Garcia.) Durante a hora lúdica não é necessário que a criança permaneça o tempo todo brincando. Há silêncios eloquentes como os dos adultos, há momentos de inatividade que não significam passividade, assim como há muitas conversas que não podem ser consideradas como comunicação e atividades que tampouco podem ser consideradas como tais. Um paciente pode chegar e contar tudo o que fez na escola como se etivesse simplesmente relatando um noticiário, carente de qualquer emoção. O papel do psicólogo na hora de jogo diagnóstica é o de um observador não participante. Mas essa não participação tem um limite. Existem crianças que ao chegar já solicitam que façamos alguma coisa com elas. Essa pode ser a forma que elas encontram para manter-nos entretidos porque temem que possamos fazer-lhe algum mal, uma sedução por motivos mais ou menos semelhantes, ou então, uma verdadeira forma de buscar contato. Outra dúvida frequente se refere ao fato de fazer ou não anotações durante o transcurso da sessão, seja ela diagnóstica ou terapêutica: o ideal é não fazê-lo, ou então, anotar algum detalhe que nos permita depois reconstruir a sequencia completa. O psicólogo anotando minunciosamente tudo o que a criança faz torna-se persecutório, distrai tanto a criança como a si mesmo e provoca outras reações na criança (ou adolescente e, inclusive, nos adultos), como, por exemplo, rivalidade se eles não sabem escrever ou não o fazem tão rapidamente quanto nós, intriga se não entendem nossa letra, tentação de transformar a sessão em uma aula escolar, favorecendo as resistências, ou então em um escritório no qual somos a sua secretária e ele nos dita o que devemos escrever. Dentro de um armário permanecerão guardadas as caixas dos outros pacientes e não será permitido que a criança nem a sua família as examinem livremente. Esse também é um elemento importante do enquadre e significa que prometemos guardar segredo profissional, não permitindo a interferência de estranhos na sua individualidade, assim como nesse momento não permitimos que eles toquem o que não lhes pertence. No primeiro contato com os pais, ou seja, durante a primeira entrevista, faremos perguntas sobre as diferentes áreas da vida da criança. Uma dessas áreas a serem exploradas é o seu tempo livre, o que faz, de que brinca e com quem. Se existir um material que seja de sua especial preferência, podemos incluí-lo no material da caixa ou, dependendo do que for, pedir à mãe que o traga quando vier com o filho para a hora de jogo. Em certos casos, é conveniente incluir brinquedos ou materiais que estejam relacionados com o conflito da criança para ver quais as associações que surgem. Não é permitido, seguindo a regra de abstinência de S. Freud, assumir papéis que a criança (ou adolescente ou adulto) nos atribua e que impliquem uma atuação da transferência agressiva ou erótica, pois isso perturba o sentido da situação analítica. A mesma postura aplica-se à situação diagnóstica. Em relação às condutas agressivas, tais como sujar ou estragar, devemos deixar fazer até o ponto em que possamos nós mesmos consertar o objeto danificado. Por exemplo, podemos aceitar que suje uma parede de azulejos, mas não uma que não possamos lavar facilmente, podemos aceitar que rasgue papéis, giz, lápis, mas não a cadeira na qual logo após deverá sentar outra criança. Quando os pais estiverem presentes e a criança fizer algo perigoso ou danoso, serão eles os que, em primeiro lugar, deverão colocar os limites. Se não o fizerem, já teremos uma informação muito valiosa. Se o fizerem, observaremos quem e como o faz. No caso de nenhum dos membros da família colocar um limite necessário, isso deverá ser feito pelo profissional.