O preconceito lingüístico é fruto de uma visão de mundo
estreita, inspirada em mitos e superstições que têm como único objetivo perpetuar os mecanismos de exclusão social. Ele é alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado”.
Marcos Bagno fez um levantamento dos mitos mais
comuns que os falantes nativos de língua portuguesa têm e provou que eles não se sustentam.
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O círculo vicioso do preconceito lingüístico: O que é e onde está a norma culta? A GRAMÁTICA TRADICIONAL OS MÉTODOS TRADICIONAIS DE ENSINO OS LIVROS DIDÁTICOS OS COMANDOS PARAGRAMATICAIS A norma culta está tradicionalmente muito vinculada à norma literária, à língua escrita. A maioria das pessoas plenamente alfabetizadas não cultivam nem desenvolvem suas habilidades no nível da norma culta. As gramáticas normativas tradicionais chamam erradamente de norma culta uma modalidade de língua que não é culta, mas sim cultuada.
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Preconceito lingüístico: mudança de atitude Toda língua é viva, dinâmica, está em constante movimento. Todo falante nativo de uma língua é um falante plenamente competente dessa língua, capaz de discernir se um enunciado obedece ou não às suas regras de funcionamento. Usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade.
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O que é preconceito lingüístico? O preconceito lingüístico é fruto de uma visão de mundo estreita, inspirada em mitos e superstições que têm como único objetivo perpetuar os mecanismos de exclusão social. Ele é alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais 04/11/21 que pretendem oito ensinar mitos o que é 4 “certo” e o que é “errado”. Mito nº 1: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. VERDADE: “Em nosso país existe um verdadeiro abismo lingüístico entre os falantes das variedades não- padrão do português brasileiro (a maioria da população) e os falantes da (suposta) variedade culta, em geral mal definida, que é a língua ensinada na escola”.
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Mito nº 2: “Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”. VERDADE: “O brasileiro sabe o português do Brasil, que é a língua materna de todos os que nascem e vivem aqui, enquanto que os portugueses sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado: eles são diferentes porque atendem às necessidades lingüísticas das comunidades que os usam”.
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Mito nº 3: “Português é muito difícil”.
VERDADE: “A idéia de que ‘português é
muito difícil’ serve como mais um dos instrumentos de manutenção do status quo das classes sociais privilegiadas. No dia em que o nosso ensino de português se concentrar no uso real, vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil, ele deixará de ser considerado ‘uma língua difícil’ ”.
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Mito nº 4: “As pessoas sem instrução falam tudo errado”. VERDADE: “O que está em jogo aqui não é a língua, mas a pessoa que fala essa língua: onde ela vive, que posição social ocupa, qual sua condição econômica. Por exemplo, se o Nordeste é ‘atrasado’, ‘pobre’, ‘subdesenvolvido’, então, ‘naturalmente’, as pessoas que lá nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim...”.
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Mito nº 5: “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”. VERDADE: “Não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja melhor. É preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o ‘melhor’ ou o ‘pior’ português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura”.
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Mito nº 6: “O certo é falar assim porque se escreve assim”. VERDADE: “É preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso tentando criar uma língua falada ‘artificial’ e reprovando como ‘erradas’ as pronúncias que são resultado natural das forças internas que governam o idioma. Além do mais, não existe nenhuma ortografia em nenhuma língua do mundo que consiga reproduzir a fala com fidelidade”.
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Mito nº 7: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”. VERDADE: “A gramática é subordinada à língua e dependente dela, não o contrário. Ela não estabelece a ‘norma culta’. A tarefa da gramática deve ser o de definir, identificar e localizar os falantes cultos, coletar a língua usada por eles e descrever essa língua de forma clara e objetiva”.
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Mito nº 8: “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”. VERDADE: “O mero domínio da norma culta não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente. É preciso favorecer esse reconhecimento, mas também garantir o acesso à educação em seu sentido mais amplo, aos bens culturais, à saúde e à habitação, ao transporte de boa qualidade, enfim, a uma vida digna”.