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EKSTEINS, Modris. Dançarino noturno. In: A sagração da primavera.


ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1992, p. 309-379.
Façanha de Charles Lindbergh, em 1927, travessia do Atlântico entre Estados
Unidos e Europa (Paris);

Movimento de multidão em Paris, segundo dados incertos, entre 1 milhão de


espectadores e 150-200 mil pessoas;

Chegada de Lindbergh: novo Cristo, cruz é o avião (p. 311);

O novo Cristo chegará contra todas as probabilidades do Novo Mundo ao


Velho Mundo: o herói havia deixado a gata Patsy em casa, pois a viagem
seria perigosa demais para ela = simplicidade, verdadeiro heroísmo do
homem; sem equipamentos no aeroplano, nem um rádio, apenas uma
bússola magnética (p.312);
Lindbergh foi festejado como nenhuma outra pessoa jamais o fora; Charles
Augustus (o nome pressagia a realização imperial) Lindbergh, sincero,
desalinhado, personificava a antítese da grandeza e glória que os franceses
cultivavam com tanto empenho (p. 313-4);

Mundo oficial tentou acompanhar o sentimento público; na França se tentou


afrancesá-lo;

Visita às monarquias belga e britânica; em Londres a recepção foi mais


frenética do que em Paris (p.315);

Retornos aos EUA, nova multidão, homenagens; entretanto, sua agonia como
o “último herói” tinha apenas começado (p.317);
ESTRELA
Que nervo na sensibilidade do mundo ocidental Lindbergh tinha tocado?

Venerado, um novo deus; procuravam-se relíquias de sua pessoa, de seu


avião; sua façanha justificava tão extraordinária reação?

Lindbergh estaria satisfazendo alguma enorme necessidade?

Criação de um público desejoso de espetáculo?

Criação de uma imprensa ávida de sensacionalismo?


Inegavelmente seu feito não pode ser minimizado, embora não fosse original; o
feito exigia uma audácia assombrosa ou uma insensibilidade inacreditável;
embora obstinado, Lindbergh era tudo menos insensível (p. 317);

Demonstrou ser uma magnífico diplomata: fez contato com diplomatas


profissionais, estadistas, monarcas e outras autoridades;

Nenhum estadista, nenhum político, nem Woodrow Wilson, jamais tinha feito
tanto pela imagem americana na Europa (p. 318);

A direita conservadora estava tão fascinada quanto à esquerda comunista e


socialista. E a imprensa liberal estava em êxtase (p. 318);
Lindbergh foi criação da imprensa? Década de 1920, apogeu da imprensa
(informação, notícias e entretenimento); para os jornais o voo de Lindbergh foi
a história mais sensacional desde a guerra;

No entanto, não se pode atribuir a ela a criação da fama do americano; ela


mais acompanhou a excitação do que a criou; a história sensacional floresceu
nas mentes das pessoas antes de chegar nas primeiras páginas (p.320);

Contexto mais amplo:


Lindbergh, com sua façanha, parecia satisfazer dois mundos. Um, na agonia do
declínio:
Mundo de valores, decoro
Realizações positivas
Realização individual
Onde se valorizava:
Esforço
Preparo
Coragem
Poder de resistência
Mundo em que o homem utilizava a máquina para conquistar a natureza
Meios estavam subordinados aos fins
Mundo de valores positivos que girava ao redor da família, religião, natureza,
vida honrada e moral;

Um mundo cujos valores tinham sustentado os exércitos franceses e britânicos;

Para este mundo o herói não era Lindbergh. O mundo conservador o adorava
por seu comedimento e o associava indiretamente ao estancamento ou, pelo
menos, à suavização de algumas manifestações mais indecorosas da cena
moderna (p. 321);
Dança calma, homens de casaca, vestidos longos (crítica ao Charleston); era o
mundo antigo adaptando-se aos novos tempos, que interpretava Lindbergh
como um modelo em que a ordem antiga devia se inspirar para enfrentar e
superar os desafios da era moderna (p.321);
O outro mundo, em processo de nascimento, o da sensibilidade moderna,
também estava inebriado:

Encantado com a façanha, com o voo= homem e máquina tinham se tornado


uma coisa só neste ato de ousadia;

Objetivo não contava, o ato era tudo= ato gratuito, completamente livre,
destituído de qualquer outro significado que não fosse sua intrínseca energia e
realização;

Lindbergh voara livre, em comunhão com os oceanos e as estrelas, os ventos,


as chuvas; não voou para ninguém, voou para si, a grande audácia, voar para
si;

Não era casado, não tinha namorada, era bonito; ele não era a criação de um
mundo antigo, era o precursor de uma nova aurora (p. 322);
Os modernos estavam tão extasiados quanto os antigos. Uns e outros
adotavam como um dos seus este indivíduo homérico; entretanto, ambos
falavam sem se entenderem;

Mas porque Lindbergh excitara de tal forma as imaginações e os desejos? Um


motivo que ninguém discutiu, mas que atravessava toda a paisagem cultural
como um fio preto era a guerra (p. 323);

Para que não esqueçamos (p.323)


Fim da guerra – 11 de novembro de 1918:

Civis celebravam com algumas festas da vitória; soldados tinham sentido pouca
emoção – “homens ocos”,
“não com uma explosão, mas com um suspiro” (T S Eliot) (p.323);
Nenhum dos lados estava satisfeito com o Tratado de Versalhes, que tentava
conciliar o idealismo de Wilson, o desejo de vingança de Georges Clemenceau e
o pragmatismo de Lloyd George; os alemães consideravam os termos duros
demais, as populações aliadas, suave demais (p.323);

O esforço gigantesco, especialmente a intensidade emocional, da guerra não


podia perdurar na manutenção da paz, e a Europa afundou numa monumental
melancolia. A desilusão foi o desfecho inevitável da paz (p.324);

Surgiram dúvidas quanto à utilidade da guerra – talvez não tivesse valido a


pena; as pessoas enterraram este pensamento por uns tempos. Tinha de se
enterrar a guerra também; “para que não esqueçamos”, foi entoado em toda
ocasião imaginável, mas esquecer era exatamente o que todos queriam (p.324);
Organizações de veteranos foram criadas, mas relativamente poucos
veteranos quiseram tornar-se membros; empregadores eram encorajados a
contratar antigos soldados, mas muitos os achavam um risco desagradável (p.
325);

As pessoas estavam tentando reprimir a guerra, embora as cicatrizes


estivessem por toda a parte; nos países vencedores a máscara não era menos
requintada. Tinham vencido, sim, mas o que haviam ganho?

Repúdio para os administradores da guerra e pelos políticos militares:


Wilson
Lloyd George
Clemenceau
Orlando
Ludendorff
Hindenburg (exceção)
Todos se refugiaram num isolamento frustrado ou na oposição;
Por toda a parte a esquerda ganhava terreno; desejo de mudança na esteira do
que se considerava a bancarrota da velha ordem;

Ascensão da esquerda e também de um conservadorismo mais à extrema


direita, um “novo conservadorismo” – não apenas como reação à esquerda,
mas pelo reconhecimento de que o conservadorismo tinha agora de fazer algo
mais do que conservar, mas reconstruir; a direita tinha de se engajar na reforma
radical se quisesse endireitar o mundo;

Polarização política = desaparecimento de uma normalidade que todos


desejavam, mas que ninguém sabia como produzir; a guerra era o estimulante
crítico na esfera política. Qual era o real significado da guerra?
Profusão de histórias oficiais, dos regimentos etc., mas continuava a pergunta,
acrescida de outra, o que significavam o ritual e a retórica, especialmente em
relação ao mundo do pós-guerra?

Os antigos lemas – liberdade-dignidade-justiça – soavam simplesmente ocos


(p.327); Comemorar, sim; pensar, não.

Desequilíbrio entre a experiência da guerra e a reação subsequente fez com que


a guerra, em seu sentido mais importante, como problema social, político e,
sobretudo, existencial fosse relegada à esfera do inconsciente ou, mais
precisamente à do conscientemente recalcado;

Atribuir à questão crucial do momento à neurose ou simplesmente à ignorância,


confirmava a viagem, iniciada durante a guerra, da sociedade ocidental como um
todo para a beira do abismo entre a consciência individual e os problemas
tangíveis;
A antiga autoridade e os valores tradicionais já não tinham credibilidade.
Entretanto, nenhuma outra autoridade, nem valores novos haviam surgido em
seu lugar (p. 327);

À medida em que se tornavam menos capazes de responder à pergunta


fundamental do significado da vida, pessoas insistiam ainda mais
ruidosamente em que o significado residia na própria vida, no ato de viver, na
vitalidade do momento;

Nos anos de 1920, houve um crescimento extraordinário do hedonismo e do


narcisismo; pessoas se entregavam aos sentidos e aos instintos e o interesse
próprio passou a ser a motivação do comportamento – levando, também, ao
radicalismo político (p.328);
A profunda sensação de crise espiritual foi a marca da década. O desastre
econômico e a insegurança social simplesmente acentuaram e intensificam o que
era antes de tudo uma crise de valores provocada pela guerra e particularmente
pelas consequências da guerra, quando a paz deixou de satisfazer aquelas
expectativas enunciadas pelos líderes durante o conflito (p. 328-9);

Dúvida profunda – fuga da realidade;

Desejo do novo(interesse alemão antes de 1914 e durante a guerra), tornou-se


uma preocupação no Ocidente; o novo para os radicais representava a
bancarrota da história; para os moderados era o seu descarrilamento (p.329);
Moda e comportamento avoado da geração jovem dos anos 1920: cinismo em
relação à convenção sob todas as formas e particularmente em relação ao
idealismo moralista que mantivera a Guerra;

Celebração da vida, no sentido individual, contra as normas e os costumes


sociais. Inspiração anárquica (Josephine Baker);

Para alguns era excitante, para outros inquietante, mas a cultura como um todo
estava à deriva; ruptura também entre a divisão da cultura urbana e rural;

Crise, desmantelamento do mundo – sensação de transitoriedade (p.331);

Associação da opulência à decadência – Coco Chanel introduziu o “estilo pobre”


do chique digno (Irene Castle, Isadora Duncan);
Negação da geração antiga – só os jovens eram genuinamente humanos;
Rejeição à política tradicional; no entanto, isso produzia mais descrédito do que
valores novos (p.333);

Maior ênfase na espiritualidade, na interioridade, no inconsciente (psicologia


freudiana, misticismo, evangelismo fundamentalista e o sentimentalismo do
cinema americano);

Sanidade mental e razão eram constructos psicológicos e filosóficos de uma


antiga época de fixidez e fé. Ambas desapareceram, restaram o movimento e a
melancolia.
Itinerário e símbolo

Primeiro ato oficial de Lindbergh foi prestar homenagem aos mortos da guerra (em
Paris, Bruxelas, Londres);

Discursos de agradecimento a Lindbergh:


Referências à guerra
À amizade franco e anglo-americana
Aos aviadores
À contribuição americana

Em 1927, a comemoração ritualista da guerra chegou ao apogeu: numerosos


memoriais de guerra (p.335); Curiosamente, não houve nenhum comentário
relacionando a proeza de Lindbergh à guerra, mas sem a guerra, o fenômeno
Lindbergh não pode ser compreendido;
Inúmeros militares festejaram a façanha, mas inúmeros outros comentaristas
aproveitaram a efusão da emoção pública para mostrar que a humanidade era a
principal beneficiária do voo transatlântico – “heroísmo pacifista” (p.336);

A morte cercava Lindbergh: na guerra e entre aviadores – afirmação da vida no


meio da morte (p.337);

Assim como os rituais do velho mundo cercavam as realizações do novo, o estado


de espírito era de melancolia e pesar, acompanhada por uma trêmula e ansiosa
excitação (p.337);

Os “cavaleiros do céu” estavam envolvidos em batalhas em que o esforço


individual contava e as noções românticas de honra, glória, heroísmo e bravura
ainda se mantinham intactas:
Aviadores: aristocracia do ar
Guerra aérea: conservava valores, inclusive o respeito pelo inimigo, valores que
jaziam nos fundamentos da civilização;

Desta forma, a realização tecnológica mais significativa do mundo moderno


também era vista como um meio de afirmar valores tradicionais (p.338);

Lindbergh tornou-se um símbolo do desejo de uma reafirmação de valores, mas


ao mesmo tempo de uma profunda insatisfação com a existência
contemporânea (p.339);

Homenagens diversas (p.339-40): a linguagem das autoridades públicas é a do


desejo, da vontade de estetizar o mundo, de transformar a vida em poesia:
Lindbergh = revivescência da imaginação = individualismo perdeu sua
dimensão social = a verdade não será encontrada numa realidade social, mas
na imaginação individual, na energia e vontade dionísica;
O homem fora deixado solto. A liberdade já não era uma questão de ser livre
para fazer o que é moralmente correto e eticamente responsável. A liberdade
tornara-se uma questão pessoal, uma responsabilidade sobretudo para consigo
mesmo (p.341);

O impulso moderno de antes da guerra possuía um alto grau de otimismo,


oriundo da religião burguesa do meliorismo. O otimismo não tinha desaparecido
nos anos de 1920, mas era então mais desejo do que predição confiante
(p.341);

Novos Mundos e o Antigo (p.341)


Episódio Lindbergh revelou que a forma de modernismo do período pré-guerra,
com seu ímpeto positivo, se mudara para a América. A Europa reconheceu o
fato (p.341);
Energia óbvia nos artefatos, nas formas e nas personalidades culturais que a
América exportara – energia implacável e contumaz era inevitável. A maioria dos
modernos estava encantada (p.341);

O fulgurante sonho americano também fascinou as classes trabalhadoras da


Europa, que viam em toda história de pobres que ficam ricos o final feliz de suas
próprias vidas (p.342);

Virtudes americanas: vibrante, espírito de iniciativa e magnanimidade;


desproletariza suas massas (elevam as massas com seu moralismo, enquanto
as democracias europeias saturam seus povos de intelectualismo);

Também, o domínio das mulheres na família americana (inexistência de medo


dos homens, rejeição ao patriarcado, eminentemente libertadora e moderna)
(p.343);
Muitos concordavam que o futuro da humanidade estava nesse continente
(p.343);

Os tradicionalistas franziam as sobrancelhas, reclamavam e suspiravam diante


da “americanização” da Europa; para eles, a América era:
Energia brilhante sem substância
Uma contradição
Lugar de patriotismo insensato – falta de unidade física ao país
Grandiosidade arquitetônica X sujeira das cidades
Recato e puritanismo X Criminalidade e indecente sexualidade
Humanismo X Racismo e seus linchamentos (p.344)

O que era dito por britânicos e franceses aos alemães foi dirigido agora aos
americanos;

Em síntese, a influência americana era má para a juventude europeia – por


exemplo, a dança;
A Alemanha demonstrou menor resistência; ali a dúvida reinante era muito
profunda. A energia americana era bem-vinda, assim como o dinheiro (Plano
Dawes, 1924);

Hermann Hesse: “A Alemanha hoje é uma espécie de América”, inclusive na


indústria cinematográfica (p.346).

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