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FUNDAGAO EDITORA DA UNES? Jisio Hernan Boma Gar Conshe Bltovial Acai ‘Auials Jost Goncaes ‘Anna Mara Martine: Carta ‘Ansunia Carlos Masebni ‘Anunio Caloo Wagner ania CCrlosEevany Farinas Faust Forest Jost ieee Jnior Jose Robern Ferrie obit Keak Eltor Exes obo ¥. Kawaea ios Asics Marin Apparida F. M. Buss Maria Dolores Prades ~~ AUD DEMETRIO MAGNOLI O CORPO DA PATRIA IMAGINACAO GEOGRAFICA E. POLITICA EXTERNA NO BRASIL (1808-1912) FONBRGAG ‘EDITORA MODERNA Copyright © 1997 by Edin UNESP Drees de publcagao eseraos ‘Randagt Eitan ds UNESPCFEU) ‘Av. Ro Brae, 1210 (01208904 = Sto Paulo = SP ‘Tel lie (Ot1) 2239560 Dalos Interraionss de Caalgasio na Pulse (CHP) (Cémara Belen do Lovo, SP, Bal) Magni, Demet, 1958- 1 compo dh pia: imaginaio ogre poten exaena no Brill (1808:1912) / Demo Mat,» Sto Paulo Etre da Unione Esa Peli: Modem, 1997, ~(hiBitecn bisa) biog 7 | BINGE seas enesn ee ee, 1. Brasil ~ Geografia 2, Brasil ~ Relagoes emeriores 3. O Esindo B | navn comet 45 Insp alae nn | Bega 3B EMH SES ae gas tes Somos on » 133 sso ‘AN 5 BN PR = SUMARIO Apresentagio 1 Producio geogrifica do patriotismo 1 Nacionalismo: natureza, razio ¢ destino 2 Raizes geogrificas do nacionalismo oe IL Os mitos fundadores e o territério brasileiro 1 Onmico da lthaBrosil 2 Brasil, pévia virtual ILL O Império: Destino Manifesto luso-brasileiro 1 O Império na histria: 0 projeto continuista 2 O Impeério ea idenddade nacional 3 Sentido da politica externa imperial IV Estado prénacional: politica externa e unidade teritorial 1 Estado prénacional e pollica internacional 2 A “politica de ‘equilbrio” no Rio da Prata 3 Contestasio e estibilzacio das fronteias platinas 4 A Guerra do Paraguai e a teorganizacio do sistema subteyional 5 As pottncas exteriores eo espago 185 239 289 297 305 DEMETRIO MAGNOLL V O entorno hemisférico: Pan-América 1 O subsistema americano e o panamericanismo 2 Rio Beane (5 Estados Unidos: o panamericanismo em agio 3 A politica sulamerieana de Rio Branco 4 Do outro lado da fronteien: 0 olhar do viinho. VI O corpo da pitria 1 Horogénese ¢ origem das fronteiras nacionais 2 Politicas teroriais a conquist da eanand Conelusio Apéndice cartogrifico Bibliografia APRESENTACAO A geografia nasceu como Geogratia Politica. Friedrich Ratzel, sob a influencia de Hegel, conferiu ao Estado o seu significado espacial ¢ ins. ‘aurou um paradigma poderoso do discurso geogrifico, libertando-o do tisco de confinamento as cgncias da natureza, Em 1882, na Antropogen safia, ficava definido © ponto de partida: Exatamente porque nio é possivel conceher um Estado sem tsrritdrio « sem fronteiras & que vem se desenvolvend rapidamente a geografia pot tease embora mesmo a cigncia politica tenha freqitentemente ignorado as relagbes de eepago ca posicio geogrifca, uma teoria do Estado que fesse abstagto do tersitdrio nfo poderia jamais, contudo, te qualquer funda ‘mento seguro. (Rael, 1990s, p.73) O “momento epistemoligico” ratzliano oferecia um vasto horizonte para a nova disciplina. Como explica Kerinman, Ratzel ambicionava ensinar a elite politica a “fundamentarespacialmente suas decisces, ad uirindo este ‘sentido geogrifico’ (geographischer Sinn) que pode set, se. ‘no inculeado, ao menos desenvelvido” (1990, p.37). Indubitavelmente, ‘ratavase de produzir um instrumento intelectual a servigo do Estado, ‘mas com a ressalva crucial de que "a Geografia Politica cujos alicerces sio estabelecidos ndo pode, segundo ele, responder as exigéncias do poder senio conservando-se como ciénei ia” (p.37), Dessa forma, ao nas- IV ESTADO PRE-NACIONAL: POLITICA EXTERNA E UNIDADE TERRITORIAL. ‘A Republica do Paraguni éo Unico baluaste capas de conte as Provincias de Mato Grosio, Rio Grandee até Sto Paulo como parts ‘mageanes do Impeio, (Duarte das Ponte Ribs, 1849) 1 Estado pré-nacional e politica internacional A politica externa dos novos Estados independentes na América do Sul definiw-se no interior da moldura dos equilibrios de poder do sistema internacional estraturado pela derrota napolednica. Se, no cenétio euro ‘peu, esse sistema evoluiu na diregio de um equilibrio pluripolar mais fou menos estivel, no Atlantico ena América do Sul ele reservou um opel predominante para a principal poténcia maritima, Mas o predominio da Gri-Bretanha manifestouse essencialmente na sua destacada influéncia diplomatica e na sua posigio comercial he sgemdnica, jamais no controle tetritorial direto sobze os Estados sulame Ficanos. O papel que ela desempenhou foi o de promover o isolamento das Américas em relagio as poténcias continentais européias.! Assira, | BETHELL (19958) insite ova austneia de uma posura de interencionismo ‘rknco aber na America Latina do sévlo XIX: “a Inglaterra nunca se moston Li DEMETRIO MAGNOLL ironicamente, a rota breinica curapriua fungi de instrumento efetivo da Doutrina Montoe, afiangando a independéncia politica das nagdes do Novo Mundo.? Ao mesmo tempo, a liberdade de agio britinica estava Jimvitada pela contestagio permanente das demais pottncias européins, expressa na América pels intervengtes militares localizadas da Franga,pelas tentativas recolonizadoras pontuais espanholas e pelo interesse vigilante dios alemaes. Essa forma de repercussio periféria dos equilibrios ew- ropeus conferiu uma certa autonomia aos sistemas sub-tegionais ame ricanos e, também, alguma liberdade de movimentos aos novos Estados soberanos, ‘Até as ilimas décadas do século XIX, © que atwalmente se entende como o subsistema regional das Américas consisti efetivamente, em tum conjunto pouco articulado de sistemas sub-egionais.? A nogio de opens a asumir as obrigagies politica e militares de um impétio na América Latina Como resultado disso, a América Latina fl a nica area do gobo 9 permanecer ern grands pare livre do Impétio Bitnico no final do stclo® (p37). [As emmogdes ctarinm circunscritg 20 so eicunstncial da “diplomacia das ‘ankonens” para impor live cométclo ou © pagumendo de divids: bloqueiv francobritinica a0 Rio da Prat em mealos da década de 1840, inervencto feancobritinieespanhola no México em 1861, blogucio germanobritinio‘taliane ida Veneniela em 1902-1903, Sea cose gotl &amaplamente verfcvel, a neato de rivagiesgeopolkica nos dos prmsitos casos € muito pouco convince esa da adverénialanczda § Europa peo presidente James Monroe ern 1823 «letra sno’ das Américas, os Estados Unidos nao dominaram os asuntos do hhemisftio osidenal Esta delaracto da posta dos Estados Unidos fi fei. & sombra ds orimads bstanica, pois naquele momento os Estas Unidas carecam {do poder mir nosessiro para manter a potneas continents europeis asta {da América, saben, simtaneamente, quea Ge-Bretna podria fxélo eo fain ‘Duane steup XX os Estados Unidos foram proses pelo poler maritime brivinico, Os dots Estdus nto agiram segundo um aconlo formal, mas compacthavam um ineresse coinidente em manter as poténcas continentals atistaas das Americas” (Atkins, 1991, p.G1) 5 Ao longo do tengo, a amplingio constants do mero de unidades polteas « da “nmensto do sistema internacional tornauo cada vex mais complexo, demandando 2 escalade analisepropiciads pelo canecito de subsisema, O conesto de subsitema pode ser aplcado tnto a tegides ~ definidas em sermos das relagdes regulars de tlierenciago e intgrgia estabeesias po wm eonjanes dle unidades poliss — ‘ouno a organizes imerewatais que esablecem padtbes de relagio e regula de Conf eniteos sesinteyrantes, Contd, "os eubsitemas internacionaisembora Coracerizados pela dieoncingio © ineyyagio, lo sto consderalos sistemas (© CORPO DA PATRIA bs sistema sub-regional traduz, com alguma objetividade, a integracio muito precitia das unidades politcas do continente, a auséncia virtual de uma poténcia americana dominante e o cariter fortemente regionalizado das relagdes externas. Como notaram Lafer & Pea (1973, p.86), a maior parte desses sistemas sub-regionais era “do tipo balanga de poder” e cada uum deles contava “com o seu centro de gravidade”, Na América do Sul, 1 dinimica da contighidade geogrifica esbocava um sistema no Cone Sul, estruturado em tomo da rivalidade ABC (Argentina, Brasil, Chile). Na porgio andinomazdnica seentrional, a fuider das relagSes externas dos novos Estados talver torne imprépria a caracterizacéo de um sistema sub-regional. O sistzma do Cone Sul exibia relagdes bilaterais do tipo equilibrio de poder entre o Brasil ea Argentina, que disputavam o controle da area platina, e entre Chile e a Argentina, em razio das orientagées confli tantes de projesio das influéncias nacionais, A posi¢ao do Unuguai e do Paraguai, sobre o eixo da rivalidade platina, transformou-as em focos de instabilidade sub-regional. Os confltos envolvendo o Chile, de um lado, aalianga efémera entre Peru e Bolivia, de outro, reverberavam a disputa chilenoargentina: Os processos mais importantes nas relacdes ineernacionais do Cone ‘Sul durante o séoulo XIX incluiram a politica chilena do Pactfico destinada adominar a costa ceste; a decisio angentina de predominar na érea do Rio sla Pras e de restauar © controle sobre os velhos limites do Vice Reino (que incluiam o Uruguai, © Paraguai ¢ pare da Bolivia); e a preocupagae do Brasil em expandir ¢ assegurar as suas proprias fronceiras. Desta mancira, Argentina tivalizava com o Chile pela influénca sobre Bolivia e Per, ecom o Brasil para dominaro Paraguai eo Unigual (Atkins, 1991, p.62:3) Longe dali, na porcio andinoamazénica do subcontinente, opadio Primitivo da confrontagao bilateral, assentado sobre contenciosos de fronteiras, refletia a auséncia tanto de poderes sub-regionais hegemdnicos como de nitidos centros de gravidade. As guerras sucessivas entte a Colombia o Peru, o Peru eo Equador, o Equador e a Colémbia com: independences,Atualmente, um sistema internacional mundial abarca virulent todos os atores,subsitemas e suas ineragtes” (Atkins, 1991, p.42). 136 DEMETRIO MAGNOLE pleuram a trajetéria disruptiva que Bolivar pretendera interromper € fixaram o mostico fragmentirio das fronteiras politicas. © espago de relagdes da América do Sul ainda nao adquitira os contomos de um subsistema mas, mesmo assim, o Brasil - que partic: pava do sistema sub-regional do Cone Sul e mantinha uma vasta faixa de fronteiras com os Estadas andinoamazbnicos ~ passava a funcionat ‘como dinamo intgrador, forjando acs poucos interdependléncias em ‘scala subcontinental. As relagSes brasileitms com os dois sistemas sul- americanos onginizavanyse sobre os eixos clas bacias hidrogrificas platina, ce amaz6nica. A politea exterior bifronte do Lmpsrio definiuse, de maneits eral, pels situagSes opostas que se apresentavam nas grandes baciast na area platina, a or oeetinica encontravase sob controle do rival argentino & 1s faa frontcirigas constitutam espages deingenso contato demogratico;, na fitea amaz6nia, a for oceinica encontravase sob controle nacional eas fas front ws condigdes des sais conclicionare a prioridade para area platina, da qual emanavam as percepgdes de inseyuuranga e2 tradi¢ao de rivalidade da época colonial A civalidade patina entre o Império brasilei ea Argentina & com omasiada frqiténeia, explicada em termos do confronto entre expansion niismos ativicos. Ao lado dessa modalidade de abordagem ~ e, muitas vyezes, em conwvivéncia amistosa com ela -,atribuise aos interesses impe- rialistas das poténcias externas (isto &, na época, essencialmente & Grit Bretanha) renitente conflito entre os rivais co Prata. Tratase, em ambos 10 casos, dle apreensdes que abstraem as motivagdes concretas dos atores, substituindo-as por modelos genéricos Uma outra postura consiste em consticuiam desertos demogréfcos. 4 Paulo Schilling (1978) const tastrago acaba da visto que se ert, Monta wn into tericy peur, quenada explica emda seexplias“A esratiga continental Iasetea~ wna tii esa de subipérn— fe geralmente estabelecida er fungio ls eomposico desesinerestes: on elon eof mstopolanos. Em alguns casos, prevalecerim of interesses braselros ou, deo melhor, das classes dorinances brasieirs. Ein outs, os Inceresses imperis forum os predominantes. Assim, sand ligula Rosas e quando dest o Paraguai de Solano Lape, o Brasil ana como brago azmado do imperialism ings, come gendarme... Ao invers, quando Paleo I obrign o Unga frm o taro de 1851, suryem como fundamentais os increses da oligarqula pecuaristae escravista do Rio Grande do Sul” (p19). Se, nesta dima ebservacio, ba algo, mesino a encontrae a confuse sobre o easter clas mouivasées do epiro bese, catalogalas de forma simples © expadita no ‘tcaninho dos “intrestes naconaie’ ‘©.CORPO DA PATRIA 13 identificar os interesses vitais dos Estados em conflito, tal como definidos pelas suas elites drigentes, cuja raizes estio assentadas no proceso de formagio da nacionalidade. Por essa via, nio é dificil desvendar, atris do que parecem ser simples tendéncias expansionistas, as motivagoes de seguranga de tipo essencialmente defensive, Nao hi, efetivamente, absurdo na pritica de se utilizar a expressio “ingeresses nacionais" para fazer referéncia & politica platina do Brasil ot dda Argentina no século XIX, com a condi de que niio se perca de vista 6 farw de que, nos dois casos, esti se tratando de entidades estatais pré nacionais, Aleneastro daa pista para se entender 0 contetido das mot vvagies da politica externa brasileira ao insisti: A singulavidade da sua ongpnizacio politica, © Impex, est ligada es trcitumente& especifcidade da forma de tabalho dominance, a escravidao, ‘eo cnigia da sua evolueto histitiea, a manutengio da unicade territorial brasileira, (1985-1986, p.3056) Leon Pomer (1979) enxerya, por tris das yuerras externas - © da violéncia interna ~ dos Estados platinos a sua caracteristica de eniddes prénacionais, permanentemente ameagadas pelo espectro da secessio, concluindo que em formagdes soctais prénacionals,cuja eoesto se deve fundamentalmente so poder de Fstado, ele deve desenvolver situltaneamente politics inter inas ¢ externas obviamente destinadas a manter © « aumentar til coesio. Extados virinhos debeis © pequenos ... parecetn ser uma necessidade peremptsria (1979, p.146) Os Estados oligirauicos, na condigio de conglomerados de elites regionais, ressentemse da solidariedade intema, social ¢ territorial, caracteistca das nagdes contemporineas. A manutengio da unidade ‘wansformase em objetivo primontial das polticas intema e extema, demandando 0 emprego da forea para o sufocamento das revolts ¢ fizendo das guerras um elemento crucial para a legiimagéo do poder central. A politica externa, nesse contexto, tomase extremamente permedvel is pres: ses exercidas por setores oligirquicos, mesmo que marginais, especial ‘mente quando estabelecidos sobre as faixas mais instiveis das fronteiras O estudo dla politica externa de entidades prémacionais esbarra em uum outro obsticulo: a tradigio narrativa das historiografias nacio a DEMETRIO MAGNOLL Esses discursos historcos, produnidos a poster, organizam-se sobre pressuposto invisivel do ponto de vista nacional. Pela sua propria natu reaa ~ de construgbes ideolégicas associadas ao nacionalismo ~ eles esto subordinados & fiecio que exaltam: a nagio anterior ao Estado ni ‘Uma das conseqiiéncias disso reside na imputacio de um espago geo- srifico definido e circunscrito pelas fronteiras polticas para as historias nacionais, inclusive para periodas nos quais essa delimitagio era, real: mente, bastante flutvante: a narrativa da histéria nacional estruturase ‘om razio de uma geografa politica que nao & contemporsinea aos epis®- dios narrados, pois s6 se consolidaria mais tarde. Esse procedimento resulta em que, freqiientemente, aquilo que para os contemporineos aparecia como politica internacional sejadescrto, na historiograia, como um aspecto da politica interna da sociedade nacional. Trata-se, como veremos, de um problema especialmente pertinente ao estudo das Areas de fronteira sujeitas a ronsbes separatists. © problema se apresenta sob aspecto particularmente aguddo no caso dos conflitos platinos do século XIX. As diversas historiografias nacionais, abordam as historias brasileira, argentina, uruguaia ¢ paraguaia como se tais entidades estatais estivessem plonamente configuradas na época, do ‘que resulta a tendéncia a minimizar ~ ou, o que di no mesmo, a enearar ‘como meros “fatores complicadores” adicionais ~ 0 que é central: © ‘entrelagamento de projetos, movimentos ¢ liderangas politicas na dex platina, por cima das fronteirasinstiveis dos Estados. Federais e unitirios, angentinos, blancos e colorados unuguaios, repubicanos farroupilhas bra sileiros so enquadrados em compartimentos geopoliticos estangues, a partie de uma Logica que contradiz as percepgBes concretas dos atores Exemple particularmente grave desse tipo de abordagem € 0 tratamento dispensado a chamada Guerra Grande urwguaia (1839-1852), cujos an- tecedentes encontratm-se na ruptura entre blancos e colorados de 1835, aque & apresentada como um evento nacional, mascarandose a sua con: digio de pont focal de um conflito regional que colocou em questio toxlo o desenho das fronteiras platinas. Os mesmos pressupostos condi cionam a abordagem da Argentina do século XIX, ocultando-se por essa via o impasse prolongado entre o porto e as provineias, que poderia ter resultado na definitiva desagregacio do pais ¢ que abria possibilidades inesperadas de reorganizacio de toda a geografia politica platina. Proce- dendo assim, as historiografias nacionais imolam os nexos explicativos dos eventos no altar do nacionalismo. (© CORPO DA PATRIA be 2 A “politica de equilibr © Diciondrio de Bobbio define o Império também como a “organi- 2agio do poder absolut num aglomerado social para conquista de espa: 505 tertitoriis” (L991, p.622). A expansio extema funcionaria como meio de confirmagio de um poder e um consenso que nao sio expressos através da representagio de grupos sociais. Sobre a politica platina do Brasil, Novais (1995, p.81) afirma que “a idea do Império .. era uma idéia de preservacio territorial e, até mais do que isso, era uma idéia expansionista”, usando como evidénci as intervengbes na chamada Cis: platina. Teria a politica extetna imperial para o Rio da Prata se caract: rizado por uma nitida © constante tendéncia expansionista! A politica joanina para a Cisplatna deve ser considerada, antes de tudo, em termos das disputas dinsticas europeias, tal como se afiguraram no ambiente das guerras napolednicas. A alianca entre Portugal ea Gra Bretanha, o controle temporitio da Franca sobre a Expanlha e a complexa « atibulada tentaiva de articular © projeto imperial de D. Joo VI a atima: aha legitimista da infanta Carlota Joaquina fornecem as pistas para a compreensio da primeira intervencio luso-brasleta na Banda Oriental (O dominio napolednico sobre a Espanha provocou grande agitagio, acirrados debates ¢ conspiragdes diversas entre as elites dirigentes das colGnias americanas: »” no Rio da Prata Alpuns dedusiam, para sua convenignca, a doutsina juridisa que vin «ula a América a coroa e no & Nagio Espanola, Prisioneiro que estava «re legtimo de Espana, a soberania reverted, naturalmente, aos powoe ‘squats dbtinham, asim, o ditto live formasio do seu proprio govern. utras fcgdes, mais moderadas, prodamavam a possbilidade de criacio de monargulas independentes onde reinassem prneipes de sangue Bou Insniao, (Vicente, 1993, p-196) Estes ultimos projetos ~ ironicamente similares & trajerdria que con- dusiu a independéncia brasileira - jf tinham sido aventados pelo conde Aranda ¢ por Manuel Godoy, conselheiros dos reis Carlos Ill ¢ Carlos IV. Contudo, as preocupages de D. Jodo estavam voltadas nio a elucubra cs desta natureza mas para os riscos coneretos advindos da possivel ‘ransformacio de Buenos Aires em um polo irradiador das influéncias revolucionsrias francesas. Ao mesmo tempo, os estrategistas da Corte 40 DEMETRIO MAGNOLL cm Sto Cristovio enxergavarn na confusio reinante a chance de expan- stio luso-brasileira para © Rio da Prat Em margo de 1808, D. Joao oferece protesao ao Cabildo de Buenos ‘Aires, em caso de ameaca napolednica. Essa proposta explica a néo in- clusiio da Espanha na declaragao de guerra formulada por Portugal & Franga. O articulador da operagio joanina era Linhares, que aconselhava co viee-rei Santiago Liniers a se colocar sob a protegio do Rio de Janciro, “agora que a intervengio francesa aniquilara a monarquia espanhola, disando as suas colGnias a0 abandono” (Alexandre, 1993, p.244). Em contrapartida, a Corte de Sio Cristévio comprometia-se a evitar um ataque britinico ao Rio da Prata. Essa oferm, que reunia o apoio de Strangford eo de D. Carlota Joaquina, foi interpretada em Buenos Aires como tentativa anexacionista, No ViceReinado, cogitou-se até da real agio militar pela ievasio do Rio Grande, mas Liniers adotou posigio mais moderads,limitandose a enviar am neyoeiador 20 Rio de Jancit. Diante do recat be inhares desistiu dos projetos de ocupagio militar da capital portenha c a iniciativa dissolvewse no vaaio, Em agosto do mesmo ano, Carlota co infante de Espnha, D. Pedro Carlos (sobrinho de Carlos 1V), divulgam proclamagio "aos ficisvassalos de 5. M. C. o evi das Espanhas © Inalias” na América, apresentandose ‘como representantes da Casa de Bourbon na Américt. Mas, na Espanha, Fernando Vil desautoriea a iniciativa, que carecia de base juridica pois a infanta nao tinha sido declarada sucessora do trono espanhol. Em no- vembro, D. Joao vacila diante da disposicio manifestada por Carlota Joaquina de vijar para Buenos Ais, co ousado empreendimento acaba abandonado, em virtude da oposigio conjunta de Linhares e Strangford 5 5 Vicente (1993, 9.2089) fonsee os saborows detalhes ca tana. A 22 de novernbr, «ra respond solictagSo de Carlota, D.Joso adot uma sine de contemporias30, ponderando que os espanhois “aalmente devem ser consideraes como nossos alias” © que" foram snp les que oeparam am garde preferénia depois dos owes amados vassalos © dos meus anegos alialos os ingleses". Nessa bases, ‘ondiciona a vagem a un convite feito “de ama trnelra formal e auténtiea” pos diiemtes de Buenos Ass. A 28 de novembre, provavelmente apis consults com Linhares, © principenapente nays autorizag3o para. wage, Invocande a auséncia Aleacor da GrsBreanha edo govern expanho. A Faquezs da posgto da infu fa Come tins sido prwucada polo seu afstamenco conjugal de D. Jo, ainda em Portugal em rato de sua supa adesta 2 uma tenativa de golpe palaclano, em 1806, (© CORPO DA PATRIA at ‘Aaatitude anticarloista de Linhares derivava tanto da sua alianga britinica conseqiiente posicao antiespanhola quanto dos projetos que acalentava de ancxagio da Banda Oriental. Jé Strangford, embora se tivesse associ ado a Linhares contra a infanta, epunhase aos seus sonhos expansionis- tas ¢ defendia os elementos revolucionarios do Rio da Prata © outras colénias espanholas, considerandows os melhores obsticulos contra a possibilidade de tutela francesa sobre a América hispanica.6 Deis anos mais rarde, com 0 inicio do proeesso autonomists no Vice Reinado, adensam-se os temores joaninos de que o principio mo- rrquico pudesse ser posto em perigo. Coma noticia da quase completa cccupacio da Espanha pelos franceses, Liniers ema deposto por uma Junta ue, reconhecendo formalmente a soberania de Fernando Vil, na pratica orientavase para a independéncia. Simultaneamente, a Banda Oriental © 0 Paraguai declaravam a secessio, afirmando lealdade ao governo de Cidiz © sofrendo em seguida a invasio das topas de Buenos Aires. Nessas cicunstincias, um pedi de ajuda & Corte joanina formulado pelo marqués da Casa Irujo ~ que tinha sido enviado por Fernando VIL a Montevideéu ~ permit a Linhares retomar em novas bases a operacio carlotists, propondo que os leyitimistas uruguaios aceitassem a reyéncia da princesa. plano chegou perto de se concretizar, pois Casa Irujo teria acetado aida, com a ressalva de que se restituisse © territsrio a seu irmio Fernando VIL, quando este regressasse ao trono espanol. Além disso, Carlota cultivava uma rede significativa de relagdes entre as elites hispst nicas que desejavam evita a ruptura completa com a metropole ou, pelo menos, a radicalizagao republicana, Mas a impossiilidade de um acordo ‘entre a infanta ~ que ndo se contentava com nada menos que o poder absoluto ~ ¢ os dirigentes do Rio da Prata ~ que ofereciam uma monar- ‘quia constitucional sob a condiglo da rentincia de Carlota aos tronos de 6 Alexandre (1993, ».245 6) critica a tese tradicional - sustensda, entre ouu0s, pot Olivera Lima ~ da inician toads de Carlots Jooqtina, sugerindo ttre pprclmaeto de operacio joanna articuladsorignalmente por Linhares, O recto posterior do Ministre teria derivado da autonomia de movimentos reveladh por Carlota edas pressdes de Strangford, preocupaco com o envelvimento nos projets calotistas do seu slmirante Sidney Smith que, nas paliras ironicas do proprio Plenipoteneivio britnio, esaria “walmenee deskddo a rapa a bela Helena © xabelecéla como Rainha Provisria em Buenos Aire”, la, DEMETRI WAGNOLL Expanha e Portugal ~ determinou 0 fracasso definitive desses planos unifcadores grandiosos. A intervengio joanina de 1811 na Banda Oriental foi deflagrada 168 a faléncia dessas tentativas mais abrangentes, ea pedido do vicerei io, no momento em que Montevidéu ji se encontrava sitiada ¢ o inte: rior dominado pelas forcas artiguistas, Se ¢ verdade que Linhares teria, instado junto a D, Joflo a favor da ida utiliando como argumento 0 supostotisco de ocupaeio das foreis portenhas tanto do Paraguai quanta dda Banda Oriental, ¢indiscutivel que a motivagéo principal decorreu dos perigos para as provincias meridionais luso-brasileiras gerados pelo le vante artiguista, ‘A Campanha, isolada dos centros de poder politico tradicionais do Rio da Prata, representiva um espago politico privilegindo para o enrak zamento de liderangas caudilhescas oriunclas de estratos soviais interme diaries." O antiguismo, que nasceu e se consolidou nesse ambiente sin- gular, difundiuse como um auténtico movimento popular de ambito regional, no vicuo aberto pelo contlito entre Buenos Aires e Montevidés, Contudo, a intervencio ensaiada pelas tropas lusobrasileiras gerou, ‘como rea¢do, a pur entre Buenos Aires ¢ Montevidéu e a devolugio a cesta ultima da autoridade sobre a campanha oriental e a metade oriental de Entre Rios: “esperavase deste modo afastar os ocupantes portugueses, caja intervengio havia sido apresentada como uma defesa da ameagada autoridade do tei de Espanha” (Donghi, 1994, p.283). A retirada das tropas joaninas e argentinas, nas condigSes do armisticio imposto por iniciatva brittnica, representou o eftmero retomno da Banda Oriental & condigio de colinia espanhola, mas 0 prosseguimento do levante pop lar de Artigas precipitou uma nova intervengio dos dois vizinhos, inter rompida por outro armistcio ea declaragso da independéncia uruguaia. 7 *insalac un ceniro de poder politico na exmpanhs oriental nfo ert um puro sleslocament> yeogrios er, simsltnneamente, un deslocamento da base social do poder polio. O eapamz Benavides, et esse lho de ur fzendeiro nto demasiado poderoso que € Laval, ou mais inca Fructaso Rivers puderam ocupar em vor ‘da cevolugo, um lugar destcado, previamente ao insko efeiwe do proceso revolucionsio ¢indubiivel qu, no quaco da Banda Oriental no seu conjunt © sind mais no Rio da Pra, a sua implantaio nao thes parece oferese, na etapa prerevolucionia, possbidae alguma de deminse a panorama politico regional” (Dongh, 1994, p28). (© CORPO DA PATRIA oy A retirada das tropas de ocupacio possbilitou o retorno das forcas artiguistas, que se haviam internado, provisoriamente, nas terras entrer- rianas. O deslocamento artiguista para o interior representou um éxodo que envolveu a maior parte da populacio da campanha oriental. Nesse episodio encontrase a origem da difusto da lideranga de Artigas para as provincias de Entre Rios, Corrientes e Santa Fé e a configuracio de um espaco politico distinto, que se tornaria uma fonte persistence de contes. ‘acio da geografia politica emanada das independéncias, em toda a esfera platina.* Em 1815, a revolugio de Artigas, que entrou vitorioso em Mon- ‘evidéu apos derrotar, sucessivamente, as forgus espanholas e argentinas, constituit 0 estopim para a segunda intervengio joanina? A invasio da Banda Oriental por tropas luso-brasileiras do entio Reino Unido e a derrota artiguista abriram caminho para a incorporacio do territirio. A empreitada luso-brasileira foi facilitada pela condigio posta por Buenos Aires para acetar o pedido de ajuda formulado por Montevidéu, que consistia na reincorporacio da Banda Oriental as Pro vincias Unidas do Rio da Prata, Em 1821, Lecor, comandante luso bra. sileito, conseguia reunir um Congresso Nacional do Estado Oriental de Rio da Prata que legitimava a anexacao. Em fevereiro de 1824 as forgas lusas deixam Montevidéu, pondo fim ao periodo de dominagio portu 8 De qualques forma, esse espace polico nfo fa jams, homoggnco, como explica Donghi (1994): *Nascem assim os Povos Lives, que reanbeoein por peottor a ‘Artigas. © plural esti cheio de sentido; se tam de virieunidades poiticas fen bs ‘uals Aris enfrena.. problemas distintss eos resolve também de maneia que tram de adequar ao context vardvel. HE, assim, um attigusmo entzetian, ur orrentino, um santafsino...E nas ets province a ade ao federalism vind de fora do Uniguai encontra os seus limites, mais que na presenga de grupos constantemente opostores .. nos desflecimentos dos seus propricn paris” (6.238). auronomismo ea resistencia & heyemonia de Busnos Aires, funconaram, slesde os tempos de Artigas, como instrumentos para aconsolidato das lderancas Provincins “A iseria do artigusmo santaftsinoexaré de qualquer forma marca or eterados epsoos de resistincla&presngatiliar de Buenos Altes.” (p10), 9 Candidrmene, Rodrigues & Seienfus (195) apres ua jstifcata puraments defensin para a opersgio, revlando o cater marcadamente diplomaica da sun Histria diplomavien: *O contole da Bands Oriental por Artigas e seus excessoe ‘eveluciontios mais de umn ver provocaram nose interengio, A prova dos seus ‘exes € que os primeitos combats se dersn em terstsio bral, ito €, Santana, Sio Bora, Ibiravcal evirioe owes" (p12) Py DEMETRIO MAGNOLE uesa ¢, a2 de margo, o proprio Lecor retorna a frente das tropas impe Tis, inieiando a dominagio brasileira A segunda interveneio na Cisplatina ndo representou um prosse tuimento linear da primeira, E verdade que as duas tiveram uma mot vyacio profunda comum, expressa no pavor joanino diante da transferén cia, para o Nove Mundo, das idéias republicans emanadas da Revolugio Francesa e corporificadas especialmente pela revolucao popular artiguis- ta. Porém, se a iniciaiva Luso-brasileira de 1811 deve ser compreendida cessencialmente & luz dos projetos de edificagio de um Império luso- brasileiro na América do Sul, a segunda intervengio desenvolveurse em um contexto distinto, pelo menos na sva fase culminante iniciada em 1821, Daquele momento em diante, a questio da Cisplatina dei ava o leito no qual se originou ~ euja Logica assentavase em bases dinisticas ~ para tornarse um problema associado ao da construgao do Império brasileiro. As rns, A “pacifca medias Jotaaias por Lecor durantea oun dda Cisplatina, aleangada em 1820, fundamentowrse lo de Monteviden e dos fazendeitos expropriados tna adesio do patrick sahos pelo Regulamento de terms artiguista «ke 1815. Em seguir turuuaios passaram a ser deslocados para as estincias e salade Rio Grande, enquanto ofciais e soldados luso-brasileiros recebiam titulos de propriedade das tereas abandonadas por artiguistas, Nas palavras de Alfredo Castellanos, o norte da Cisplatina, por esse processo, toraavase “uma dependéncia ecorsmiea da Capitania brasileira do Rio Grande, a {que se pretendeu ancxar em 1819 pelo denominado Tratade dela Farola, «que fixava o limite meridional da capitania no rio Arapet” (1994, p.2). Em 1821, proibia-se o abate de gado e a introdugio do couro em Mon- tevidéu, deslocando-se tssim 0 comércio para o porto de Rio Grande. Paralelamente, destrutande de privilégios oftias,traficantes brasleiros © portugueses e agentes de casas comerciais do Rio de Janeiro instaavam- se em Montevidéu, Com a Independéncia, o Império evidenciou a stia disposigfo ancxacionista quanto & Cisplatina, dando continuidade a es rwatéyia seguida desde a “pacificagao”.!” do 10 Em 1822, Jose Bonificio enviar Andina Manvel Cores da Camara para Buenos Aires, nas fines fis de Onl engente comercial. Na venlale, catnase de gente secreto cla Bras co mts liga 8 questa da Csplaina: *Otnico objets (© CORPO DA PATRIA 45 Discutindo a questio da Cisplatina, Nizza da Silva insiste em res- twingir a explicagio @ alianga bricinica e ao temor provocado plas idéias iluministas, que constituiriam as motivagies para as duas intervenes: no Brasil da segunda dca do século XIX, prevalciam ainda as convent: éncias pleas europtias: no eram o: interessesbraseirs, nem mesmo cos geopolitics, que comandavam a politica eer da Core. (1986,p 389) Porém, ela mesma constata, contraditoriamente, que “fizendo chegar 6 limites brasileiros ao Prat, ficava aberta sem restrigSes a navegacio rela Bacia do Prata, 0 meio de acesso a provincia de Mato Grosso” (p.393). Ja Antonio Pedro Vicente (1993, p.210) prefere enxergar nas dduas campanhas da Banda Oriental uma estratégia de represilia contra © Tratado de Santo Tidefonso, disigida para o "regresso aos ideais de trocas e compensagdes que haviam presidido ao tratado de 1750” « des tinada a "manter a fronteira conquistada na guerra de 1801". Nao se nessa incerpretieio, de “eonquistar qualquer teria perten- inte a Fernando VU", pois D, Jodo estaria apenas “forgado a garantir as fronteitas brasileras”. Efetivamente, no caso do Uruguai, a estratéyia imperial tinha por ‘eta a integragio completa ~ nas dimensics geopolitca e geoecondmica ~ «la chamada Banda Oriental ao teritério brasileiro. Essa estratégia cons- ticula uma retomada, em novas condigdes e sob uma outra Logica tert: torial, da operacio lusitana da Coldnia de Sacramento. Bla buscava 0 controle de uma das maryens do estuério platino, aaberuura da navegaczo fluvial para as provincias interiores e, acessoriamente, a conquista da praca comercial valiosa de Montevidéu. A percepeio profunda que legi- timou 0 empreendimento da Cisplatina foi a do cariter natural da per tinéncia da Banda Oriental a0 Brasil, assentado sobre a doutrina das fronteitas natatais. O tema das fronteiras naturais aparece freqientemnen- te associado ao projeto de incorporacio da Banda Oriental. Pandié Ca- logeras reflew essa problemitica ao situar as percepedes dominantes no Império acerca da Cisplatina: essa miso sscrm ern enfin, kar aos da Banda Oriental a comviggzo de que no es aluandonaia a Espana ou a Buenos Aires, o Governodo Rio, ‘cj vedadei imtengies sto de conserva eo sua integridade a incorporagio de Montevi {Wasconcllas, 1930, p.183) 146 DEMETRIO MAGNOLE ‘Ao Sul, a campanha de século e meio peln Colonia do Sacramento, com was a5 suas vicissinides, no esturio do mesmo caudal, cujas nascen- tes eram lusas. Como podria o principe alheiarse a tio agudo epalpitante fineo portugués problema ~ 0 encrivo de terrascastelhanas no medi Como o podetia fer, entio, tansferida para o Brasil a sede do governo? Na mangem esquenda do coreents, o trecho no possuido pelas quinas magoava os sentimentos da época, qual ferida no flanco, (1927, p4l4) No mesmo tom, atestando o cariter duradouro desse género de per cepgses, Clovis Bevilaqua (1902) lamentava ainda a perda da Cisplatina: ‘A incorporagio da Cisplatina ao Brasil nto oferecia solides. A dest. regigdo era inevitivel, ainda que uma politica mais hail e chefes militares inais intépides pudessem ter retardado © movimento separatist, Se ¢ possivel compor, pela imayinacto, suoessos com visos de werdade, sem se ter em conta a complexidade dos fatos do dominio social ¢ o forwito da historia, €e supor que efetuada mais tarde, a separagdo da Banda Oriental seria uma dolorosa dilaceragio que havia de magoar mais profundamente © onganismo nacional, e que talve: acaretasse perda maior de erritiio € cde populagio. (1902, p.25) ‘Claro que “uma politica mais habil", acrescida de “chefes militares mais inteépidos”, em nada teria retardado 0 “movimento separatists”, jt que o levante urugdaio se processou no interior da dindmica mas geral deflagrada pela vitdria de Bolivar na Batalha de Ayacucho, em dezembro de 1824. O sinal de alarme foi ouvido nitidamente pela Corte de Sa0, Cristévio, ¢ parece ter provocado verdadeiro pinico no monarca bras leiro, que se sentia sitiado pela revolugio republicana.!! Na Cisplatina, TL in conver pada cu o represen diplomain ustiaco na Corte, D. Peo Acplota a vciria de Bovr © extarnow seus resis a respeito das repeneussdes m3 ‘Cisplatin. Em informe a Metternich, este representanteesreve: “Sua Altea Res ‘ati longe de ignonar 0 perigo real que represen pura ele a forma republicana dos ‘demais Govemos da Ames clo Sul. Bem pelo contin, as alias vitbios de Bollvatinspirararmlhe um verdacira terror” (apud Seckinger, 1984, p31) Em abil Je 1825, presidente Ja provincia de Mato Grosso ocupou eanexau femerament, ‘regio bulvina de Chiquitss, Uma ordem do imperador, provavelimente posterior 20 ultima enviado pelo general Sucre, prowocou a desocupario da regi. Ha polémiea acer sobre © curto episidio, mas as crcunsincias indicam que a inieatva do presidente provincial no contou com a anugncia do Imperalor, (© CORPO DA PATRIA un ‘1 campanha antiimperial, liderada por Antonio Lavalleja, antigo tenente de Artigas, contava com a adesio dos chefes artiguistas da campanha oriental, entre os quais Fructuoso Rivera ¢ Manuel Oribe. Em 1825, as, foryas combinadas orientais e portenhas retomaram © controle sobre Montevideu, coma transitéria reincorporagio da Banda Orientals Pro- vincias Unidas do Rio da Prata, A intervengio argentina precipitou os esforcos de mediagio brittink ‘0s, enquadrados na politica do chanceler Canning, que ambicionava, simultaneamente, conservara Santa Alianea afastada da América ~ ainda nai depois da definigio, nos congressos de Troppau e Laybach de 1820 1821, do principio de intervencio de Metternich ~¢ eforcar os interesses britinicos diante da nova desenvoltura revelada pelos americans descle © discurso de Monroe de 1823. A Missio Ponsonby (1825-1827) foi a primeira tentativa mediadora, realizada na fase da alianca de Lavalleja com Buenos Aires. A hipétese de independéncia uruguaia jé aparecia como altemativa falta de outro acordo. Canning, em instrugio a Pon: sonby, revelava compreender a esséneia da disputa: adificulade de toda a questo residia em que o valor de Montevideu para cada parte consistia menos, talver, no benefcio positive que pudesse derivar da sua posse, que no mor do prejuizo oriundo da sua posse pela parte ‘contritia. (Castellanos, 1994, p.56) : Em 1826, o presidente Bernardino Rivaddvia rechagava a proposta brasileira de manutengio da Cisplatin mediante a transformacio de “Montevidén em “porto livre” internacional. Nesse momento, a mediagio britinica softia uma reviravola, tomandosse mais afirmativa e acentuan- doas pressdes pela indepenclencia uruguaia, Concomitantemente, acom- pleta adesio de Rivadavia ao unitarismo provocava rachaduras insandiveis na alianca com Lavalleja, reforgando a exigéneia oriental de uma inde- pendéncia completa. O desenlace acabaria derivando da vitéria conse preocupadlisimo em nose indispor corso Liberaor. Na oeasio, Bolivar, asim somo Sucte e Santander, fram estimulados pelo presidente argentino Rivadvi a Jnngar uma ofensivacontrao Brasil, Aparentements, fa jntermeiogo de Canning que evitor que Chiquitos se tans6rmasse na fgulha de wm conflitogerl entre © Libertador e o Impéro. A 20 de marco de 1826, 0 chanceler britnicoexerevew a Bolivar fictandoo pela moderasio cam que se concksit no episio as DEMETRIO MAGNOLL ‘nuida peas forgas de Rivera nas Misses, em maio de 1828, que foi capaz de romper a resisténcia brasileira e acelerar a conclusio das negociagSes. ‘A Questo Cisplatina ilumina a posigio de eada um dos arores e esclarece as relagdes entre 0 Império ea GriBretanha, A independtneia uruguaia ~ cuja legitimidade politica foi atestada, desde 0 inicio, pela ppopularidade de Artigas ~ nao correspondia a0 interesse de nenhura das poténcias platinas. A Argentina, engajada no projeto das Provincias Unidas, a encarava como mais um episédio da fragmentagio do antigo Vice Reinado, manipulado dovexterior pela diabélica alianga entre a Gri- Bretanhae o Brasil. O Impétio, por sex turno, a interpretava como perda do acesso a0 estuiri, que passava ao controle indisputado da Argentina, Entretanto, © Unuguai independente identificava-se plenamente com os objetivos da Gra-Bretanha, cuja politica viseva, simultaneamente, afastar ‘© Brasil do Rio da Pratt cevitar que as duas margens do estusrioficassem sob dominio argentino”? A solugio do conflito ~ uma nitida vitiria da poténcia naval européia = nao prova, contudo, uma suposta hegemonia da Gri-Bresiaha no. cenitiv do Rio da Praga. Eferivamene, o que se revela por tris das idas vindas do conflito da Cisplatina & 0 equilibria de forgas entre as po- téncias do sistema sub-regional, propiciando © predominio eventual da poténcia exterior. A independéncia do Uruguai foi absorvida como uma drrota relatva, tanto pela Argentina como pelo Brasil, s6 tolerivel em rato do temor companithado ds derrots absolura, expressa tas ofhos cde um pela hipétese da incorporaglo definitiva ao Império e, de outro, pela da reincorporagao as Provincias Unidas. Acessoriamente, a disputa, 12 Lonle Ponsonby, medilr bitiniay do confi, expe a6 ministre do Exeior portenhis “a Barapa nao consent jamais que apenas dois Estas, 0 Baile. Agentina, seam donos exelusivos das casts onentals da América do Sul, desde cima do Equador até w cabo de Homes” (apud Pomet, 1979, .23). Os Estados Unidos, que defndiam a unidade do antigo ViceReinado, foram afisdos do conflto pela GrtBreanha. Murray Forbes, diplomats americano em Buenos Aires, resmungon, em despacho pars Washington: “Acontces @ que ea hava pri ‘eamse naa menos do que do estabeleciments de un governe independente © evtz9 na Bands Orient sob 2 yaramia da Gri Bratanha .. quer dit, trata apenas de criar uma colonia britinca disfreada™ apex Pomer, 1979, .22). A anise comesponde sos fas: Ung independents de 1828 pouco se poesia. ‘om a Handa Oriental artigusta de 1815, erguerdose sub a promgio diet da ppténca eurpeia e na condicto de Extadotampao siwado entre os ras platines, (© CORPO DA PATRIA 49 cocortida durante a plena vigéncia dos Tratados de 1810, comprova a fraqueza das teses que enxergim na fase inicial da politica exterior do Império uma subordinacio integral as estratégias britinicas. Mas a Convengio firmada em 1828 pelo Império e a Argentina steve longe de materalizar uma efetiva independéncia para o Uruguai. Singularmente, ela atribuia a independéncia a vontadee 20 interesse das Parts contratantes, sem fazer referéncia ao povo oriental Além disso, 0 documento conferia as Partes direito de intervengio no novo Estado durante 0s 5 anos seguintes ao juramento da Constituigio, a pretexto de defesa do governo legal. O Uruguai nascia como protetorado informal das poténcias sub-regionais e como corporifcagio da estratégia britinica para‘o Rio da Prati. ‘A Questio Cisplatina, com toda a sua evidente singularidade, deve poréra ser inserida no quadro maior do confronto platin entre o Impé tio ¢ a Argentina, cujas mazes encontramse na propria ctiagio do Vice Reinado do Rio da Prata. A extensa érea platino-pampeana consttuiu, Por muito tempo, um espaco colonial perifico, quase marginalizado na estruturagio do império hispanoamericano. Buenos Aires, na margem ccidental do estudrio platino, funcionava como elo entre as riquezas incomensuriveis do alto Peru e a metropole europeia.4 Montevideu, erguida no contexto confltivo da disputa pela Colénia do Sactamento, fancionava como balvarte da margem oriental do Prata. Apenas em 1776, ‘um ano antes do Tratado de Santo Ildefonso, foi ctiado o Vice Reinado, com a finalidade de estruturar um bloco geopolitico capaz de conter o avango da colonizagio portuguesa na diregio do Rio da Prata, 15 Apenas em 1859, no endo assinado entre uruguaia Lamas, o yorerno imperial © © angencino, foi reconhecs a vonexe do pow oriental come fone de Independencia saberania co Eso. A condigio de dependéncia yeopoltea do ‘Uru uanepaece no verbe a sedan ert Lave (1993)"Podeseinerogarscb 'prOpriaexstncia do Unuqa, na borda dos dominis luo braceto e espanol ‘com Montevidéu repreduzindo em esala menor oexquema ea situa de Buenos Aires, que fea sua fence, na ouira mangem do Rio da Fata, 2 200 kin (p.1 543). 4.4 primeira findagio de Buenos Altes, em 1536, por Pao de Mendonza, ni ‘argem diet do rio Riacuelo, ft mosivada pelo temorespanl, depos da noticia do marco de posse colocado pelo mavegalor Pero Lopes de Sousa, de que os poruyueses dominassem o esnusio. Porm, of aagues dos indios destrulram 6 vos de Santa Maria del Buen Aire, que vii ser fundada novimnente erm 1580, por Juan de Garay, desta ver na margem otidenal do estuiio plain. 0 DEMETRIO MAGNOLL A politica platina do Brasil imperial conservou uma linha de coe Fencia notivel, ao longo do tempo, fixandose desde © inicio a meta, petseyuida obsessivamente, de fragmentar o antigo Vice-Reinado em uni- dades menores © mais débeis. Aceradamente, Rodrigues & Seitenfus identifica nessa orientagdo um dos eixos eruciais da. pelitice externa imperial, asociandoa ao problema da unidade keretoréal brasileira: Ao defender a estbilidade do status quo territorial beasileir susten: ‘vamos embém 0 status quo terior da Bacia do Prt, ist & o resultado da fragmentaeio do antigo Vice Reinado. Este foi um dos principais ob- jetivos da nossa politica na América do Sul: manter a divisio tipartida dlo Vice Reinado e evitar que eles se reunissem num Gnico Estado, (1995, p.62) A orientgio brusilia, definida antes mesmo da Independencia e seyuida tenazmente desde a chancelavia de Paulino José Soares de Sousa atéa do visconde do Rio Branco, eve a sua contrapartida na politica de Buenos Aires, votada, por um largo pesiodo, paraa metade reconstitigg0 do Vice Reinado, materalzada no projeto das Provincia Unidas do Rio dda Prata, A resultante desss estratégias hegeménicas contraditiias cot sistiu no estabelecimento ce uma sitiagio de equilibrio de poder entre as poténcias subregionais rivais. A. dindmica do equilibio de poder placino revelouse sempre instivel, pendendo pronunciadaiente para 0 lado do Brasil durante a maior parte do século X0X!5 © entrechoque na Banda Oriental fat a mais evidente ilustagio dessas orientagdes conilitantes, que se manifestaram tambien nas esta ‘égias divergentes aplicadas em relagio ao Paraguai. A posigio mediter ranea do Paraguai cu territsio abr os cursos médlios dos rios Parand « Paraguai, transformou-o em chave da politica de fagmentagio seguida pelo Império. A identficagio da autonomia paraguaia como diretiz de politica exterior procedeu a propria ruptura de 1822, situandose na se- 15 Do pono de vista mexaloicn, & impose sublinhar que o equiva de poser ho consid, nuns, um mets dos ares envolvides, que buscam sempre, por considerarbes de seguranga, a propria hegemonis. equilibrio em poder catabelecese,eventualmencs, como conseinea da incapacidade ds oponentes em Iimporem urna hegemonia. Assis, x expresso “politica de equi", usa sem 16 asp, represents cna impropriedade (© CORPO DA PATRIA st ‘quéncia imediata da transferéncia da Corte para © Rio de Janeiro. A conjuntura na qual se configurou essa diretri foi a da lutavitoriosa das forcas guaranis contra as tropas portenhas do general Belgrano, que teotavam subordinar o Paraguai as decisées do congresso geral da Pri ‘meira Junta de governo autonome das Provincas Unidas do Rio da Prata, em 1810-1811 (© apoio joanino as forgas secessionistas desenvolveuse na moldura dos Tratados de 1810, que firmavam a hegemonia britinica sobre o proto-Estado brasileiro. Essa citcunstincia alimenta as interpretagbes que realjam o papel desempenhado pelas potincias européias no entrecho- que platino, Becker & Egler, por exemplo, destacam a antiga disputa entre britinicos e franceses pelo controle sobre a navegacio e o comércio de prata e couro na area platina, para coneluir que: Ainda em 1810, o Brasil sealiow & Gri Bretanha na guerra para frag: ‘mentar o ViceReinado da Bacia do Prata contra o interesse da Franga ede seus aliados espanhois, numa dispura que perduroa até 1852. (1993, p.55) A coincidéncia entre a dretric Lusobrasileira e a conhecida politica britinica deestimulo fragmentagio do Vice-Reinado ocula naligeinera da afrmagfo, tanto as causas internas da decomposicio das Provincias ‘Unidas quanto as motivacies préprias, da Coroa instalada no Brasil, para envolverse na sustentacio da autonomia paraguaia. A referéncia derrota de Rosas, em 1852, expande essa propostatedrica para o periodo seyuinte, no qual a infuuéncia da geopolitica britinica decresce na pro: porgio direta em que se acentua a importincia dos fatores internos a0 sistema sub-regional i ‘As motivasdes brasileias na disputa entre Buenos Aires ¢ Assuncio jamais constituiram mistério para a diplomacia imperial. Em 1845, Lirm- ppo de Abreu (visconde de Abaeté), ministro dos Negécios Estiangeiros, fem circular as representagdes diplomsticas do Brasil, associava a livee navegagio do Rio Parané 3 efetiva independéncta do Paraguai. Do ponto de vista brasileiro, a “independéncia do Paraguai” significava a subordi- zagio guarani ao Império, em dettimento da Argentina, Em memorando reservado datado de 1849, 0 bario da Ponte Ribeiro, esclarecia algo mais, idensificando no Paraguai um verdadeiro muro de contengio que evitava a separagio das provincias de Mato Grosso, do Rio Grande e até mesmo de Sao Paulo, Essas palavras, esctitas poucos anos apés o encetramento 1st DEMETRIO MAGNOLL ch Farroupilha, refletem 0 entrelagamento da politica exterior imperial com as tenses seoessionistas interiores. Também, ajudam a compreen- der os problemas agudos de integragio teritorial que envolviam a con: servagio de Mato Grosso.!¢ 3 Contestagio ¢ estabilizagéo das fronteiras platinas A politica platina do Império tomouse menos afirmativa durante periodo regencial, quando as rebelides intemas transformaramse no principal desafio para o poder central. Na parte meridional do teritério, a Farroupilha - que se entrelacava com as disputas entre blancos ¢ colo- radios no Uruguai e, por essa via, com o conflito entre os projetos fede- ralista ¢ unitarista na Argentina ~ reestruturou toda a politica platina, sgerando conseqdéncias que se projetaram no futuro, até a Guerra do Paragua Durante déeada de 1820, a Argentina foi sacudicla pelas montoneras Tideradas por eaucllhos provineiais contraa aristocracia mereantil port nha. A bandeira do federalismo sintetizava © desejo de autonomia do interior, desafiando © predominio do port, Em 1829, Juan Manuel de Rosas, o chefe dos caudithos provineiais, derrotava 0 unitirio Juan La augurand uma era de estabilidade autoritiria assentada sobre a valle, repressio aos unitirios ea subordinagio, muitas vers pela violencia, dos antigos aliados, No Uruguai, a década de 1830 assinalou a definitiva dlispersio da heranca artiguista, que ainda sobrevivia no levante dirigido por Anwonio Lavalleja. O governo de Fractuoso Rivers ~ 0 principal caudiho oriental, um produto da campanha e nao da cidade de doutores € comerciantes que era Montevidéu ~ entregouse & repressio contra os lavallejisias, destérando o proprio Lavalaja, Nas guorras de 18331834 entre Lavalleja e Rivera, os dois lados procuram apoios na oligarquia sgticha, dividida entre liberais ¢ conservadores. Em 1835, Manvel Oribe, que serviu como ministo no governo de Rivera, elegiase presidente, 16 Bosker & Fgler(1993) nie deisram de notarque,desde a peca colonial, oineresse braileiro pela dca patina ligvase com os problemas de integacso territorial, nomlamante o das comuniesdcs com a “longingun provineia ecidental, Mata anu, ensa questo, xsenca, Grosio,spossda durante aco dooura” (p60, acaba minimisals pela priordae metadolagion concedida as pottnclas externas. (© CORPO DA PATRIA 153 aproximava-se de Rosas ¢ rompia com o seu antecessor. No ano seguinte, brandindo o titulo de comandante geral da Campanha, Rivera iniciava a sua rebelido, apoiandose na oposisio unitiria argentina, Nessa cisio encontramse as raizes dos tradicionais partidos blanco e colorado: um’ decreto de Oribe, de agosto de 1836, obrigava a populagio a exprimir a sua lealdade usando 0 distintivo branco com o lema "Defensores das, Leis”; em contrapattida, os revolucionirios de Rivera adotaram a tradi cional divisa vermelha, As circunstincias que provocaram a deflagraso da Farroupilha denciam a fragilidade dos lapos entre a elite liberal sulista e 0 poder central. Bento Goncalves era amigo fraternal de Lavalleja, e Bento Ma- suel tinha relagGes turbulent, cheias de altos e baixos, com Rivera. Os dois comandantes, responsivels pelasfronteiras do Rio Pardo e de Ja gtardo, prestavam apoio a Lavalleja, na sua tut contra o governo de Rivera. Lavalleja percorria constantemente a faixa de fronteiras, compa nhado do padte José Antonio Caldas, um alagoano que tomara parte na Confederagio do Equador e, fugido da fortaleza de Santa Cruz, encon. trans abrigo entre os desterrados uruguaios, tomandose capelao militar. Através de Lavaleja, os dois chefes gatichos aproximatamse de Rosas, {que trabalhava para a derrubada de Rivera. A atitude do Impétio diante clo envolvimento dos dois Bentos nas lutas orientais parece ter primado pela hesitacio. Se, inicialments, o Rio de Janeiro manifestou concordin- cia com as iniciativas dos comandantes, no momento decisive uma con- mxorem determinou que se guardasse completa neutralidacle. Reagindo A desobediéncia dos comandantes, 0 govemno provincial conservador rentou marginalizar os chefes militares liberais, detonando a rebeliio. No momento da vitoria inical, representada pela derrubada do govemno pro- vincial, os libetais permaneciam leais ao governo regencial, exigindo apenas a designagio de um novo presidente para a provincia. Foi a violenta reagao di Regéncia, negando-se a atender & reivindicagio e de- clarando guerra aos rebeldes que precipitou a radicalizagio. No final de 1835 comecava a Revelugio. Aconeorréncia do charque platino ea politica tibutitia do Império, freqiientemente mencionadas como as causas essenciais da rebel, in. dubitavelmente desempenlaram o seu papel. Mas a dimensio assumida pela Farroupilha deve ser creditada is singularidades da formagio hist rica do espaco geografico do Rio Grande, que gerou uma classe divigente que se vineulava apenas por lagos tues 4 estrutura do Estado brasileiro. Por outro lado, a sua radicalizagio secessionista s6 pode ser compreen. ra DEMETRIO MAGNOLL dda & lz das possbilidades abertas pelainstabildade geral da geografia politica platina. Com o inicio da Farroupilha, o governo reyencial passa a temer a consolidagdo de uma alianga reunindo Rosas, Oribe ¢ Bento Gongalves. Naquicle momento, o Império detectava a instabilidade estrutural de toda a configuragio geopolitica da area platina ¢ comecava a manobrat para impedir a secessio da parte meridional do territorio brasileiro, aproxi rmundo-se dos colorados uruguaios. Em dezembro de 1835, Fei sabi que estava em jogo: “O quie mais me assusta éo Rio Grande ... Vaiane parecendo inevitivel a separacio da Provincia.” (apud Mattos, 1987, 161), © sinal de alarme tinha sentido, Nos meses turbulentos do con flito com © governo previnctal, Bento Goncalves estretata contatos com Lavallejae enviara um emissério a Buenos Aires, solicitando o apoio de Rosas. Este, que acalentava © projeto de reconstiuigio das Provincias Unidas, parece ter depositado esperangas nas novas possibilidades, as sogurando ao caudilho gaticho que teria a sua sustentagio no momento tem que fosse declarada a secessiv. Oribe, por seu lado, nic escondia © sew apoio & rebeliio no Rio Grande, desejando que ela resultasse na unio da provincia brasileira com a Banda Oriental. Foi nesse ambiente, e-em grande medida sob a influéncia dos acontecimentos no Brasil, que Rivera iniciou a sua rebeltio. ‘Assim, na sua primeira etapa, a Farroupilha estruturow dois alinha: imentos contrapostos: ao lado dos reteldes, encontrava-se Oribe ¢, numa, posigio mais discreta, Rosas; ao lado do Império, © uruguaio Rivera & ‘os unieirios argentinos, Entretanto, tis alinhamentos estavamn longe de constitur sistemas de alianga estiveis ou duradouros.!? Em setembro de 17 O "Registro de Corresponcin Oficial do Presklente da Provincia do Rio Grande {de Sio Pedro do Sul de 18 de setsmbro 023 de our de 1835", publicado pela Reva do Insta Histo e Gegrifico do Rio Grande do Sul, revels a instablitae di sitagio. Tendo perdido Porto Alege para as forcas de Bento Gongalves, 0 presiente provincial Antoni Rodrigues Fernandes Braga, do seu reduto na cidade Ale Rio Grande ji ameagalo plo avango des froupilhas, eontorcese nas ascas ls agpniaescrevetuloofleo sobre ofc procieando a tad o eranse manera sua jt mais do que impossivelpreportnca” (Spalding, 1939, p.55). Num dees, datdo de 6 de outubro, drigee « Orbe, procursede o improvivel apoio do governo bans: “E notivl porim que mults faciosos, com expecialdade o Coronel Bento Goncalves da Silva, e seus primeites soquazesprocurem no rerio da Replica (© CORPO DA PATRIA 155 1836, 2 proclamagio da Republica de Piratini - por AntOnio de Souza Neto, ji que Bento Gonealves havia sido eapturado pelo inglés John Pascoe Grenfell e enviado preso para a Bahia ~ produz notiveis revira voltas. Bento Manuel, que ndo admitiaa radicalizasgo republicana, passa para olado dos legalistas¢ se associa a Rivera, entio refugiado no interior do Rio Grande, ¢ aos unitirios argentinos de Lavalle. Nesse momento, ‘mais do que nunca, a Republica de Piratini aparecia como aliada natural de Rosas e Oribe, criandose as condigses para a consolidagio do Estado secessionista.!* Nessa segunda etpn da Farroupilha, 0 padre Caldas “foi ..o prin pal incentivador da revolugio, propagandista da replica...” (Spalding, 1939, p.71). A partcipagdo desse emigrado politico, capelao e conselhei- ro de Lavalleja, que retornou ao Rio Grande com a Fatroupilha ¢ se tornou secretirio particular de Bento Goncalves, & forte de polémica Ha verses que sustentam que Caldas queria a unificagio do Rio Grande ‘a0 Uruguai, Ha os que, defendendo o patriorismo do padre, sustentam «ue ele desejava a unidade do Brasilem bases republicanas. De qualquer forma, 0 seu papel pode ter sido muito significative, ainda mais quando se sabe que Bento Gongalves cultvava idéias monarquistas, tendo ade- rido depois & Repiblica que fora proclamada durante o petiodo da sua priso na Bahia Surpreendentemente, porém, em maryo de 1837 Bento Manuel Fompe com o governo regencial ¢ passa novamente para o lado dos rebeldes. Imediatamente, os alinhamentos se refazem: Rivera e 05 unit CCisplaina silo, © ponto de partida para continuarem so menos a inquietr os habiantes do Rio Grande do Su. Espero portato esclico de V. Ea, que se digne cxpediras suas ordens, pra que a frontia do Estado Oriental, em concto oom Imperio, se ponha em aide de repel edestaer qualquer fg estranha, que plse 0 teririo dese Bsadoye para que ou sejam enireges is autridades Brailes, ‘ousejam desutmads eobrigndosa matcharimediaamenteparao interior do mesmo Estado todos os fasiosos que para alse pasirem. Cumpreme norr, queso agora Informado de que muitos des 80 individvos, que invadiram Porto Alege, rum stuns da Replica Cisplatin, paridsts de Laval." (Braga, 1929, p77) Desconfido da postra de Orbe, no mesmo dia Braga enviava nota ednsal imperial etm Montevieu, pedindoo acompanbamento das providencis solicits, 18 Como observa Scenna (1975), declarada a independncta n Replica de Pirstint svdota “una bandeira de inegveis reministoeis platens, jk que as cores verde «ammareta do Bras pareciam eruzadas pela diagonal vermelha de Aegis” (.1 14}. 156 DEMETRIO MAGNOLL rios argentinos torham-se aliados dos rebeldes, que agora feriam que cenfrentar Rosas e Oribe. Em outubro, Rivera aproveitase da nova situ cio para dar inicio a mais umsa rebelido contra Montevidéu, benefician- dose do apoio ativo dos farroupillhas. Bento Gonsalves, gue revornava pds a sua fuga da pris, acaba por aderir & posicdo de Bento Manuel, rompendo a sua antiga ligagio com Orbe e contribuindo para aproximar Lavalleja do sou velho desafeto Rivera, Nessa terceira etapa da Farroupi- tha, marcada pels vitstias sucessivas dos rebeldes gaichos e pela retragio imperial, as aliangas do passado se dissolvem, enquanto se abrem pos- sibilidades inesperadas. Enire £837 e 1838, a guerra civil uruguaia complicase com 0 blo- queio francobritinico do Rio da Prats, que impede a chegada da ajuda de Rosas a Oribe e reforga a posigio de Rivera. Ac mesmo tempo, 0 chefe colorado recebia o auxilio dos unititios argentinos estabelecidos em Corrientes e Entre Rios.!? Em novembro de 1838, ele entrava vito- rioso em Montevidéu. Pouco antes, em agosto, uma reuniio em Paysan ii, na campanha oriental, envolvendo um representante dos colorados (Andrés Lamas), um dos unitirios (Chilaver) ¢ 0 fatroupilha Mariano de Mattos, firmava um convénio tripartite para combater © Tmpério ¢ a Confederagio Argentina. Grandes idéias agtavam os espiritos: |Jicestavam no ar idéias maiores, de amplo alcance. Se tatava de unir {ederativamente Unga com 2 Repiblica Frtoupillna, como base de wm nieleo mais amplo que incluiria Sara Catarina, a Mesopotimia argentina, ralver Santa Fé, possivelmente © Paraguai, e de criar con isso tudo uma arande Confederagio do Urugusé que predominasse sobre o Brasil © a Argentina. (Seenna, 1975, p-116) 19 Rodrigues & Seiten (1995, p56) eegstam que, em 1837 © 1838, 2 leicio ine cm ao Aer mova cy wo oy prota ot anes cctipamento militar aos republianos yaichos a parr de Corrientes e Ente Rios ipa Emborao autor no o menctane,€ preciso observar que ceriamente Rosas nad pis fer quanto a isso, pols se entave ds ted de supritentos controlada pelos Tunittis e que também servia a River. Seria necesito, poném, uma invest gto specifica pora saber se of protestos imperiais derivavam simplesmente de {lsinfornacdo ou se estvamn inseidos em astimanha asiciosa para inesiminar Rosas diane ds pottncias europa (© CORPO DA PATRIA sr ‘Tudo parecia conspirar na diresdo de uma nova entidade confede- | rativa na érea platina2? Meses mais tarde, Davi Canabarro conquistava Laguna, proclamando a Repiiblica Juliana e expandindo a secessio pata Santa Catarina. Enquanto isso, Rosas enfrentava rebeliées provinciais ditigidas pelos unicitios, que contavam com 0 apoio dos franceses ¢ de Rivera." Entretanto, as divergéncias internas dos farroupilhas paralisa- vam todas as iniciatvas mais ousadas. Bento Gongalves, em especial, parece ter se oposto decididamente a explosio das tltimas pontes que ainda ligavam os republicanos ao [mpério2? ‘A nova reviravoltaacabaria derivando de uma manobra inesperada 4a Franga que, em outubro de 1840, rompia o seu acordo tieito com os bbritinicose firmava um pacto com Rosas, © abandono francés dos unititios parece ter sido decisivo para a derrota de Lavalle o que complicou a post de Rivera, Concomitantemente, no Rio Grande, Bento Manuel empreendia ‘mais uma das suas rotagdes e aceitava a anistia oferecida pelo governo imperial no momento da antecipacio da Maioridade, aderindo novamen- te a0s legalistas. Para piorar, a Republica Juliana desabava, Em meados de 1842, Rivera reine pela tiltima ver a sua coligacio, promovendo uma 20 autor do Liv do Conenario afm que ot repaiicanos do Rio Grane *haviam octualo com ocxxlitho Fructose River uma alana que prnnciavn a contra ‘de Corsontes, Bare Rios, Prati © Montevideu" (Bevlagun, 1902, p33). 21 Rodrigues & Seitenfs (1995, p.156) informam que “en 6 de setexlro de 1839, Rosas comuniewa 3 nossa Legagio a nomcagio de Antinio Manuel Corela da Camara como Enviado Exnonlinério © Mist Menipotanctrio da ehameda Replica do Putin junto & Confederacio da Argentina (Evidencemente, 20 scetarorepreseneante dos fatouplhas, Ross mantinhs aber as sus altenatvs, ream coin 0 rico de enfurecer © Imperio. © curio, pork, € nose que ete ‘AnOnio Manuel Correia da Camara €0 masmo agente secre enviade por José onifcio, nos dos de 1822, para Buenos Altes em miso ligada d Cisplatina. Tela © antigo agente screws imperaladerido de eoragso& causa faroupilha? Ou estas novamente em missio, a servi do Império, junto 30s realucionsios sults? Ou ~ mals interesante no plano de uma tama de espionagem ~ seria otal Canara umn agente dup! , neste stim caso, a serio de quem? Fagan as apostas 22 No Manis de 29 de agosto de 1838, 0 Iker initia na unidade brasil “penlidas as eperangas de concluirem com o govero de §. M. Imperial uma

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