Sei sulla pagina 1di 32

A democracia liberal e

seus paradoxos.
Norberto Bobbio: Filósofo e
Jurista italiano.
“A dificuldade de conhecer o futuro
depende também do fato de que cada
um de nós projeta no futuro as próprias
aspirações e inquietações, enquanto a
história prossegue o seu curso
indiferente às nossas preocupações (...).
É por isso que as previsões feitas pelos
grandes mestres do pensamento sobre o
curso do mundo acabaram por se revelar,
no final das contas, quase sempre
erradas (...)” (O Futuro da Democracia,
São Paulo: Paz e Terra, 2002. p.30)
Como estão em nossos dias os regimes
democráticos? Dos ideais a matéria bruta.
• Uma definição mínima de democracia: “o único modo de se
chegar a um acordo quando se fala de democracia,
entendida como contraposta a todas as formas de governo
autocrático, é o de considerá-la caracterizada por um
conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que
estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões
coletivas e com quais procedimentos” (p.30).
• Todo corpo coletivo necessita tomar decisões;
• Todas as decisões para serem aceitas como coletivas
precisam estar baseadas em regras;
• Um regime democrático caracteriza-se pela participação
de um número muito elevado de indivíduos – não são
todos os indivíduos, somente aqueles que possuem
direito a voto (possuem certa idade, etc.);
• Quanto maior a extensão desse direito (voto) entre as
varias classes sociais e atingem um maior número de
indivíduos, mais democrático é o processo político;
• Qual a regra fundamental da democracia?
• Regra da maioria: “(...)regra à base da qual são consideradas
decisões coletivas – e, portanto, vinculatórias para todo o
grupo – as decisões aprovadas ao menos pela maioria
daqueles a quem compete tomar a decisão”(p.31);
• A maioria é preferida quando a unanimidade não é possível
(ou seja, uma regra que possibilita a tomada das decisões, que
poderiam se prolongar infinitamente se fosse requerida a
unanimidade);
• Definição mínima de democracia: elevado número de
participantes que participam direta ou indiretamente na
tomada de decisões coletivas e a existência do procedimento
da maioria. Mas isso é suficiente?
• Uma terceira condição é indispensável: alternativas reais para
escolher e direitos de escolha;
• Para satisfazer essa condição é necessário garantir aos
participantes os direitos de liberdade: de opinião, de
expressão das opiniões, de associação e de reunião. Tais
direitos nasceram com a ideia do Estado liberal e do Estado
de direito, onde o Estado garante liberdades invioláveis para
os indivíduos – o reconhecimento constitucional dos direitos.
• Seja qual for o fundamento filosófico desses direitos invioláveis,
“eles são o pressuposto necessário para o correto
funcionamento dos próprios mecanismos predominantemente
procedimentais que caracterizam um regime democrático”.
• Esse modo de entender a democracia é chamada de
procedimental. Um conjunto de regras que permite a tomada de
decisões onde a unanimidade não é possível. Essas regras são
regras essenciais que permitem “o desenrolar do jogo” e por isso
“não são exatamente regras do jogo”, mas uma condição mínima
que possibilita que o jogo possa se desenvolver da forma mais
pacífica possível. (p.32)
• “O Estado Liberal é o pressuposto não só histórico mas jurídico
do Estado democrático”;
• Relação de interdependência: “na direção que vai do
liberalismo à democracia, no sentido de que são necessárias
certas liberdades para o exercício correto do poder
democrático, e na direção oposta que vai da democracia ao
liberalismo, no sentido de que é necessário o poder
democrático para garantir a existência e a persistência das
liberdades fundamentais”
• “É pouco provável que um Estado não-liberal possa assegurar
um correto funcionamento da democracia, e de outra parte é
pouco provável que um Estado não-democrático seja capaz de
garantir as liberdades fundamentais. A prova histórica desta
interdependência está no fato de que Estado liberal e Estado
democrático, quando caem, caem juntos.” (p.33)
Os Ideais e a “Matéria bruta”.
• Os ideais democráticos e a “democracia real”.
• A democracia em transformação: sobre isso existem diversas
interpretações. Por exemplo: visão de direita - regime semi-
anárquico que propicia o “estilhaçamento” do Estado; ou de
esquerda - a democracia parlamentar que está se
transformando em regime autocrático.
• Contraste entre ideais e o real estado da democracia parece
ser um viés de análise apropriado.
• Frase retirada de “O doutor Jivago” de Boris Pasternak:
“Aconteceu mais vezes na história. O que foi concebido como
nobre e elevado tornou-se matéria bruta. Assim a Grécia
tornou-se Roma, assim o iluminismo russo tornou-se a
revolução russa”.
• Norberto Bobbio procura analisar o contraste entre o que foi
prometido (os ideais) e o que de fato foi realizado.
• Bobbio cita seis promessas não-cumpridas da democracia.
• Pergunta para meditar: Não seriam essas promessas não-
cumpridas o ônus (encargo) do liberalismo que a democracia
precisa pagar?
A Sociedade Pluralista
• Democracia: nasce de uma concepção individualista de
sociedade – diferente da visão orgânica do mundo antigo e
medieval, em que o todo precede as partes;
• Três eventos propiciaram para a dissolução do modelo
orgânico e a formação de uma concepção individualista na
filosofia social moderna:
• a) o contratualismo dos séculos XVII e XVIII, que parte da
hipótese que antes da sociedade civil existe o estado de
natureza, no qual o soberano são indivíduos singulares, livres
e iguais, que entram em acordo entre si para garantir a vida
e a liberdade;
• b) o nascimento da economia política, na qual o sujeito é o
indivíduo singular, o homo oeconomicus e não o politikón zôon
da tradição. O indivíduo singular que para Adam Smith
“perseguindo o próprio interesse, frequentemente promove
aquele da sociedade de modo mais eficaz do que quando
pretenda realmente promove-lo”;
• c) a filosofia utilitarista de Bentham e Mill, que distinguem o
bem do mal, de acordo com o prazer e a dor e não com
conceitos vagos. O bem comum para eles é a soma dos bens
individuais”, a “felicidade do maior número”.
• A sociedade democrática, com a concepção individualista,
tinha pretendido uma sociedade sem os corpos intermediários
entre o povo e o soberano, característica da sociedade
corporativa das cidades medievais e do Estado de estamentos;
• Democracia: seu ideal propõe que entre os indivíduos e seus
representantes não existam sociedades particulares;
• “O que aconteceu nos Estados democráticos foi exatamente o
oposto: sujeitos politicamente relevantes tornaram-se sempre
mais os grupos, grandes organizações, associações da mais
diversa natureza, sindicatos das mais diversas profissões,
partidos das mais diversas ideologias, e sempre menos os
indivíduos”. (p.35)
• Não existe um povo composto de indivíduos que participam
das decisões políticas, mas grupos contrapostos e
concorrentes com certa autonomia em relação ao poder
central;
• A sociedade passa a ter vários centros de poder e não apenas
um como desejava Rousseau (a vontade geral);
• O modelo de Estado fundado sobre a soberania popular era
uma sociedade monística, mas a sociedade real dos governos
democráticos é pluralista.
A questão da representação dos
interesses
• O problema da representação (outra promessa não-
cumprida):
• A democracia moderna, a democracia representativa (e não
direta como a dos antigos), deveria ser caracterizada pela
representação política. A representação política entende que
o representante deve corresponder ao interesse da nação e
não a grupos particulares ou interesses individuais;
• A representação política sustentada desde a Revolução
Francesa pretendia que uma vez eleito o representante, ele
era representante da nação e não de seus eleitores ou
grupos de interesses;
• “Mas numa sociedade composta de grupos relativamente
autônomos que lutam pela sua supremacia, para fazer valer
os próprios interesses contra outros grupos, uma tal norma,
um tal princípio podem de fato encontrar realização? Além
do fato de que cada grupo tende a identificar o interesse
nacional com o interesse próprio, será que existe algum
critério geral capaz de permitir a distinção entre o interesse
geral e o interesse particular deste ou daquele grupo?”
• Surgimento do neocorporativismo: governo como mediador
entre grandes grupos de interesses, e como garantidor dos
contratos e acordos;
• A representação dos interesses toma o lugar da
representação política.
As Oligarquias

• A terceira promessa não-cumprida da democracia é a


permanência das oligarquias;
• O princípio inspirador da democracia foi a liberdade
entendida como autonomia, na famosa definição de
Rousseau, como a capacidade de dar leis a si próprio,
ou seja, a identificação entre quem dá e quem recebe
a regra;
• Contudo a democracia direta não é possível em
nossos dias dado o tamanho populacional e territorial;
• O excesso de participação também pode trazer consequências: o
cidadão pode ficar saciado(farto) de democracia e aumentar a
apatia eleitoral;
• As elites permanecem no poder, contudo não eliminam a
diferença entre democracia e regimes autocráticos: “Joseph
Schumpeter, acertou em cheio quando sustentou que a
característica de um governo democrático não é a ausência de
elites mas a presença de muitas elites em concorrência entre si
para a conquista do voto popular";
• As democracias atuais, não cumprem a famosa definição de
Rousseau, e tornam-se democracias por outros princípios.
O Espaço Limitado
• A democracia não consegue ocupar espaços nos quais se
exerce o poder de decisão para um determinado grupo
social;
• A pergunta agora não é "Quem vota?" mas "Onde se vota” -
passagem de uma democracia política para uma democracia
social;
• Um modo de perceber o avanço da democracia é considerar
o aumento dos espaços que se servem de decisões
democráticas nas sociedades modernas;
• As fábricas são um exemplo onde a democracia poderia
ampliar seu poder de controle.
O poder invisível
• A quinta promessa não-cumprida da democracia é a
eliminação do poder invisível (máfia, serviços secretos,
grupos organizados secretos;
• Kant enunciou na “Paz perpétua” que “todas as ações
relativas ao direito de outros homens cuja máxima não é
suscetível de se tornar pública são injustas” – ou seja, aquela
ação que corresponde aos outros ou a todos deve ser
publica, e estar aos olhos e ouvidos de todos;
• “Desta delimitação do problema resulta que a exigência de
publicidade dos atos de governo é importante não apenas,
como se costuma dizer, para permitir ao cidadão conhecer os
atos de quem detém o poder e assim controlá-los, mas
também porque a publicidade é por si mesma uma forma de
controle, um expediente que permite distinguir o que é lícito
do que não é”;
• Exemplo: Um funcionário público que se utiliza dos recursos do
Estado para seu proveito particular. Quanto esse fato se torna
público, se torna um escândalo. Aquilo que é público mas que
é mantido em segredo é ilícito e injusto como pensava Kant.
• Em nossos dias uma grande quantidade de assuntos e ações
que dizem respeito a todos é mantida em segredo, mas que se
tornassem público virariam um escândalo. Exemplo: O caso
NSA, do governo Norte Americano denunciado por Edward
Snowden.
O cidadão não-educado
• A questão da educação para a cidadania;
• A educação para a cidadania seria alimentada pelo próprio
exercício de participação na democracia;
• Stuart Mill dizia: “a participação eleitoral tem um grande
valor educativo; é através da discussão política que o
operário cujo trabalho é repetitivo e concentrado no
horizonte limitado da fábrica, consegue compreender a
conexão existente entre eventos distantes e o seu interesse
pessoal (...) tornando-se assim membro consciente de uma
comunidade”;(p.44)
• Nas democracias existe o fenômeno em nossos dias da apatia
política: “Estão simplesmente desinteressadas daquilo que,
como se diz na Itália com uma feliz expressão, acontece no
‘palácio’”.
• Essa apatia pode ser reflexo de múltiplas razões, desde a falta
de interesse pelos assuntos públicos, como o descrédito das
ações públicas de políticos, até o sentimento de incapacidade
frente aos enormes desafios.
O Governo dos Técnicos
• O projeto democrático e seus ideais foram concebidos para
sociedades menos complexas que as atuais. As promessas não
foram cumpridas por causa de obstáculos que não estavam
previstos e pela transformação que ocorreu em nossas
sociedades;
• Um desses obstáculos é a tecnocracia: “A democracia sustenta-se
sobre a hipótese de que todos podem decidir a respeito de tudo.
A tecnocracia, ao contrário, pretende que sejam convocados para
decidir apenas aqueles poucos que detêm conhecimentos
específicos”. Exemplo: Problemas de inflação, pleno emprego,
justa distribuição requer um economista.
Burocracia
• A burocracia é “um aparato de poder ordenado
hierarquicamente do vértice à base, e portanto
diametralmente oposto ao sistema de poder democrático.
Admitindo-se como pressuposto que uma sociedade
apresenta sempre diversos graus de poder e configurando-se
um sistema político como uma pirâmide, na sociedade
democrática o poder vai da base ao vértice e numa
sociedade burocrática, ao contrário, vai do vértice à base”.
(p. 47)
• Com o aumento dos direitos civis, políticos e sociais era natural
que as demandas para o Estado crescesse, e junto a burocracia
que detêm modos de decisão que escapam muitas vezes ao
modelo democrático;
• “Em síntese, do fato de que o Estado liberal primeiro e seu
alargamento no Estado democrático depois contribuíram para
emancipar a sociedade civil do sistema político. Tal processo de
emancipação fez com que a sociedade civil se tornasse cada vez
mais uma inesgotável fonte de demandas dirigidas ao governo,
ficando este, para bem desenvolver sua função, obrigado a dar
respostas sempre adequadas”;
• Contudo o governo se torna incapaz de corresponder as
crescentes demandas.
• Conclusão:
• As promessas não-cumpridas e obstáculos não previstos não são
suficientes para descaracterizar a democracia liberal moderna:
• “O conteúdo mínimo do Estado democrático não encolheu:
garantia dos principais direitos de liberdade, existência de vários
partidos em concorrência entre si, eleições periódicas a sufrágio
universal (...). Existem democracias mais sólidas e menos sólidas,
mais invulneráveis e mais vulneráveis; existem diversos graus de
aproximação com o modelo ideal, mas mesmo a democracia
mais distante do modelo não pode ser de modo algum
confundida com um Estado autocrático e menos ainda com um
totalitário”. (p.50)
• As democracias tendem a não fazer guerras entre si.
• As constituições democráticas internas são um obstáculo a
guerras na medida em que prezam por direitos humanos e
individuais;
• O respeito ao ideal de tolerância, que sempre foi defendida em
regimes democráticos;
• “(...) O que distingue essencialmente um governo democrático de
um não-democrático é que apenas no primeiro os cidadãos
podem livrar-se de seus governantes sem derramamento de
sangue” (Karl Popper).
• O adversário não é nosso inimigo mas um opositor que poderá
governar no futuro;

Potrebbero piacerti anche