Sei sulla pagina 1di 169

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO 1

DIRETORIA DE ENSINO, INSTRUÇÃO E PESQUISA


ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE

APOSTILA DE SAÚDE DO TRABALHADOR


DE SEGURANÇA PÚBLICA

CFO III/2011
ATIVIDADES E AÇÕES QUE PODEM AJUDAR
Th Dr. José Gualberto Muniz - 1º Ten. QOCPM
Prof/Instrutor de SST/APMCV
3º ANO DO CFO 2

AREA TEMÁTICA V / SENASP-MJ


VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
E SAÚDE DO TRABALHADOR DE SEGURANÇA PÚBLICA

ATIVIDADES E AÇÕES QUE PODEM AJUDAR


SUMÁRIO

 1ª AULA / / ........................................................08
 Não é possível nos livrarmos da doença de fora para
dentro
 2ª AULA / / ........................................................25
 Matriz Curricular Nacional: Referencial para as Ações
Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública

 3ª AULA / / ........................................................37
 O que é possível fazer para prevenir a instalação de doenças
profissionais e como obter uma melhor qualidade de vida?

 4ª AULA / / ........................................................57
 A Psicodinâmica nas Relações de Trabalho do Profissional de
Segurança Pública

 5ª AULA / / ........................................................71
 O Trabalho é um Ato de Liberdade

3
 6ª AULA / / ..............................88
 A Dinâmica da Organização do Trabalho

 7ª AULA / / ............................103
 O sofrimento de natureza mental

 8ª AULA / / ............................119
 A psicodinâmica do trabalho

 9ª AULA / / ............................136
 A fonte de prazer no trabalho

 10ª AULA / / ..........................150


 A organização do trabalho

4
PALAVRAS DO INSTRUTOR AOS
FUTUROS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR

Imprimam em suas almas a nobreza, e o altruísmo


À suas vidas profissionais e, antes de mais
Nada, ter consciência de suas próprias
Liberdades e prepare-se todo
O tempo para exercê-las em
Defesa dos valores sociais
De um modo produtivo.

Th José Gualberto Muniz


Prof/Instrutor de SST/APMCV

5
MODELOS DE LIDERANÇAS,
TRABALHO E AUTOTRANSFORMAÇÃO

6
OS NOTÁVEIS AVANÇOS DA CIÊNCIA E DA
TECNOLOGIA NÃO LOGRARAM AINDA
TRANSFORMAR O SER HUMANO
PARA MELHOR

7
AULA Nº 1
NÃO É POSSÍVEL NOS LIVRARMOS DA
DOENÇA DE FORA PARA DENTRO

Esta disciplina de Saúde do Profissional da


Segurança Pública visa alcançar o objetivo
principal que é a sensibilização dos profissionais
da Segurança Pública sobre a importância de se
reconhecer os indicadores físicos e mentais das
doenças que podem ser adquiridas ao longo do
tempo de exercício de profissões com a
realização de atividades estressantes.
8
Em uma abordagem profunda,
querer se livrar da doença não
significa a mesma coisa que
buscar a saúde. Desenvolver a
saúde requer um movimento do
indivíduo em direção a ela. Não
é possível nos livrarmos da
doença de fora para dentro.

9
Muito menos, através de uma atitude
doentia de ansiedade, inquietação no
sentido de arrancá-la de nós, através
de recursos externos. Mas, o mais
importante, é que devemos nos
questionar o que possamos fazer por
nós mesmo enquanto convivermos
diretamente envolvidos com a
sociedade no imprescindível serviço
de Segurança Pública.

10
11
Emfim, todavia devemos
identificar ações e atitudes
que possam auxiliar na
prevenção e na profilaxia dos
estados patológicos mais
comuns na vida dos
profissionais de Segurança
Pública.
12
Neste sentido a busca de
conhecimentos na área de
Saúde e Segurança no
Trabalho sinaliza para a
responsabilidade que cada um
dos profissionais tem na
manutenção de uma boa
qualidade de vida para si, para
sua família e para o trabalho.
13
A Polícia Militar
enquanto instituição que
atua diretamente na
sociedade não pode ficar
distante dessas discussões
fundamentais para o
entendimento da dinâmica
social.
14
Observa-se que a
instituição paulatinamente
vem buscando se adaptar
as mudanças sociais,
procurando estar atenta às
necessidades da
população.

15
16
 Apresentar ao Policial Militar em
formação uma visão ampla sobre o seu
papel em uma sociedade plural, na qual o
próprio Policial Militar está inserido,
além de introduzir no ambiente de
formação profissional questões
fundamentais para o entendimento da
sociedade, procurando, dessa forma,
minimizar o distanciamento construído
entre a Polícia Militar do Estado de Mato
Grosso e a comunidade matogrossense.

17
Aproximar os Policiais
Militares em formação de
conceitos e discussões
fundamentais para a compreensão
dos problemas sociais.
Debater de forma crítica a relação
dos Policiais Militares com a
comunidade em que está inserido;

18
19
Reconhecer a diversidade
presente na sociedade e a
importância da saúde e
convivência pacífica frente às
diferenças, visando à
construção de uma postura
digna e de respeito aos
direitos humanos.
20
Evidenciar as ações e atitudes dos
Policiais Militares para diminuir
as formas comportamentais em
desacordo com as Normas e
Diretrizes Regulam os
desempenho dos Profissionais de
Segurança Pública entre os
próprios Policiais Militares, bem
como dentre esses e a sociedade.

21
22
Desenvolver o senso ético-
profissional, associado à
responsabilidade social, com a
compreensão da causalidade e
finalidade das normas jurídicas
e da busca constante do
conhecimento e do dever
profissional de Segurança
Pública.
23
24
2ª AULA
MATRIZ CURRICULAR NACIONAL:
REFERENCIAL PARA AS AÇÕES FORMATIVAS DOS
PROFISSIONAIS DA ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA
 A saúde do trabalhador está associada a sua
valorização, tendo como referência a
dimensão física e os aspectos psicológicos e
sociais da vida profissional. Nesse sentido,
esta área temática inclui também a valorização
e a proteção da vida e da integridade física,
mental e emocional do profissional de
Segurança Pública, referindo-se à adoção de
providências técnicas e às modalidades
específicas de organização do trabalho e ao
estudo do estresse e de suas consequências.
25
26
27
28
29
30
SAÚDE MENTAL DO POLICIAL MILITAR

31
32
33
TRANSTORNO DO ESTRESSE
PÓS-TRAUMÁTICO

34
35
36
AULA Nº 3

37
EQUIPAMENTOS DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAIS

38
39
40
41
NADA JUSTIFICA A VIOLÊNCIA, MAS É SÁBIO
EVITAR O ESTRESSE EM QUEM TEM POR
MISSÃO GARANTIR A SEGURANÇA DA
POPULAÇÃO

42
43
44
45
MANUTENÇÃO DA SAÚDE E
QUALIDADE DE VIDA

46
47
48
ASPECTOS INOVADOR

49
50
51
4ª AULA
A PSICODINÂMICA NAS RELAÇÕES DE
TRABALHO DO PROFISSIONAL DE
SEGURANÇA PÚBLICA

52
A EQUIPE DEVE AGIR COM FIRMEA
E ENERGIA DIANTE DO PERIGO
E DE CADA DETERMINAÇÃO

53
 Muitas profissões de risco geram
estresse e, sem sombra de dúvidas, a
profissão policial militar faz parte desta
categoria. Diariamente o profissional é
submetido a situações desgastantes que
colocam em risco a própria vida, o que
exige dele preparo físico e emocional,
sendo indispensável para isso que a
instituição promova a saúde mental dos
agentes de segurança pública.

54
NÃO FAÇAM TUDO QUE PENSAM,
MAS PENSA EM TUDO QUE FAZ!

55
Entre outros conceitos, ter saúde
mental consiste em apreciar a vida,
aprender a lidar com as
adversidades, ter controle
emocional. A sociedade cobra do
policial conduta irrepreensível a
todo tempo, esquecendo-se que por
trás da farda existe um ser humano
com sentimentos, angústias e
passível de erros.
56
Para ingressar na
corporação o policial é
submetido a um teste
psicológico que avalia se ele
tem pré-requisitos para
assumir a função, mas após
o ingresso a sua saúde
mental é desvalorizada.
57
58
 Muitos fatores contribuem para que a
saúde mental dos policiais fique
comprometida, entre eles a distância de
suas famílias, falta de condições de
trabalho, falta de reconhecimento e
valorização profissional por parte da
sociedade e da corporação,
consequentemente acabam deprimidos,
ansiosos e insatisfeitos com a profissão,
como demonstra reportagem de
conceituada revista que aponta que um
em cada três policiais não entraria na
corporação se pudesse voltar no tempo.
59
60
 Para a manutenção da saúde mental de
seus servidores, a instituição policial-
militar deve oferecer atendimento
psicológico, promover atividades físicas,
valorizar os seus profissionais oferecendo
melhores condições de trabalho e salários
dignos, dessa forma resultará em homens
e mulheres satisfeitos e motivados em
promover a segurança pública que a
sociedade carece.

61
A LOUCURA DO TRABALHO

62
Processo colaborativo de resolução
de problemas entre um especialista
em saúde mental e uma ou mais
pessoas responsáveis de algum tipo
de ajuda psicológica a outra pessoa.
Trata-se de uma relação triádica e
voluntária, estabelecida entre
profissionais de campos diversos
para ajudarem-se em seu exercício
profissional.

63
 - É um processo de ajuda e de solução de
problemas;
 - Ocorre entre um profissional que presta a
ajuda e outro que a solicita em virtude de sua
responsabilidade com o bem-estar de uma
terceira pessoa;
 - É uma relação voluntária;
 - Ambos os profissionais compartilham a
resolução do problema;
 - O objetivo é ajudar a resolver um problema no
trabalho atual daquele que busca a ajuda
 - O que busca a ajuda se beneficia da relação,
no enfrentamento adequado de futuras
dificuldades.
64
65
Segundo Parsons e Meyers, o processo
consultivo apresenta quatro estágios em todos
os níveis; individual, familiar, grupal e
sistêmico. A pretensão é inverter a pirâmide
tradicional de prestação de serviços de saúde
mental. Em vez de assumir que o problema se
deve a alguma circunstância particular do
indivíduo e começar com uma avaliação
individual, acredita-se que o ambiente tem um
papel fundamental na determinação tanto do
comportamento adaptado quanto inadaptado.

66
 O papel do profissional é promover a
confiança pessoal e profissional do
assessorando, ajudando-o a identificar a
fonte do conflito, oferecendo-lhe apoio e
colocando-o em contato com outros
membros da instituição.
 É também fornecer conhecimentos
adequados sobre os fatores psicossociais
implicados na situação de ensino
aprendizagem.

67
68
 Os assessorados manifestam que sua
habilidade profissional se tem incrementado a
partir do processo de assessoria;
 Os que dispõem de consultores, qualificam
como menos problemáticas as dificuldades a
serem resolvidas, em comparação com os
demais;
 As taxas de remissão de casos aos serviços de
psicologia se reduzem drasticamente após 4-5
anos de serviços de consultoria.
 Os assessorandos mostram uma melhor
percepção e compreensão dos problemas dos
outros;
69
O trabalho é um ato de
liberdade, com sua consciência
o homem pode projetar e
idealizar sua atividade. De
acordo com essa concepção
marxista, ao trabalhar o homem
torna-se sujeito pelo seu fazer e,
tem no trabalho a possibilidade
de emancipação e afirmação
social.
70
AULA Nº 5
O TRABALHO É UM ATO DE LIBERDADE

71
No entanto, essa condição
emancipadora tem sido ignorada
no contexto da sociedade
capitalista em que imperam as leis
da racionalidade econômica e seus
princípios de produtividade,
flexibilidade e consumo. Assim, o
trabalho pode ser fonte de
adoecimento para o trabalhador.

72
 É a organização do trabalho (modo como se
estrutura o processo de trabalho no sistema
de capital) que interfere na saúde do
trabalhador prejudicando, ainda, a
construção de sua identidade. Nas diversas
formas de organização do trabalho, por meio
de tecnologias de gestão, o sistema de
capital apresenta mecanismos de poder
mascarados nos discursos participativos e
manipulatórios, em que busca o
comprometimento trabalhador e a submissão
a sua ideologia.
73
74
A fim de se compreender a inter-
relação trabalho e saúde, apresenta-se,
dentro de uma perspectiva teórica, a
abordagem da Psicodinâmica do
Trabalho que em seus pressupostos
considera o trabalho fonte de prazer e
sofrimento. As vivências de prazer e
sofrimento são entendidas como o
sentido do trabalho e sua análise
possibilita o entendimento da
dinâmica organizacional.
75
A partir da análise crítica do
trabalho pode-se desvelar as
questões obscuras e os
mecanismos para intensificar o
trabalho e incrementar a
produção utilizados pelas
organizações, bem como
entender o sujeito em sua
subjetividade.
76
 No processo histórico as lutas da classe
trabalhadora contra a exploração e as
condições desumanas a que era
submetida, culminaram em
transformações no mundo do trabalho.
A jornada de trabalho diminuiu, o
ambiente laboral melhorou, criou-se um
aparato jurídico em defesa dos direitos
dos trabalhadores e, despendeu-se mais
atenção à questão da Saúde – ou
Qualidade de Vida – dentro das
organizações.
77
78
 Conforme apresenta Pilatti (2007) além
dos movimentos operários, também
contribuíram para tais transformações os
avanços da ciência e tecnologia,
principalmente após a Segunda Guerra
Mundial quando nasce o novo mundo do
trabalho, a passagem do paradigma
industrial para a era do conhecimento.
Um mundo que apresenta sofisticados
métodos e instrumentos de trabalho,
bem como, novas formas de gestão da
força trabalhadora, e que é marcado pela
complexidade e pelo trabalho em rede.
79
 Caracteriza-se por uma sociedade
baseada na informação e no
conhecimento, no discurso de valorização
do trabalhador agora considerado capital
humano gerador de receitas e não mais
gerador de custos para a organização.

É possível então, numa perspectiva


otimista, afirmar que no curso da história
o trabalho foi humanizado e o ser
humano ganhou centralidade.

80
81
 No entanto, Pilatti (2007, p. 47-48) sugere um
olhar mais cauteloso e alerta que os avanços
no mundo do trabalho não atingiram os
patamares desejados, bem como a valorização
do trabalhador que se mostra incongruente
com o mundo empresarial: “é preciso
produzir mais, em menos tempo, com custos
reduzidos, atendendo padrões de qualidade
mais elevados”. Ainda que humanizado nos
aspectos elementares, o atual mundo do
trabalho impõe exigências mais sofisticadas
aos trabalhadores que temem não satisfazê-
las.
82
 As exigências impostas aos
trabalhadores do conhecimento
ultrapassaram as fronteiras do local de
trabalho. A qualificação exigida do
trabalhador aumentou. A automação,
além de não criar mais tempo disponível
para os trabalhadores, diminui postos de
trabalho (PILATTI, 2007, p. 47).

83
 A partir dos estudos desenvolvidos por
Faria (2007) em relação às mudanças
impulsionadas no mundo do trabalho
com o avanço da tecnologia - para o
autor foi a introdução de tecnologias
físicas de base microeletrônica -
verifica-se que as transformações
consistem na busca pelo
comprometimento do trabalhador,
mediante envolvimento e participação
mais efetiva no processo de produção.
84
85
E para tal, o capital investiu (e
investe) em mecanismos de
controle cada vez mais sofisticados
e sutis, mascarados sob o rótulo de
“administração participativa”
buscando incorporar a ideologia
capitalista ao discurso operário.
Trata-se do seqüestro da
subjetividade do trabalhador.
86
Seja na análise feita por Pilatti
(2007) quanto na de Faria (2007),
tal avanço tecnológico e as
mudanças no mundo do trabalho
estão associadas à incorporação das
técnicas japonesas – toyotismo – ao
processo de produção. Exige-se, a
partir de então, indivíduos
altamente qualificados e
comprometidos com a organização.
87
AULA 06
A DINÂMICA DA ORGANIZAÇÃO
DO TRABALHO

88
 Aos que não estão aptos resta o
desemprego; aos empregados, o medo e a
angústia de não satisfazerem as
exigências da organização inviabilizando
desta feita, a sua permanência.
 Para Dejours (2007) o novo cenário
esconde o sofrimento dos que temem não
se adaptar à cultura ou a ideologia da
empresa e, ainda, não atender as
imposições dessa nova dinâmica da
organização do trabalho. Pode-se afirmar
que o trabalho, nesse contexto, assume
um sentido menos realizador e opressor.
89
 A condição emancipadora do trabalho
tem sido prejudicada no contexto da
sociedade capitalista contemporânea em
que imperam as leis da racionalidade
econômica e seus princípios de
produtividade, flexibilidade e consumo.
Em nome da sobrevivência, da
segurança, da “manutenção” do
emprego os trabalhadores se sujeitam as
condições contraditórias impostas pela
organização do trabalho – fazer mais
versus fazer bem; trabalhar em equipe
versus trabalhar sozinho;

90
 atender a normas em que não acredita
versus perder o emprego; cooperar versus
sobrecarregar-se; denunciar práticas das
quais discorda versus silenciar – ao invés
de resistirem a trama de dominação e
exploração do capital. Acompanha-se
uma precariedade no atual mundo do
trabalho, dito flexibilizado,
transformando o sentido de emancipação
em escravidão (MENDES, 2008).

91
92
 Tais considerações reafirmam a
necessidade de se estudar a dinâmica
organizacional, as tecnologias de gestão,
bem como os impactos na saúde dos
trabalhadores. Neste artigo, dentro de
uma perspectiva teórica, apresenta-se a
teoria da psicodinâmica do trabalho como
possibilidade dessa compreensão.
 É uma teoria crítica do trabalho que
considera o sujeito enquanto
subjetividade, preocupando-se não
somente com a aparência, bem como com
a essência do contexto organizacional.
93
 O estudo da possível conseqüência do trabalho
sobre a saúde mental dos indivíduos não é
temática recente. Ao término da Segunda Guerra
Mundial, um grupo de pesquisadores - destaque
para Louis Le Guillant – fundou a disciplina
Psicopatologia do Trabalho, tendo como objeto
específico a análise clínica e teórica da patologia
mental devida ao trabalho. Porém, com exceção
de descrições impressionantes como a neurose
das telefonistas e dos mecanógrafos, as
investigações não forneceram subsídios
suficientes para a construção de um quadro das
patologias mentais do trabalho. Dessa forma,
numerosos pesquisadores concluíram que o
trabalho não acarretava efeitos deletérios a saúde
mental dos trabalhadores (DEJOURS, 1999).
94
95
 Entretanto, nem todos os pesquisadores
admitiam tal conclusão. E foi na França,
em 1980, com a publicação de “Travail:
usure mentale. Essai de
psychopathologie du travail” (traduzido
no Brasil sob o nome de A Loucura do
Trabalho: estudo de psicopatologia do
trabalho, em 1987), de autoria de
Christophe Dejours, que a discussão dos
efeitos do trabalho sobre o aparelho
psíquico sofre mudanças (MERLO, 2002)
e, essa abordagem é denominada de
Psicodinâmica do Trabalho (ou análise
psicodinâmica das situações de trabalho).
96
 Com a Psicodinâmica abdica-se de
perseguir inapreensíveis doenças
mentais do trabalho e centra-se no
estudo da normalidade. O fundamento
dos estudos está em compreender “como
os trabalhadores conseguem não ficar
loucos, apesar das exigências do
trabalho, que, pelo que sabemos são
perigosas para a saúde mental?”
(DEJOURS, 1999, p. 17-18).

97
 Tem-se uma reviravolta epistemológica e a
normalidade aparece então como um enigma,
“um equilíbrio precário (equilíbrio psíquico)
entre constrangimentos do trabalho
desestabilizantes, ou patogênicos, e defesas
psíquicas” (DEJOURS, 1993, p. 152-153).
Essa regulação requer estratégias especiais
que são mecanismos de defesas construídas
pelos próprios trabalhadores para enfrentar
mentalmente a situação de trabalho. São essas
estratégias, individuais ou coletivas, que
evitam o descompensamento mental, e de
maneira simbólica, criam no trabalhador a
sensação de ser mais forte que a organização
do trabalho.

98
99
 Evidencia-se, a partir de então, que a
influência da organização do trabalho sobre a
saúde mental dos trabalhadores passa a ser
considerada. Seja qual for o modelo de
organização do trabalho adotado no processo
produtivo, este tem implicações na saúde dos
trabalhadores.
 A organização do trabalho é entendida por em
dois aspectos, de um lado, a divisão do
trabalho: divisão de tarefas entre os
operadores, repartição, cadência e, enfim, o
modo operatório prescrito; e do outro lado a
divisão de homens: repartição das
responsabilidades, hierarquia, comando e
controle. Para Dejours e Abdoucheli (1994, p.
126)

100
 “a divisão das tarefas e o modo operatório
incitam o sentido e o interesse do trabalho
para o sujeito, enquanto a divisão de homens
solicita sobretudo as relações entre pessoas e
mobiliza os investimentos afetivos, o amor e o
ódio, a amizade, a solidariedade, a confiança
etc”.
 Destaca-se, ainda, que a abordagem
psicodinâmica utiliza-se de conceitos
ergonômicos de trabalho prescrito, que é
aquele previamente determinado, instruído e
que deve ser concebido; e, real, aquele
efetivamente executado, com todo seu ajuste,
reorganização e adaptação. Para Dejours
(1999), todo trabalho implica em ajustes e na
gestão da distância entre a organização destes
dois conceitos de trabalho.
101
 Quando o rearranjo da organização do
trabalho não é mais possível, quando a
relação do trabalhador com a
organização do trabalho é bloqueada, o
sofrimento começa: a energia pulsional
que não acha descarga no exercício do
trabalho se acumula no aparelho
psíquico, ocasionando um sentimento de
desprazer e tensão (DEJOURS, 1994, p.
29).

102
AULA 07
O SOFRIMENTO DE NATUREZA MENTAL

103
 Para Dejours (1992) a partir do momento que o
homem não pode modificar a tarefa de acordo
com suas necessidades e desejos o sofrimento
de natureza mental começa. Entende-se, dessa
maneira, que a partir do momento em que a
relação conflitual do aparelho psíquico à tarefa
é bloqueada, ou seja, esta negociação é
conduzida ao último limite, começa o domínio
do sofrimento e, da luta contra o sofrimento.
Nesse ponto o homem não mais domina o seu
trabalho, pelo contrário é dominado por ele. O
trabalho já não oferece condições para sua
estruturação psíquica nem oportuniza vivências
de prazer. O fundamento da produção supera o
desejo do homem.
104
 A psicodinâmica, ainda que consolidada
como abordagem científica, continua em
processo de desenvolvimento. Em seu
arcabouço teórico e metodológico,
apresenta uma inversão no entendimento
da inter-relação trabalho e saúde, tendo
como base a análise da dinâmica
organizacional, preocupando-se com as
forças “visíveis e invisíveis, objetivas e
subjetivas, psíquicas e sociais, políticas e
econômicas” (MENDES, 2007a, p. 29)
que atuam e podem interferir no contexto
de trabalho.
105
 É objeto da psicodinâmica do trabalho o
estudo das relações dinâmicas entre
organização do trabalho, que se
manifestam nas vivências de prazer e
sofrimento, nas estratégias de ação para
mediar contradições da organização do
trabalho, nas patologias sociais, na
saúde e no adoecimento (MENDES,
2007a, p. 30).
106
107
 A investigação tem como objeto central o
sofrimento, originado do conflito entre
organização do trabalho e o funcionamento
psíquico do sujeito, uma luta contra as forças
que o empurram para a doença mental. Mas ao
trabalho não se atribui apenas o sofrimento
“ao produzir algo, o trabalhador sente-se
estruturado como pessoa em decorrência de
ser valorizado e reconhecido pelo que faz”
(MENDES, 2004, p. 67). O trabalho é assim
realização, significa a criação de identidade
pelo fazer e produzir. Na satisfação desses
aspectos que o trabalhador tem vivências de
prazer. Busca-se, dessa forma, a compreensão
da dinâmica das vivências de prazer-
sofrimento.
108
 Essas vivências são decorrentes da interação
de três diferentes dimensões coexistentes e
interligadas: a da subjetividade do
trabalhador, indivíduo singular, com história
de vida, desejos e necessidades particulares; a
da organização do trabalho, imposições de
eficácia, normas e padrões de condutas; e da
coletividade, relações entre iguais e relações
hierárquicas, normas e valores de convivência
social no trabalho (MENDES, 2004, p. 67).

109
 Nessa dinâmica, para fazer frente as tentativas
de dominação pela organização do trabalho e
manter a saúde, ao sujeito cabe o investimento
da inteligência prática, da personalidade e da
cooperação. No entanto, o investimento desses
elementos, mesmo que articulados, não é capaz
de dar conta da “loucura” do trabalho se ocorrer
individualmente. A mudança da realidade do
trabalho exige, então, que o investimento seja
realizado pelo coletivo de trabalhadores, bem
como, implica a mobilização e engajamento do
sujeito no trabalho.

110
111
 Considere-se, no entanto, que essa mobilização
e engajamento resultam em modos de
subjetivação específicos e, que, muitas vezes,
são explorados em atendimento à lógica do
capital (MENDES, 2007a).
 De acordo com Faria e Meneghetti (2007) as
organizações através dos seus modelos de
produção e gestão exercem uma violência
psicológica sobre os trabalhadores. Manipulam
seu comportamento, seqüestram sua
subjetividade e submetem esse trabalhador a
ideologia do capital

112
 Nessa perspectiva Mendes (2007a, p. 30),
afirma que a subjetivação é “o processo de
atribuição de sentido construído com base na
relação do trabalhador com sua realidade do
trabalho, expresso em modos de pensar, sentir
e agir individuais ou coletivos” e é explorada
devido as características contraditórias que
apresenta o sofrimento. Simultaneamente,
pode operar como mobilizador de saúde e
como instrumento de obtenção de
produtividade. Dejours (1993) afirma que o
sofrimento pode produzir trabalho.

113
 O que é explorado pela organização do
trabalho não é o sofrimento, em si, mas,
principalmente, as estratégias de mediação
utilizadas contra esse sofrimento. Um exemplo
é a auto-aceleração, que é um modo de evitar
contato com a realidade que faz sofrer e uma
ferramenta usada pelos gestores da
organização do trabalho para aumentar a
produção (MENDES, 2007a, p. 31).

114
115
 Da ideologia produtivista, da lógica do
capital, do discurso do desempenho e da
excelência decorre o sofrimento, as
falhas das mediações e o
desenvolvimento de patologias sociais.
A abordagem contemporânea das
pesquisas em psicodinâmica do trabalho,
considera o modo com que os sujeitos
trabalhadores subjetivam tais vivências,
o sentido que elas assumem, bem como
o uso das estratégias de mediação.
116
 São privilegiados os modos de subjetivação a
partir do trabalho, o investimento e
engajamento no trabalho, muitas vezes
precarizado, e como são construídos esses
modos de subjetivação, tendo como base o
sofrimento e as estratégias de ação ante as
novas formas de organização do trabalho.
Também são enfatizadas nessa fase as
conseqüências sociais do confronto entre
organização do trabalho, sofrimento e ação
(MENDES, 2007a, p. 35-36).
117
 Fazem parte dos estudos patologias
como a banalização do sofrimento, a
violência moral, a exclusão no trabalho,
a servidão voluntária, a hiperaceleração,
os distúrbios osteomusculares, a
depressão, o alcoolismo e o suicídio. A
abordagem psicodinâmica busca o que
não está visível, parte de um modelo de
homem que se esforça para resistir aos
elementos da dominação - simbólica,
social, política e econômica - inerentes
a realidade no universo do trabalho.
118
AULA 08
A PSICODINÂMICA DO TRABALHO

119
 É preciso entender o gesto, o significado
do gesto para o capital, para a produção
do produto específico e para o
trabalhador. É preciso entender as
possibilidades que o trabalhador tem de
se identificar ou não com o produto, de
reconhecê-lo como seu, de saber que se
torna um pouco mais eterno através de
cada coisa que faz. Se o trabalhador não
pode fazer isto, ele não vive a cada gesto,
ao contrário, ele morre a cada gesto.

120
 Mesmo que não morra fisicamente vai
se instalando um vazio na alma, uma
corrosão da alegria, frustração dos
projetos, fracasso das esperanças. É
preciso que as pesquisas científicas
transponham o limite da quantidade à
qualidade, significando as expressões
numéricas obtidas pelos instrumentos de
coleta (SAMPAIO, HITOMI, RUIZ,
1995, p. 70).

121
A psicodinâmica é do ponto de
vista epistemológico, uma teoria
crítica do trabalho, que através
de um esquema teórico-
metodológico dialético questiona
a realidade, buscando entender o
sujeito enquanto subjetividade,
como se dão as relações sociais e
sua inserção no contexto
organizacional
122
A partir do momento que a
organização do trabalho não
permite a subversão do trabalho
prescrito em um trabalho ao desejo
do trabalhador, começa o
sofrimento. À medida que o
trabalhador já não pode usar a
inteligência prática, que a atividade
não absorve sua criatividade este
sofrimento torna-se latente.

123
124
 Na psicodinâmica do trabalho “o sofrimento é
uma experiência vivenciada, ou seja, é um
estado mental que implica um movimento
reflexivo da pessoa sobre seu 'estar no
mundo'” (DEJOURS, 1999, p. 19). No entanto
essa vivência não é totalmente consciente, ela
sempre tem uma parte inapreensível e é
sempre indissociável da corporalidade. Assim,
“o sofrimento é sempre, antes de tudo, um
sofrimento do corpo, engajado no mundo e
nas relações com os outros” (DEJOURS,
1999, p. 19).

125
 Para suportar este sofrimento e
transformar sua realidade, os sujeitos
constroem e sustentam coletivamente
estratégias defensivas capazes de lidar
com a precarização do trabalho. Essas
defesas são específicas das diferentes
categorias profissionais e atuam como
regras do coletivo de trabalho
estabelecidas tacitamente pelo grupo.
Essas defesas podem ser de proteção, de
adaptação e de exploração.
126
 As defesas de proteção constituem modos de pensar,
sentir e agir compensatórios a fim de suportar o
sofrimento. Neste caso o trabalhador se aliena das
causas do sofrimento e não busca qualquer mudança
na organização do trabalho.
 Como conseqüência, as causas do sofrimento se
intensificam, assim como a precarização do trabalho.
Tão logo esse processo de enfrentamento falha tem-
se o adoecimento.
 Já as defesas de adaptação e exploração exigem um
investimento físico e sociopsíquico além da vontade e
capacidade do trabalhador. Consistem na negação do
sofrimento e na submissão ao desejo da produção.
 Inconscientemente os trabalhadores assumem um
comportamento neurótico e assim atendem ao desejo
da excelência em meio ao funcionamento perverso da
organização do trabalho (MENDES, 2007b).
127
128
 Desta feita, as defesas desempenham
papel importante para assegurar a saúde
dos trabalhadores, todavia, podem
transformar-se em ideologias defensivas
e gerar alienação. A ambigüidade das
estratégias defensivas está no fato de
que “podem atenuar o sofrimento mas,
por outro lado, se funcionarem muito
bem e as pessoas deixarem de sentir o
sofrimento, pode-se prever a
alienação”(DEJOURS, 1999, p. 171).
129
Diante desta perspectiva
contraditória dos mecanismos de
defesa, que ora possibilitam ao
trabalhador conviver com o
sofrimento e ora viver alienado de
suas causas, ou ainda, ignorar a
influência da organização do
trabalho e subordinar-se à lógica do
capital, a aceitação por parte do
trabalhador dessas questões só
servirá à ideologia dominante
130
 “visto que ela não tem interesse nas
mudanças das relações de trabalho e,
desse modo, explora e usa o paradoxo
próprio das defesas para evitar
discussões sobre a organização do
trabalho e manter os trabalhadores
produtivos, desconhecendo as causas de
seu sofrimento e fazendo a manutenção
de seu emprego” (MENDES, 2007a, p.
42).
131
132
 Em oposição ao despotismo do capital sobre
o trabalho, está a proposição da abordagem
psicodinâmica na “(re)apropriação do desejo
dos sujeitos-trabalhadores, e com isso, no
resgate do pensar e agir criticamente sobre a
organização do trabalho e na construção
coletiva de soluções de compromisso para
fazer face às contradições inerentes à
organização do trabalho” (MENDES, 2007a,
p. 39). Dessa maneira reafirma-se a idéia de
ser o trabalho fonte de prazer, sendo possível
ressignificar o sofrimento e assim construir
um caminho para a saúde.

133
 A busca pela saúde continua sendo objeto
de estudo para a psicodinâmica e, nessa
direção, Mendes (2007a, p. 42) afirma que
“o desafio que se coloca, a despeito do
sofrimento, consiste em investigar os
impactos da flexibilização do capital no
mundo do trabalho, se ainda é possível ter
saúde e o que rege essa possibilidade”.

134
 O trabalho na abordagem psicodinâmica é
caracterizado como fonte de prazer e
sofrimento, sendo as vivências de prazer e
sofrimento entendidas como o sentido do
trabalho, uma construção única e dialética. A
contribuição para o processo de saúde está na
intervenção sobre a organização do trabalho,
significando dessa maneira que a
psicodinâmica é mais do que teoria e pesquisa,
é um modo de ação sobre a realidade. Intervir
na organização do trabalho “permite aos
sujeitos subverter o sofrimento,
transformando-o em sentido, em
inteligibilidade e em ação, o que não significa
anular o sentimento, mas transformá-lo no
prazer da reapropriação do vivido pela ação”
(MENDES, 2007a, p. 43).
135
AULA 09
A FONTE DE PRAZER NO TRABALHO

136
 Uma fonte de prazer é justamente essa
transformação das situações causadoras de
sofrimento por meio da mobilização subjetiva,
na qual o sujeito faz uso de sua subjetividade,
sua inteligência prática e do coletivo de
trabalho buscando o resgate do sentido do
trabalho. O coletivo mencionado é construído
pelos trabalhadores com base na solidariedade,
confiança, cooperação, e “pressupõe a
existência de um espaço público da fala e da
promessa da eqüidade quanto ao julgamento
do outro” (MENDES, 2007a, p. 44).
137
 Deve-se entender, ainda, conforme
aponta Dejours (1999) que o sofrimento
na perspectiva da psicodinâmica do
trabalho, preexiste ao encontro com a
situação do trabalho. É ele quem
direciona o sujeito no mundo e no
trabalho em busca da auto-realização, da
construção da identidade que se dá no
campo social.

138
 A construção da identidade é mediada, pois
necessita do olhar e do julgamento do outro. O
sujeito não constrói sua identidade a partir de
si, então ele procura ter reconhecido seu fazer
e não o seu ser, pois “somente depois de ter
reconhecida a qualidade do meu trabalho é
que posso, em um momento posterior,
repatriar esse reconhecimento para o registro
da identidade”(DEJOURS, 1999, p. 21). Ela
decorre da “interação dialética do 'eu' -
indivíduo – com o 'outro', mediada pelas
representações e significações socialmente
construídas” (MENDES, 2007a, p. 45).
Consideram-se assim contextos históricos,
pessoais e sociais nos quais o indivíduo está
inserido.
139
140
 Um exemplo desse reconhecimento
podem ser os metroviários brasileiros,
citados nas pesquisas de Itani (1997), que
têm sua identidade construída a partir do
olhar do público. Uma imagem de
eficiência, modernidade e segurança,
através da qual essa atividade adquire
significação e sentido. O prazer emerge
quando o trabalho cria identidade, no
entanto, Mendes (2007a, p. 45) alerta
que:
141
 “ao mesmo tempo que o reconhecimento é um
dos modos de fortalecimento da estruturação
psíquica e da saúde, pode ser um modo de
captura dos trabalhadores nas armadilhas da
dominação. O trabalho na sua centralidade
exerce papel fundamental para realização do
sujeito, e essa condição é usada pela
organização do trabalho para fazer o
trabalhador se engajar na produção. A
organização do trabalho promete utilizar o
trabalho como forma de auto-realização,
levando o trabalhador muitas vezes a
exaustão em nome dessa promessa”.

142
 A partir dessa consideração percebe-se que
nas organizações produtivas sob o comando
do capital, encontram-se questões obscuras e
mecanismos para intensificar o trabalho e
incrementar a produção, revestidos nas novas
tecnologias de gestão. O capitalismo
apresenta mecanismos de poder mascarados
nos discursos participativos e manipulatórios
nas diversas formas de organização do
trabalho que desarticulam quaisquer tentativas
de reversão deste quadro. Frente a hegemonia
do capital, torna-se difícil imaginar que o
trabalhador possa dominar seu trabalho ao
invés de ser dominado por ele e, que possa
tornar-se sujeito de suas ações ao invés de ser
convertido em mercadoria.

143
144
 Na perspectiva da psicodinâmica é possível
vivenciar prazer desde que a organização do
trabalho ofereça condições para o
desenvolvimento de três importantes ações
pelos trabalhadores: mobilização da
inteligência prática, do espaço público da fala
e da cooperação. Essas ações alimentam o
prazer tanto por via direta como indireta. A
inteligência prática significa a ruptura com
regras e normas, a transgressão do trabalho
prescrito via inteligência a partir do
desenvolvimento de meios mais eficazes que a
própria organização do trabalho.

145
 O espaço público da fala é construído pelos
trabalhadores sendo o espaço no qual se
reconhece a inteligência prática e se permite a
livre expressão de opiniões. Cooperação
significa que o desempenho coletivo é maior
que a soma dos desempenhos individuais;
constitui-se na ação de construir coletivamente
produtos, idéias e serviços e pressupõe
reconhecimento e valorização e assim o
fortalecimento da identidade psicológica social
(MENDES, 2007b).
 A análise da fala e a escuta do sofrimento dos
trabalhadores, num espaço público de
discussão, possibilita o acesso e apreensão
dessas relações dinâmicas, pois para Mendes
(2007a, p. 31):

146
147
 “Esse espaço é a possibilidade de
(re)construção dos processos de
subjetivação e do coletivo, uma vez que
falar do sofrimento leva o trabalhador a
se mobilizar, pensar, agir e criar
estratégias para transformar a
organização do trabalho. A mobilização
que resulta do sofrimento se articula à
emancipação e reapropriação de si, do
coletivo e da condição de poder do
trabalhador”.
148
Só assim o sofrimento pode ser
compreendido, interpretado,
elaborado e perlaborado. Esse
espaço público de discussão
favorece a reflexão do coletivo
de trabalhadores que, dessa
forma, podem retomar suas
condições de poder para lutar
contra o desejo do capital.
149
AULA 10
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

150
 A organização do trabalho é perpassada
por contradições, como é o caso da
existência da organização real e
prescrita do trabalho. Para superar essas
contradições é indispensável o
envolvimento dos trabalhadores,
contribuição, esta, possível dentro de um
espaço de discussão. Neste sentido
Dejours (1999, p. 176) afirma que “é ao
explicar a outrem o meu sofrimento, a
minha relação com o trabalho, que eu,
perplexo, me ouço dizer coisas que eu
não sabia que sabia, até tê-las dito”.

151
 A clínica do trabalho é um modo de
revelar e traduzir as vivências de prazer
e sofrimento e assim compreender o
processo de construção da saúde no
trabalho. Segundo Mendes (2007b) ela
está comprometida com a dimensão
sociopsíquica do trabalho e a partir da
análise da organização do trabalho
busca compreender como ocorre a
subjetivação, resultado das inter-
relações entre subjetivo-objetivo,
visível-invisível, social-psíquico
particulares de cada contexto.
152
153
 Seu princípio metodológico baseia-se,
fundamentalmente, na escuta e interpretação
da fala do trabalhador e, dessa forma, tornar
aparente o invisível, desvendando as relações
de poder que permeiam e sustentam as
organizações. Consiste em revelar as
mediações entre sujeito e o real, na tradução
do real pela escuta e pela fala. Na medida em
que o trabalhador fala, passa também a pensar
e a refletir sobre suas experiências e perceber
a realidade. No entanto é preciso que vá além
da mera interpretação da realidade dos
mesmos, e para tal, segundo Mendes (2007b,
p. 59)

154
 “é necessária a interpretação dos
conteúdos expressos, por meio da
análise das contradições, incoerências e
mecanismos de defesa, para, então,
possibilitar a apreensão da dinâmica que
envolve a relação entre as vivências de
prazer-sofrimento e a saúde no
trabalho”.
 A clínica do trabalho implica na crítica
ao que está posto, no questionamento da
realidade. Duvida-se dela e busca-se,
não só o aparente, mas o invisível no
contexto do trabalho.
155
 Desvelar o sofrimento pela fala permite
resgatar a capacidade de pensar sobre
o trabalho, é um modo de desalienação,
bem como uma possibilidade de
apropriação e dominação do trabalho
pelos trabalhadores, sendo esse um
aspecto fundamental para dar início à
construção do coletivo com base na
cooperação e nas mudanças da
organização do trabalho (MENDES,
2007a, p. 32).
156
157
 É também o espaço da fala e da escuta
do sofrimento, tendo como princípio a
emancipação do sujeito em que, a partir
da reapropriação de si e do coletivo,
esboça-se o resgate do sentido do
trabalho. É uma prática na qual
conscientes de sua realidade os sujeitos
trabalhadores, conscientes de suas
funções política e social, podem,
retomando suas condições de poder,
articular o enfrentamento ao sistema de
capital.
158
 O trabalho é para o homem condição de
existência social e de criação de
identidade, no entanto, a condição
emancipadora do trabalho tem sido
relevada no contexto da sociedade
capitalista contemporânea em que
imperam as leis da racionalidade
econômica e seus princípios de
produtividade, flexibilidade e consumo.
Dependendo do contexto em que se
insere, o trabalho pode ser fonte de
adoecimento para os trabalhadores.
159
160
É esse contexto – a organização do
trabalho – que interfere na saúde
dos trabalhadores. Nas novas formas
de gestão contemporâneas e nas
diversas formas de organização do
trabalho, o capital apresenta
mecanismos de poder mascarados
nos discursos participativos e
manipulatórios, em que busca o
comprometimento operário e sua
submissão a ideologia capitalista.
161
 Em seu arcabouço teórico e metodológico,
a psicodinâmica do trabalho apresenta uma
inversão no entendimento da inter-relação
trabalho e saúde, tendo como base a análise
da dinâmica organizacional. Busca-se
(re)significar o sofrimento e construir um
caminho para a saúde. Sua metodologia
pressupõe a criação de um espaço público
de discussão, no qual, na medida em que
refletem e questionam a organização do
trabalho, os trabalhadores podem retomar
suas condições de poder e articular o
enfrentamento ao sistema de capital.
162
A psicodinâmica se afirma como
alternativa de desvelamento das
questões obscuras e os mecanismos
utilizados pelas organizações para
intensificar o trabalho e incrementar a
produção, consistindo também, numa
maneira de se compreender o sujeito
enquanto subjetividade.

163
CONCLUSÃO
TRIUNFO PESSOAL

164
Se você expressar o que está dentro de você, então o que
está dentro de você será a sua salvação. Se você não
expressar o que está dentro de você, então o que está
dentro de você irá destruí-lo (PAGELS, 1979).

Um Guerreiro começa a ser


construído por dentro. È no
coração que são cultivadas
as suas qualidades para a
sua formação.

165
O maior problema está em nosso
interior.
Um profissional com saúde
perfeita, as doenças não se instalam.
Portanto, deve-se preparar mais
internamente para a batalha
psicológica.
Cavando trincheiras que nos
defenda dos ataques psicológicos e
circunstânciais.
166
REFERÊNCIAS
 DEJOURS, Christophe; ABDOUCHELI, Elizabeth.
Itinerário teórico em psicopatologia do trabalho. In:
DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do Trabalho:
Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação
prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. p.
119-145.
 DEJOURS, Christophe. A loucura do trabalho: estudo
de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez –
Oboré, 1992.
 DEJOURS, Christophe. Banalização da injustiça
social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
 DEJOURS, Christophe. Conferências brasileiras:
identidade, reconhecimento e transgressão no trabalho.
São Paulo: Fundap: EAESP/FGV, 1999.
 DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do Trabalho:
Contribuições da Escola Dejouriana à análise da relação
prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.
167
 DEJOURS, Christophe. Uma nova visão do sofrimento humano
nas organizações. In: CHANLAT, Jean-François. O indivíduo
na organização: dimensões esquecidas. 3.ed. São Paulo: Atlas,
1993. p. 149-173.
 FARIA, José Henrique de; MENEGHETTI, Francis Kanashiro.
O seqüestro da subjetividade. In: FARIA, José Henrique de.
Análise crítica das teorias e práticas organizacionais. São
Paulo, Atlas, 2007. p. 45-67.
 FARIA, José Henrique de. Economia política do poder: uma
crítica da teoria geral da administração. Volume 2. Curitiba:
Juruá, 2007.
 ITANI, Alice. Subterrâneos do trabalho: imaginário
tecnológico no cotidiano. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.
 MENDES, Ana Magnolia. Cultura organizacional e prazer-
sofrimento no trabalho: uma abordagem piscodinâmica. In:
TAMAYO, Alvaro et al. Cultura e saúde nas organizações.
Porto Alegre, RS: Artmed, 2004. p. 59-76.
 MENDES, Ana Magnólia. Da psicodinâmica à psicopatologia
do trabalho. In: MENDES, Ana Magnólia (org.).
Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2007a. p. 29-48.

168
 MENDES, Ana Magnólia. Novas formas de organização do
trabalho, ação dos trabalhadores e patologias sociais. In:
MENDES, Ana Magnólia (org.). Psicodinâmica do trabalho:
teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007b.
p. 49-61. MENDES, Ana Magnólia. Prazer, reconhecimento e
transformação do sofrimento no trabalho. In: MENDES, Ana
Magnólia (Org.). Trabalho & saúde: o sujeito entre a
emancipação e a servidão. Curitiba: Juruá, 2008. p. 13-25.
 MERLO, Álvaro Roberto Crespo. Psicodinâmica do trabalho. In:
JACQUES, Maria da Graça Corrêa CODO, Wanderley (orgs).
Saúde mental & trabalho: leituras. São Paulo: Vozes, 2002. p.
130-142.
 PILATTI, Luiz Alberto. Qualidade de vida e trabalho: perspectivas
na sociedade do conhecimento. In: VILARTA, Roberto;
GUTIERREZ, Gustavo Luiz; CARVALHO, Teresa Helena Portela
Freire de; GONÇALVES, Aguinaldo (orgs.). Qualidade de vida e
novas tecnologias. Campinas: Ipes Editorial, 2007. p. 41-50
 SAMPAIO, José Jackson Coelho; HITOMI, Alberto Haruyoshi;
RUIZ, Erasmo Miessa. Saúde e processo: uma abordagem do
processo e jornada de trabalho. In: CODO, Wanderley; SAMPAIO,
José Jackson Coelho (orgs.). Sofrimento psíquico nas
organizações: saúde mental e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1995. p.
65-84.

169

Potrebbero piacerti anche