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O Novo Testamento

Bibliologia
Por: José Luís C. Pereira
O Novo Testamento

Sumário: 3. As Cartas de Paulo (escritos


1. O Novo Testamento paulinos)
3.1 – O género epistolar e as epístolas de S. Paulo
1.1.– O Novo Testamento: sua importância e significado
3.2 – As Cartas de S. paulo
1.2 – O Novo Testamento: a formação dos escritos e a
fixação do cânone
1.3 – O Novo Testamento: o seu texto – manuscritos 4. Outras epístolas (Carta aos
1.4 – O Novo Testamento: sua composição
1.5 – O Novo Testamento: os géneros literários
Hebreus e Cartas Gerais)
4.1 – A Epístola aos Hebreus e as Epístolas católicas

2. Evangelhos e Atos dos 5. O Apocalipse


Apóstolos 5.1 – O Apocalipse
2.1 – «Evangelho» e Evangelhos. O género literário
Evangelho.
2.2 – Os Evangelhos sinópticos e o problema sinóptico
6. Uma análise de um texto:
Lc 15, 11-32 – O Filho Pródigo
2.3 – O Evangelho de S. Mateus
2.4 – O Evangelho de S. Marcos
2.5 – O Evangelho de S. Lucas 7. Bibliografia recomendada
2,6 – O Evangelho de S. João
2.7 – Breve resenha comparativa dos Evangelhos (E.F.C. 7)
2.8 - Os Actos dos Apóstolos
1. O Novo Testamento
1.1. – O Novo Testamento:
sua importância e significado
O adjetivo «novo», qualificativo da colectânea das escrituras cristãs, complemento do Antigo Testamento, não
pretende evocar uma ruptura com o que é «antigo», mas sim exprimir a novidade de JESUS CRISTO, o poder
vivo do Seu ministério de paixão, morte e ressurreição, que preenche e cumpre o que a precede.

A expressão «Novo Testamento» (do latim Novum Testamentum e do grego Kaine Diatheke) é equivalente a
Nova Aliança ou Novo Pacto. Concerteza terá origem nas palavras do próprio Jesus, na Última Ceia, ao
instituir a Eucaristia, chamou Nova Aliança a Seu sangue (cf. Mt 26,28; Mc 14,24; Lc 22,2o; 1 Cor 11,25).

O NT, como cumprimento do AT, deve ser lido pelos cristãos com respeito e veneração que expressem a sua origem divina e destino salvífico.
Também deve ser meditado com o mesmo espírito com que foi escrito. Como nos diz a Dei Verbum, nº 17:
Excelência do Novo Testamento, 17. «A palavra de Deus, que é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê (cfr. Rm 1, 16), apresenta-se
e manifesta o seu poder de um modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou a plenitude dos tempos (cfr. Gal 4, 4), o
Verbo fez-se carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade. Cristo estabeleceu na terra o Reino de Deus, com palavras e obras manifestou o
Pai e manifestou-se a Si mesmo e completou a Sua obra com a Sua morte, ressurreição e gloriosa ascensão e com o envio do Espírito Santo.
Levantado da terra, atrai todos a Si (cfr. Jo 12, 32), Ele, que é o único que tem palavras de vida eterna (cfr. Jo 6, 68). Este mistério, porém, não foi
revelado a outras gerações, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito Santo (cfr. Ef 3, 4-6), para pregarem o
Evangelho, despertarem a fé em Jesus Cristo e Senhor, e congregarem a Igreja, Os escritos do Novo Testamento são um testemunho perene e divino
de todas estas coisas».
Assim, o Novo Testamento não é uma simples continuação do Antigo, no Novo Testamento a Palavra de Deus torna-Se Pessoa, pela
Encarnação de Cristo. O Novo Testamento não só resume o Antigo, mas é a razão de ser deste. A Palavra tem de ser proclamada a todas as
gerações, essa Palavra é a Pessoa de Jesus Cristo. Por isso, Ele envia os Seus Apóstolos e continua a enviar hoje.

MENSAGEM ESSENCIAL DO NT. O NT proclama a graça e a exigência de Deus, Todo-poderoso, Pai que ama Seus filhos, os homens, que
enviou o Seu Filho para salvar-nos («cf. Credo Niceno-Constantinopolitano). Em Jesus Cristo, vemos o Pai; Jesus veio para fazer a vontade de
Seu Pai, conduzir os homens a ser participantes da natureza e glória divinas: Ele é o Salvador, o Messias, o Senhor, o Filho de Deus. O NT
revela-nos o mistério da Unidade e Trindade divinas. O poder de Deus manifesta-se na vida de Cristo, na Sua morte redentora e na
Ressurreição; n’Ele fomos libertos do pecado, da morte e do demónio para vivermos em liberdade a glória dos filhos de Deus (Rom 8,21).

O NT dá testemunho de JESUS CRISTO, testemunhando a Sua vinda, obras e ensinamentos. Os Evangelhos dão-nos a conhecer a maravilhosa
a e amorosa vida de Jesus entre os homens, as Suas acções e palavras, a Sua morte redentora e a Sua Ressurreição gloriosa. Os Actos dos
Apóstolos conservam a primeira eclosão do fruto do Evangelho de Jesus Cristo nas comunidades. As cartas ensinam as comunidades a viver com
o Evangelho. O Apocalipse dá-nos a esperança nas tribulações: os filhos de Deus devem esperar no Senhor, adequando a sua vida à vinda glorioso
de Jesus Cristo.
1.2. – O Novo Testamento: a formação
dos escritos e a fixação do cânone
O NT teve uma história da redacção semelhante à do AT, embora o período que medeia desde a tradição oral até à obra escrita fosse muito mais
breve – um século aproximadamente – e o seu conteúdo mais unitário, por centrar-se numa só personagem: Jesus de Nazaré. Mais lenta foi a
clarificação dos livros que haviam de formar parte do cânone, que durou vários séculos.

I - A FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO. Passou por três etapas essenciais de formação, que podem ver-se no Prólogo de Lucas:
«Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o
princípio foram testemunhas oculares e se tornaram «Servidores da Palavra», resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente
desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste
instruído». Estas três etapas podem-se resumir a duas grandes etapas: a tradição oral e a escrita.1ª - TRADIÇÃO ORAL. a) Fase da
História (6a.C./30): «narração dos factos que entre nós se consumaram». É a fase em que Jesus vive e ensina; não escreveu nada, mas deixou o
Seu testemunho a um grupo de discípulos; b) Fase da Transmissão (30 a 70): «como no-los transmitiram». À luz da Ressurreição e do
Pentecostes, os Apóstolos compreendem plenamente os ditos e actos de Jesus, dos quais foram testemunhas. As comunidades cristãs primitivas
recordavam o que Jesus disse e fez em três aspectos de vida: na pregação (destaque para o kerigma, primeiro anúncio, do género: «Aquele Jesus
a quem vós crucificastes, Deus O ressuscitou e O constituiu Senhor de todas as coisas»), na catequese e no culto. 2ª – TRADIÇÃO ESCRITA.
c) Fase da redacção ou da escrita (70/100): «resolvi eu também, … expô-los a ti por escrito». Baseando-se nas tradições orais, começa-se a
escrever curtos escritos, como colectâneas de ditos, da Paixão, de milagres, parábolas, etc.; mais tarde, entre 70 (ou 65) a 100 cada evangelista
redige o Evangelho de Jesus, inspirado pelo Espírito Santo, cada um com uma finalidade e características próprias.; mais tarde, esses escritos
são retocados. Antes disso, Paulo tinha escrito as suas cartas (entre 51 e 63).

Quadro extraído de «Para ler o Novo Testamento», Etienne Charpentier, Editorial Perpétuo Socorro.
1.2. – O Novo Testamento: a formação
dos escritos e a fixação do cânone
51-64: Escritos Paulinos: 64 (?)-: 65-85: Evangelhos Sinópticos e Actos 85-100: Escritos Joaninos
51- 1 e 2 aos 1ª Carta dos Apóstolos: (Evangelho, Cartas e Apocalipse):
Datas de
Tessalonicenses; 65-70 – Evangelho segundo S. Marcos -80-90 – Evangelho segundo S.João e
aproximadas Pedro Cartas de S. João (I, II e III)
56-58 – 1 e 2 aos Coríntios, 75-80- Evangelho segundo . Mateus,
de alguns Gálatas, Filipenses, segundo S. Lucas e Actos dos Apóstolos -95-100 – Apocalipse de S. João
escritos do Romanos; 80 – Carta aos hebreus
NT: 61-63: aos Colossenses, 100-125 – 2 Epístola de Pedro
Efésios, Filémon.

II – A FIXAÇÃO DO CÂNONE. A constituição do cânone do NT foi progressiva: admitia-se um livro, rejeitavam-se outros… Para tal, como
vimos, admitiram-se os livros que obedeceram aos critérios: a sua origem apostólica (admitiram-se como canónicos aqueles escritos que
surgem dos apóstolos, ou dos seus imediatos colaboradores, ou das comunidades directamente relacionadas com eles); a ortodoxia (a
conformidade destes escritos com a pregação de Cristo, a Sua vida e anúncio; por isso se rejeitaram os apócrifos); e a sua catolicidade (o
seu uso generalizado em quase todas as Igrejas, segundo testemunha o seu uso litúrgico). É um acto de fé no Espírito que guia a Igreja!

a) Organizam-se colecções: primeiro uma colecção de cartas de Paulo, depois uma colecção dos evangelhos e das cartas católicas;

b) No séc. II, dois tipos de heresias, aceleram, por reacção, a delimitação do cânone: os gnósticos (que juntava ao cânone numerosos escritos,
como o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Filipe, etc); e a doutrina de Marcião (herege, que por volta de 150, em Roma, rejeita o AT e uma
parte do NT, só conservando o Evangelho de S. Lucas, com supressões e as Cartas de Paulo sem os supostos “acréscimos” judaicos); além
disso, Taciano leva a cabo o Diatessaron, que tentou reunir os quatro evangelhos num só, limitando a riqueza dos mesmos…

c) Entre 150 e 300, o cânone actual está quase fixado. Alguns testemunhos da éopoca: o Cânone de Muratori (do nome do seu descobridor),
manuscrito do séc. VIII, reproduz a lista aceite em Roma por volta de 180; os escritos de Ireneu (morto por volta de 202), de Tertuliano
(morto em 220), de Clemente de Alexandria (morto antes de 215), de Orígenes (morto em 254), São Hipólito (morto em 235), S. Cipriano
(morto em 258), etc. Estas listas correspondem mais ou menos ao actual cânone; os livros, por evzes contestados, são Hebreus, Tiago, 1 e 2
Pedro; incluem-se por vezes a Didaché, o Pastor de Hermas, o Evangelho de Pedro…

d) No séc. IV, o cânone está fixado, com alguns matizes conforme as igrejas. Na Igreja grega, Eusébio de Cesareia (morto em 340), reconhece o
actual cânone, excepto o Apocalipse; mas em 367, Santo Atanásio, numa carta escrita na Páscoa, fixa o cânone do At e do NT tal como
hoje o conhecemos. Na Igreja síria, a versão oficial, a Peshitta, não inclui 2 Ped, 2 e 3 Jo, Judas e Apocalipse. Na Igreja latina, Jerónimo
que, de 384 a 395, traduz a Bíblia em latim (a Vulgata), adopta a lista de Santo Atanásio.

e) A lista de Santo Atanásio foi aceite no Ocidente em 382, pelo decreto do Papa Dâmaso, a seguir ao Sínodo de Roma; os Sínodos de Hipona
(393) e Cartago (397 e 419); na carta do Papa Inocêncio I ao Bispo de Toulouse (405), Sínodo de Trullan (692); e de maneira solene e
universal, a 4/2/1442, na Bula Cantate Domino, do Concílio de Florença é definido o cânone actual; no Concílio de Trento, na sessão de 8
de Abril de 1546 é fixado o cânone da Bíblia, tanto do AT como do NT; o Concílio Vaticano I confirmou o de Trento.
1.3. – O Novo Testamento:
o seu texto - manuscritos
MANUSCRITOS DO NOVO TESTAMENTO. Não possuímos os originais (autógrafos) dos livros do NT, apenas cópias. Dos manuscritos
do NT (cerca de 2500), destaca-se duas espécies: papiros e pergaminhos. Os mais importantes são os 266 códices maiúsculos e os 84 papiros.
Alguns deles são do séc. II, muito perto da época da redacção do NT; muitas das obras da antiguidade clássica apenas remontam a versões da
Época medieval, pelo que o NT é a obra da antiguidade sobre a qual temos maior segurança textual. Entre os manuscritos há pequenas variantes,
papel da crítica textual apurar com a maior precisão o texto primitivo (por ex., o mais curto e difícil é o mais provável).

PRINCIPAIS PAPIROS. Escritos em material de origem vegetal, mais antigos que os pergaminhos.
Nome Sigla Data Lugar Conteúdo Observações
Ryland’s P52 120- - Descoberto em Egipto; Jo 18, 31-33.37-38 10 anos após a redacção do
130d.C. - Biblioteca Ryland’s Evangelho de João

Papiros P45 Séc. III Adquiridos no Egipto por - Papiro 45 (trechos dos 4 Evangelhos e Actos);
«Chester P46 A. Chester Beatty em - Papiro 46 (quase todas as cartas paulinas);
Beatty» P47 1930-1931 - Papiro 47 (Apoc 9,10-17,2 com lacunas).
«Bodemer P66 200d.C. Conservado na Biblioteca Jo 1,1-14,26 (quase todo o Evangelho de João) Grande amplitude e
II» de Cologny (Suíça) partes de capítulos posteriores; antiguidade
Bodmer XV P75 mais antigo que contem Lc 3,18-
o anterior 24,53 e Jo 1,1-15,8.

PERGAMINHOS. Podem ser: maiúsculos (compostos em caracteres maiúsculos, aproximadamente de uma polegada) ou minúsculos.
PRINCIPAIS CÓDIGOS MAIÚSCULOS
Vaticano B Séc. IV Biblioteca Apostólica AT (versão dos LXX); NT (até Heb 8,14c)
do Vaticano

Sinaítico S Séc. IV Descobertos no mosteiro de Santa AT e NT


Catarina (Sinai). Conservado no Museu
Alexandrino A Séc. V Britânico desde 1933. AT e NT (só algumas lacunas nos
Evangelhos e II Cor)
Efrém C Séc. V Bibloteca de Paris
Código
Beza ou D Séc. V Universidade de Evangelhos e Actos; mais antigo bilingue (latim-grego) Vaticano
Cantabrigense Cambdridge
CÓDIGOS MINÚSCULOS: Os minúsculos foram escritos a partir do séc. IX. As duas grandes famílias são: a Ferrar e a Lake.
1.4. – O Novo Testamento:
sua composição
O NT compõe-se de 27 livros:
• Escritos em grego koiné ou comum; fala-se também, como hipótese, num original em aramaico
do Evangelho de S. Mateus que se terá perdido…)
• Escritos por variados autores; alguns livros da Bíblia são pseudónimos, isto é, atribuídos a uma
personagem importante para terem maior aceitação pelo público;
• Escritos num período entre 50 e 75 anos; a ordem histórica não é igual à ordem canónica (por
exemplo, nos Evangelhos aparece na Bíblia o de Mateus em primeiro lugar, quando na verdade o
mais antigo é de Marcos); as datas em que foram escritos não são certas; as Cartas tiveram uma
escrita mais rápida, enquanto que os Evangelhos são o resultado de uma longa formação, como
vimos.

Os 27 livros podem dividir-se em grupos:


1º - LIVROS HISTÓRICOS: os quatro
Evangelhos (sendo o de Mateus, Marcos e
Lucas os chamados Sinópticos) e os Actos
dos Apóstolos (segunda parte da obra
lucana);
2º - LIVROS DIDÁCTICOS
(EPISTOLARES): As Epístolas (13 de S.
Paulo, a Epístola aos Hebreus e as 7
católicas (dirigidas a toda a Igreja); por
vezes, subdivide-se as Epístolas nestes três
grupos);
3º - LIVRO APOCALÍPTICO OU
ESCATOLÓGICO (também chamado de
profético): o Apocalipse.
As Cartas de S Paulo são os chamados
ESCRITOS PAULINOS; o Evangelho de S.
João, a 1, 2 e Carta de João e o Apocalipse,
são chamados de ESCRITOS JOANINOS
(pertencem à «escola joanina»).
1.5. – O Novo Testamento:
os gêneros literários
No NT podemos distinguir os seguintes géneros (tipo «moldes pré-fabricados») e estilos literários (maneira de se exprimir):

1) O gênero Evangelho (ver ponto seguinte) que se subdivide em: Evangelhos com tradições da palavra (ditos proféticos, sapienciais,
preceitos, parábolas); com tradições da história (controvérsias, relatos de milagres, narrações históricas, história da paixão e outros relatos);
- Parábolas: grande novidade, sem esquema fixo; fazer com que o ouvinte ou leitor, pecador, se reconheça protagonista dessa história. Para
Mc, é quase tudo: Cristo falava mediante Parábolas (comparações; Mc 4, 30: “é como”; Mc não é modelo). Modelo é Lc, pois este é mestre
na arte de contar Parábolas. Exemplo: A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS - O Filho Pródigo (Lc 15, 11-32).
- Relatos de milagres: 1) Constatação da situação; 2) Pedido de intervenção: pessoa ou outrem; 3) Intervenção de Jesus: prova fé da
pessoa; afirmação, gesto ou atitude variável; 4) Resultado produzido; 5) Atitude de louvor ou maravilha pela pessoa que é curada (reacção
dos espectadores ou do próprio varia). Esquemas não rígidos (nos Sinópticos); Ex.: CURA DO CEGO BARTIMEU (Mc 10, 46-52):.
- Relatos de vocação ou de chamamento (dos discípulos): breves; esquema: Cristo olha-os, olhar interpela, reage com a Pessoa; resposta
por palavras, deixar tudo sinal de resposta positiva; e depois seguem-No, não fisicamente, mas aceitam-no como projecto de vida.
- Relato de discursos: em Mateus os discursos de Jesus são longos (5 discursos como no Dt, como Moisés), noutros são mais breve.
- Controvérsia: Discussão verbal (acesa) entre Jesus e escribas e fariseus; com os discípulos não há controvérsia; 1º momento: gesto ou
palavra de Jesus (que provoca espanto); 2º momento: debate (formulação pergunta, resposta); 3º: opção: divisão entre as testemunhas: é a
reacção (pode ser de admiração); noutros casos é a opção; Mc 12, 13-17: opção: “E ficaram admirados d’Ele”.
- Sentença enquadrada (ou inclusão): é mais um procedimento literário; expressão no princípio e fim, ex. Jerusalém; no meio está um
pequeno texto, a inclusão; ex. Mt, geração má; palavras flutuantes (ou texto errático): sem sequência lógica e para não se perder essa
afirmação de Jesus, dita não se sabe em que contexto, encaixa-se onde se pode.

2) Género epistolar (Cartas, ver Cartas paulinas), no qual podemos distinguir: materiais litúrgicos (hinos, confissões de fé e textos
eucarísticos), parenese (catálogo de virtudes e vícios, obrigações da família, catálogo das obrigações) e fórmulas (de fé, doxologias).

3) Género ou estilo apocalíptico: presente no Apocalipse de João, mas também nos evangelhos sinópticos (cf. Mc 13 e par.); revela planos
Deus linguagem enigmática e codificada, mensagem escondida; simbolismo.

4) Estilo Midrash: presente nos evangelhos da Infância (cf. Mt 1-2 e Lc 1-2). Actualização de muitos textos do AT que se realizam nele.
5) Estilo teofânico e epifânico: Teofania: manifestação de Deus que Se revela. Elementos: “céus rasgaram-se”; Espírito Santo desce como
pomba; voz vinda do céu. Epifania é à Revelação aos povos pagãos, personalizados pelos Reis Magos: manifestação de Cristo e de Deus.
6) Narrativização de ideias: os autores do NT, em vez de fazerem afirmações secas, fazem Narrativa: forma bonita de contar ideia,
experiência de Cristo ressuscitado.
2. Evangelhos e Atos dos
Apóstolos
2.1. – «Evangelho» e «Evangelhos».
O gênero literário Evangelho.
EVANGELHO: de origem grega, significa «boa nova», «boa notícia», «notícia que traz felicidade», «anúncio de uma boa nova». De onde vem a
palavra «evangelho»? Do AT! O verbo grego «evangelizein» já se usa no AT com o sentido de «anunciar a salvação que Deus concede» (Is 40, 9;
52,7; 60,6; 61,1); é o Deutero-Isaías (profeta do exílio) o primeiro a empregá-la para anunciar o regresso a Jerusalém dos Judeus exilados e
deportados para a Babilónia. Apoiando-se neste significado religioso judaico e no uso, também religioso, que então tinha a palavra referida a
oráculos ou ao culto imperial, os autores do NT empregam o substantivo grego «evangelion», com o significado de «boa nova»; S. Paulo fá-lo por
60 vezes; mais tarde, no séc. II, emprega-se a palavra «evangelhos» para designar certos escritos («as recordações dos apóstolos»).
No NT, «evangelho» significa então: a) a pregação de Jesus ou dos Apóstolos; b) O conteúdo dessa pregação, a «boa nova, o anúncio da
chegada do Reino de Deus»). Como esta notícia é única, é evidente que há só um Evangelho.
Posteriormente, aos quatro escritos que contêm a pregação dos Apóstolos chama-se «evangelhos». Portanto, há um só Evangelho (uma só «boa
nova») escrito de quatro maneiras diferentes a que chamamos «os quatro evangelhos».
Cristo é sujeito: é o autor da proclamação da Boa notícia e seguido pelos Seus discípulos; Cristo é objecto ou o conteúdo: Ele é a Boa Notícia, a
Sua Morte e Ressurreição. O Evangelho torna-se livro (s): o que foi proclamado oralmente foi passado a livro e o que está em livro remete para a
proclamação oral de Jesus Cristo. O Evangelho de Jesus é a totalidade da Boa Notícia de Jesus.

GÊNERO EVANGELHO: «Que formosos são sobre os montes


- Mais do que um relato, são uma mensagem; a preocupação dos
as pés do mensageiro que anuncia a paz,
Evangelhos não é descrever a vida de Jesus em todos os que apregoa a boa-nova,
pormenores (não são Biografia, pois há aspectos poucos ou nada e que proclama a salvação!
falados, ex. Infância de Jesus e não há compromisso do autor Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!»
para com o que escreve), mas uma selecção de coisas Is 52, 7
adequadas ao plano dos Evangelistas; nasce com Marcos;

- São textos teológicos e confessionais: «E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o
a) teológicos, porque quem escreve é teólogo (pessoa que fala de Evangelho a toda a criatura».
Cristo) e vai metendo no meio dos textos seu ponto de vista, que
obedece a um plano seu de Fé (não se compara com a reflexão Mc 16,15
teológica actual, pois reflectem Lei da Vida, as experiências
herdadas de Jesus Cristo); cada evangelista é um autor que tem
o seu plano pessoal para dar uma visão teológica de Jesus;
b) e são confessionais quem escreve se compromete com o que O EVANGELHO É A BOA-
escreve, pois é cristã. Não se equiparam a nada, nem no AT , nem
literatura greco-romana. NOVA, É O PRÓPRIO
CRISTO.
2.2. – Os Evangelhos sinópticos
e o problema sinóptico
Dos quatro evangelhos contidos no Novo Testamento só o de João tem uma orientação, vocabulário e estrutura peculiares; os outros três (os de
Mateus, Marcos e Lucas) são tão parecidos e seguem o mesmo esquema, a mesma matéria e até a mesma expressão literária, que se se editassem
os seus textos em três colunas paralelas, poderíamos com um relance de olhos encontrar as coincidências e as divergências. A palavra grega
«sinopsis» - sinopse - significa «olhadela», «visão de conjunto»; é em virtude das características destes três evangelhos que se lhes chama
«sinópticos». A existência destas semelhanças e diferenças entre os três evangelhos constitui o «facto sinóptico». Uma Sinopse é o
instrumento mais importante para um trabalho com os três Evangelhos. Pode-se tentar harmonizar os evangelhos num só; contudo, os textos de
um evangelho não podem ser ofuscados por trechos de outros Evangelhos, pois têm particularidades.

Têm o mesmo esquema (preparação, Galileia, viagem a Jerusalém, Jerusalém, prisão, morte e ressurreição), muito material comum e
coincidências textuais, mas o objectivo de cada um é diferente. Alguns números : Marcos é o mais breve: dos 673 versículos, só uns 30 são
exclusivamente seus e cerca de 80% se encontram em Mateus e 65% em Lucas; Mateus tem um total de 1068 versículos, tendo de
propriamente seus uns 330 (30%); coincide com Marcos em 503 (48%) e com Lucas em 235 (22%); Lucas é o mais longo dos três, pois tem 1149
versículos; deles 548 (48%) só se encontram neste evangelho; uns 350 (31%) também estão em Marcos e 235 (21%) são comuns a Mateus. Todos
têm material próprio que não se encontra nos outros Evangelhos. Por exemplo, os relatos do nascimento e da infância de Jesus encontram-se
apenas em Mateus e Lucas, e são muito diferentes um do outro. O Sermão da Montanha, que começa com as Bem-aventuranças, é muito extenso
em Mateus, breve em Lucas e está ausente em Marcos. O relato da Paixão é essencialmente idêntico nos três.

Que explicação têm essas coincidências e diferenças? É o Problema Sinóptico. A princípio


pensava-se que o evangelho mais antigo seria o de Mateus e Marcos seria uma síntese dele..
Mas a hipótese mais aceite é a da «teoria das duas fontes (ou quatro)», que tem os
pressupostos:
a) Marcos é a base dos outros dois, pois é o inventor do género «evangelho». E Marcos
baseia-se numa fonte que lhe antecede: «Proto-Marcos», que conteria as acções de Jesus, pois
Marcos contém quase só factos e não discursos do Senhor (excepto: Mc 4, 3-34; 13, 2-27);
b) Que o que não está em Marcos, mas em Mateus ou Lucas, consiste quase tudo em discursos
recolhidos praticamente da mesma forma, o que faz pensar que os dois beberam na mesma
fonte. Esta fonte de informação, diferente de Marcos, é «Q» (do alemão Quella, «fonte»),
que conteria uma colecção de ditos de Jesus (os logia), do género “Jesus disse”. Alguns
consideram Q uma tradução grega de uma redacção primitiva aramaica cujo autor seria - Textos de Tradição simples (presente só num;
Mateus; ex.: o Filho pródigo em Lc).
c) Que se tem de admitir, outra fonte desconhecida de cada evangelho, especialmente do de -De tradição dupla (estão em Mt e Lc e não em
Lucas (a fonte Q2), textos independentes que circulavam. Mateus e Lucas têm alguns textos Mc, ex: o sinal de Jonas, Mt 12,38-42; Lc 11,29-
próprios (no gráfico M para Mateus, e L para Lucas), mas Marcos muito poucos. 32);
A tradição dum mestre costumava-se reunir em dois blocos: um que narrava os factos, outro -De tradição tripla (presentes nos três; por ex.:
que apresentava os ditos ou sentenças. O mesmo teria acontecido com a tradição de Jesus. a parábola do semeador: Mt 13,3-23; Mc 4,3-9);
Lc 8,5-15).
2.2. – Os Evangelhos sinópticos
e o problema sinóptico
UM EXEMPLO DE SINOPSE: o texto da cura da sogra de Pedro.

Mt 8 Mc 1 Lc 4
14. E entrando Jesus 29. Saindo da sinagoga. 38. Deixando a sinagoga,
na casa de Pedro, foram para casa de Simão entrou em casa de Simão.
e André.
viu a sua sogra no leito, 30. Ora, a sogra de Simão Ora, a sogra de Simão estava
com febre. estava de cama com febre. com muita febre,
E imediatamente e intercederam junto d’ Ele
Lhe falaram dela. em seu favor.
15. Tocou-lhe com a mão 31. Aproximando-se. 39. Inclinando-se sobre ela,
e a febre tomou-a pela mão ordenou à febre
deixou-a. e levantou-a. e esta deixou-a.
E, levantando-se, A febre Erguendo-se,
pôs-se a servi-Lo. deixou-a. imediatamente,
e ela começou a servi-los. começou a servi-los.

Algumas conclusões:
-é um relato com três tradições textuais diferentes, pois cada Evangelista tem a sua visão das coisas, influenciado pelas comunidades cristãs
em que se inseriam.
- Quanto ao conjunto do texto, Mateus é sucinto, vai directo à questão sem rodeios (não diz donde Jesus vem); Marcos, que costuma ser mais
breve, diz de onde Jesus vem e para onde vai; entre Marcos e Lucas as diferenças são poucas.
- Em Marcos, Jesus «levantou-a», ou seja a capacidade das curas remete para capacidade de ressuscitar, foi Cristo quem a levantou (o verbo em
grego é o mesmo utilizado na Ressurreição de Jesus, sendo alusão a esta; Marcos quer preparar o leitor para esse facto).
- Lucas apresenta um texto mais literário, pois é mestre arte de contar (de narrar); utiliza o advérbio «imediatamente» para sublinhar o
carácter imediato intervenções Jesus, ficando a pessoa logo curada; é o que mais utiliza “hoje” nos discursos, pois a Salvação em Cristo não é
algo do passado, mas é algo acontece agora.
-Em Mateus temos só duas personagens, suprime detalhes da cura, os nomes (excepto o de Pedro) e a intercessão da família, centrando a
atenção em Jesus e a pessoa curada; «pôs-se a servi-Lo» e não a «servi-los» como nos outros, pois a cura foi completa e aqueles que são salvos
por Cristo terão de se entregar a Seu serviço.
2.3. – O Evangelho de Mateus
SÍMBOLO. Homem, narra a genealogia de Jesus Cristo (tirado de Ez 1,5s e Ap 4,6s, fixado por S. Jerónimo) enquanto homem: por isso, lhe deu
um rosto humano. Transformando depois em anjo, evocando talvez a cena da anunciação do nascimento de Jesus.

AUTOR. Tradicionalmente é o Apóstolo Mateus. O testemunho mais antigo desta tradição é o de Papias, bispo de Hierápolis
(actual Turquia), por volta de 130: «Mateus ordenou (compôs) as palavras (logia) do Senhor em língua hebraica (aramaico) e
cada um as interpretou como pôde» (Eusébio, H.E., III, 39). Seria um homem que redigiu as palavras recolhidas por Mateus?
Indícios internos que poderiam indicar S. Mateus como autor são: o facto de só em Mt 9,9 se dar ao cambista convertido o
nome de Mateus e o título nada honroso de «publicano» (Mt 10,3); além disso, é ele que fala mais frequentemente em dinheiro,
indicando com maior exactidão técnica as classes de moedas ou tributos. De qualquer forma é um homem culto, de origem
judaica, um escriba habituado a explicar as Escrituras e a redigir documentos; escreve num grego melhor do que o de Marcos e
parece mais uma adaptação da redacção aramaica (a que Papias se refre) do que uma tradução do aramaico para o grego. A sua
ligação cronológica não costuma ter valor temporal.

ONDE, QUANDO E PARA QUEM FOI ESCRITO? Foi escrito, quase de certeza, em Antioquia da Síria; data: entre 80-90 (embora outras
teorias mais antigas digam que foi composto em 68, data bastante improvável); dirige-se a crentes provenientes do judaísmo (judeo-cristãos).
Uma análise interna do Evangelho leva a concluir isso: refere-se constantemente às Escrituras («Isto aconteceu para que se cumprisse…»); o seu
modo de se exprimir é judeu (fala do Reino dos céus, 51 vezes, e não do Reino de Deus, porque os judeus não gostam de pronunciar o nome de
Deus; gosta de repetições e paralelismos, agrupamentos numéricos (7 parábolas, 7 pães e 7 cestos, etc…); encontramos inúmeras alusões a
costumes judaicos («oferta perante o altar», «orar para ser visto»…)

DIVISÃO DO LIVRO. Esquema clássico sinóptico; O ponto culminante é o Sermão da Montanha, começando pelas Bem-aventuranças. e o instrui
em 5 discursos como 5 são os livros da lei que se atribuíam a Moisés Tem 5 secções: Começa por um prólogo (nascimento e infância de Jesus, 1-
2), o anúncio do Reino dos céus (3-7), os segredos do Reino dos céus (11,1-13,52), a Igreja como sinal do Reino dos céus (13,53-18,35), a última
vinda do Reino dos céus (19-25) e o epílogo (Paixão e Ressurreição de Jesus, 26-28). Cada uma das partes inclui um trecho narrativo e um
discurso. Não existe oposição entre Galileia e Jerusalém; Jesus prega só aos judeus; na Galileia começa a expansão pelo mundo.

CARACTERÍSTICAS DE MATEUS. É o mais judaico dos evangelhos, como vimos; Mateus é um docente; a sua preocupação é mostrar que
Jesus é o novo Moisés ou Messias (Emmanuel: Deus connosco) que organiza o seu povo (a comunidade dos crentes); Jesus veio para cumprir
as Escrituras: «Assim se cumpriu o oráculo de…»; Há uma monotonia na narração de milagres: apenas aparece Jesus e a pessoa em causa, para
centrar a cena em Jesus e realçar Sua grandeza; É o «evangelho eclesial»: desenrola-se num ambiente litúrgico: os discípulos que adoram o
seu Senhor na comunidade estão presentes nos discípulos que acompanham Jesus pelos caminhos da Palestina; além disso, centra-se no Reino de
Deus e no seu esboço da Igreja (que na terra, é a projecção visível do Reino dos céus, simbólica e provisória: é o único evangelho onde aparece a
palavra ekklésia («assembleia» ou «Igreja», Mt 16,18; 18,18); É o evangelho mais famoso, o mais longo e o mais comentado de sempre.

«Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela.» Mt 16,18
2.4. – O Evangelho de Marcos
SÍMBOLO. Por causa de começar o seu evangelho por João baptista, poderosa voz que clama no deserto, o seu símbolo é o leão.

AUTOR. Tradicionalmente é João Marcos de quem fala os Actos (Act 12,12); parte em missão com o seu tio Barnabé e Paulo,
mas «abandona-os» quando embarcam para a Ásia Menor e prefere voltar para a casa da mãe (Act 13,5.13); mais tarde, Paulo
recusar-se-ia a levá-lo para a segunda missão e este incidente será o motivo de separação de Barnabé (Act 15,36s); mas voltarão
a fazer as pazes, pois vamos encontrar Marcos ao lado de Paulo durante o seu cativeiro em Roma (Col 4,10) e Pedro refere na
sua carta que Marcos, seu filho, está com ele em Roma (1 Ped 5,13). É ele que cria a forma literária «Evangelho», palavra com a
qual inciia a sua obra: «Princípio do Evangelho de Jesus cristo, Filho de Deus» (1,1).

ONDE, QUANDO E PARA QUEM FOI ESCRITO? Foi escrito em Roma; foi o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito, entre os anos 64
e 70, isto é, depois da morte de Pedro e antes da destruição de Jerusalém; dirige-se aos cristãos não-judeus de Roma; por isso, Marcos
explica-lhes os costumes judaicos (Mc 7,3-4…), traduz as palavras originais aramaicas (Mc 3,17-22…), usa termos romanos (Mc 4,21…), cita
pouco o At, desconhecido dos pagãos e não é por acaso que é nele que um centurião romano confessa ao pé da cruz que Jesus é o Filho de Deus.

DIVISÃO DO LIVRO. 1ª parte: revelação progressiva de Jesus-Messias (1,14-8,26); a cena central é o testemunho de Pedro: «Tu és o Cristo»
(8,27-30); 2ª parte – Que Messias? (8,31-10,52); 3ª parte: ministério em jerusalém e cumprimento da missão (11-13-14-16). Há contrastes
entre Galileia e Jerusalém: na Galileia, região influenciada pelo paganismo, Jesus anuncia a Boa Nova e é escutado, ao contrário de Jerusalém;
assim, a geografia é teológica e cheia de significado.

CARACTERÍSTICAS DE MARCOS. O seu estilo é popular, não teme as repetições, certas frases são pouco correctas, parece ser um judeu
que se exprime mal em grego com um vocabulário pouco variado; os discursos de Jesus são breves, com poucas parábolas, mas as narrações são
mais desenvolvidas; de facto, Marcos é um contador maravilhoso: os seus relatos são concretos e vivos, suscita a emoção; vinca o segredo
messiânico, a pessoa de Jesus é rodeada por um certo enigma (Jesus recusa dizer quem é e proíbe que o divulguem); de facto, não queria ser
compreendido como o Messias que esperavam, como um rei que os libertaria dos romanos! A sua preocupação fundamental é: «Quem é este?», a
sua revelação progressiva. Jesus é apresentado como muito humano (come, dorme, fala, ora, zanga-se no Templo, irrita-se com os discípulos,
realça o olhar de Jesus, de cólera, de interrogação, de amor; Jesus não sabe tudo, está angustiado com a morte, morre desesperado..); Jesus
não deixa ninguém indiferente; é muitas vezes incompreendido, está só; Jesus é o Filho do homem (título mais frequente em Marcos): em si
significa homem, mas quando se relaciona com Dn 7 toma o sentido elevado de Ser celestial a quem Deus entrega o seu julgamento; é o Filho de
Deus, que aparece como vértice da fé à qual Marcos quer conduzir o seu leitor, dito logo na introdução (1,1) e proclamado pelo centurião ao pé
da cruz (Mc 15,39)

«Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os
homens que Eu sou?» Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.»
«E vós, quem dizeis que Eu sou?» - perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» Ordenou-lhes, então, que não
dissessem isto a ninguém». Mc 8,27-30
2.5. – O Evangelho de Lucas
SÍMBOLO. Começa pelo sacrifício de Zacarias; o seu símbolo é um touro, animal por excelência dos sacrifícios.

AUTOR. Tradicionalmente, desde o séc. II, reconhece-se em Lucas o «caríssimo» médico (Col 4,14) que acompanha Paulo de
Tróade a Filipos onde permanece, entre 50 e 58; junta-se a Paulo em Mileto, segue-o até Cesareia e depois até Roma (segundo
Actos onde emprega «nós»); talvez originário de Antioquia, é de ascendência pagã (ou helenista?); culto, maneja com certa
elegância a língua grega então falada (a «koiné»). Por ser médico é natural que o seu vocabulário em questões médicas seja muito
técnico. A originalidade deste autor seria a de ter escrito a obra em dois volumes: o Evangelho de Lucas e os Actos dos
Apóstolos; e como era costume entre os greco-latinos, dedica as duas partes a um tal Teófilo.
ONDE, QUANDO E PARA QUEM FOI ESCRITO? O lugar em que se escreveu é muito incerto: Grécia, Alexandria, Antioquia, Filipos ou até
Roma! A data mais aceite é à volta do ano 80; é dirigido a cristãos não-judeus, antigos pagãos de mentalidade helenista; usa palavras mais
próximas deles e evita as expressões judaicas difíceis de compreender para os gregos; evita a palavra «transfiguração» , que em grego se diz
«metamorfose» para que não se confunda com as metamorfoses dos deuses gregos.

DIVISÃO DO LIVRO. Introdução (1,1-4,13), Ministério na Galileia (4,14-9,50), Jesus a caminho de Jerusalém (19,29-24,53) e Jesus em
Jerusalém (19,29-24,53), com a ceia pascal, paixão, ressurreição, aparições e ascensão. É em Jerusalém que tudo começa (anúncio do nascimento
de João Baptista ao sacerdote Zacarias) e acaba: o plano da narração é a subida da Galileia a Jerusalém.

CARACTERÍSTICAS DE LUCAS. É o mais completo e preciso dos evangelistas. É o mais «moderno» dos evangelhos; da sua cultura grega o
autor conserva o gosto pela clareza, maneja com elegância a língua grega; o seu estilo harmonioso leva-o a suprimir algumas repetições (por
exemplo, temos uma só multiplicação de pães), o seu estilo delicado leva-o a suprimir cenas de violência ou palavras duras e ofensivas: por
exemplo, a morte de João Baptista e os insultos durante a Paixão; além disso, o Jesus de Lucas comporta-se com grande delicadeza com os
pobres, os marginalizados, as mulheres ou os pecadores; apresenta parábolas de grande riqueza: a do Pai misericordioso, a do Bom
samaritano, etc: é o Evangelho da misericórdia e do perdão. Para Lucas, Jesus é o Senhor (é o único que chama Senhor a Jesus); é o Salvador,
o Profeta. Por outro lado, o Espírito Santo é o verdadeiro protagonista do Evangelho de Lucas (presente em jesus na sua concepção, no
Baptismo, o Espírito conduz Jesus ao deserto, é prometido aos Apóstolos, etc.). A salvação é universal, para todos os povos, judeus ou pagãos e
comunicá-lo a todos os pagãos é obra da Igreja (por isso, a genealogia de Jesus não começa em Abraão como diz Mateus, mas sim remonta a
Adão); a salvação não é algo que aconteceu, mas que acontece agora: é o «hoje» de Lucas. É o evangelho da oração: Jesus ora antes das etapas
fundamentais da Sua vida (antes da eleição dos Doze, antes da confissão de Pedro, etc.), os discípulos devem rezar à imitação de Jesus, com
insistência, confiança… ; oferece à piedade cristã três cânticos de louvor: o Benedictus, o Manificat e o Nunc dimittis, sem esquecer o Gloria in
excelsis da missa! Outra característica é a alegria: a alegria messiânica está presente pela salvação, é o sinal da plenitude e felicidade do
discípulo que segue o Senhor. Realça-se ainda o papel de Maria.

«Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.»
Lc 23, 43
2.6. – O Evangelho de João
SÍMBOLO. Começa com uma página sublime sobre a geração eterna do Verbo; o seu símbolo é a águia, animal das alturas, que distingue João
evangelista, pelos altos voos do seu pensamento.

AUTOR. Tradicionalmente, atribui-se ao apóstolo João, sendo provável que na sua origem esteja a sua personalidade; mas a
obra foi-se formando em várias etapas até à sua redacção final pelos anos 95-100. Podemos pensar numa «escola joanina»,
grupo de discípulos que meditavam e aprofundavam os ensinamentos do apóstolo.

ONDE, QUANDO E PARA QUEM FOI ESCRITO? Foi escrito numa comunidade da Ásia Menor, provavelmente em Éfeso.
Na sua redacção actual a sua data deve ser próximo do ano 100; no entanto, a primeira versão poderia ter aparecido ao
mesmo tempo que Mateus e Lucas. João escreve para os cristãos de Éfeso, cidade-encruzilhada das diferentes influências
culturais gregas e judaicas (para judeus e pagãos), influenciada pela filosofia grega, pela tentação do gnosticismo,
familizarizada pelos grandes temas do AT (Êxodo, cordeiro pascal, maná, água, vinha, etc.) e conhecedora da espiritualidade
dos Essénios (oposição luz-trevas, verdade-mentira…).
DIVISÃO DO LIVRO. Em termos muito gerais pode dividir-se em três partes: o Prólogo (1,1-18), hino sobre Cristo que anuncia os grandes
temas do Evangelho: «No princípio já existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; o Verbo era Deus…» (1,1); o livro dos sinais (Jo 1,19-12,50):
Jesus dirige-se às multidões; expõe os temas da fé, da luz, da vida; e o livro da paixão ou da Hora (Jo 13,1-21,25): Jesus convive muito de
perto com os discípulos; o tema do amor é central; nesta parte destaca-se o Mandamento do Amor e a Oração sacerdotal (17). João, apesar de
conhecer bem a geografia do país, não dá nenhum significado teológico aos lugares.
CARACTERÍSTICAS DE JOÃO. Não é sinóptico, segue uma estrutura e linguagem própria, é o evangelho mais teológico, fruto de um
amadurecimento mais demorado da fé. Dentre o que Jesus fez, escolhe o que pode servir ao leitor para se convencer de que Jesus é o Filho de
Deus (Jo 20,30-31). Tem um vocabulário especial (amor, verdade, conhecer, vida, testemunho, mundo, pai, luz, enviar, judeus…), mas ao mesmo
tempo pobre; parte de realidades concretas, mas mostra como nos podem fazer ascender a uma realidade superior, são simbólicas. Por vezes a
linguagem é feroz: especialmente nas disputas com os fariseus, por ex.: «Vós tendes por pai o diabo (…) Quem é de Deus escuta as palavras de
Deus; vós não as escutais porque não sois de Deus» (Jo 8,44 e 47); isto deve-se em grande parte a que os judeus, por volta do ano 80 expulsam
os judeo-cristãos das sinagogas. João prefere os grandes conjuntos unificados: nada de relatos rápidos de milagres como nos sinópticos, tem
discursos abundantes, ocasiões de catequese. O pensamento progride em espiral: em cada conjunto encontramos todo o seu pensamento, mas
quando o reatamos, com o conjunto seguinte, somos levados a aprofundá-lo. Fala muitas vezes em «judeus», mas não se refere à raça, mas
àqueles que não aceitaram Cristo; João, como judeu de raça, não é «judeu»; mas um pagão que recusa Cristo podia ser apelidado de «judeu».
Fala muitas vezes na hora, à qual Jesus caminha durante grande parte do Evangelho: chega na Sua Última ceia.

«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor.
Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos
ameis uns aos outros como Eu vos amei». Jo 15,9-12
2.7. – Breve resenha comparativa dos Evangelhos
EVANGELHO Símbolo Autor Onde, quando Características
e para quem?
SI- Homem -Antioquia da -O mais «judaico» dos evangelhos (Reino dos céus e não de Deus, expressões
NÓ (ou Mateus Síria semitas, conhece bem os ritos judaicos…);
PTI MATEUS Anjo) -Entre 80-90 -O mais longo, mais famoso e mais comentado;
CO -Para cristãos -Jesus é o novo Moisés, que veio para cumprir as Escrituras;
S provenientes -Único onde aparece a palavra «Igreja»;
do judaísmo -«Evangelho eclesial»: desenrola-se num ambiente litúrgico.

-Em Roma; -Omais breve dos evangelhos;


MARCOS Leão João -Entre 64 e -Estilo
popular, linguagem pobre, poucos discursos, mas é um contador
Marcos 70; maravilhoso que suscita a emoção;
-Para não- -Preocupação: «Quem é Jesus?»: revelação progressiva: segredo messiânico,
judeus de Jesus proíbe de dizer quem é; no final o centurião diz que é o Filho de Deus;
Roma. -Retrata um Jesus muito humano (dorme, irrita-se, tem medo…), que é
incompreendido e está muitas vezes só;
-Jesus é o Filho do Homem e o Filho de Deus.

-Localincerto; -Maneja com elegância o grego;

LUCAS Touro Lucas -Por volta de -É o evangelho da misericórdia e do perdão; Evangelho dos pobres,
(ou boi) 80; marginalizados, doentes… evangelho da alegria;
-Para cristãos Universalidade da salvação; a salvação acontece agora «hoje»;
provenientes -O Espírito Santo é protagonista;
do helenismo. -Evangelho da oração;
-Evangelho de Nossa Senhora;

-Em Éfeso?; -É o mais elaborado teologicamente, não é sinóptico;


-Por volta de -Oobjectivo é levar a reconhecer que Jesus é o Filho de Deus;
100; -Vocabulário pobre, mas com significado especial (luz, vida, amor, pão…),
-Comunidade simbolismo que leva para realidades mais elevadas; o pensamento é muito
JOÃO com elaborado;
Águia João
influências -Os fariseus são mal retratados em virtude das condicionantes históricas
diversas (exemplo: a expulsão dos cristãos das sinagogas).
2.8. – Os Atos dos Apóstolos
AUTOR. Desde o séc. II é considerado a segunda parte da obra de Lucas. O livro inicia por aquilo com que termina o Evangelho de Lucas: o
relato da Ascensão em Jerusalém; a dedicatória inicial é a mesma (ao tal Teófilo, «amigo de Deus»); o estilo é o mesmo; as secções «Nós» nos
Actos referir-se-ia ao período de cativeiro de Paulo, em Roma, durante o qual Lucas «nosso caríssimo médico» (cfr. Col 4,14) acompanhou o
Apóstolo das gentes.

ONDE, QUANDO E PARA QUEM FOI ESCRITO? Foi escrito na qualquer lugar da Ásia Menor, Acaia ou Antioquia, ou até Roma, entre os
anos 75 e 80; destina-se a cristãos provenientes do mundo greco-romano; quer demonstrar-lhes que a origem da missão universal da Igreja
radica no testemunho da primeira comunidade judaico-cristã de Jersualém.

DIVISÃO DO LIVRO. Pode-se dividir em duas grandes partes: 1ª parte (Act 1,1-15,35): das origens ao Concílio de Jerusalém (é uma parte
sem grande coerência, sendo um mosaico de diversos episódios, em que o único traço que os une é que todos dão exemplo do progresso do
cristianismo nascente); 2ª parte (Act 15,36-28,31): de Jerusalém a Roma: Paulo (é o relato de uma viagem que conduz Paulo de Tarso de
Antioquia até Roma, onde morre). Na 1ª parte predomina a figura de Pedro e a Igreja de Jerusalém; na 2º, a figura de Paulo e atinge dimensão
universal.
COMPOSIÇÃO. Para a elaboração dos Actos, Lucas inspira-se em modelos historiográficos utilizados já por Políbio,
Tácito, Tito-Lívio, Flávio Josefo, etc. O relato é dramatizado: a finalidade é prender a atenção do leitor (por
exemplo: o Pentecostes, o martírio de Estêvão, a conversão de Cornélio, o Concílio de Jerusalém, etc.); os discursos
inseridos nas sequências narrativas como diálogos directos entre o herói e o leitor, que exprimem a profunda lição da
história contada; os sumários ou sínteses preenchem as lacunas existentes nos episódios relatados, sobretudo nos
cinco primeiros capítulos, para cuja redacção o autor só dispõe de informações fragmentárias.
FINALIDADE E TEOLOGIA. Não pretendem ser a história da Igreja primitiva, nem um tratado de apologética, nem
o «catálogo» dos feitos apostólicos de Pedro e Paulo. São a narração da origem e difusão vitoriosa do
cristianismo, sob a acção do Espírito Santo; o cristianismo, nascido sob matriz judaica torna-se acontecimento
universal. Assim, o grande protagonistas dos Actos é o Espírito Santo: por isso pode ser chamados de «o Evangelho
do Espírito». Há uma continuidade entre o «tempo de Jesus» e o «tempo da Igreja»: o Espírito Santo, que esteve
presente nos momentos mais importantes da vida e ministério de Jesus ,está agora também presente nos momentos
decisivos da vida da Igreja. O «tempo da Igreja» é também tempo de salvação, de decisão, pois a Igreja
continua agora o hoje salvífico inaugurado em Jesus. A tarefa principal deste tempo é a missão entre os pagãos,
tempo de cumprimento enquanto realiza tudo o que Jesus tinha prometido, tempo de alegria e consolação, de dores e
perseguições, em que está presente o Espírito Santo.
«Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, crescia como um edifício e caminhava no temor do Senhor e, com
a assistência do Espírito Santo, ia aumentando».
Act 9, 31
3. As Cartas de Paulo
(Escritos Paulinos)
3.1 – O gênero epistolar e
as epístolas de Paulo
AS CARTAS NA BÍBLIA. Dos 27 livros do NT, 21 são chamados épistolai, “cartas”; nenhum livro do AT é assim designado; esta forma impôs-
se amplamente com Paulo de tarso. A carta é um género de comunicação e de expressão bem atestada na Antiguidade, como no Egipto,
Babilónia; no At há resumos de correspondência oficial (2Sam 11, 14-15…), há a Carta de Jeremias aos exilados e as cartas nos Macabeus, etc.

CARTA OU EPÍSTOLA. CARTA: comunicação ocasional e privada entre duas pessoas, sendo um documento pessoal,
confidencial, com estilo livre, habitualmente familiar; pode haver cartas oficias destinadas a um grupo de indivíduos.
EPÍSTOLA: peça de literatura, assemelha-se ao diálogo e ao drama; a sua mensagem destina-se a ser divulgada e tem por
destinatário um público que pode ser muito alargado; muitas das cartas do NT foram em primeiro lugar Cartas em sentido
estrito: mas a sua inserção num conjunto instituído transforma-as em peças públicas e literárias, adquirindo o estatuto de
epístolas. É o género epistolar, o mais antigo e mais abundante do NT.

ESTRUTURA E REDACÇÃO DAS CARTAS. As cartas do mundo greco-romano têm três partes: 1ª - Fórmula de abertura ou praescriptio: uma
frase com o nome do expedidor e o endereço, bem como uma breve saudação; por ex. em 1Mac10, 18: «O rei Alexandre ao nosso irmão
Jónatas, saúde» ou Actos 23,26, etc.; 2ª - corpo; 3ª - Saudação final: o equivalente ao latim vale. Nas cartas oficiais acrescentam-se
muitas vezes a data; na Antiguidade existiam quatro maneiras diferentes de escrever cartas: pessoalmente; ditar palavra por palavra;
ditar-se o sentido a um secretário que seguidamente a redige; encarregar alguém de escrever em seu nome.

S. Paulo parte sempre de uma experiência pastoral concreta, relacionada com as dificuldades e problemas existentes nas comunidades cristãs
(contexto vivencial); daí S. Paulo desenvolve a teologia e as orientações pastorais; são um instrumento de apoio à missionação.

PLANO DAS CARTAS DE PAULO. Paulo escreve como na sua época: endereço (Fulano, saudações!) Paulo escreve o seu nome e de seus
colaboradores; nomeia os seus correspondentes e cumprimenta-os; Oração: uma breve prece; Corpo da carta: compõem-se de duas partes: a
doutrinal (Paulo desenvolve um ponto doutrinal importante ou mal compreendido dos cristãos; Paulo esclarece e forma) e a exortação (parénese,
que deduz a maneira de se comportar, a moral advinda da doutrina que explicou); Saudações: termina contando novidades dos seus
colaboradores e saudando os cristãos; concluí com uma breve fórmula de bênção.
Por exemplo a Carta aos Romanos, começa com uma longa saudação inicial e exortação; dos VV 11 a 36 é a parte doutrinal; Paulo começa por dar
formação, por dar doutrina; nos Actos Paulo não faz nada sem consultar os Apóstolos, pois não convinha remar contra eles; as formas verbais
que mais se repetem são os imperativos (ordens), o conjuntivo e o verbo exortar; tudo para agir no sentido de uma vida condigna, adaptada ao
Evangelho; na Conclusão retoma o objectivo da Carta (o tema é o Evangelho) e no cap. 16 são as recomendações, ou seja os cumprimentos e
saudações finais.

«Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na
fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor».
1 Tm, 1-2
3.2. – As Cartas de Paulo
Classificam-se em três categorias:
CRONOLOGIA DAS CARTAS DE PAULO. Os seus escritos são os primeiros do NT; a) As cartas efectivamente escritas por Paulo: 1
escreveu a partir da tradição oral já desenvolvida e depois a partir de alguns textos Tessalonicenses, Gálatas, Filémon, 1 e 2 Coríntios,
escritos. Entre 51 e 63, escreve inúmeras Cartas às comunidades que visitava, ficando a Romanos e Filipenses;
fazer parte do cânone do Novo Testamento. As datas aproximadas de redacção são as b) As cartas cuja redacção directa por Paulo é
seguintes: 51 - 1 e (?) 2 Tessalonicenses; 55 - 1 Coríntios; 56-57 - Filipenses, 2 Coríntios; duvidosa: 2 Tessalonicenses, Colossenses e
57 – Gálatas; 58 – Romanos; 60 - (?) Efésios; 61-63 - Filémon, Colossenses; 63-64 - 1 e 2 Efésios, talvez imputáveis a um discípulo;
Timóteo e Tito. Assim, no Novo Testamento, 13 cartas são atribuídas a Paulo. Uma décima c) As cartas de que Paulo pode ser talvez o
quarta, foi-lhes por vezes agrupada (aos hebreus). pseudónimo: 1 e 2 Timóteo e Tito. Estas dúvidas
em relação á sua autenticidade em nada retira o
5 conselhos para a leitura das cartas. A sua vida: conhecer a vida de valor de livros inspirados.
São Paulo (EFC 3); O contexto: histórico, social e cultural de Paulo e das
comunidades a que se dirige; O enredo da narrativa: identificar a -Cartas Pastorais (Tito, Filémon e 1 e 2
corrente narrativa de cada documento; O desenvolvimento do seu Timóteo), que não se dirigem às comunidades, mas
pensamento: as cartas reflectem o amadurecimento do seu pensamento, sim a pastores das mesmas;
da sua teologia; Os herdeiros de Paulo: confrontar o seu pensamento - Cartas Comunitárias (aos Coríntios, Efésios,
com as épocas sucessivas à sua morte. Romanos, etc.), que se dirigem a uma comunidade
específica; há cartas que são do punho de Paulo e
EPÍSTOLA AOS ROMANOS. Temas EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS: 1 e 2. Em noutras diz-se que o seu secretário escreveu;
fundamentais: necessidade universal de Corinto funda uma comunidade forte; é berço -Grandes Epístolas (Romanos, 1 e 2 Coríntios,
salvação e da fé; o pecado e a redenção de cultura grega, onde se confrontam Gálatas);
pela fé que transforma o homem em correntes filosóficas e religiosas muito -Cartas de Cativeiro (foram escritas por Paulo
“filho de Deus”; a graça que Deus fortes, onde a depravação dos costumes ficou na prisão; encontra-se aí por causa do Evangelho
comunica àqueles que crêem na sua célebre; para resolver problemas daí de Jesus Cristo são as endereçadas aos
“justiça”, adquirida pela obediência a advindos, Paulo escreve duas cartas; 1ª Carta: Filipenses, Filémon, Colossenses e Efésios, ).
Cristo, fonte da vida. celebração da “refeição do Senhor” (11,17-
34); hino à caridade (13); ressurreição dos Paulo dá a entender que é autor de mais algumas
«Mas agora, que estais libertos do
mortos (15); 2ª Carta: apelo à solidariedade cartas, que se perderam: por exemplo, haveria
pecado e vos tornastes servos de Deus,
fraterna entre cristãos (8, 1-15). uma outra carta aos Coríntios, de que fala a 1 Cor
produzis frutos que levam á
5, 9; em Colossenses 4, 16, evoca uma carta aos
santificação, e o resultado é a vida
cristãos de Laodiceia.
eterna. É que o salário do pecado é a
A ordem das cartas de Paulo no Novo Testamento
morte; ao passo que o dom gratuito «Ainda que eu distribua todos os meus bens
explica-se pela ordem decrescente de extensão.
que vem de Deus é a vida eterna, em e entregue o meu corpo para ser queimado,
Cristo Jesus, Senhor nosso». se não tiver caridade, de nada me
Rm 6, 22-23 aproveita». 1 Cor 13, 3
3.2. – As Cartas de Paulo
EPÍSTOLA AOS GÁLATAS. O «Não há judeu nem grego; EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS. «Há um só Corpo e um só Espírito,
perigo vem da intransigência dos não há escravo nem livre; Síntese admirável do pensamento assim como a vossa vocação vos
convertidos do judaísmo: dizem não há homem e mulher, de Paulo; fala das insondáveis chamou a uma só esperança; um só
que não podem salvar-se sem a porque todos sois um só profundidades da redenção (Ef Senhor, uma só fé, um só
circuncisão; Paulo diz que a Lei em Cristo Jesus. E se sois 3,18); Cristo é princípio e cabeça baptismo; um só Deus e Pai de
“antiga” tem os limites de uma de Cristo, sois então de uma nova humanidade (5, 23); todos, que reina sobre todos, age
etapa provisória; a salvação vem descendência de Abraão, na Igreja, Corpo de Cristo, por todos e permanece em todos.
pela fé em Jesus Cristo e pela herdeiros segundo a restabelece-se a unidade da Mas, a cada um de nós foi dada a
prática da verdadeira liberdade promessa». humanidade (4,3-16); o que está na graça, segundo a medida do dom de
cristã. Gl 3, 28-29 Igreja, está em Cristo. Cristo. ». Ef 4, 4-7

«Ele, que é de condição EPÍSTOLA AOS COLOSSENSES. Dá «Portanto, já que fostes


EPÍSTOLA AOS FILIPENSES.
divina, não considerou resposta a uma crise da Igreja de Colossos ressuscitados com
Escreve três bilhetes de
como uma usurpação ser (Ásia Menor). Paulo aproveita a ocasião e Cristo, procurai as
exortação, depois reunidos numa
igual a Deus; no entanto, aprofunda a doutrina sobre a pessoa e a coisas do alto, onde
única carta, em resposta à ajuda
esvaziou-se a si mesmo, função de Cristo, “chefe” da Igreja e da está Cristo, sentado à
financeira que a comunidade de
tomando a condição de Criação inteira. Reflecte as pregações por direita de Deus. Aspirai
Filipos lhe envia. De assinalar um
servo. Tornando-se ocasião do baptismo dos cristãos. É um texto às coisas do alto e não
cântico litúrgico belo em honra
semelhante aos homens e por vezes difícil. Fixa os preceitos da vida às coisas da terra». Cl
de Cristo (2, 6-11).
sendo, ao manifestar-se, cristã (3, 5-17). 3, 1-2
identificado como
EPÍSTOLAS AOS homem… ». Fl 2, 6-7 EPÍSTOLAS A TIMÓTEO: 1 e 2. EPÍSTOLA A TITO. Semelhantes
TESSALONICENSES: 1 e 2. entre si quanto ao fundo, forma e situação que deixam entrever. São
São os documentos mais antigos «Na verdade, quando ainda dirigidas a personalidades a quem Paulo confiou muitas vezes missões
do NT. Paulo conforta uma estávamos convosco, era especiais junto das Igrejas. Contêm instruções práticas para a organização
comunidade desconcertada após isto que vos ordenávamos: e animação das comunidades cristãs. O estilo é diferente das outras cartas
a sua partida precipitada. se alguém não quer trabalhar e pensa-se ter sido algum discípulo a escrevê-las. Paulo preocupa-se em
Reflecte profundamente sobre a também não coma». 2 Ts 3, conservar a “sã doutrina” e “guardar o depósito” da fé.
Ressurreição, o “dia do Senhor”, 10
sobre a esperança cristã. Nota- «Para que o recebas «Virão tempos em que o ensinamento salutar
se a exortação á disciplina e ao EPÍSTOLA A FILÉMON. Curta para sempre, não já não será aceite, mas as pessoas acumularão
trabalho enquanto se aguarda a mensagem; Paulo reenvia ao seu como escravo , mas mestres que lhes encham os ouvidos, de
parusia ou regresso do Senhor destinatário o escravo fugitivo que muito mais do que um acordo com os próprios desejos. Desviarão
no fim do mundo. baptizou; apesar da lei, pede-lhe escravo: como irmão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor
que o receba como irmão. querido». Flm 15-16 de fábulas». 2 Tm 4,3-4
4. Outras Epístolas
(Carta aos hebreus e Cartas Católicas)
4.1. – A Epístola aos Hebreus e as
Epístolas católicas
EPÍSTOLA AOS HEBREUS. A tradicional “carta de São Paulo aos Hebreus” não é uma carta, não é de Paulo «Muitas vezes e de muitos
e não é dirigida aos Hebreus! Pensou-se que seria de Paulo, mas pela forma de raciocínio, mais judaico, não modos, falou Deus aos
espelha o pensar de Paulo; será posterior, de algum dos seus discípulos. O género literário é homilético e não nossos pais, nos tempos
epistolar e os seus destinatários não são apenas os judeo-cristãos, mas sim toda a comunidade de crentes. É antigos, por meio dos
uma síntese da doutrina cristã, pondo em confronto o AT e o NT e demonstrando a insuficiência do profetas. Nestes dias, que são
sacerdócio, da aliança e do culto – que só atingem a sua plenitude na paixão, morte e ressurreição de Jesus. os últimos, Deus falou-nos
É nesta oferta pessoal e perfeita, realizada de uma vez por todas, que assenta a novidade e força do culto por meio do Filho».
cristão destinado a transformar a vida dos crentes. Heb 1,1-2

CARTAS CATÓLICAS. Dirigidas a toda a Igreja (católico = universal) e não a comunidades ou pessoas concretas. São 7:

EPÍSTOLA DE TIAGO. O seu ensinamento é «De que aproveita, EPÍSTOLAS DE PEDRO: 1 e 2. A primeira é obra do apóstolo, ou
sobretudo moral. É uma síntese dos preceitos irmãos, que antes, do seu secretário Silvano. O seu objectivo é fortalecer a fé
bíblicos e das palavras de Jesus, sobretudo do alguém diga que dos destinatários no meio das provações que estão a passar.
Sermão da Montanha. É sublinhada a tem fé, se não tiver Encontra-se um resumo do ensinamento cristão da época, centrado
importância das “obras” como expressão da obras de fé? Acaso no baptismo. A segunda não é do apóstolo, sendo o escrito mais
verdadeira fé. Os seus temas são: o essa fé poderá tardio do NT (entre 100 e 125). Alerta os cristãos para os erros que
acolhimento da Palavra; a fé activa; e o justo salvá-lo?» Tg 3, 14 podem minar a sua fé. Retoma o tema dos maus doutores e falsos
relacionamento entre ricos e pobres. mestres.
EPÍSTOLAS DE JOÃO: 1, 2 e 3. Escritas «Caríssimos, «Assim como houve entre o povo de Israel falsos profetas, assim
em Éfeso por um autor anónimo (ou por amemo-nos uns também haverá entre vós falsos mestres; introduzirão disfarçadamente
João?) pertencente à escola joanina, previnem aos outros, heresias perniciosas e, indo ao ponto de negar o Senhor que os
os cristãos contra os riscos da «gnose». Ao porque o amor resgatou, atrairão sobre si mesmos uma rápida perdição. » 2 Pe 2, 1
submeter a debate a plena humanidade de vem de Deus, e
Cristo, a gnose acaba por iludir o homem como todo aquele que EPÍSTOLA DE JUDAS. Traça um
se já vivesse num estado de iluminação e ama nasceu de breve projecto de vida cristã em «Vós, porém, caríssimos,
perfeição. A 1ª atira-se a esses erros, Deus e chega ao tonalidade negativa (contra as edificando-vos uns aos outros
reafirmando a importância da união entre o conhecimento de heresias, especialmente o sobre o fundamento da vossa
crente e Deus, por meio de Jesus Cristo. A Deus. Aquele que gnosticismo), mas também positiva santíssima fé e orando ao
2ª é um convite ao amor mútuo e à protecção não ama não (convite à fé e à coerência de Espírito Santo, mantende-vos no
contra os falsos doutores; e a 3ª é um chegou a vida). Nela estigmatiza os maus amor de Deus, esperando que a
“bilhete” dirigido ao presbítero Gaio, com o conhecer a Deus, doutores, pregadores ambulantes misericórdia de Nosso Senhor
objectivo de o apoiar no seu serviço à pois Deus é que querem corromper a fé das Jesus Cristo vos conceda a vida
verdade. amor» 1 Jo 4, 7-8 Igrejas. eterna» Jd 20-21
5. O Apocalipse
5.1. – O Apocalipse
GÉNEROS LITERÁRIOS. 1º apocalíptico; 2º profético; 3º Epistolar e litúrgico.
AUTOR E DATA. Desde a primeira metade do
séc. II, atribuem a sua autoria ao apóstolo S. APOCALÍPTICO. Do grego apokalypsis (revelação ou descobrimento). Este livro e o de
João; mas mais tarde (a partir do séc. XVI) esta Daniel são os únicos apocalipses da Bíblia, mas então era um género muito corrente no
autoria foi posta em causa; o que podemos dizer é judaísmo. Liga-se à corrente veterotestamentária. A mensagem fundamental é a luta
que há tantas razões para responder cósmica que desembocará na vitória escatológica; O autor recua no tempo, buscando
afirmativamente como positivamente! Mas a neste a explicação do tempo presente, deduzindo leis para o futuro. A diferença
questão é no fim de contas secundária. Foi escrito principal com a apocalíptica do AT é a característica cristocêntrica: Cristo, em íntima
à volta dos anos 95-100, mas o autor parece relação com Deus-Pai, é o Cordeiro que remiu o Seu povo e o guiará á vitória final. Género
escrever numa época anterior… repleto de simbolismo (das figuras, das cores, números…): figuras: a mulher simboliza o
Estrutura: uma das possíveis, a divisão em três povo, os chifres simbolizam o poder, os olhos o conhecimento, o mar significa a fonte da
insegurança e da morte, o dragão simboliza o povo… números: o 7= nº da perfeição, o 3 e ½
partes principais.
é metade de 7, significa imperfeição, sofrimento (um tempo, dois tempos e um meio-
1ª - A Igreja encarnada (1-3): João dirige-se às 7 tempo, ou 42 meses, ou 1260 dias…); 12= Israel (totalidade), 4=o mundo (quatro pontos
cartas de Ásia (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, cardeais), 1000= uma quantidade impossível de contar, 144000=144.000 (Ap 14, 1-5):
Sardes, Filadélfia e Laodiceia); multiplicando 12x12x1000 = 144 000, número simbólico das 12 tribos (ÂT)x 12 Apóstolos
(NT) x 1.000 (tempo de Deus). Significa multidão incontável, totalidade do Povo de Deus.
2ª - A Igreja empenhada (4-20): Os 7 selos, as 7
6 e 666: 6 é metade de 12 e não atinge 7 (não chega a ser perfeito). 666, é três vezes 6,
trombetas, o dragão e o Cordeiro, as 7 taças, o
máximo da imperfeição; indica a fraqueza dos poderes totalitários; o número da besta é
juízo e a ruína de Babilónia e a vinda de Cristo e o
obtido de várias formas: a) da soma das letras hebraicas de Nero César, grande
cumprimento da história. Os problemas são de
perseguidor: Nrwn qsr =50+200+6+50+100+60+200= 666; b) Império Romano: Lateinos:
duas espécies: a Igreja com o judaísmo e o
30+1+300+5+10+50+70+200=666; c) ou número triangular de 36: soma dos números de 1 a
confronto com os poderes totalitários. A Igreja é
36; 36 é a soma dos nºs de 1 a 8; 8, designa a Nero redivivus (Ap 17, 11), etc.
o «pequeno resto»m de Israel, os que são fiéis a
Deus, mas um povo aberto a todos; o Cordeiro, PROFÉTICO. João apresenta-se como profeta, pois recebeu, mediante um chamamento
Cristo imolado tem o poder de abrir 7 rolos do AT, especial a mensagem ouvida; é também uma «profecia»; João tenta interpretar a história
cada um selado com um selo; os eleitos vêm de dois presente, descobrir nela o sentido oculto. Género epistolar. O livro apresenta o esquema
horizontes: do judaísmo (144000) e do paganismo tradicional das cartas cristãs. Há também o litúrgico.
(multidão impossível de contar). 7 toques das
trombetas: efeitos terrestres dos
Longe de ser uma previsão de «Eis que Eu venho em breve e trarei a
acontecimentos; as Bestas são os sistemas
«desastres» é uma mensagem de recompensa para retribuir a cada um conforme
totalitários, etc.
esperança, escrita em tempos de as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o
3ª - A Igreja transfigurada (21-22). A Igreja crise e de perseguição, para incutir o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.
desce do céu; recriada por Deus torna-se o Reino ânimo, que no fim Cristo e o Seu povo Felizes os que lavam as suas vestes, para
cósmico onde todos os povos estão em sua casa e serão vitoriosos. Deus é o único terem direito à árvore da Vida e poderem entrar
onde Deus é tudo e em todos. Senhor da História. nas portas da cidade» Ap 22, 12-14
6. Uma análise de um texto:
Lc 15, 11-32 – O Filho Pródigo
6. – A Parábola do Filho Pródigo
Lc 15, 11-32
S. Lucas é o evangelista da misericórdia de Deus; nesta parábola iremos descobrir o rosto do Deus da ternura, da
misericórdia; é uma parábola exclusiva de Lucas.

A parábola do Filho pródigo também é chamada de parábola dos dois filhos ou do Pai misericordioso.

SITUAÇÃO DO EPISÓDIO NO CONJUNTO DO EVANGELHO. Notemos três aspectos:


1º - A parábola situa-se na secção central do Evangelho de Lucas (divide-se em três secções), que é a mais
extensa; Jesus nesta secção ensina os discípulos a serem verdadeiros discípulos: a oração, o amor, a misericórdia…
Jesus faz-se Palavra; uma Palavra que semeia no coração dos apóstolos a frutífera semente do Reino;
2ª - A parábola está mais ou menos no centro dessa secção central: é o centro do seu ensinamento, que é a
descrição do rosto de Deus; o autêntico protagonista desta história não é o filho pródigo, mas o pai; a maneira
de ser de Deus é percebida pela maneira de ser do pai; o nosso Deus é Pai de ternura e misericórdia;
3ª - É uma parábola: o objectivo é obrigar a quem escuta a ser protagonista da história; de um lado coloca-se-nos
a mesquinhez e a traição dos filhos e do outro a ternura e a misericórdia do pai. Algumas vezes somos o filho mais
velho, outras vezes o mais

ELEMENTOS DO TEXTO. Confronto entre duas atitudes opostas: a dos dois irmãos e a do pai. ATITUDE DOS DOIS FILHOS…

O FILHO MAIS NOVO… 2. A experiência de uma vida que se destrói. As


condições tornam-se adversas: «foi colocar-se ao
1. A decisão de deixar a casa do pai. No serviço de um dos habitantes daquela terra»: o filho
direito israelita só os filhos varões têm direito mais novo está a sujeitar-se às condições de um
à herança; entre eles, o mais velho tem uma desconhecido, num país estrangeiro e em tempo de
posição de privilégio e recebe o dobro dos fome. «…o qual o mandou para os seus campos guardar
restantes na distribuição dos bens patrimoniais porcos». Era o máximo da adversidade: guardar porcos
(Dt 21,17). Contudo aqui é o filho mais novo que era uma actividade que para os judeus era impura,
pede ao pai a sua parte na herança; mais do que porque eram considerados animais impuros. A situação
«pedir» ele «exige»; é como se enterrasse o do filho mais novo é pior do que a dos porcos: aqueles
seu pai antes de morrer! o pai respeita a sua ainda podem comer as bolotas e este nem isso! É como O filho mais novo é a imagem
liberdade e reparte os bens entre os dois se trocasse o pai pelos porcos! Quando abandonámos os do pecador preso às tentativas
irmãos. Depois abandona a casa de seu pai e preceitos de Deus e nos adaptamos ás leis do mundo, a de se realizar longe de Deus.
dirige-se para um país longínquo… vida torna-se dura.
6. – A Parábola do Filho Pródigo
Lc 15, 11-32
3. A decisão de refazer a sua vida. Quando a sua situação é desesperante decide voltar para casa do pai. Por que
razões?
-A primeira razão é a fome. Não é o amor do pai nem o querer reconstituir a unidade familiar. «Não tem onde cair
morto»: «Quantos jornaleiros de meu pai tem pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome».
-Depois desta razão aparece uma segunda reflexão, em que o filho mais novo reconhece que pecou, que a sua
situação não é fruto do acaso, mas do seu pecado que desordenou e arruinou a sua vida; despedaçou o projecto de
Deus para connosco e destroçou a relação com os irmãos; arruinou o projecto do pai a seu favor.
-Descobre-se um paralelismo com as primeiras etapas do Sacramento da Reconciliação: a) Exame de consciência
ou da Vida: «E caindo em si» (Lc 15, 17): O pecador tem de entrar em si, reconhecer as suas infidelidades; b)
Arrependimento: «Levantar-me-ei e irei ter com meu pai» (Lc 15, 18); não basta só confessar os pecados, é
necessário o arrependimento, com o propósito firme de mudar de vida, de conversão; c) Declaração sincera dos
pecados ao confessor (acusação dos pecados): «Irei ter com meu Pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e
contra ti» (Lc 15, 18); deve-se ter a coragem de se chamar pelo nome os pecados; pecar contra o céu é pecar contra
Deus.
- O filho mais novo estava convencido que nada seria como dantes, mas aspira apenas a sobreviver; não imagina que
a misericórdia do pai está muito acima do pecado e da traição que ele cometeu.

Vamos dar um “salto” na história e confrontemos a sua atitude com a do filho mais velho: O FILHO MAIS VELHO…

1. «Ora o filho mais velho estava no campo. Quando


regressou, ao aproximar-se de casa…». O filho mais 2. «Encolerizado, não queria entrar».
velho tinha segundo a legislação de Israel a preferência Numa perspectiva primeira o filho mais
dos direitos da herança; constata que o mais novo pede a velho teria razão: deveria exigir dos
herança, delapida a fortuna num país estrangeiro, continua outros aquilo que sempre se bateu, a
as tarefas árduas na cada do pai, sem nunca desobedecer justiça e a obediência e a rectidão. Mas
uma «ordem» do pai e sem fazer uma festa com os amigos; tornou-se incapaz de aceitar o regresso
mas vê que o mais novo é festejado com um vitelo gordo. O do irmão e o amor do pai que o acolheu;
filho mais velho era trabalhador, justo e obediente, mas a indignado não participa na alegria; estava O filho mais velho é a imagem de
sua vida descreve a rotina de uma existência triste e no campo, parece que não se importou um homem justo, mas que lhe
fechada à bondade do pai. Além disso, o mais velho com o irmão e continua sua vida normal; falta a capacidade de amar o
considera o pai o ditador das ordens, não transgredi rejeita o irmão, diz «esse teu filho» e próximo e acolher o irmão que
nenhuma ordem tua, não o vê como um pai que o ama. não “o meu irmão”; anda marginalizado.
6. – A Parábola do Filho Pródigo
Lc 15, 11-32
ATITUDES DO PAI…

COM O FILHO MAIS NOVO… COM O FILHO MAIS VELHO…

«Estava ainda longe e o pai viu-o»: o pai não se Tendo estado


conformou com a situação, dava a impressão que só sempre rodeado
tinha estado à espera dele desde que partiu; do carinho do pai,
«correu» o que para um oriental não ficava nada nunca percebeu a
bem! Superando as expectativas do filho mais novo, ternura do seu
«enchendo-se de compaixão…», «cobriu-o de carinho. «Tu estás
beijos»; e fez um banquete. O coração do pai sempre comigo e
nunca renegou o filho; «compaixão»: sofrer com, tudo o que é meu é
desce à condição do filho para o elevar; «estava teu!» o pai tenta
morto e reviveu»: estar perdido, em pecado; «e convencê-lo em
começaram a festa»:; a atitude interior de aceitá-lo: «Meu
compaixão tem uma intensa correlação exterior. Em filho... reconhece
todos os gestos externos se manifesta o amor e aceita “esse teu
paternal com o filho; o pai volta a outorgar a irmão”»; «Mas
categoria correspondente no seio da família; a tínhamos»: o ter
túnica, os criados que o vestem, o anel no dedo, as em Lucas tem
sandálias nos pés, descrevem como o pai restitui ao muita força;
filho a dignidade perdia. O pai não pede razões do «alegrar-nos»: é o
seu comportamento nem lhe censura a traição, tema da alegria em
mas acolhe-o como um filho e como um amigo. Lucas.
Corresponde à absolvição no Sacramento da Bartolomé Estebán MURILLO, O
Reconciliação. regresso do filho pródigo (1667-70)

Finalidade: Jesus apela para escribas e fariseus (são como filho mais velho: criticam Jesus por acolher o mais novo), reconhecendo e
superando a hipocrisia, participem na alegria de Deus pelo regresso dos pecadores marginalizados à dignidade da vida (são como o filho mais
novo: publicanos e pecadores públicos). Nem a mesquinhez do mais velho, nem a traição do mais novo têm poder para derrotar a força do amor
do pai. A finalidade desta parábola é apresentar-nos a intimidade de Deus que convida a segui-l’O; é Ele que gera a vida, porque é amor; o
nosso Deus é o Senhor da vida; quando nos afastamos dele, como o mais novo, sai-nos ao encontro a experiência do abandono; quando nos
fechamos a Ele, como o mais velho, acontece-nos a rotina sem sentido e a tristeza. O rosto de Deus é misericórdia e ternura e cuja opção nos
faz viver. Deus perdoa aos homens, problema é o homem aceitar isso e perdoar seu irmão; o filho perdido e encontrado gera alegria, e é
sinal de Salvação.
7. Bibliografia recomendada
(E.F.C. 7)

Outros…

Da Editorial Perpétuo
Socorro

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