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Franklin Oliveira Silva

A Verdade
Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a

água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando
sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o
castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um
homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo
e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margarida. O pai e os
irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem
dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de
diamante. E a donzela disse:
- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.

E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, e o

encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a


donzela disse:
- Então está com o terceiro!

Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos

da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram


no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E
trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e encontraram no
seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela.
- Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo,
e a deixou desfalecida - gritaram os aldeões. - Matem-no!
- Esperem! - gritou o homem, no momento em que passavam a
corda da forca pelo seu pescoço. - Eu não roubei o anel. Foi ela
quem me deu!
E apontou para a donzela, diante do escândalo de todos.
O homem contou que estava sentado à beira do riacho,
pescando, quando a donzela se aproximou dele e pediu um
beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira
que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas
como era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a
donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido
no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel,
dizendo "Já que meus encantos não o seduzem, este anel
comprará o seu amor". E ele sucumbira, pois era pobre, e a
necessidade é o algoz da honra.
Todos se viraram contra a donzela e gritaram:
"Rameira! Impura! Diaba!" e exigiram seu
sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a
forca para o seu pescoço.
Antes de morrer, a donzela disse para o pescador:
- A sua mentira era maior que a minha. Eles
mataram pela minha mentira e vão matar pela sua.
Onde está, afinal, a verdade?
O pescador deu de ombros e disse:
-A verdade é que eu achei o anel na barriga de um
peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer
violência e sexo, não histórias de pescador.

Luis Fernando Verissimo


Os sentidos de um texto, falado ou escrito, não
se esgotam naquilo que ele explicita.
Compreender ou produzir um texto envolve
um processo de interação contínua entre o
enunciador e os possíveis interlocutores que,
por sua ação conjunta de criar e recriar sentido
e referência, podem ser chamados de co-
enunciadores.
A estratégia de construção de referentes no
texto, realizada por meio de expressões
referenciais, é um processo, uma ação – daí ser
a ação de referir.
Referentes são entidades que construímos
mentalmente quando enunciamos um texto.
São realidades abstratas, portanto, imateriais.
Referentes são entidades que construímos
mentalmente quando enunciamos um texto.
São realidades abstratas, portanto, imateriais.

Donzela
Nesse processo de construção e de
reconstrução da coerência textual, os mecanismos
de referenciação são essenciais. Cada vez que, por
meio de expressões nominais e de pronomes
substantivos, nós nos referimos a entidades
presentes no universo do discurso, para nomeá-las
ou redesigná-las, estamos nos valendo de
processos referenciais.
Os referentes não espelham diretamente o mundo
real. Eles são construídos e reconstruídos no interior
do próprio discurso, de acordo com a percepção de
mundo , os “óculos sociais” ( Blikstein, 1985), as
crenças e propósitos comunicativos.
Referenciação é entendida, portanto, como uma
atividade discursiva. Levando este conceito para a
sala de aula, podemos dizer que o aluno, no ato de
produzir um texto, trabalha com o material
linguístico e não linguístico que tem à sua
disposição e realiza escolhas intencionais para
representar estados de coisas, de modo condizente
com o seu propósito comunicativo ( Koch, 1999,
2002).
 Os processos de referenciação, imprescindíveis para
a unidade de coerência, desempenham funções
textual-discursivas que vão além da organização do
fluxo de informação. Por isso, acreditamos que a
referenciação contribui, inclusive, para um
alargamento do fenômeno da coesão: a “costura” do
texto não engloba apenas a possibilidade de
recuperação de um referente no cotexto, mas
implica, também, a construção de uma
representação ligada ao direcionamento
argumentativo e expressivo pretendido pelo
enunciador.
SIGNIFICADO E REFERENTE

Nem o significado das palavras, nem os referentes


pelos quais os sujeitos compreendem os objetos do
mundo, nem mesmo os próprios objetos do mundo
são estáveis e imutáveis, porque até estes últimos
dependem da maneira como são percebidos e
modelados pelos indivíduos nas práticas sociais.
A palavra ou expressão referencial fora de
contexto possui significado. Dentro do
contexto ela representa um referente.
(Cavalcante, 2012)
Segundo Cavalcante (2012):
Introdução referencial Anáforas
Introdução referencial Anáforas

termo-âncora 1. Está relacionado a


1.Não se atrela a elementos formalmente
nenhum elemento dados no cotexto.
formalmente dado no
cotexto.
2. Promove a continuidade
referencial (não ocorre
2. Introduz formalmente necessariamente
um novo referente no através do mesmo
discurso. referente)
Uma introdução referencial é instaurada somente
quando, durante o processo de compreensão, um referente
(ainda que não manifestado por uma expressão referencial) é
construído pela primeira vez na mente do coenunciador do
texto/discurso. Esse referente pode (ou não) ser retomado
anaforicamente ao longo do texto.
EM FAMÍLIA
Virgílio se chateia ao ver que Helena não
jogou fora a caixa de lembranças e decide
sair de casa. Felipe se desculpa com Silvia
por ter dito, na frente de Clara, que ela
estava interessada em Cadu. Bárbara recebe
flores de Lucas , deixando André
incomodado. Chica conta para Luiza que
Virgílio se separou de Helena.
 Ligeirinho e a ratoeira
 Estão bloqueados desde maio os bens do
apresentador Ratinho, nome artístico de Carlos
Massa. O fisco cobra-lhe R$ 53,5 milhões. Em vez de
pagar, Ratinho transferiu imóveis, carros e barcos
para a Agropastoril Café no Bule, controlada por
seus filhos. A Justiça não consegue citá-lo, mesmo
procurando-o nos estúdios de TV. Seu advogado
diz que a multa aplicada é indevida, que normas
fiscais contemplam o artista, que garantias cobrem a
dívida e que ele recorre na Justiça.
 (Revista Época, 08 de outubro de 2012, p. 37)
Retomada de um
referente por meio
de novas
expressões
referenciais.
Advogadas são agredidas e humilhadas por homem no Drive-Thru
do Mc Donald’s
01/06/2014

Da Redação do Portal AZ

O presidente regional da OAB, William Guimarães vai entrar com


uma representação nesta segunda-feira (2) na Polícia Civil, contra um
homem identificado como Roberto Marinho Barros dos Santos. Ele é
acusado de agredir três mulheres na madrugada deste sábado no
Drive-Thru da lanchonete Mc Donald's na zona leste de Teresina. Toda
a ação foi filmada pelas jovens.
A confusão teria começado quando Roberto Marinho, que estava com

indícios de embriagez, engatou a ré em seu veículo na fila da


lanchonete, temendo que houvesse uma colisão, a mulher buzinou,
fato este que desencadeou a agressão. 
 
 Veículo de acordo com o novo Código de
trânsito: já vem com o cinto de três pontos.
“O Hospital e Maternidade José Pinto do Carmo, de Baturité,
também está entrando em colapso financeiro diante das
muitas dificuldades causadas pela carência de recursos. O
desabafo é da irmã Maria Cristina Cardoso da Silva, diretora
da unidade de saúde.” (jornal O Povo, 31/12/02).

"o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as


pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou
desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso
que me alegra, montão." (Guimarães Rosa)
(Charge, Jornal O Dia, 16 de outubro de 2012.)
As introduções referenciais podem cumprir funções outras,
como a de construir processos intertextuais.
Quando ela contém introduções referenciais intertextuais,
necessitamos acionar o nosso conhecimento sociocultural.
 Catarina orienta Delano a ir atrás de Amália. Catarina diz a Lucíola
que, em breve, precisará se livrar de Virgílio. Diana alerta Virgílio
sobre o perigo que Amália corre. Rodolfo atende ao pedido de
Afonso e decide anistiar Amália e Levi. Rodolfo orienta que Afonso
seja levado para a pedreira. Amália se esconde na floresta com
Levi ao ver Delano se aproximar da casa de Brumela. Lucrécia e
uma comitiva de freiras visitam Rodolfo. Virgílio aprisiona Amália e
Levi e os leva para uma cabana afastada na floresta.
 Fenômeno em que o referente é “re”batizado, com
novas informações, explícitas ou implíticas.
 Pode ou não haver a troca da expressão referencial.
 Tem propósito argumentativo, pois ocorre um
redirecionamento do que se sabe sobre o referente.
 A recategorização é um fenômeno não-linear
(CUSTÓDIO FILHO & SILVA, 2013)
O cara de branco

O sujeito acorda, vê um homem de branco ao lado


e pergunta:
- Correu tudo bem com a cirurgia, doutor?
- Eu não sou doutor, não. Eu sou São Pedro. 

SOGRO ESPIRITUOSO
A filha enfurecida entra no escritório do pai, com o
marido à tiracolo e indaga sem rodeios:
- Papai! Por que você não coloca meu marido no lugar
do seu sócio que acaba de falecer?
E o pai responde, de pronto:
- Olhe, filha! Corra e converse com o pessoal da
funerária! Por mim, tudo bem!
A PANELA

Certa vez, um urso faminto perambulava pela


floresta em busca de alimento. A época era de
escassez, porém, seu faro aguçado sentiu o cheiro de
comida e o conduziu a um acampamento de caçadores.
Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento
estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e
dela tirou um panelão de comida. Quando a tina já
estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda sua
força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo.
Enquanto abraçava a panela, começou a
perceber algo o atingindo. Na verdade, era o calor da
tina... Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e
por onde mais a panela encostava. O urso nunca havia
experimentado aquela sensação e, então, interpretou as
queimaduras pelo seu corpo como uma coisa que queria
lhe tirar a comida. Começou a urrar muito alto. E, quanto
mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra
seu imenso corpo.
Quanto mais a tina quente o queimava, mais ele
apertava contra o seu corpo e mais alto ainda rugia.
Quando os caçadores chegaram ao acampamento,
encontraram o urso recostado a uma árvore próxima à
fogueira, segurando a tina de comida. O urso tinha
tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela, e
seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a
expressão de estar rugindo.
Quando terminei de ouvir esta história de um
mestre, percebi que, em nossa vida, por muitas vezes,
abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes.
Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam
por fora e por dentro, e mesmo assim, ainda as
julgamos importantes. (...) Apertamos essas coisas
contra nossos corações e terminamos derrotados por
algo que tanto protegemos (...) Tenha a coragem e a
visão que o urso não teve. Tire de seu caminho tudo
aquilo que faz seu coração arder. Solte a panela!
 Deixis, etimologicamente, liga-se ao ato de mostrar,
de apontar através da linguagem.

 A deixis designa o conjunto de palavras ou expressões


que têm como função apontar para o contexto
situacional, isto é, que assinalam as marcas da
enunciação: o locutor - o sujeito que enuncia, o
interlocutor - o sujeito a quem se dirige, o tempo e o
espaço da enunciação.
a) Dêiticos pessoais (apontam para os próprios
interlocutores na situação de
comunicação)/expressões que se referem às pessoas
do ato comunicativo.

(2) As frases seguintes foram proferidas, realmente, por


advogados e tiradas de registros oficiais de tribunais:

Você tem filhos ou coisa do gênero???


- Vou mostrar-lhe a Prova 3 e peço que reconheça a foto.
- Este sou eu.
- Você estava presente quando esta foto foi tirada?
(Piadas da Internet)
b) Dêiticos temporais (pressupõem o tempo em que se
dá o ato comunicativo ou o tempo em que a mensagem
é enviada)/ situam os acontecimentos em relação ao
dia, hora, mês, semana, etc.

(3) Apresentada na última sexta-feira pela polícia como


uma das autoras do assassinato de seus pais, ocorrido
no mês passado, em São Paulo, Suzane Richthofen, de
19 anos, tem muito a ensinar sobre a atual geração de
jovens de classe média. (Artigo de opinião, de Gilberto
Dimenstein – Folha de São Paulo)
c) Dêiticos espaciais (remetem ao lugar em que se acha
o enunciador, ou pressupõem esse local)/ marcam as
noções de proximidade/distância do locutor. Apontam
para um lugar situado e referido com relação a quem
fala.

(4) “Cantadas que não deram certo


Homem: Este lugar está vago?
Mulher: Está, e este aqui onde estou também vai ficar se
você se sentar aí.” (Piadas da Internet)
d) Dêiticos memoriais (indicam que o referente tem
acesso fácil na memória comum dos interlocutores e
incentivam o destinatário a buscar ali a informação de
que ele precisa)/conhecimento partilhado.

(5) Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo


chegou com aquele papo de ‘experimenta, depois, quando você
quiser, é só parar...’ e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu
coisa leve, disse que era de ‘raiz’, ‘da terra’, que não fazia mal, e
me deu um inofensivo disco do ‘Chitãozinho e Xororó’ e em
seguida um do ‘Leandro e Leonardo’. (crônica Drogas do
submundo – autor desconhecido)
e) Dêiticos sociais – relação entre os participantes da
comunicação (escolha dos níveis de linguagem,
honorífico, polido, íntimos, insultantes com maior ou
menor formalidade).

[...] O senhor mire e veja. O mais importante e bonito do


mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão
sempre mudando. Afinam e desafinam. [...]
 f) Dêiticos textuais – o espaço em que o texto se
materializa. Feita por meio do uso de expressões
que demarcam e organizam, anafórica e
cataforicamente, o tempo e o espaço do próprio
texto (escrito ou oral).

Constroem a dêixis textual expressões como referir


antes, a ideia antes expressa, como se referiu no
parágrafo anterior, como se demonstrou acima,
veremos seguidamente...
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os significados linguísticos não se alojam nas


palavras em si mesmas, limitando-se a elas, mas se
constroem durante a “negociação” dos processos
comunicativos.

Explorar o fenômeno da referenciação nas


aulas de compreensão e produção de textos é
fundamental para levar o aluno a reconstruir a
coerência textual, avaliando como os referentes se
mantêm e como evoluem no discurso.
Cabe ao professor mostrar ao aluno como
reconhecer as pistas contextuais que ajudem a
identificar o referente e a reconstruir os sentidos
pretendidos pelo enunciador. A função das expressões
referenciais não é apenas permitir a identificação de
referentes, mas também emitir pontos de vista,
opiniões implícitas ou explícitas, conduzir o
desenvolvimento argumentativo de um discurso. É
tarefa do professor alertar o aluno para saber
“desvendar os segredos” (cf. Koch, 2002) que essas
expressões carregam.

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