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Abordagem centrada no cliente ou abordagem centrada na pessoa

Carl R. Rogers, PhD


Tradução de Antonio Monteiro dos Santos

JAN – E O PROCESSO DE MUDANÇA

Ocasionalmente, uma entrevista pode ilustrar muitos aspectos do processo


terapêutico, como isto ocorre na relação mutante entre terapeuta e cliente. Tal entrevista
foi uma das que tive com Jan. Foi uma demonstração de uma sessão de terapia de meia
hora, realizada num palco, antes de um “workshop” de 600 participantes, em
Johanesburgo, na África do Sul.
Muitos indivíduos se ofereceram como voluntários e, no outro dia de manhã,
pouco antes da entrevista, minha colega Ruth Sanford disse para Jan que ela tinha sido
selecionada como cliente.
Jan e eu nos sentamos um em frente ao outro, de maneira que a audiência tivesse
uma visão lateral da interação. Nos ajustamos e experimentamos os microfones. Então,
eu disse que gostaria de alguns momentos de silêncio para me organizar e poder me
centrar. Acrescentei que, possivelmente, ela também gostaria daquele tempo para ficar
em silêncio, e ela, então, abanou sua cabeça confirmando que sim. Utilizei o tempo para
esquecer detalhes técnicos, para focalizar minha mente em estar presente com Jan e para
estar aberto a qualquer coisa que ela pudesse expressar.
Desse ponto em diante, o material foi retirado da entrevista gravada. O que foi
retirado da entrevista e aqui apresentado, contém os principais temas e pontos
significativos. O material omitido consistia de uma explicação, além de algum tema ou a
busca de algum tema que foi abandonado.
O leitor vai aproveitar mais, acredito eu, se primeiro ler a entrevista como um
todo, lendo as minhas afirmações e as de Jan e salteando os comentários inseridos no
processo, que estão intercalados de tempos em tempos. Uma segunda leitura, então, pode
ser feita através de segmentos, parando para levar em consideração os comentários de
cada segmento.

CARL: Agora me sinto mais preparado. Não sei o que você gostaria de abordar, pois
nós não falamos mais do que dizer olá um para o outro. Mas, qualquer coisa que você
quiser falar, estarei pronto para escutá-la...

JAN: Tenho dois problemas. O primeiro deles é o medo de casar e ter filhos. E o outro é
o processo de envelhecimento. Tem sido muito difícil olhar para o futuro, pois isto é para
mim aterrorizador.

CARL: Estes são dois problemas principais para você. Não sei qual você gostaria de
abordar primeiro.

JAN: Penso que o problema imediato é o da idade, e prefiro começar por ele. Se você
puder ajudar nisto, ficarei muito grata.

CARL: Você pode me dizer um pouco mais sobre seu medo do envelhecimento? Assim
que você fica mais velha, o que acontece?
JAN: Sinto que estou numa situação de pânico. Tenho trinta e cinco anos de idade e só
disponho de mais cinco anos até fazer os quarenta. É muito difícil de explicar, pois fico
confusa e quero evitar isso.

CARL: É medo bastante para que você, realmente... Isto realmente gera um pânico em
você.

JAN: Sim, está afetando minha confiança em mim como pessoa (CARL: Um hum.) E isto
somente começou a acontecer nos últimos dezoito meses ou nos últimos dois anos,
quando repentinamente concluí: Que diabos! Tudo está me atrapalhando. Por que me
sinto assim?...

CARL: E você não tinha este tipo de sentimento até, talvez, um ano e meio atrás (Pausa)
Aconteceu alguma coisa especial naquela época, que possa ter iniciado este processo?

Minhas respostas iniciais têm dois propósitos. Quero estar certo de que ela esteja
se sentindo completamente segura para se expressar, e assim reconheço seus sentimentos
e faço perguntas não-específicas e não-ameaçadoras. É também parte dos meus propósitos
refrear qualquer coisa que aponte para uma direção específica ou que implique em
qualquer julgamento ou crítica. A direção que a entrevista pode tomar está completamente
ao dispor dela.
Jan se moveu do ponto onde ela “relatava” seus problemas, até o ponto de começar
a “vivenciar” o pânico que está sentindo. Sua atitude é, claramente, de que a ajuda, se
houver alguma, virá de mim.

JAN: Não de que eu possa me recordar realmente. Bem, minha mãe morreu com a idade
de cinquenta e três, (CARL: Um hum.) e ela era muito nova e sobretudo uma mulher
muito inteligente. Mas, penso que talvez isso tenha alguma coisa a ver com o que está
acontecendo. Eu não sei.

CARL: Você deve ter sentido, de uma certa maneira, que, se sua mãe morreu naquela
idade tão nova, isso também seria uma possibilidade para você. (Pausa) E o tempo
parece estar ficando mais curto, em termos de vida.

JAN: Certo!...

Aqui, Jan já está usando a segurança da relação para explorar sua experiência, sem
estar consciente da sua importância, e sua mente não-consciente a leva a explorar a morte
de sua mãe.
Minha resposta mostra que estou começando a me sentir à vontade no mundo
interno dela, e vou um pouco mais além de sua descrição. O fato de eu já poder sentir o
mundo dela é confirmado pela sua palavra “Certo!...” Se ela tivesse dito “Não, não é isto”,
imediatamente eu deixaria a minha imagem e tentaria descobrir o significado que a
afirmação dela continha para ela mesma. Eu não invisto nada no fato de minhas respostas
serem ou não corretas, assim, tento entender o que está ocorrendo.
JAN: ...Quando olho para a vida de minha mãe, penso que ela tinha muitos talentos, mas
infelizmente, mais para o final de sua vida, ela se tornou uma mulher muito amargurada.
Era como se o mundo lhe devesse um estilo de vida que ela não teve. Agora, eu não quero
nunca estar nessa situação e, neste momento, não estou vivendo isso. Tenho tido uma
vida muito completa, às vezes muito excitante e às vezes muito triste. Aprendi muito e
tenho muito ainda que aprender. Mas... “sinto” que, o que aconteceu com minha mãe,
de uma certa forma, está acontecendo comigo.

CARL: Portanto, isso permanece para você como um tipo de fantasma. Parte de seu
medo é: “Olhe o que aconteceu à minha mãe, estou eu seguindo o mesmo caminho (JAN:
“Certo.”) e ou talvez me sentir tão infrutífera como ela?”

JAN: (Longa pausa.) Você quer me fazer mais perguntas, pois penso que isto vai me
ajudar a retirar mais informações de dentro de mim? Eu simplesmente não posso... Tudo
é como se fosse um redemoinho de vento (CARL: Um hum.), circulando em ciclos.

CARL: As coisas estão simplesmente circulando tão rápidas dentro de você que você não
sabe bem onde (JAN: “Por onde começar.”) se agarrar. Eu não sei se você quer ou não
falar mais sobre sua relação com a vida de sua mãe, seu medo disto, ou o quê?

Uma longa pausa por parte do cliente é, frequentemente, muito frutífera. Espero
sempre com interesse para ver o que se segue. Primeiro, vem uma indicação clara de que,
na mente dela, eu sou a autoridade, eu sou o doutor. E ela vai adequar-se aos meus desejos.
De minha parte, eu não me recuso verbalmente a seguir o modelo médico, a ser
todo aquele sábio doutor. Eu simplesmente não me comporto como uma figura de
autoridade. Em vez disto, entendo sua confusão e deixo-a com uma liderança não-
específica.
É interessante notar que ela me intercepta, com o intuito de finalizar a sentença
para mim, É uma indicação de que, na sua “experiência”, ela reconhece que nós estamos
juntos nesta procura – ambos do mesmo lado da mesa, como realmente era, ao invés do
doutor de uma lado e do “paciente” do outro.

JAN: Quanto mais velha fico, mais forte me sinto a respeito daquela situação de
casamento. Agora, se essas duas experiências são relacionadas eu não, eu não sei. Mas,
o medo de casar, estar comprometida e ter filhos... eu percebo ser muito, muito
aterrorizador. E isso está se tornando mais forte, à medida que envelheço...

CARL: É medo de estar comprometida e é medo de ter filhos?... E tudo parece ser um
medo crescente, todo este medo parece continuar a crescer.

JAN: Sim. Não tenho medo de me comprometer, por exemplo, quando se trata de
trabalho, amizade, ou de fazer certas coisas. Mas, para mim, casamento é muito ....

CARL: Você não é uma pessoa irresponsável ou algo parecido... (JAN: “Não, não sou.”)
Você está comprometida com seu trabalho e você está comprometida com seus amigos.
É simplesmente a ideia de estar amarrada num casamento – que é um medo dos infernos.
A longa pausa leva Jan a se abrir e explorar seu medo de casamento.
A cliente “de modo crescente, diferencia e discrimina os objetos de seus
sentimento e percepções, incluindo... seu eu, suas experiências e a interrelação entre
estes.” (Rogers, 1959, p. 216) Esta afirmação da minha teoria é certamente ilustrada por
Jan, quando ela reconhece seu medo – não de um compromisso, mas somente de um
compromisso especial.
Nós somos agora definitivamente companheiros, nesta sua busca para conhecer a
si mesma e seu eu interno e profundo. Nós estamos livres para fazer parte das afirmações
um do outro.

JAN: (Depois de um “longo” silêncio.) Você quer que eu fale?

CARL: Eu gostaria de poder ajuda-la a entender algumas dessas coisas que estão
girando na sua cabeça.

JAN: Hum... (Pausa.) Eu realmente não pensei que seria chamada aqui hoje, pois, de
outra maneira, eu teria feito uma lista! (Pausa.) Meu problema seria... meu amor pelas
artes, certo? Estou muito envolvida com dança e música. Eu gostaria de poder jogar tudo
para o alto e dedicar minha vida à dança e à música, mas, infelizmente hoje, a sociedade
em que vivemos força a pessoa a trabalha e a vive de acordo com certos padrões sociais.
Não é alguma coisa da qual me arrependa, mas é algo de que sinto falta, algo que
realmente quero fazer. Mas, como posso fazer isso? Isso tem alguma coisa a ver com –
como eu disse, estou ficando velha, continua dando voltas e voltando ao mesmo lugar.

CARL: Assim, o que você está me dizendo é que você “tem” um propósito na vida, você
“tem” algo que você realmente gostaria de fazer – (JAN: “Oh! Sim.”) Estar
comprometida com a música, com as artes, mas você sente que a sociedade a impede de
fazer isto. Mas, o que você gostaria de fazer é jogar tudo para o alto e simplesmente se
concentrar no seu amor pela música.

Quando Jan começa a lutar para saber que direção tomar nesta sua exploração, ela
se esforça para me passar a responsabilidade. Eu simplesmente expresso meu sentimento
real.
Sua afirmação seguinte é uma evidência notória de que existe uma vantagem
enorme em deixar que o cliente tome a direção da entrevista. O primeiro silêncio longo
levou-a supreendentemente, a um aspecto positivo de sua autoimagem. Para alguém que
parece inseguro, o amor dela pelas artes parece-me seguro e certo.
Minha resposta tem a vantagem de trazer completamente, à sua consciência, suas
metas e objetivos positivos. Existe um valor em segurar o espelho para o cliente.
Do ponto de vista do processo terapêutico, Jan “vivencia completamente, em
consciência, sentimentos que no passado tinham sido negados à consciência ou
distorcidos na consciência.” (Rogers, 1959, p. 216).

JAN: ... Nos últimos dezoito meses – tudo é muito estranho, mas – a situação está se
tornando “vital”. ... Eu fui induzida a acreditar que, quando uma pessoa fica velha, ela
se torna mais paciente, mais tolerante. Nunca tive realmente um cuidado com este mundo.
Só que agora, tenho um “problema” real e eu não sei como lidar com ele.
CARL: Parece que, nos últimos dezoito meses para você, tudo parece muito, muito
importante, cada momento, cada aspecto da vida (JAN: “Sim.”) Parece ser mais vital e
mais significante. E a questão, então, parece ser mais profunda: “O que vou fazer?”

JAN: (Pausa.) Você pode responder uma pergunta para mim, Dr. Carl? Você pode ver
ou não os dois relacionados: o problema do casamento e o processo de envelhecimento?

CARL: Sim, da maneira como você fala deles parece-me que eles são relacionados e que
você está dizendo que os medos de casamento, de ter filhos e de comprometimento ficam
cada vez mais fortes, bem como o medo de envelhecimento, o que parece ser um fardo de
medos. E, ao lado disto, você vem dizendo: “Eu sei com que quero me comprometer –
mas simplesmente não consigo.”

Jan “vivencia” a urgência destes problemas na sua vida e a sua falta de ânimo em
lidar com isto. Seguindo um padrão familiar, ela se vira para uma autoridade, para obter
a resposta.
Ela já tinha relacionado estes dois problemas na nossa conversa, e eu
simplesmente devolvi para ela a essência de seus próprios sentimentos e os significados
destes. Não é uma obstinação de minha parte que se recusa a dar qualquer resposta, mas
é uma convicção profunda de que a melhor resposta somente poder vir de dentro do
cliente, e que Jan está, de fato, respondendo sua própria pergunta, através do que ela vem
dizendo

JAN: Hum... Não, não – não tem absolutamente nada a ver com se comprometer. É
apenas o medo de entrar numa enrascada agora, com meu problema de idade.

CARL: Você tem este sentimento de estar enrascada, enrascada pelo ano em que você
está, enrascada pela idade em que você está e pelo medo de entrar em mais uma
enrascada através do casamento, também. (Pausa.) A vida tem adquirido uma
perspectiva ameaçadora.

É interessante seguir sua busca pela palavra certa – a metáfora certa – para igualar
aos seus sentimentos. Ela tentou medo, pânico, sentimento de ser vital e, agora,
sentimentos de estar enrascada. Encontrar a palavra, a frase, a metáfora que corresponde
exatamente ao significado do sentimento interno do momento, ajuda o cliente a vivenciar
o sentimento mais completamente.
Estou agora totalmente confortável, movendo-me no mundo interior dela,
sentindo da maneira como ela sente. E isto acontece, mesmo quando ela não coloca tudo
completamente em palavras.

JAN: Sim (Pausa.) Eu continuo nisto. (CARL: Hum hum.) Sabe, tento manter isto bem lá,
profundamente, dentro de mim. ... Eu não entro no escritório e digo: “Socorro, por favor,
eu tenho trinta e cinco anos e o que vou fazer?” Não é assim, de jeito nenhum. Eu posso,
se eu quiser, colocar meus shorts e usar minhas tranças, mas não é isso. É um – é um
medo de estar enrascada.
CARL: E estes medos que você tem não lhe impedem de funcionar no mundo, isto vai
bem, mas, no entanto, estes medos são mito profundos. E, o maior medo de todos é o
medo de estar enrascada de tantas maneiras diferentes.

Eu falhei aqui ao responder à sua crescente consciência entre o que ela está
vivenciando e a fachada com a qual ela encara o mundo. Eu também deixei escapar a
referência casual que ela fez a seus shorts e tranças, que são claramente uma outra faceta
positiva do autoconceito dela. Usualmente, é dada ao terapeuta uma nova chance, se lhe
escapam significados importantes, e esta oportunidade me é dada na nossa próxima troca
de palavras.

JAN: (...) E, mesmo assim, as pessoas dizem para mim: “Jan, você está na sua plenitude.
Você tem tudo acontecendo para você!” E pouco sabem eles do que eu sinto por dentro.

CARL: É verdade. Assim, do lado de fora, para um observador, você está na sua
plenitude, e tudo está acontecendo a seu favor. Mas esta não é a Jan de dentro. Jan, por
dentro, é totalmente diferente disto.

JAN: (Longa pausa. Sussura.) Você quer que eu diga alguma coisa a mais? (Sorriso por
parte de Carl e por parte da audiência.) Eu estou terrivelmente nervosa aqui!

CARL: Você pode ter o tempo que você quiser, pois sinto que estou me familiarizando
com aquela pequena Jan aterrorizada que existe dentro de você.

JAN: Assim quanto mais eu falo, mais estou ajudando você a me conhecer, certo?

CARL: Mais você está “me” conhecendo.

JAN: Isto pode estar relacionado, e possivelmente poderá ajuda-lo: Não sei se isto tem
alguma coisa a ver com arte dramática amadora, na qual eu costumava estar envolvida,
não sei, mas eu adoro interpretar aquela pequena garota perversa.

CARL: Esta é uma parte que você conhece muito bem. (Jan sorri.) Você a interpretou
em muitas peças. (JAN: “E ela funciona!”) “Funciona” – a pequena garota perversa
pode conseguir coisas. E, uma outra coisa que você disse: que você está tentando “me”
ajudar “você”. (JAN: “Muito obrigada.”) (Pausa.) Porque... eu sinto que, quando você
está dizendo as coisas, estas não são para meu benefício. Espero que você possa se
familiarizar melhor com você mesma, dizendo para nós algumas dessas coisas.

Aqui está a afirmação clara de Jan sobre sua visão da nossa relação: que ela, se
for ordenada a fazer, vai dar-me informação, de maneira que eu, o especialista possa então
ser o agente externo de ajuda para ela. Minha tentativa de mudar o centro da
responsabilidade para ela é dúbio. Não acredito que ela entende o que estou dizendo, e o
fato de ela fizer “Muito obrigada” torna claro que, para ela, eu continuo a ser o agente
ativo de ajuda.
O que “interpretar a pequena garota perversa” tem a ver com seus problemas? Eu
não sei, mas confio profundamente que sua mente não-consciente está tomando um
caminho que irá nos levar à áreas mais relevantes para seus medos.

JAN: Eu discuti este problema com uma outra pessoa, que também já passou por essa
experiência. Ela sabe os efeitos traumáticos que isso tem para uma pessoa, pois ela
mesma passou por sentimentos similares. E ela disse: “Sabe, é muito estranho, mas fui
capaz de superar isso no decurso de um período de tempo ...com a ajuda de uma ou duas
pessoas...” Eu penso que o importante é... ser capaz de se relacionar coma alguém em
quem você acredita e que possa despender tempo com você. Mas é muito difícil achar tal
pessoa.

CARL: O que você gostaria é de encontrar alguém em quem você realmente possa
confiar, para ajudá-la a passar por este período difícil e a crescer com ele.

JAN: (Um hum.) De estar enrascada. (Sorriso.) Assim, eu apenas não sei como lidar com
isto, eu realmente não sei.

CARL: Sente que isto é um pouco demais para você.

JAN: Bem, é parte do meu dia-a-dia, sabe, desde o momento em que acordo, até o
momento em que vou para a cama. (...) Obviamente, eu não discuto isto com muitas
pessoas, penso, realmente, que pelo medo da reação. É importante tentar e encontrar
alguém que tenha estado no mesmo barco... que sabe o que você está passando.

CARL: Assim, você realmente está procurando... alguém, alguém de quem você
necessita, alguém que você quer, alguém em quem você possa confiar.

Ela descreve muito bem o tipo de relação não-crítica, de entendimento, cuidado,


e digna de confiança que todos desejam. É uma boa descrição de uma verdadeira relação
terapêutica, outra evidência do fato de que, fundamentalmente, “o cliente sabe o que é
melhor para ele”.

JAN: Sim, estou tentando fazer isto eu mesma, mas estou percebendo que não é fácil.
(CARL: “Está certo.”) Ter alguém me ativando e dizendo. Sabe: “Eu ‘sei que você pode
fazer isto’, você ‘pode’ fazer isto’, você ‘vai’ fazer isto, você ‘está fazendo isto’, e ‘isto
poderia...’

CARL: Uma pessoa que acredite em você o suficiente para dizer: “Certamente, você,
pode fazer isto – você está bem. Isto vai passar!” Mas você não pode dizer isto para você
mesma.

JAN: Não e eu tento ser positiva e brincar com o que está acontecendo, mas eu, eu estou
simplesmente com muito medo. Estou retrocedendo, não estou avançando... (Pausa
longa.) Tenho tentado empurrar isto para o lado, tenho tentado colocar isto à margem,
enfim, apagar isto. Tenho tentado me conter, quando penso sobre o que está acontecendo,
mas mesmo isto não funciona mais. (...) É quase, só metaforicamente falando, é como seu
eu estivesse caminhado para a escuridão. Estou saindo da luz e entrando na escuridão.
(CARL: Aha!) Você entende o que eu quero dizer? (CARL: Sim, é certo que entendo.)
Porque eu sinto medo agora, novamente...

CARL: E é tão arriscado vir de um ponto iluminado e entra na escuridão, entrar no


desconhecido. (JAN: “Certo.”) Desta maneira, uma chance é tão aterrorizadora.

JAN: (Pausa.) Eu não posso em nada mais para dizer, a não ser em – como superar
isto?... Sinto, neste momento, que é um problema muito solitário – estou certa de que
muitas pessoas já passaram por isto, e outras não. E elas, provavelmente, pensam:
“Diabo, qual é o ‘problema’?” Eu, às vezes, até mesmo zombo do problema, para mim
mesma, e digo: “Penso que vou colocar um anúncio no jornal – você nunca (sorrindo)
sabe que resposta você vai ter!” (Pausa) É o sorriso e, sabe, a minha tendência é não
dar tanta importância a isso.

CARL: Mas você gostaria muito que existisse essa outra pessoa, essa outra pessoa de
fora, que pudesse lhe inspirar confiança e que pudesse ajuda-la a passar por esse
momento difícil.

JAN: Sim, pois, embora eu reze – eu tenho meus próprios sentimentos sobre religião –
eu acredito em desenvolvimento espiritual. E, talvez, para mim, esse é um
condicionamento cármico, eu não sei esta é, naturalmente, outra coisa que está se
passando na minha mente: é um aparte do meu desenvolvimento como era anteriormente.
Mas, sinto que isto não é suficiente; eu preciso ter um contato físico. ...Alguém com quem
possa me relacionar...

Através de todo este segmento, ela vivencia sua completa desesperança, sua
inabilidade para lidar com seus medos, seu desejo de conseguir uma relação com outra
pessoa, sua convicção de que a ajuda deve vir de fora, e a face sorridente com a qual ela
esconde sua dor.
Eu caminho com ela, psicologicamente, ao longo deste caminho de desânimo. Eu
clareio o uso que ela faz da metáfora luz-dentro-da-escuridão. A razão é evidente na
minha próxima resposta.

CARL: Alguém com quem você possa se relacionar. E eu imagino que – esta pode
parecer como uma ideia boba, mas – eu gostaria que o amigo procurado pudesse ser
aquela pequena garota perversa. Não sei se isto faz qualquer sentido para você ou não,
mas, se aquele tipo de garota pequena, esperta e perversa que vive aí dentro pudesse
acompanhar você da luz para a escuridão... Como eu disse, isto pode não fazer nenhum
sentido para você de qualquer maneira.

JAN: (Numa voz intrigada.) Você pode elaborar um pouco mais isto para mim?

CARL: É simples: aquela talvez seja uma de suas melhores amigas, é aquela que você
esconde dentro, a pequena garota medrosa, a pequena garota perversa, a você real, que
não aparece muito claramente.
JAN: (Pausa.) E eu devo admitir que – o que você acabou de dizer e, olhando para isto
em retrospecto – perdi muito daquela pequena garota perversa. De fato, nestes últimos
oito meses, aquela pequena garota perversa desapareceu.

Este foi um tipo de resposta intuitiva na qual tenho aprendido a confiar. A


expressão apenas se formou ela mesma, dentro de mim, e desejou ser dita. Eu me
antecipei à sua resposta, muito tentativamente, a partir de seu branco inicial e de seu olhar
intrigada, pensei que talvez tivesse sido completamente irrelevante e em vão o que disse,
mas sua próxima resposta mostra que aquilo tocou em algo muito profundo nela.

Eu tenho passado a valorizar altamente estas respostas intuitivas, que têm ocorrido
raramente – esta e a primeira que apreendo numa gravação -, mas são quase sempre úteis
para o progresso da terapia. Nesses momentos, estou talvez num estado levemente
alterado de consciência, habitando o mundo do cliente e completamente em sintonia com
aquele mundo. Meu intelecto não-consciente assume o controle. Eu sei muito mais do que
minha mente consciente pode perceber. Não formo minhas respostas conscientemente,
simplesmente as respostas nascem de mim, do meu sentimento não-consciente do mundo
do outro.

CARL: Desapareceu. (hum, hum, hum hum.) (Sorriso.) Então, eu não estava tão errado.
Talvez você deva (Sorriso.) procurar por ela!

JAN: Você gostaria de ter o número dela? (Sorriso.)

CARL: Eu gostaria! (Sorriso.) Penso que ela seria divertida e não penso que ela estaria
tão atemorizada. E soa agradavelmente insolente! (Sorriso.)

JAN: (Dubiamente.) Assim, mesmo estando envelhecendo, posso ainda ser a pequena
garota perversa?

CARL: Bem, eu não sei. Estou com somente 80 anos, mas isso ainda ser aquele pequeno
garoto perverso. (Mais sorrisos e aplausos.)

JAN: (Sorrindo.) Não farei nenhum comentário! (Pausa.) Isto poderia mudar meus
sentimentos a respeito do casamento?

CARL: Eu acho que é uma pergunta muito importante, esta que você está fazendo a si
própria. Se você fosse mais amiga daquela pequena garota dentro de você, isto faria você
ter menos medo do risco do casamento? Eu sinto que esta pequena tenha desaparecido
nestes últimos dezoito meses, eu realmente me sinto mal por isso.

JAN: (Pausa.) Você está certo. Você realmente acertou em cheio. E...

Está claro que a nossa relação se tornou uma procura unida, confortável e de
companheirismo. Nós podemos ser cômicos a respeito de coisas sérias. É uma relação
aberta e de confiança.
Para Jan, a conclusão se aprofunda no fato de que ela tem negado uma parte
significante de sua experiência, uma parte dela mesma, e que este é um fator
profundamente importante.
Eu gosto das minhas respostas, pois elas são espontâneas e divertidas, mas
inteiramente sérias no seu intento.

CARL: Desculpe-me, mas vamos ter que parar dentro de alguns minutos.

JAN: Tudo bem. Eu sempre adianto o relógio quinze minutos, porque estou sempre
atrasada. (Sorrisos.)

CARL: Quinze minutos mais velha? (Mais sorrisos.)

JAN: (Sorrindo.) ... Deixe-me ver, são dez para....

CARL: Sim, então penso que devemos parar. Está tudo certo?

JAN: Sim, foi grande a sua ajuda, e eu gostaria de lhe agradecer muito.

O final parece abrupto, mas o tempo tinha terminado e sua disposição de brincar
com a situação parecia indicar que ela poderia ficar por aqui, sem se sentir privada de
alguma coisa. E, também, este era um ponto real de fechamento na entrevista em si
mesma.

ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS DA ENTREVISTA

Esta entrevista contém muitos elementos que são característicos da abordagem


centrada na pessoa, para a psicoterapia ou para qualquer relação de ajuda ao outro. Vou
mencionar alguns destes elementos.
1) “Uma aceitação não-crítica de cada sentimento, de cada pensamento, de cada
mudança de direção e de cada significado que ela encontrou na sua experiência.” Acredito
que esta aceitação é completa, sem nenhuma exceção que seja uma coisa útil de se notar.
Mostro uma aceitação real de sua vontade de ser dependente e de confiar em mim como
uma autoridade que via dar respostas. Note que aceito seu “desejo” de ser dependente, e
isto “não” significa que vou comportar-me de maneira a atender suas expectativas. Posso
mais facilmente aceitar seus sentimentos de dependência, porque sei onde piso e sei que
não vou “ser” sua figura de autoridade, embora eu seja percebido como tal.
Mas, num ponto, minha aceitação não é completa. Em consequência, ela diz “Eu
vou falar mais, para ajuda-lo na sua tarefa”, e, ao invés de aceitar completamente a
percepção que ela tem da relação, faço duas tentativas fúteis para mudar sua percepção.
Eu respondo, a seguir: “O que estamos fazendo aqui é para lhe ajudar, e não a mim.” Ela
desconsidera isto, e nenhum dano é causado ao processo.
2) “Um profundo entendimento dos sentimentos e dos significados pessoais que
Jan encontrou na sua experiência levou a nascer em mim toda a sensibilidade de que sou
capaz.” Eu fui tão bem sucedido ao entrar no seu mundo privado, que ela sentiu crescer a
sua segurança na relação, permitindo-se expressar qualquer coisa que viesse à mente.
Esta empatia sensitiva é tão profunda que minha intuição toma conta de mim; a
certa altura, e, de uma maneira que parece misteriosa, esta intuição entra em contato com
uma parte muito importante de Jan, com a qual ela havia perdido contato. Nesse ponto,
nós talvez estejamos num estado alterado de consciência, mútuo e recíproco.
3) “Um companheirismo na procura que ela faz de si mesma. Como terapeuta, eu
não quero conduzir o cliente, uma vez que ele sabe, melhor do que eu, o caminho para a
fonte de sua dor. (Naturalmente, este é um conhecimento não-consciente, mas que existe.)
Eu não quero ficar para trás no meu entendimento, porque, assim, a exploração se tornaria
muito aterrorizadora para ela. O que eu quero é estar do lado dela, ficando ocasionalmente
um passo atrás, dando ocasionalmente um passo um passo à frente, quando eu puder ver
mais claramente o caminho que estamos seguindo, e somente dar um pulo bem mais à
frente quando guiado pela minha intuição.
4) “Uma confiança na “sabedoria do organismo”, para que esta nos leve ao centro
dos problemas de Jan.” Na entrevista, tenho uma confiança completa de que ela vai se
mover para áreas que são relevantes para sua angústia. Não importa quão astuto eu possa
ser como clínico, pois eu nunca poderia ter intuído que a morte de sua mãe, ou o seu amor
pelas artes, ou o papel que representou no palco anos atrás tivesse qualquer relevância
para resolver seus medos. Mas, quando houve confiança, o seu organismo, sua mente não-
consciente – dê o nome que você quiser – pôde seguir o caminho que a levou aos
problemas cruciais.
Assim, como terapeuta, eu quero fazer o possível para que meu cliente se mova
da sua própria maneira, e no seu próprio ritmo, para o âmago de seus conflitos.
5) “Uma ajuda para o cliente experimentar seus sentimentos de maneira
completa.” O melhor exemplo disto se dá quando Jan se permite vivenciar,
completamente, seu ‘desespero’ de estar numa ‘enrascada’. Uma vez que tal sentimento
problemático tenha sido sentido na sua total profundidade e extensão, então a pessoa pode
mover-se em frente. Esta é uma parte de movimento importante no processo de mudança.
É valioso notar que, quando ela diz, com grande convicção, “Você realmente
acertou em cheio”, está claro que ela está ‘vivenciando’ alguma coisa útil para ela, mas
mesmo assim ela não verbaliza o que é. Não importa, é a vivência que é importante, e o
terapeuta não necessita saber precisamente o que está sendo vivenciado. (Embora, neste
caso, num outro dia, ela tenha informado a ele o que era.)
Talvez tenha se tornado claro, ao chamar a atenção para estes elementos, que a
abordagem centrada na pessoa, na terapia, nos conduz a um processo muito sutil e
frequentemente intrigante, mas um processo que tem uma fluidez orgânica própria. O fato
de o terapeuta estar completamente presente, como uma pessoa capaz de entender e
estimar o outro, é de suma importância, para tornar este processo possível, embora os
eventos mais cruciais aconteçam através dos sentimentos e vivências do cliente.

OS RESULTADOS PARA JAN

Imediatamente depois da entrevista, ao descrever sua experiência para os


participantes, Jan disse: “Para mim, é bastante estranho, pois, embora esteja muito
nervosa, eu acho isto muito emocionante. Precisava de ajuda e penso que encontrei a
resposta. Obrigada, Dr. Carl.” Isto poderia ser tomado simplesmente como uma cortesia,
se não fosse pela conversa que mantive com ela no dia seguinte.
Na manhã seguinte, Jan me disse que a nossa interação sobre a “pequena garota
perversa” tinha iniciado, para ela, uma procura do seu eu. Ela concluiu que não só estava
faltando a pequena garota perversa, mas também várias outras partes do seu eu tinham
desaparecido durante estes últimos dezoito meses. “Eu concluí que, para encarar a vida
como uma pessoa total, completa, preciso encontrar estas partes de mim que estão
faltando.” Ela disse que, para ela, a entrevista foi uma “experiência que abalou sua alma”.
O processo que começou na entrevista parece estar continuando nela.

[...]

ROGERS, Carl R. Abordagem centrada no cliente ou abordagem centrada na pessoa.


In.: SANTOS, Antonio Monteiro dos; ROGERS, Carl R.; BOWEN, Marai Constança
Villas-Boas. Quando fala o coração: a essência da psicoterapia centrada na pessoa.
Porto Alegre: Artes Médica, 1987. p. 71-85.

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