A resposta vinda do alto: Novas comunidades carismáticas
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A resposta vinda do alto - Padre Alirio Pedrini
Apresentação
O papa João XXIII orou assim:
Ó Espírito Santo, enviado pelo Pai em nome de Jesus, que assistes a Igreja com a Tua presença e a diriges infalivelmente, digna-Te, nós Te pedimos, a derramar os Teus dons sobre o Concílio Ecumênico... Renova neste nosso tempo as Tuas maravilhas, como em um novo Pentecostes (Humanae salutis).
A sua oração foi ouvida. O Concílio Ecumênico Vaticano II foi assistido, iluminado e dirigido pelo Santo Espírito. A Igreja entrou em um processo de renovação, de atualização e de transformações profundas e perenes. O Concílio desencadeou um processo de atualizações que colocou a Igreja em estado permanente de renovação. À medida que o tempo passa, a Igreja vai se renovando e atualizando, e o iluminador e diretor desse processo é o Espírito Santo, invocado por João XXIII.
Um fruto dessa oração do Papa, produzido pelo Espírito Santo, é a Renovação Carismática Católica (RCC). Prova disso é que teólogos, bispos e cardeais que estudaram a fundo a Renovação Carismática na sua essência e nos seus frutos não temeram errar quando afirmaram que ela é consequência do Concílio e fruto da ação do Espírito Santo.
O grande teólogo Yves Congar escreveu: Sim, no seu plano, à sua maneira e sem desconhecer aquilo que está em gérmen, nasce e floresce, por toda parte, a Renovação Carismática. Ela é uma ‘resposta’ à espera pentecostal expressa por João XXIII
.
Paulo VI também disse: A Igreja tem necessidade de um perpétuo Pentecostes
. Tal é, pensamos nós, olhando as coisas globalmente, o lugar da Renovação na conjuntura eclesial e eclesiológica atual.
O papa Paulo VI, na sua alocução dirigida a dez mil participantes de um congresso internacional da RCC, disse:
A Igreja e o mundo têm mais do que nunca necessidade de que os prodígios de Pentecostes se renovem na história. (...) Nada é mais necessário ao mundo, cada vez mais secularizado, do que o testemunho dessa renovação espiritual
que nós vemos o Espírito Santo suscitar hoje nas mais diversas regiões e comunidades (...). Como é que então não haveríamos de considerar essa renovação espiritual como uma chance
para a Igreja e para o mundo? E como é que, nestas circunstâncias, poderíamos deixar de tomar todas as medidas necessárias para que ela continue?
João Paulo II disse aos membros da RCC reunidos em Roma, por ocasião do VI Congresso Internacional da Renovação:
O vigor e os frutos da Renovação dão testemunho da presença poderosa do Espírito Santo na Igreja durante estes anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II. [...] E a Renovação Carismática é uma manifestação eloquente dessa vitalidade, hoje, uma afirmação vigorosa do que o Espírito diz às igrejas
(Ap 2,7) enquanto nos aproximamos do terceiro milênio.
Bastam esses textos citados – embora pudesse citar muitos outros – para comprovar que a Renovação Carismática é considerada uma resposta de Deus às necessidades da Igreja
, uma graça do Espírito Santo para ajudar a renovar a Igreja
e uma nova chance para a Igreja e para o mundo
.
As Novas Comunidades
De dentro da espiritualidade renovadora da RCC, o Espírito Santo suscitou e continua a suscitar pela Igreja afora muitíssimas Novas Comunidades de Vida e Comunidades de Aliança. A Renovação Carismática é o útero
de onde nasceram e nascem muitas dessas comunidades, concebidas e gestadas pelo Espírito Santo no coração daqueles homens e mulheres, clérigos, religiosos e leigos, escolhidos e preparados para receberem um carisma fundacional de uma nova comunidade, iniciá-la e conduzi-la pelos caminhos do Espírito Santo.
Já se percebe pelas afirmações dos teólogos e dos Papas citados que a Renovação Carismática não é uma criação humana. Percebe-se que ela não é um movimento criado para uma atividade particular dentro da Igreja. Trata-se de uma criação do Espírito Santo que pretende renovar a Igreja, partindo dos corações dos batizados.
A partir desse momento, me dirigirei às Comunidades de Vida e às Comunidades de Aliança que vivem e difundem a espiritualidade carismática.
Pelo fato de terem sido concebidas, geradas e nascidas dentro da Renovação Carismática, essas comunidades precisam ser rigorosamente fiéis ao Espírito Santo na vivência profunda e na propagação dessa espiritualidade, com todas as suas riquezas doadas pelo Santo Espírito para a renovação do povo de Deus.
Os membros dessas Novas Comunidades devem ser ensinados, formados e amadurecidos no conhecimento amplo, na vivência profunda e frutuosa e na expansão da espiritualidade da Renovação. Devem ser experts, especialistas nesse esse assunto, capazes tanto de vivê-la com toda sua riqueza, quanto de difundi-la pelo testemunho de vida no Espírito e pela pregação. Vivê-la e poder difundi-la deve se tornar motivo de grandes ações de graças ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Ter recebido do Espírito Santo a graça de conhecer a Renovação com toda sua riqueza e a experiência
do Pentecostes pessoal, ou seja, do batismo no Espírito
é uma das bênçãos mais maravilhosas que se pode receber. Os membros dessas Comunidades precisam reconhecer essa graça e agradecer sempre mais.
Enriquecer a Igreja com essa espiritualidade
As Novas Comunidades são uma providência do Espírito Santo a fim de que a Obra da Renovação da Igreja, na Igreja
(João Paulo II), pela espiritualidade pentecostal vivida e difundida pela Renovação Carismática, se expanda, se consolide e realize sua missão. Se as Novas Comunidades cumprirem a sua missão de viver e de difundir essa torrente de graças que é a Renovação Espiritual do Espírito Santo, elas serão a garantia de que a obra de renovação da Igreja obterá seus objetivos. As Novas Comunidades não são obras humanas, são providências do Espírito para que a renovação dos fiéis na Igreja aconteça.
Faço uma comparação para que essa realidade seja entendida melhor.
No século XIX, entre os anos 1800 e 1900, o Espírito Santo produziu um sopro maravilhoso em torno do Sagrado Coração de Jesus e desencadeou um forte interesse pelo estudo bíblico dessa teologia. Esses estudos garantiram fundamento seguro à espiritualidade e às devoções do Sagrado Coração, e o desenvolvimento e a difusão dessa espiritualidade se deram por meio dos muitos atos de devoção, difundidos na Igreja, direcionados a ela.
Nesse século, o Espírito Santo escolheu
alguns padres e freiras, enriqueceu-os com essa espiritualidade, concedeu-lhes um carisma fundacional e os assistiu, para que concretizassem a obra que Ele desejava. Assim nasceram umas duas dezenas de Congregações masculinas e femininas dentro da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus.
Essas Novas Congregações do Sagrado Coração de Jesus foram suscitadas pelo Espírito Santo a fim de, em primeiro lugar, viver em profundidade essa espiritualidade, e em segundo, mas não menos importante, garantir na Igreja a continuação da vivência e da difusão dessa espiritualidade e devoção. Nós – membros dessas congregações – recebemos do Espírito a incumbência de aprofundar sempre mais essa teologia e as devoções ao Sagrado Coração de Jesus, conservando-as vivas e difundindo-as sempre mais na Igreja. Se não o fizermos, estaremos traindo o Espírito, que confiou a nós essa missão.
Vamos aplicar essa realidade às Novas Comunidades. O papa João XXIII pediu um Novo Pentecostes. O Espírito Santo o atendeu por meio do Vaticano II, que colocou a Igreja em estado de renovação
, e, a partir dele, suscitou a Renovação Carismática, para que fosse uma torrente de graças
e para que se trabalhasse para a renovação da Igreja, na Igreja
. A espiritualidade do Espírito Santo, vivida e difundida pela RCC, se espalhou pela Igreja com uma espantosa velocidade. Em 40 anos chegou a 40 milhões de católicos e se difundiu por centenas de países, por todos os continentes.
Muito rapidamente o Espírito Santo convocou
sacerdotes, religiosos e leigos para experimentarem essa maravilhosa graça. Deu-lhes, depois, um carisma próprio para que fundassem, rapidamente e em grande número, essas que chamamos de Novas Comunidades. Deu-lhes também uma dupla missão: a de viverem em comunidade a graça da espiritualidade do Espírito Santo e difundirem dentro da Igreja a teologia, a espiritualidade e as devoções a Ele.
Portanto, o Espírito Santo chamou e chama as Novas Comunidades a ser a garantia da continuidade
da teologia, da espiritualidade e das devoções ao Santo Espírito dentro da Igreja.
Assim como as Congregações do Sagrado Coração de Jesus foram, são e serão as garantias
de que a teologia, a espiritualidade e as devoções ao Sagrado Coração se perpetuem no futuro da Igreja, as Novas Comunidades devem ser a garantia
da Renovação da Igreja, por meio da Renovação Carismática.
Diante dessa maravilhosa obra confiada pelo Espírito Santo às Novas Comunidades, deve nascer a grande responsabilidade na condução delas, a fim de que sejam fiéis à missão que receberam.
Objetivo desta obra
O objetivo deste livro é oferecer às Novas Comunidades algumas pistas de reflexão que possam, eventualmente, auxiliar em um melhor conhecimento da Renovação Carismática, enquanto espiritualidade básica e principal dessas Comunidades, abrangendo não somente as características trinitária, sacramental, eucarística, mariana, bíblica e litúrgica, mas também a riqueza dos Dons Infusos, dos Frutos do Espírito e dos Carismas que dão origem aos ministérios ou que os enriquecem.
Como as Novas Comunidades de Vida ou de Aliança nascem da espiritualidade da Renovação Carismática, é preciso tornar conhecidas as experiências já vividas e testemunhadas na RCC, a fim de que os membros tenham informações consistentes de sua espiritualidade. Devo partir, portanto, de uma tentativa de fazer conhecer a Renovação Carismática enquanto espiritualidade renovadora da vida cristã em todas as suas dimensões, pelo poder e pela ação do Espírito.
Para falar da graça da Renovação, contudo, também é preciso falar da Trindade: do amor gratuito e incondicional do Pai celeste; de Jesus Salvador, Senhor, Batizador no Espírito e Mestre, e do Espírito Santo, doador dos dons, dos frutos e dos carismas. É preciso, também, falar de Maria, a mãe amorosa que nos adotou; dos Sacramentos, especialmente da Santa Missa, como as grandes fontes de todas as graças; do batismo no Espírito Santo; do processo de conversão, de libertação e de cura dos pecados pessoais; das consequências do pecado original; dos nossos pecados e dos que pecam contra nós; e muito mais. Mas sempre sob a luz, as inspirações e moções do Espírito Santo.
Capítulo 1
A Renovação Carismática Católica
Definição
A Renovação Carismática é considerada por teólogos e estudiosos do assunto uma graça divina
, um dom divino
. Para compreendê-la melhor e com mais profundidade, precisamos tentar defini-la.
O teólogo espanhol Pe. Vicente Borragán, no seu livro Como um Vendaval, fala da dificuldade de se definir a Renovação. Ele escreve:
Definir
, segundo o dicionário, é fixar com clareza, exatidão e precisão o significado de uma palavra ou a natureza de uma coisa. Nesse sentido, a Renovação Carismática é impossível de se definir. Pode-se descrevê-la, mas não defini-la. Porque ela é como uma corrente, como um impulso, ou como um vento que flui sem parar. Ela tem a marca do Espírito
que a suscitou.
O cardeal Suenens escreveu: O Vaticano II renovou o ‘Corpo da Igreja’. [...] Agora é preciso dar a esse corpo ‘um espírito novo’ que lhe dê todo seu vigor
.
O mesmo cardeal a designa como uma graça da Renovação Espiritual
, uma moção do Espírito para o uso de todo cristão
e uma corrente de graças
. No contexto, se percebe que o para todos
se refere a bispos, padres, religiosos e leigos. Para a Igreja.
Pe. Vicente Borragán, em um artigo publicado na Revista Pneuma, a chama de corrente de graça
, graça pentecostal
e de graça nova
oferecida à Igreja inteira, e a todos os movimentos que nela existem. Ele afirma: Inclusive, alguns responsáveis da Renovação não entenderam o que é esta graça nova
. Chamando a Renovação de corrente de graça, ele diz: Foi Ele – o Espírito Santo – quem derramou esta corrente de graças sobre a Igreja. Ninguém pode corrigir o plano do Espírito, e dizer-Lhe como deve orientar esta corrente de graças
.
Dom Alfonso Uribe Jaramillo, bispo da Colômbia, participante e promotor da Renovação, em uma carta dirigida ao Papa para falar da importância da Renovação em sua diocese, usou cinco expressões diversas para indicar a mesma realidade. Na carta, ele chamou a Renovação de Renovação espiritual
(nove vezes), de Graça Especial para com a Igreja
(uma vez), de Renovação Espiritual Carismática
(duas vezes), de Renovação no Espírito
(duas vezes) e de Renovação
(nove vezes). Aliás, nenhuma vez chamou a Renovação de movimento
. E uma vez disse expressamente que ela não é um movimento de Igreja.
Há muitas outras expressões usadas por teólogos e estudiosos do fenômeno da Renovação para tentar explicitar o que ela é, como, por exemplo, um novo pentecostes
, um renovado derramamento do Espírito
, uma torrente de graças do Espírito Santo
, um renovamento no Espírito Santo
, um Vendaval do Espírito
, uma corrente(za) de espiritualidade
e um sopro do Espírito
.
Por todas essas citações, pode-se perceber como a Renovação Carismática é uma realidade ao mesmo tempo maravilhosa e complexa. Se não é fácil defini-la com um termo exato, também não é fácil compreendê-la. Não é nada fácil abrangê-la com uma síntese completa e exata
, pois ela é uma surpresa do Espírito
, que sopra onde quer, quando quer e do modo que Lhe apraz.
No entanto, quem recebeu essa graça bendita em sua vida a cultiva e procura vivê-la no seu dia a dia, compreende-a, sim, por experiência. Essa pessoa sabe o que ela é. Mas ao precisar falar dessa graça experimentada, mais do que explicações, é melhor testemunhar o que o Espírito realizou por meio dela.
Para compreender um pouco mais a Renovação Carismática, vamos refletir a partir do exame de sua natureza, essência, vocação e missão.
A natureza da Renovação Carismática
A palavra natureza
vem do verbo nascer. Perguntamos: a Renovação Carismática nasceu o quê? Quando o Espírito Santo surpreendeu a Igreja, dando-lhe esta graça, Ele a fez nascer o quê? Um movimento a mais na Igreja para os leigos? Um movimento a mais na Igreja, para todos (hierarquia, religiosos e leigos)? Uma nova instituição eclesial organizada e hierárquica com um fim determinado? Uma espiritualidade particular para um grupo de fiéis? Uma espiritualidade universal, destinada a todos os católicos? Enfim, ela nasceu o quê? Ao examiná-la em seu nascimento e desenvolvimento, a que conclusão chegamos? O que ela é? Qual é a sua natureza? Qual é a sua identidade?
Por tudo o que lemos acima, afirmações dos Papas, de cardeais, de teólogos e escritores, chegamos à conclusão que a Renovação Carismática nasceu como uma graça poderosa de renovação da Igreja, na Igreja, pelo poder e ação do Espírito Santo. Sua natureza é ser uma Espiritualidade Pentecostal renovadora da vida cristã
, uma espiritualidade pneumática, cujo centro e fonte é o Espírito Santo.
A essência da Renovação
Usando uma definição filosófica, dizemos que Essência é aquilo que faz com que a coisa seja aquilo que ela é
(Reinstadler). Então, o que é que faz com que a Renovação Carismática seja aquilo que ela é? O que é que o Espírito desejou e quer que ela seja?
A essência da Renovação está em ela ser, por vontade do Espírito Santo, uma força espiritual renovadora, uma torrente de graças renovadoras e um Pentecostes renovador. A essência da RCC está nas manifestações de poder do Espírito para a renovação da Igreja, na Igreja
(papa João Paulo II).
Escreveu o cardeal Suenens: Esta graça ‘da Renovação Espiritual’ não é restrita, pois é destinada a toda a Igreja. O Espírito Santo não é monopólio de ninguém. Nem de uma pessoa, nem de grupos
. O autor do livro Um Vendaval escreveu: A Renovação foi uma surpresa de Deus, uma graça derramada pelo Espírito. Ninguém tinha imaginado a efusão do Espírito como ponto de partida para uma renovação da Igreja
.
A vocação da Renovação
Qual é a vocação da Renovação Carismática? Para que o Espírito Santo a chamou
a existir na Igreja? Qual o seu lugar e o seu papel no meio eclesiástico?
A Renovação Carismática foi chamada
, foi suscitada
pelo Espírito Santo para ser um grande instrumento Seu, a fim de desencadear uma força espiritual capaz de revigorar toda a vida cristã, em todos os seus níveis. Sua vocação é ser fonte de renovação e torrente de graças para os cristãos.
A missão da Renovação
Sua missão decorre de sua vocação. É provocar e fazer acontecer a efusão do Espírito Santo, ou seja, o batismo no Espírito, e com isto desencadear o processo de renovação profunda dos corações, das famílias, das comunidades, das paróquias, das dioceses e da Igreja. Tendo feito acontecer o novo pentecostes
, levar os fiéis todos, hierarquia, religiosos e leigos, à maturidade da vida cristã e à santidade. A missão da Renovação é ser um instrumento do Espírito Santo, capaz de dinamizar o processo de renovação na Igreja, a partir da renovação dos corações.
A Renovação é obra do Espírito Santo
Pe. Borragán, ao escrever sobre a origem da Renovação, diz:
Foi o Espírito que a concebeu e planejou a Seu modo. Foi Ele que derramou esta corrente de graças sobre a Igreja, e quem a suscitou onde menos podíamos imaginar e quando menos poderíamos suspeitar. [...] A Renovação não teve fundador. Foi uma surpresa de Deus, uma graça derramada pelo Espírito.
O mesmo autor escreve: "A Renovação é uma graça pentecostal oferecida à Igreja inteira, e a todos os movimentos que nela existem. Situa-se no primeiro momento da vida cristã, no nascimento".
O teólogo defende:
A Renovação está aí, à vista de todos, composta por homens e mulheres normais. Ela não pode escapar a essa lei geral da necessidade de ter uma certa estrutura e organização. Mas a Renovação não pode sucumbir ao perigo de se estruturar e de se converter em uma grande organização, onde tudo é bem controlado e onde todos os grupos se movem ao ritmo que lhes é marcado pelo serviço central. A Renovação não deve permitir jamais que a graça recebida seja asfixiada pelas estruturas, nem cair em mecanismos que não sejam desejados pelo espírito. A Renovação nasceu de surpresa. Se a Renovação não quer perder a sua própria identidade deverá estar sempre aberta ao sopro do Espírito. A Renovação não nos pertence. Ninguém pode pôr a mão sobre uma coisa que é do Espírito Santo.
O que a Renovação Carismática não é
Para auxiliar na compreensão daquilo que é
a Renovação Carismática, vamos dizer o que ela não é
. Talvez por contraste se possa entender melhor seu significado, e toda sua abrangência dentro da vida da Igreja. Estas declarações são tiradas do livro do Pe. Borragán, Como um Vendaval, embora sejam indicadas também por outros autores.
Renovação Carismática não é uma criação humana
A primeira coisa a dizer é que a Renovação não é algo criado, inventado, projetado ou planificado pelo homem. Nenhuma organização pode atribuir a si mesma a origem desta obra. Ninguém pode reclamar para si os direitos de autor. Importa afirmar isso com toda clareza. A Renovação não nasceu como os demais movimentos da Igreja. Não foi obra nem do Papa, nem da cúria romana, nem das conferências episcopais, nem dos bispos. Não foi projetada por nenhuma comissão teológica, nem por nenhuma secretaria e nem por conselhos pastorais.
A Renovação não teve fundadores humanos. Seu fundador é o Espírito Santo. Ela foi uma surpresa de Deus, uma graça derramada pelo Espírito, que ninguém antes imaginara. Nenhuma pastoral, antes da Renovação, incluíra em seus planos os carismas de profecia, de cura ou de falar línguas.
A Renovação Carismática não é um movimento
Escreve o cardeal Suenens:
Na realidade, não se trata de um movimento, mas de uma moção do Espírito para o uso de todo cristão, quer seja ele clérigo, ou leigo. Trata-se de uma corrente de graça que passa e que leva a uma maior consciência da dimensão carismática da Igreja.
Com o intuito de prevenir do perigo de se fazer da Renovação um movimento, Pe. Borragán escreve:
À medida que nós formos nos distanciando da experiência inicial, esta corrente de graça pode ser convertida facilmente num movimento a mais dentro da Igreja. Então, já não será mais uma Renovação Carismática no Espírito, mas sim uma obra realizada por nós, homens.
Diz ainda: Todos sentimos como que uma repulsa instintiva e visceral por esse termo: movimento
.
E ele define o que é um movimento:
Um movimento é o pôr em marcha uma ideia, um plano, um projeto, com seus objetivos, os seus meios, suas táticas e estratégias, para conseguir o objetivo que se pretende
. A palavra movimento
evoca, pois, um fundador, objetivos e meios, uma estrutura, uma organização e uma autoridade. Também implica uma filiação dos participantes e um comprometimento dos filiados.
O cardeal Leo Suenens não se cansa de afirmar que a RCC não é um movimento
a fim de conservar a sua verdadeira identidade. Ele atesta:
A Renovação Carismática não é um movimento no sentido a habitual do seu termo [...]. Classificar a Renovação Pentecostal como se fosse mais um entre os movimentos especiais