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Brasil: Hoje

• Explicar por que o conto


desponta como foco da
prosa de ficção brasileira.
• Analisar a importância da
crônica para a literatura
atual no Brasil.
• Identificar os caminhos
explorados pelo romance
brasileiro contemporâneo.
• Lirismo e experimentação
na poesia brasileira
contemporânea
Ao lado, Antônio Henrique Amaral.
1968. Boa vizinhança.
A prosa contemporânea brasileira: O romance
Romances autobiográficos: entre a O professor e crítico Antonio Candido afirma que o
memória pessoal e a denúncia acontecimento literário mais importante de 1972 foi a
publicação do romance Baú de ossos, do mineiro Pedro
Nava, que estreava na ficção aos 70 anos de idade. O
romance é claramente autobiográfico, mas sua
elaboração estética fez com que o gênero alcançasse o
status de criação artística, superando a classificação
como um relato da história pessoal.
Ainda nos anos 1970, muitos testemunhos dos
dramas vividos por quem enfrentou a ditadura militar
começaram a surgir. Vários autores, conscientes da
necessidade de levar aos leitores um outro lado da
história política recente do país, participaram desse
processo: Renato Tapajós, Alfredo Sirkis, Fernando
Gabeira e Marcelo Rubens Paiva.
Atualmente, Bernardo Carvalho é um dos escritores
profícuos do gênero, ao lado de nomes já consagrados
Acima, Antônio Henrique Amaral. 1967. Sem saída.
como Chico Buarque, Milton Hatoum e Raduan Nassar.
A prosa contemporânea brasileira: O romance
Memória e história na prosa de ficção
Por volta de 1914, Galib inaugurou o restaurante Biblos no
térreo da casa. O almoço era servido às onze, comida simples,
mas com sabor raro. Ele mesmo, o viúvo Galib, cozinhava,
ajudava a servir e cultivava a horta, cobrindo-a com um véu de
tule para evitar o sol abrasador. [...] Desde a inauguração, o
Biblos foi um ponto de encontro de imigrantes libaneses, sírios e
judeus marroquinos que moravam na praça Nossa Senhora dos
Remédios e nos quarteirões que a rodeavam. Falavam
português misturado com árabe, francês e espanhol, e dessa
algaravia surgiam histórias que se cruzavam, vidas em trânsito,
um vaivém de vozes que contavam um pouco de tudo: um
naufrágio, a febre negra num povoado do rio Purus, uma
trapaça, um incesto, lembranças remotas e o mais recente: uma
dor ainda viva, uma paixão ainda acesa, a perda coberta de luto,
a esperança de que os caloteiros saldassem as dívidas. [...]
HATOUM, Milton. Dois irmãos. Acima, cartão-postal de Manaus em 1917, cenário do romance.
A prosa contemporânea brasileira: O conto
A vida urbana: violência, frustração e anonimato
Os temas desenvolvidos pela ficção em prosa, além de continuarem tendências já observadas na ficção brasileira,
incorporaram elementos do cotidiano urbano contemporâneo, como a violência. A fragmentação dos elementos da
narrativa ajuda a enfatizar problemas psicológicos, religiosos, filosóficos e morais, exacerbados pela vida nos
grandes centros urbanos.
Tornei à Boca do Arrudão, encabulado, murcho como um balão furado. Horas depois, capengando,
capiongo e rasgado [...].
[...] Crio nome de piranha. Como os trouxas pela perna, cobiço. Torno a tomar a verba do alheio [...].
Meu nome corre. O diz-que-diz me exagera, começa a me pintar de negro. Anda por aí que, por uma
herança, matei meu pai a tiros... Trouxas!
O diz-que-diz não está me dizendo nada. Fama não me ilude e não me estorvando... Interessa é a
grana.
Ivete foi a primeira. Mordo agora duas minas na zona. Vou mamando.
[...] Vão esvaziando. Inundam as casas, tocam fogo nos colchões, entortam janelas, com guinchos
arrebentam as portas. Estraçalham, estuporam, quebram. Atacam as minas, arrancadas do sono e quase
nuas. Batem e chutam como se surrassem homens. Sapateiam nos corpos das mulheres (...). Os cavalos
pisam também. Empinando-se no ar e atropelam as infelizes. Vão pisando.

João Antônio. Paulinho Perna-Torta, 1965-75.


A prosa contemporânea brasileira: O conto
A vida urbana: Entre os contistas mais conhecidos e consagrados
violência, frustração e anonimato cuja obra desenvolve essa temática, destacam-se
João Antônio, Dalton Trevisan, Sérgio Sant’Anna,
Ricardo Ramos, Luiz Vilela, Domingos Pellegrini Jr.,
Inácio de Loyola Brandão e Rubem Fonseca. Observe
o exemplo abaixo, em que, apesar da extrema
concisão, o leitor pode reconstruir toda a angústia
da situação narrada.
O Senhor conhece um tipo azarado? Esse sou eu.
Em janeiro bati o carro, não tinha seguro. Depois roubam
o toca-fitas, nem era meu. Vendi os bancos para um
colega e recebo só a metade. Em março, despedido da
firma onde trabalhei sete anos. Empresto o último
dinheirinho a outro amigo, que não me paga. Vou a um
bailão, não danço e acabo apanhando.

Acima, Antônio Henrique Amaral. 1967. 1+1=2. TREVISAN, Dalton. 111 ais. Porto Alegre: L&PM, 2000. p. 47.
A prosa contemporânea brasileira: O conto
A vida urbana: violência, frustração e anonimato
Dentre os autores mais novos, Luiz Ruffato conquistou a crítica e faz sucesso entre os leitores com contos que
abordam a vida urbana a partir da perspectiva do homem comum, anônimo. Em seu primeiro livro, Eles eram
muitos cavalos, o leitor é apresentado à polifonia urbana de São Paulo por meio de 69 episódios que registram
como foi o dia 9 de maio de 2000 na vida de pessoas anônimas.
é um jesuscristinho ali assim deitado nem parece uma criança os longos cabelos louros cavanhaque
antigos olhos castanhos um jesuscristinho estampa comprada num domingo de sol na feira da praça da
república um garoto experimentando inconformado o vai-um das coisas um garoto formidável craque em
matemática e física e química que manjava bem de português e cursava o advanced na cultura inglesa
um menino maravilhoso músculos enformados no taekwondo um garoto adorável empurrando o carrinho
de compras da mãe no pão de açúcar achando graça da mania dela de demorar-se entre as gôndolas
calculadora somando e subtraindo e multiplicando e dividindo até tropicar nos números e irritada não
mais conferir preço peso data de validade e após empilhar tudo nos armários sentarem-se exaustos na
sala para ver o jornal nacional equilibrando o prato com a sobra do almoço na palma das mãos os pés
apoiados na mesa-de-centro e nesses momentos acreditava-se em sintonia com um algo superior em
harmonia com as forças positivas do universo e até perdoava aquele que a abandonara uma criança por
criar preciso de um tempo e o jesuscristinho encorpando a ausência da figura paterna será que isso vai
causar algum problema na cabeça dele [...]
Lourenço Mutarelli, 54, desenha, pinta e escreve.
Em 2018, é o lado escritor que ganha atenção, com o
lançamento de "O Filho Mais Velho de Deus e/ou O Livro IV",
romance sobre um americano que trava contato com uma
organização que acredita na existência de criaturas alienígenas
que assumem forma humana para se infiltrar na Terra. Também
se envolve com uma mulher dedicada a estudar demônios e
suas manifestações em várias épocas e culturas

Folha de S. Paulo: Você ganha bem com a literatura?

Estou absolutamente falido. Vivo de aulas que dou no Sesc,


o que não paga todas as contas. O que eu ganho com livro é
ridículo. Recebo 10% do preço de capa, e ainda pago 27% de
imposto de renda. Não tenho dinheiro para chegar até o final
do ano. Vai ter uma exposição no Sesc, em novembro, com
algumas coisas minhas, estou terminando umas pinturas, sem
escrever neste momento. Quando começo a pintar, paro de
escrever. Estou com 54 anos e tudo só piora, a cada ano está
mais difícil. E acho que nem posso reclamar, estou numa
grande editora, publico. Sou um dos que deram certo, mas dar
Acima, Antônio Henrique Amaral. 1967. 1+1=2. certo com livro no Brasil é apenas isso. É muito triste.

Lourenço Mutarelli. Folha de S. Paulo, 9 /9/ 2018.


A prosa contemporânea brasileira: O conto
A ficção intimista: encontros e desencontros, vida e morte

Os dramas do relacionamento amoroso e do sofrimento gerado pelas desilusões também são expostos, contando
com a cumplicidade do leitor para preencher todos os vazios que o narrador se recusa a explicar.

Olha, estou escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta
coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez,
por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem sempre que sou
demais precipitado, que coloco em palavras todo meu processo mental (processo mental: é exatamente
assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar,
jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e
muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa. [...]

ABREU, Caio Fernando. Carta para além do muro. In: Caio 3D: o essencial da década de 1970.
Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 249. (Fragmento).

Além de Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Luiz
Vilela, Heloisa Seixas são alguns dos nomes de destaque na produção dos textos de ficção introspectiva e reflexiva
da literatura brasileira contemporânea.
A prosa contemporânea brasileira: A crônica
A ficção intimista: encontros e desencontros, vida e morte
Transitando entre o conto e a notícia, a crônica é um gênero narrativo muito popular na literatura contemporânea.
A crônica dá ao escritor uma liberdade muito grande, porque parte de um acontecimento cotidiano que desperta o
cronista e o leva à reflexão. Por esse motivo, ela pode ser lírica, memorialista, política, social, policial, esportiva.
Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma
bruxa ou qualquer outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma
borboleta amarela.
[...] Ela borboleteou um instante sobre um casal de namorados; depois passou quase junto da cabeça
de um mulato magro, sem gravata, que descansava num banco; e seguiu em direção à avenida. Amanhã
eu conto mais.
[...] Está claro que esta é a minha maneira de dizer as coisas; na verdade, ela não se perdeu; eu é
que a perdi de vista. Era muito pequena, e assim, no alto, contra a luz do céu esbranquiçado da tardinha,
não era fácil vê-la. Cuidei um instante que atravessava a avenida em direção à estátua de Chopin; mas o
que eu vi era apenas um pedaço de papel jogado de não sei onde. Essa falsa pista foi que me fez perder
a borboleta.
[...] minha borboleta amarela sumiu. Ergui-me do banco, olhei o relógio, saí depressa, fui trabalhar,
providenciar, telefonar… Adeus, pequenina borboleta amarela.
BRAGA, Rubem. A borboleta amarela.
A prosa contemporânea brasileira: A crônica
A ficção intimista: encontros e desencontros, vida e morte
• Falando sobre a crônica, o escritor Rodolfo Konder revelou o que o leva a escrever esse tipo de texto: “O
essencial é a emoção que cada texto, com seu mistério e sua harmonia, vai provocar em você, que me
ouve e lê. Este é o sabor da crônica”.
• Gênero de forte tradição na literatura brasileira, desenvolvido por grandes romancistas como Machado
de Assis e José de Alencar, ou poetas como Drummond e Bandeira, a crônica conta com espaço fixo nos
principais jornais do país. Rubem Braga, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino
foram alguns dos nomes que ajudaram a manter vivo o prestígio do gênero.
• Entre os cronistas contemporâneos em atividade, alguns nomes merecem destaque, pela grande
quantidade de leitores que conquistaram: Carlos Heitor Cony, Luis Fernando Verissimo e Martha
Medeiros.
• Analisando aspectos da vida social e política brasileira, Cony transformou a crônica em um espaço que
combina reflexão e denúncia. Luis Fernando Verissimo, por sua vez, adotou a ironia e o humor como bases
para desencadear o processo analítico da realidade. Muitos dos textos que escreveu foram transformados
em roteiros e adaptados para programas humorísticos de televisão, como Comédias da vida privada e
Amor Verissimo.
• A escritora Martha Medeiros faz parte da novíssima geração de cronistas gaúchos e conquista legiões de
leitores interessados em suas reflexões sobre os relacionamentos amorosos. Em comum com Luis
Fernando Verissimo, a autora tem a capacidade de expor o ridículo de alguns comportamentos humanos.
Lirismo e
experimentação
na poesia brasileira
contemporânea
• Reconhecer as tendências da
criação poética contemporânea
em língua portuguesa.
• Descrever os aspectos básicos
da Tropicália e da poesia
marginal das décadas de 1960 e
1970.
• Identificar as Linhas gerais da
produção teatral brasileira
no século XX.
Hélio Oiticica. “Seja marginal, seja herói”.
Lirismo e experimentação na poesia brasileira contemporânea
Depois de toda a exploração dos sons, formas e signos visuais feita pelos concretistas e seus seguidores, a poesia brasileira
viveu anos agitados a partir da década de 1970. Hoje, como acontece com a prosa, abriga poetas de tendências muito distintas.

• A Tropicália retomou os princípios estéticos dos manifestos Pau-brasil e Antropófago,


para criar obras que revelassem o caldo cultural (nacional e estrangeiro) em que foram
concebidas.
• Os “olhos cheios de cores”, cantados por Caetano, são um tributo a Oswald de Andrade,
que afirmava: “os casebres de açafrão e ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino,
são fatos estéticos”.
• Para acentuar o diálogo entre a produção nacional e a cultura universal, os tropicalistas
abraçaram os meios de comunicação como poderosos aliados na divulgação da sua arte.
• Caetano Veloso, Capinan, Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato Neto e outros investiram no
sincretismo e misturaram pop e folclore, rock, bossa nova, samba e baião. O resultado,
como eles mesmos chamaram, foi a “geleia geral”, que abalou os alicerces da música
popular brasileira e, ainda hoje, encanta jovens e influencia compositores.
Lirismo e experimentação na poesia brasileira contemporânea

Sintonia para pressa e presságio

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala,


eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

LEMINSKI, Paulo. In: GÓES, Fred; MARINS, Álvaro (Sel.). Acima, GRUPO Frente. In: ENCICLOPÉDIA Itaú
Melhores poemas de Paulo Leminski. 6. ed. Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.
São Paulo: Global, 2002. p. 169. São Paulo: Itaú Cultural, 2018.
Lirismo e experimentação na poesia brasileira contemporânea
Poema para ser transfigurado

quem somos
o que queremos
logo logo saberemos

por enquanto
sabemos
que um gesto
uma palavra
pode transformar o mundo

qual deles
qual delas
saberemos já já

esta a missão do artista:


experimentar [...]

Acima, GRUPO Frente. In: ENCICLOPÉDIA Itaú CHACAL (Ricardo de Carvalho Duarte).
Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú In: Boa companhia: poesia. São Paulo: Cia das Letras,
Cultural, 2018. 2003. p. 125. (Fragmento).
Lirismo e experimentação na poesia brasileira contemporânea
Contranarciso
Neste poema, o eu lírico trata da relação
entre o “eu” e o outro.
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro assim como
enfim dezenas eu estou em você
trens passando eu estou nele
vagões cheios de gente em nós
centenas e só quando
estamos em nós
o outro estamos em paz
que há em mim mesmo que estejamos a sós.
é você
você
e você
LEMINSKI, Paulo. GRUPO Frente. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018.
A reinvenção da linguagem e o cotidiano redescoberto
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios. Sou um apanhador de desperdícios:
Não gosto das palavras Amo os restos
fatigadas de informar. como as boas moscas.
Dou mais respeito Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
às que vivem de barriga no chão Porque eu não sou da informática:
tipo água pedra sapo. eu sou da invencionática.
Entendo bem o sotaque das águas. Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes. BARROS, Manoel de. Memórias inventadas.
Prezo insetos mais que aviões. São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 47.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis. Na cena literária brasileira contemporânea, Manoel de Barros
Tenho em mim um atraso de nascença. fez, com a linguagem poética, algo bastante semelhante ao que
Eu fui aparelhado Guimarães Rosa fez na prosa. Na sua obra, as palavras renascem
para gostar de passarinhos.
ou são reinventadas em novas funções, levadas a construir novas
fronteiras para a significação e obrigando-nos a aprender a olhar
Tenho abundância de ser feliz por isso.
de um modo diferente para o mundo.
Meu quintal é maior do que o mundo.

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