HISTÓRICO 2 No Mundo - o trabalho desempenhado através de uma terceira pessoa vem sendo, há muitos séculos, utilizado no seio de nossa sociedade, pautado na premissa de se transferir, sob a responsabilidade e risco do mandante, a atribuição parcial ou integral da produção de uma mercadoria ou realização de um serviço. Muito embora hoje, o objetivo da terceirização seja o de isolada ou conjuntamente especializar tarefas, diminuir custos, descentralizar a produção ou de se substituir temporariamente trabalhadores, a sua origem remonta o século XVI, na França, quando, sob a égide do Rei Luís XVI, foi instituído um grupo denominado Fermier, de natureza privada, através do qual foi institucionalizada a cobrança dos impostos, de cuja memória remonta a morte de Lavoisier e outros cobradores de impostos na guilhotina, em praça pública, Prof.:em 1793. Dalton Leal HISTÓRICO DA 3 TERCEIRIZAÇÃO Origem 2 - sistema nominado de putting-out- system, na Alemanha, denominado de Verlagsystem, Verlagsystem e consistia em uma forma de trabalho utilizada pelos tecelãos e fiandeiros, com auxílio de familiares, agregados ou até mesmo empregados, de produção em domicílio e com instrumentos próprios, de peças encomendadas pelos comerciantes que, por sua vez, cediam-lhes a matéria-prima e parte da remuneração. Prof.: Dalton Leal 4
Origem 3 – França. Este mesmo sistema também foi
chamado de façonismo e foi empregado em nosso país apenas no século XIX. De origem francesa (à façon), execução de um serviço sem que o prestador tivesse a propriedade da matéria- prima, e bem assim sinalizou os primórdios do modelo flexível da produção e a utilização da força de trabalho por um terceiro, novamente em franca utilização nos tempos atuais.
Evolução - indústria têxtil – criação da carda mecânica na
Inglaterra.
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É este contexto, oriundo do homem versus a máquina, na Inglaterra, que guarda a origem da terceirização, com o intuito de se alavancar a produção, bem como o lucro, visto que no final do século XVIII, alguns comerciantes já adquiriam tecidos e encomendavam acabamentos em oficinas próprias localizadas em Leeds ou nas aldeias de West Riding, bem assim, afastando esta produção do centro fabril e urbano, justamente para escapar da ação dos “luditas”, cada vez mais crescente, porquanto exigiam o impedimento do uso das cardas mecânicas, invocando o Estatuto de Eduardo VI, e o dos Artífices Elizabetanos, que reconhecia o ofício aos que tivessem registro de ao menos 07 (sete) anos como aprendizes, e o Estatuto de Felipe e Maria, que, por sua vez, restringia a quantidade de teares em função do número de mestres.
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Este corpo legislativo, após muita pressão da classe patronal, pari passu à supressão perene do movimento ludista, foi revogado pelo Parlamento Inglês em 1809, que abriu todas as comportas ao trabalho fabril com uso irrestrito de máquinas, crianças, adoção do truck system e adoção do quantum salarial pelo patrão e excepcionalmente, em caso de conflito, pelo magistrado. Afinal, os ludistas acreditavam na restituição de um protecionismo legal, na luta pela dignidade no trabalho, pela constante reinvindicação de direitos, a exemplo de salários melhores, proteção ao trabalho da mulher e do menor, sindicalização, livre negociação mediante arbitragem e estabilidade aos mestres, porquanto almejavam uma comunidade democrática, na qual o crescimento industrial seria regulado em consonância a prioridades técnicas e o lucro estaria subordinado às necessidades humanas. Entretanto, o ludismo foi realmente esfacelado, com a prisão e
a morte de seus líderes, desaguando em novas condições de
venda da força de trabalho, caminhado, bem assim, para o 6 Prof.: Dalton Leal processo de “naturalização” do putting-out-system. Nesse interim, a terra, antes ocupada por gerações de vassalos e pequenos camponeses, foi, entre os séculos XIII e XIV, paulatinamente dando espaço às pastagens para o comércio, desaguando na construção de latifúndios, o que certamente levou ao êxodo de milhões de trabalhadores aos centros urbanos, já na condição de proletários, que, sem mais, foram obrigados a vender a sua força de trabalho - único bem - por preço irrisório que mal lhe garantiam a subsistência, pois a terra, antes ligada à cultura e consumo familiar, expandia-se, de igual forma, à agricultura capitalista. Nesse cenário, vê-se, pois, que a expropriação dos camponeses é considerada a infância da acumulação primitiva de capital, pois que redesenhou as relações sociais mantidas entre as pessoas na área rural e nos burgos e muitos deles, com franca dificuldade de adaptação foram postos à margem nos centros urbanos, e pari passu à grande oferta, muitos deles desaguaram em prática de roubos e mendicância, formando assim o proletariado, uma multidão de pessoas transitando pelas cidades em busca de comida. A burguesia, portanto, detentora do conjunto de riquezas, arquitetou e concluiu os seus desideratos de absorção do proletariado, rompendo com a velha ordem e instituindo uma nova concepção de relação de trabalho. 7 Prof.: Dalton Leal De conseguinte, o trabalho dito como livre (escape das amarras contidas na escravatura e ou na servidão medieval), foi considerado como ponto de partida essencial da subordinação empregatícia necessária a dar azo à mão de obra trabalhadora, descortinando, pois, a Idade Moderna, porquanto passou a se constituir um fator, uma ferramenta da produção aos emergentes proprietários de seus meios e nesta condição estava hábil a ter a sua força de trabalho contratada através de um acordo de vontades que desaguou na relação de emprego e este universo jurídico que ali se alinhavava, trazia a base dos atos jurídicos que valiam tal como a lei entre as partes
Certamente, a Revolução Industrial teve como marca registrada a criação da
classe operária e de igual forma, a liberdade com que as relações se desenhavam neste contexto empregatício, com exacerbada liberdade econômica, que fez com que houvéssemos a imposição de contratação de crianças, mulheres, jornadas longas, salários irrisórios, condições de higiene absolutamente incompatíveis à higidez humana, certamente desaguando em grande índice de acidentes de trabalho.
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A essa altura, via-se tímida a intervenção estatal, o que fez com que Marx, àquela época, desmontasse este - então - novo conceito de liberdade de contratação, visto que a legislação que tratava sobre a questão trabalhista era ínfima, e exemplo do Código napoleônico de 1804 detinha 2.000 artigos tratando acerca da propriedade privada e apenas 7 (sete) tratavam sobre trabalho, e mais ainda proibia a greve, fundação de sindicatos e de associações recreativas de empregados e em eventual demanda acerca de salários, deveria prevalecer o alegado pelos patrões.
O Estado, em verdade, atuava a serviço da burguesia, em desfavor dos
camponeses e trabalhadores proletários, criando uma armadura contrária aos detentores da força de trabalho, concedendo ao capitalista toda a riqueza material ali construída.
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Com efeito, todo este contexto histórico fez eclodir o modelo
de Estado denominado Liberal, e através dele primou-se pela estrita liberdade nas relações econômicas e contratuais, assim como pela não intervenção estatal nas relações privadas e especificamente na relação de emprego, o que certamente desaguou na carência legislativa com relação ao hipossuficiente e abriu, a passos largos, a possibilidade de exploração desumana do trabalhador. Assim, o trabalho era livre ao cidadão, mas marcado pela subordinação, ora construída pelo capitalismo no tocante ao modo de realização do serviço, sem qualquer intervenção na vida pessoal do obreiro e doravante, tal modelo tornou-se o tipo principal ao sistema de produção capitalista. Prof.: Dalton Leal 11 Nesta época houve um renascimento das ideias já preconizadas por Adam Smith, grande pensador, o qual já refutava qualquer tipo de intervenção estatal nos atos de comércio, porquanto naturais e despiciendos de regulamentação, acreditando, assim, que uma “mão invisível” regia o mercado e guardava a fonte de riqueza de toda sociedade. Nessa mesma toada, John Locke, chamado de “pai do individualismo liberal”, também sinalizava como parâmetro do Estado Liberal a não intervenção estatal nas questões econômicas e sociais. Prof.: Dalton Leal 12 Importante ressaltar que a esta altura, já se encontravam consolidados os direitos fundamentais de primeira dimensão, mas que de toda forma, mantinham a não intervenção estatal sobre a individualidade, mormente propriedade e vida, porquanto também consagravam a liberdade. Ao Estado, cabia apenas ofertar a estrutura necessária a que a indústria prosperasse, mantendo apenas em riste a ordem pública, muito bem insculpida e traduzida na expressão laissez-faire, laissez-passer, do Código de Napoleão Bonaparte, deixando, em brancas nuvens, a livre concorrência na sociedade dita como contemporânea. Certamente, cristalinamente influenciados pelo Positivismo Jurídico, o comando do Estado Liberal de direito pautava-se, bem assim, na concepção de que os intérpretes deveriam aplicar a lei de forma mecânica, à luz do valor e balizas mínimas preconizadas pela segurança jurídica. Prof.: Dalton Leal 13
Nesse contexto, o contrato de trabalho tornou-se um mero
contrato de adesão, já que o patrão estipulava livremente todas as suas cláusulas e ao trabalhador, restava tão somente ofertar a sua mão de obra tida como livre, muito embora não detivesse qualquer liberdade em negociar cláusulas, bem como recusar as que entendesse como injustas. De conseguinte, despontaram neste cenário, como já dito, pois, duas classes antagônicas: a burguesia e o proletariado, cuja exploração do trabalho foi denominada por Marx como “mais valia”, traduzida na “expressão precisa do grau de exploração da força de trabalho pelo capital ou do trabalhador pelo capitalista Prof.: Dalton Leal 14
Para Hegel, este processo de alienação era traduzido como “[...]
processo essencial à consciência e pelo qual ao observador ingênuo o mundo parecia constituído de coisas independentes uma das outras, e indiferentes à consciência.” Hegel cria que a razão era a ideia dominante, mas não era sinônima a de harmonia e nesse contexto, a liberdade era um bem inalienável e cabia a cada um a escolha de seu lugar na vida em sociedade, o que certamente, fez também com que se despertasse a consciência dos trabalhadores assalariados quanto a meio ambiente laboral insalubre, salários ínfimos, jornadas extenuantes e a superexploração trazida pela acumulação exponencial de riquezas pelas classes dominantes, o que fomentou o surgimento do socialismo como nova ideologia, cujo marco teórico mais importante foi o Manifesto Comunista de Marx e Engels, de 1848
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15 Ressalte-se que, até esta data, a melhor doutrina classifica esta etapa como a fase das “manifestações esparsas ou incipientes”; após esta, inaugurou-se outra no processo de desenvolvimento do direito do trabalho, denominada de fase de “sistematização e consolidação”, influenciada pelas manifestações e revoluções burguesas ocorridas desde o final do século XVIII, com destaque à Revolução Francesa De acordo com Maurício Godinho Delgado, o destaque desta época era o Peel’s Act, de 1802, na Inglaterra, o qual regulamentava o labor infantil nas fábricas. A Declaração Francesa de 1848 ampliou majestosamente o rol de direitos fundamentais de primeira dimensão, já comentados em linhas remotas, ampliando-os até a segunda, pois que consagrou a liberdade ao trabalho, a assistência aos desempregados, às crianças abandonadas, aos enfermos e aos velhos desamparados.
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Por sua vez, em 1891, a Encíclica Rerum
Novarum, do Papa Leão XIII, condenou a livre concorrência, seus falsos valores e a inação do Estado diante dos trabalhadores já tão achacados em suas prerrogativas mais elementares, o que fez invocar um Estado mais presente e interventor a modificar e de toda forma, realinhar a relação capital versus trabalho, de modo a proteger o hipossuficiente desta relação, qual seja, o obreiro. 17 Certamente, todo este contexto fez com que os trabalhadores passassem a se reunir com mais primazia nas fábricas, e bem assim, organizarem-se em sindicatos de forma a engajar a luta por melhores condições e labor, que, de fato, foi capaz de mudar a história e deixar, como dizia Marx, de ser considerado um mero propulsor de lucros, tal como uma máquina, na estrita visão capitalista do processo produtivo. E assim, podemos considerar que o direito do trabalho nasceu, desenvolveu-se e efetivou-se em nosso ordenamento jurídico, o que, decerto, fez repensar o modelo estatal de modo a que pudesse abarcar melhor o trabalhador. Doravante, exsurgiu a necessidade de normatizar, com mais afinco, a legislação trabalhista e no ano de 1848, instaurou-se a sua fase de sistematização e consolidação, que bem assim caminhou até o século seguinte.
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18 De fato, entre os anos de 1840 a 1850, o trabalho feminino foi reduzido até 10 horas diárias e o fenômeno constitucional pelo mundo passou a referendar este novo horizonte ao implementar a natureza prestacional dos direitos fundamentais, de natureza social, pois que se passou a exigir a intervenção estatal em prol do cidadão, permitindo, pois, aos hipossuficientes o acesso a serviços básicos, tais como a saúde, a educação, o trabalho, etc. Em assim sendo, a Constituição Mexicana de 1917 foi a primeira a constitucionalizar os Direitos Sociais, máxime o Direito do Trabalho, seguida da de Weimer, na Alemanha, em 1919, que também seguiu o mesmo rumo, contudo, com maior impacto e influência das que doravante foram promulgadas. No mesmo ano, foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cujo mister foi justamente o desenvolvimento e a propagação do Direito do Trabalho, através das divisão das normas jurídicas entre países signatários
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19 Não é demais encarecer, nesse mesmo trilhar, que a Revolução Russa também exerceu papel importantíssimo no particular, conquanto a Declaração Soviética dos direitos do povo trabalhador e explorado, editada em 1918 na União Soviética balizou a Constituição Socialista que adveio no ano seguinte. Certamente, toda a dinâmica havida neste processo histórico, máxime as contradições atinentes à exploração da força de trabalho foram essenciais para a germinação de uma consciência social que, pouco a pouco, desenvolveu-se em uma consciência de classe pautada em resistência e luta por melhores condições de vida e trabalho. A própria concentração em um mesmo ambiente de trabalho foi, decerto, desencadeando um processo de solidariedade de classe traduzido em reuniões reivindicatórias que, passo a passo foi gerando um direito de resistência, ainda embrionário, mas inevitáveis a despertar o associacionismo.
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20 Todo este movimento de integração e representatividade coletiva, firmado pela classe operária na busca da construção da identidade própria na luta ao acesso aos direitos sociais passou a ser definido como o fenômeno social do sindicalismo. De fato, para Bobbio Matteuci e Pasquino, tal fenômeno guarda uma dupla origem: foi fundado na solidariedade e na defesa de direitos e na revolta contra o modo de produção e a sociedade capitalista, com vistas a erigir princípios diversos à sociedade, redefinindo a posição dos trabalhadores nesta estrutura social sob comento, o que, pari passu, fez surgir as primeiras exigências sociais em direção à prática intervencionista estatal, através da implementação dos direitos sociais Consoante ao lecionado por Maurício Godinho Delgado, o sindicalismo passou por vários períodos, espelhando-se nas diretrizes trazidas pela lei, pois que antes fora proibido pela Lei Le Chapelier, de 1791; após, tolerado, na Inglaterra, na década de 1820, com leis mais favoráveis à prática sindical e ao final, o reconhecimento, na segunda metade do século XIX, por diversas leis nos países europeus, com destaque ao pioneirismo da Inglaterra no feito naqueles anos. Prof.: Dalton Leal 21 Em consequência, o Estado Liberal começou a perder a sua preponderância os planos social, ideológico e econômico, passando a dialogar com e conviver com ideias e direitos aos setores não proprietários, porquanto foi coagido, face à ameaça de perda da sua hegemonia. Afinal, o liberalismo econômico e a disputa entre as nações imperialistas pela ampliação de seus domínios, desaguaram nas duas grandes guerras mundiais no século XX, o genocídio, o holocausto, a fome, o desespero e certamente, a maior tragédia vista na modernidade. Prosseguindo, face aos movimentos descritos alhures, vimos que após o eclodimento das duas grandes guerras mundiais, a história deu início a uma nova concepção de mundo no tocante aos direitos do trabalhador, porquanto foi instituído o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State), cujo auge ocorrera entre 1945 e 1970, de cuja intervenção estatal foi necessária, soberana e imprescindível ao cenário mundial devastado vivido naquele período. Prof.: Dalton Leal 22 A grande depressão de 1929, como é cediço, provocou a queda da bolsa de valores de Nova York e gerou a premente necessidade da intervenção estatal no tocante às relações econômicas. De conseguinte, entre os anos de 1933 e 1945, o então presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt lançou o New Deal, programa governamental de resgate econômico americano, baseado nos ensinamentos do economista britânico John Maynard Keynes, o qual fora, sem laivo de dúvidas, o baluarte de tal doutrina, cuja premissa era justamente a intervenção do Estado na Economia, programas incentivadores de obras públicas para justamente combater o desemprego provocado pela recessão sob comento.
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23 Paralelo a isso, foi assinado o Acordo de Bretton-Woods (1944), o qual alinhavou pontos condutores de cunho antiliberal, assinado por parte das nações capitalistas e dentre outros atos, o destaque fora para as ações voltadas à política monetária, tendo como referência a taxa de câmbio indexada ao padrão dólar-ouro, a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) para financiar os países endividados. Ademais, interviu na economia em oposição à livre concorrência entre os países capitalistas; de igual forma, a promoção de emprego pelo Estado, o qual, por sua vez, estatuiu políticas sociais nas áreas de educação e saúde e mais ainda, fez realizar investimentos no tocante ao oferecimento de créditos aos capitalistas, com uniformização dos países no comércio de matéria-prima.
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24 Com efeito, a bem da verdade, vê-se que os Estados aderentes da nova política não relegaram, na sua totalidade, o espírito liberalista, mas em verdade, precisavam soerguer suas estruturas mínimas, o que somente aconteceria através do pleno e crescente emprego, investimento em progresso tecnológico e a adequação de um bem estar coletivo, certamente, através da regulação e controle da concorrência capitalista, tudo através de um planejamento de longo prazo. Certamente, construía-se um modelo estatal que atingiria o ápice de distribuição de renda e poder. Como afirma Maurício Delgado, a política desenvolvida por John Maynard Keynes resgatou a relevante noção do trabalho como valor, também conhecido como valor-trabalho, o que veio a dar guarida a concepções mais igualitárias de gestão do sistema capitalista, tidas como revolucionárias que já vinham sendo formuladas ao longo do século XIX até o ápice de sua obra .
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25 Em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada com o fim precípuo de manter a paz mundial, tendo laborado na solução dos conflitos mundiais até hoje. Com efeito, foi justamente durante o Estado do Bem-Estar Social que houve a institucionalização do Direito do trabalho, ao ser reconhecido como direito social constitucional e bem assim, ramo jurídico autônomo porquanto extremamente afinado com o fim precípuo deste, qual seja, o bem–estar e a das condições de vida de todos, pelo que o emprego era pleno, estável e duradouro, pelo que tal ramo justrabalhista efetivamente procurou cumprir tais políticas, e mais ainda, como instrumento da luta de classes em prol da distribuição de riquezas e efetivação da justiça social. Por consequência, trouxe o capitalismo ao ápice, porquanto fazia bastante possível a acumulação de lucros, justamente com a participação dos trabalhadores, porquanto percebiam salários dignos e tinham para si a concessão de políticas públicas de pleno emprego e valorização do labor.
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26 Entretanto, na década de 1970, o Estado do Bem-Estar Social entrou em declínio. Com efeito, a crise do petróleo, ocorrida entre os anos de 1973-1974, a abertura dos mercados, a 3ª Revolução Tecnológica, a globalização, o excesso da produção causado ainda pelo modelo fordista, e em decorrência de tudo isto, as altas taxas de desemprego e a precarização e desregulamentação do mercado de trabalho decerto prenunciavam a instauração de um novo modelo estatal, fez renascer a matriz liberal, antes adormecida, sob a nova roupagem, intitulada de neoliberalismo econômico. De fato, as medidas e políticas trazidas pelo Keynesianismo não foram utilizadas a contento, isto é, de forma rápida e efetiva, de modo a fazê-las permanecer em nosso ordenamento, desaguando na ideia de que o controle da inflação e o modelo conduzido pelo Welfare State impediam, de toda forma, o controle da inflação e o controle de custos.
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27 Demais disso, entendia-se que o lucro era o epicentro da economia no tocante ao seu desenvolvimento, o que, somado à crise e insatisfação popular, traduzindo-se na mudança do cenário político, certamente fez com que os governantes fossem considerados os culpados por tal contexto. Isso posto, este panorama político todo beneficiou a ascensão de diversos líderes que, sem mais e cristalinamente, defendiam a desregulamentação da intervenção estatal e mais, defendiam o ultraliberalismo e bem assim fortaleceram a ressignificação do liberalismo econômico, agora neoliberalismo, enquanto política concebida pelo Estado, a exemplo da Margareth Tatcher, primeira-ministra da Inglaterra e Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos da América. Ademais, fortalecendo este contexto, destaque-se a queda do socialismo e fim das ditaduras destes países, com o início da redemocratização, qual serviu de solo fértil ao renascimento da política liberal, com destaque à extinção da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) que, certamente, serviria de oposição a este novo horizonte
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28 No tocante à redemocratização dos países periféricos, a adoção deste contexto, igualmente, ocorreu sem qualquer tipo de resistência ou adaptação interna. Com efeito, os neoliberais preconizam a diminuição da máquina estatal e principalmente a horizontalização da atividade empresarial, traduzida no termo downsizing, o qual pugna pela diminuição da sua estrutura e tamanho original, passando a focar de forma pungente sobre a atividade-fim e bem assim, entregar a terceiros a descentralização das demais atividades tidas como periféricas. Ademais, a essência da ideologia neoliberal pugna pela diminuição da estrutura do Estado, bem como do seu raio de atuação, que deverá se restringir apenas ao que for essencial ao desenvolvimento do capital.
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Nesse compasso, busca adequar os institutos
juslaboralistas de modo a atender este chamado, ao fazer uso da mão de obra com o menor uso possível da legislação trabalhista hodierna, através de outros institutos de relação de trabalho e não o da de emprego propriamente dita. De fato, todo este cenário já vem sendo
traçado desde a crise do petróleo, nos anos
de 1970, de cujo cenário é pautado no fim do primado do trabalho e emprego 30
De outra banda, o que se verifica, decerto, que o
neoliberalismo não é vivenciado tão intensamente nos países tidos como de “primeiro mundo”, vez que também amargaram a projeção negativa de tal política pública, especificamente na gestão econômico-financeira nos Estados Nacionais capitalistas, de franca natureza liberal- monetarista, na virada dos séculos XX e XXI, máxime sobre os níveis de desenvolvimento econômico e de emprego, muito embora tentem, de toda forma, mascarar esta constatação em suas análises político-conjunturais. 31
A Europa também segue estruturante neste
mesmo contexto, pelo que vem resistindo, com maior primazia a crise, face ao restante do mundo. OS MODELOS DE PRODUÇÃO (Taylorismo, o Fordismo e o Toyotismo) TAYLORISMO 32
O Taylorismo foi implementado pelo norte americano
Frederick Taylor em suas fábricas no Estado da Filadélfia e perdurou até a Segunda Guerra Mundial, tendo demarcado, justamente, a transição do Estado Liberal para o Estado do Bem-Estar Social. No Brasil, foi utilizado a partir dos anos 30. A pedra de toque de tal modelo residia no controle do tempo e rendimento através da fixação do obreiro em um ponto determinado na linha de produção, com metas estipuladas a cumprir, pautada no número de peças que deveriam ser produzidas em determinado tempo. 33
De fato, a determinação do binômio tempo x
meta visava justamente a otimizar o tempo, o qual era justamente o objeto de alienação pelo empresário. Defendia o norte-americano que, todo problema poderia ser solucionado através da organização e uso da tecnologia, com boa gratificação aos empregados, justamente para se evitar conflitos e desta feita, aumentar a produtividade. 34
Detinha Taylor, a utopia de que o sistema
produtivo por ele criado valoriza os operários, porquanto, teoricamente, seus salários correspondiam à sua capacidade laborativa, entretanto, era muito frio no tocante à ótica humanista, pois certamente vislumbrava o homem como uma máquina, ignorando, portanto, os efeitos naturais da fadiga física, psicológica, máxime em razão das condições de trabalho, de cujo incentivo também não foi estimulada ao desenvolvimento de forma concreta, efetiva. O FORDISMO 35
Mais adiante, após a Segunda Guerra
Mundial, as ideias preconizadas por Taylor foram aperfeiçoadas por Henry Ford, o qual teve, certamente, como cenário, o Estado do Bem-Estar Social, protecionista e interventor como já analisado alhures, dando início a um novo paradigma de produção nos EUA, precisamente nas fábricas de automóveis de Detroit e certamente, acentuou o método taylorista de divisão do trabalho, visando integrar as fases do processo de . 36
De conseguinte, as indústrias passaram a se organizar
verticalmente de forma pesada e onerosa, porquanto era responsável por todas as fases de produção, máxime porque não poderia haver qualquer desperdício. Certamente, a otimização do tempo de labor e o incremento da produção teve como grande auxiliar a implantação de “esteiras rolantes”, trazendo como consequência o aumento da produção e diminuição do tempo nela despendido, bem como o número de trabalhadores nela constante, o que certamente, aumentou mais ainda a alienação e exploração do obreiro 37
Portanto, todo este contexto deságua no
aprisionamento do trabalhador a uma única função dentro do ciclo produtivo industrial, sem qualquer possibilidade de se proporcionar crescimento profissional ou pessoal, pois bastava apenas saber fazer a tarefa que lhe havia sido imposta, o que certamente trouxe insatisfação à classe trabalhadora e que, uma vez unidas, passaram a exigir uma conduta mais proativa por parte do Estado, culminando no advento da segunda dimensão dos direitos sociais, como anteriormente explanado, através da qual o Estado passou a intervir na vontade do patrão de modo a amenizar este contexto 38
Ford, então, racionalizou as operações
realizadas pelos obreiros, visando evitar o desperdício na produção, reduzindo o tempo e aumentando o ritmo de trabalho, visando a intensificação das formas de exploração. Este modelo, certamente, perdurou por todo o Estado do Bem-Estar Social. 39
No Fordismo, diferentemente do taylorismo
houve a segmentação das tarefas e de conseguinte, um acréscimo no número dos postos de trabalho face ao controle total da produção verticalizada, parcelando o trabalho, pois. Entretanto, com o declínio do Estado do Bem- Estar Social na década de 1970, face à crise no setor petrolífero, como já visto em linhas remotas, este regime produtivo entrou em decadência, dando azo ao Toyotismo, sob franca perspectiva neoliberal; vejamos doravante. 40
Com efeito, as fábricas, antes muito pesadas e com a
linha de produção verticalizada passaram, em contraponto, a horizontalizar a produção, reduzindo ao máximo o quadro de empregados fixos, pois que focada na atividade principal da empresa. O modelo toyotista, portanto, desconcentra os serviços não essenciais que recebe o nome de downsizing, cujo foco principal é realmente na atividade fim, criando, à sua volta, um círculo de empresas que lhe fornecem meios para realização das suas atividades acessórias, construindo, bem assim, uma rede integrada de empresas prestando serviços umas às outras. 41
Destarte, a empresa torna-se mais leve,
competitiva, e consequentemente mais lucrativa, já que expurgou todas as suas atividades tidas como acessórias, delegando-as às empresas tidas como parceiras, que passam a girar em torno do eixo da atividade principal, com profissionais especializados em cada área demandada e criteriosamente necessária ao apoio deste eixo central e que, por sua vez, recebe em seu seio estes profissionais a vir, de acordo com o seu próprio critério de demanda, auxiliar a produção final de seus produtos ou serviços. 42
Aqui temos o fenômeno da acumulação flexível
da produção, já que as empresas, na ânsia de se aperfeiçoarem nas atividades que desenvolvem, bem como imprimirem diminuição de custos, que, aliás, como já visto, tem sido uma exigência do mercado tido como globalizado, contratam outras empresas para, primeiramente realizarem atividades inicialmente acessórias, periféricas, e que paulatinamente vem sendo redesenhada, muito proximamente da atividade empresarial principal, tudo a ser desenvolvido dentro ou fora de sua estrutura. 43
Afinal, para Harvey, a “acumulação flexível, é
uma forma de capitalismo” e como tal, “é orientado para o crescimento das taxas de lucro”, o que certamente eclode através do “trabalho vivo na produção”, ou seja, pela “diferença entre o que o trabalho obtém e aquilo que cria”, razão porque “o controle do trabalho na produção e nos mercados é vital para a perpetuação do capitalismo O TOYOTISMO 44
O toyotismo é o modo de gestão criado pelo
engenheiro Ohno, e foi implementado inicialmente pela empresa Toyota, em seu processo produtivo de veículos, pelo qual os japoneses foram pioneiros na reestruturação produtiva com a finalidade precípua de reduzir custos mediante técnicas operacionais captadas de segmentos econômicos variados, pelo que auferiram muitas vantagens financeiras na disputa comercial com outras nações industrializadas, e por natural despertou a cobiça de diversos outros conglomerados empresariais. 45
Via de consequência, não restou alternativa aos
concorrentes capitalistas de todos os continentes que não a de adaptar os elementos fundantes do toyotismo aos seus negócios industriais, comerciais, financeiros e, de resto, aos serviços em geral. Guarda quatro fases. Primeira: introdução, na indústria automobilística japonesa, da experiência de ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente várias máquinas. 46
Segunda: necessidade de a empresa responder à
crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores. Terceira: a importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban. Segundo os termos atribuídos a Toyoda, presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente o necessário e fazê-lo no melhor tempo”, baseando-se no modelo dos supermercados, de reposição dos produtos somente depois de sua venda. 47
Segundo Coriat, o método kanban já existia
desde 1962, de modo generalizado, nas partes essenciais da Toyota, embora o toyotismo, como modelo mais geral, tenha sua origem, a partir do pós-guerra. Quarta: a expansão do método kanban para as empresas subcontratadas e fornecedoras. 48
A Toyota tornou-se ávida em práticas de terceirização,
e de conseguinte, obrigou às suas subcontratadas a adotarem o sistema kanban em todas as unidades produtivas, sob pena de quebra dos contratos. Em verdade, o termo Kanban acabou se tornando uma qualidade de senha dada para a reposição de peças no estoque, e parte integrante (instrumento ou ferramenta) do just-in-time, sendo entendido como rigoroso método de produção na hora certa para atender à demanda diversificada, responsável, portanto, por zerar estoques, enxugar etapas, eliminar quaisquer desperdícios, incluindo outras formas supostamente esclerosadas do processo produtivo. 49
Como visto, o toyotismo preordena a sua produção
consoante à demanda, com franco e elevadíssimo aproveitamento do tempo e eliminação de estoques, justamente para atender um mercado variado ou diversificado, heterogêneo e exigente. Demais disso, prestigia o trabalho em equipe como pressuposto da multifuncionalidade ou polivalência de cada trabalhador, incansável em práticas e desenvolvimento de programas de qualidade total e, como se não bastasse, deságua parte considerável deste processo às empresas subcontratadas (terceirização), de quem é exigido acatamento ao padrão aplicado no interior bastante enxuto da empresa principal Ibidem, p. 32-34. 50
Prestigia o trabalho em equipe como pressuposto da
multifuncionalidade ou polivalência de cada trabalhador, incansável em práticas e desenvolvimento de programas de qualidade total e, como se não bastasse, deságua parte considerável deste processo às empresas subcontratadas (terceirização), de quem é exigido acatamento ao padrão aplicado no interior bastante enxuto da empresa principal. Certamente, nada disso seria possível se, juntamente a este processo, não se instituísse uma filosofia de modo a tornar o diálogo mais leve entre as empresas e os sindicatos, de modo a que todo este processo de flexibilização da produção, como exposto, fosse realmente instituído e operacionalizado entre as partes envolvidas. 51
Seguidamente, o caminho constrói berço
esplêndido ao aumento da exploração da força de trabalho com as jornadas extenuantes; flexibilização dos fluxos e processos e dos direitos trabalhistas; controle rigoroso exercido pelos próprios colegas de trabalho da equipe sobre o labor executado por integrante individual; bem como a terceirização intensa em todas as etapas do processo produtivo, o que no Brasil já caminhou para a irrestrição de atividade, como veremos logo mais adiante. 52
Todo este cenário, sem laivo de dúvidas,
compromete a eficácia do verdadeiro sindicalismo classista, pelo que o modelo de gestão toyotista do processo produtivo vai amortecendo, tempo a tempo, o surgimento de lideranças obreiras desafiadoras da ordem empresarial vigente. 53
Do estudo da terceirização realizado pela
doutrinadora Graça Druck decorre das seguintes hipóteses: • a terceirização é o fenômeno que mais se difundiu nos últimos anos, tanto na indústria quanto no setor de serviços; • a terceirização passa a estar presente não apenas nas atividades periféricas, mas também nas atividades centrais das empresas; • a terceirização é uma prática que acaba desintegrando os movimentos coletivos de trabalho, que tornam-se frágeis, em prol das ações corporativistas, gerando uma concorrência entre os trabalhadores No Brasil. 54
Orlando Gomes e Elson Gottschalk afirmavam que
a história do Direito do Trabalho no Brasil era dividida em 03 (três) fases: uma pré-histórica e duas históricas. A primeira, que abrange o período de 1822 (Independência) a 1888 (abolição da escravatura). A segunda iniciou-se com a abolição da escravatura e terminou com a Revolução de 1930. A terceira e última fase iniciou-se na Revolução de 1930 e estendeu-se ao longo de todo o século XX. 55
Como é cediço, em 1943 foi aprovada a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), pelo Decreto n° 5.452/43, que, por sua vez, passou a resguardar o trabalhador inserido em uma relação de emprego formal existente no país e em nada cuidou do dito instituto, muito embora alguns doutrinadores apontem que os arts. 455 e 652, III do vetusto texto normativo guardava o seu prenúncio. Contudo, os primórdios da terceirização trabalhista em nosso país remontam à década de 1960, muito embora antes disso já se avistava a sua existência em razão da chegada das multinacionais que na década anterior aqui se instalaram, com destaque à indústria automobilística 56
De conseguinte, temos como primeiras
manifestações normativas os Decretos-lei 1.212 e 1.216, do ano de 1966, que cuidavam da regulamentação dos serviços bancários prestados por empresa interposta. Dois anos mais tarde, houve a edição do Decreto-lei 756, o qual versava sobre a regulamentação e funcionamento agencias de colocação ou intermediação de mão-de-obra. Em 1969, houve o Decreto-lei 1.034, o qual impôs adoção de medidas de segurança para o funcionamento das casas bancárias. 57
Vê-se, pois que, a única terceirização
devidamente regulamentada era a bancária e quanto aos demais, estes buscavam os institutos de direito civil, o qual, em caráter genérico, permite ao particular praticar atos que não estejam vedados pela lei. No tocante à Administração Pública, o primeiro
diploma normativo a tratar da terceirização foi
o Decreto-lei n.º 200, do ano de 1967, cujo texto tratava da descentralização das tarefas meramente executivas no setor público. 58
Mais à frente, veio a Lei n.º 5.645, de 1970, a
qual enumerou as atividades passíveis de execução por empresas interpostas quanto à Administração Pública. O rol foi inserido no parágrafo único do art. 3º, cujo teor rezava que “As atividades relacionadas com transporte, conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras assemelhadas serão, de preferência, objeto de execução indireta, mediante contrato, de acôrdo com o artigo 10, § 7º, do Decreto-lei número 200, de 25 de fevereiro de 1967.” 59
No ano de 1974 foi editada a Lei nº 6.019/74, a
primeira a tratar sobre a terceirização na economia privada, porquanto regulamentou o trabalho temporário e dela trataremos mais adiante, já com a reforma ocorrida no presente ano. Adiante, no ano de 1983, veio a Lei nº 7.102/83, regulamentada pelo Decreto nº 89.056/83, a qual normatizou a terceirização nos serviços de vigilância bancária e transporte de valores, em caráter permanente. 60
Nesse sentido, por certo tempo só era permitido
ao setor financeiro a contratação de empresas prestadores para a realização das tarefas sob comento. Entretanto, nos anos de 1994 e 1995, as Leis de nº 8.863/94 e 9.017/95 trouxeram em seus bojos a autorização para prestação de serviços, contratados por empresas terceiras, de vigilância patrimonial de pessoas físicas ou jurídicas para transportes de quaisquer tipos de carga. 61
Frise-se que estas leis foram promulgadas
após a edição da Súmula nº 331 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, a qual interpretou o instituto ampliativamente para autorizar a terceirização das atividades de vigilância e não mais apenas no setor bancário, como preconizava a sua antecessora, a Súmula nº 256. No tocante a esta súmula, uma seção será dedicada a estudá-la mais adiante. 62 Por fim, atente-se para a Lei nº 8.949 de 1994, a qual inseriu o parágrafo único ao artigo 442 da CLT, disciplinando a ausência de vínculo empregatício entre as cooperativas e os cooperados e entre esses e o tomador/contratante dos serviços. Do exposto, resta cristalino que a regulamentação sobre o instituto Terceirização, até este corrente ano, era esparsa e ineficientes diante do cenário brasileiro, pois que ainda não cuidava deste de modo integral, isto é de forma globalizada e esta carência, certamente fez com que as empresas do ramo crescessem de forma desordenada e de toda forma, contribuindo à diminuição ou até mesmo aviltamento do valor-trabalho, bem como do “patamar civilizatório mínimo” defendido e alicerçado como premissa no Direito do Trabalho, máxime pela própria Carta Magna de 1988 63
Afinal, a terceirização desenvolvida às margens da
normatividade heterônoma, máxime em se considerarmos que as normas e comandos constitucionais são, certamente, esmiuçados por normas infraconstitucionais, erigiu um caos jurídico nestas relações terceirizadas, pois que fez paulatinamente parecer que tudo, no particular, poderia ser feito e implementado, o que muitas das vezes entrou choque com a própria ordem constitucional, pelo que a regulamentação pretendida chegou em boa hora, ao menos para que se estabeleça um marco zero nesta regulamentação e correção face à ordem jurídico-constitucional