A International Occupational Hygiene Association (IOHA)
define Higiene Ocupacional como: “A disciplina de antecipar, reconhecer, avaliar e controlar riscos para a saúde no ambiente de trabalho com o objetivo de proteger a saúde e bem estar do trabalhador e proteger a comunidade como um todo.” Também pode ser definida como uma técnica preventiva que atua na exposição do trabalhador a um ambiente agressivo com o objetivo de evitar doenças profissionais. História
Doenças industriais são conhecidas desde Hipócrates
(Grécia antiga aprox. ano 400 AC). Até há evidências mostrando que as doenças ocupacionais foram reconhecidas pelos antigos egípcios. Com o tempo, as ligações entre a ocupação e os problemas de saúde aumentaram e as associações se fortaleceram. Em paralelo a isto, técnicas foram desenvolvidas para avaliar e controlar os riscos. A importância da higiene ocupacional
Aumentar a atividade industrial em países em
desenvolvimento significa que há mais pessoas expostas em todo o mundo. Avanços tecnológicos também significam que novos riscos estão sendo introduzidos no local de trabalho. A Organização Mundial de Saúde estima que globalmente haja: PSICOLOGIA E GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS
- Significativo avanço na contribuição da Gestão dos
Recursos Humanos> Adequação do perfil profissional; - 1920 e 1930: Treinamento de profissionais e investigações sobre os fatores ambientais que influenciavam a produção; - Constatação que as relações humanas e os aspectos físicos eram essenciais para a qualidade do contexto organizacional; ▪ 2.000.00 de mortes relacionadas ao trabalho por ano; ▪ 386.000 mortes a cada ano pela exposição a partículas transportadas pelo ar; ▪ 152.000 mortes por ano por carcinógenos no local de trabalho; ▪ 37% da Dor Lombar são atribuídos à ocupação. O que são riscos?
-Na epidemiologia, o conceito de risco corresponde à
probabilidade de um indivíduo, de uma população definida, desenvolver uma determinada doença, em um período de tempo também estabelecido. - Na toxicologia, o conceito de risco está associado à estimativa da probabilidade de desenvolvimento de uma doença como resultado de uma determinada exposição (FUNASA, 2002). Objetivos da Higiene Ocupacional
-Eliminar ou reduzir os agentes agressivos de natureza
química, física ou biológica encontrados no ambiente de trabalho, capazes de acarretar doenças profissionais ou qualquer outro prejuízo a saúde do trabalhador. São fases da Higiene Ocupacional:
-Antecipação: Fase de prevenção de riscos – São
considerados os riscos ambientais que poderão ocorrer nos ambientes de trabalho, visando a introdução de sistemas de controle durante as fases de projeto, instalação, ampliação, modificação ou substituição de equipamentos ou processos; -Reconhecimento: tem por objetivo identificar fatores de risco, real ou potencial, nos locais de trabalho já existentes. Isto requer conhecimento dos processos de trabalho (inclusive matérias primas utilizadas, produtos e sub-produtos) bem como dos efeitos adversos que agentes e fatores, associados com os mesmos, podem causar nos trabalhadores; -Avaliação: Constatação da presença do agente com quantificação -Controle: deve ser dimensionado levando-se em consideração os recursos técnicos e financeiros, sendo preferencialmente recomendados os controles de engenharia. RISCOS FÍSICOS
No grupo dos riscos físicos, podemos encaixar diversas
formas de energia, como: ruídos; temperaturas excessivas; vibrações; pressões anormais; radiações ionizantes e radiações não ionizantes; frio; calor; umidade. Ruídos
As máquinas e equipamentos utilizados pelas empresas
produzem ruídos que podem atingir níveis excessivos, podendo a curto, médio e longo prazo provocar sérios prejuízos à saúde. O ruído age diretamente sobre o sistema nervoso, ocasionando:
-fadiga nervosa; alterações mentais – perda de memória,
irritabilidade, dificuldade em coordenar ideias; hipertensão; modificação do ritmo cardíaco; modificação do calibre dos vasos sanguíneos; modificação do ritmo respiratório; perturbações gastrointestinais; diminuição da visão noturna; dificuldade na percepção de cores. Controle
-Medidas de proteção coletiva: enclausuramento da
máquina produtora de ruído; isolamento de ruído; -Medida de proteção individual: fornecimento de equipamento de proteção individual: EPI (no caso, protetor auricular). O EPI deve ser fornecido na impossibilidade de eliminar o ruído ou como medida complementar; -Medidas médicas: exames audiométricos periódicos, afastamento do local de trabalho, revezamento; -Medidas educacionais: orientação para o uso correto do EPI, campanha de conscientização; Vibrações
Na indústria é comum o uso de máquinas e equipamentos
que produzem vibrações, as quais podem ser nocivas ao trabalhador. As vibrações podem ser: -Localizadas (em certas partes do corpo):são provocadas por ferramentas manuais, elétricas e pneumáticas. Consequências alterações neurovasculares nas mãos, problemas nas articulações das mãos e braços; osteoporose (perda de substância óssea); -Generalizadas (ou do corpo inteiro): as lesões ocorrem com os operadores de grandes máquinas, como os motoristas de caminhões, ônibus e tratores. Consequências: Lesões na coluna vertebral; dores lombares.
*Para evitar ou diminuir as consequências das vibrações é
recomendado o revezamento dos trabalhadores expostos aos riscos (menor tempo de exposição). Radiações
São formas de energia que se transmitem por ondas
eletromagnéticas. A absorção das radiações pelo organismo é responsável pelo aparecimento de diversas lesões. Podem ser classificadas em dois grupos:
- Radiações ionizantes: os operadores de raios-X e
radioterapia estão frequentemente expostos a esse tipo de radiação, que pode afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pessoas expostas; - Radiações não ionizantes: são radiações não ionizantes, a radiação infravermelha, proveniente de operação em fornos, ou de solda oxiacetilênica, radiação ultravioleta como a gerada por operações em solda elétrica, ou ainda raios laser, micro-ondas, etc.
*Seus efeitos são perturbações visuais (conjuntivites,
cataratas), queimaduras, lesões na pele, etc. Para que haja o controle da ação das radiações para o trabalhador é preciso que se tome: - Medidas de proteção coletiva – isolamento da fonte de radiação (ex: biombo protetor para operação em solda), enclausuramento da fonte de radiação (ex: pisos e paredes revestidas de chumbo em salas de raio-x); - Medidas de proteção individual – fornecimento de EPI adequado ao risco (ex: avental, luva, perneira e mangote de raspa para soldador, óculos para operadores de forno); RISCOS QUÍMICOS
As substâncias químicas podem ser encontradas nas
formas: - sólida (menor risco de contaminação); - poeira (pequenas partículas sólidas); - líquida (à temperatura ambiente, como ácidos e dissolventes); - vapor (fase gasosa de um material líquido em condições normais); - neblina (pequenas gotas de líquido em suspensão no ar); - gases (substância gasosa em seu estado natural ou líquida e sólida que se transformam em gás quando aquecida). O risco vai depender de uma série de características e condições, como:
-A quantidade e o tipo de produto (suas características físico-
químicas); -Da toxicidade; -O modo como os produtos são recebidos na empresa, armazenados; -A forma e as condições de uso (enclausuradas ou não, aquecidas ou pressurizadas); -A destinação dos seus resíduos durante e após o uso; -O meio e a condição de transporte, tanto dentro da empresa como até a entrega ao comprador, etc. Classificação
-Corrosivas – destroem os tecidos com os quais entram em
contato, sejam eles superficiais como a pele, internos (dentro do corpo) ou dos olhos; -Irritantes – provocam inflamação da pele, olhos ou membranas mucosas. Este efeito pode aparecer de imediato ou após um período prolongado; -Causadoras de efeitos dermatológicos – provocam diferentes tipos de dermatites na pele, como, por exemplo o cromo; -Asfixiantes – impedem o aproveitamento do oxigênio pelas células dos organismos vivos, -Anestésicos – atuam no sistema nervoso central, fundamentalmente no cérebro; -Tóxicas sistêmicas – quando a ação da substância se desenvolve em órgão ou tecido do organismo após a absorção; -Genotóxicas – que podem provocar danos ao material genético; -Mutagênicas – quando uma substância é capaz de causar qualquer modificação relativamente estável no material genético, DNA. -Cancerígenas – que são capazes de produzir câncer, um tumor maligno que é composto de células que se dividem e se dispersam através do organismo. Ex.: benzeno, amianto/asbesto, formaldeído; -Alergizantes – substância capaz de produzir reação alérgica; -Disruptores endócrinos – comportam-se no organismo como hormônios sexuais, principalmente o estrógeno, hormônio feminino. Limite de exposição
Limite de exposição se refere a um valor genérico, podendo
englobar todos os limites, dentre eles o limite de curta exposição, limite de tolerância, valor teto, etc., não tendo portanto um valor absoluto e englobando os seguintes valores:
-O limite de tolerância é o valor limite da concentração do
agente dentro do qual a maioria dos trabalhadores poderia permanecer exposta 8 horas diárias e 48 horas semanais durante toda a vida laboral, sem apresentar nenhum sintoma de doenças; Valor Máximo é o valor estabelecido na legislação brasileira e que não pode ser ultrapassado em nenhum momento da jornada de trabalho. Este valor é calculado como segue:
valor máximo = LT X FD onde: LT = limite de tolerância do agente químico FD = fator de desvio, segundo o quadro a seguir: Medidas de controle
Muitos são os obstáculos ao se iniciar a implementação de
medidas para controle dos agentes químicos no ambiente de trabalho. Por essa razão, muitas vezes esse processo é ignorado. Dentre os principais obstáculos identificados, pode- se citar:
-Insuficiente conscientização de empregadores e
empregados; -Falta de procedimentos documentados e organizados de maneira sistemática; -Rotulagem inapropriada ou inexistente dos produtos químicos; -Falta de informação adequada sobre qualidade, quantidade, e toxicidade dos produtos em uso; -Falta de treinamento apropriado; -Recursos humanos e financeiros escassos; -Dificuldade ao acesso de informações. Para dar início a implementação de medidas para controle dos agentes químicos no ambiente de trabalho é preciso:
-Conhecer as propriedades físico-químicas de todos os
agentes químicos armazenados e utilizados na empresa; -Conhecer as quantidades frequentemente utilizadas; -Calcular as quantidades realmente utilizadas no processo produtivo; -Avaliar as quantidades perdidas e/ou desperdiçadas; -Identificar situações onde utilização da substância tenha potencial para causar danos à saúde do trabalhador; -Identificar se há alternativa de substituição de produtos classificados como muito tóxicos por produtos menos tóxicos; -Identificar meios de utilizar os produtos químicos de modo mais eficiente e seguro; -Monitorar a implementação de ações para melhoria contínua das condições de SST da empresa; e, -Quantificar os resultados alcançados. Durante o processo de avaliação é necessário levar em consideração a seguinte hierarquia de controle:
Eliminação – É possível evitar o uso do produto químico
perigoso? É possível modificar o processo ou a maneira de trabalhar? Substituição – É possível substituir uma substância perigosa por outra? Ou ainda, utilizar a mesma, mas sob outra forma, de modo que não haja mais risco inaceitável? Controle – É possível controlar de maneira eficaz a exposição? EPI – É possível oferecer proteção adequada? RISCOS BIOLÓGICOS
O reconhecimento dos riscos ambientais é uma etapa
fundamental do processo que servirá de base para decisões quanto às ações de prevenção, eliminação ou controle desses riscos. Reconhecer o risco significa identificar, no ambiente de trabalho, fatores ou situações com potencial de dano à saúde do trabalhador ou, em outras palavras, se existe a possibilidade deste dano. Para se obter o conhecimento dos riscos potenciais que ocorrem nas diferentes situações de trabalho é necessária a observação criteriosa e in loco das condições de exposição dos trabalhadores.
A exposição ocupacional a agentes biológicos decorre da
presença desses agentes no ambiente de trabalho, podendo- se distinguir duas categorias de exposição: 1.Exposição derivada da atividade laboral que implique a utilização ou manipulação do agente biológico, que constitui o objeto principal do trabalho. É conhecida também como exposição com intenção deliberada.
2. Exposição que decorre da atividade laboral sem que
essa implique na manipulação direta deliberada do agente biológico como objeto principal do trabalho. Nesses casos a exposição é considerada não deliberada. Consideram-se agentes biológicos os microrganismos, geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons. Esses agentes são capazes de provocar dano à saúde humana, podendo causar infecções, efeitos tóxicos, efeitos alergênicos, doenças autoimunes e a formação de neoplasias e malformações. A classificação dos agentes biológicos, que distribui os agentes em classes de risco de 1 a 4, considera o risco que representam para a saúde do trabalhador, sua capacidade de propagação para a coletividade e a existência ou não de profilaxia e tratamento. Em função desses e outros fatores específicos, as classificações existentes nos vários países apresentam algumas variações, embora coincidam em relação à grande maioria dos agentes. Manuseio e medidas de controle
O controle de riscos está descrito no Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e tem como objetivo eliminar ou reduzir ao mínimo a exposição dos trabalhadores do serviço de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde, aos agentes biológicos. A identificação dos riscos biológicos deve seguir metodologia qualitativa, devendo ser considerados os agentes epidemiologicamente mais frequentes, tendo em vista o perfil epidemiológico da região, do próprio serviço e dos trabalhadores do serviço de saúde.
A localização geográfica é importante para o reconhecimento
dos riscos biológicos porque certos agentes podem estar restritos a determinadas regiões, enquanto que outros são de distribuição mais ampla. As características do serviço de saúde envolvem as atividades desenvolvidas no serviço e o perfil da população atendida. Em relação à atividade do serviço, os agentes biológicos presentes na pediatria podem ser bem diferentes daqueles que ocorrem em um serviço de atendimento de adultos.
As fontes de exposição incluem pessoas, animais, objetos ou
substâncias que abrigam agentes biológicos, a partir dos quais torna-se possível a transmissão a um hospedeiro. Via de transmissão é o percurso feito pelo agente biológico a partir da fonte de exposição até o hospedeiro. A transmissão pode ocorrer das seguintes formas:
1.Direta – transmissão do agente biológico sem a
intermediação de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão aérea por bioaerossóis, transmissão por gotículas e contato com a mucosa dos olhos; 2. Indireta – transmissão do agente biológico por meio de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão por meio de mãos, perfurocortantes, luvas, roupas, instrumentos, vetores, água, alimentos e superfícies. Vias de entrada são os tecidos ou órgãos por onde um agente penetra em um organismo, podendo ocasionar uma doença. A entrada pode ser por via cutânea por contato direto com a pele), parenteral (por inoculação intravenosa, intramuscular, subcutânea), por contato direto com as mucosas, por via respiratória (por inalação) e por via oral (por ingestão). A identificação das vias de transmissão e de entrada determina quais a medidas de proteção que devem ser adotadas. Transmissibilidade é a capacidade de transmissão de um agente a um hospedeiro. O período de transmissibilidade corresponde ao intervalo de tempo durante o qual um organismo pode transmitir um agente biológico.
Patogenicidade dos agentes biológicos é a sua capacidade
de causar doença em um hospedeiro suscetível. Virulência é o grau de agressividade de um agente biológico, isto é, uma alta virulência de um agente pode levar a uma forma grave ou fatal de uma doença. A virulência relaciona-se à capacidade de o agente invadir, manter-se e proliferar, superar as defesas e, em alguns casos, produzir toxinas.
Persistência no ambiente é a capacidade de o agente
permanecer no ambiente, mantendo a possibilidade de causar doença. Exemplo: a persistência prolongada do vírus da hepatite B quando comparada àquela do vírus HIV. Ao propor medidas para o controle de riscos, deve-se observar a ordem de prioridade abaixo.
1.Medidas para o controle de riscos na fonte, que eliminem
ou reduzam a presença dos agentes biológicos, como por exemplo: - redução do contato dos trabalhadores do serviço de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde com pacientes-fonte (potencialmente portadores de agentes biológicos), evitando-se procedimentos desnecessários; - afastamento temporário dos trabalhadores do serviço de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde com possibilidade de transmitir agentes biológicos; - eliminação de plantas presentes nos ambientes de trabalho; - eliminação de outras fontes e reservatórios, não permitindo o acúmulo de resíduos e higienização, substituição ou descarte de equipamentos, instrumentos, ferramentas e materiais contaminados; - restrição do acesso de visitantes e terceiros que possam representar fonte de exposição; - manutenção do agente restrito à fonte de exposição ou ao seu ambiente imediato, por meio do uso de sistemas fechados e recipientes fechados, enclausuramento, ventilação local exaustora, cabines de segurança biológica, segregação de materiais e resíduos, dispositivos de segurança em perfurocortantes e recipientes adequados para descarte destes perfurocortantes. 2. Medidas de proteção individual, como:
- proteção das vias de entrada do organismo (por meio do
uso de Equipamentos de Proteção Individual - EPI): respiratória, pele, mucosas; - implementação de medidas de proteção específicas e adaptadas aos trabalhadores do serviço de saúde, bem como àqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde com maior suscetibilidade: gestantes, trabalhadores alérgicos, portadores de doenças crônicas.