Sei sulla pagina 1di 39

TRADUÇÃO ANDINA

AULA 3

Prof. Giane Lessa


O que significa traduzir mundos tão distantes?
 “A tradução pode
 "Cada poesía é uma
provocar um duo
leitura da realidade, e
imprevisível entre almas
toda leitura de um poema
distantes” (Carlos Skliar)
é uma tradução que
transforma a poesía do
poeta na poesía do leitor".  “Todo traduzir deve ser
 (Octavio Paz) um interpretar. E vale
também o contrário: toda
interpretação, e tudo o
 “Traduzir é presumir que que está a seu serviço, é
há desde sempre e para um traduzir. Do qual
sempre um equívoco; é deriva que o traduzir não
comunicar pela diferença, se move unicamente entre
em vez de silenciar o duas línguas, mas que
Outro” também é um traduzir o
“Traduzir é instalar-se no mover-se no interior da
espaço do equívoco e mesma língua”
habitá-lo”  (Heidegger)
 (Eduardo Viveiros de
Castro)
Tradução é um tipo de diálogo

 Linguagem: Bakhtín (1929/1986 e 1979/1992)

 Toda enunciação é de natureza social e dialógica


 Diálogo: negociação e conflito (não é apenas consenso)
 Interação verbal
 Fenômeno ideológico
 Assimetrias das identidades dos participantes na
interação
 Polifonia: toda enunciação contém ecos de enunciações
anteriores
Dialogia colonial

 Tensão e disputa dialógica – relações de poder em que estão em


jogo múltiplos regimes de verdade (Foucault, 2000):

 Corpus de regras e construções sociais que legitimam práticas e


valores dentro de determinado segmento social
 Atitudes crenças e saberes aceitos sem questionamentos,
naturalizados e normalizados na sociedade
 Em toda sociedade a produção de discurso é controlada,
selecionada e redistribuída por certo número de procedimentos
(Foucault, 2000).

 Campo de forças atuando em vários tipos de situação de


assimetria e coerções – (Inquisição, regras e leis impostas,
superioridade: escrita e religião)
 La Nueva Corónica  Gregorio Condori
y buen Gobierno Mamani –
de Felipe Guamán autobiografia
Poma de Ayala  Ricardo

Valderrama
Carmen Escalante
 Século XVI
 Século XX
 Informante/intérprete  Pastor de ovelhas e
 Tradutor porcos
 Etnógrafo  Carregador
 Escrivão  Falante de quéchua
 Secretário monolíngüe/ “sin
 Cronista/historiador ojos y sin boca”
 Testemunho
 Órfão
 Falante de várias
 Morador de favela em
línguas nativas e do Cusco
castelhano
 Testemunho
 Advogado
La nueva corónica y buen Gregorio Condori Mamani
Gobierno autobiografía

 Crônica alternativa às  Produto de entrevistas


crônicas da orais gravadas,
Conquista, transcritas, traduzidas e
endereçada aos reis editadas em livro por
da Espanha com os dois antropólogos
objetivos de: bilíngües – anos 60
 preservar a memória indígena e  Dá voz àqueles que
registrar sua versão dos
acontecimentos; legitimar a não têm voz,
humanidade dos índios e sua tentando cumprir o
cristandade; denunciar, por meio desejo de Gregorio:
da escrita e de desenhos, as
práticas que se diziam cristãs e “que conozcan los
não o eram; dar a conhecer as sufrimientos de los
práticas culturais e saberes paisanos”
desconhecidos pelos espanhóis;
propor o que poderia vir a ser
um bom governo
Guamán Poma Gregorio Condori Mamani

 Trata-se de um profundo contraste entre


culturas distantes
 Encontro radical com o Outro e suas visões de
mundo (Todorov, 1999).
 Contextos em que a presença e atuação do
intérprete são fundamentais para a
comunicação
 A tradução promove alterações em ambas
culturas
 Entram em contato línguas distintas e força o
leitor a se deslocar de seu lugar na tentativa de
compreender a outra língua
 A tradução é um esforço intercultural; um
esforço de memória; um esforço para que não
Guamán Poma Gregorio Condori Mamani
 As duas obras se configuram como um grande
ato de tradutório: visões de mundo; línguas
distantes; culturas orais/culturas escritas;
diferentes suportes de memória – “quipus,
tocapus e narrativas orais”/livro; iconografia
andina/iconografia cristã; tradução de gêneros
de uma cultura a outra, produzindo textos e
sintaxes - escrita e visual diferentes
 Esses atos se desdobram em múltiplos atos
tradutórios
 Os tradutores tinham a função de mediadores
tanto no processo de Conquista quanto na
literatura de testemunho
 Eventos de negociação de identidades e
oscilação de códigos culturais
Guamán Poma Gregorio Condori Mamani
Gregorio Condori Mamani
Guamán Poma Gregorio Condori Mamani
Gregorio Condori Mamani
Gregorio Condori Mamani - “sin ojos y sin boca”
Gregorio Condori Mamani - “sin ojos y sin boca”

En el ejército me enseñaron el abecedario.


También firmaba mi nombre, las letras a, o, i, p,
reconocía en el papel. Pero yo creo que no tenía
cabeza para el abecedario porque no aprendí.
Las letras que sabía leer y mi nombre, me olvidé
al poco tiempo de salir del cuartel. Ahora dicen
que los que entran al cuartel como ésos sin
ojos, salen con los ojos abiertos, sabiendo leer.
Esos que no tienen boca, también salen com la
boca rebentando a castellano.
Características fonológicas del quechua

De acuerdo con Cerrón-Palomino (2003), el


quechua se caracteriza por:
◦ poseer un sistema mínimo trivocálico: /i, u, a/;
◦ desconocer las consonantes /b, d, f, g/;
◦ no admitir secuencias vocálicas;
◦ no aceptar grupos consonánticos tautosilábicos (es
decir, consonantes que pertenezcan a una misma
sílaba);
◦ llevar preferentemente el rasgo de intensidad en la
penúltima sílaba.
Características fonológicas del quechua

 Históricamente el quechua sólo tuvo tres


fonemas vocálicos: /i,a,u/.
 Sin embargo, el trivocalismo originario de
la lengua suele afectar a las vocales
castellanas /i,u/ en posición final de palabra.
Por ejemplo, en la palabra ‘pago’ > “pagu” de
origen castellano, el cierre de la vocal /o/ y
su sustitución por /u/, es producto de la
influencia de la quichua. Otro ejemplo es la
voz castellana ‘leche’ que cambia a “lechi”.
Glosario

 Ayni – reciprocidad: principio fundamental


de la organización socio-económica andina,
consistente en el intercambio recíproco de
bienes y servicios

 Runa – hombre indígena de la cultura


quechua

 Runa simi – literalmente: idioma del hombre,


refiere al idioma quechua
Quechua

Lengua andina bautizada por fray


Domingo de Santo Tomás, quien
escribió la primeira gramática y el
primer diccionario del quíchua, en el
año 1560 – [PEASE, 2005]

La palabra quechua viene del quechua –


qheswua y significa “el hablar del
valle”

 
Lengua - intérprete

 Aparece el “lengua” intérprete – indio ladino


– se valdrá de su dominio de la lengua
general para comunicarse com los miembros
de la nobleza local de habla no quechua

 Mestizos pasan a ser intérpretes naturales

 El carácter de lengua general será


aprovechado eficazmente para consolidar el
dominio colonial, sobre todo allí donde la
fragmentación linguística era mucho mayor
Gregorio Condori Mamani - “sin ojos y sin boca”

Así era. Se entraba al cuartel sin ojos y sin ojos


se salía, porque no podías salir con el
abecedario correcto. También sin boca entrabas
y sin boca salías, apenas reventando a
castellano la boca. Hasta antes de entrar al
cuartel no sabía castellano; ya en el cuartel mi
boca reventó al castellano. En el cuartel esos
tenientes, capitanes, no querían que
hablásemos runa simi:

- - Indios, carajo, ¡castellano! – decían.


- Así, a pura patada, te hacían hablar castellano
los clases.
Felipe Guamán Poma de Ayala

 Guamán Poma insere desenhos feitos por ele mesmo,


dando a conhecer um simbolismo abstrato,
incompreensível para o público europeu.

 Misturando códigos artísticos europeus, iconografia cristã


com iconografia quéchua (Adorno, 1987)

 Os desenhos exigem um processo de tradução de uma


sintaxe visual própria: o sistema andino consistia na
organização do espaço – dividido em quatro partes, com
um centro, em que cada parte adquire valores diferentes,
de acordo com sua posição no espaço inteiro (Fritz,
2005)
Felipe Guamán Poma de Ayala
Felipe Guamán Poma de Ayala

 Guamán Poma insere outras línguas”Escogí la


lengua e fracis castellana, aymara, colla,
puquina, conde, yunga, uanca, chinchaysuyo,
yauyo, condesuyo, collasuyu, cañari, caqyanpi,
quito” (Poma de Ayala, p. 17)

 “(...) para sacar en limpio estas dichas historias


hube tanto trabajo por ser sin escrito ni letra
alguna sino nomás de la castellana y quichua,
inga aymara, puquina, colla,canche, cana,
charca, chinchaysuyo, andesuyo, collasuyo,
condesuyo, todos los vocablos de indios, que
pasé tanto trabajo por ser servicio de Dios
nuestro señor y de su sacra católica magestad
Felipe Guamán Poma de Ayala

 Com objetivo de reivindicar a humanidade dos


índios, como filhos de Deus, dignos de outro
tratamento, o autor traduz e, ao mesmo tempo,
intercepta e une a história cristã da criação dos
homens com a andina:

 “la generación y casta desde antiquísimo que


Dios trajo primera gente a este reino, de los
indios gentiles que descendió de Adán y Eva, y
de su multiplico Noé del diluvio, y de Uari
Uiracocha runa y de Uari runa Yaro Uilca, que en
decir Yaro Uilca es decir que es muy [sic] mucho
más alto señor de todas las naciones Yaro Uilca”
(Poma de ayala, 2005 p. 60)
Felipe Guamán Poma de Ayala

 Em outro momento Guamán Poma reafirma a


humanidade dos índios, (re)interpretando-os
aos olhos dos conquistadores:

 “Y otros dijeron que los indios eran salvajes


animales, si así fuera no tuvieran la ley ni
oración ni hábito de Adán y fueran como
caballos y bestias, y no conocerían al Creador,
ni tuvieran sementeras y casas y armas,
foratalezas, y leyes y ordenanzas y
conocimiento de Dios, y tan santa entrada”
(Poma de Ayala, 2005 p.50).
Felipe Guamán Poma de Ayala
 Glossários do tipo:

 “En la ley de los ingas se ordenaba para ser rey, Cápac


Apo Inga no quiere decir rey sino que Inga hay gente baja
como chilque inga, ollero, acos inga, embustero, uaroc
inga llullauroc, mentiroso, mayo inga, falso testimoniero,
quillis cachi echeco inga, lleva chismes e mentiras,
poquis colla millma rinre, estos son ingas (...)” (Poma de
Ayala, 2005 p. 93)

 “Diciembre. Cápac Inti Raymi. Que en este mes hacían la gran


fiesta y pascua solemne del sol, que como dicho es, que todo el
cielo de los planetas y estrellas, y cuanto hay es rey el sol; y así
Cápac quiere decir rey, Inti: sol, raymi: gran pascua (...)”(Ibidem,
p. 192)
Felipe Guamán Poma de Ayala

 A inserção, tanto de práticas culturais andinas quanto


de glossas em outras línguas traduz e dá a conhecer aos
espanhóis e ao mundo ocidental uma nova visão e
organização de mundo, diferentes categorias culturais,
saberes e conhecimentos.

 Esses fatores operam como recursos argumentativos


em favor dos índios, cujos massacres Guamán Poma
presenciou durante toda sua vida.
Felipe Guamán Poma de Ayala
 O próprio nome do autor se traduz ao longo de
sua vida: seu nome andino é acrescido de
nomes espanhóis – em todos esses atos se
constata o processo de transculturação
 Transculturação: termo usado por etnógrafos
para descrever como grupos subordinados ou
marginais selecionam e inventam a partir de
materiais a eles transmitidos por uma cultura
dominante (Pratt, 1999)
 Transculturação é um fenômeno da zona de
contato: espaço de encontros coloniais, no qual
as pessoas geográfica e historicamente
separadas entram em contato umas com as
outras e estabelecem relações contínuas,
geralmente associadas a circunstâncias de
 O gênero “crónica”

 Na Idade Média convencionou-se chamar


“crônicas” a um conjunto de textos históricos
que relatavam os grandes feitos dos monarcas.
 No início do séc. XVI essa denominação adquiriu
outro significado, caracterizando uma iniciativa
particular, com fins políticos pessoais, que tinha
como objetivo levar a informação mais completa
possível sobre o que ocorria nas Índias.
 Ao reivindicar autoridade histórica sobre seus
testemunhos, os cronistas também
reivindicavam bens, prestígio, terras e títulos.
 Um processo de contínua re-escritura, marcado
por uma manipulação ideológica constante
(Binotti, 1992)
 Tradução do gênero: hibridismo e transculturação:

 Guamán Poma se apropria do gênero e o altera:


não só pelos exemplos dados anteriormente,
mas também porque instaura uma perspectiva
coletiva em suas reivindicações: em vez de
privilégios pessoais, o cronista reivindica
condições humanas e dignas para as
populações nativas e denuncia abusos, torturas,
massacres; insere as narrativas orais que
coletou; propõe um bom governo, arquitetando
um tipo diferente de organização colonial
Gregorio Condori Mamani

 Tradução – campo de forças que se opõem no processo


de produção do gênero.

 Antropólogos empreendem a tradução de histórias de


vida de sujeitos invisibilizados socialmente, devido às
suas identidades: indígenas, andinos, falantes de língua
não hegemônica, classe social subalternizada.

 Tradução do testemunho andino: um desafio para o


tradutor, devido à realidade social e cultural em que está
inserido, em que múltiplas identidades emergem e se
enfrentam (Howard-Malverde, 1997).

 A conquista e a colonização foram feitos violentos que


deixaram marcas profundas no imaginário coletivo,
sobretudo quando se trata da perda da palavra (ortiz
Fernández, 2004 p. 63)
Gregorio Condori Mamani

 Até que ponto um discurso como esse é


traduzível?

 Em que medida tal tradução traz à tona as


ambivalências inerentes às identidades em
questão?

 O quéchua de Gregorio apresenta fortes


influências lexicais do castelhano.

 Por outro lado, a tradução apresenta categorias


culturais que não existem nas línguas
ocidentais.
Gregorio Condori Mamani

Aqopiyamanta kani, ñan tawa chunka


wataña llataymanta chayamusqay, Gregorio
Condori Mamani sutil

Me llamo Gregorio Condori


Mamani, soy de Acopía y hace
cuarenta años que llegué de mi
pueblo
Guamán Poma Gregorio Condori Mamani
 Será uma tradução dirigida a leitores que não
compreendem o original? (Benjamin, 2001 p.
189)

 “Nossas traduções (mesmo as melhores) partem


de um falso princípio, elas querem germanizar
o sânscrito, o grego, o inglês, ao invés de
sanscritizar, grecizar, anglicizar o alemão. (...) O
erro fundamental de quem traduz é apegar-se
ao estado fortuito da própria língua, ao invés de
deixar-se abalar violentamente pela língua
estrangeira. Sobretudo quando traduz de uma
língua muito distante (...) ele tem de ampliar e
aprofundar sua língua por meio do elemento
estrangeiro (...)” (Pannwitz apud Benjamin, 2001
Guamán Poma - Gregorio Condori Mamani
Estranheza e equívoco
 Diferenças culturais e lingüísticas profundas
instauram a relação com o Outro estranho:
“toda tradução é um modo provisório de lidar
com a estranheza das línguas (Benjamin, 2001
p. 201)

 Um equívoco não é apenas um ‘defeito de


interpretação’, mas uma deficiência no
compreender que as interpretações são
necessariamente divergentes, e que elas dizem
respeito não a modos imaginários de ‘ver o
mundo’, mas aos mundos reais que estão sendo
vistos (Viveiros de Castro, 2005)
Guamán Poma - Gregorio Condori Mamani

Uma postura ética e política e um esforço


intercultural do tradutor

A tradução é um produto sócio-cultural e, portanto,


ambíguo, ambivalente “porque pode ser enfocado e
usado de múltiplas maneiras. Depende do lugar e
das lentes do olhar. Pode se converter num
instrumento de manipulação, domínio ou
emancipação. O tradutor pode pretender
‘representar’ os ‘sem voz’ e falar em seu nome ou
reconhecer que mesmo não sendo um deles está
ou não ao lado deles.” (Ortiz Fernández, 2004 p. 28)
Guamán Poma - Gregorio Condori Mamani

Traduzir, para Guamán Poma, parece ter sido uma luta


obstinada pela sobrevivência, um grito desesperado para
que houvessem gerações futuras.

`Para Gregorio Condori Mamani, parece ter sido um


aceno para dizer a todos nós: nós somos, nós existimos.

Potrebbero piacerti anche