro tempo, lembrar de suas aventuras. Quando se dava conta, o enjoo havia pasado, Pouco a pouco, no entanto, comega a retomar o scu passado, 2 lembrar-se de que o sentido de sua existéncia fora sempre o de “viver aventuras’, Atravessara os mares, deixara cidades, subira rios, adentrara- se em florestas, tivera varias mulheres, varias brigas, ¢ tudo isso o havia evado aonde? O que lhe acrescentarim essas aventuras? O tédio e a ndusea orondam. Até ha dois anos, tudo corria tranquilo; bastava fechar os olhos para lembrar de mirlades de cidades, rostos, lugares. Tudo isto 0 alegraras ‘no entanto, hoje, néo deixam mais do que um gosto amargo na sua boca. Suas histérias esto mortas, limitam-se a palavras, mas sem substancia: “teferem-se a um sujeito que fez isto ou aquilo, mas néo sou eu, nao tenho nada em comum com ele’ (SARTRE, 2000, p. 57). Nunca teve « certeza, como agora, de ser alguém sem “dimensées secretas’, reduzido a ser sornente seu corpo. Esta compelido ao presente, preso nele, no consegue fagir de si mesmo. O sentimento de aventura que o guiou até aqui, tendo definido 0 sentido de sua vida, se esvai. Sempre “imaginara que em determinados momentos minha vida deveria assumir uma qualidade rara e preciosa. [JF isso que me tiram agora. Acabo de descobris, sem razto aparente, que menti a mim mesmo durante de anos. As aventuras esto nos livzos" (SARTRE, 2000, p. 63). Percebe que aconteceram histsrias, fatos, incidentes, mas ndo aventuras, pois estas so simplesmente formas de contar o que Ihe sucedeu, pois o que delineia 6 tom da aventura é a forma carirox0 9 -239- de narré-la. Buscava um “momento precioso”, que 0 marcasse para todo 0 sempre, mas quem conferia o caréter fantéstico para 0 que havia vivido era le proprio, o sentido que ele mesmo dava 2 histéria, iluminado por suas paixdes futuras. Fra o futuro, portanto, que definia o significado desse pasado; o fim que a tudo define ja esta presente na historia. Essas reflextes fazem com que modifique sua relaso com o pasado: “a importancia dessa descoberta nfo esté apenas no fato de que um passado querido tem um sentido alterado, mas ainda o fato de que a prpria vida the apareceré com ‘uma qualidade até entio insuspeita” (MOUTINHO, 1995, p. 50). (© que vemos aparecer, portanto, ¢ que nos ajuda a compreender as perturbagées psicofisicas vivides por Roquentin é que, na verdade, o que esté em questio € seu “projeto de ser”. A nausea é 56 a expresstio psivofisica desse questionamento crucial de seu ser: toda sua vida esti em questio, olha para sua historia e nfo se reconhece mais. O espontaneismo que marcara sua historia, posto que antes vivia somente o momento, deixando-se levar pelos acontecimentos, tornou-o “prisioneiro da passagem’, isto é sem um lugar seu, sem referencias afetivas, sem se comprometer com um futuro, fixo no “aqui e agora” efémero. Olhava para o espelho € no se reconhecia. E Légico, seu ser estava em questo. Quem era, afinal, Roquentin? O que tinha feito de sua existéncia? Experimentava-se vazio. Em um primeiro momento, diante de todas essas mudangas questionamentos, busca a resposta em seu trabalho, algo que Ihe devolva © sentido de ser. S60 Marqués 0 salvari. Aos poucos, no entanto, vai percebendo que este era outro engodo, “O Sr. De Rollebon era meu s6cio: precisava de mim para ser ¢ eu precisava dele para nio sentir meu ser. [.] Eu era apenas um meio de fazé-lo viver, ele era minha razto de set, me libertava de mim mesmo. Que farci agora®”. (SARTRE, 2000, p. 148). Di-se conta, entio, que sua existéncia esté liberada, desprendida, que reflui sobre ele. © que fara de si mesmo? ‘A nfusea nfo fora mais do que a descoberta da contingéncia, ou seja, a descoberta de que sua existéncia nfo tinha justificativa a priori, era absoluta, como absolutos ele experimentava os objetos, como a raiz do castanheiro, por exemplo, que 0 tocava, 0 invadia. As coisas do mundo estavam ai, existiam simplesmente, eram gratuitas, nfo eram necessérias. ‘Quem define o seu sentido € o homem; a consciéncia que as constata, [Nenhum ser necessirio pode explicer a existéncia: a contingéncia no € uma iluséo, uma aparéncia que se pode dissipar; é 0 absolute, -240- SaRTRE #AsIcoLoata cuca por conseguinte 2 gratuidade perfeita, Tudo € gratuito: esse jardicn, essa cidade eeu prdprio. Quando ocorre que nos apercebemos disso sentimos © estémago embrulhado, ¢ tudo se poe a flutuar como outra noite [.J € isso a Nausea, SARTRE, 2000, p. 194), Sendo assim, o sentido de nossa existéncia tem de ser construido, projetado e nio simplesmente vivido. ‘A existincia se desvela, como a Descartes, através do cagito. No entanto, para Roquentin, nfo € somente a experiéncia seflexiva que a faz aparecer, mas a experiéncia de seu corpo, é cla que é a experiéncia insuprimivel (MOUTINHO, 1995). Suas reflexses fazem-no apropriar se das suas experimentagSes psicofisicas, essa dimensio pré-reflexiva, issefletida, Como Sartre (1965) teorizamaistardeem suas obras picoldgicas: “nfo ha eu no plano irrefletido”, pois nesse nivel estou mergulhado no mundo dos objetos. Nessas situagies 0 mundo age sobre 0 sujeito como uma forga. “Tudo se passa como se nés vivéssemos num mundo em que 0s objetos, além de suas qualidades de calor, odor, forma, tivessem as de repulsivo, atrativo, encantados, ete, € como se ‘ais qualidades fossem forgas que exercesser sobre nds dererminadas ages”. Dai o desdobramento para © método sartriano de investigasao psicolégica: & preciso recorrer a essas experimentagées concretas, inventariando’ seu contetido de modo nao posicional, pois s6 assim atingimos o sujeito em “carne e osso”, em sua dinamica psicoldgica, ‘Nesse plano revela-se para Roquentin sua liberdade, pois, aos ppoucos, compreende que o sentido das coisas depende de seu livre lanear- se para elas: para os objetos, para o seu trabalho, para o seu pasado. A cle cabia significé-las. Estava, portanto, com a “vertigem da liberdade”, na medida que seu ser depende de suas escolhas, de seu langar-se a0 mundo. As coisas so inteiramente 0 que elas so, nada ha por tris delas que as definam a priori, & a relagio dele com as coisas que constitui o mundo. que fazer do seu ser? Nada, nem ninguém, ird Ihe dizer, Ihe determinar. A definigio de seu ser dependeri de seu movimento no mundo, do que ele deseja realizar. Esta, pois, livre e 96. Antoine buscou, entio, o tiltimo porto seguro de sua histéria: foi encontrarse com Anny, a tinica mulher que amou de verdade na vida, mas com quem, em realidade sempre tivera uma relasio conturbada. Ela bbuscava viver os “momentos perfeitos’, acontecimentos mégicas para ela, nos quais algo se revelava; nao sabia de onde vinham, mas aconteciam. cartroxe 9 24 Ficava brava com Roquentin que sempre 0s fazia se esvairem, pois no sabia © que devia dizer no momento oportuno, que atos realizar no momento exigido. As situagées viravam tragédias, pois ele no sabia cumprir seu papel naqueles momentos ¢ Anny se irritava. Depois de todos esses anos, ‘Anny jé nfo buscava mais os ‘momentos perfeitos’, assim como Antoine desistira de viver “aventuras”; 0s dois haviam perdido o sentido alienante de seu ser anterior. Anny esti tio esvaziada quanto ele, afirmando: “cobrevivo a mim mesma”, Nao havia mais nada que um pudesse mediar para 0 outro. Enquanto viviam aprisionados na espontaneidade, na vivencia do “aqui agora’, um dava suporte para a alienagao do outro, mas agora, nada podiam fazer mutuamente. Anay diz que ele lhe era indispensével, pois enquanto ela mudata, ele ficara fixo, imutivel, servindo-lhe de marco de referéncia. Eh, portanto, nfo o compreendia, no o enxergava, nfo conseguia ver nada a ndo ser asi mesma. Roquentin, quando a deixa, nao se sente arrasado, j4 que ela nada mais tem a Ihe oferecer; no entanto, experimenta um grande ‘edo de voltar a solidio. Apés seu encontro com Anny, Roquentin desfez seu tiltimo laco com o passado. Esté finalmente liberto de suas amarras historicas, desfez-se de uma dindmica de ser que, ao ocorrer na espontarieidade, sem compromisso com. nada, o impeliu para a solidfo e para a auséncia de sentido existencial. Essa situagdo tornou-se insuportével, levando-o a experimentar alteragdes poicofisicas — a ndusea, Seu didrio narra a apropriagio de seus impasses, ‘6 enfrentamento de suss dificuldades. Roquentin teve seu projeto de ser questionado em sua raiz - esté vazio. “Agora, quando digo ‘eu’ ‘parece oo. Jé nao consigo muito bem me sentir, de tal modo que estou esquecido, Tudo o que resta de real em mim ¢ existéncia que se sente existi. ‘Antoine Roquentin néo existe para ninguém. E algo abstrato” (SARTRE, 2000, p. 247). O que fazer de sua vida? O que fazer de seu ser? A angiistia nfo 0 larga. Tem dinheiro ¢ jovem, 96 trinta anos, 0 que fazer de sua existéncia? Decide que vai embora para Paris, Mas o que fazer por li? Ir a0 cinema? Passear nos jardins? Frequentar as bibliotecas? Nada disso o afastaré do tédio. Precisa encontrar um sentido para sua existéncia. Serd novamente a mesma miisica que 0 atrancaré do impasse, do vatio de ser. Escutava-a uma tltima vez, no café, antes de partir para Paris. A vor canta: some of these days... Na miisica nada é demais, ela simmplesmente como ele também simplesmente quis ser; alis, 86 quis isso, eis a chave I i | =242- Santas ea rstcovosta culsica de sua vida. Agora compreende o vazio em que se langou, que € um simples sujeito, sentando no banco de um café, escutando aquela melodia. Através dela entra na realidade, ela o faz ver a necessidade que tem de preencher © mundo. A negra canta. Compreende a fungio da cangio, jé que esta justifica a existéncia da cantora, Aos poucos vai percebendo que também precisa fazer algo de concreto no mundo que justifique sua existéncia, Néo seria uma cangio, pois nada entende disso, mas quem sabe um livro, pois © que sabe fazer é escrever. Nio poder ser um livro de historia, porque isso fala do que j existiu; mas um romance de aventura, que por trés das palavras fagam curgir algo acima da existéncia, Reflete: “chegaria 0 ‘momento em que o livro estaria escrito, estaria atrés de mim, e creio que um pouco de claridade iluminaria meu passado. Entio, talvez através dele cu pudesse eyocar minha vida sem repugnineia [..] E conseguiria ~ no passado, somente no passado ~ me aceitar” (SARTRE, 2000, p. 258). Roquentin redefine seu projeto. Ser um escritor! Sua existéncia ganha sentido novamente. Agora pode encarar sua historia, admitir sua temporalidade. Supetou seus impasses psical6gicos, colocando-se como uma totalizagio em curso ~ corpo/eonsciéncia em diresio a um futuro. Est inteizo para retomar sua existéncia, Agora justificada. Poderfamos dizer, em uma linguagem clinica, que Antoine cureu-se, no sentido de ter eselarecido seu projeto, suas estratégias de ser, tendo sua histéria em suas proprias mios. A_canglo exerceu, no romance, importante fimo terapéutica (MOUTINHO, 1995), Foi ela a mediadora das reflextes criticas de Roquentin, que the permitiram superar as perturbacSes psicofisicas, as cemosdes (niusea), que nada mais exam do que expresses da perda de sentido do seu ser, engendrada pelo espontaneismo e pela solidio, a0 redefinir seu projeto, Verificamos, assim, que A ndusea & a descrigio de um processo Psicoterapéutico: no inicio, Roquentin, enredado cm sensagGes psicofisicas que o amedrontam, na medida em que no compreende scus significados, vai aos poucos, porém, intuindo que elas sio resultantes de seu tédio existencial, de sua solide, que 0 colocam frente a frente com sua histsria, frente a frente com a existéncia injustificada dos objetos ¢ entes em geral. Ao compreender que o que havia feito de sua vida ~ viver aventuras - 0 levava para o fracasso, pois era uma existéncia puramente espontinea € descomprometida ¢, por isso, injustificada, esvaziada; quando pensa em cartreto 9 =243- seu ser, tudo parece oco. Vai, passo a passo, libertando-se de sua alienasio. Tem, agora, todas as condigées de redefinir seu projeto, recolocar sua existéncia em um novo patamar, ¢ é 0 que sealizard 20 final, conseguindo, porfirm, unificar sua historia - passado/presente/futuro ~ ganhando sentido de ser, tornando-se esctitor ¢ redefinindo sua relagio com as pessoas, com mundo. 9.3 SAINT Gener: COMEDIBN ET MARTYR, A SUPERACAO DE UMA DETER- MINAGAO Sartre escreve o livro Saint Genet: comédien et martyr no inicio dos anos 1950, por ocasiao de uma encomenda da editora Gallimard para que realizasse uma introdugio as obras completas do escritor e poeta Genet, ainda vivo e no auge da fama. O fildsofo, que jé vinha no percurso de claboragio de sua psicanilise existencial, vin aqui uma boa oportunidade de colocar em pritica suas concepses de uma nova compreensio do sujeito humano, principalmente em suas dimensdes histérica ¢ psicolégica, como | havia comecado a realizar na biografia dé Baudelaire, editada em 1947. (Os livros escritos por Jean Genet so um material muito rico para anilises psicolégicas, na medida em que sto escritos autobiogréficos nos quais 0 autor despe-se na frente dos leitores, descrevendo as experiéncias concretas que enfrentou na sua historia, bem como a experimentacéo paicofsica com que foi por elas afetado, Além de analisar suas obras © algumas correspondéncias, Sartre teve com Genet uma série de conversas, ‘nas quais procurava esclazecer os aspectos que permaneceram obscuros nos seus livros. 4 Sartre deixa clara sua pretensio de elaborar uma compreensio cexistencialista da personalidade de um escritor, partindo dos modelos propostos pela psicandlise e pelo marxismo, porém deles se diferenciando, assinalando scus limites de compreensio do hnamano. Realizou seu intento ao elaborar a comprecnsio psicoldgica de Genet, ressaltando nela sua petspectiva antropolégica. Quer dizer, tratou de delinear o ser de Genes, de desvelar 0 projeto fundamental do poeta, através da descrigio dos is ue tudo indica estas 1 Apesar de Sartee assinalar que realizou essas entrevista, pelo que © ss {orasn informs, pos nie encontramos nenhum registro sobre esses acontecimentos:n data, nem frequencia, nem local 24a SARTRE BAFSICOLOGIA CLINIC entornos necessérios compreensio de um sujeito conereto, em movimento no mundo, demarcando, através dele, sua compreensio de homem. A psicologia ca antropologia subjacentes 20 Saint Genet pressupdem, pois, um conjunto de formulagées tedricas que Sartre foi construindo ao longo de sua trajetdria filoséfica. As temiéticas fundamentais da sua proposicio de uma psicologia existencialista e de uma antropologia estruturale historica estéo delineadas nesse Livro, além de esbosar o primeiro momento fundamental de todo processo clinico em psicologia - 0 da compreensio psicolégica ow psicoterapéutica. Constitui-se, dessa forma, num rico material para analisar as elaborasées de Sartre em diregio a uma nova psicologia © as possibilidades de sua aplicagao na prétiea clinica Sartee comesa descrevendo a condigdo psicossocial de Genet, que abandonado logo apés 0 nascimento em Pais, no ano de 1910, criado em orfanatos, sendo, portanto, filho ilegitimo, sob a protegdo do Estado, néo tinha identidade propria: néo tinha casa, nem pertences, nem familiares; era fruto de uma burocracia administrativa. Até os sete anos, quando foi adotado por uma familia camponesa do’interior da Franga, Alligny-en- Morvan, ele no passava de mais uma erianga na obrigacio estatal. Genet fala com frequéncia dessa situagio em seus livros, jé que sua histéria foi ‘marcada por esse abandono. O fato de desconhecer suas origens permitia- the interpreté-Ia a seu bel-prazer e assim o fara, em seu imagindrio: revestiré sua ilegitimidade de uma aura mistica. Essa experiéncia de abandono ¢, consequentemente, de solidio, marcari o horizonte de possibilidades de sex de Genet. Viveu, nos seus primeiros anos em Morvan, em “uma doce confuséo com o mundo": era uma crianga inocente, vivendo muito préximo 3 natureza ¢, destacadamente, vivendo numa solidio absoluta, pois nfio havia pessoa por quem tivesse a minima afeigio. Genet experimentava-se despossuido de tudo: quando coisas Ihe eram oferecidas (doces, pequenos presentes, gestos de carinho, etc.), pareciam-lhe sempre doagdes em relacdo as quais ficava endividado, Nao adquiriu o sentido de pertencimento, nem a casa dos pais adotivos, nem & cormunidade campesina, apesar de ter assimilado seus valores morais e estéticos. Seri Deus que preencheré o lugar dessas auséncias. Genet tornar-se~a uma alma religiosa, como forma de preencher a auséncia de mediagées sociolégicas. Sua condigéo de pupilo da Assisténcia Publica sempre foi muito ‘marcante para aquela comunidade campesina e, portanto, para ele mesmo. cavtrovog -245 Era um habito dos camponeses dessa regido adotar éeffios ou eriangas abandonadas, pois recebiam um soldo mensal do Estado para deles tomar conta, bem como para utilizé-los como mAo-de-obra na lavoura. Essas criangas eram estigmatizadas pelos filhos dos habitantes locais, sendo motivo de chacota na escola ¢ nas brincadeiras de grupo. Além do que, 203 dezesseis anos, elas eram obrigadas a sair da casa da familia adotiva para ir 2 um centro de aprendizagem do Estado. Sendo assim, Genet nfo conseguia experimentar-se incluido, por mais que sua familia adotiva, diferentemente das outras, nao o forcasse a trabathar, oferecesse carinho, tendo espaco para viver sua vida de erianga. Em suas brineadeirss, Genet realizava, sob 0 manto de sua ingenuidade infantil, o furto de pequenos objetos. Eram brincadeiras ‘espontineas, solitirias, das quais no se dava conta, nem de seu sentido, nem de suas consequéacias. Era uma forma de apropriar-se, na fantasia, de um mundo que sabia nao Ihe pertences, compensando a sua impossibilidade de fer. Vivia, através desses pequenos roubos, a experiéncia imaginria de ser proprietério. Mas eis que um dia, em torno de seus dez anos, foi suzpreendido em “flagrante”, Estava na cozinha de sua casa, pegava alguns objetos ¢ 0s escondia, quando alguém entrou subitamente, surpreendendo-o ‘em sua brincadeira, declarando publicamente, em alto e bom tom: “tu é Jadréo”. Essa fase foi ouvida por Genet como uma sentenga fatal, Em pouco tempo toda a aldeia soube do acontecido. © menino viveu o despertar de sua ingenuidade: abriu os alhos e se deu conta de que rouba. Voltou-se para si mesmo, talvez pela primeira ver; descobriu que era ladrio ¢ que cra culpavel. Sartre afirma que pouco importa, para compreender 0 ser de Genet, se essa situagio foi exatamente do modo deserito por Genet ou teve certas diferengas nos detalhes, pois as consequéncins sero as mesmas: isso se sucedeu assim ou de outro modo. O mais verossimil é que tenha havido culpas e castigos, juramentos solenes e recaidas. Pouco importa: 0 que conta é que Genet viveu ¢ nfo deixa de reviver esse periodo de sua vida como se tivesse durado um tinico instante” (SARTRE, 2002, p. 29). Foi o momento de sua metamorfose: ele, que tinha vindo do nada, que vivia jsolado em sua solidio, agora adquire um ser. Vive como se sempre jé o tivesse sido, como se ser ladriio fosse urna fatalidade. Genet experimenta- se como sempre tendo sido mau. E como se um monstro habitasse dentro dele ¢ 86 estivesse & espreita do melhor momento para agis, independente 246- SARTREHA PSICOLOGIA CLC de sua vontade, como se fosse passivo diante dessa determinagio. A tinica saida, dentro dessa racionalidade fatalista, foi entregar-se ao seu “destino”. Para Sartre, conforme explicita no Questia de método, a «coloragion do projeto de ser de uma pessoa, quer dizer, o seu sabor (dimensio subjetiva), © seu estilo (dimensio objetiva), concretizados através das emogdes, do entendimento da realidade, da expressio verbal, dos gestos, das posturas, dos papéis sociais, nada mais sio do que a superagio de acontecimentos essenciais na histéria das pessoas, da transcendéncia de noses desvis originais. Sartre compreende que a vida de um homem se desenvolve em espirais, pois “LJ ela volta sempre a passar pelos mesmos pontos, mas em niveis diferentes de integrasio e de complexidade” (SARTRE, 1960, p. 71) Se quisermos compreender quem é uma pessoa hoje, devemos remontar 2 sua histéria © & sua eleigio original, conferindo-Ihes uma deserigio fenomenolégica. j Sto essas as razdes que levaram Sartre“ iniciar seu Saint Genet descrevendo esse acontecimento central ocorrido na vide do futuro poeta, momento de totalizacio de seu cogito, que produziu um “corte” em sua existéncia, ainda menino, marcando seu desenrolar histérico. Certamente, esse momento foi resultante de todo um processo que jé vinha se desenvolvendo hi muito tempo, na medida em que pudemos descrever 0 quanto Genet era uma crianga solitiria, que nfo conseguia se tecer & sua familia adotiva, aos seus colegas, & sua comanidade. Elementos concretos do preconceito em relago 2 sua situagfo de bastardo, advindos de um meio social rigido e moralista, somados & sensibilidade de Genet, foram encaminhando-o a uma situagio de inseguranga ontologica e de divisto de ser, pois, se por um lado, era o menino bonzinho, estudioso, intel religioso, por outro, era aquele timido, 0 que se isolava, o que praticava pequenos furtos escondidos, levando-o a experimentar-se excluido. Por iss0, © veredicto foi tio fatal, porque, na verdade, & como se os outros tivessem desmascarado seu segredo, tivessem revelado a sua certeza de ser, fazendo-o desvalosizar todas as outras situagées anteriores de inclusio social. A espiral da vida de Genet se desenvolvera em torno dessa crise criginal, a qual mitificou. Sua biogeafia sera marcada por essa experiencia, cujo clima anteopolégico & o de derro, pois vive & espreita de que a crise se repita © ohar acusador dos adultos foi o ‘poder constituinte", que transformou Genet em uma “natureza constituida’. Sartre, nesse momento, carirato9 -247- descreve as sutilezas da relago eu/outro ¢ seu poder constitutivo do ser da pessoa: avigilancia constante dos adultos, por causa da pouca confiabilidade que tinham em Genet, fazia com que 0 roubo fosse para ele uma presenca constante: estava no ar, no silencio das pessoas mais velhas, na severidade de seus gestos, nos olhares que trocavam, na volta dupla da chave que fechava a gaveta. Genet queria esquecé-lo, sumir em suas brincadeiras e atividades, mas eis que sua mae adotiva, que havia se afastado sem fazer barulho, voltava bruscamente para surpreendé-lo. “Que estés fazendo?” O que podia fazer Genet? Nao conseguia escapar de sua sentenca, 0 roubo esquecido voltava a estar ali, ressuscitado, vertiginoso. A desconfianga projetava seus atos passados para o futuro. Parecia que qualquer coisa que fizesse o remetia & sua predestinagfo: estava condenado até a eternidade a ser o ladrio, Essa é a experiéncia de ser que vivem as pessoas submetidas a uma situagio de inseguranca e desconfianga. Experimentam a sentenga alheia, por ela estar fortemente presente, como a sua condenacio, a sua certeza de ser. Aqui estamos no plano psicoldgic. ‘Mas aqui a compreensio existencialista de Sartre faz a diferenga Poder-se-ia, facilmente confundir que, por Genet estar experimentando- se determinado, é como se estivesse sem saida, fosse vitima da situagio. E importante néo confundir determinismo com determinagio: na medida fem que © sujeito tem um determinismo que lhe é préprio, que define os contornos de sua relacio com o mundo, confunde-se que ests determinado, que no tem como mudar. Néo é assim. A superagio do determinismo est exatamente na concepeio de gue o fundamental é 0 que Genet fox dessa situagdo. No plano antropolégico, Genet € livre como qualquer outro homem. Com pouco mais de dez. anos teve que decidir os rumos de sua cexisténcia: Genet elegeu viver sob as condigdes que lhe eram impostas, dizendo contra todos: “eu serei o ladrio”. Ele mesmo declara: “decidi ser 0 que o delito fez de mim” (GENET apud SARTRE, 2002, p. 61). Em seu livzo Didrio de um ladnéo, Genet descreve a estratégia psicoligica que elaborou para enfrentar 0 desprezo € 0 estigma dos outros, explicitando a inteligibilidade & luz da qual constituiu seu ser, delineando sua dinamica psicolégica: A fim de sobreviver & minha desolagio, quando minba atitude cera mais recolhida, eu elaborava, sem me dar conta uma rigorosa disciplina. O seu mecanismo era mais ou menos o seguinte (a partir daquela época eu o utilizar’): a cada acusagio feita contea mim, até -248- SARTRD A FSICOLOGIA CLINICA mesmo injusta, do fundo do coracio, responderei sim. Mal sinha pronunciado csta palavra ~ ou a frase que a significava ~ dentro de mim ou sentia a necessidade de me tomar o que tinham me acusado de ser. Tinha dezesseis anos. Jé me entenderasm; ema meu cotagko, eu nfo conservava lugar nenhuum onde se pudesse localizar © sentimento da minha inocéncia. Eu me reconhecia o covarde, © traidog, o ladrio, © veado que viam em mim. (GENET, 1983, p. 167-168). Esse incrivel depoimento expée @ luta de um sujeito para se manter {ntegro diante dos mecanismos da exclusto social e demonstra as saidas existenciais e psicoldgicas encontradas pelas pessoas em situagdes de rejeigio, opressio, discriminacéo. Era preciso ele agir sobre si proprio, ‘negar-se enquanto sujeito, assumir 0 que os outros ditavam a ele, como se fosse 0 que ele tinha de ser, para conseguir sobreviver situagio. © que Sartre busca salientar no caso de Gener € a facticidade da liberdade humana, pois mesmo em situagées dificeis, de grande pressio social, em que aparentemente nfo ha saidas, as pessoas tém de fazer escolhas, achar alternativas de ser, surgindo dai consequéncias ontolégicas {de set) que definirio seus rumos existenciais e sociais. Dessa forma, Sartre, a0 se referir a essa experiéncia precoce de liberdade, escreve uma das suas frases lapidares: Nio somos torsées de argila eo importante ndo é0 que fazem de nd, ‘as si aguil que nés fazzmes do que fizeram de nfs. Com a decisio {que tomaram acerca de seu ser as pessoas honradas coagicam uma ctianga a decidis, prematuramente, sobre si mesmo; podemos antecipar que esta decisio seri capital. Sim: ele precisou decidir; matar-se era também decidir. Ele escolheu viver, ele disse contra todos: eu serei o Ladrio, Eu admiro profundamente a esta criansa ‘que se quis sem desfalecimento, em uma idade em. que n6s nos ‘ocupivamos em brincar servilmente para sermos agraddves, ‘Uma vontede de sobreviver tio feroz, uma coragem to pura, uma confianga tio louca em pleno desespero darko seu fruto: desta resolugio absurca nascerd, vinte anos depois, o poeta Jean Genet. (GARTRE, 2002, p. 6 © homem é assim essa dialética entre subjetividade ¢ objetividade, centre agio e reagio. Nio estamos inteiramente nas miios dos outros, pois somos liberdade, mas somos obrigados a escolher alguma coisa diante cavire09 =249- do que os outros escolhem para nés ¢, ao mesmo tempo, os outros so bjetos para nds, pois pensamos e agimos buscando definir o seu set, seu comportamento, perante o que reagem. © homem ¢ objeto para o homem; {sto € certo, diz Sartre, mas também é verdade que sou meu proprio sujeito, ra medida em que o meu proximo é objeto para mim. A reciprocidade absoluta ndo existe; s6 podemos formar parte de um conjunto sob os olhos de um terceizo, que nos percebe juntos. Genet, no podendo escapar da fatalidade, tornou-se a sua propria fatalidade. Decidiu viver o destino tragado como se ele mesmo 0 tivesse criado, Dessa forma, Genet é uma liberdade, mas esta € alienada. Estamos cercados de determinagSes, mas, ainda assim, no somos seres passivos, condiciondveis, pois sempre fazemos algo do que fazem de nds (como Genet fez a0 decidir “ser o que o crime fez dele”), ainda que seja simplesmente corresponder & expectativa dos outros (SARTRE, 1952). Como vimos, 0 éxito néo importa em absoluto a liberdade. Escutemos 0 que o fil6sofo declasa na “Conferéncia de Araraquara’> Eu, pessoalmente, falei da liberdade em meus livros de flosofia. Creio mesmo que essa liberdade é a nosio capital de nosso mundo. Penso, entretanto, em uma liberdade alienada, Acho que, por 02, 0 fhomem ¢ livre para ser alienado. Alienagio e liberdade nio sto, em bsoluto, conceitos contraditérios. Muito pelo contrério: se nit fosses livre como poderia transformar-te em escravo? Nio se escraviea wm pedregulho ou uma maquina: 86 se escraviza ¢ se aliena a um homem ue, primeiramente, ¢ livre. nfo hi alicnagao nfo ser de um bomem live. GARTRE, 1987, p. 39). Como conciliar, portanto, que o homem € condenado a liberdade se cle nao escapa & alienagio? Para compreender tal situagio é preciso distinguir diferentes niveis de realidade: a liberdade € da condigio humana; ja a alienagio ~ ‘que vem a ser 0 fato de nfo podermos, em termos absolutos, ser senhores de nés mesmos, na medida em que o sentido de nossos atos sempre nos escapa através do que 0s outros fazem de n6s ~ a alienacio, portanto, & do processo sécio-histérico, pois depende do contexto cultural em que o homem vive, depende das condigées do sujeito concreto no seu processo historico de telages, $6 uma personalidade, no sentido existencialista do termo, pode sez alienada, pois € s6 para alguém que é sujeito que passa ¢ ser problemitico o sentido do seu ser Ihe evadit. Temos de considerar aqui -250- SawrRe eA PsicoLocta cLimica 1 dimensio psicolégica. A Lberdade nunca se aliena, nem a consciéncia, ‘uma vez que elas sfio uma condigéo inelutivel da realidade humana, Ja 0 sujeito concreto ndo tem como escapar & alienagdo, uma vez que ela resulta do processo dialético da relaglo ew/outro, resulta do fato de 0 homem no ser fechado em si mesmo, mas de viver em um constante processo de totalizacio/destotalizago/retotalizagio. Dessa forma, podemos passar de uma situagio de maior para uma de menor alienagio, mas nunca atingicemos uma desalienagio absoluta, ‘Nesse sentido, Genet é realista. Nao quer mudar nada, aceita todas as coisas como sia: as instituigdes, as normas sociais, etc. Quer ser 0 que fizeram dele; mais do que isso, deseja esse querer. $6 que essa atitude reforga 0 seu contraponto ~ a perspectiva idealista ~ pois, com ela, Genet assuine 0 juizo dos seus opressores. Sua maldade € vivida como uma fatalidade, como um determinismo. A frase dita por Genet: “decidi ser 0 que 0 dclito fez de mim” demonstra os seus esforgos em tentar coincidir com seu proprio ser. Para Sartre, a duplicidade do projeto de Genet (ser objeto para o outro, assumindo o ser que Ihe é impingido e, ao mesmo tempo, se fazer sujeito, no sentido de que ele assume criticamente esse ser imposto, pois que o escolhe livremente) provém da ambiguidade da condicéo do ser humano: “somos seres cujo ser est perpetuamente em questio. Ou se se prefere, nossa maneira de ser consiste em colocar em questio 0 nosso set”, conforme Heidegger define 0 Dasein (SARTRE, 2002, p. 70). Genet quer ser inteiramente objeto, mas justamente por “queré-lo” escapa 4 condigio de objeto. O seu ser esté em questio para seu sex; € ele que escolhe fazer do seu ser um objeto para os outros. Essa ambiguidade sera a marca do ser de Genet. Sartee afirma que avvida de Genet nfo foi m: ontolégica, no sentido de que ele queria possuir @ intuigio de seu préprio ser, queria determinar a si mesmo, fazendo-se objeto absoluto. Basta observar como Genet, no desafio que impés a si prép: sua crise, declarou que seria 0 Jadnio © no que roubaria. Portanto, nao definiu simplesmente seus atos, mas sim seu ser, No entanto, vive esse ser como determinado a priori, como jo tendo sempre sido, como uma natureza, uma fatalidade. Genet tinha quinze anos, ja havia realizado seu intento de ser 0 Jadrdo, assim era conhecido na sua comunidade ¢ era isso o que tinha se tornado, Parecia tudo realizado. Eis, entio, que o prendem ¢ 0 enviam & dlo que uma aventura no momento de carireto 9 -251- Colénia Penal de Mettray. A sentenca esté feita, “os dados esto langados”. Até aquele momento seu desgarramento era apenas moral; a partir dessa prisio est efetivamente desterrado, isolado da comunidades campesina onde foi criado, excluido fisicamente da sociedade dos honestos. Entra em uma nova sociedade, que serd a sua dat em diante, 2 da marginalidade, ¢ que viverd, na sua inteligibilidade fatalista, como o sew destine. Em um primeiro momento, acumulou vergonhas: seu cabelo foi raspado, sua roupa retirada, obrigado a vestir um uniforme, foi insultado e violentado sexualmente pelos detentos. Genet era muito sensivel e consciente de sua situagio. Desde entio experimenta-se como ngjento. Portanto, por ser desprezivel, aquele que nfo vale nada, assume, definitivamente, que é o “outro”. Deixa-se ser usado pelos outros. Essa atitude 0 conduziu & homossexualidade, na qual assumiu a posi¢io de passividade sexual, cornou-se o amante dos “duros” e, dessa forma, realizou plenamente sua intuigio de ser objeto para o outro, Essa sua experiencia de ser o amante dos bandidos, dos malandtos, aquele que se submete as vontades dos valentées, é largamente narrada em seus livros, alifs, € sua temitica central. © Nessa Senhora das Flores, por exemplo, um romance fem que a personagem principal, o travesti Divine, com o qual Genet declara sua identificagio, passa sua vida em busca do amor dos malandros, submetendo-se a seus jogos e suas exigéncias ‘As primeiras experiencias homossexuais de Genet fora ensaios para descobrir, a margem de sua decisto fundamental, uma saida no desespero. A homossexualidade inicial foi vivida com uma espécie de inocéneia. “A Colénia agia entio sobre 0 homem que eu seria. E assim que se deve entender a ‘ma influéncia’ de que falam os professores, veneno lento, semente com retardador cuja floragio é inesperada” (GENET, 1984, p. 261). Essas primeiras experiéneias foram de violagio, Genet foi uma czianga violentada no sentido mais profundo. Sua primeira violagao foi olhar do outro, que o surpreendeu, penetrou e o transformou para sempre em objeto. Experimentou-se, desde sua crise original, rasgado pelo olhar do outro, que penetrava em suas entranhas. Suas primeiras experiéncias sexuais foram de violagio de fato ¢, a0 mesmo tempo, foram violagées simbélicas. A homossexualidade tornou-se, assim, mais uma forma de reviver sua crise original, de recolocar sua submisséo ao outro. A partir de entdo a homossexualidade tornou-se oeixo central davida de Genet. Sua existéncia passou 2 nela se fundamentar. O que aconteceu, -252- SaKrTRE SASICOLOGtA cLiteA cxplica Sartre, foi que a sida de emengéncia acabou por se transformar em saida principal: tornou-se a mesma coisa querer ser 0 ladro ou 0 pederasta; Genet viveu 2 homossexualidade com o mesmo fatalismo que viveu sua maldade. E como se jé tivesse nascido homossexual, como se fosse algo que hrabitasse dentro dele e 0 consumisse. O poeta declara: “Realmente o meu gosto ¢ a minha atividade de ladrio estavam relacionados com a minha hhomossexualidade, saiam dela que jé me separava numa solidio inabitual” (GENET, 1983, p. 233). Sartre avisa que no devemos nos deixar levar pela perspectiva de Genet. O poeta fala de dentro de sua experimentagio de ser, a partir de seu horizonte fatalista. E preciso buscar o sentido ontolégico,de sua homossexualidade, quer dizer, o significado de sua escolha sexual no cerne da questo de ser, posta por Genet. E preciso compreender que a homossexualidade € mais uma estratigia utilizada por ele para “resolver” sua crise original, que o levou a se escolher como objeto para 0s outros. Portanto, a homossexualidade nao a génese de seu ser, como quer acreditar Genet, mas sim desdobramento de sua escolha original. Pode ser que quando adulto, em fangéo do que Genet fez de sua historia, a pederastia tenha se tornado o docus de onde tudo emana. Mas essa nio é a verdade para o processo de constituisao de seu ser. Sartre ressalta que, geralmente, é mais tarde, quando 0 sujeito jé definiu suas escolhas, que, a0 olhar para © passado, ocorte a iusto retroxpectiva, fazendo com que ele descubra em sua histéria sinais precursores de suas escolhas. Assim Genet, por exemplo, valorizou sobremaneira sua proximidade com meninos, considerando que esse “desejo” ocorria desde muito cedo, como se ja tivesse nascido com le, quando necessatiamente esse nio tenha sido o sentido de experiéncia sexual Id na tenra infancia, O existencialista explica que rio se nasce bomossexual ou normal: cada um se forna um ou outro, segundo 0s acidentes de sua histéria ¢ sua propria reagio a esses acidentes. Defendo que a inversio nfo é 0 efeito de uma cscolha pré-natal, nem de uma mé-formagio endécrina, nem mesmo 0 resultado passivo e determinado de complexos: & uma saida que uma crianga descobre, no momento cm que se sente sufocar. (SARTRE, 2002, p. 87). Portanto, a homossexualidade nfo nasceu com Genet, mas foi uma saida inventada por ele para enfrentar a sua violentagio pelos outros. Dessa carirexo9 -253 forma, foi uma escolha, ainda que alienada. E preciso buscar, em cada caso particular, o sentido ontolégico da sexualidade (seja ela homo ou heterosexual). ‘Uma outra caracteristica essencial de Genet é que ele nao tem historia, justamente em decorréncia das particularidades anteriores. Para que um homem tenha uma histéria é necessirio que se transforme, que mude 0 ‘mundo a0 transformar-se, que descubra em sua vida o momento de totalizar sum produto comum de sua época e sua obra singular. Uma vida hist esti cheia de aventuras, de encontros. © futuro é incerto, somos nosso préprio risco, o mundo nos impde perigos: somos um vir a ser, nao nos cristalizamos (SARTRE, 2002). Acontece que Genet era uma totalidade para si mesmo: buscava coincidir consigo, nao abria espaco para mudancas, transformagses. Estava cristalizado em seu destino sagrado. Vivia plenamente sua vida como levada pelo destino terrivel em que 0 langaram, © passado no era mais do que a prefiguragio do futuro, e 0 futuro 2 repetigio do passado, Muitas aventuras aconteceram na vida de Genet, mais do que na da maioria das pessoas; no entanto, nada Ihe acontec Os acontecimentos passazam por ele, nfo o marcaram, nada significaram, As situagées variaram; porém, o comportamento ritual de Genet era imutavel, tudo se repetia, Uma das caracteristicas mais singulares dessa personalidade superdeterminada era que nunca the acontecia nada; Genet nunca encontrava ninguém. Seus amores nfo tinham histéria, ficaram reduzidos 4 repeticio indefinida de gestos j4 realizados, como relagées estereotipadas. A lembranga de seus amantes permaneceu no anonimato, rio foram fulano ou beltrano que 0 amaram, mas sim 0 “objeto X”, 0 “objeto Y”, puros suportes de situagdes erdticas. Suas relagdes partiam dele mesmo ¢ a ele retornavam, sem reciprocidade. Como estratégia de sobrevivéncia em um mundo estéril ¢ pouco hospitaleiro, Genet apela ao imagindrio. No entanto, esse sonhador extremamente pritico: como poderia sobreviver se nio estivesse atento 208 acontecimentos, as situages que o cercam? Coloca-se, a0 mesmo tempo, no plano migico ¢ no plano técnico. $6 que essa contradicto 0 joga num torvelinho, De todos as amarras esse € 0 mais atordoante. O gue o nosso ladsio quer ¢ irrealizar-se em um personagem que nao ¢ ‘outro se néo ele mesmo. Esta muito préximo da loucura, apelando para a queda no imaginério como um recurso de sobrevivéncia. Acontece que ele é por demais racional e pritico para perder completamente 0 contato i -254- SaRTRE BA FSICOLOGIAcLINICA com a realidade. Sera justamente essa nova contradigo que ir salvé-lo, © chogue libertador ocorre quando se dé conta de que sonha, quando se pergunta perplexo como seu realismo se transformou em poesia, quando se ‘espanta com a possibilidade de afundar-se no imagindrio. Toma, eno, sua segunda decisio radical: serd poeta. Seré o ladrio convertido em poeta. No fundo, no modifica sua eleigio original, muda somente radicalmente de ‘estratégia. Aos poucos, o sonhador vai se transformando em esteta. Genet, agora, traduz tudo em gestos, asformascomesamalhe chamar a atengio. A beleza lhe aparece de repente: em certas situagdes, quando em, sua cela ou no patio dos reféns, nao importa onde, a disposigdo dos objetos mais vulgares o impressiona. Genet submerge na emogio, a aparéncia se descortina sobre ele ~ a sensagiio da beleza toma conta de seu ser. Assume como sua a tarefa de transmitir essa sensacio ao mundo, de tranéformar a miséria em luxo imagindvio, de construir adornos principescos para os mais miseraveis e despreziveis, de fazer dos excrementos joias adoriveis, quer dizer, de metamorfosear uma matéria desprezivel em produto de Juxo, Genet far da beleza marginal, que relata, 2 arma ofensiva que the permitira derrotar os justos em seu proprio terreno: o do valor. A poesia de Genet é, dessa forma, um potente trabalho de erosio, pretendendo destruir as forgas repulsivas por meio da “possessio poética’, ‘Tudo esti preparado para que escreva, 0 dispositive esté pronto, a técnica, 0 vocabulirio, o estilo ja cxistem. Mas serd necessirio que saia do sonho. Genet quer realizar 0 imaginario, mas agora, sob 0 ponto de vista reflexive, 0 que significa inserever o imaginério na realidade, conservando-lhe 0 cariter de imaginérios unificar em um mesmo plano sua intengio realista ¢ sua intengo itrealizante. Como poderia efetuar tal faganha? E quando descobre a escrita. $6 ela poder realizar seu imagindrio, conferindo-Ihe, no entanto, o cariter de realidade, Genet sera o protagonista nico de seus livros. Dessa forma, conseguird entrar inteiramente no imaginério, seré 0 imaginario em pessoa. No entanto, jé agora inserido no plano reflexivo, sustenta uma consciéncia lcida, liberada de todos os sonhos. Os sonhos passam a ser objeto para ele. A liberdade de artista jé nfo conhece o Bem e 0 Mal, pois faz deles objetos de sua arte: eis que Genet se liberta. Genet no é um escritor intuitive, que vai descrevendo paisagens € emogdes conforme Ihe vio surgindo; é um escritor discursive; sua pega € armada, fruto de uma reflexio. Ser com seu primeiro romance, Notre cavitovo9 =255 ‘Dame des Fleurs, considerada sua obra-prima, que Genet sentiri necessidade de se dirigir a um leitor que nao ele mesmo. Tudo muda: agora se diige a um puiblico. Mas é preciso tomar cuidado, pois pretende envolver o leitor em uma armaditha, sem que este se dé conta. Notre-Dame 6 uma espécie de desintoxicasaio, de conversio de Genet. Ele se desintoxica de si mesmo e se volta para os outros. E o outro quem confere & palavra uma objetividade verdadeisa, escutando-a. Antes dessa obra, Genet era um esteta; depois dela, torna-se um artista. ‘Mas quem sio esses outros? Seus companheiros de cércere? Os ‘vagabundos que encontrava pelas ruas da Europa? Nao! Seu pablico sio ‘08 honestos, os justos. E para eles que escreve, € a eles que quer provocar, escandalizar ¢ se fazer condenar. Vitima e produto do homem honrado desde sua infincia, Genet pode, por fim, vingarse. Obrigaré, através de sua prosa poética, o “inocente” leitor a descobrir o Outro em si mesmo, a reconhecer como seus os pensamentos mais desonestos do Outro, a fazer, hozrorizado, a experiéncia de sua propria maldade. Sentir-se~d obrigado a se enxergar nela, sem poder negar tal sensagao. A sua armadilha é um livro: objeto inerte ¢, a principio, inofensivo. B esperto demais para atacar de frente 0 homem honrado, para desafiar sua “vitima” com teorias. O leitor cativado comesa seguindo sua narrativa é, logo, vé a si mesmo afirmando 0 contririo do que pensa e negando o que sempre afirmou, ‘Nio se trata, somente, de fazer com que os leitores se percam, 6 preciso fazer com que eles o salvem ao se perderem. Quer que reconhegam sua santidade, Em seus livros ele nfo fala de ladrées ¢ homossexuais, mas como ladrto e homosexual. E pouco chamé-lo de autor, pois é, ele mesmo, ‘© poema. Genet procura salvar-se por meio da linguagem. Diz ele: “minha vit6ria é verbal e eu a devo & suntuosidade dos termos” (GENET, 1983, p. 55). Sujeito tinico de todos os seus livros, Genet irrealiza-se a si mesmo. Em cada uma de suas obras encontram-se todos os temas diretores de seu pensamento € de sua vida: 0 desterro, a fatalidade, as ambiguidades, a humilhagio ¢ o sacrificio, a homossexualidade, a afirmagao de si mesmo, a busca da santidade. Cada personagem é uma modulagio diferente do tema original, Genet afirma: “me recuso a viver para outro fim que no seja aquele mesmo que ex acreditava conter a primeira infelicidade: que a minha vida deve ser lenda, isto é legivel, ¢ sua leitura dar vida a uma nova emogio que chamo de poesia. Sou apenas 0 pretexto” (GENET, 1983, p. 113). Consegue, por fim, sua irrealizagto: Genet vai desaparecer por -256 SARTRD BABSICOLOGIA CLINICA detrés de sua obra. Consolida seu propésito, ao dissolver sua histéria em uma lenda, ao desgastar seu corpo com as palavras que 0 expressam, 20 suprimiz-se como criatura vivente para encontrar-se nos olhos dos outros. como um heréi legendério, Genet existe, enfim, em frente a si mesmo, Esvaziou-se literalmente: sua verdade esté fora dele, jé nfio € mais do que uma pura consciéncia que contempla sua aparéncia. “Cada um dos seus livros é uma crise de possessio catértica, um psicodrama. (..] Dez anos de literatura que valem tum tratamento psicanatitica” (SARTRE, 2002, p. 510, grifo nossc). Isso nao significa que Genet tenha se enquadrado, finalmente, & sociedade. Ele nfo quer se adaptar a quem sempre o rejeitou: isto, sim, seria acabar com sua singularidade. Ele quer ser aceito (e “enfia goela abaixo” sua aceitdsao) por ser 0 diferente, por ser ele mesmo. Segundo Sartre, Genet, durante esse proceso de “cura”, compreendeu seu ero: queria fazer-se tal como os outros © haviam feito, quando, na verdade, deveria obrigar os outros a vé-lo tal como ele queria ser. © golpe genial, ailuminagio que descortina a solugi0 é sua decisio de escrever. Construir-se-4 ladrio em outro dominio e terd a possibilidade de instituir outro tipo de relagio com as pessoas honradas. Surge um terceiro Genet, que ngo € nem o vagabundo miservel, nem 0 heréi legendario, mas sim, a s{ntese que este faz daquele. Genet conseguiu © que se propunha: libertou-se do Bem e do Mal, conseguiu liquidar a ideia do Sagrado que o perseguia, jf nao acredita mais na santidade, nem nna maldade. Com isso tudo, libertou-se de si mesmo. ‘A consciéncia, que havia se alienado, liberta-se. Livrando-se de seus fantasmas a que chama de justos, Genet descobre que “os homens, nlo sto nem justos nem injustos, mas ae mesmo tempo, justos no mais profundo de sua injustiga, injustos na propria fonte de sua boa vontade” (SARTRE, 2002, p. 540). Entre os homens, Genet se descobre, nao mais como ladrio_ ou como santo, seno como um homem parecido com os outros e com. ninguém: é, agora, um entre outros. Declara na entrevista que concedeu & Playboy, em abril de 1964: “A sociedade jé no me interessa como inimiga. Hi dez ou quinze anos atris eu estava contra ela. Neste momento nao estou nem a favor nem contra. Meu problema ja nfo € mais opor-me a ‘vocés, senio fazer algo em que estejamos envolvidos, a sociedade e eu, 20 ‘mesmo tempo” (GENET, 1964). Porérn, nem tudo é tranquilo; afinal ele joga o ganha/perde. Ao ganhar o titulo de eseritor e suas hontas, perde a necessidade, o desejo, caviraves -257- a ocasito 08 meios de escrever. Ja nao sabe muito bem por que escreve. Deixa que publiquem suas obras completas, com um prdlogo biogréfico € ceitico (no caso, a obra analisada). Parece querer liquidar o antigo Genet. O que ser dele? Sartre nio tem essa resposta a0 concluir sua biografia, ‘mas, com certeza, aposta que, com sua inteligéncia admirével, saberd viver a nova condigdo que escolheu. Sera que conseguiu? O livro de Sartre mostra 0 processo de personalizacdo de Genet, sua construgdo como ser, como sujeito no mundo. Aos dez anos, Genet escolheu-se ladrlo, isto é, escolheu-se excJuido, aquele a quem nada no mundo pertence. Escolheu-se, porque intuiu como tinica possibilidade de seu sera de existir na bastardia, na exclusto, na marginalidade, Um homem escolhe-se em uma dada estrutura de escolha; a escotha nio é, portanto, gratuita, determinada unicamente por seu desejo, mas é uma escolha a partir das possibilidades que se the apresentam e diante das quais ele néo pode deixar de escolher. Qual foi, portanto, a estrutura de escolha com a qual se deparou Genet aos dez anos de idade? Foi a de um menino que, em ‘uma dada situago, foi posto em cheque perante toda a sua possibilidade de ser ede futuro, Na sociedade campesina em que estava inserido, as pessoas cram definidas em fungio das tersas que herdavam. Ele, como bastardo ¢ como filho adotivo, serapre esteve fora das condigbes de incluso social em sua comunidade, Sua tentativa de integrar-se através de pequenos furtos, ou seja, de apoderar-se dos objetos que Ihe eram vedados, acabou por ser © “feitigo que virou contra o feiticeiro’, pois 20 ser flagrado, terminow por ser definido pelos outros como ladrio. Que apropriagio reflexiva, a racionalidade que um menino poderia ter para iluminar sua estrutura de escotha? Que racionalidade Genet terd, aos dez anos, para escolher? A de «uma isto fatelista, advinda do ambiente religioso e campesino em que vivia, ‘Acaba escolhendo-se como marginal, ou seja, aquele que est & margem da sociedade. Na verdade, Genet até o fim de sua vida nao conseguiu se livrar intciramente de sua comédia, pois mesmo escritor reconhecido, nao se experimentava “inteiro em scu set” no meio dos intelectuais, assim como nfo o estava mais no meio dos ladz6es. Continuou representando um papel para os outros, ndo superando totalmente a sua situagio de exclusio. Sabemos que a escotha de Genet foi alienada, no verdadeizo sentido do termo; foi equivocada, voltada contra ele mesmo, pois nao fot iluminada por uma reflexio rigorosa da situagao, que nfo era dada a um menino de dez, ‘anos, inserido em todo aquele contexto. Por isso, foi uma situaglo cruel que =258- SARTRE ASICOLOGIA-cLiCA tornou Genet um “mértic”, O que se seguiu em sua vida foi consequéncia dessa escolha ontol6gica de Genet, a partir da qual ele assume seu destino, pois era assim que o experimentava, como umn destino tragado, instituindo sua diniimica psicolégica, na medida em que o inteligiu como sua tinica possibilidade de ser. A racionalidade daquele contexto nio Ihe oferecia outra possibilidade, Na situacéo, ocorseu uma inteligibilidade espontanea a verdade de suas possibilidades de ser, enquanto ser na exclusio ~ que se impos a Genet ¢ ele absolutizou essa inteligibilidade, escolhendo-se na revolta. Se nao tivesse ocorrido a absolutizagio desse eegite, poderia ter transcendido a contradigdo de ser que @ situagao Ihe impunba; mas ele no teve condigdes de realizé-lo, na medida em quese manteve numa conceps#0 maniquefsta, regida pela dicotomia entre bem e mal. O que Sartre quis mostrar foi um sujeto livre, porém equivocado, alienado; Ievado ao equivoco por toda uma situagio antropolégica, um contexto cultural, uma exigencia cruel feta a uma erianca, dessas que se vé fazer rotineiramente, e que vo ajudar a constituir tantas pessoas alienadas, com sérias complicagées psicolégicas. Sartre explica em uma das entrevistas que aparecem no Sifuagées IX: “Saint Genet é, quem sabe, 0 livro onde melhor expliquei 0 que eu entendo por liberdade. Mas, em um caso como 0 dele, a liberdade néo foi feliz, Ela nao foi um triunfo, Para Genet, a liberdade abriu simplesmente certos caminhos que ngo tinham sido Ihe oferecidos de inicio” (SARTRE, 1972, p. 102). Sartre (1972) assinala, no entanto, que em seu caso a liberdade no foi um triunfo, nao lhe trouxe felicidade, nao permitiu a Genet superar seu cogito absolutizado, mas, 20 menos, permitiu-lhe abrir novos caminhos € dar uma reviravolta em sua condigao de ser, a0 tomar sua histéria em suas mos e se fazer escritor. 9.4 FLAUBERT E SUA NEUROSE: COMPREENSAO DA PSICANALISE EXISTENCIAL A Diografia de Flaubert foi uma espécie de projeto vital da trajetdria intelectual de Sartre. O existencialista lera o escritor em sua infincia e sentira uma espécie de animosidade contra 0s personagens dé Flaubert, que eram na sua maioria sédicos ou masoquistas, miseriveis € caviren09 -259- antipdticos. Durante a guerra, chegaram 4s suas mos os quatro volumes de correspondéncia do escritor, nos quais encontrou elementos que esclareciam seus romances e seus personagens. Decidiu, entio, li por 1934, que ainda iria, um dia, eserever um livro biogrifico sobre Flaubert. Ao fim de seu capitulo “psicandlise existencial” de O ser ¢ 0 nada, em 1943, ele anunciou o seu desejo de escrever tal biografia, a partir do método que ali esbogou. Em torno de 1954, Roger Garaudy, do Partido Comunista, propés que eles analisassem um personagem, ele do ponto de vista marnista ¢ Sartre do ponto de vista existencialista, para poderem estabelecer uma comparagao entre os dois métodos. Sartre sugere que esse personagem seja Flaubert, colocando mfos & obra, escrevendo em pouco tempo em torno de mil paginas sobre o escritor, nas quais fez um exercicio utilizando- se dos métodos da psicanilise e do marxismo, como jé tinha ensaindo anteriormente na biografia de Baudelaire e de Genet. Abandonou esses escritos em 1955 em fungio da exigéncia de outros trabalhos. No entanto, deu-se conta de que seria preciso, algum dia, finalizar essa biografia de qualquer maneira. Em seu Questio de métedo, publicado em 1960, Sartre utilizou 2 hist6ria de Flaubert como exemplo de compreensio dialética da realidade humana, discutindo as mediagées e procedimentos necessdrios para aprofundar o conhecimento da vida de um homem. Por fim, volta a se debrugar sobre seu empreendimento biografico, elaborando ¢ reelaborando seu estudo de Flaubert durante uns dez anos, escrevendo trés ou quatro ‘vers6es, quando, em 1971, finalmente ¢ publicado com o titulo L’idiot de la famille, em seus dois primeiros tomos (SARTRE, 1976). Escreve, \da, um terceiro tomo, editado em 1972. O quarto tomo ficou apenas na promessa. A publicacdo soma no total, em torno de trés mil péginas, sendo designada, pela maioria da critica, de obra ‘monumental’, tanto pelo seu tamanho, quanto pelo nivel de aprofundamento da compreensio de um sujeito concreto. Contat (1990) explica que L'idiat dela famille € a grande obra de Sartre, na qual faz.convergir, desde o inicio, a sintese da psicandlise € da histéria. Considera-o um livro total, que retine 0 projeto biogrifico, romanesco ¢ filos6fico do existencialista Sartre deixa claro, assim, suas intengGes com essa obra: O objetivo ¢ fazer apacecer 0 encontro entre o desenvolvimento da pessoa, tal como a psicanilise nos opostuniza ¢ 0 desenvolvimento da histéria. Deve chegar 20 ponto em que um individuo, em seu condicionamento mais profundo, mais intimo, @ partir de seu =260- Sarrne apsicotocta cute condicionamento familias, possa preencher, nda que durante um, ‘momento, usm papel histrico. SARTRE, 1972, p. 115). Sendo assim, define que seu ideal seria possibilitar que seus leitores pudessem “,.] sentir, compreender e conhecera personalidade de Flaubert, como totalmente individual, mas também como totalmente representativo de sua época. Quer diver, Flaubert nao pode ser compreendido senio por aquilo que o distingue seus contemporineos” (SARTRE, 1972, p. 114), Nesse sentido, Flaubert é um singular/universal, j4 que nenhum homem € um individvo no sentido literal do termo, na medida em que sempre seri universalizado por sua época, retotalizando-a 29 reproduzi-la como singularidade. Sartre considera Flaubert o criador do “romance moderno” ¢, por isso mesmo, esté na encruzilhada de todos os problemas literérios de atualidade, Portanto, compreender sua obra, que € uma expressio dos ‘conflitos vividos pelo autor, € compreender sua época, a literatura moderna ¢, a0 mesmo tempo, o ser singular desse escritor. Com esas reflexdes Sartre apresenta seu novo empreendimento biografico. Roudinesco (1990) argumenta que na biografia O idicta da familia Sartre parece ter realizado seu sonho, descrito em Osere o nada, de tornar- se o Freud de uma psicandlise sem inconsciente que permitisse, enfim, compreender o homem em seu conjunto totalizador. Sartre, pautado em suas preocupagdes metodolégicas, questiona-se por onde comecar? Afirma que “a estencial é partir de um problema’, aqui to caso partiri de uma carta que Gustave Flaubert enviou a Mille, Leroyer Nela o escritor expressou: “6 por forca do trabalho que eu consigo silenciar minha melancolia natural. Mas o velho fundo reaparece frequentemente, 0 velho fundo que ninguém conhece, a ferida profuunda, sempre dissimulada” (FLAUBERT spud SARTRE, 1971, p. 8). Poderiamos estabelecer um paralelo, dizendo que esse é 0 momento da queixa do paciente, no inicio de um proceso psicoterapéutico. E dela que se parte, questionando ¢ esmiugando o seu sentido, Sartre questiona-se: o que significa essa ferida dissimulada? Qual sua origem? Com essa carta, Gustave nos remete & sua proto-historia e € por ela que comecaremos. Sartre designa de proto-histéria o periodo de constituigto do ser de ‘uma pessoa, seus primeiros anos de vida. E nesse periodo, portanto, que devemos procurar o engendramento do sentido de ser do futuro escritor. Gustave teve uma relagio mal resolvida com referencia as palavras. Seri ‘exatamente esse incémodo que decidiré sua carreira, como Sartre pretendeu capizete 9 =261- ros deixar claro a0 longo da obra. A infincia esté em Flaubert, ee a vé, a toca sem cesar, cada obra sua é uma forma de revelicla, de expressar seus impasses, seu drama mal solucionado. E preciso realizar a reconstituigao dos fundamentos arcaicos de sua sensibilidade para buscar compreendé-la Dessa forma, realizando em primeiro lugar uma anélise progressiva, Sartre resgataré 2 sociogénese de Gustave. O existencialista comesa por explicitar os fatores sociais que engendraram sua familia, levando-a a se constituir como uma célula social muito integrada, na qual ele 0 segundo fitho do casal Achille-Cléophas ¢ Caroline. Para compreender Gustave, sera preciso recolocar-se na objetividade historica das estruturas da ‘eélula Flaubert”, Gustave vern 20 mundo em 1821, periodo da Restauragio na Franga, quando Luis XVII buscava resgatar os valores da aristocracia fundidria frear os avangos da industrializagdo. Apesar dessa politica, a classe burguesa em ascensio no periodo anterior realizara uma série de acordos junto com a outra classe, sua inimiga histérica, para estabelecer um equilforio provisério (SARTRE, 1971, p. 62). Esse €0 cendrio sociopolitico da criagio do menino Flaubert, um periodo cravado por contradigbes. © pai, Achille-Cléophas, ¢ filho de uma tradicional familia rural, ligada a0 Antigo Regime, imbuida dos valores feudais, inclusive mantenedora dos direitos de primogenitura. No entanto, sua capacidade intelectual levou-o a estudar medicina em Paris, tornando-se um grande médico ¢ cirurgido, um cientista, homem moderno, anticlerical, Adquitiu, assim, a razio analitica € a ideologia liberal. Sera um grande representante a burguesia do seu tempo, ainda que preservando uma série de valores feudais. Seré ciurgito-chefe no Hotel-Dieu de Rouen, tornando sua familia a mais conhecida do ramo cientifico em toda a Normandia. A pequena familia Flaubert serd minada por essa contradiso: instituira em seu scio ume rigidez de costumes, tipica da mentalidade aristocrética, estilo pater familias, mas com uma exigéncia de adaptagio 0s valores modernos, burgueses. Todos, porém, deverso preservar a“honra Flaubert”, © “orgulho” de pertencer a essa familia, Essa célula ter uma estrutura muito consolidada, muito integrada, tendo como maxima a exigéncia de adaptagdo 4s normas instituidas, enquanto um absoluto inquestionavel, nio oferecendo espago para as expressées individuais. A mie, Caroline, foi uma crianga mal-amada, pois sua me morreu em seu parto € 0 pai nunca se dedicou a cuidi-la com afinco, deixando-a 6rf¥ com dez anos. Sonhava e propagava que era nobre por parte da familia eee Ee Eee eee -262- Santas 8 arsicotocta ctistca, da mie, versio contada aos seus filhos posteriormente, que virou um mito no seio da céfula Flaubert. Criada por tios, seré sempre uma pessoa Solitaria, Em seu casamento com Achille-Cleéphas ter4 como intuisio fandamental, mais do que ser esposa, ser mae. Seu primeiro filho, para quem foi dado o nome do pai, Achille, recebe a fungio ofcial de ser 0 sex sucessor ¢ futuro chefe da familia, fazendo valer o direito de primogenitura. Depois do primeiro, perde dois filhos homens, quando seu desejo era ter ‘uma filha mulher. E entio que nasce Gustave, nove anos depois, em uma situacio de medo da perda, sendo indesejado como filho hémem. Trés anos sais tarde, nasce finalmente uma filha mulher, que também se chamaré, como a mae, Caroline. Esse € 0 contexto do nascimento de Flaubert. Durante seus dois primeiros anos, Gustave permaneceri nas mios da mae, que The dedicava tuidados, mas aio 0 amava. Sartre vai mostrando como Gustave foi afetado pela histria pessoal de Caroline, que ao traté-lo de forma pouco terna, fria, sem carinho, vai constituindo Gustave como agente passivo, fazendo-o intuir uma “incapacidade de viver’. Se cle tivesse sido amado ¢ pudesse ter amado a mie, isso poderia ter desenvolvido sua agressividade, ho sentido de desenvolver uma alteridade de ser diante dos outros. Mas, privado do amor, retirados dele os meios de amas, perdeu toda a chance de ser agressivo, no sentido de ser alguém que afirma seu espago perante © mundo, Em Gustave, a trama do vivido o levaré a passividade SARTRE, 1971, p. 397), ‘Sartre vai demonstrando, assim, 2 mediagio essencial dos cuidados dos primeiros anos de vide, dispensados por algum dos cuidadores da crianga, em geral da mie, na constituicto da sensibilidade da pessoa. Explica que quando uma mée amamenta ou cuida do reeém-nascido, ela ‘faz com a inteireza do seu ser que, naturalmente, resume em sua pessoa toda a sua vida desde o nascimento. Ao mesmo tempo, ela realiza uma relagio que ocorre conforme as circunstancias € que muitos chamam de ‘amor maternal, Este, na verdade, € uma relagio ¢ no um sentimento. Por esse amor, ¢ através dele, pela pessoa da mae, habilidosa ou dessjeitada, bruta ou delicada, a crianga é confrontada consigo mesma. Quer dizer, ela se descobre no somente por sua exploragio de si prépria, mas apreende- se em seu proprio corpo pelas pressées, Contatos, toques, maus-tratos ou carinhos que lhe oferecem. Ele passa 2 identificar seu corpo como violento, afivel, contraido ou leve pela violencia ou afabilidade das mios que © revelaram. casfroto see -263- Essas seflexdes de Sartre sobre a relasto mae/bebé servem de fandamento para seu principal argumento sobre a consttuicao de Gustave, de que foi a falta de amor de sua mie que o langou na passividade de se génese dos futros impasses psicoligics do escritor, Basa € sua determimaso mais original. A mle se preocupava: seri que Gustave € tum idiota? Pois ele passava muitas horas com ar absorto, 0 dedo na boca, desligado do mundo que o rodeava, com um ar quase bestial i Com té ou quatro anos, seu pai passa.a notar Gustave ¢ aproximar- se-a dele, Dessa idade até os sete anos ele viverd no paraiso, fornecido pelo amor paterno. Gustave tinha verdadeira adoragao pelo pai. Como Sartre nos esclarece, toda relagao de adorasao implica em uin sueitoinessencial que tem por essencial seu senhor. E uma situagio de alienagio radical de um homem perante outro. Gustave se aliena no amor paterno, adora 0 progenitor, obedece-o em tudo, assume inteiramente a “honra Flaubert”, adota a supetioridade de sua célula familiar como seu valor fundamental, Torna-se, assim, vassalo desse austero senhor. Porém, o paraiso esté com seus dias marcados. Gustave tem de ser alfabetizado. A tradigdo é de que, antes de item estudar na escola, as criangas aprendam o “abe” em casa, através das ligdes com a mile, No entanto, quando chega a vez de Gustave, ele nfo consegue aprender. Caroline se irrita, pois seu primogénito aprendera com muita facilidade; a culpa nio era dela, argumenta, O pai decide, entio, assumir « educagio da crianga, mas também nio tem sucesso. Ea comprovasto da ‘diotia de Flaubert, €0 momento da ruptura, do corte. Ele que adorava 0 pai, na justa medida em que este o adorava, torna-se uma decepgao, um fracasso perante seu senhor, que desvela, assim, sua insuficiéncia. Dai em diante, a vergonha tomard conta de seu sex, Descobtia o seu destino ~ “ser 0 idiota da familia”. Através da constataglo de sua incapacidade, aparece o sentimento de infrioridade, que no 0 abandonaré, O marco de referéncia era sempre seu icmio Achille, que aprendeu muito rpido, que fi muito bem-sucedido na escola, que assummia com glamour seu diseito de ‘primogenitura, tomando seu posto de sucessor do pai, inclusive tornando- se, depois dele, cirurgido-chefe de Rouen. Isso definira seu veredicto na relago com 0s outros: seré.o inferior. Ser um Flaubert, ter sete anos ¢ nio saber ler isso € 0 que ele nfo poderé suportar mais tarde, Veremos que essa intolerdvelrecordagdo pesmaneceré por muito tempo. Aos quinze anos ela aparecera em seus primeiros romances. 264- “SaaTae BA Psicovoota cuca Essas caracteristicas vm a confirmar sua determinacdo original para @ passividade, Torna-se uma crianga submissa, que obedece 2s ordens, principalmente as advindas de seu pai, autoridade inquestionavel. Explica Sartre que é uma cerfeza subjetiva que determina o ser fundamental da crianga; ou sea, € através de seu saber de ser, constituido no jogo dialético entre 0 que 08 outros fazem dele e o que ele faz disso, que a erianga vai construindo as verdades a respeito de si mesma. E assim que Flaubert assume seu ser submisso, vergonhoso, destinado a ser 0 idiota da farn‘lia, contradito pela ambigSo de ser um Flaubert. / No entanto, por ser escravo da tirania doméstica, produto desse artesanato familiar, aceita seu veredicto, mas nfo sem construir um sério ressentimento contra 0 pai, Acaba acusando-o, mais tarde, de ser 6 responsivel por sua infelicidade, Também vive no mundo da inveje a0 cobigar 0 que sabe que nio pode alcangar, porque pertence @ outros, seu irmio, por exemplo, Gustave se abandona ao destino que lhe foi designado, fica fixado no personagem que sua famnilia lhe decretou, “Todos esses aspectos psicoligicos e existenciais de Flaubert devem ser compreendidos em primeizo lugar na relacio interna com sua familia, ja que a andlise regressiva, ateavés do estudo de suas obras de juventude, nos reenvia as estruturas objetivas da célula Flaubert, Em cada uma de suas primeiras obras, escritas a partir dos treze ou quatorze anos, encontram- se sempre os mesmo simbolos, os mesmos temas, espelhos da experiéncia de ser de Gustave: tédio, dor, maldade, submissio, ressentimento, inveja, misantropia, morte. Através delas pode-se perceber que ele guardou lembrangas fortemente ambivalentes de seus primeiros anos de vida. Nota se, também, que ele atribui sua infelicidade ao seu pai e ndo & mac. ‘Até aqui vimos os condicionamentos sociais, familiares de Gustave, mas vistos de uma forma progressiva, a partir da estrutura social. Pudemos observar a coneretizacio de sua espontaneidade alienada. Agora ¢ preciso realizar a anélise regressive, ou seja, verificar o que Flaubert fer. disso que fizeram dele, Sartre passa a discutir um segundo momento da trama,, is de constituigdo, mas de personalizagao, ao passar de sua proto- ia e adentrar, definitivamente, em sua historia. Gustave era uma passividade constituida, foi assim que 0 ram. “Mas, sem dévida, nenhuma determinagdo é impressa em constr tum existente sem que ele a supeze por sua maneira de viver” (SARTRE, 1971, p. 653). A estrutura de sua familia foi interiorizada em atitudes € cavirero 9 265- exteriorizada em priticas pelas quais a crianga se fez scr aquilo que fizeram dela, A totalizacio perpétua (aquilo que o sujeito deseja ser) surge como uma resposta 4 ameaga de destotalizagio (0 que os outros fazem dele) sempre presente, que exige, assim um movimento de retotalizaco (fazer algo do que os outros fizeram de és). “Esta etotalizasio pode ser operada de uma infinidade de maneiras dependendo dos individuos e, em cada individuo, dependente da idade e da conjuntura” (SARTRE, 1971, p. 654) Sendo assim, Sartre designa de personalizacao essa “totalizacio sem cessar destotalizada e retotalizada’; isto é, a0 mesmo tempo em que a pessoa € submetida as determinagées sociais ¢ sociolgicas, constréi a si ¢ ao social. Essa personalizaglo, que tem por base a dimensio do vivide, ou ainda, a experimentagao de ser, se faz por superagdes € conservagdes dos aspectos objetivos da existéncia, no seio de um projeto totalizador em relagio a0 que mundo fez ¢ continua a fazer o individuo. Sendo assim, quem ¢ Gustave Flaubert? As pessoas em geral respondem que ¢ 0 escritor, é 0 autor de Madame Bovary, mas no saber que, transcendendo essas facetas, id uma pessoa frustrada, mal-amada, passiva, etc. Para compreender isso seria preciso ver a obra como um ‘momento da personalizagao de seu autor: as contradig6es e desarmonias de Gustave estdo todas em seus romances, integradas nesse objeto irzeal. ‘A tarefa sobre a qual Sartre se debrugaré de agora em diante é buscar compreender 0 que significa a “escolha do irreal” por Flaubert. No seio dessa familia fortemente integrada, as criangas sio predestinadas. O naseimento de sua irma, trés anos depois, nfo foi uma surpresa para Gustave, foi a realizago de um destino - todos sabiam que © grande sonho da mie era ter uma menina, Gustave se dispors a amé- Ja, tem necessidade dese amor. Ela se tora a sua grande companheira de brincadciras. A partir dos oito anos, o principal entretenimento dos dois serd a representagdo de comédias. O menino se faz ator, para agradar a imi, que se tora seu publico fiel, adorando-o. Ele nfo ignora que @ gratidio da irmé se dirige ao personagem que cle interpreta. Néo fala mais nna primeira pessoa, mas sim na terceira. Adquire o habito de pensar como “ele”. Descobre através do lidico uma saida para sua situagao de desespero. Pela primeira vez, entre oito ¢ dez anos, ao interiorizar as desqualificagbes que Ihe dirigem, ele toma uma visio global da situagio ¢ retira uma convicsio nova desse fundo: cle serd ator. Aprende a jogar papéis, a representar. Gustave se faz ator para recuperar seu ser. Nas pegas que os =266- SaRtAgea rsicotocta cuttca outros escrevem ¢ ele representa, vive seu sonho de vassalidade. Através {do imaginério vai ganhando um espago em que visualiza um sentido de ser que transcende ao seu papel formal de idiota da familia, ainda que mantenha sua caracteristica de submissiio e vassalagem. Aprende a fazer os outros rirem, perde o medo do ridiculo. Em determinado momento, Gustave descobre a possibilidade de escrever suas proprias pegas, para representé-las, Aos poucos vai passando do teatro para a literatura. Entre 13 ¢ 14 anos estar escrevendo seus primeizos livros. Seripta manent, 0 primeixo de uma cazreira literéria, representa 0 momento de conversio a autor, culmindncia de um processo de superagio de sua situagio de idiotia. No entanto, no fundo, sua {nseguranga ontolégica permanece, ele no tem seguranca de seu talento, de sua capacidade, Eserever € uma forma de expressar os seus dembnios, libertar-se deles pouco a pouco, Mas eles ainda continuam a habité-lo. O fato de se langar como escritor acabari por conferir um “fim a0 seu ser", reconstréi o seu ser na construcio de sua obra. Ele, mais tarde, deixart de ser o poeta para passara ser o artista, pois sendo contra a visto utilitarista, cexperimenti-se a servigo da arte. Nessa concepgio, a0 fundo esti em {questi o seu ser: ea construcio de sua personalidade: ele se concebe como 6 inessencial que deve se sactficar para que o essencial exista, ou seja, ele € um veiculo para a arte. No entanto, pudemos verificar que a escolha do ireal foi a estratégia para encontrar uma safda para seu ser: tornou-se 0 “senhor do imaginario”. © movimento de personalizagio de Gustave se ‘identifica com 0 movimento pelo qual se faz escritor. Mas ainda hé muito caminho para percorrer até que efetivamente ele se tome o artista, até que ‘rie a sua primeira grande obra, Madame Bouary. Uma série de contradizbes apaceceri em sua vida, marcando sua hristéria, seu ser ¢ sua obra. A primeira (nova) contradigao aparece a0 final de seu processo de personalizagio, do qual saiu com a certeza de que seria cescritor, tendo que se volar a confrontar com seu ser-de-classe. Ele, sendo um Flaubert, teré de assumir uma “carreira’, Tenta escrever um livro que totalize sua ambigdo ¢ Ihe dé o estatuto de escritor, Memérias de wm louco €, depois, Smarb, mas os dois sfo um fracasso, colocando em questio a sua vocagio, o seu génio literério, langando-o na inseguranga, Por imposicdo de seu pai seré obrigado a fazer a carreira no direito, {que era muito frégil para entrar na medicina, Entre 1840 e 1841, vai a Paris para comecar os estudos universitarios. No entanto, essa carreira imposta, capirete 9 -267- © futuro que 0 espera, aterroriza-o; a situagfo € to insuportével que ele 6 tomado por ‘problemas de nervos”, Durante dois anos mal consegue frequentar as aulas de seu curso, vivendo acamado. Sua experimentaséo 6a de uma apatia softida, mas, no entanto, intencionalmente estruturada como meio de fuga de sua situagao (LEGRAND, 1993). Enfim, entre 1843 ¢ 1844 ele faz seu curso de direito, estuda horas interminaveis, mas, no entanto, nfo consegue passar nos exames. E que a cada linha estudada, a cada lei decorada, aparece no fundo o seu destino, jé definido e selado: ele serd o noticio em Yvetot. Sua contradigao ¢ jd um impasse de ser: cle no pode obedecer (pois sacrfica seu desejo de ser escritor), nem desobedecer {pois tem interiorizado o veredicto de submissio ¢ a exigéncia de ser um Flaubert). Bis af seu ser dividido levando-o 2 seus acessos emocionais.. Desde que comesara a escrever, seus livros eram natrados na primeira pessoa; dai a importancia deles para a elaboragio de sua biografia. ‘Mas, em 1942, quando escreve Novembre, no qual claramente descreve suas contradigées vividas de forma angustiada, comega a incluir um segundo narrador, que dialoga com o primeiro, colocando-se a distancia, provocando uma autor-reflexao, que insinua 0 premtincio de uma tentativa de elaboragio de seus impasses, uma espécie de “terapéutica” No inicio de 1844, Gustave estava em Rouen, antes que tivesse que voltar a Paris para novos exames. Experimenta um impasse total. Nao quer voltar a universidade, nao quer seguir essa carreira imposta; no entanto, ado pode enfrentar os designios do pai, sua situagiio é insuportivel e sem solugio, So essas as condigSes preambulares da “crise da Pont L’Eveque”. Gustave esta com seu irmio Achille, voltando de Deauville, uma cidade vizinha onde a familia havia comprado um chalé. A angistia toma conta dele. Esté dirigindo a charrete, tem as rédeas nas méos, € uma noite escura, De repente, préximo da ponte, surge uma carroga que passa bruscamente 20 seu lado, Gustave se assusta e cai aos pés de Achille, ficando imével como uum cadiver. Esse estado catatBnico durard alguns minutos, parecendo para o jovem médico, em um primeiro momento, que ele est4 morto, para depois compreender que teve uma crise de nervos. Sartre afirma que essa crise nfo foi acidental, mas sim intencional e repleta de significados. Ela totaliza-se numa espécie de newrose, que se cristalizaré ¢ acompanhard Flaubert até 0 fim de seus dias. Os especialistas em sua biografia, ao discutizem o diagndstico de Flaubert, chegam a conclusio ue seus problemas psicolégicos sio de natureza histérica. O pai fard um -268 SanTRe BASICOLOGIA cLINICA primeiro diagndstico que Gustave assumiré: congestio cerebral. Mais tarde, estudara na biblioteca do cirurgido varios livros sobre o seu mal, chegando a conclusio de que mio foi congestio, mas uma “doenga dos nervos", Assume 0 seu ser como incapacitado: “Flaubert sofre por ter de fazer as vontades do pai; para eviti-las deve descobrir em si no uma deficiéncia leve, mas uma incapacidade radical. Nao se trata mais de ensaiar fracassos passageiros e reparaveis, mas de revelar aos outros ¢ a cle mesmo aque é um bomem-frasasiado” (SARTRE, 1971, p. 1822, grifo nosso). Nao somente a decisio subjetiva, mas também as condicées objetivas exigéncias familiares, pertencer aquela classe, pressGes sociais) que empurram para. a construgao de sua histeria, como podemos verificar, na realidade, no caso cde qualquer pessoa que se enzede em complicagdes psicol6gicas. Gustave, depois da crise, no precisara voltar a Paris, nem precisaré seguir a carreira do dizeito; livra-se de ser 0 notirio em Yvetot. O preso ago, no entanto, é a assungéo de ser um “doente dos nervos’, de ter uma neurose cristalizada. A pessoa de Gustave sera definitivamente fixada, ‘mumificada. A sua neurose consentida foi, pois, a saida inventada pelo jovem em um momento de desespero. A sua crise anulou um dos termos {do impasse, livrou-o de sua obediéncia a familia, sem que precisasse, entretanto, enfrentar 0 pai, porém ao custo de assumir um ser passivo, doentio, carente, Por outro lado, por detrés de sua patologia, surge uma historia criativa de uma outra ordem: a obra artistica. Gustave morte simbolicamente, para renascer como escritor. Estrategicamente, foi para ter sucesso como artista que Flaubert teve de escolher a resposta neurética Sartre discutiré detalhadamente as varidveis ¢ssenciais na compreensio da escolha de sua neurose histérica. Para os objetivos deste trabalho, porém, consideramos que ja levantamos os elementos indispensdveis para entender a realizagio biogrifica de Sartre sobre Gustave Flaubert. O serde Flaubert, em suas diferentes fases e mutagées, em seu projeto € desejo de ser fundamental, foi esclarecido por Sartre, compreendido em sua dimensio objetiva (aspectos epocais, sociais, familiares) e subjetiva (constituicéo do saber de ser Flaubert, na infincia, sua personalizacdo; na meninice e adolescéncia, a definigo do projeto de ser, etc.). Além disso, Sartre elaborou um diagnéstico preciso das problematicas psicolégicas de seu biografado, tendo esclarecido o conjunto de variéveis (as condighes de possibilidade) que levaram a construgio de sua neurose histérica ¢ cariroco 9 =269- seu significado no conjunto da sua existéncia. Chegou, portanto, a uma compreensio psicolégica rigorosa, a luz da qual se faz possivel uma intervengio psicoterapeutica segura ‘Temos condigdes agora de refletir sobre as conexées existentes entre a elaboragao de biografias por Sartre e a proposigo de uma psicologia clinica. 9.5 APSICOLOGIA CLINICA EM SARTRE Ja vimos que a tarefa da cigncia € esclarecer as condigées de possibilidade de certos fendmenos de ordem geral, ou seja, esclarecer os fatores constituintes do fendmeno estudado, ou ainda, as varidveis que interferem para que ele se desenvolva da forma como deve ser. Sendo assim, a citncia deve estudar a situagio em particular no quadro de um sistema geral em evolugio (SARTRE, 1960), ou seja, deve situar 0 fendmeno especifico em seu contexto mais geral Nessa diregdo, a tarefa da cigncia da psicologia deve ser a de investigar as condicdes de possibilidades de fenémenos de ordem psicol6gica, considerando-os em suas essénicias espeecificas, suas estruturas particulares, seus significados. Isso permite definir certas regularidades da realidade psiquica que oportunizam um conhecimento que dé conta, a0 mesmo tempo, do fendmeno em sua dimensio singular ¢ universal. Sendo assim, @ psicologia clinica, cujo objeto é a elucidasao da personalidade © das complicagdes psicol6gicas, para ser cientifica em sua teoria e em seu método e procedimentos, deve investigar quais as condigées de possibilidade para um sujeito chegar a ser quem ele é, ou seja, como chegou a constituir determinada personalidade, engendrada a partir de um projeto de ser espectfico, descrevendo as ocorréncias antropolégicas e sociolégicas determinantes de seu projeto. A luz da compreenso desse conjunto de fendmenos, torna-se possivel levantar as variaveis que contribufram para 0 surgimento das complicagées psicol6gicas ou da loucura. Aqui € fundamental 2 inteligibilidade de Sartre acerca da personalidade, considerada sempre como um fendmeno resultante da ialética entre objetividade e subjetividade. Portanto, 28 condigées de possibilidade de alguém se constituir syjeito estéo dadas em suas relagées concretas, inseridas em uma situagio mais abrangente, dadas pela cultura -270- ‘Sauraa a rsicovoata cuitca a que pertence, sua classe social, sua condico material, os sistemas de racionalidades que o influenciam, aqui definidas como contexto antropeligico ¢, em uma situasio mais préxima, como rede de mediag6es do sujeito, dos grupos aos quais pertence, aqui definidas como contexto socelégico (BERTOLINO, 2004, SARTRE, 2002). Essas circunstancias sto apropriadas ativamente pelo sujeito concreto, ainda que de forma alienada, levando-o a experimentar-se psicofisicamente determinado a ser esta ou aquela pessoa. Portanto, o esclarecimento desses contextos é fundamental na compreensio da problemética do paciente. O método clinico devers, assim, poder especificar os aspectos antropolégicos ¢ sociolégicos que fornecem as condigbes de sua personalizagao e psicopatologizasio. ‘No entanto, no processo cientifico deverse sempre comegar pelo momento atual do fenémeno para depois esclarecé-los em sua génese. O ptimeiro momento metodoligico necessirio ¢ a demarcagao do fendmeno, quer dizer, nocasoda clinica, a definigio clara da sintomatologia edo quadro psicopatel6gico do paciente, ou seja, a elaboragio do psicodiagnéstico. Ele € que definiré os rumos da intervengio. O segundo momento na clinica € o da elaboragio da problemética ‘ou do equacionamento do teorema em torno das complicagées do paciente. Esse momento possibilita a compreensio terapéutica. Realiza-se essa elaboragio investigando as variéveis fundamentais na constituigo dos impasses psicolégicos do paciente, compreendidos no horizonte da sua personalidade, ou seja, a partir de sua dinamica psicolégica, da forma como ele se sabe sendo tal sujeito especifico, em seu sistema de certezas de ser (BERTOLINO, 2004; SARTRE, 2002). ‘A partir dessa compreensio possivel realizar 0 planejamento das inteevengbes ¢ sua execugio, procesto que, se bem conduzido, possibilitars, ao final, uma critica dos resultados e uma avaliagio das intervengdes realizadas. Eis o horizonte metodolégico de uma psicologia clinica que pretenda seguir as acepsées sartrianas. ‘A cestratégia dos empreendimentos biogréficos de Sartre foi uma forma de viabilizar sua psicandlise existencial, trazendo, com isso, ura grande contribuigio no entendimento dos caminhos de uma psicologia clinica sartriana. Na psicandlise existencial, Sartre demonstra como lidar com 0 fendmeno psicolégico em seus diferentes componentes ¢ niveis, nos cartroves -2m- ‘quais\aparece o sujeito com o seu projeto de ser, com os contftos, com © seu desejo de ser, com sua eleiglo original. Realiza, portanto, 0 que poderfamos chamar metaforicamente de uma radiografia pricoldgica do sujeito, na medida em que deixa transkicido 0 projeto de ser, 0 contexto de sua construsio, as raizes de sua problematica psicolégica, a localizagio das contradigdes de seu ser, a partir da compreensio de seu movimento no conjunto de suas relagbes, ou seja, de seu movimento no mundo, Acclaborago de uma biografia significa, para Sartre, oesclarecimento do ser da pessoa. Sendo assim, 2 biografia realiza a fungao do que seria © primeiro momento de qualquer ciéncia, que € 0 esclarecimento das condigSes de possibilidade de um fenémeno ocorrer: o ferémeno de ser Genet, de ser Flaubert. Em seguida, realiza o segundo momento que ¢ 0 de equacionamento da problemética, ao investigar 0 conjunto de aspectos envolvidos em seu contexto antropolégico ¢ sociolégico, que acebaram por engendrar uma dindmica psicolégica e as complicagdes do sujeito, possibilitando a elaboracao da compreensée psicoligica. Em termos metodolégicos, a minuciosa compreensiio psicoldgica expressa_nessas biografias oportunizaria, caso se tratasse de pacientes clinicos efetivos, que se pudesse planejar.¢ intervir com seguranga em suas probleméticas emocionais ¢ psicopatolégicas. Com isso, possibilitaria, que 0 “paciente” alterasse as condigdes de possibilidade que o remetem a sua problematica, com vistas a superar seus impasses de ser, a mudar sua personalidade, se assim se fizesse necessério. Portanto, de posse de um. diagnéstico do ser do paciente, como Sartre faz.em suas biografias, poder- se-ia viabilizar mudangas na vida de relagées, na dinamica psicolégica do paciente estudado, a fim de que ele se tornesse swieito de seu sr. E qual €a tarefa da psicoterapia existencialista? Justamente, colocar ser da pessoa em suas proprias mos, na medida em que isso o viabilizara como sujeito. Qualquer proceso psicoterapéutico 86 vai encontrar solugio, na medida em que possibilitar ao paciente converter-se em sujeito de sua propria historia, de seu ser, para assim adquirir condigSes de se tornar um ser social integro, ciente de também ser sujcito da histéria social, de ser um. cidadio, Esse deve ser 0 caminho da clinica: viablizar 0 homem enquanto sujeite. 0 que aconteceu com Roquentin em A ndusea: na medida em que retomou todo o seu passado, transcendeu o espontaneismno que o langava para a soliddo, redimensionou seu projeto de ser ¢ abriu um novo horizonte futuro, conseguiu superar a néusea que 0 dominava, poesibilitando integralizar-se em sua histdria, tomando seu ser nas mos. | -272- SARTRE PSICOLOGIA CLNICA Dessa forma, a “cura” em uma psicologia clinica sartriana 96 € possivel pela condigéo de o paciente superara situago de alienago em que esta submetido e poder fazer alguna coisa daquilo que os outros fizeram. dele. “Curar” ¢ transcender os problemas e colocar a resolugio de questio ontolégica do paciente dentro de novos parimetros, em que seu projeto © desejo de ser sejam viabilizados. A “cura”, em uma perspectiva sartriana, nunca poderia ser, portanto, uma conformacio ao que o paciente é um “agsumit-se a si mesmo”, uma “aceitagio de si”, um “auto-conhecimento”, ‘oa uma “adaptacio as circunsténcias sociais”. A psicoterapia existencialista sartriana s6 faz sentido se possibilitar a0 homem o seu estatuto de sujeito, se realizé-lo enquanto liberdade, se nfo contribuir para 2 produgao de um sujeito alienado, mas se lhe proporcionar o verdadeito diteito de cidadania.. Sartre, através de seus estudos biogrdficos, através de seu romance A ndusea, deixou muito claros todos os elementos essenciais para a realizagdo de uma intervengio psicoterapéutica, apesar de ele mesmo nao a ter realizado, por no ser um clinico ¢ no ter realizado uma pritica de consultsrio. Sua psicandlise existencial fornece, no entanto, uma teoria ¢ uma metodelogia fundamentais para se pensar a psicologia clinica em novos moldes. S60 que é preciso é colocé-la em pritica Jé foram realizadas algumas tentativas, a0 nivel mundial, de por em pritica a psicologia sastriana. A mais conhecida foi a realizada por Laing © Cooper, psiquiatras ingleses, que criaram comunidades terapéuticas na década de 1970 (COOPER, 1982), utilizando-se do referencial existencialista. O proprio Sartre elaborou o preficio do livro da dupla de pesquisadores, intitulado Razao ¢ violéncia (LAING; COOPER, 1982), em que declara que 0 que mais o encantou no livro foi “a constante preocupacio de realizar um approach ‘existencial’ dos daentes mentai”. Afirma, também, sua convieso de que os esforgos desses profissionais contribuirto para tornar a psiquiatria, finalmente, humana. No entanto, essa tentativa inglesa nfo foi fiel ao proprio pensamento sartriano, na medida em que se fundiu com outras metodologias e psicologias com cla incompativeis (como a psicandlise kleiniana, por exemplc), utilizando-se do referencial sartriano como contribuigSes pontuais. Assim, apesar de assinalarem 0 potencial clinico da psicologia existencialista, clas nao se constituiram na sistematizacao do conjunto de sua teoria ¢ metodologia. © aproveitamento do conjunto da obra sartriana na diresio da consolidagao de uma nova perspectiva para a psicologia © seus castzete9 -273 desdobramentos concretos para a realizagio de uma clinica vem sendo praticado hodiernamente por alguns profissionais de que temos noticias: hhé um grupo de psicélogos, fldsofos ¢ outzos profissionais e pesquisadores cm Floriandpolis, Santa Catarina, reunidos em torno do NUCA,* que ha ais de vinte anos vem se dedicando a estudar a obra de Sartre, ¢ que esta pondo em pritica uma metodologia psicoterapéutica totalmente sustentada 1a flosofa ¢ psicologia sartrianas, Nos Estados Unidos, hd uma psicdloga, Betty Cannon, que também realiza uma clinica sartriana nos moldes acima mencionados, conforme indica seu livro “Sartre ef Ja psychanalyse” (CANNON, 1993). 5 Niicleo Castor ~ estudos « stividades em existencalismo ~ site: wwvenuca.ongbe. [Neste site i relatos de virios casos clinicos traballos aa perspectiva da psicologie clinica sartriana que ajudam a elucidar em termos priticos a diccussio tedrica aqui realizada. = CONCLUSAO - Sartre participou ativamente do contexto da evolugto do pensamento de seu tempo, tendo sérias preocupasées com o papel da filosofia « das cigncias na organizagio da sociedade na qual estava inserido. Para que esse papel forse efetivamente transformador, como julgava necessério, propunha que a filosofia, a antropologia e a psicologia fossem questionadas, em seus fundamentos, jé que elas fornecem o horizonte de inteligibilidade humane do sistema social vigente, Dotado de uma reflexto profunda sobre 18 problemas filos6ficos, epistemol6gicos e sociais do século XX, tomou-se ‘um critico contumaz dos valores, das crengas, dos conhecimentos, em sua maioria alienantes, postos a servigo da sociedade. Sua critica mais ferrenha prendia-se 20 fato de que esses conhecimentos transformam a realidade fem uma mera abstragio, em uma entidade metafisica, muito distante da realidade conczeta dos individuos. Sob o horizonte dessas criticas,o francés partiu para refazer tais conhecimentos. Seu projeto técnico maior foi o de elaborar uma nova psicologia ‘A meio camiaho, porém, compreendeu que «6 conseguitia propor uma nova perspectiva para essa ciéncia se revisse seus fundamentos ontolégicos ¢ antropolégicos, pois os impasses da psicologia tinham ali sua ancora, Partiu para a elaborasio de uma nova ontologia e, mais tarde, de uma nova antropologia. Mas, no fundo de suas obras, a tematica da psicologia continuava presente ¢ em constante elaboragio. ‘Ao acompanhar a evoluséo do pensamento sartriano, pudemos constatar que esse estudioso propés efetivamente uma nova ontologia, que questiona os fundamentos metafisicos do pensamento ovidental fornece as bases para o dircito a cidadania da ciéncia, nos seguintes termos: 1) 20 estabelecer que a realidade se estrutura em termos de duas regides ontolégicas — 0 ser ¢ 0 nada, ou as coisas € a consciéncia, ou o em-si eo para-si - compreendidos como dois absolutos relativos, quer dizer, como dois aspectos distintos e inelutiveis da realidade, porém relativos um a0 outro, Em outras palavras, a realidade & resultante da relagio dialética entre a subjetividade e a objetividade; 2) ao distinguir consciéncia (aspecto indescartavel da realidade humana, estrutura essencial de sua ontologia, 276 SaRTRD EASICOLOGLA CLintcA que possibilita ao homem estabelecer relagbes) de conhecimento (nfo mais tum saber a priori, mas um aspecto “segundo”, resultante da produgao do homem), rompendo, com essa postura, com o idealismo e racionalismo predominantes na filosofia, ao recolocar a epistemologia em outro patamar, aque viabiliza o homem enquanto sujeito do conhecimento. Essa ontologia fenomenolégica foi 0 eixo norteador das profundas alteragdes que props & antropologia que, segundo ele, deve ser estrutural ¢ historica, pretendendo, com isso, “resgatar o sujeito concreto no seio do marxismo”, fundamentando a compreensio de que o homem é aquele que faze€ feito pela histéria (SARTRE, 1960). A antropologia deve sera sintese dialética da relagio entre individuo e sociedade, sujeito e materialidade. ‘As concepsdes da fenomenologia de Husserl ¢ Heidegger, do existencialismo de Kierkegaard e da dialética de Hegel e Marx, que 0 influenciaram sobremaneira, retrabalhadas superadas por sua propria ontologia antropologia, forneceram o substrato necessirio para Sartre construir uma nova psicologia, que estabeleceu, definitivamente, um corte epistemolégico, metodologico e tedrico com a psicologia empirica e seus impasses, bem como com a psicandlise freudiana e sua ldgica pautada no “determinismo psfquico”, expresso em nogSes como “inconsciente”, “zepressiio”, etc., que sempre considerou inaceitaveis. Nesse horizonte, Sartre elaborou: 1. uma nova ontologia do eu, a0 concluir que o ego (dimensio do sujeito) nao € um habitante da consciéncia (limensio. da subjetividade), como sustentam muitas psicologias empiricas ea psicandlise, que caem na ilusto substancialista, mas sim ‘um ser do mundo, objetivo, transcendente; o que permite que a personalidade possa ser inteiramente conhecida; 2. uma nova teoria do imagindrio, consciéncia irredut auténoma, considerada por ele uma das formas essenciais de © homem se relacionar com a realidade, na medida em que 0 permite transcender a situago dada em diregio a0 novo, a0 diferente, ao futuro; 3. uma nova teoria das emog6es, compreendidas como a experi- mentacto psicofisica da pessoa diante de situagGes significativas, que expressam suas afetagées € escolhas de ser coverusio . Acesso em: 10 mar. 2004, BERTOLINO, Pedeo. Atmaylra humana, Disponivel em: , Acesso em: 25 out. 2004. BERTOLINO, Pedro. Os proceso da cifncia. Disponivel em: . 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Sua versio digital eriada por Carol Twombly para a Adobe respeita sua esséncia, A Adobe Chaparral Pro, também criada por Carol Twombly, a partir do chaparro, uma espécie de earvalho que encanta ot pés das colinas da California com ‘us paisagem seca e ensolarada ‘Miolo em papel palen sj? 80g; capa em cartio supremo 250g, impresso na Grifies € Editora Copiart em sistema de impressio afi. Daniela Ribeiro Schneider é psicéloga e professora dos cursos de graduacao € pés- graduaco em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). € mesire em Educagdo pela UFSC e doutora em Psicologia Clinica pela Pontificia Universidade Catblica de $40 Paulo (PUCISP). Dedicada ao estudo do cexistencialismo de Jean-Paul Sartre, tem varios artigos publicados sobre psicologia existencialista. € coautora do capitulo que versa sobre a relacdo entre Sartre e o cinema francés do pos-guerra, no livto Cinema: lanterna magica da historia e da mitologia (EAUFSC, 2009). livro Sartre € a psicologia clinica apresenta as ntribuigdes do fildsofo francés para a psicologia nica, desde suas raizes ontologicas ¢ epistemolégicas @ seus desdobramentos teoria e metodologia da psicologia clinica. linguagem acessivel, mas nao menos aprofundada, & tum livio.introdut6rio a0 pensamento sartriano, principalmente em sua dimensao psicologica e sua aplicabilidade clinica. Por essa razo, constitui-se em ‘obra a ser utilizada por professores universitarios como base para as disciplinas de filosofia, fenomenologia e psicologia existencialista © por professores de psicologia e filosofia do ensino médio. Serd til igualmente a leitores em geral com interesse ‘em cultura francesa e filosofia contemporanea.

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