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Patrimônio e MEMÓRIAS
DE VERA CRUZ
CONTRA CAPA...
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................04
DEDICATÓRIA ..............................................................................................................08
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................09
CONTEXTO HISTÓRICO ..............................................................................................10
TUPINANBÁS, BANTOS E IOROBÁS ........................................................................ 12
BAIACU E SUA HISTÓRIA ...........................................................................................14
CONTOS ........................................................................................................................32
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................37
CAÇA PALAVRA ............................................................................................................40
PALAVRA CRUZADAS ..................................................................................................41
JOGOS DOS SETE ERROS ..........................................................................................42
ATIVIDADES PROPOSTAS ...........................................................................................44
BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................47
PREFÁCIO
A historiadora Roseli Vila, empreende o seu “ofício de historiadora” de maneira impecável, demonstrando uma
fidelidade a investigação a seu objeto histórico, que em sua trajetória acadêmica, se concretiza com a monografia
de conclusão do curso de especialização em História da Bahia, denominada de “História, Patrimônio e Memória
do povoado de Baiacu na ilha de Vera Cruz” pela Universidade Católica de Salvador, 2019, e a tessitura do seu
“fazer historiográfico” permite a concretização desta obra que se revela como um trabalho comum, entre a
pesquisadora e seus sujeitos. Fica difícil perceber a diferença entre ambos, pois sujeito, objeto e pesquisadora se
funde na construção do cenário de um passado que se constrói e reconstrói na oralidade dos depoimentos, na
memória que amadurece em cada relato, na expressividade das imagens mentais e materiais que ilustram o
estudo, e principalmente na coexistência entre o relato oral do participante ou testemunha e o entrelace com a
história da formação sociocultural de Vera Cruz, e em uma dimensão mais ampla, com a própria origem do
Brasil colonial.
Entretanto, nem tudo são somente relatos históricos, mas também é reconhecimento de patrimônios locais,
uma vez que apresentam aspectos no campo material e imaterial que incidem sobre a construção de práticas
ancestrais e alusões a atores fundamentais para a formação da sociabilidade dos atuais moradores da vila de
Baiacu. As tradições originárias de Baiacu remontam aos povos nativos tupinambás, que outrora à colonização
coexistiam em sua diversidade de aldeias, assim como a riqueza das práticas culturais e sociais dos africanos
da diversidade Banto e Iorubá. Além da imperativa sociedade colonizadora europeia que empreendeu sua
estrutura colonial sobre os povos da região. É também memória que se corporifica, na participação de Dona
Zozó, Dona Lili, Sr. Roque, Dona Cece, entre outros depoentes que também são participantes que “costuram”
o tecido da memória histórica de Baiacu, e apontam para os elementos considerados como Patrimônios
Culturais, tais quais a Igreja de Nosso Senhor de Vera Cruz, as cantigas de
roda, o samba de prato, os batuques, e até mesmo a natureza, enquanto manifestação de uma imanência
sagrada, como a árvore da gameleira, e a lenda de Iroko/Irôco e dos egunguns.
Por fim, o objetivo em atender a comunidade de Baiacu no resgate e preservação de sua memória e
patrimônio, a partir dos relatos dos velhos, resvala na importância dos estudos que respeitem e valorizem a
memória local e a oralidade dos participantes das comunidades, que ao trazerem a riqueza das recordações,
que mediam um constante conviver entre o passado e o presente, no interior de suas lembranças que se unem
a consciência atual, e a expressão que os sujeitos participantes deste trabalho, tem uma profunda percepção
dos acontecimentos que os circundam em diferentes tempos de suas experiências de vida.
ANDRADE.
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
Mãe não tem limite, - mistério profundo -
é tempo sem hora, de tirá-la um dia?
luz que não apaga Fosse eu Rei do Mundo,
quando sopra o vento baixava uma lei:
e chuva desaba, Mãe não morre nunca,
veludo escondido mãe ficará sempre
na pele enrugada, junto de seu filho
água pura, ar puro, e ele, velho embora,
puro pensamento. será pequenino
Morrer acontece feito grão de milho.
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio. Carlos Drummond de Andrade
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Grande Arquiteto do Universo por ter permitido que retomasse os meus estudos e
por ter me dado forças e inspiração para fazer livro, ao meus filhos Thaiane e Guilherme por
serem o motivo de eu não desistir apesar do cansaço, ao meu marido por me acompanhar nas
pesquisas e apoiar quando foi necessário. Tenho extrema gratidão a todos os meus depoentes
que abriram as suas portas para receber-me, e compartilharam as suas histórias e memórias
comigo, aos meus alunos Camila Alves e João Vitor Teles por abraçar o meu sonho e ajudar a
transforma-lo em realidade. Sou muito grata também a Universidade Católica do Salvador na
figura do Profº Álvaro Dantas, minha orientadora Luciana Martins, meu Coorientador Eudes
Mata, a Profª Alessandra Cruz e todo corpo docente da pós Graduação de História Pública da
Bahia e Ensino.
CONTEXTO HISTÓRICO
Todos estamos carecas ou cabeludos de saber que os portugueses tomaram posse do Brasil em
1500, com a chegada de uma frota de navios comandadas por Pedro Alvares Cabral, sabemos
também que a primeira forma de divisão, para facilitar a administração foram as capitanias
hereditárias, o território foi dividido em 15 lotes entre doze donatários. A posse da terra era
garantida pela Carta de Doação e os direitos e deveres dos donatários eram registrados no Foral.
As capitanias por serem muito extensas foram subdivididas em sesmarias com o objetivo de
garantir o cultivo e a proteção das terras, a Bahia, o nosso Estado foi uma capitania hereditária
cujo o donatário foi Francisco Pereira Coutinho e a Ilha de Itaparica foi uma sesmaria. Como as
únicas capitanias que deram certo foram as de Pernambuco e a de São Vicente, o rei de Portugal
D. João III em 1548 determina a instituição do Governo geral, com o objetivo de centralizar o poder
e tornar a colônia mais lucrativa do que as capitanias. O primeiro governador e fundador da
primeira cidade do Brasil, a cidade de Salvador, foi Tomé de Sousa, o qual concedeu o território
que conhecemos hoje como Itaparica a um membro da sua família. As histórias contidas neste livro
é um resgate histórico de uma região do Brasil que possui uma riqueza história e patrimonial,
oriunda da colonização, nas páginas seguintes vamos conhecer mais sobre a formação da nossa
identidade, cultura, patrimônio e memória de um povo que não aceita ter sua voz silenciada.
O Brasil é um país miscigenado, temos heranças indígenas e africanas, até o século
XIX a principal mão de obra foi a escrava. Milhares de índios e negros foram usados
por portugueses para manter a colônia produtiva fosse no inicio com a extração do pau
brasil, ou depois, com a cana de açúcar até o fim da escravatura em 13 de maio de
1888 quando foi assinada a Lei Aurea.
Iorubás
Língua falada, com variantes locais, pelos diversos povos do sudoeste das atuais república de
Nigéria e Benim, agrupados sob denominação iorubás.
(LOPES, Neri e MACEDO, José Rivair. Dicionário de História da África; Séculos VII a XVI. Editora Grupo Autêntica, Belo Horizonte,
2017.)
BAIACU E SUA
HISTÓRIA
Este livro tem como proposta voltar o olhar
para o povoado de Baiacu, localizado no
município de Vera Cruz, que fica na Contra
Costa da Ilha de Itaparica, com a finalidade de
promover um resgate histórico e identitário da
região. Este local é moradia de uma população
simples e humilde, que vive da pesca, da
extração de mariscos e pequenos comércios,
hoje é considerada uma área de proteção
ambiental, pois abriga uma rica flora composta
pela restinga da Mata Atlântica, por manguezais
e árvores frutíferas, além de manter a cultura
da pesca artesanal. Muito procurado para
turismo por sua estrutura geográfica que
oferece uma paisagem da Mata Atlântica e o
litoral que compõe a região de Vera Cruz. Local
tranquilo e pitoresco habitado por pessoas
receptivas as quais muito contribuíram com os
seus depoimentos para a realização deste
trabalho.
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Dona Antônia - Baiacu foi o primeiro lugarejo da Ilha, onde tudo
começou, aqui foi o lugar onde a população da Ilha começou. E era
uma vila de pescadores, muito pobre, as pessoas eram muito
carentes, eu ainda alcancei casas de taipa e palha. Poucas casas
de telha existiam, na época eu era criança, a vida aqui era
pescaria, as mulheres costuravam redes para os pescadores que
queriam colocar a rede no mar, costuravam as redes de fio de
barbante, teciam o barbante para fazer a rede, e tinham as
mulheres que iam pescar, é claro, por que aqui o sustento dependia
da pesca. Existia pouco recurso aqui, o meio de vida era pouco
diversificado, a maioria das pessoas eram bastante pobres, tinha
alguns armazéns, todos eram humildes mesmo, não tinham
sofisticação nenhuma.
Agora uma tradição que sempre existiu no vilarejo, que não morreu
é o samba, desde que eu me entendo por gente eu ouço esse
samba aqui em Baiacu, o pessoal gosta do samba. Samba de
prato, samba de palmas, a gente sempre ouviu esse batuque de
samba aqui.
- E tudo começou aqui em Baiacu com a construção da Igreja a inauguração dessa igreja
se deu em 1569, e Tomé de Sousa o Governador Geral do Brasil veio inaugurar com
toda burguesia de Salvador. Sobre Tomé de Sousa o primeiro governador geral do
Brasil beneficiou com a doação da Ilha de Itaparica a sua tia D. Violante
- Agora o que sinto falta aqui são as procissões nas datas dos santos católicos, todo ano
tinha a procissão de São Roque, a procissão de Stª Luzia, tinha a procissão de São
Pedro, isso se perdeu. E você sabe que o catolicismo mudou muito de lá pra cá, e a fé
do povo também. As pessoas perderam muito o interesse nas festividades da igreja
católica, além do surgimento de outras religiões. Então não existe apenas católicos
aqui, tem muitas igrejas hoje em Baiacu e as pessoas estão divididas. Aqui eles faziam
terno de reis, tinham umas senhoras que organizavam, mas essas pessoas ficaram
idosas, algumas morreram e daí, não tem aparecido ninguém que se interesse pelo
resgate dessas manifestações culturais que fazem parte da nossa identidade histórica.
Dona Zozó - Eu me lembro, me lembro dos ternos, me lembro de
comédia, Nenêzinha fazia, eu, Maizinha, nós faziamos os pares
e cada um dizia um verso.
“Olhe como é lindo a viagem para Belém,
lindas flores perfumada com o cheiro que o lírio tem,
ô vinde vê, ô vinde vê,
vem apreciá o nosso terno da rosa que saiu pra passear
ô vinde vê, ô vinde vê
vem apreciá o nosso terno da rosa que saiu a passear”
- Essa canção foi de um dos terno, eu saia como pastora, mas
também já saí como porta estandarte da borboleta, essa
manifestação popular acontece no dia 6 de janeiro, tem como
objetivo lembrar e celebrar o nascimento de Jesus Cristo, é uma
festa católica. Ainda tinha os ranchos, que as músicas eram
sambas acompanhado de instrumentos como pandeiros viola e
na palma da mão, já o terno tinha outros instrumentos e a
organização e produção era mais requintada.
Na minha época teve um rancho que ainda lembro da cantiga, foi o Rancho dos bichos,
Dona Zozó - Ela era uma pessoa muito prestativa, só fazia a caridade, ali foi gente boa,
nunca trabalhou com maldade pra ninguém, as pessoas as vezes têm preconceito com
quem é do candomblé, mais ela só trabalhava com bem, fazia caridade, tirava as coisa
ruim que o povo levava pra lá com as orações dela nunca fez o mal, quando se foi deixou
um bocado órfãos aqui, uma vez que ela ajudava espiritualmente e materialmente, dando
comida a quem não tinha o que comer por exemplo.
Dona Cece - Ela era irmã da minha vó, todos a tinham como a médica daqui, a Ilha em peso recorria a
ela por ser uma curandeira, todos a consideravam, todos a respeitavam. O presente no mês de
fevereiro, lembro que o ofertávamos na lua cheia do mês, caísse o dia que tinha que ser na lua cheia
de fevereiro. Com a maré alta, o presente feito pela comunidade e por ela, saia dali do campo da bola
onde ela morava, era uma casa bem grande a dela. O presente da casa era o mais bonito, tinha
estandarte, tinha música para acompanhar até o porto, e lá ficavam os saveiros que iam levar, e as
embarcações com as pessoas para acompanhar, íamos lá para os bolhões, em Itaparica, onde tem um
navio, que afundou ali em frente ao cais, tinha um pedaço de mastro de ferro que a maré podia ser
grande como fosse, mas não cobria, ali era um guia, o presente era colocado lá.
Sr. Tuninho – Todo mundo que procurava ela era bem recebido, chegando no sítio comia, bebia, ela
ajudava a todos.
Dona Antônia - Eu gostava demais do sitio, me sentia bem lá, eu pedia muito a minha mãe pra me
levar por que ela era a avó, era amiga da família, mamãe eu quero ir para o sitio, e mamãe me levava.
Era uma área linda, toda limpa, cheia de flores, arvores, tinha cajueiro, tinha frutas, tinha um jardim
lindo, muito bonito, gostava demais, não ficava uma folha no chão, ninguém deixava o sitio sujo, as
senhoras iam varrer, as mocinhas, os meninos, eu varri muitas vezes. Cada um pegava, o engaço do
coqueiro, e onde tinha folha a gente ia tirando. O lazer aos domingos também era lá, os jovens iam
bater papo, a criançada brincar, todos contavam histórias, riamos, brincávamos, e ela dava merenda a
todos, fazia aquelas cocadas, aquelas coisas gostosas, queijada, ela ficava feliz de ver o sitio com os
jovens e crianças.
CONTO DE IEMANJÁ
Dona Cece - Eu já vi, eu era menina fui pescar siri com minha vó e
quando eu cheguei na Massaranduba, perto do espigão,
estávamos pescando siri, quando vimos acedeu uma luz na ponta
da Coroa, lá no marapé, vovó que avisou, acendeu uma luz verde e
não tem camaroeiro nenhum pescando, Dininha que nos
acompanhava disse, que nada Maria, foi aí que acendeu uma outra
luz, com isso a gente arrancou, vovó pegou a vara da canoa,
dizendo Vumbora Dininha, Vumbora simbora, quando a gente
botou a vara da canoa pra terra, acendeu no marapé, já foi maior,
quando chegamos no Porto a luz bateu no lugar que estávamos
pescando siri, corremos para o paeiro, em poucos instantes ela foi
pela beira do Mangue.
O CONTO DO SENHOR DE VERA CRUZ
MACÊDO, Laécio Nobre de. FILHO, José Aires de Castro. MACÊDO, Ana Angélica
Mathias. SIQUEIRA, Daniel Márcio Batista. OLIVEIRA, Eliana Moreira de. SALES,
Gilvandenys Leite. FREIRE, Raquel Santiago. Objetos de Aprendizagem: Uma Proposta
de Recurso Pedagógico. In: DESENVOLVENDO O PENSAMENTO PROPORCIONAL
COM O USO DE UM OBJETO DE APRENDIZAGEM.
MATTOSO, Katia M. de Queirós. Introdução. In: ______. Bahia, século XIX: uma
província no império. 2ª edição. Rio de Janeiro:Editora Nova Fronteira, 1992.
NEVES, Erivaldo Fagundes. História Regional e Local: fragmentação e recomposição da
História na crise da modernidade. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana;
Salvador: Ed. Arcádia, 2002.
PORTELLI, Alessandro. ENSAIOS DE HISTÓRIA ORAL. Editora Letra e Voz, São Paulo, 2017.
RIBEIRO, João Ubaldo. VIVA O POVO BRASILEIRO, 5ª edição, Editora Objetiva Ltda, Rio de
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SANTHIAGO, Ricardo. História Pública no Brasil: Sentidos e Itinerários. In: Duas Palavras,
Muitos Significados; Alguns comentários sobre a história pública no Brasil. São Paulo. Editora
Letra e Voz, 2016.
TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia, 10ª edição, São Paul: Editora
NESP, 2001.
Entrevistas:
ANJOS, Mariá dos. Entrevista realizada com moradora do Baiacu em setembro de 2018.
CONCEIÇÂO, Mercedes Santa Luzia. Entrevista realizada com moradora do Baiacu em junho
de 2018.
SANTOS, Antônia Benícia dos. Entrevista realizada com moradora do Baiacu em janeiro de
2018.
Artigos: VELAME, Fábio Macêdo. ORIXÁS: UM PROCESSO DE DESSACRALIZAÇÃO-
ESTETIZAÇÃO-ESPETACULARIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO AFRO-BRASILEIRO. V ENECULT -
Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 27 a 29 de maio de 2009 Faculdade de
Comunicação/UFBA, Salvador-Bahia-Brasil.
https://www.veracruz.sp.gov.br/
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