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O Conto da Aia: estado de

exceção e controle dos


corpos em Margaret Atwood
O conto da Aia (1985)
“Imagine que, em um futuro próximo, um grupo cristão fundamentalista assume o poder, suspende a
constituição e instaura uma ditadura militar. Agora o Brasil é uma teocracia. Os direitos das mulheres
são retirados – e elas se tornam o centro desse novo sistema.

Elas são divididas entre férteis e inférteis. As que podem ter filhos – poucas, pois a degradação do
meio-ambiente causou danos à fertilidade de quase todas as mulheres – são mantidas na casa dos
comandantes do governo para, uma vez por mês, serem estupradas por eles. O objetivo imposto a elas
é trazer novas vidas ao país, agora chamado de "Gilead". A "República de Gilead" ocupa o que já foi
chamado de Estados Unidos.”
“Quando cheguei à loja da esquina, “Você deve ter feito um erro, disse.
a mulher de costume não estava lá. Tente de novo. Ele deu de ombros e me
Em vez dela havia um homem, um deu um sorriso de quem está farto, mas
rapaz, não podia ter mais de vinte tentou o número outra vez. “Viu?”, disse
anos. “Ela está doente?”, perguntei ele de novo, ainda com aquele sorriso,
a ele enquanto entregava meu
como se soubesse de uma piada
cartão. “Quem?”, disse ele,
agressivamente, achei.” particular que não fosse me contar.”
“”Eles congelaram as contas”, disse
ela. A minha também. Qualquer
conta com um F em vez de um M.
Tudo o que precisaram fazer foi
apertar uns botões. Estamos
deserdadas. Confiscaram tudo. “Mas
tenho mais de dois mil dólares no
banco”, eu disse, como se a minha
própria conta fosse a única que
importasse. “Mulheres não podem
mais possuir bens”, disse ela. É uma
nova lei. Você ligou a televisão
hoje?”
ESTADO DE EXCEÇÃO
Aias

Não-mulheres

Marthas
Esposas
Econoesposas
Tias
Homo sacer

Vida matável e inscracrificável (AGAMBEN, 2010, p. 111)


“Certa vez, contudo, ouvi Rita
dizer para Cora que não se
rebaixaria dessa maneira.
Ninguém está lhe pedindo
que o faça, retrucou Cora. De
qualquer maneira, o que você
poderia fazer, se acontecesse?
Ir para as Colônias,
respondeu Rita. Elas têm essa
escolha.
Com as Não mulheres, e
morrer de fome e Deus sabe o que
mais?, disse Cora. Agora te peguei.”
Matáveis
“Esta mulher tem sido minha
parceira há duas semanas. Não sei
o que aconteceu com a outra, a
anterior. Um belo dia ela
simplesmente não estava mais lá, e
esta aqui estava em seu lugar.”

“Na semana passada mataram a


tiros uma mulher, bem aqui. Era
uma Martha. Estava remexendo
em sua túnica em busca do passe, e
pensaram que estivesse
apanhando uma bomba. Já houve
incidentes desse tipo.”
Matáveis
“Estou me lembrando dos meus pés nessas
calçadas, no tempo de antes, e o que eu
costumava usar neles. Por vezes eram sapatos de
corrida, com solas grossas acolchoadas para
absorver o impacto (...) e estrelas de tecido
fluorescente que refletiam a luz na escuridão.
Embora eu nunca corresse durante a noite; e
durante o dia, só a beira das ruas bem
frequentadas.

As mulheres não eram protegidas então.”

Insacrificáveis
“Lembro-me das regras, regras que nunca
eram explicadas em detalhes, mas que toda mulher
conhecia: não abra sua porta para um desconhecido.
(...) Não pare na estrada para ajudar um motorista
em dificuldade. Mantenha as portas trancadas e siga
em frente. Se alguém assobiar, não se vire para
olhar. Não entre numa lavanderia, com máquinas
para autoatendimento, sozinha, à noite.
Penso a respeito de lavanderias de
autoatendimento. O que eu vestia para ir a elas,
shorts, jeans, calças de malha de corrida. O que eu
punha nas máquinas: minhas próprias roupas, meu
próprio sabão, meu próprio dinheiro, dinheiro que
eu mesma ganhava. Penso a respeito de ter tanto
controle.
Agora andamos pela mesma rua, aos pares de
vermelho, e homem nenhum grita obscenidades
para nós, fala conosco, toca em nós. Ninguém
Insacrificáveis assobia.”
“E se consagrar (sacrare) era o termo
que designava a saída das coisas da
esfera do direito humano, profanar,
por sua vez, significava restituí-las ao
livre uso dos homens. "Profano" -
podia escrever o grande jurista
Trebácio - ‘em sentido próprio
denomina-se àquilo que, de sagrado
ou religioso que era, é devolvido ao
uso e à propriedade dos homens’”
(ABAMBEN, 2007, p. 65).

SAGRADO
Corpo-espécie Corpo como máquina

proliferação adestramento
nascimentos ampliação de suas
mortalidade aptidões
nível de saúde extorsão de suas
longevidade forças
utilidade e docilidade

Os dois pólos em torno dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida
(Foucault, 1988, p. 130)
“A cerimônia se desenrola como de hábito.
Deito-me de barriga para cima,
“Sou levada ao médico uma vez por mês, para completamente vestida exceto pelos amplos
fazer exames: de urina, hormônios, calções de algodão. (...) Acima de mim, em
preventivo de câncer, exame de sangue; os direção à cabeceira da cama, Serena Joy está
mesmos que antes, só que agora isso é posicionada, estendida. Suas pernas estão
obrigatório.” abertas, deito-me entre elas, minha cabeça
sob seu estômago, seu osso púbico sob a
base do meu crânio. (...) Minha saia vermelha
“Eu espero que as pessoas pertencentes à é puxada para cima até a minha cintura, mas
casa se reúnam. Pertences da casa: isso é o que não acima disso. Abaixo dela o Comandante
somos.” está fodendo.”
“A cerimônia se desenrola como de hábito.
Deito-me de barriga para cima,
“Eu espero que as pessoas pertencentes à completamente vestida exceto pelos amplos
casa se reúnam. Pertences da casa: isso é o que calções de algodão. (...) Acima de mim, em
somos.” direção à cabeceira da cama, Serena Joy está
posicionada, estendida. Suas pernas estão
abertas, deito-me entre elas, minha cabeça
sob seu estômago, seu osso púbico sob a
base do meu crânio. (...) Minha saia vermelha
é puxada para cima até a minha cintura, mas
não acima disso. Abaixo dela o Comandante
está fodendo.”
"Não deve surpreender que o suicídio -
outrora crime, pois era um modo de usurpar
o direito de morte que somente os
soberanos, o daqui debaixo ou o do além, PROFANO
tinha o direito de exercer - tenha-se
tornado, no decorrer do século XIX, uma das
primeiras condutas que entraram no campo
da análise sociológica; ele fazia aparecer, nas
fronteiras e nos interstícios do poder
exercido sobre a vida, o direito individual e
privado de morrer." (Foucault, 1988, p. 129)
“ - O que aconteceu com ela? - digo.
(...) - Ela se enforcou - diz ele;
pensativamente, não triste. - Foi por isso que
mandamos tirar o lustre. Em seu quarto. -
Fez uma pausa. Se seu cachorro morre,
arranje outro.
- Com o quê? - digo.
Ele não quer me dar ideias. PROFANO
- Isso tem importância? - diz.

(...)

- Então está bem - digo. As coisas mudaram.


Agora, tenho algo que posso usar para
pressioná-lo em meu proveito. O que tenho
para pressioná-lo é a possibilidade de minha
morte. Finalmente.”
referências
AGAMBEN, G. Homo Sacer: O poder
soberano e a vida nua I. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2010.

AGAMBEN, G. Um elogio às profanações. In:


Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.

ATWOOD, M. O conto da Aia. Rio de Janeiro:


Rocco, 2017.

FOUCAULT, M. Direito de morte e poder


sobre a vida. In: História da sexualidade I. Rio
de Janeiro: Edições Graal, 1988.

reflexões finais

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