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1984 2004
O trabalho ‘estrangeiro’ a
serviço da nova São Paulo
Emcontraste com antigos migrantes,que vinham para ficar, profissionais do setor terciáriofazem da cidade destino temporário
Essa São Paulo assistiu à emi- formal paulistano representa 0,4%. Reúne hoje 25% da con- lo tinha 8 mil flats em operação de bons e grandes espetáculos. O
MIGRAÇÃO
gração de plantas produtivas, um atrativo para os estrangei- centração de submoradias do e 17 mil em construção. Nas ci- convívio de temperos resultou
mas continuou abrigando seus ros e migrantes. Segundo da- município. Em 1992, a carên- dades próximas, as construto- na emergente cozinha contempo-
A expressão “cair no mundo” centros de planejamento e deci- dos do Dieese, em 1985, 14,1% cia nos bairros que formam o ras e incorporadoras lançam rânea paulistana, liderada por
significou, para levas de mi- são. A perda do emprego indus- das pessoas ocupadas da capi- distrito chegava a 425 creches, inúmeros condomínios fecha- chefs da cidade, migrantes e es-
grantes e imigrantes até os anos trial não resultou da redução da tal estavam no setor de comér- 61 escolas de educação infantil dos horizontais para receber al- trangeiros. Essa integração tam-
70, trocar a terra de origem por atividade na capital e nas redon- cio. Em 2003, o porcentual su- e 40 postos de saúde. tos executivos estrangeiros. bém se revela nas montagens mu-
São Paulo, conquistar um lugar biu para 16,5%. Entre 1973 e 1987, a popula- Os hotéis também se moderni- sicais e teatrais, das amadoras às
na indústria nascente ou no co- ção favelada em São Paulo au- zam para atender ao turismo de superproduções.
mércio crescente. Vir “de mala Expansão do setor SAGA mentou de 71,8 mil para quase negócios, impulsionado pelas fei- A onda da reestruturação da
e cuia” para ficar, fugindo da se- de serviços atrai A cidade é tão vibrante quanto 2 milhões de habitantes, em 1,9 ras, convenções e a própria roti- atividade produtiva atingiu ain-
ca e da fome do Nordeste, das antes. Torna-se paixão de mui- mil favelas. Outros 2,5 milhões na das multinacionais que torna- da escolas e universidades pau-
perseguições políticas e crises profissionais cada tos, que ainda decidem ficar. de pessoas ocuparam loteamen- ram comum o intercâmbio de listanas, hoje responsáveis pelo
econômicas de nações vizinhas vez mais qualificados Repetindo a saga dos que com- tos irregulares na periferia. No profissionais. A cidade recebe abrigo dos filhos de estrangei-
ou distantes, em busca do bási- puseram os mais intensos flu- ranking nacional, São Paulo 90 mil eventos de negócios por ros e pela formação de alto ní-
co para a sobrevivência ou das xos migratórios da história pau- ocupa o primeiro lugar em con- ano em 330 mil m² disponíveis vel daqueles que atuarão nas no-
melhores condições para o al- dezas, mas na sua moderniza- listana, formaram famílias e centração de favelas. nos centros de convenções. São vas companhias aqui instaladas
cance do sucesso, da riqueza. ção. O emprego se desindustria- transformaram São Paulo na O impacto urbano provoca- Paulo tem 1.153 hotéis de todos e de quem foi enviado para de-
Significou conquistar a “terra lizou. São Paulo ganhou uma maior concentração nordestina do pela reorganização do setor os tipos, dos quais quase 200 de pois ser um multiplicador de co-
das oportunidades”. Hoje, “cair nova indústria. fora do Nordeste, japonesa fora produtivo e pela vinda dos no- padrão internacional. Diferentes nhecimento nas nações em de-
no mundo” tem tantos destinos Entre 1998 e 2003, a cidade do Japão e italiana fora da Itá- vos moradores da São Paulo, ci- sotaques e idiomas se misturam senvolvimento.
quanto a vida permitir – um de- recebeu US$ 21,8 bilhões em lia, alguns milhares de migran- dade dos serviços, também é ex- São Paulo serve e é servida pe-
les, São Paulo. investimentos no setor de servi- tes e imigrantes ainda se unem, pressivo nos antigos bairros in- los novos migrantes e imigran-
Significa deixar a terra natal ços e US$ 3,4 bilhões na indús- a cada ano, aos parentes que dustriais, de galpões e vilas ope- Turismo de negócios tes. Assusta pela grandeza, pela
e aqui permanecer enquanto du- tria modernizada. Houve redu- aqui se instalaram ou aos ami- rárias, e nas vizinhanças dos ei- é atendido por 1.153 concentração dos prédios e atrai
rar o contrato de trabalho, o pro- ção de um terço no tradicional gos do novo ramo profissional. xos comerciais recentemente pelos shoppings, pela noite e pe-
jeto ou o curso escolhido. Signi- emprego industrial entre 1989 Os menos capacitados pulve- construídos para receber a cha- hotéis e movimenta la receptividade do seu povo. É
fica ser migrante flutuante, por e 1996. rizam ainda mais as pobres peri- mada indústria limpa e os edifí- R$ 8 bilhões por ano definida pelo colombiano Fre-
meses ou alguns anos, na nova Vagas enxutas na indústria e ferias, lotadas de barracos, mes- cios inteligentes das empresas ddy Guarín, gerente de marke-
terra de oportunidades, abando- exigência de qualificação cada mo de alvenaria. A carente re- de tecnologia. ting da indústria farmacêutica
nada pela velha indústria da vez mais abrangente fizeram os gião do Campo Limpo, na zona Sofisticados condomínios re- em um setor que movimenta R$ Pfizer como “uma loucura boa”.
transformação, mas reconquis- excluídos no processo de reor- sul, nunca deixou de crescer, sidenciais são erguidos para 8 bilhões por ano. Apesar de caótica, São Paulo
tada pela indústria da tecnolo- denamento produtivo – e seus apesar da estagnação da econo- quem quer morar perto do traba- A face cosmopolita é atendida se mantém como destino certo.
gia, dos softwares, dos serviços parentes – buscar no comércio mia. Aumentou 2,43% no perío- lho. Flats se multiplicaram so- pelo setor gastronômico, conside- “Embora sujo, cinzento e desor-
de tecnologia da informação, informal a chance de sobrevi- do de 1991 a 1996, enquanto o bremaneira para os funcioná- rado por muitos especialistas co- ganizado, é o lugar onde tudo
das telecomunicações, dos têx- ver. Ainda assim, o aumento no município, no mesmo período rios de médio escalão do setor mo um dos mais completos do acontece”, diz a professora ho-
teis, da química fina e outros. número de vagas no mercado registrou queda de 1,9% a de serviços – em 1999, São Pau- mundo, e pelo cultural, repleto landesa Carmen Sokker.●
H2 ESPECIAL
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ESPECIAL H3
O ESTADO DE S.PAULO ● SEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004
NIELS ANDREAS/AE
Em São
Paulo, nem
todos que
vêm ficam
Senãoencontramemprego,migrantes
voltamparacasa,constatapesquisador
Para os bolivianos que têm co- Brasiliano explica que o foco A exigência de alta qualificação A Pesquisa Nacional por Amos-
mo destino a confecção paulis- do Ministério Público do Tra- na nova São Paulo vocacionada tra de Domicílios (Pnad), do IB-
tana, não importa o relógio. balho mudou do problema da aos serviços era insignificante na GE, contabilizou, entre 2002 e
Nas escuras oficinas, eles dor- irregularidade para o aspecto antiga cidade, onde chaminés des- 2003, aumento de 35,1 mil na po-
mem, comem e trabalham dias social da questão. “Eles preci- pontavam no horizonte. Mesmo pulação de migrantes. Registrou,
e noites. O fim-de-semana nem sam de ajuda. Não queremos com escassa formação, migrantes ainda, crescimento no número de
sempre é sinônimo de descan- que sejam expulsos”. Um obs- e imigrantes conseguiam empre- imigrantes na nova São Paulo – o
so. Na feira ao redor da Praça táculo é o pacto de silêncio en- go sem dificuldades. “Se o presi- acréscimo foi de 19,7 mil.
Kantuta, no Pari, zona norte, a tre exploradores e explorados. dente Lula ou eu, que fomos operá- O mexicano Alfonso Guzman
legião boliviana se encontra Com medo, os bolivianos não rios, precisássemos trabalhar na in- Acosta, 34 anos, precisou de ape-
aos domingos para comer, be- denunciam e as poucas infor- dústria hoje, estaríamos desempre- nas duas semanas para decidir fi-
ber, comprar artesanato e se di- mações chegam pelo sindicato gados”, diz o presidente da Força car no País e engrossar essa estatís-
vertir com futebol e música. ou por terceiros. Sindical, Paulo Pereira da Silva. tica. O engenheiro da Volkswa-
Joaquin Dorado, 33 anos, autô- Além disso, a clandestinida- Lula e Paulinho contaram com gen no México veio em julho de
nomo no setor da costura, corta de traz prejuízos pela falta de a expansão da indústria na Grande 2002 e pediu a transferência para
cabelos em um salão improvisa- impostos arrecadados. Se a pe- São Paulo a partir dos anos 50. A São Bernardo do Campo. A espo-
do em duas barracas. "Fazer o quena oficina de confecção se escassez de mão-de-obra no pós- sa, Lizbeth, topou na hora. O casal
quê, tenho que aceitar essa rea- regulariza como microempresa guerra desencadeou um esforço não precisaria abandonar o espor-
lidade senão vou viver na rua." – com arrecadação até R$ 120 para trazer imigrantes. Entre 1946 te preferido, o “agility” – modali-
Disciplinados, os imigrantes mil mensais – paga à Receita e 1953, chegaram ao País 340 mil dade praticada com cachorro, di-
da Bolívia se encaixam no per- Federal de 3 a 5% do total de estrangeiros, 4,3 vezes mais do fundida no Brasil.
fil que patrões brasileiros, co- seu lucro. que nos oito anos anteriores. O retorno de Alfonso, porém,
reanos e mesmo bolivianos bus- Entre os imigrantes, há aven- “Com o fim da guerra, parte da está marcado para daqui a seis me-
tureiros que chegam sem desti- mão-de-obra européia precisava ses, quando vence o contrato de
no certo. “Eu e meus primos jo- emigrar. Isso coincidiu com a in- trabalho.”É muito bom atuar no
Base da mão-de-obra gamos uma moeda para decidir dustrialização do Brasil”, explica Brasil, mas as viagens fazem parte
barata para pequenas se escolheríamos Argentina ou Odair Paiva, historiador da Univer- da minha rotina.”
Brasil. Deu Brasil”, conta Gus- sidade Estadual Paulista (Unesp). Trabalhar no Brasil pode ren-
confecções de São tavo Moya, 43 anos, que dei- Na mesma época, milhares de der promoções na carreira interna-
Paulo vem da Bolívia xou a capital boliviana, La Paz, migrantes vieram atrás de oportu- cional. O americano Thomas
no início dos anos 80. Sem di- nidades na indústria e na constru- Brewer assumiu a direção de mar-
nheiro, passou noites nas Pra- ção civil. Segundo Paiva, enquan- keting da Ford, função antes ocu-
cam para suas confecções. “É ças da Sé e da República. Hoje, to grande parte dos imigrantes vi- pada por Barry Engle, atual dire-
uma mão-de-obra abundante e é gerente de uma loja de máqui- nha sozinha, os migrantes traziam tor da marca nos Estados Unidos.
barata, eficientíssima em traba- nas de costura na Luz, mas suas famílias. “O presidente Lula Brewer era gerente regional de
lhos manuais. Eles vêm atrás nem todos têm a mesma sorte. é o exemplo típico.” vendas em Detroit e, mesmo sur-
de emprego e não se queixam “Quando as promessas não se Aos 7 anos, em 1952, Lula de- preso, gostou da transferência. Ele
da quantidade de horas traba- concretizam, muitos voltam pa- BICO - Aos domingos, Joaquin Dorado troca a agulha pela tesoura sembarcou com a mãe e os 7 ir- e a esposa já tinham passado por
lhadas”, analisa o presidente da ra casa”, diz Elio Garcia. mãos no Estado, vindo do sertão nove mudanças, mas nunca fora
Câmara de Indústria e Comér- A maioria dos bolivianos vi- ram os coreanos. Para o geren- bre as irregularidades da vi- pernambucano. Dezoito anos de- do país. “Eu não sei se ficaria até o
cio Brasil-Boliviana, Elio Gar- ve na região do Bom Retiro e te do Departamento de Infra-es- da de imigrante. Há 15 anos, pois, Lula era um dos 735,6 mil final do contrato se minha família
cia. O secretário municipal do do Brás. Juntos, os dois bairros trutura e Capacitação Tecnoló- ela produz e vende roupas nordestinos na capital – 51,3% do estivesse infeliz aqui.” No Brasil,
Trabalho, Márcio Pochmann, detêm 8% da mão-de-obra in- gica da Associação Brasileira na Rua José Paulino, no contingente de migrantes. a esposa desfruta de vantagens, co-
completa a descrição do qua- dustrial paulistana. Essas re- de Indústria Têxtil e de Confec- Bom Retiro. Ela veio a São Nas duas décadas seguintes, o mo babá para os filhos e tempo pa-
dro. “Eles não estão 'roubando' giões exibem um perfil diferen- ção, Sylvio Napoli, muitos de- Paulo atrás de trabalho no se- número de nordestinos aumentou ra estudos e o voluntariado.
empregos de brasileiros, por- te do resto da cidade, com cer- les trouxeram conhecidos para tor têxtil, onde já atuavam 44,3 mil ao ano, conforme o IB- Brewer teve que se adaptar ao
que dificilmente um brasileiro ca de 40% de trabalhadores na ajudar nas confecções. “Infeliz- seus pais e primos. “Todos GE. Mais 11,2 mil brasileiros de mercado instável, taxas de juros e
aceitaria trabalhar assim.” indústria – os demais bairros mente, nem sempre de forma os coreanos fazem roupa. outros Estados completaram o risco país, o que o deixou mais fle-
Um emprego garantido, po- apresentam, em média, 14,5%, correta em relação às obriga- Brasil é terra grande, tem quadro anual de migrantes. Dados xível e sociável. “Aprendi que ven-
rém, pode não excluir uma de acordo com dados de 2001 ções trabalhistas.” mais chance. Coréia é difí- de 2003 mostram uma redução, der carros para americanos é mui-
grande dor-de-cabeça: a ilegali- da Fundação Seade. A coreana Keum Sook Park, cil, pequena, trabalho só em mas ainda há um desembarque sig- to diferente de vender para brasilei-
dade. A procuradora Cristina Antes dos bolivianos, vie- 46 anos, não gosta de falar so- fábrica”.● nificativo na capital. ros”, diz.●
H4 ESPECIAL
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URBANISMO
Migrantes e imigrantes ocupam quase um terço das vagas do setor
A mudança na atividade econô-
mica paulistana tem impacto
DANIELLA SASAKI/AE considerável no ordenamento
São Paulo. “Vim com a esperan- urbano. O endereço dos mi-
COMÉRCIO
ça de trabalhar numa loja de grife. grantes e imigrantes, das ve-
Mas, como não tenho curso supe- lhas e novas levas, influen-
Os sotaques de coreanos, chine- rior, só consegui vagas no comér- ciam a especulação imobiliá-
ses, árabes e nordestinos se mistu- cio informal.” Ao longo dos últi- ria, seja no setor comercial ou
ram nas ruas comerciais mais co- mos cinco anos, Carla já vendeu residencial. Os eixos escolhi-
nhecidas de São Paulo. Dos 430 bijuterias em várias ruas do cen- dos para a instalação dos pré-
mil empregados no comércio pau- tro. Com renda mensal de R$ dios inteligentes, que abrigam
listano, pelo menos 30% são mi- 300,00, planeja voltar para o Ma- as empresas de tecnologia e te-
grantes e imigrantes. Entre os es- ranhão no fim de 2005. “Quero es- lecomunicações, transformam-
trangeiros, a maioria é formada tudar para, quem sabe, realizar se em vizinhança disputada pa-
por chineses e coreanos. Os nor- meu sonho de trabalhar no comér- ra os condomínios de alto pa-
destinos continuam predominan- cio de luxo de São Paulo”. drão. A nova indústria é limpa
do entre os migrantes. Têm por A situação caótica no campo e não mais desvaloriza os arre-
destino o comércio popular, que burocrático e tributário brasileiro dores. A velha deixa a cidade
movimenta, somente na Rua 25 é apontada pelo presidente da As- e, nos lugares dos seus gal-
de Março, cerca de R$ 1 bilhão sociação Comercial de São Paulo pões, surgem novos empreen-
por ano, ou o comércio de luxo, re- (ACSP), Guilherme Afif Domin- dimentos.
presentado pelas maiores grifes in- gos, como um dos motivos que le- Locais como o centro comer-
ternacionais. vam muitos trabalhadores para o cial de Santo Amaro, o Brás e
Com a queda da atividade in- comércio informal. “Quanto mais o Bom Retiro são onde migran-
dustrial, a partir da década de 80, simplificado o sistema de legaliza- tes e imigrantes têm grande in-
o mercado paulistano se abriu pa- ção do comércio, mais fácil identi- fluência na composição urba-
ra o setor de serviços. As novas ficar as atividades ilícitas”, afir- na. O professor da Faculdade
empresas, ligadas sobretudo à tec- ma. Uma forma de resolver a ques- de Arquitetura e Urbanismo
nologia e telecomunicações, pas- tão seria diminuir a necessidade da Universidade de São Paulo
saram a importar funcionários es- de arrecadação de impostos pelo (FAU-USP) Eduardo Alberto
trangeiros para parte dos seus car- governo. “Além disso, serviços Cuce Nobre destaca que, em al-
gos executivos. Os novos migran- públicos de melhor qualidade fa- guns locais, o desenvolvimen-
tes, com nível superior, ocupam riam com que as pessoas estives- to urbano está intimamente li-
os escalões médios dessas compa- sem dispostas a abrir mão de parte gado aos grupos étnicos.
nhias. Aqueles que não possuem da renda”, explica o professor de O bairro do Brás, por exem-
Economia da Fundação Getúlio plo, teve como primeiro grupo
Vargas (FGV), Ciro Biderman. dominante os italianos, que
Entre os imigrantes, O comércio paulistano tem, ain- vieram trabalhar na indústria
chineses e coreanos da assim, espaço para quem vem de transformação. Hoje, a re-
de fora com a intenção de abrir o gião é ocupada por coreanos e
dominam a cena do próprio negócio. O bairro do nordestinos, envolvidos com a
comércio paulistano Bom Retiro, conhecido pela ocu- indústria têxtil. No Bom Reti-
pação italiana, hoje é o destino ro, os antigos judeus, que até a
dos asiáticos. Das 240 lojas da década de 70 dominavam o co-
qualificação são absorvidos pelos Rua José Paulino, 170 pertencem mércio, foram substituídos
serviços de manutenção. Os ex- a coreanos. Foi ali que a família também por coreanos e suas
cluídos desse mercado têm como Kim montou sua confecção, em empresas têxteis.
alternativa o comércio. 1982, e em seguida abriu uma lo- O diretor da Empresa Brasi-
Em São Paulo desde 2001, An- ja. “A Coréia é muito pequena e a leira de Estudos de Patrimônio
derson Santos, de 17 anos, traba- concorrência é grande”, conta (Embraesp), Luiz Paulo Pom-
lha há dois meses em uma loja de Lais Kim. A primeira atividade péia, diz que esse é um dos
armarinhos na Rua 25 de Março. de seu pai, Fernando Jung Ho poucos bairros em que as rela-
Saiu de Feira de Santana, na Ba- Kim, foi em uma indústria têxtil. ções entre as mudanças na po-
hia, com a mãe e quatro irmãos pa- Hoje, Lais é advogada e ajuda os POPULAR – Na Rua 25 de Março, o jovem baiano Anderson trabalha para ajudar no sustento da família pulação e na atividade comer-
ra encontrar o pai que já vivia na pais na loja nos finais de semana. NIELS ANDREAS/AE cial se firmaram em um proces-
capital. “Parei de estudar no pri- so completo. Outras regiões da
meiro ano do colegial para traba- PERFIL cidade, como a Mooca, que
lhar”, conta. Após a separação O perfil do comerciário é variado perdeu suas indústrias nos últi-
dos pais, tornou-se, com um ir- no mercado paulistano. A infor- mos anos, têm ainda a maior
mão, arrimo da família. O rapaz matização nos estabelecimentos parte dos galpões vagos. O
ainda tem esperança de voltar à es- contribuiu para essa mudança. O mercado imobiliário ainda não
cola. “Quero crescer mais na loja presidente do sindicato da catego- definiu a tendência de ocupa-
para depois buscar algo maior.” ria em São Paulo, Ricardo Pathá, ção do bairro.
Reduto do comércio de luxo, a cita o exemplo dos supermerca- O professor Nobre cita tam-
Rua Oscar Freire também atrai dos. “São lojas que exigem traba- bém o caso do bairro da Pom-
trabalhadores de fora da cidade. lhadores mais qualificados.” A es- péia, na zona oeste, onde, no
A participação de estrangeiros es- se novo perfil somam-se os anti- lugar das antigas vilas operá-
tá estampada nos nomes. Chris- gos, dos árabes e nordestinos. rias, foram erguidos grandes
tian Dior, Mont Blanc e Cartier Na mais famosa rua comercial edifícios, “cercados por altos
são algumas das grifes que domi- da cidade, a 25 de Março, há ára- muros”. Para ele, isso evita o
nam o mercado de confecções e bes receosos em ser árabes, nume- convívio social. “É uma carac-
joalherias sofisticadas. Vendedo- rosos e enigmáticos chineses, ar- terística anti-urbana”.
ra da Louis Vuitton, Raquel dos gentinos se passando por india- Em Santo Amaro, destino
Santos veio de Florianópolis há nos. No total, são 60 mil emprega- preferencial das primeiras le-
nove anos para fazer um curso téc- dos, com destaque para os nordes- vas de nordestinos vindos a
nico de prótese dentária. Mas foi tinos. Nos bastidores da multidão São Paulo, a região do Largo
o trabalho no comércio, na época que se amontoa em busca do pre- 13 foi tomada pelo comércio
fonte temporária de sustento, que ço mais barato, os donos e funcio- “especializado” para atender a
virou profissão. A catarinense nários das lojas se destacam pela esse público. “A maioria dos
conquistou independência e con- história de luta por dias melhores. GRIFE – Raquel saiu de Santa Catarina para estudar e hoje é vendedora em uma loja de luxo nos Jardins paulistanos nem sabe o que se
forto na sofisticação, tanto que O presidente de honra da vende lá”, aposta Pompéia.
confessa gastar com o supérfluo. União dos Lojistas da 25 de FRASES tem. O Sol nasce para todos.” LUXO
“Sou muito consumista”, admite, Março e Adjacências (Univin- Ao contrário da 25 de Mar- Para atender o público de FRONTEIRAS
aos risos. co), Rezkalla Tuma, afirma que ❝ Vim com a esperança ço, o Bairro da Liberdade so- maior poder aquisitivo, a fran- A partir da década de 80, outra
Nos últimos 20 anos, São Pau- a mudança de maior impacto freu uma mudança em sua es- cesa Claudine Nectoux foi modificação ocorrida na cida-
lo tornou-se destino para o novo nos últimos 10 anos foi no mo- de trabalhar numa loja de trutura. A predominância não contratada pela Louis Vuitton de foi a expansão rumo às fron-
fluxo de imigrantes – os latinos e delo de estabelecimento. A cria- grife. Mas, como não é mais de japoneses. Há tam- em 1989. "Ter a mesma nacio- teiras. Segundo Nobre, o de-
asiáticos. Os primeiros chegaram ção de minishoppings ou boxes tenho curso superior, só bém chineses e coreanos – pro- nalidade da marca conferiu le- senvolvimento foi alcançando
como refugiados das crises de de venda resultou em um novo consegui vagas no prietários de armarinhos, res- gitimidade à loja.” Hoje, ge- bairros como Tatuapé e Penha,
seus países e das perseguições perfil de comerciário. “Atual- taurantes e lojas de importados rente da joalheria Cartier, tornando-os alvo da especula-
das ditaduras, freqüentes na déca- mente, a colônia árabe represen- comércio informal❜❜ espalhados pelo bairro. Claudine conta que resolveu ção imobiliária. Isso empurrou
da de 70. Os asiáticos encontra- ta 60% do comércio da área. CARLA DE SOUZA O historiador e professor da ficar no País depois da abertu- as famílias mais pobres, mas
ram aqui mercado amplo para Mas esse número tem reduzido AMBULANTE Universidade Estadual Paulista ra do mercado aos produtos es- não necessariamente migran-
seus produtos, na maioria contra- nos últimos tempos, com a cres- (Unesp), Odair Paiva, lembra trangeiros durante o governo tes, para regiões extremas da
bandeados e vendidos por ambu- cente presença oriental no bair- que esses imigrantes vêm para Collor. Com mais grifes inter- capital. Com crescimento de-
lantes. ro”, afirma Tuma. De acordo ❝ Em cidade grande, a São Paulo há bastante tempo. nacionais, as possibilidades sordenado, sem infra-estrutu-
Nos anos 60, os migrantes que com a Univinco, em média, 300 gente tem mais chance❜❜ “O que ocorreu nas últimas dé- em São Paulo aumentaram pa- ra, locais como Guaianases e
chegavam a São Paulo eram inse- mil pessoas circulam diariamen- BETO CHEN cadas foi apenas a intensifica- ra os imigrantes. Guarapiranga tornaram-se
ridos no mercado formal após um te pela 25 de Março. O número COMERCIANTE TAIWANÊS ção desse fluxo.” O mercado de luxo da cida- grandes bairros dormitórios.
curto período de adaptação. “Ha- pode atingir 1 milhão às véspe- Há 15 anos o taiwanês Beto de virou referência pois está “A vinda de migrantes gera
via uma exclusão temporária, ras de datas comemorativas. No Chen está no Brasil. Aos 39 em expansão, e São Paulo é dois processos: ao chegar, em
mas logo a maioria deixava a in- local, existem 3 mil estabeleci- anos, tem uma loja de importa- um grande pólo consumidor. busca de emprego, vão morar
formalidade para atuar na indús- mentos comerciais – 60% con- COMÉRCIO EM NÚMEROS dos no Sogo Plaza Shopping, na Tanto investidores internacio- nas pensões da região central.
tria, principalmente na constru- centram-se nos shoppings e ga- Liberdade. Em Taiwan, ele já nais quanto donos de fran- Quando o dinheiro acaba, vão
ção civil”, explica a professora de lerias e 40% se referem às lojas trabalhava no comércio. Antes quias são atraídos pelo públi- para o lugar mais barato, onde
Sociologia da Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo (PUC-
de rua e edifícios.
Símbolo do comércio da re-
R$185 bi de se tornar lojista foi vendedor
em outros lugares. A escolha
co bem informado, que valo-
riza a sofisticação. “Além dis-
não há infra-estrutura, que é a
periferia”, explica Pompéia.
SP), Mônica Souza. gião, Niazi Chohfi é dono de Valor movimentado pelo por São Paulo foi óbvia. “Em so, o Brasil está na moda”, co- Com a perda do perfil indus-
À medida que o perfil econômi- uma loja têxtil que leva seu no- comércio em 2003 uma cidade grande a gente tem menta Michelle Nasser, só- trial da cidade de São Paulo, al-
co da cidade era alterado, muitos me. Seus pais chegaram no Por- mais chances”, explica. O Sogo cia das lojas Empório Gior- gumas famílias foram prejudi-
migrantes perdiam o emprego – to de Santos em 1900, vindos da é um retrato do bairro oriental – gio Armani, D&G e Ermene- cadas. A aposentada Francisca
entre outros motivos, por falta de
qualificação para atuar no setor
cidade de Homs, na Síria. Segun-
do o comerciante, os sírios ti-
430 mil das 90 lojas, cerca de 20% são
propriedade de imigrantes.
gildo Zegna. Filha de um
egípcio e uma marroquina,
Marques Dias, de 62 anos, mo-
radora do Jardim Donária, no
de serviços. “Isso contribuiu para nham dificuldade em aprender a Pessoas estão empregadas no Para Ricardo Pathá, outra carac- Michelle nasceu na Suíça e, Jaraguá, vive desde os oito em
a expansão da informalidade nos língua portuguesa. “Tinha gente setor do comércio na capital. terística desses imigrantes é perpe- há 25 anos, vive no País. São Paulo. Vinda de São João
anos 80”, avalia a socióloga. que ensinava errado aos imigran- Desse total, 30% são compostas tuar as origens. “Os comerciantes Depois de sair do centro, do Piauí (PI), trabalhou no co-
Atualmente, prevalece no Estado tes. Um, por exemplo, ia para as de migrantes e imigrantes empregam pessoas de mesma na- nos anos 80, esse comércio mércio e o marido na indús-
de São Paulo a migração de um fazendas e gritava: ‘meia para o cionalidade.” Quando questiona- se estabeleceu em shoppin- tria. Durante esse período, a fa-
município para outro. Em menor pescoço, colarinho para os das sobre o fato de algumas lojas gs e regiões como a da Rua mília morou no ABC. Quando
escala, ainda se observa o movi-
mento tradicional, dos demais Es-
pés’”, conta. Aos 92 anos, Cho-
hfi não acha que a invasão orien-
300 mil só empregarem descendentes
com fluência em japonês, a lojista
Oscar Freire. “Por motivo
de segurança e conforto,
as fábricas em que o marido
atuou foram para outros muni-
tados para a capital paulista. tal e a constante presença de am- Pessoas circulam diariamente Midori Hommoto responde que não deve voltar tão cedo pa- cípios, a família, sem a mesma
A maranhense Carla de Souza bulantes no comércio da 25 de pela Rua 25 de Março, região pessoas idosas da colônia, em sua ra o centro”, avalia o diretor- renda de antes, foi obrigada a
sonha, desde 1999, em ter um em- Março esteja prejudicando sua central da cidade maioria, não falam português e só superintendente da ACSP, mudar para o Jardim Donária,
prego com carteira assinada em companhia. “Quem trabalha, vão às lojas em que confiam. Roberto Ordini.● onde está há três anos.●
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O ESTADO DE S.PAULO ● SEXTA-FEIRA, 10 DE DEZEMBRO DE 2004
NIELS ANDREAS/AE
Excelência
conquista
universitário
estrangeiro
Convêniosinternacionaisequalidade
reconhecidaatraemalunos para aUSP
ta. São dois dos 221 estudantes es- São Paulo para estudar Publicida- to de relações entre os países são
trangeiros que hoje freqüentam de e Propaganda. Optou pelo Bra- razões para o acordo. “Mas a prin-
um dos 189 cursos da USP. sil por achar que o ensino na Ar- cipal é o fortalecimento do currí-
O número é pequeno diante
dos 42.970 brasileiros matricula-
gentina seria semelhante ao de
seu país e por temer um choque
culo do estudante francês, que te-
rá um diploma globalizado, insti-
43.191
cultural maior na Europa ou nos tuído por excelentes faculdades”, Alunos estão matriculados
Estados Unidos. Quando se for- destaca. nos 189 cursos de graduação
Instituição recebe mar, no final do ano, voltará ao da universidade
principalmente alunos Paraguai. “O mercado paraguaio BRASILEIROS
recebe bem o profissional gradua- Além dos alunos estrangeiros, a
de países da África
e da América Latina
do no Brasil. Sair do país valoriza
o currículo”, acredita Barrientos.
USP também atrai gente de várias
regiões do País. São 2.706 estu-
221
Nem sempre os estudantes dantes de outros estados, sendo Estudantes vêm de
vêm ao Brasil para suprir carên- 1.027 de Minas Gerais. Entre eles outros países
dos na instituição, mas pesa. “A cias do ensino em seus países. O está Liliane Callegari, de 22 anos,
presença de estrangeiros leva à in- francês Arnaud Guérin, por exem- nascida em Uberaba, estudante
ternacionalização da universida-
de por meio do intercâmbio cultu-
plo, estuda na Escola Politécnica
da USP. O diploma será forneci-
de Arquitetura e Urbanismo. “Ti-
nha o curso na minha cidade, mas
54,29%
ral entre os alunos”, afirma a coor- do pela universidade paulista e pe- era particular, caro e não reconhe- São naturais de países africa-
denadora de Programas Interna- la École Centrale de Lyon, na cido pelo MEC”, afirma. Esco- nos ou da América Latina
cionais da USP, Hilza Godoy. França, onde começou a estudar lheu a USP pela formação mais
Cada caso traz uma peculiarida- Engenharia de Produção. abrangente e o alto reconhecimen-
de. Ruth é uma privilegiada em
seu país. Cabo Verde não tem fa-
A união curricular faz parte do
Programa de Mobilidade de Gra-
to no mercado. “Gosto de saber
que meu curso tem um papel na
2.706
culdades públicas e acordos inter- duação da USP. Alunos da Poli- história da arquitetura no Brasil.” Alunos vindos de outros
nacionais garantem vagas para os técnica terminam os estudos na Liliane sofreu para adaptar-se à estados do Brasil
melhores alunos do ensino médio. França ou vice-versa. Segundo vida paulistana. Veio sem conhe-
“A vaga na USP é uma das mais Hilza Godoy, o objetivo é elevar cer a cidade e, para não ficar só,
disputadas”, afirma. O acordo
com Cabo Verde integra o Progra-
o currículo dos estudantes. Ou-
tros nove franceses estudam nes-
acabou se aproximando dos cole-
gas da faculdade que também che-
37,95%
ma Estudantes Convênio (PEC), sas condições. garam de outros Estados. “Até ho- Desse total são mineiros
que recebe alunos principalmente O consulado francês tenta am- je não ando muito com o pessoal
da África e da América Latina. pliar o programa para outras uni- de São Paulo.” Apesar de sentir
A meta de Ruth vai além do di-
ploma de médica. São pessoas co-
versidades em São Paulo. Recen-
temente, a Fundação Getúlio Var-
falta da família, Liliane pretende
continuar na cidade depois de se
R$ 520 MÍMICA – Wu Kuang Yih recorre a gestos para ensinar mandarim
NIELS ANDREAS/AE
Emhotéisefeiras,
nemsóvisitantes
vêmdefora
ProfissionaisdetodooPaístrabalhamcomestrangeiros
dePortugal,Espanha,Itália,Alemanha,FrançaeJapão
TEATRO
GASTRONOMIA CULTURA
Para o santista Éderson Marques,
saxofonista do musical Chicago,
Do berço miscigenado paulistano Participar de uma seleção rigoro- a cidade é sinônimo de trabalho.
está nascendo uma nova geração sa, mudar de país e viajar milha- O espetáculo, avaliado em R$ 10
gastronômica. A gaúcha Carla Per- res de quilômetros para ganhar, milhões, atraiu 100 mil pessoas
nambuco, a argentina Paola Caro- em média, R$ 6,6 mil por mês. de outras cidades em 9 meses de
sella e dois paulistanos, Alex Ata- Dos 109 músicos da Orquestra temporada. “Estou aqui por cau-
la e Cássio Machado, são o produ- Sinfônica do Estado de São Pau- sa do Chicago. Mas assim que
to e o futuro da gastronomia local. lo (Osesp), 35 fizeram esta esco- terminar, vou embora. Não me
Os migrantes e estrangeiros, prota- lha. Vindos do leste europeu – adaptei.”
gonistas de sempre, estão hoje jun- Rússia, Bulgária e Romênia, prin- No último dia 27, 31.483 es-
tos de paulistanos na chamada co- cipalmente – a maioria é especia- pectadores assistiam às 105 pe-
zinha contemporânea. O resultado lista em instrumentos de cordas. ças apresentadas na noite paulis-
da mistura não podia ser outra coi- De acordo com o professor de tana. Nelas trabalham, formal-
sa se não a mistura. música da ECA-USP, Ronaldo mente, menos de 2 mil profissio-
“Isso é saldo do convívio de di- Miranda, a Europa Oriental é um nais, estima a Associação de Pro-
versas culinárias na cidade de São pólo de “exportação” por ser re- dutores de Espetáculos de São
Paulo”, teoriza a especialista Cris- conhecida pelo bom ensino de Paulo (Apetesp).
tina Putz, autora do livro História violinos, violas e violoncelos. O número exclui as produ-
da Gastronomia Paulistana. É de- “Vale mais a pena tocar aqui ções amadoras, diz o ex-coorde-
la o conceito “cozinha contempo- do que em uma orquestra de uma nador do teatro amador da Se-
rânea paulistana” – a mistura das cidade menor dos Estados Uni- cretaria do Estado, Efren Co-
culinárias de São Paulo, do Brasil dos ou da Europa”, diz Miranda. lombani. “É impossível quanti-
e do mundo. “Mas questões pessoais também ficar os espetáculos da cidade.
Pioneiro entre os gourmets es- influenciam – sejam indicações Espaços abrem e fecham a ca-
trangeiros, o francês Laurent CONTERRÂNEOS – No restaurante Supra, a maioria dos funcionários vem de Pedro Segundo, no Piauí de amigos ou vontade de conhe- da semana, atraindo os profis-
Suaudeau comemora a nova gera- cer outros lugares”, completa. sionais. Desses, 40% são de fo-
ção. “O Brasil está evoluindo pa- encontraram um povo acostuma- Paulo. “A cidade reúne o que há FRASES A violista russa Olga Vasilevi- ra de São Paulo”, estima.
ra não importar mais tantos che- do às influências culturais que re- de melhor na minha área”, revela ch, 28 anos, passou em um concur- Segundo o Ministério do Tra-
fs”, sentencia. Há 24 anos no Bra- montam à origem colonial do Bra- a chef, eleita revelação do ano pe- ❝ Além de São Paulo, so para uma orquestra alemã há balho, 22.436 artistas estão re-
sil, prevê que, em 5 anos, um bra- sil. “Começou a aparecer a voca- lo Prêmio Gula 2004, o mais im- apenas Nova York atrai quatro anos, mas ao saber por um gulamentados no Estado e me-
sileiro será o melhor do País, dife- ção de São Paulo para abrigar portante do País. amigo russo da chance de tocar na nos de 10% está formalmente
rente do ocorrido até hoje. “Ou grande variedade de cozinhas”, Mas o que parece tendência ab- tantos chefes em busca Osesp, mudou de idéia. “Queria empregado. Ainda assim, a ci-
uma brasileira”, arrisca. explica Cristina Putz. soluta é exceção. Os principais de status e dinheiro❜❜ conhecer outros lugares. Arris- dade é a principal alternativa
A referência é clara. A gaúcha Tanto que em 1997 a cidade chefs em exercício na cidade são CRISTINA PUTZ quei, fiz o teste e passei”, lembra. para quem quer trabalhar com
Carla Pernambuco, 45 anos, do foi reconhecida como Capital estrangeiros. Nas cozinhas, a ESPECIALISTA EM GASTRONOMIA Foi seu primeiro trabalho profis- arte.
restaurante Carlota, é o ícone da Mundial da Gastronomia. “Chefs maioria ainda é nordestina. sional. “No começo, meus amigos O espetáculo Terça Insana é
geração. Morou em Porto Alegre,
Brasília, Rio de Janeiro, Nova
do mundo inteiro procuram Nova
York e São Paulo atrás de status e
A pequena cidade de Pedro Se-
gundo, no Piauí, com 35 mil habi-
❝ O principal chef do russos viajaram e fiquei sozinha.
Não falava português nem para
um exemplo da diversidade da
cena teatral da cidade. No elen-
York e São Paulo, e é capaz de dinheiro”, avalia Cristina. tantes, “exportou” 20 funcioná- País, daqui a mais ou comprar um pãozinho”, brinca. co, há dois paulistanos, um
misturar temperos e tradições da Antes de escolher o Brasil, a rios para o restaurante Supra. A menos cinco anos, vai Após quase quatro anos em baiano e três gaúchos, entre
cozinha brasileira com elementos gourmet argentina Paola Caro- tradição migratória se mantém: o ser um brasileiro. Ou São Paulo, aprendeu português, eles Gracie Gianoukas, em São
de outras culturas. “Como São sella, do restaurante Julia Cocina, pai traz o filho, que traz a irmã, uma brasileira❜❜ fez amigos e arranjou um namo- Paulo desde 1984. Para a atriz,
Paulo, Nova York reúne culiná- estava justamente em Nova York. que traz amigos. “Começou as- rado brasileiro. “A diferença o profissional qualificado pode
rias de todos os lugares”, conta. Com 32 anos, depois de trabalhar sim e hoje todos temos trabalho”, LAURENT SUAUDEAU daqui é o calor humano, o con- não acompanhar o ritmo daqui.
Os chefs estrangeiros chega- nos principais centros gastronômi- se orgulha a atendente Ivone Felí- CHEF FRANCÊS tato entre as pessoas. Na Euro- “São Paulo é uma entidade. Ou
ram na cidade nos anos 80, e aqui cos do mundo, se fixou em São cio, 32 anos - 8 em São Paulo.● pa cada um fica no seu canto.” ela te abraça ou ela te chuta.”●
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