Trajetórias de jovens aprendizes fluminenses em busca de qualificação profissional
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A proposta desta obra é discorrer sobre esta temática a partir da reflexão sobre uma pesquisa com jovens aprendizes fluminenses em busca de qualificação profissional, estudantes de uma ONG, situada na zona Norte do Rio de Janeiro, afinal, todos os anos, jovens de diferentes localidades brasileiras se lançam em busca de cursos de qualificação profissional que os possibilitem aumentar as chances de uma oportunidade de emprego no cada vez mais concorrido mundo do trabalho.
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Book preview
Trajetórias de jovens aprendizes fluminenses em busca de qualificação profissional - Jean Pierre Capuchinho
Para Crisley Artiles Dias,
João Pedro Dias Capuchinho e
Felipe Augusto Dias Capuchinho,
por quem eu vivo
Este livro surgiu da organização de minha dissertação de mestrado que se deu no ano de 2015 e só foi possível pelo incentivo de muitas pessoas as quais nem todas será possível citar nominalmente. Devo, no entanto, registrar alguns nomes de pessoas e grupos que foram essenciais nessa jornada.
Professora Dr.ª Laélia Moreira
- pela orientação, ensino, dedicação, provocações, paciência, compreensão e apoio
Prof. Dr. Anthone Mateus Magalhães Afonso
- pelas conversas, reflexões, conselhos e amizade
Odaíza Paganote, Coordenadora de RH CAMP Mangueira
- pelo acolhimento, apoio, atenção, paciência e carinho ao me receber nas visitas a campo
Janice Morais de Mendonça
- pelos textos, dicas e leituras que tanto contribuíram nesse trabalho e pelas boas conversas de irmã pra irmão
Aurita, Jacy, Necy Capuchinho (em memória) Cecília Morais, Jorge Paulo Capuchinho e toda minha família
- por serem partes de quem sou
Times de trabalho
- a todos os colegas com quem tive e tenho a oportunidade e alegria de trabalhar, compartilhar a caminhada e aprender
Jovens Entrevistados do CAMP Mangueira
- pelas rodas de conversa e pelo tanto que pude registrar e aprender com vocês
Prefácio
Quando cursava o Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESA, na cidade do Rio de Janeiro-RJ, tive a grata oportunidade de conhecer o então mestrando Jean Pierre Morais Capuchinho. Cursamos algumas disciplinas juntos e pudemos compartilhar inquietações, projetos, sonhos e aspirações. Foram diversos momentos de boas discussões, reflexões e propostas acerca da educação brasileira e de suas políticas públicas para a formação profissional e tecnológica.
Jean, pedagogo de formação, atuante na área de telecomunicações como coordenador de treinamento e desenvolvimento há mais de duas décadas, trazia reflexões interessantes e importantes de sua vivência, sempre com um brilho nos olhos e uma paixão em seus depoimentos e contribuições; um olhar diferenciado de quem possui a formação docente e atua no mundo do trabalho, na divisão de treinamento de uma grande empresa multinacional. Uma perspectiva interessante com olhar de mundo diferenciado.
Muitas são as pesquisas que estudam a formação escolar e sua adequação ao mundo do trabalho; e frequentes são as queixas das grandes empresas sobre a formação ofertada nas instituições de ensino que não se adequaria às suas necessidades. Em grande medida a busca é por uma formação rápida e imediata para atendimento às suas carências pontuais, para ocupação de postos de trabalho específicos, em oposição à defesa de uma formação mais ampla, omnilateral tal como defendida por Antonio Gramsci ou politécnica como proposta por Karl Marx.
E é neste contexto que vem à luz o presente trabalho escrito por Jean, parte de sua dissertação de mestrado, no qual se propõe a estudar trajetórias de jovens aprendizes fluminenses em busca de qualificação profissional. Trata-se de um trabalho com uma visão diferenciada que parte da expectativa dos jovens e não das empresas, uma proposta de pesquisa de alguém que possui a formação e a sensibilidade docente e que também atua no mercado em uma grande corporação no setor de treinamento.
Jean traz em seu texto reflexões sobre juventude, trabalho e estudo, e discute as principais políticas públicas para a formação da juventude na história recente, destacando a criação da Secretaria Nacional da Juventude e os programas Jovem Aprendiz e ProJovem como importantes ações de inclusão de jovens no Brasil.
Discute a trajetória dos jovens e apresenta os resultados de sua pesquisa de campo realizada com 12 aprendizes de 16 a 20 anos, alunos da Organização Não Governamental (ONG) Círculo dos Amigos do Menino Patrulheiro (CAMP) Mangueira, localizada na cidade do Rio de Janeiro-RJ e que mantém convênio com empresas que contratam jovens de acordo com a Lei 10.097/2000, ampliada pelo Decreto Federal nº 5.598/2005, no âmbito do Programa Jovem Aprendiz. Os convênios são com empresas de diferentes áreas de atuação, tais como: Unimed Rio, Xerox do Brasil, UniRio, Dannemman e Net. São apresentados detalhes dos cursos ofertados, sua duração, objetivos e metodologia utilizada.
Na sua pesquisa também são reveladas e discutidas as percepções dos jovens participantes sobre as questões de estudo propostas:
a) De que forma as experiências vividas nesta Organização Não Governamental (ONG) contribuíram (ou não) para a colocação dos jovens entrevistados no mundo do trabalho?
b) Que atrativos e/ou recompensas estes jovens enxergam na busca por estes cursos?
c) Como estes cursos são percebidos pelos jovens e qual o significado atribuído à formação para o trabalho para os sujeitos que os frequentam?
d) Como se deram as trajetórias de vida, as caminhadas destes jovens até a chegada ao curso?
Desse trabalho com os jovens a partir de um grupo focal realizado na própria ONG, emergem depoimentos reveladores e muitas reflexões e constatações. Fica evidenciada a busca por melhores condições de vida para si e seus familiares; a oportunidade vislumbrada por eles para alcançar a primeira oportunidade de trabalho e de realizar seus sonhos. Observa-se nos depoimentos a esperança e certeza por parte dos jovens entrevistados de que o projeto da ONG é como uma ponte para o ingresso no mundo do trabalho e a realização de seus sonhos, algo distante para eles apenas com a educação formal recebida.
Chama atenção também que dentre os entrevistados estejam tanto jovens com formação no ensino médio quanto com formação técnica profissional de nível médio, o que nos remete à falta de políticas públicas para inserção dos egressos da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no mundo do trabalho bem como ao desemprego estrutural crescente, sobretudo nos últimos anos.
Deixo aqui então o convite à leitura deste trabalho tão rico, com importantes depoimentos de jovens e suas histórias de vida e aspirações; com reflexões sobre formação, a complexa discussão sobre o papel da educação formal e não-formal e a necessidade de ações continuadas destinadas à juventude e sua inserção no mundo do trabalho.
Boa leitura!
Prof. Dr. Anthone Mateus Magalhães Afonso
IFF / FAETEC
Apresentação
Quando meus pais se separaram, ainda no bairro da Moóca em São Paulo e minha mãe casou-se novamente, mudamos – eu, ela, e meu irmão para o estado do Rio de Janeiro. Uma vez aqui, logo veio ao mundo minha querida irmã e então uma nova família, formada por um casal de trabalhadores e três irmãos estava configurada em um outro território.
Um dia, na escola em que estudei, o Colégio Estadual Dom Pedro I no atual município de Mesquita, cidade onde moramos por mais de 6 anos, a professora de português do curso Normal, uma das modalidades que estudei no ensino médio, passou um trabalho que deveria ter como base a leitura de um livro de Machado de Assis, chamado Contos Fluminenses. Na obra, o gênio da literatura presenteava os leitores com histórias de figuras das quais o autor revelava a alma, o humor, as manias, as contradições e muito da complexidade humana que cada um traz dentro de si. Nascia ali meu desejo de um dia, quem sabe, ser eu mesmo o cronista ou porta voz de alguma história de um ou mais habitantes destas terras fluminenses.
Passei pelo ensino médio optando inicialmente pelo curso de formação de professores, profissão que desde cedo considerei uma vocação.
A grade curricular do chamado curso Normal contemplava horário integral e diurno, o que não costuma ser simples para um jovem menino seguir, afinal, a necessidade de ter um trabalho que me ajudasse a custear ao menos as despesas pessoais, tirando um pouco do peso dos ombros de minha mãe, costureira, e de meu padrasto, trabalhador da indústria naval, fez com que logo eu passasse para o curso noturno de Administração, vez que o que mais se dizia – e se diz até os dias de hoje nas famílias de menor condição socioeconômica - é que homem precisa começar a trabalhar cedo.
Diante desta lógica, um curso profissionalizante que permitisse equilibrar, tal como o artista que mantém pratos girando sobre uma vareta alta e fina nos circos, uma jornada de trabalho durante o dia e dedicação aos estudos à noite seria a trajetória ideal de quem, afinal, almejasse ser alguém na vida
.
Concluí o ensino médio na modalidade Técnico em Administração e segui aquela caminhada tão comum entre os jovens das classes populares, atuando em algumas empresas como assistente administrativo, office boy e outra vez auxiliar administrativo, mas agora numa pequena confecção de roupas de minha mãe, que a esta altura melhorara um pouco de vida.
Depois vieram outros ofícios, tais como atendente de fast food e operador de telemarketing, até que fosse possível juntar recursos necessários para entrar numa faculdade particular.
Uma vez na graduação, novamente a vontade de seguir a vocação e trabalhar como professor me fez escolher o curso de Pedagogia – e eis que a vida foi me levando, não para o lado de dentro dos muros da escola, mas para o mundo daquilo que se convencionou chamar de Educação Corporativa, ou seja, aquele tipo de formação profissional que se aplica com o objetivo de desenvolver nos trabalhadores e trabalhadoras competências laborais destinadas a realização de funções e atividades específicas de cada empresa contratante.
E assim, lá se vão mais de vinte anos em que atuo na área de treinamento profissional, lecionando e liderando equipes de Analistas de Treinamento e Instrutores que por sua vez formam jovens trabalhadores e trabalhadoras para exercer aquelas tarefas exigidas pelas empresas, tais como o desenvolvimento de competências de vendas, relacionamento com clientes, atendimento pessoal em lojas, atendimento em centrais telefônicas, vendas pessoais e outras atividades do gênero.
Tantos anos atuando e convivendo com essa população foram despertando em mim a curiosidade de conhecer um pouco mais das histórias destas personagens, pessoas jovens e cheias de dúvidas, medos, incertezas e tantos outros sentimentos comuns nesta etapa da vida.
Nessa toada e em diferentes empresas, percorri o Brasil por várias vezes, de sul/sudeste a norte, passando por todo o centro-oeste e nordeste, ouvindo as histórias das juventudes aqui e ali, sempre com grande interesse e compartilhando dicas profissionais com quem solicitava.
Por todos os lugares onde estive, as maiores angústias e anseios revelados por estes sujeitos estavam relacionados