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No café existencialista

SA R A H BA K E W E L L
( 2017)
Edmund Husserl
 “Voltar às coisas mesmas”
 Não perder tempo com interpretações
 Não perder tempo perguntando se as coisas são reais
 Olhe para a vida tal como ela se apresenta a você
 Olhe para o momento com a máxima precisão possível
 Reconexão entre filosofia e vida – tal como é vivida
Martin Heidegger
 A questão do ser
 O que é ser?
 O que significa dizer que um ser é?
 O que é ser para um ser?
 Método fenomenológico: desconsidere o acúmulo intelectual,
preste atenção nas coisas e deixe que elas se revelam a você
Soren Kierkegaard
 Existencialismo: reflexão sobre os problemas da
existência humana
 1846: “Pós-escrito conclusivo não científico às
migalhas filosóficas: uma contribuição existencial”
 Dificuldades e complicações da existência
humana
 A existência humana é um ponto de partida para
tudo que fazemos, não o resultado de uma dedução
lógica
 Existência: modo humano de ser, escolhas a cada
passo
Simone de Beauvoir
 O segundo sexo: livro existencialista publicado em 1949
 Análise das experiências, das escolhas de vida das mulheres e das
condições em que essas escolhas são feitas
 Experiência, escolha, liberdade e autenticidade
 Transformador escândalo
Jean-Paul Sartre
 A liberdade está no cerne de toda experiência humana
 A liberdade é a própria condição humana
 Sou minha liberdade: nem mais nem menos
 “Você é livre, portanto escolha. Isto é, invente!”
 Liberdade: aleatoriedade, impulsividade, inconsequência?
 Pode tudo?
 Liberdade  responsabilidade
 Liberdade: difícil, desgastante, angustiante
Caminhos da liberdade
“Não existe um caminho traçado que leve a
pessoa à sua salvação;
a pessoa precisa inventar incessantemente
seu próprio caminho.
Mas, para inventá-lo, a pessoa é livre,
responsável, autêntica,
e todas as esperanças residem dentro de si”.
O que é o existencialismo?
 Interesse pela existência humana, concreta e individual
 Definição do ser humano como liberdade
 Por sermos livres para escolhermos a cada momento, somos
responsáveis pelas nossas escolhas, a responsabilidade é
indissociável da existência humana
 A liberdade e a responsabilidade tornam a angústia também
indissociável da existência humana
 Somos livres para escolher sempre em determinadas situações
 Sermos livres para escolher implica que há um projeto
O que é o existencialismo?
 A relação entre o existencialismo e a fenomenologia está na busca
por descrever a experiência vivida, tal como ela se apresenta
 Em contato com a experiência, vivendo-a tal como ela se apresenta,
podemos ter uma compreensão mais apropriada para vivermos
modos de vida mais autênticos
 Voltar às coisas mesmas
O que é a fenomenologia?
 Um novo modo de olhar as coisas
 Um método
 Descrever fenômenos
 Despir-se de distrações, hábitos, ideias feitas, pressupostos e
clichês
 Dedicar a atenção “às coisas mesmas”
 Olhar de olhos bem abertos
 Capturar as coisas exatamente como aparecem
 Não como pensamos que supostamente seriam
O sabor de uma fruta
“O sabor de uma fruta está no contato da fruta com o paladar,
e não na fruta mesmo”
Clarice Lispector
O que são os fenômenos?
 Qualquer coisa, objeto ou ocorrência comum
 Qualquer coisa, objeto ou ocorrência comum tal como se apresenta
à minha experiência
 Não como poderia ser, como deveria ser, como seria se...
 Exemplo: xícara de café
Xícara de café
“O que é, então uma xícara de café? Posso definir a bebida em termos
da química e da botânica da planta, acrescentar resumidamente como
os grãos são cultivados e exportados, como são moídos, como a água
quente passa pelo pó e então esse líquido é vertido num recipiente de
determinado formato, para ser apresentado a um integrante da
espécie humana que o ingere oralmente.
Posso analisar o efeito da cafeína no corpo ou abordar o comércio
internacional do café.
Posso encher uma enciclopédia com esses fatos e ainda assim estarei
longe de dizer o que é esta xícara de café em particular, à minha
frente” (Bakewell, 2017, p. 39).
Xícara de café
“Por outro lado, se procedo ao inverso e invoco um leque de associações
puramente pessoais e sentimentais, isso tampouco me permite entender
essa xícara de café como um fenômeno imediatamente dado.
Em vez disso, essa xícara de café é um aroma rico, ao mesmo tempo
agreste e perfumado; é o movimento indolente de uma voluta de vapor
erguendo-se de sua superfície.
Quando o levo à boca, é um líquido que se move placidamente e um peso
dentro da xícara de bordas grossas em minha mão.
É um calor que se aproxima, então um intenso sabor carregado em minha
língua, começando com um impacto levemente austero e então se
distendendo num calor reconfortante, que se espalha da xícara para meu
corpo, trazendo a promessa de um estado duradouro de alerta e
revigoramento” (Bakewell, 2017, p. 40).
Xícara de café
“A promessa, as sensações antecipadas, o cheiro, a cor e
o sabor fazem, todos eles, parte do café como fenômeno.
Todos emergem ao serem experimentados”
(Bakewell, 2017, p. 40).
Redução fenomenológica
 Entre parênteses
 Deixar de lado as suposições abstratas
 Deixar de lado as associações emocionais invasivas
 Concentrar-se no fenômeno
 Concentrar-se nas coisas tal como elas se apresentam
 É real? – deixar de lado essa pergunta
 Modo de acesso à experiência humana
 Voltar sempre às coisas mesmas
Redução fenomenológica
“(...) é uma tarefa libertadora: devolve-nos o mundo em que vivemos.
Funciona extremamente bem com as coisas que, de modo geral, não
consideramos como matéria filosófica: uma bebidas, uma música
triste, um passeio de carro, um pôr do sol, uma sensação de
desconforto, uma caixa de fotografias, um momento de tédio.
Restaura o mundo pessoal em sua riqueza, que dispomos de acordo
com nossa própria perspectiva, mas que geralmente passa tão
despercebido quanto o ar”.
(Bakewell, 2017, p. 41)
Intencionalidade
* Nós somos aquilo sobre o que pensamos
* Toda consciência é consciência de alguma coisa
* Todo pensamento é pensamento sobre algo
* Todo sentimento é sentimento sobre algo
* Somos seres no mundo
Ser e tempo
 O que é ser?
 Entre todas as coisas desconcertantes
sobre o “ser”, a que gera mais perplexidade é
que as pessoas não se sentem muito
perplexas com ele
 Digo “o céu é azul” ou “eu sou feliz” como
se a palavrinha no meio fosse algo evidente
 O que pode significar dizer que alguma
coisa é?
Sein (ser)
 O Ser não é em si um ser
Não é nenhuma entidade definida ou delineada
 É difícil se concentrar no Ser
 É fácil se esquecer de pensar nele
 Sou o ser cujo Ser indago
 Eu mesma, então, sou o caminho
Dasein (ser aí)
 “á-frente-de-si-mesmo-já-sendo-em-(o-mundo) como ser-junto-com
(entes encontrados dentro do mundo).
 Heidegger nos oferece o Desein em sua cotidianidade
 Ser-no-mundo
 Geralmente o ser-no-mundo está ocupado fazendo alguma coisa
 Não costumamos contemplar as coisas: pegamos e agimos sobre
elas
 Por que pego um martelo?
 Cuidado
 Todo ser-no-mundo é também um ser-com
Cuidado
 A preocupação e o cuidado práticos são mais primordiais do que a
reflexão
 A utilidade vem antes da contemplação
 O acessível-à-mão vem antes do presente-à-mão
 O Ser-no-mundo e o Ser-com-os-outros vem antes do Ser-só
 Não pairamos sobre o mundo, contemplando-o do alto
 Somos no mundo, envolvidos no mundo, lançados no mundo
Condição de lançados
Cuidado
 A preocupação e o cuidado práticos são mais primordiais do que a
reflexão
 A utilidade vem antes da contemplação
 O acessível-à-mão vem antes do presente-à-mão
 O Ser-no-mundo e o Ser-com-os-outros vem antes do Ser-só
 Não pairamos sobre o mundo, contemplando-o do alto
 Somos no mundo, envolvidos no mundo, lançados no mundo
Condição de lançados
Cuidado
“Então cá estou eu martelando a estante; praticamente nem noto o
martelo, só percebo o prego entrando e meu projeto geral. Se estou
digitando no computador um parágrafo sobre Heidegger, não preso
atenção nos dedos, no teclado ou na tela; meu cuidado passa por eles e
se dirige ao que estou tentando fazer. Mas aí alguma coisa sai errado. O
prego entorta ou, talvez, a cabeça do martelo se desprende do cabo e
sai voando. Ou o computador trava”

“(...) O mundo deixa de ser uma máquina zunindo suavemente. Torna-se


um amontoado de coisas teimosas recusando-se a cooperar, e aqui
estou eu no meio disso, aturdida e desorientada – que é precisamente o
estado que Heidegger procura induzir em nós quando lemos seus
escritos” (Bakewell, 2017, p. 66-67).
Desmoronamento de
significados
 Colapso
 As conexões desapareceram
 Tudo se desarticula
 É suspendido o estado comum de desatenção
As portas da percepção
 Famoso estudo fenomenológico publicado em 1953
 Desafio: investigar fenomenologicamente sonhos, fantasias e
alucinações
 Como identificar a intencionalidade mesmo quando seus objetos
inexistem?
 Huxley descrevia como os objetos apareciam e como a música
soava durante uma viagem alucinógena
 Huxley: êxtase místico
Sartre: legião demoníaca de cobras, peixes, sapos e besouros
Narrativas
 Nexo entre descrição e liberdade
 Quem escreve, descreve, portanto, em um exercício de liberdade
 Outra forma de contato com a experiência
 Romances de Sartre: exploração épica da liberdade
 Romances de Simone: linhas de força do desejo, do ciúme e do
controle, como o corpo expressa as emoções e vive as experiências
O ser e o nada
 Não sou literalmente nada, a não ser o que decido ser
 Perceber a extensão da liberdade é um mergulho na angústia
 Desconforto geral em relação à existência
 Vertigem
Escolhas
 Por que acordo?
 O que acontece quando o despertador toca?
Escolhas
“Todos esses expedientes funcionam porque nos permitem fingir que
não somos livres. Sabemos muito bem que poderíamos reprogramar
ou desabilitar o despertador. Se não recorrêssemos a truques, teríamos
de lidar com todo o vasto campo de nossa liberdade a cada instante, o
que tornaria a vida extremamente complicada. Assim, costumamos
criar as mais variadas obrigações ao longo do dia”
(Bakewell, 2017, p. 151).
Má-fé
 Para Sartre, mostramos má-fé sempre que nos representamos
como resultados passivos dos fatos ocorridos ou mesmo de
motivações ocultas que escapam ao nosso controle
Vivemos em má-fé a maior parte do tempo, porque é assim que a
vida é vivível
 Em grande parte, a má-fé é inofensiva, mas pode ter consequências
graves
Escolhas
“Nunca tive um grande amor ou uma grande amizade, mas foi porque
nunca encontrei um homem ou uma mulher que fossem dignos disso;
se não escrevi nenhum grande livro, foi porque não tive tempo livre
para isso”
(Bakewell, 2017, p. 153).
Boa-fé
Temos a liberdade de escolhemos, sempre em determinadas
situações. É preciso assumir a responsabilidade.
 Ninguém faz escolhas num campo totalmente aberto ou no vazio
 Facticidade
 Sem a significativa facticidade, minha liberdade seria uma
liberdade flutuante
 Ser livre não significa agir de forma desimpedida ou aleatória
 A situação não é um impedimento para minha liberdade, é
condição para ela
 A liberdade é a nossa condição
Liberdade
 Os aspectos da nossa existência que nos limitam são os mesmos
que nos ligam ao mundo
 Os aspectos que nos ligam ao mundo são os que nos dão espaço de
percepção e de ação
 Fazem-nos o que somos
As relações
CLÍNICA FENOMENOLÓGICA E EXISTENCIAL
Exercício
* Em duplas,
* Pergunte para a pessoa sobre uma experiência vivida que ela
associa à liberdade.
* A partir dos conceitos que vimos: liberdade, angústia,
responsabilidade, escolha, discuta sobre a experiência relatada pela
pessoa com quem formou dupla.
As relações
* Ser no mundo
* Consciência como consciência de algo
* Consciência como consciência de algo que tem consciência
* Consciência como consciência de alguém que também tem
consciência de mim como alguém
* Reconhecimento
* Ser com os outros
As relações
* Eu vejo algo
* Eu vejo alguém
* Eu vejo alguém me ver
* Eu vejo uma pessoa ver que a vejo
* Vejo a mim mesma sendo vista
* Vejo a mim mesma sendo vista por alguém que eu vejo que me vê
* Sujeito
* Objeto
* Quem sou eu quando vejo a mim mesma em posição de objeto para
alguém que me vê
As relações
“Ninguém nasce mulher: torna-
se mulher.
Nenhum destino biológico,
psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana
assume no seio da sociedade
(...).
Somente a mediação de outrem
pode constituir um indivíduo
como um Outro”
(Beauvoir, 1949, p. 9).
“Entre meninas e meninos, o
corpo é, primeiramente, a
irradiação de uma
subjetividade, o instrumento
que efetua a compreensão do
mundo: é através dos olhos, das
mãos e não das partes sexuais
que apreendem o universo”
(Beauvoir, 1949, p. 9).
“O destino que a sociedade
propõe tradicionalmente à
mulher é o casamento. Em sua
maioria, ainda hoje, as
mulheres são casadas, ou o
foram, ou se preparam para sê-
lo, ou sofrem por não o ser”.
“A evolução econômica da condição
feminina está modificando
profundamente a instituição do
casamento: este vem-se tornando uma
união livremente consentida por duas
individualidades autônomas; as
obrigações dos cônjuges são
recíprocas; o adultério é para as duas
partes uma denúncia do contrato; o
divórcio pode ser obtido por uma ou
outra das partes em idênticas
condições. A mulher não se acha mais
confinada na sua função reprodutora,
apresenta-se como uma experiência
voluntariamente assumido”

(Beauvoir, 1949, p. 165).


“O código francês não mais inclui a
obediência entre os deveres da
esposa, e toda cidadão tornou-se
eleitora; essas liberdades cívicas
permanecem abstratas quando não
se acompanham de uma autonomia
econômica. (...)
Foi pelo trabalho que a mulher
cobriu em grande parte a distância
que a separava do homem; só o
trabalho pode assegurar-lhe uma
liberdade concreta”

(Beauvoir, 1949, p. 165).


“Não se deve entretanto
acreditar que a simples
justaposição do direito de voto a
um ofício constitua uma perfeita
libertação: hoje o trabalho não é
a liberdade. Em sua maioria, os
trabalhadores são hoje
explorados”

(Beauvoir, 1949, p. 297).


“A mulher que se liberta
economicamente do homem nem
por isso alcança uma situação
moral, social e psicológica
idêntica à do homem.
(...) O fato de ser uma mulher
coloca hoje problemas singulares
perante um ser humano
autônomo”

(Beauvoir, 1949, p. 297).


“O privilégio de que o homem detém, e
que se faz sentir desde sua infância,
está em que sua vocação de ser
humano não contraria seu destino de
homem.
Seus êxitos sociais lhe dão prestígio,
ele não se divide.
Ao passo que à mulher, para que
realize sua feminilidade, pede-se que
se faça objeto, isto é, que renuncie
suas reivindicações de sujeito.
É esse conflito que caracteriza
singularmente a situação da mulher
libertada”

(Beauvoir, 1949, p. 297).


“O privilégio de que o homem detém, e
que se faz sentir desde sua infância,
está em que sua vocação de ser
humano não contraria seu destino de
homem.
Seus êxitos sociais lhe dão prestígio,
ele não se divide.
Ao passo que à mulher, para que
realize sua feminilidade, pede-se que
se faça objeto, isto é, que renuncie
suas reivindicações de sujeito.
É esse conflito que caracteriza
singularmente a situação da mulher
libertada”

(Beauvoir, 1949, p. 297).


“A perspectiva que adotamos é a
da moral existencialista.
Todo sujeito coloca-se
concretamente através de
projetos; só alcança sua liberdade
pela constante superação; não há
outra justificação da existência
presente senão sua expansão para
um futuro indefinidamente
aberto”.

(Beauvoir, 1949, p. 22-23).


“Um existente não é senão o que faz;
o possível não supera o real,
a essência não precede a existência:
em sua pura subjetividade o ser
humano não é nada”.

(Beauvoir, 1949, p. 303).


“Ora, o que define de maneira
singular a situação da mulher é
que, sendo como todo ser
humano, uma liberdade
autônoma, descobre-se e escolhe-
se num mundo em que os homens
lhe impõe a condição do Outro”
(Beauvoir, 1949, p. 23).
“Como pode realizar-se um ser
humano dentro da condição
feminina?
Que caminhos lhe são abertos?
Quais conduzem a um beco sem
saída?
Como encontrar a independência no
seio da dependência?
Que circunstâncias restringem a
liberdade da mulher, e quais pode
ela superar?
São essas questões fundamentais
que desejaríamos elucidar”
(Beauvoir, 1949, p. 24).
“A pessoa não cria o mundo, ela só
consegue desvela-lo através das
resistências que esse mundo lhe
impõe;
a vontade só se define suscitando
obstáculos;
é por meio da contingência, da
facticidade que alguns obstáculos se
deixam vencer, outros não” (p. 29)
Simone de Beauvoir
“As memórias de Simone de Beauvoir
fazem dela uma das maiores cronistas
intelectuais do século XX, bem como uma
de suas fenomenólogas mais dedicadas.
Página a página, ela observa sua
experiência, expressa o espanto por estar
viva, presta atenção nas pessoas e se
entrega a seu apetite por tudo que
encontra” (Bakewell, 2017, p. 319).
“É apenas enquanto estrangeiro,
enquanto livre, que o outro se desvela
como outro; e amá-lo autenticamente
é amá-lo em sua alteridade e nesta
liberdade por meio da qual ele escapa”
(p. 49)
“O outro não me pede nada; ele não é
um vazio que eu teria que preencher,
não posso descobrir nele nenhuma
justificação pronta de mim
mesma”(p. 49)
“O que chamamos de vitalidade, de
sensibilidade, de inteligência, não são
qualidades prontas, mas uma
maneira de se lançar no mundo e de
desvelar o ser” (p. 40).
Existência humana
* Determinada maneira de situar-se frente a seu passado e seu futuro
* Frente ao passado e ao futuro somos e, ao mesmo tempo, não
somos
* É na angústia que tomamos consciência da liberdade
Passado
* Eu não tenho o meu passado
* Eu sou o meu passado
* Não me desassocio do meu passado
* Nem mesmo quando digo:
“não sou mais o que era”
Sou meu passado, e, se não o fosse,
meu passado não existiria nem para
mim nem para ninguém.
Já não teria qualquer relação com o
presente.
Sou aquele por quem meu passado
vem a esse mundo (p. 167).
Liberdade
* Ser é escolher-se
* Cada detalhe que somos, somos nós que
escolhemos e, escolhendo, criamos
* Não é o passado, mas o futuro, que anuncia o
que somos
* Escolher-se é nadificar-se
Todo processo psíquico de nadificação implica, portanto,
uma ruptura entre o passado psíquico imediato e o
presente.
Ruptura que é precisamente o nada.
Pelo menos, dir-se-á, resta a possibilidade de implicação
sucessiva entre os processos nadificadores
Assim, a condição para a realidade humana negar o mundo,
no todo ou em parte, é que carregue em si o nada como o
que separa seu presente de todo seu passado
A liberdade é o ser humano colocando seu passado fora de
circuito e segregando seu próprio nada (p. 70-71).
Liberdade e passado
* Liberdade é escolha
* As escolhas se dão em função do passado
* Não é o passado que determina o presente e o futuro, é o
futuro que determina o presente e o passado
* O passado só é vivido como passado em relação ao que é
escolhido
* Há no passado elementos imutáveis: o passado é um fato
* A liberdade está na possibilidade de separar-se do fato
que é o passado
Motivos e liberdade
* Ser livre não é não ter a influência dos motivos
* Os motivos influenciam
* Influenciam, mas são insuficientes para determinar
* É a insuficiência para determinação dos motivos, ao
mesmo tempo sua inevitável influência, que delimitam
o campo da liberdade
Determinado rochedo, que demonstra
profunda resistência se pretendo removê-
lo, será, ao contrário, preciosa ajuda se
quero escalá-lo para contemplar a
paisagem.
Em si mesmo – se for sequer possível
imaginar o que ele é em si mesmo - , o
rochedo é neutro, ou seja, espera ser
iluminado por um fim de modo a se
manifestar como adversário ou auxiliar
(p. 593).
Consciência e motivos
* A consciência não pode ser seu próprio motivo
* Consciência é sempre consciência de algo
* A consciência, como vazia de conteúdo próprio, é um nada
* Frente ao passado, a consciência é e não é ao mesmo
tempo
* Frente ao futuro, a consciência é e não é ao mesmo tempo
* Há na consciência, assim, uma estrutura nadificadora
* É por haver a possibilidade de nadificação entre passado,
presente e futuro, que somos livres
“A consciência é um ser
para o qual,
em seu próprio ser,
acha-se a consciência do
nada de seu ser” (p. 92).
Consciência refletida e
consciência irrefletida
* Enquanto escrevo, estou no papel e na caneta, estou na frase que
surge palavra após palavra.
* Enquanto monto um armário, estou em cada peça e no encaixe
entre elas, estou na ferramenta que uso e no movimento que faço.
* A consciência em ação é consciência irrefletida
* A consciência de ter consciência da ação e de ser quem escolhe a
ação visando determinadas finalidades é consciência refletida
* A angústia refere-se à consciência refletida
* A consciência refletida me faz pensar sobre a relação entre o que
sou e o que faço, a relação do que faço comigo mesma
Na medida em que apreender o sentido da
campainha do despertador já é ficar de pé a
seu chamado, tal apreensão me protege
contra a angustiante intuição de que sou eu –
e mais ninguém – quem confere ao
despertador seu poder de exigir meu
despertar.
Da mesma forma, o que se poderia chamar de
moralidade cotidiana exclui a angústia ética.
Há angústia ética quando me considero em
minha relação original com os valores (p. 83).
Má-fé
* A má-fé não é uma mentira cínica ou uma
enganação oportunista
* A má-fé é a tentativa de fugir do que não se
pode fugir
* É uma desagregação íntima no núcleo do ser
Má-fé
 Para Sartre, mostramos má-fé sempre que nos representamos
como resultados passivos dos fatos ocorridos ou mesmo de
motivações ocultas que escapam ao nosso controle
Vivemos em má-fé a maior parte do tempo, porque é assim que a
vida é vivível
 Em grande parte, a má-fé é inofensiva, mas pode ter consequências
graves
Caminhos da liberdade
“Não existe um caminho traçado que leve a
pessoa à sua salvação;
a pessoa precisa inventar incessantemente
seu próprio caminho.
Mas, para inventá-lo, a pessoa é livre,
responsável, autêntica,
e todas as esperanças residem dentro de si”.
Ser e tempo
 O que é ser?
 Entre todas as coisas desconcertantes
sobre o “ser”, a que gera mais perplexidade é
que as pessoas não se sentem muito
perplexas com ele
 Digo “o céu é azul” ou “eu sou feliz” como
se a palavrinha no meio fosse algo evidente
 O que pode significar dizer que alguma
coisa é?
Sein (ser)
 O Ser não é em si um ser
Não é nenhuma entidade definida ou delineada
 É difícil se concentrar no Ser
 É fácil se esquecer de pensar nele
 Sou o ser cujo Ser indago
 Eu mesma, então, sou o caminho
Dasein (ser aí)
 “á-frente-de-si-mesmo-já-sendo-em-(o-mundo) como ser-junto-com
(entes encontrados dentro do mundo).
 Heidegger nos oferece o Desein em sua cotidianidade
 Ser-no-mundo
 Geralmente o ser-no-mundo está ocupado fazendo alguma coisa
 Não costumamos contemplar as coisas: pegamos e agimos sobre
elas
 Por que pego um martelo?
 Cuidado
 Todo ser-no-mundo é também um ser-com
Cuidado
 A preocupação e o cuidado práticos são mais primordiais do que a
reflexão
 A utilidade vem antes da contemplação
 O acessível-à-mão vem antes do presente-à-mão
 O Ser-no-mundo e o Ser-com-os-outros vem antes do Ser-só
 Não pairamos sobre o mundo, contemplando-o do alto
 Somos no mundo, envolvidos no mundo, lançados no mundo
Condição de lançados
Cuidado
 A preocupação e o cuidado práticos são mais primordiais do que a
reflexão
 A utilidade vem antes da contemplação
 O acessível-à-mão vem antes do presente-à-mão
 O Ser-no-mundo e o Ser-com-os-outros vem antes do Ser-só
 Não pairamos sobre o mundo, contemplando-o do alto
 Somos no mundo, envolvidos no mundo, lançados no mundo
Condição de lançados
Cuidado
“Então cá estou eu martelando a estante; praticamente nem noto o
martelo, só percebo o prego entrando e meu projeto geral. Se estou
digitando no computador um parágrafo sobre Heidegger, não preso
atenção nos dedos, no teclado ou na tela; meu cuidado passa por eles e
se dirige ao que estou tentando fazer. Mas aí alguma coisa sai errado. O
prego entorta ou, talvez, a cabeça do martelo se desprende do cabo e
sai voando. Ou o computador trava”

“(...) O mundo deixa de ser uma máquina zunindo suavemente. Torna-se


um amontoado de coisas teimosas recusando-se a cooperar, e aqui
estou eu no meio disso, aturdida e desorientada – que é precisamente o
estado que Heidegger procura induzir em nós quando lemos seus
escritos” (Bakewell, 2017, p. 66-67).
Desmoronamento de
significados
 Colapso
 As conexões desapareceram
 Tudo se desarticula
 É suspendido o estado comum de desatenção
Tempo
 Uma cadeira pode ter duzentos anos ou ter sido
fabricada ontem, mas isto não é questão para a
própria cadeira. É para a pessoa que a cadeira está
velha ou nova.
 Na experiência cotidiana eu não tenho passado, sou
meu passado. Ele me impregna de todos os lados,
experimento de forma permanente. Não é uma
representação da minha história, sou eu.
 Não posso modificar o conteúdo de meu passado,
mas posso modificar a função que exerce no meu
ser.
Projeto
 Busca do sujeito por realizar-se
 Não existe sujeito sem projeto
 Ao lançar-se no mundo, persegue um fim, mesmo
que não tenha clareza de qual
 Em cada posicionamento, em cada atitude, em cada
escolha
 O projeto é o desejo de ser
 O desejo de ser que move, que lança em direção ao
mundo
Projeto
* Ninguém mergulha no rio para nadar se,
de alguma maneira, já não se encontrava
antes de alguma forma dentro do rio.
* Ninguém viaja para uma cidade nova se já
não estiver de alguma forma naquela cidade,
mesmo quando ainda não a conhece.
* É desta maneira que nos mudamos para
uma casa: vemos os quartos imaginando
como serão mobiliados mais tarde, o que
faremos em cada cantinho.
Consciência irrefletida
* O sapateiro perde a consciência de si
mesmo; está absorto em seu trabalho,
transforma-se no sapato que está
costurando
* A escritora transforma-se em seu romance
* A criança que agarra a areia aos punhados
está na areia
Futuro
* Todos nós sabemos que os outros são
capazes de dar um rumo diferente para
nossas vidas.
* O futuro nunca se origina de uma
subjetividade puramente individual.
* O futuro é o que está por vir, o que está
vindo ao nosso encontro agora.
Passado
* O que relatamos nunca é
completamente correto
* Às vezes, somos nós mesmos(as)
os(as) críticos(as) de nossa memória
* A primeira coisa a dizer sobre o
passado é que ele nos fala no
presente
Passado
* O passado não é significativo por
ter sido significativo no tempo que
se deu
* Naquele tempo, talvez, podia não
ter significado algum
* O passado é significativo porque é
significativo agora
* O passado significativo é o passado
presente
Passado
* O passado não é a posse de um
tempo passado.
* O passado é: o que era, como
parece agora.
* O passado real só é real agora.
* Cada um de nós vive numa casa que tem
aspectos jamais observados por nós, embora
estímulos vindos desses aspectos atinjam
nossos olhos talvez milhares de vezes.
* Nem tudo o que acontece é uma
experiência.
* Assim é a nossa relação com o nosso
próprio passado.
* Aquilo que não tem função, não tem
realidade.
Futuro
“Uma vida histórica está cheia de acasos, de
encontros. O futuro é incerto, somos o nosso próprio
risco, o mundo é nosso perigo” (Sartre, 2002, p. 296).
Sobre o que
as pessoas falam
quando falam sobre si
CLÍNICA FENOMENOLÓGICA E EXISTENCIAL
Retomando...
* Tomar consciência da própria liberdade é, necessariamente,
angustiante.
Retomando...
* Não temos o passado, mas somos o passado.

* Somos alguém por meio do qual o passado se


presentifica, ou seja, existe.
Retomando...
* Os obstáculos não são os impedimentos de nossas
escolhas, não indicam que a liberdade seria ilusória, mas
sim, tornam-se obstáculos justamente pelas escolhas que
fizemos, porque somos livres.
Retomando...
* Ser é escolher-se, é escolher ser.

* São nossas escolhas, nossas ações, que nos tornam


quem somos.

* Ser livre não é ser livre para realizar tudo aquilo que se
quer, mas ser livre para escolher agir de acordo com o
que se quer, de acordo com as próprias escolhas.
Exercício
* Assim como na música “Capitão Gancho”, escreva frases
relacionando experiências e aspectos importantes em
sua vida que você acredita que contribuem para te
motivarem a ser como você é hoje.
Sou meu passado, e, se não o fosse,
meu passado não existiria nem para
mim nem para ninguém.
Já não teria qualquer relação com o
presente.
Sou aquele por quem meu passado
vem a esse mundo (p. 167).
Passado
* Eu não tenho o meu passado
* Eu sou o meu passado
* Não me desassocio do meu passado
* Nem mesmo quando digo:
“não sou mais o que era”
Existência humana
* Determinada maneira de situar-se frente a seu
passado e seu futuro
* Frente ao passado e ao futuro somos e, ao mesmo
tempo, não somos
Liberdade
* Ser é escolher-se
* Cada detalhe que somos, somos nós que
escolhemos e, escolhendo, criamos
* Não é o passado, mas o futuro, que anuncia o
que somos
* Escolher-se é nadificar-se
Todo processo psíquico de nadificação implica, portanto,
uma ruptura entre o passado psíquico imediato e o
presente.
Ruptura que é precisamente o nada.
Pelo menos, dir-se-á, resta a possibilidade de implicação
sucessiva entre os processos nadificadores
Assim, a condição para a realidade humana negar o mundo,
no todo ou em parte, é que carregue em si o nada como o
que separa seu presente de todo seu passado
A liberdade é o ser humano colocando seu passado fora de
circuito e segregando seu próprio nada (p. 70-71).
Liberdade e passado
* Liberdade é escolha
* As escolhas se dão em função do passado
* Não é o passado que determina o presente e o futuro, é o
futuro que determina o presente e o passado
* O passado só é vivido como passado em relação ao que é
escolhido
* Há no passado elementos imutáveis: o passado é um fato
* A liberdade está na possibilidade de separar-se do fato
que é o passado
Motivos e liberdade
* Ser livre não é não ter a influência dos motivos
* Os motivos influenciam
* Influenciam, mas são insuficientes para determinar
* É a insuficiência para determinação dos motivos, ao
mesmo tempo sua inevitável influência, que delimitam
o campo da liberdade
Determinado rochedo, que demonstra
profunda resistência se pretendo removê-
lo, será, ao contrário, preciosa ajuda se
quero escalá-lo para contemplar a
paisagem.
Em si mesmo – se for sequer possível
imaginar o que ele é em si mesmo - , o
rochedo é neutro, ou seja, espera ser
iluminado por um fim de modo a se
manifestar como adversário ou auxiliar
(p. 593).
Consciência e motivos
* A consciência não pode ser seu próprio motivo
* Consciência é sempre consciência de algo
* A consciência, como vazia de conteúdo próprio, é um nada
* Frente ao passado, a consciência é e não é ao mesmo
tempo
* Frente ao futuro, a consciência é e não é ao mesmo tempo
* Há na consciência, assim, uma estrutura nadificadora
* É por haver a possibilidade de nadificação entre passado,
presente e futuro, que somos livres
“A consciência é um ser
para o qual,
em seu próprio ser,
acha-se a consciência do
nada de seu ser” (p. 92).
Consciência irrefletida
* O sapateiro perde a consciência
de si mesmo; está absorto em seu
trabalho, transforma-se no sapato
que está costurando
* A escritora transforma-se em seu
romance
* A criança que agarra a areia aos
punhados está na areia
* Cada um de nós vive numa casa que tem
aspectos jamais observados por nós, embora
estímulos vindos desses aspectos atinjam
nossos olhos talvez milhares de vezes.
* Nem tudo o que acontece é uma
experiência.
* Assim é a nossa relação com o nosso
próprio passado.
* Aquilo que não tem função, não tem
realidade.
Passado
* O que relatamos nunca é
completamente correto
* Às vezes, somos nós mesmos(as)
os(as) críticos(as) de nossa memória
* A primeira coisa a dizer sobre o
passado é que ele nos fala no
presente
Passado
* O passado não é significativo por
ter sido significativo no tempo que
se deu
* Naquele tempo, talvez, podia não
ter significado algum
* O passado é significativo porque é
significativo agora
* O passado significativo é o passado
presente
Futuro
* Todos nós sabemos que os outros
são capazes de dar um rumo
diferente para nossas vidas.
* O futuro nunca se origina de uma
subjetividade puramente
individual.
* O futuro é o que está por vir, o
que está vindo ao nosso encontro
agora.
Uma maçã no escuro
Por que teria uma pessoa que
decidir cada dia e cada noite?
Que liberdade era essa que
aquela mulher não pedira
sequer?
E como se já não tivesse com
tanto esforço escolhido, de novo
e de novo tinha que escolher;
como se já não tivesse escolhido.
Uma maçã no escuro
Silenciou, um pouco tonta.
Um cobiçoso amor pela sua
própria história a tomara.
Ali estava ela naquele momento
de pé – rica, tonta, pesada,
ganhando ali mesmo, enquanto
falara, um passado de que
jamais suspeitara.
Uma maçã no escuro
“Mas eu tenho ainda todo um
passado para trás!”, gritou-se
subitamente em arrebatamento
de surpresa.
Pois só ao contar é que ela se
lembrara...
Como se somente agora
soubesse que também isso era
vida sua, ah.
Uma maçã no escuro
A mulher então se perguntou
absorta se não haveria mil
outras coisas que lhe tinham
acontecido...
E das quais ela simplesmente
ainda não sabia.
Uma maçã no escuro
Perguntou-se, com a gravidade
de uma descoberta, se ela na
verdade não tinha escolhido
viver de alguns fatos passados,
quando poderia viver de outros
que tinham igualmente
acontecido – e tinha direito a
eles – assim como neste instante
ela estava vivendo do rapaz da
fogueira.
Uma maçã no escuro
Perguntou-se, com a gravidade
de uma descoberta, se ela na
verdade não tinha escolhido
viver de alguns fatos passados,
quando poderia viver de outros
que tinham igualmente
acontecido – e tinha direito a
eles – assim como neste instante
ela estava vivendo do rapaz da
fogueira.
Passado
* O passado não é significativo por
ter sido significativo no tempo que
se deu
* Naquele tempo, talvez, podia não
ter significado algum
* O passado é significativo porque é
significativo agora
* O passado significativo é o passado
presente
Futuro
* Todos nós sabemos que os outros
são capazes de dar um rumo
diferente para nossas vidas.
* O futuro nunca se origina de uma
subjetividade puramente
individual.
* O futuro é o que está por vir, o
que está vindo ao nosso encontro
agora.
Futuro
“Uma vida histórica está cheia de acasos, de
encontros. O futuro é incerto, somos o nosso próprio
risco, o mundo é nosso perigo” (Sartre, 2002, p. 296).
Angústia
* Tomar consciência da própria liberdade é,
necessariamente, angustiante.
* Como a liberdade é uma condição permanente, a
angústia seria, também, um estado permanente para a
afetividade.
* A angústia é um estado permanente?
Consciência refletida e
consciência irrefletida
* Enquanto escrevo, estou no papel e na caneta, estou na frase que
surge palavra após palavra.
* Enquanto monto um armário, estou em cada peça e no encaixe
entre elas, estou na ferramenta que uso e no movimento que faço.
* A consciência em ação é consciência irrefletida
* A consciência de ter consciência da ação e de ser quem escolhe a
ação visando determinadas finalidades é consciência refletida
* A angústia refere-se à consciência refletida
* A consciência refletida me faz pensar sobre a relação entre o que
sou e o que faço, a relação do que faço comigo mesma
Na medida em que apreender o sentido da
campainha do despertador já é ficar de pé a
seu chamado, tal apreensão me protege
contra a angustiante intuição de que sou eu –
e mais ninguém – quem confere ao
despertador seu poder de exigir meu
despertar.
Da mesma forma, o que se poderia chamar de
moralidade cotidiana exclui a angústia ética.
Há angústia ética quando me considero em
minha relação original com os valores (p. 83).
Ser-com
Clínica fenomenológica e existencial
2º semestre – 2018
Imagine

 Imagine que você chega em uma sala, com outras


duas pessoas.
 Vocês ficarão juntas nessa sala por muito tempo,
talvez por anos.
 É uma sala em que não é possível sair.
 É uma sala em que não anoitece.
 É uma sala em que não é possível apagar a luz.
 É uma sala em que não há espelho.
 Ao entrarem nessa sala, vocês deixam de ter
pálpebras.
Entre quatro paredes

 Intersubjetividade
 Ser-com
 Ser-para-o-outro
 Relações concretas
Entre quatro paredes

 Ausência de espelhos, de noite, de pálpebras:


confrontação pura com o outro, sem saber o que o
outro vê
 Sou minhas ações... É possível modificar-se... É
possível nadificar-se...
 Enquanto estivermos vivos(as).
 O outro como um espelho infernal
Tradução: “Nós podemos
permanentemente fazer e refazer a nós
mesmos(as) pelas nossas ações, e então
nos tornamos o que nossas ações nos
definem enquanto seres.
Mas quando morremos, o jogo acaba, e
nós estamos inteiramente dependentes
do que as outras pessoas pensam de
nós.
E as pessoas nos julgarão somente pelo
que nós fizemos”
Tradução: “Todos(as) nós
lembramos de situações em
que fizemos o que era possível
para tentar fazer com que
alguém tomasse decisão por
nós.
Apenas um ser que tem medo
da liberdade, e da
responsabilidade que a
liberdade traz consigo,
buscaria se comportar dessa
forma”.
Tradução: “Apenas um ser que
era livre e que sabia que era
livre, sairia de seu caminho,
como todos(as) nós às vezes
fazemos, para fingir que não
foi livre”
Alteridade

 A liberdade do outro revela-se a mim através da


inquietante indeterminação de ser que sou para ele.
A liberdade do outro revela-se a mim através
da inquietante indeterminação de ser que sou
para ele.
Este ser não é meu possível.
É o limite de minha liberdade, seu reverso.
Não ao modo do “era” ou do “ter-de-ser”.
Basta que o outro me olhe para que eu seja o
que eu sou.
Porque é para e por uma liberdade, e somente
por ela e para ela, que meus possíveis podem
ser limitados e determinados.
Alteridade

 Não posso prever que efeitos terão meus gestos e


atitudes
 O sentido de minhas expressões sempre me escapa
 Não há como saber o que exprimo para o outro
 Minha linguagem é, então, um fenômeno sempre
incompleto.
Alteridade

 O outro é um sistema conexo de experiências fora de


alcance.
“É apenas enquanto estrangeiro,
enquanto livre, que o outro se desvela
como outro; e amá-lo autenticamente
é amá-lo em sua alteridade e nesta
liberdade por meio da qual ele escapa”
(Simone de Beauvoir, p. 49)
“O outro não me pede nada; ele não é
um vazio que eu teria que preencher,
não posso descobrir nele nenhuma
justificação pronta de mim mesma”
(Simone de Beauvoir, p. 49)
Perspectiva existencialista
 Há a angústia de reconhecer que não há
dentro nem fora nenhuma garantia ou
sentido para a injustificável existência
 Esforços em vão na tentativa de alcançar
algo que garanta alívio diante da vertigem
angustiante que é existir enquanto liberdade
 Perpétua busca por fundamento fadada ao
fracasso, pois não há nada que faça cessar a
condição de indeterminação
Buscando “lá dentro” o que está
“lá fora”
 Há a comum ilusão humana de que os
grandes sentimentos, permeados, na maioria
das vezes, por contornos mágicos e
idealizados, são capazes de doar sentido à
abstrata e angustiante apreensão da nossa
condição de existir enquanto liberdade.
 Em nosso mundo, compartilhamos a ideia de
que quem ama se compromete com a ideia
de duração.
 Assim, o amor se transforma em uma
espécie de promessa, em algo que implica
permanência.
O esforço contraditório de amar
 No contexto do amor, o olhar almejado e
cortejado, do qual queremos tomar posse
deve ser o olhar íntimo do amado, que nos vê
de perto e que deve gostar do que vê.
 “Este, o fundo de alegria do amor, quando
existe: sentimos que nossa existência é
justificada” (Sartre, 2001, p. 462).
O esforço contraditório de amar
 Desejamos, portanto, ser o mundo inteiro do
amado, aliás, queremos ser o próprio
fundamento a partir do qual o mundo é
possível para ele.
 Buscamos esse lugar especial, em que nos
reconhecemos como pessoas livremente
eleitas para que através disso, possamos
sentir que temos valor e que podemos ficar
em paz.
 Mas tal projeto é novamente aqui fadado ao
fracasso.
Então, quando o amado, por sua vez, irá
converter-se em amante?
A resposta é simples: quando projeta ser
amado.
Se o amor tem por ideal a apropriação do
outro enquanto outro, ou seja, enquanto
subjetividade olhadora, este ideal só poder
ser projetado a partir de meu encontro com o
outro sujeito, e não com o outro-objeto.
Sendo assim, novamente o amado só irá
transformar-se em amante caso projete ser
amado, ou seja, se o que deseja conquistar
não for um corpo, mas sim a subjetividade do
outro enquanto tal.
Com efeito, o único meio que pode conceber
para realizar esta apropriação é o de fazer-se
amar.
Assim, no casal amoroso, cada qual quer ser o
objeto para o qual a liberdade do outro se
aliena em uma intuição original; mas esta
intuição, que seria o amor propriamente dito,
não passa de um ideal contraditório.
Cada um quer que o outro o ame, sem dar-se
conta de que amar é querer ser amado e que,
desse modo, querendo que o outro o ame,
quer apenas que o outro queira que ele o ame.
Alteridade

 O amado é o olhar.
Intimidade
 Se o outro é por princípio aquele que nos olha,
aquele que nos devolve a nós mesmos, o olhar
do outro acaba por exercer certo magnetismo
sobre nós, uma vez que detém o nosso tão
almejado “lado de fora”.
 Somos, ao mesmo tempo, atraídos e repelidos
por essa densidade que o olhar nos fornece.
 Atraídos, pois ela é precisamente o que
desejamos.
 E, repelidos, posto que, como afirmamos, o olhar
restringe nossa liberdade, nos faz um ser que
desejamos, mas que nunca alcançamos
realmente.
Intimidade
 Para nos protegermos dessa avassaladora
condição do olhar do outro acabamos,
muitas vezes, em nossas relações cotidianas,
criando modos de ser engessados e rígidos
acreditando que, dessa forma, podemos “nos
vestir” para dissimular nossa “nudez” e
aparentemente entregarmos ao outro algo
menos arriscado.
Intimidade
 Desejar a intimidade é, de certa forma, abrir
ao outro a possibilidade de nos
desnudarmos diante de seus olhos.
 É remover o verniz superficial que
recorremos, na maioria das vezes, para nos
protegermos em nossas relações cotidianas
com os outros mais distantes.
 É nos despirmos das condutas de fuga que
frequentemente recorrermos, para
buscarmos o contrário, ou seja, para não
fugirmos mais.
Intimidade
 Ao mesmo tempo em que nos
disponibilizamos, em que nos desnudamos
na intimidade, também nos tornamos
vulneráveis diante deste outro que nos olha
tão de perto.
O ser da compreensão
* Ser-no-mundo como ser-para-os-outros
* Tenho consciência de ser objeto para o olhar
do outro, de ser objeto para a consciência do
outro, mas não tenho acesso à consciência do
outro
* Quando o outro me olha, o que percebo não é
um objeto que olha, mas uma outra liberdade
O ser da compreensão
* A saúde, para a fenomenologia e para o
existencialismo, corresponde ao processo de
criação constante do mundo e de si
* O que adoece é manter-se preso(a) a uma
mesma estrutura, sem mudança, sem criação
* Existir é coexistir. Adoecer está relacionado à
incomunicabilidade, ao isolamento.
* Diagnóstico: Quais são os pontos de
restrição? Quais são as possibilidades de
expansão, de criação?
Clínica existencial
 Projeto de ser
 Contexto de construção
 Raízes das dificuldades
 Localização das contradições de seu ser
 Movimento no conjunto de relações
 Movimento no mundo
Clínica existencial
 Elaboração de uma biografia
 Esclarecimento do ser da pessoa
 Esclarecimento das condições de possibilidade de
um fenômeno ocorrer
 Elaboração da compreensão psicológica
 Superação de impasses
 Mudanças na dinâmica das relações
RELATAR A SI MESMA
A unicidade do outro é exposta para mim,
mas a minha também é exposta para o
outro.
A noção de singularidade costuma estar
ligada ao romantismo existencial e com
uma pretensão de autenticidade.
RELATAR A SI MESMA

Faço um relato de mim mesma para ti.


Além disso, a cena de interpelação,
significa que enquanto estou engajada
em uma atividade reflexiva, pensando
sobre mim mesma e me reconstruindo,
também estou falando contigo e assim
elaborando uma relação com o outro na
linguagem.
Ao fazer um relato de mim mesma,
estabeleço uma relação com aquele a
quem se dirige meu relato.
RELATAR A SI MESMA

Na relação terapêutica, muitas vezes a


função da fala é transmitir informações
(incluindo informações sobre minha
vida), mas ela também funciona como
condutora de um desejo.
Por um lado, é um esforço de comunicar
informações sobre si mesmo; por outro,
ela recria e constitui, de uma forma nova,
as suposições tácitas sobre a
comunicação e a relacionalidade que
estruturam o modo de interpelação.
RELATAR A SI MESMA

Há a recriação de uma relacionalidade


dentro do espaço terapêutico, uma
recriação que gera potencialmente uma
nova ou alterada relação (e a capacidade
para se relacionar) baseada no trabalho
terapêutico.
RELATAR A SI MESMA
O “eu” é narrado, mas também posto e
articulado no contexto da cena de
interpelação.
O que é produzido no discurso muitas
vezes perturba os objetivos intencionais
da fala.
Se conto algo, estou agindo sobre ti de
alguma maneira.
E o que conto também faz algo comigo,
age sobre mim.
RELATAR A SI MESMA

A linguagem pertence primeiro ao outro,


a adquiro por meio de uma complicada
forma de mimese.
A própria possibilidade da ação
linguística é derivada da situação em que
nos encontramos interpelados por uma
linguagem que nunca escolhemos.
RELATAR A SI MESMA

Quando o terapeuta é o outro, não posso


saber quem ele é, mas a busca dessa
questão que não pode ser satisfeita
estabelece as maneiras como um outro
enigmático inaugura-me e me estrutura.
O que eu o convoco a ser?
RELATAR A SI MESMA

Quando tento dar um relato de mim


mesma, eu o faço sempre para alguém
que, acredito, recebe minhas palavras de
determinada maneira, embora eu não
saiba e não posso saber qual.
RELATAR A SI MESMA
Na verdade, a pessoa que ocupa a
posição de receptor pode não receber
nada e estar envolvido em algo que, sob
nenhuma circunstância, poderia ser
chamado de “recepção”, fazendo por mim
nada mais que estabilizar certo espaço,
um lugar estrutural onde se articula a
relação com uma recepção possível.
Desse modo, é irrelevante se existe ou
não um outro que seja de fato receptor,
pois o importante é que exista um lugar
onde aconteça a relação com uma
recepção possível.
RELATAR A SI MESMA

Essa relação com uma possível recepção


assume muitas formas: ninguém pode
escutar isso; esse aqui certamente vai
entender isso; serei recusada aqui, mal
compreendida ali, julgada, descartada,
aceita ou acolhida.
RELATAR A SI MESMA

Dado que somos vulneráveis à


interpelação dos outros de maneiras que
não podemos controlar totalmente, isso
significa que carecemos da capacidade de
agir e de responsabilidade?
RELATAR A SI MESMA

Contar sobre si ao(à) terapeuta, a alguém


– um(a) destinatário(a) – que pode ouvir a
história e, ao ouvi-la, alterá-la um pouco.
O outro representa a possibilidade de a
história ser devolvida em uma nova
forma, de os fragmentos serem ligados de
alguma maneira, de alguma parte da
opacidade ser iluminada.
Clínica fenomenológica e
existencial
2º semestre – 2018
Conceitos

 Liberdade  Ser-em-si
 Método fenomenológico  Ser-para-si
 Intencionalidade  Ser-para-o-outro
 Facticidade  Olhar
 Má-fé  Alteridade
 Escolhas  Projeto
 Passado  Saúde
 Nadificação  Palavras
 Essência  Relações
O que é a liberdade?
Qual é a importância da
liberdade para a clínica
fenomenológica e existencial?
O que é a liberdade?
 A liberdade está no cerne de toda experiência
humana
 A liberdade é a própria condição humana
 Sou minha liberdade: nem mais nem menos
 Liberdade: aleatoriedade, impulsividade,
inconsequência?
 Pode tudo?
 Liberdade  responsabilidade
 Liberdade: difícil, desgastante, angustiante
Liberdade
“Não existe um caminho traçado que leve a
pessoa à sua salvação;
a pessoa precisa inventar incessantemente
seu próprio caminho.
Mas, para inventá-lo, a pessoa é livre,
responsável, autêntica,
e todas as esperanças residem dentro de si”.
O que é o método
fenomenológico?
Qual é a importância do
método fenomenológico para a
clínica fenomenológica e
existencial?
O que é o método fenomenológico?
 Fatos x fenômenos
 Descrever fenômenos
 Despir-se de distrações, hábitos, ideias feitas,
pressupostos e clichês
 Dedicar a atenção “às coisas mesmas”
 Capturar as coisas exatamente como aparecem no
momento em que aparecem
 Não como pensamos que supostamente seriam
O que é a intencionalidade?
Qual é a importância da
intencionalidade para a
clínica fenomenológica e
existencial?
Intencionalidade
 Nós somos aquilo sobre o que pensamos
 Toda consciência é consciência de alguma coisa
 Todo pensamento é pensamento sobre algo
 Todo sentimento é sentimento sobre algo
 Somos seres no mundo
O que é a facticidade? Qual é
a importância da facticidade
para a clínica fenomenológica
e existencial?
Facticidade
 Temos a liberdade de escolhemos, sempre em
determinadas situações. É preciso assumir a
responsabilidade.
 Ninguém faz escolhas num campo totalmente aberto ou
no vazio
 Facticidade
 Sem a significativa facticidade, minha liberdade seria
uma liberdade flutuante
 Ser livre não significa agir de forma desimpedida ou
aleatória
 A situação não é um impedimento para minha
liberdade, é condição para ela
Obstáculos
* Os obstáculos não são os impedimentos de nossas
escolhas, não indicam que a liberdade seria ilusória, mas
sim, tornam-se obstáculos justamente pelas escolhas que
fizemos, porque somos livres.
O que é a má-fé? Qual é a
importância de perceber a
má-fé para a clínica
fenomenológica e existencial?
Má-fé
 A má-fé não é uma mentira cínica ou uma enganação
oportunista
 A má-fé é a tentativa de fugir do que não se pode fugir
 Para Sartre, mostramos má-fé sempre que nos
representamos como resultados passivos dos fatos
ocorridos ou mesmo de motivações ocultas que
escapam ao nosso controle
 Vivemos em má-fé a maior parte do tempo, porque é
assim que a vida é vivível
 Em grande parte, a má-fé é inofensiva, mas pode ter
consequências mais impactantes
O que é são as escolhas? Qual
é a importâncias das escolhas
para a clínica fenomenológica
e existencial?
Escolhas
 Ser é escolher-se, é escolher ser.

 São nossas escolhas, nossas ações, que nos tornam

quem somos.

 Ser livre não é ser livre para realizar tudo aquilo que se

quer, mas ser livre para escolher agir de acordo com o


que se quer, de acordo com as próprias escolhas.
O que é o passado?
Qual é a importâncias do
passado para a clínica
fenomenológica e existencial?
Passado
 Não temos o passado, mas somos o passado.

 Somos alguém por meio do qual o passado se

presentifica, ou seja, existe.


O que é a nadificação?
Qual é a importâncias da
nadificação para a clínica
fenomenológica e existencial?
Nadificação
 Ser é escolher-se
 Cada detalhe que somos, somos nós que
escolhemos e, escolhendo, criamos
 Não é o passado, mas o futuro, que anuncia o
que somos
 Escolher-se é nadificar-se
O que nos define, o que nos
determina?
Como a clínica
fenomenológica e existencial
vê a essência humana?
“Ninguém nasce mulher: torna-
se mulher.
Nenhum destino biológico,
psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana
assume no seio da sociedade
(...).
Somente a mediação de outrem
pode constituir um indivíduo
como um Outro”
(Beauvoir, 1949, p. 9).
“Um existente não é senão o que faz;
o possível não supera o real,
a essência não precede a existência:
em sua pura subjetividade o ser
humano não é nada”.

(Beauvoir, 1949, p. 303).


O que é o ser-em-si?
Qual é a importâncias do
ser-em-si para a clínica
fenomenológica e existencial?
Ser-em-si
 O sapateiro perde a consciência de si mesmo; está
absorto em seu trabalho, transforma-se no sapato
que está costurando
 A escritora transforma-se em seu romance
 A criança que agarra a areia aos punhados está na
areia
O que é o ser-para-si?
Qual é a importâncias do
ser-para-si para a clínica
fenomenológica e existencial?
Ser-para-si
 Enquanto escrevo, estou no papel e na caneta, estou na
frase que surge palavra após palavra.
 A consciência em ação é consciência irrefletida
 A consciência de ter consciência da ação e de ser quem
escolhe a ação visando determinadas finalidades é
consciência refletida
 Exemplo: a consciência de estar escrevendo por ter
como projeto um livro
 A angústia refere-se à consciência refletida
 A consciência refletida me faz pensar sobre a relação
entre o que sou e o que faço, a relação do que faço
comigo mesma
O que é o ser-para-o-outro?
Qual é a importâncias do
ser-para-o-outro para a
clínica fenomenológica e
existencial?
Ser-para-o-outro
 A outra pessoa não sou eu
 Como me sinto diante de alguém que não sou eu?
 Como é imaginar que alguém se vê também como
um eu, um eu que não sou eu?
 Como é, para a outra pessoa, que eu seja um outro
eu?
 Quem sou eu para alguém que não sou eu?
O que é o olhar?
Qual é a importâncias do
olhar para a clínica
fenomenológica e existencial?
O olhar
 O outro é aquele que me capta de uma certa
maneira que me escapa
 O outro me capta de um modo que desconheço, que
não controlo, mas que, ainda assim, sou eu
 O olhar do outro me captura, me aliena
 O olhar do outro me determina
O que é a alteridade?
Qual é a importâncias da
alteridade para a clínica
fenomenológica e existencial?
Alteridade
A liberdade do outro revela-se a mim através
da inquietante indeterminação de ser que sou
para ele.
Este ser não é meu possível.
É o limite de minha liberdade, seu reverso.
Não ao modo do “era” ou do “ter-de-ser”.
Basta que o outro me olhe para que eu seja o
que eu sou.
Porque é para e por uma liberdade, e somente
por ela e para ela, que meus possíveis podem
ser limitados e determinados.
Alteridade
“O outro não me pede nada; ele não é
um vazio que eu teria que preencher,
não posso descobrir nele nenhuma
justificação pronta de mim mesma”
(Simone de Beauvoir, p. 49)
O que é o projeto?
Qual é a importâncias do
projeto para a clínica
fenomenológica e existencial?
Projeto
 Busca do sujeito por realizar-se
 Não existe sujeito sem projeto
 Ao lançar-se no mundo, persegue um fim, mesmo
que não tenha clareza de qual
 Em cada posicionamento, em cada atitude, em cada
escolha
 O projeto é o desejo de ser
 O desejo de ser que move, que lança em direção ao
mundo
“O que chamamos de vitalidade, de
sensibilidade, de inteligência, não são
qualidades prontas, mas uma
maneira de se lançar no mundo e de
desvelar o ser” (p. 40).
O que é saúde?
Qual é a importância da
saúde para a clínica
fenomenológica e existencial?
Saúde
* A saúde, para a fenomenologia e para o
existencialismo, corresponde ao processo de
criação constante do mundo e de si
* O que adoece é manter-se preso(a) a uma
mesma estrutura, sem mudança, sem criação
* Existir é coexistir. Adoecer está relacionado à
incomunicabilidade, ao isolamento.
* Diagnóstico: Quais são os pontos de
restrição? Quais são as possibilidades de
expansão, de criação?
O que são as palavras?
Qual é a importância das
palavras para a clínica
fenomenológica e existencial?
“Falar é agir; uma coisa nomeada não é
mais inteiramente a mesma (...).
Nomeando a conduta de um indivíduo,
nós a revelamos a ele, ele se vê.
E como ao mesmo tempo a nomeamos
para todos os outros, no momento em
que ele se vê, sabe que está sendo visto
(...), passa a existir enormemente, a
existir para todos, integra-se no espírito
objetivo, assume dimensões novas, é
recuperado.
Depois disso, quem pode continuar
agindo da mesma maneira?” (p. 20).
“Assim, ao falar, eu desvendo a
situação por meu próprio projeto
de mudá-la; (...) a cada palavra que
digo, engajo-me um pouco mais no
mundo e, ao mesmo tempo, passo
a emergir dele um pouco mais, já
que o ultrapasso na direção do
porvir.
Que aspectos do mundo você quer
desvendar, que mudanças quer
trazer ao mundo por esse
desvendamento? (p. 20).
O que são as relações?
Qual é a importância das
relações para a clínica
fenomenológica e existencial?
RELATAR A SI MESMA

Faço um relato de mim mesma para ti.


Ao fazer um relato de mim mesma,
estabeleço uma relação com aquele a
quem se dirige meu relato.
RELATAR A SI MESMA

Se conto algo, estou agindo sobre ti de


alguma maneira.
E o que conto também faz algo comigo,
age sobre mim.
RELATAR A SI MESMA

Quando o terapeuta é o outro, não posso


saber quem ele é, mas a busca dessa
questão que não pode ser satisfeita
estabelece as maneiras como um outro
enigmático inaugura-me e me estrutura.
O que eu o convoco a ser?
RELATAR A SI MESMA

Contar sobre si ao(à) terapeuta, a alguém


– um(a) destinatário(a) – que pode ouvir a
história e, ao ouvi-la, alterá-la um pouco.
O outro representa a possibilidade de a
história ser devolvida em uma nova
forma, de os fragmentos serem ligados de
alguma maneira, de alguma parte da
opacidade ser iluminada.
RELATAR A SI MESMA

Há a recriação de uma relacionalidade


dentro do espaço terapêutico, uma
recriação que gera potencialmente uma
nova ou alterada relação (e a capacidade
para se relacionar) baseada no trabalho
terapêutico.
O seu olhar lá fora,
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu...
O seu olhar seu olhar, melhora, melhora o meu...

(Tribalistas – O seu olhar)

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