Aula 11 – Unidade III Psicologia Jurídica e direito da
Criança e do Adolescentes. Violência intrafamiliar
Prof.ª Ms. Daniele Cristine Gadelha
danielecristine@unigrande.edu.br Objetivos
• Analisar a relação entre Psicologia Jurídica e direito da
Criança e do Adolescentes • Analisar a relação entre Psicologia Jurídica e violência intrafamiliar Psicologia Jurídica - Aula anterior: • Psicologia jurídica e Família: • Psicólogo atuação em perícias envolvendo guarda de filhos e adoção (verificar qual a dinâmica familiar e as interações entre os membros daquela família) • A atuação do psicólogo no psicodiagnóstico clínico com fins terapêuticos e na perícia judicial • Quebra do vínculo familiar: a separação implica em fim da conjugalidade e não da parentalidade • Alienação parental Psicologia Jurídica Com a CF Art 227, CF - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. • As crianças, os adolescentes e os idosos passaram a receber tratamento prioritário pelas legislações pós-constituinte. • a doutrina da proteção integral, assegurando às crianças e aos adolescentes a condição de sujeitos de direitos, pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta. • no sistema jurídico anterior, privilegiava-se o interesse do adulto Psicologia Jurídica Doutrina da situação irregular - representada pelo Código de Menores E a única solução encontrada à época era a institucionalização, de todos, conjunta e indistintamente. despertando o interesse do Estado apenas os órfãos, abandonados e delinquentes, em função do incômodo gerado para a sociedade ECA - norma abrangem não só́ as situações que são levadas às varas da infância e juventude, casos em que a situação de risco é flagrante, mas, igualmente, os feitos que tramitam nas varas de família e no juízo criminal, quando, por vezes, os maus-tratos e a violência vêm envoltos em artimanhas construídas pelo mundo adulto assegurar à criança o direito à convivência familiar quando sobre um dos genitores recai suspeita de violência sexual intrafamiliar – desafios aos profissionais Psicologia Jurídica • Os casos de violência sexual intrafamiliar praticados contra a criança chegam ao Sistema de Justiça através do Conselho Tutelar, da Delegacia de Polícia (quando remete o inquérito policial), ou das disputas familiares envolvendo guarda, visitas, suspensão ou destituição do poder familiar. Dependendo da situação, será́ acionado o Sistema de Justiça Infanto- Juvenil, Criminal ou de Família. • Cabe ao Conselho Tutelar receber, entre outras situações de ameaça ou violação dos direitos daqueles que ainda não atingiram os 18 anos, os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos, mostrando-se de extrema urgência sua criação e instalação, em todos os municípios • Previsto no art. 131 do ECA, o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Psicologia Jurídica O Conselho Tutelar - contato direto com a população- observa-se que as queixas relativas à violação dos direitos de crianças e adolescentes são dirigidas a esse órgão, o qual deve estar em sintonia com o judiciário local, a fim de que as informações e as ações sejam harmoniosas e alcancem o objetivo de proteção à infância e à adolescência. Trata-se de autoridade pública municipal. Nos centros urbanos maiores e mais complexos- interdisciplinar, com advogado, psicólogo, pedagogo, assistente social, administrador, além dos próprios conselheiros. Suas principais atribuições são: •atender crianças que necessitem de proteção, sempre que seus direitos forem ameaçados ou violados; •atuar junto às instituições de aplicação das medidas socioeducativas; •encaminhar ao Ministério Público a notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente. Psicologia Jurídica Violência intrafamiliar - é aquela se refere a todas as formas de abuso que acontecem entre os membros de uma família, caracteriza as diferenças de poder entre estes, e podem envolver a relação de abuso que incluem condutas de uma das partes em prejudicar o outro (Seldes, Ziperovich, Viota & Leiva, 2008). os sujeitos que comumente são vítimas de violência psicológica ou física são as crianças, as mulheres e os idosos. pode ser caracterizada de formas diferentes como: física, psicológica, sexual e negligência. Geralmente é mantida por meio das relações de subordinação e dominação e é um dos principais motivos para as crianças fugirem de casa e do convívio familiar (Williams, 2004) Psicologia Jurídica • A violência doméstica contra a criança e o adolescente representa todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e adolescentes que – sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado, uma transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento (Guerra, 1998, p. 32/33) • A Negligência é a omissão de responsabilidade e de cuidados básicos de atendimento às necessidades físicas e emocionais prioritárias e de proteção à criança frente a situações graves que podem ser evitadas. • Uma forma de negligência considerada grave é o abandono, que por sua vez evidencia a ausência de um vínculo adequado dos responsáveis para com a mesma Psicologia Jurídica • Esse tipo de violência é considerada a forma mais frequente de maus tratos e inclui a negligência física, emocional e educacional. • A Negligência Física abrange a maioria dos casos de maus tratos e caracterizam problemas como: ausência de cuidados médicos pelo não reconhecimento ou admissão por parte dos pais ou responsáveis, abandono ou expulsão da criança de casa por rejeição, ausência de alimentação, cuidados de higiene, roupas, proteção a alterações climáticas, imprudência ou desobediência às regras de trânsito, falta de medidas preventivas para evitar intoxicação exógena, supervisão inadequada (como deixar a criança sozinha e sem cuidados por longos períodos). • A Negligência Emocional inclui ações como falta de suporte emocional, afetivo e de atenção, exposição crônica à violência doméstica, permissão para o uso de drogas e álcool (sem intervenção), permissão e encorajamento de atos delinquentes, recusa ou não procura por tratamento psicológico quando recomendado. Psicologia Jurídica A Negligência Educacional compreende; permissão para faltar às aulas, não realização da matrícula em idade escolar e recusa para matricular a criança em escola especial quando necessário (Pires & Miyazaki, 2005) Violência Física - a força física é usada de forma intencional - As marcas indicativas do abuso incluem hematomas, escoriações, lacerações, contusões e queimaduras. praticada por parte dos pais, responsáveis, cuidadores, familiares ou pessoas próximas A Síndrome do Bebê Sacudido (Shaken Baby Syndrome) é destacada como subtipo da violência física. Este termo é utilizado para denominar uma agressão frequentemente praticada e que não deixa marcas. Envolve sacudir ou chacoalhar fortemente a criança, principalmente no sentido ântero- posterior, podendo provocar graves lesões cerebrais, hemorragias oculares, causar atraso no desenvolvimento psicomotor e morte (Pires & Miyazaki, 2005). Psicologia Jurídica A Violência Sexual pode ser definida como uma situação em que a criança é usada para satisfação sexual hetero ou homossexual, com base em uma relação de poder, utilizando força física, cujo agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado do que a criança, sendo que este pode usar de influência psicológica, uso de armas ou drogas como formas de coerção (Pires & Miyazaki, 2005). Pode ser caracterizado de duas maneiras: sem contato físico (telefonemas obscenos, exibicionismo e voyeurismo) e com contato físico (atos físico- genitais, estupro, sadismo, pornografia e prostituição infantil) (Brino, 2006). A violência sexual pode incluir desde carícias não consentidas, manipulação de genitália, mama ou ânus, olhar perturbador e insistente, cantadas obscenas, relações sexuais com menores de 14 anos – mesmo com consentimento (essa prática é considerada violência presumida porque até essa idade , entende-se que o jovem não tem maturidade para a tomada de decisões dessa natureza) (Arruda,Zamora & Barker, 2003). Psicologia Jurídica A Violência Psicológica é considerada toda ação ou omissão que causa ou visa a causar dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Inclui ameaças, humilhações, agressões, chantagens, discriminação e exploração. É a prática mais difícil de ser identificada, embora ocorra com bastante frequência. Pode levar a criança a se sentir desvalorizada, ansiosa e a adoecer com facilidade. Em situações mais graves pode até levar ao suicídio (Arruda, et al., 2003). A criança agredida em sua própria casa, local onde supostamente estaria protegida da violência, fica exposta a uma situação de grande desamparo. O fato de conviver com seu agressor e enfrentar o pacto do silêncio que costuma envolver as pessoas mais próximas nesse tipo de situação, estilos parentais disfuncionais ou mesmo a redes de apoio ineficazes. Psicologia Jurídica Os efeitos da exposição à Violência Intrafamiliar Infantil podem ser ob- servados nas funções cognitivas e emocionais, na dinâmica escolar e social (Pereira, Santos & Williams, 2009). Os sintomas mais frequentes são: falta de motivação, isolamento, ansiedade, comportamento agressivo, depressão, baixo desempenho e evasão escolar, dificuldade de aprendizagem, pouco aproveitamento, repetência e necessidade de educação especial (Brancalhone, Fogo & Williams, 2004). Os prejuízos podem surgir como danos imediatos: pesadelos repetitivos, raiva, culpa, vergonha, medo do agressor e de pessoa do mesmo sexo que este, quadros fóbico-ansiosos e depressivos agudos, queixas psicossomáticas, isolamento social e sentimentos de estigmatização. - mudança brusca nos traços comportamentais Psicologia Jurídica As medidas de proteção encontram-se previstas no ECA, em seu art. 101, e destacam-se: I -encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II –orientação, apoio e acompanhamento temporários; III –matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV –inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V –requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI –inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII –acolhimento institucional; VIII –inclusão em programa de acolhimento familiar; IX –colocação em família substituta. Psicologia Jurídica ECA dispõe em seus arts. 112 e seguintes as medidas que podem ser aplicadas na ocorrência de ato infracional praticado por adolescente, dentre elas: I –advertência; II –obrigação de reparar o dano; III –prestação de serviços à comunidade; IV –liberdade assistida; V –inserção em regime de semiliberdade; VI –internação em estabelecimento educacional. - a aplicação de medidas mais severas deve ser precedida da criteriosa análise sobre a possibilidade da utilização de medidas que não impliquem em internação. Resolução nº 113/2006 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), os programas de aplicação das medidas socioeducativas devem obedecer às seguintes diretrizes: Psicologia Jurídica I– prevalência do conteúdo educativo sobre os sancionários e meramente de contenção; II – ordenação do atendimento socioeducativo e da sua gestão, a partir do projeto político-pedagógico; III– construção, monitoramento e avaliação do atendimento socioeducativo, com a participação proativa dos adolescentes socioeducandos; IV – disciplina como meio para a realização do processo socioeducativo; V – respeito à diversidade étnica/racial, de gênero, orientação sexual e localização geográfica como eixo do processo socioeducativo; VI – participação proativa da família e da comunidade no processo socioeducativo. Psicologia Jurídica A adolescência inicia-se, segundo a legislação (ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 2º), aos 12 anos. A lei deve determinar de modo específico e objetivo este marco. sob a ótica biopsicológica, os parâmetros não são determinados de acordo com uma data específica, mas de acordo com mudanças psicológicas e fisiológicas variáveis que ocorrem em torno dessa idade. No início, as mudanças físicas mostram-se mais perceptíveis, porém a imagem que o adolescente tem de si apresenta-se, muitas vezes, difusa. Os valores da infância e adolescência sofrem profundas transformações Os adolescentes vivem o drama da transição e precisam de apoios sólidos Conclusão • A violência é uma das questões sociais que mais causam preocupação e é abordada como um problema de saúde pública em todo o mundo. • A violência intrafamiliar é aquela se refere a todas as formas de abuso que acontecem entre os membros de uma família, caracteriza as diferenças de poder entre estes, e podem envolver a relação de abuso que incluem condutas de uma das partes em prejudicar o outro (Seldes, Ziperovich, Viota & Leiva, 2008). • os sujeitos que comumente são vítimas de violência psicológica ou física são as crianças, as mulheres e os idosos. • A violência intrafamiliar infantil pode ser caracterizada de formas diferentes como: física, psicológica, sexual e negligência Avaliação 1. O que é violência intrafamiliar infantil e quais formas pode ser caracterizadas? 2. Quais as consequências da violência intrafamiliar na criança e adolescentes? 3. Como o Psicólogo Jurídico atua nesse contexto de violência? Referências
•FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni.
Psicologia Jurídica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2017. (digital)