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Maitê Proença

Revista Época nº 397


Deus surgiu na minha vida aos 6
anos de idade, e chegou junto
com o pecado.

Filha de pais ateus, até então, eu


não havia sido apresentada a uma
coisa nem outra.
Um dia colocaram-me num
colégio de freiras no qual
rapidamente fui atualizada sobre
essas questões importantes da
vida.
Ali aprendi que algumas faltas
eram mais graves que outras.
Matar, por exemplo. Mas eu nunca matei ninguém...
Ah, é? E, quando você caminha, o que acontece com todas aquelas formigas
que vão sendo pisoteadas?

Assustada, passei meses andando de cabeça baixa para evitar tamanho


pecado.
Trocaram-me de colégio.

Passou-se um ano, e surgiu o assunto


da primeira comunhão.

Você não vai fazer?

Não sei, o que é isso?

É para Deus te perdoar dos pecados.

Ahn...
Em casa, minha mãe tirava dúvidas a
sua maneira: Deus é como Papai
Noel, só existe para quem acredita
nele.

E ela sabia que eu já não acreditava.

Assim, pulamos a primeira


comunhão.
Aí minha mãe morreu, meu pai pirou, e
por coincidência fui parar numa
hospedaria para filhos de missionários
luteranos americanos, espalhados
pelo Brasil.

Ali se rezava antes de cada refeição, e,


à noite, por uma hora de fervor,
cantavam-se hinos de louvor a Cristo.

Éramos 30 meninas e meninos, de 5


a18 anos, cuidados por um casal que
viera de Minnesota com a missão de
manter a fé daqueles pirralhos
custasse o que custasse.

Meu caso deu certo trabalho.


Eu não fazia parte da turma, não tinha fé
alguma, e era imprescindível integrar-me
às crianças cristãs antes que elas se
integrassem a meus modos pagãos.

Acontece que aquela gente era muito


boa, e eu andava numa carência infinita.

Então, com o amor que me dedicaram,


demorou pouco para que eu me
bandeasse de armas e bagagem,
pensamentos e espírito para onde a seta
luterana apontava.
Aos 16, cansei dessa vida, discuti com o
responsável da hospedaria e fui bater na
porta de uma igreja Católica.

Você é padre, não é? Pois eu sou órfã, e não


tenho onde morar.

Padre Xico me convidou para morar na torre


da igreja, e ali me instalei por um par de
anos.

No térreo ficava a sala de estar.

O sacerdote morava no 1º andar, o segundo


piso servia para hospedar bispos e
monsenhores, e no terceiro ficava meu quarto.
Certa vez aconteceu um show do Vinicius e Toquinho na cidade, e eu fui
conferir.

Ao final do espetáculo, fui cumprimentar os artistas, e Toquinho se


ofereceu para me levar em casa.

Quando pedi que estacionasse na porta da igreja, o moço não entendeu


nada.

Você mora com o padre?

Moro.

E você dá para o padre?

Não, o padre é casto, e eu sou virgem - não dou para ninguém.

As segundas intenções que levaram Toquinho a me acompanhar, tão


gentilmente, até minha casa morreram ali.
Anos depois, já atriz, eu contei essa história para ele, e ambos
demos boas risadas.
Quando se viaja pobre, precisa-se das pessoas, da
generosidade delas, de suas gentilezas.

Nessa troca diária em que eu também tinha de estar


disponível, conheci muita gente boa e simples.

E gente simples tem religião.

Pelas pessoas, e não por interesse em suas crenças, fui novamente levada a Deus.
A vida foi seguindo. Levou-me para a Europa...

...e dali para a Ásia, numa peregrinação


que duraram dois anos.
Eu ia a pé, de carona, como desse - e ia
conhecendo bem a gente local.
Agora Ele ganhava várias faces, e as
formas de louvá-Lo eram múltiplas e
sempre muito fervorosas.

Assim, fui percebendo que Deus não


dava a mínima se a gente queria
chamá-lo de Buda,

Oxalá
Maomé,

ou Jesus.

Deus não cabia numa caixinha,


nem na minha compreensão, e
isso de certa forma me confortava.
Então, quando mais tarde a vida apertou e minhas pessoas começaram a morrer
muito pela segunda vez - amigos, meu pai e meu irmão se mataram - e minha
solidão precisava de um amor sobrenatural para sará-la, lembrei de Deus, e fui
procurá-lo.
Quando encontrei, Ele era um Deus maduro e generoso, que me curou por
inteiro, e, como que para me separar definitivamente de todo mal, ainda me deu
uma filha de presente.
Eu que tentava havia dez anos, sem nenhum problema físico, só
consegui engravidar quando virei uma pessoa completa, ou seja, de
espiritualidade plena.

Não vou contar, porque não cabe aqui, como se deram os milagres de
minha vida, mas esse de minha filha aconteceu exatamente nessas
circunstâncias.
O Deus que hoje reconheço é doce, tolerante, compreensivo e
infinitamente bom.

É Ele quem me orienta e me encaminha todos os dias em cada


momento.
Olhando para trás e lembrando de tantas ocasiões em que poderia
ter desistido de tudo, mas não o fiz, percebo que sempre houve um
clarão no fim de cada túnel, e que essa luz dava sentido a todos os
aspectos e minha caminhada.

Antes, apenas, eu não sabia que a luz tinha um nome.

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