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DIREITO EMPRESARIAL III – RESUMO DE AULAS

Prof. Alberto J. do Patrocínio

(Este trabalho é fruto de pesquisa a artigos e consulta a bibliografia abaixo,


não representando obra literária)

Referência bibliográfica:
Luiz Emygdio F. da Rosa Jr. - Títulos de Crédito - Ed. Renovar.
Fran Martins - Títulos de Crédito - Vol. I e II - Ed. Forense.
Waldirio Bulgarelli – Títulos de Crédito – Ed. Atlas.
Rubens Requião – Curso de Direito comercial – Ed. Saraiva.
Fabio Ulhoa coelho – Curso de Direito Comercial – Ed. Saraiva.

1. CRÉDITO

1.1. Conceito de Crédito:

a) Conceito econômico de crédito

Crédito é a troca no tempo e não no espaço;

Crédito é a permissão de usar capital alheio;


Crédito é o saque contra o futuro e,
Crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos.

b) Conceito natural de crédito

No sentido etmológico: Crédito é Confiança.

1.2. Elementos do Crédito (confiança e tempo)

a) Confiança

Aspecto subjetivo: é a confiança que o credor deposita no devedor.

Aspecto objetivo: é a certeza que o credor tem de que o devedor possui


capacidade financeira para honrar a obrigação.

b) Tempo

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Nada mais é do que o período correspondente entre a obrigação e a data de
seu cumprimento.

1.3. Classificação do Crédito

a) Quanto à garantia:

Real é o bem móvel (penhor); bem imóvel (hipoteca).

Pessoal é patrimônio do devedor, mas sem reservar um bem determinado


para o cumprimento da obrigação, é garantia fidejussória, p. ex. aval,
fiança.

b) Quanto ao fim de sua utilização:

Para consumo ou para produção.

c) Quanto ao tempo:

O Crédito pode ser de curto, médio ou longo prazo.

d) Quanto ao instrumento de sua realização:

Pode ser representado por um Título de Crédito, um contrato mútuo,


confissão de dívida, abertura de crédito, alienação fiduciária.

2. OBRIGAÇÃO CAMBIAL

2.1. Fontes da Obrigação cambial

Busca-se aqui saber qual será a fonte da obrigação


cambiária, ou seja, a fonte da obrigação assumida em um título de crédito.
Neste aspecto, surgiram várias teorias para explicar esta situação: Teoria
Contratualista, a Teoria da Declaração Unilateral de Vontade e a Teoria
Dúplice de Vivante.

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a) TEORIA CONTRATUALISTA: para esta teoria a natureza da obrigação
assumida no título de crédito seria derivada de um contrato. O devedor se
obriga em razão de um contrato. O emitente de um cheque se obriga, em
razão de uma relação contratual subjacente. Esta teoria sofreu inúmeras
críticas, pois, não consegue explicar o princípio da autonomia das
obrigações, uma vez que, se a obrigação cambiária surge consubstanciada
em um contrato, então, o terceiro que receber o título estará adquirindo
direito derivado e não autônomo e original como realmente ocorre.

b) TEORIA DA DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE: Na verdade, para


esta teoria, a fonte da obrigação cartular não seria um contrato, mas sim,
uma declaração unilateral de vontade. É a vontade do devedor, livre,
incondicional que determina a sua obrigação. Esta teoria também recebeu
críticas, pois, o emitente estaria sempre obrigado, ainda que houvesse
exceções pessoais, desde que o título tenha sido emitido regularmente.

c) TEORIA DÚPLICE DE VIVANTE: para esta teoria, deve-se analisar a


posição do devedor sob duas vertentes, quais sejam: i) perante seu credor:
o fundamento será o contrato; ii) perante terceiro de boa-fé: o fundamento
será uma declaração unilateral de vontade.

2.2. Momento em que surge a obrigação cambiária

Neste ponto estudaremos as teorias que procuram explicar qual será o


momento em que o devedor cambiário estará obrigado. Temos duas teorias:

a) TEORIA DA CRIAÇÃO: Por esta teoria, o simples preenchimento do


título e a sua assinatura bastam para que o título esteja criado, gerando a
obrigação cambial. Assim, ainda que o título tenha ingressado em circulação
contra a vontade do seu criador, este terá obrigação cambiária. Vale dizer,
ainda que tenha sido posto em circulação contra a sua vontade.

b) TEORIA DA EMISSÃO: Para esta teoria, o título deve sair voluntariamente


das mãos do seu criador, como um ato voluntário.

OBS: Nosso direito acolhe a teoria da criação, mas reserva àquele que foi
desapossado ilegalmente de um título a possibilidade de utilizar-se da ação
que trata o artigo 907 do CPC. O Código Civil, artigo 896, acolhe a teoria da
criação.

2.3. Declarações cambiárias:

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As Declarações Cambiárias consistem na manifestação de
vontade traduzida em um título de crédito. As declarações de vontade
podem ser:

a) ORIGIÁRIAS: Aquelas que representam a primeira manifestação de


vontade traduzida no título, como, por exemplo, o saque da Letra de
Câmbio e a Emissão de um cheque.

b) SUCESSIVAS: São aquelas manifestações corporificadas no título após a


declaração originária, como, por exemplo, o endosso e o aval;

c) NECESSÁRIAS: São aquelas manifestações que são essenciais para a


existência do título de crédito, sem a qual eles não existem, como, por
exemplo, no caso da emissão da nota promissória, pois, esta inexistirá sem
esta manifestação (emissão);

d) EVENTUAIS São aquelas manifestações de vontade cuja ausência não


traz nenhum efeito sobre a existência do título, como, por exemplo, a falta
de endosso de um título.

2.4) Devedores cambiários

Devemos observar que todos os devedores cambiários


são solidários, conforme artigos 47, alínea 1º c/c artigo 78, da LUG e artigo
51 da Lei do Cheque. A classificação dos devedores cambiários pode ser
definida:

a) DEVEDORES PRINCIPAIS: Devedor principal é aquele que pagando o


título acarretará a extinção deste. Assim, se aquele que paga extingue a
vida do título será considerado devedor principal, porque, não tem ação
cambiária contra outro devedor cambiário para recuperar a importância
paga. São devedores principais: o aceitante na Letra de Câmbio; o emitente
da Nota Promissória; o emitente do Cheque e o Aceitante da Duplicata. (O
sacador será devedor principal na Letra de Câmbio quando o Sacado não
aceitá-la, caso contrário, havendo o aceite pelo sacado, será devedor de
regresso – Artigo 28, alínea 2, da LUG);

b) DEVEDORES DE REGRESSO: São os devedores que ao realizarem o


pagamento do título não estará extinguindo a vida do título, pois, terão ação
cambiária em face dos devedores anteriores que garantem o título. São

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devedores de regresso o avalista, o endossante e o sacador da Letra de
Câmbio não aceita.

Exemplo 1: A emite nota promissória em favor de B. No


vencimento, B cobra o título de A, que a paga. Nesse caso, com o
pagamento, houve a extinção do título, pois, A não poderá recuperar esse
valor.

Exemplo 2: A emite NP em favor de B, que, por sua vez,


endossa para C, que endossa para D. E é o avalista do Emitente A. F é
avalista do endossante C. Quando E paga, terá direito de ação contra o seu
avalizado e contra todos os solidários anteriores que garantem o avalizado.

Exemplo 3: A emite uma nota promissória em favor de B,


que endossa, incluindo a cláusula sem garantia, para C, que endossa para
D, que endossa para E. F é avalista de B. E poderá cobrar o título de todos
os devedores anteriores, salvo B, que inseriu a cláusula sem garantia. E do
avalista de B, poderá ser cobrado? Claro, pois, a obrigação do avalista é
autônoma.

OBS.: CLÁUSULA SEM GARANTIA: Quando a cláusula sem garantia é


inserida no título, significa que quem a inseriu está comunicando que não
garante o pagamento do título. (artigo 15 da LUG c/c artigo 21 da Lei do
CHEQUE).

c) DEVEDOR DIRETO: são aqueles que fazem promessa direta de


pagamento, sem que o portador do título tenha que comprovar a sua
apresentação formal (protesto). São devedores diretos: emitente da nota
promissória e do Cheque; o aceitante da Letra de Câmbio e da Duplicata.
(NA LETRA DE CÂMBIO NÃO ACEITA NÃO EXISTE DEVEDOR DIRETO.
QUANDO ISSO OCORRE, O SACADOR SERÁ DEVEDOR PRINCIPAL MAS, AO
MESMO TEMPO, DEVEDOR INDIRETO);

d) DEVEDOR INDIRETO: são aqueles que cuja obrigação só pode ser exigida
após o protesto do título. São devedores indiretos: o sacador da letra de
câmbio e os endossantes de qualquer título. (artigo 53 da LUG).

OBS: Qual a posição dos avalistas? são devedores diretos ou indiretos?

Dependerá do seu avalizado, conforme artigo 32, alínea 1º da


LUG. Os avalistas serão o que o seu avalizado for. Dessa forma, se for o
avalizado devedor direto, o avalista também será devedor direto. A

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obrigação do avalista é a mesma do seu avalizado? Não! Apesar de serem o
que o avalizado for, cada um terá uma obrigação autônoma.

A ação do portador em face do emitente e de seu avalista, que são


devedores direitos, é uma ação direta, ou seja, está dispensado o protesto.
A ação do portador em face dos devedores indiretos não é uma ação direta,
mas sim, indireta, ou seja, depende de protesto.

OBS.: EXCEÇÕES À OBRIGAÇÃO DE PRÉVIO PROTESTO PARA O PORTADOR


ACIONAR OS DEVEDORES INDIRETOS: São duas exceções:

a) Artigo 46 da LUG: Neste caso, o protesto será dispensável, quando existir


a cláusula sem protesto. Se a cláusula foi inserida por quem cria o título
(sacador da Letra e Emitente da Nota) ela produz efeitos em relação a todos
os devedores indiretos, porque, o título já nasceu assim. Quando for lançada
por um avalista ou endossante, só produzirá efeito em relação àquele
avalista ou endossante que a inseriu.

Exemplo: A emite uma NP em favor de B, que endossa


para C, que endossa para D, que endossa para E. F é avalista de C. C
utilizou a cláusula sem protesto. Essa cláusula inserida por C aproveita ao
seu avalista (F)? Não, porque, essa cláusula somente beneficia quem a
apôs.

b) Artigo 47, II, Lei do CHEQUE: Permite que o protesto seja substituído por
declaração do banco sacado. Então, o portador do cheque não precisa
protestar para ajuizar ação cambiária em face dos endossantes.

OBS 1: Estas exceções não valem para o requerimento de falência de um


dos devedores indiretos, pois, na falência, é exigido o protesto, nos termos
da Lei 11.101, artigo 94, § 3º, da Lei de Recuperação e Falências.

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OBS 2: Quando os obrigados são do mesmo grau (co-emitentes, co-
avalistas, co-endossantes), as relações serão regidas pelo direito comum.
(LC, artigo 51, §3), da mesma forma em relação à Duplicata, Letra de
Câmbio e Nota Promissória.

Aqui haverá duas relações:

a) RELAÇÃO EXTERNA: de natureza cambiária, envolvendo o portador do


título e todos os devedores do título.

b) RELAÇAO INTERNA: envolvendo os obrigados de mesmo grau, que será


regida pelas normas de direito comum. O devedor cambiário que paga a
soma constante do título tem ação cambiária contra os devedores anteriores
que o garantem (LUG, art. 49, LC, art. 53), visando cobrar o total pago. Do
mesmo modo, o avalista que honra a sua obrigação tem ação cambiária em
face do avalizado e dos devedores que o garantem (LUG, art. 32, alínea 2,
LC, artigo 31, § único, artigo 899, § 1º do CC). Na relação entre obrigados
do mesmo grau, o devedor que paga a dívida não tem ação de regresso de
natureza cambiária contra os outros obrigados, porque, as relações jurídicas
entre eles são regidas pelas normas das solidariedade comum, e, assim, a
ação tem natureza extracambiária. (artigo 283 do CC). Ademais, somente
poderá receber a cota parte em relação aos demais obrigados.

3. TÍTULOS DE CRÉDITO

Os títulos de crédito nas relações comerciais com novo conceito


na economia moderna pela perfeita adequação a mobilização da riqueza.

3.1. Conceito de Título de Crédito

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É o documento necessário a comprovação do crédito no exercício do direito
escrito e autônomo nele contido.

Conceito de Vivante:
"O Título de Crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal
e autônomo nele contido".

3.2. Características dos Títulos de Crédito

a) Natureza Comercial: não importa quem pratique o ato, os Títulos de


Crédito são essencialmente comerciais;

b) Documento formal: requisitos em lei;

c) Bem móvel: é um bem móvel pela ótica do direito civil, pelo código civil
pode ser dado em penhor, para direito processual civil é título extrajudicial e
para o direito comercial é um ato de comércio.

d) Título de apresentação: deve ser apresentado em formato original. Em


alguns casos poderá ser apresentado por cópia autenticada (vg, Se os
originais estiverem instruindo autos de um inquérito policial).

e) Título líquido e certo: a certeza decorre do título e a liquidez diz respeito


à quantia cobrada.

f) Eficácia processual abstrata: tem eficácia processual independente da


causa material que lhe deu origem, porque o que autoriza a execução é o
título.

g) Obrigação Quesível: deverá o credor procurar o devedor para efetuar a


cobrança.

h) Pro solvendo: significa que o título de crédito não opera novação com
efeito na relação causal que lhe deu origem. Temos duas obrigações que
coexistem quando o título é emitido pro solvendo. A material que deu
origem à causa e a que representa o direito de crédito através do título.

Pro soluto: O Título de crédito representa o pagamento, logo o credor não


poderá rescindir o contrato.

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i) Título de Resgate: O credor poderá receber o valor do título de crédito
antes do vencimento, através da operação de desconto bancário.

j) Título de circulação: o título de crédito foi idealizado para circular, fazendo


girar a economia.

3.3. Legislação cambiária uniforme

3.3.1 Comércio internacional

A necessidade de manter relações comerciais internacionais se deve ao fato


de que os Estados (Países) produzem riquezas de forma e produtos
diferentes, a diversidade de legislações sobre a matéria comercial sempre
dificultou o desenvolvimento do comércio internacional notadamente quanto
à letra de câmbio, a nota promissória e ao cheque que sempre seguram
como instrumentos dessas relações e a cambial, instrumento criado para
permitir o crédito, facilita as trocas econômicas que se desenvolvem entre os
países. Por este motivo é preocupação que se obtém ainda que de forma
progressiva a uniformização das normas do direito comercial internacional.
No processo de uniformização do produto do direito cambiário, o direito
comparado tem fundamental importância, por contribuir decisivamente para
que se possa obter a unificação deste direito.
O direito cambiário é o que mais se presta a unificação internacional, porque
a cambial é um instrumento mais adequado para permitir o desenvolvimento
do crédito, facilitando trocas econômicas. Esta uniformização só se tornou
possível com uma série de conferências e da elaboração de diversos
anteprojetos e regulamentos, cominando com as conferências Haia (1910-
1912).
A conferência de 1910 teve seus textos criticados pela excessiva liberdade
que se deu aos Estados porque prejudicada a desejada uniformização.
Na conferência de 1912 foram aprovados os seguintes documentos:

1º) Regulamento uniforme relativamente à letra de câmbio e a nota


promissória;

2o) Projeto de convenção internacional e textos regulando eventuais


conflitos de leis.

O regulamento de Haia de 1912 seguiu o sistema alemão e apresentou as


seguintes características:

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1º) Considerou a cambial um título de crédito a ordem, dispensando o
requisito da "distantia Loci" pelo qual o título só podia ser emitido em uma
cidade para ser pago em outra.
2º) Deixou de exigir para criação da letra de câmbio a prévia provisão de
fundos pelo sacador junto ao sacado.
3º) Considerou a cambial originária de uma declaração unilateral de vontade
do sacador sem depender de contrato originário.
Natureza jurídica do crédito: declaração unilateral de vontade

4º) Permitiu a circulação da letra de câmbio independente de conter a


cláusula a ordem.
5º) Atribuiu a letra à natureza de título formal porque devia conter os
requisitos essenciais principalmente a denominação cláusula cambiária.
6º) Proteção de terceiro adquirente de boa fé visando a circulação do título.

Finalmente realizou-se uma nova conferência em 1930,


objetivando alcançar a unificação de legislação relativa à letra de câmbio e à
nota promissória.

A primeira das três convenções aprovadas obrigou as


partes contratantes a introduzirem nas suas respectivas legislações, o texto
denominado “Lei Uniforme” composto de anexo I, contendo as disposições
da lei uniforme propriamente dita e anexo II, dispondo sobre as “reservas”
oferecidas às partes contratantes.

3.3.2. Lei Uniforme de Genebra e as Reservas

O direito comercial é cosmopolita. Assim, para que essa


característica seja implementada, as normas sobre títulos de crédito devem
ser adotadas uniformemente pelas diversas comunidades existentes. Não
seria possível internacionalizar os títulos de crédito sem que houvesse uma
lei uniforme observada pelas partes aderentes a essa concepção.

Não se mostra uma prática fácil de ser realizada juntar


diversos representantes de inúmeros países, com aspectos culturais,
políticos e econômicos diferenciados e elaborar uma norma que fosse
implementada em cada um destes países.

Para facilitar o maior número de adesão de países, além


da elaboração da lei uniforme, foram elaborados normas chamadas de

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reservas, as quais poderiam ser adotadas pelas partes, excepcionando a lei
uniforme em sua legislação interna.

Então, a Lei Uniforme de Genebra contém dois anexos: o primeiro é a Lei


Uniforme de Genebra; o segundo, são as reservas que os países signatários
poderiam adotar em sua legislação interna e que correspondem a normas
que não são essenciais à Uniformização.

O Anexo 1 da LUG corresponde à Lei propriamente dita,


enquanto o Anexo 2 corresponde às reservas que foram oferecidas às partes
contratantes.

O Governo Brasileiro adotou algumas reservas mas,


atentem, que essas reservas dispostas no Anexo 2 foi obra do legislador e
não das partes contratantes, ou seja, não foram as partes que elaboraram o
Anexo 2, mas sim o legislador da LUG.

Vale ressaltar que o fato de ser adotada uma reserva não


significa que a LUG será afastada automaticamente, pois, será necessária
uma lei, anterior ou posterior, que a discipline em lei. Se uma reserva foi
adotada, mas não há lei que a discipline, então significa que norma da LUG
não foi afastada, até que sobrevenha uma lei disciplinando a reserva.

3.3.2.1. Natureza Jurídica da Reserva:

A Reserva significa uma declaração unilateral, qualquer


que seja sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar,
ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de
excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas disposições do tratado em
sua aplicação a esse Estado. (artigo 2º, n.º1, d, da Convenção de Viena
sobre os Direitos dos Tratados, de 1969).

A natureza jurídica da reserva pode ser descrita como


uma declaração unilateral de vontade, que traduz mera faculdade para o
legislador do Estado que a manifesta, através de lei, que pode ser revogável
a qualquer momento.

3.3.2.2. Anexo 1 e 2 da LUG:

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O Anexo 1 corresponde à lei propriamente dita e contém
78 artigos, abrangendo a Letra de Câmbio e Nota Promissória. No final do
artigo 78, vem, em seguida, o anexo 2, que são as reservas,
consubstanciadas em 23 artigos. Essas normas que fazem parte do ANEXO 2
são normas desnecessárias à uniformização.

Em relação à técnica utilizada pelo legislador da LUG no


Anexo 2, podemos identificar um método em que é feita referência direta ao
artigo correspondente, como por exemplo, a reserva do artigo 3º.
Entretanto, às vezes a referência é pela matéria.

As reservas adotadas pelo governo brasileiro são as


descritas no preâmbulo do Decreto que promulgou a LUG em nossa
legislação. Essa observação é necessária, porque, pela redação do
preâmbulo, ao utilizar a expressão “reserva”, poder-se-ia entender que o
governo brasileiro teria recusado estes artigos referidos no preâmbulo, mas,
é justamente o contrário, ou seja, as reservas que o Brasil adotou são as
referidas no preâmbulo.

Portanto, as reservas adotadas pelo Brasil são: Anexo 2:


artigos 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 15, 16, 17, 19 e 20. Os demais artigos podem
ser riscados, porque, não foram adotados pelo governo brasileiro.

A LUG disciplina nos artigos 1º ao 74 normas sobre Letra


de Câmbio, enquanto que no artigo 75 ao 78, normas sobre a Nota
Promissória, mas isso não significa que as normas concernentes à Letra de
Câmbio não são aplicáveis à Nota Promissória.

3.3.2.3 Erros de tradução:

O decreto que promulgou a LUG em nossa legislação


contem diversos erros de tradução, fruto da cópia realizada a partir da
tradução Portuguesa, que a fez de maneira equivocada. Como ficava
recomendado as Partes Contratantes que os países de mesma língua
adotassem a mesma tradução e, sendo certo que a primeira tradução foi
feita por Portugal, o Brasil se limitou a copiar a tradução Portuguesa, motivo
dos chamados erros de tradução.

Erros encontrados no Decreto 57.663/66:

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a) Artigo 1, n.º 1: Deveria se referir à Letra de Câmbio e não Letra, por ser
a expressão adotada no Brasil desde o Decreto 2044/1908, como também
por ser a expressão utilizada no direito francês (Lettre de change) e inglês
(Bill of Exchange). Portugal, entretanto, sempre utilizou o termo Letra;

b) Artigo 1º, n.º 2: quando se refere a “mandato puro e simples”, quando o


correto seria ordem pura e simples, porque, no direito francês e inglês o
termo “mandat” e “order” significam ordem;

c) Artigo 10: Falta Grave, quando deveria ser culpa grave;

d) Artigo 11, alínea 2: refere-se á letra, quando deveria fazer menção à


título, conforme os textos originais;

e) Artigo 15, alínea 2: “...o endossante não garante o pagamento...”,


quando na verdade o endossante não garante o pagamento nem a
aceitação, sendo exceção à norma do artigo 15, alínea 1;

f) Artigo 16, alínea 2: o correto é culpa grave, como descrito na letra c,


desse esquema;

g) Art. 18, alínea 2: deveria ter feito referência à obrigados e não a


coobrigados, para que possa compreender todos os devedores que o
portador pode exigir o pagamento do título;

h) Artigo 18, alínea 3: O correto é ter sido referido à mandante e não


mandatário;

i) Artigo 19: Refere-se à caução, quando deveria ter feito referência à


caução pignoratícia;

j) Artigo 28, alínea 2: Quando menciona direito de ação, deveria ter dito
direito de ação direta, para indicar que o portador não precisa protestar o
título para exercer o direito de ação em face do aceitante, que é o devedor
direto;

l) Artigo 31, alínea 2 e 32, alínea 1: “Dador de aval”, deve ser lido como
avalista;

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m) Artigo 32, alínea 1ª: não está correto o termo “afiançada”, mas sim,
avalizada, pois, aval e fiança não se confundem;

n) Artigo 32, alínea 3: Não está correto o termo “sub-rogado”, sendo o


correto a expressão “adquire” pois, esta última está em consonância com a
aquisição de direito novo, autônomo e originário;

Esses são, apenas, alguns erros cometidos pelo legislador


brasileiro ao copiar a tradução efetivada pelos Portugueses. Mas, a
legislação sobre Letra de Câmbio e Nota Promissória não se restringe à LUG,
pois, temos o Decreto 2044/1908. esse Decreto continua em vigor em
relação à determinadas matérias, que são dispostas no mesmo sentido das
reservas adotadas pelo Governo Brasileiro.

4. ENDOSSO

4.1. Noções Gerais da Circulabilidade do Título.

a) O título Cambiário objetiva precipuamente a circulação. Por isso evoluiu


de simples instrumento de pagamento para instrumento de crédito.

b) O título de crédito nasce para circular e não para ficar restrito a relação
entre o devedor principal e seu credor.

c) Quando o título de crédito é negociado mediante endosso ocorre a


transferência do documento e dos documentos cambiários neles
representados.

d) A circulação do título é regular, quando decorre de livre declaração


unilateral de vontade por parte do portador. O adquirente adquire direito
novo, abstrato e autônomo sem vínculo com relação causal.

e) A circulação do título é anômala, quando ocorre contra ou sem a vontade


do emitente do título por não existir negócio jurídico vinculado entre este e
a pessoa que passa a deter o título.

f) Outros meios de transferência são a sucessão hereditária, testamento e


operações societárias (cisão, incorporação e fusão e a cessão de crédito –
Direito comum, regulado pelos artigos 286 a 298 do CC).

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4.2. Natureza Jurídica do Endosso

Em se considerando que para o endosso produzir efeitos, depende


simplesmente da vontade do endossante, sua natureza jurídica é a
declaração unilateral de vontade.

4.3. Conceito de endosso

Endosso é o ato exclusivamente cambiário, abstrato e formal, decorrente de


declaração unilateral de vontade e correspondente a uma declaração
eventual e sucessiva, manifestada no título de crédito.

4.4. Características do Endosso

a) Endosso é ato cambiário porque só pode ser usado para fins cambiários.

b) É abstrato porque se desvincula da sua causa originária, assim será


sempre incondicionado (art. 17, 12 alínea 1 LUG).

c) É ato unilateral de vontade, pois sendo esta a sua natureza jurídica não
se confunde com a cessão de crédito civil.

d) Corresponde a uma declaração eventual porque sua falta não desnatura o


título de crédito.

e) É sucessivo porque é inscrita no título após a declaração de vontade.

4.5. Efeitos do endosso

a) O endosso transfere os direitos nele emergentes (art.14 da LUG),


entretanto, deve ser observado que o título apenas será transferido se tiver
sido feito o endosso e operada a tradição, porque o título de crédito é um
título de apresentação e o endossante pode cancelar o endosso antes da
entrega do título (art. 16 da LUG).

b) Por regra, o endossante garante o aceite e o pagamento do título no seu


vencimento, salvo, cláusula em contrário que deverá estar expressa na
cártula (título) (art. 15 alínea 1a c/c art. 77 da LUG).

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c) O endossante é responsável pelo aceite, quando o sacado na letra de
câmbio se recusa a aceitá-la total ou parcialmente, quando então teremos o
vencimento antecipado do título, uma vez que o endossante é devedor
indireto, (art. 43 da LUG, alínea 1a ).

A garantia do pagamento decorre de sua qualidade de


devedor indireto, solidário e de regresso.

O novo Código Civil, define que o endossante não


responde pelo cumprimento da prestação, mas, como já visto, tal preceito
de crédito que tem disposição em contrário, em lei especial é contrário ao
art. 914 do novo CC.

4.6. Endosso e cessão

a) O endosso é ato exclusivamente de natureza cambiária e só pode


transferir título de crédito e a cessão é instituto do Direito comum e pode ter
por objeto qualquer direito de crédito, inclusive de natureza cambiária.

b) O endosso é ato abstrato, não tem vinculação com a causa nem com a
relação que deu origem ao título e a cessão é ato causal, vinculado
necessariamente a uma relação jurídica anterior.

d) O endosso corresponde a uma declaração unilateral de vontade e a


cessão é contrato bilateral e pressupõe manifestação de vontade do cedente
e do cessionário.

e) O endosso opera transferência de direito novo, autônomo e originário


(art.17 da LUG) e a cessão transfere direito derivado, o mesmo direito do
cedente.

OBSERVAÇÃO

Quanto maior o número de endossos, maior a proteção


do título, cada endossante será responsável pelo seu pagamento, enquanto
várias cessões diminuem a segurança do último cessionário, pois este ficará
sujeito às exceções que possam ser opostas pelo devedor e por todos os
cedentes.

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Resumindo, o endosso objetiva a transferência do título,
enquanto a cessão visa a transferência do direito de crédito.

4.7. Distinções entre Endosso e Aval

a) O endosso tem função principal de realizar a transferência dos direitos


decorrentes do título de crédito e o aval objetiva, exclusivamente, reforçar a
garantia do pagamento do título (art. 30, alínea 1a LUG, Lei Cheque art.,
29).

b) A responsabilidade do endossante decorre de disposição legal, enquanto


no aval a garantia surge da manifestação de vontade do avalista.

c) O endosso só pode ser feito pelo portador legítimo do título, mas o aval
pode ser dado por qualquer pessoa, seja estranha ao título, ou mesmo por
quem seja signatário.(LUG art. 30 alínea 2a, Lei do Cheque art. 29).

d) No endosso em branco, o endossatário será pessoa que tiver o título na


mão, no aval em branco, a pessoa avalizada será o emitente da NP e do
Cheque.

e) O endossante pode se eximir da responsabilidade pelo pagamento do


título, enquanto o avalista não pode se exonerar de sua responsabilidade,
pois o aval tem função exclusiva em garantir o pagamento do título.

f) A responsabilidade do endossante é sempre do devedor indireto,


enquanto o grau de responsabilidade do avalista depende da natureza da
obrigação avalizada (LUG art. 32, alínea 1a e Lei do Cheque art. 31).

g) O endosso parcial é nulo, o aval parcial é admitido, art 30 da LUG.

4.8. Cláusula excludente da responsabilidade

O endossante pode eximir-se da responsabilidade pelo


aceite e pelo pagamento (art. 15 LUG), inserindo no título cláusula
excludente.

A legislação cambiária não define uma única maneira da


exclusão da responsabilidade do endossante, sendo válida qualquer
expressão que indique a intenção do endossante, não garantir o aceite ou

17
pagamento do título. Podem ser usadas expressões como: “endosso sem
garantia”, endosso sem ser devedor”, “endosso sem dever” e outros.

O endossante pode restringir a exclusão da sua


responsabilidade pelo aceite ou pelo pagamento se não deixar claro sua
intenção.

Ex.: Aldo emite NP em favor de Bruno que endossa para Caio, que insere
cláusula excludente de sua responsabilidade cambiária e faz novo endosso
para Dário.
Dário terá ação cambiária em face de quem?

Resposta: Dário terá ação cambiária em face de todos os signatários, exceto


Caio que inseriu a cláusula. Aldo e Bruno, não poderão se eximir das suas
responsabilidades baseando-se na cláusula inserida por Caio.

4.9. Requisitos do Endosso

a) Ato simples e puro, deve corresponder a uma declaração de vontade,


pura e simples (art. 12, alínea 1a LUG e Lei do Cheque, art. 18, 1a parte).

b) É uma declaração abstrata porque não têm vinculação com a causa que
deu origem ao título e autônoma em relação às demais declarações
constantes nos títulos.

c) Ato formal, é válida qualquer forma que indique, de maneira inequívoca,


à vontade de uma pessoa em transferir os direitos decorrentes do título. Ex.:
“Endosso em favor de Aldo”; “Pague-se a Bruno” (endosso preto). O
endosso pode resultar também da simples assinatura do endossante, sem
identificar a pessoa do endossatário (endosso em branco). Entretanto esta
liberdade na caracterização do endosso não significa que não corresponda a
ato formal.

O endosso é ato formal e, por isto, só pode ser lançado no título de crédito
ou na folha de alongamento (Lug art. 13, al. 1º e LC art. 19). Não pode ser
formalizado em documento separado:

- porque só vale no mundo cambiário o que está expresso no título


(princípio da literalidade).

18
- porque a mencionada exigência visa agilizar a circulação do título de
crédito.

- porque a legislação cambiária tem por escopo a proteção do terceiro


adquirente do título.

Obs.: Se o endosso for em preto, pode ser feito em qualquer parte do título.
(LUG art. 13, al. 1, LC art. 19). Se o endosso for em branco, deve ser
formalizado no verso do título ou na folha de alongamento (LUG art. 13, al.
2, in fine, LC art 19, § 1.º)
d) Não exigência da datação e do lugar do endosso
A legislação cambiária não exige a datação do endosso e
presume que endosso sem data foi feito antes de expirado o prazo para
protesto. (LUG art 20, al 2)
A datação do endosso tem a vantagem da possibilidade
de apurar se no momento do endosso, o endossante tinha capacidade
jurídica para praticar o ato.

4.10. Cláusula não à ordem

A legislação expõe que a letra de câmbio, a NP e o


cheque, mesmo sem a cláusula “a ordem”, podem ser transmitidos por
endosso, art. 11 LUG, alínea 1a, art.77 alínea 1a e Lei do Cheque, art. 17.
Esta cláusula não é requisito essencial.

O título de crédito não se torna “não à ordem” com o


mero cancelamento da expressão “a ordem”, devendo ser inserida a
cláusula neste sentido.

Ex: “proibido endosso” ou “transmissível apenas por cessão”. Obs.: Esta


cláusula só pode ser inserida por quem cria o título de crédito, isto é, o
emitente da NP e do cheque e o sacador da letra de câmbio.

A cláusula deve existir desde o nascedouro do título, para


que o portador e os que nele venham a se obrigar tenham ciência de que o
título só será transmissível pela forma e com os efeitos da cessão.

A cláusula “não à ordem” não proíbe a circulação do


título, mas apenas veda que seja feita através de endosso.

19
4.11. Endosso Parcial

É considerado nulo o endosso parcial (LUG art. 12, alínea


2 , Lei de Cheque art. 18 §§ 1o e CC art. 912 § único). O título de crédito é
a

indivisível, portanto não podendo ser parcial a transmissão da posse da


coisa.

4.12. Pagamento parcial e endosso

O devedor tem direito de realizar o pagamento parcial do


título de crédito, e neste caso pode exigir que desse pagamento se faça
menção no título de crédito e que dele lhe seja dado a quitação (LUG art.
39, alínea 2a e 3a e lei do cheque art. 38 § único e CC art. 902 § 2o).

Observe-se que para isso, não se equipara endosso


parcial à transferência feita pelo portador do título através do endosso, do
saldo do seu valor, quando tenha havido pagamento parcial.

Não se pode invocar, no caso, a indivisibilidade do título e


da soma cambiária para pretender anular o endosso pelo valor não pago. O
título é indivisível quanto à sua circulação e não quanto ao seu pagamento.

4.13. Endossante Impróprio

É o ato cambiário pelo qual o endossante transfere


apenas o exercício dos direitos emergentes, sem ficar responsável cambiário
pelo aceite e pagamento.

4.14. Endosso – Mandato

É cláusula cambiária onde o endossante constitui o


endossatário seu mandatário, para prática de todos os atos necessários ao
recebimento da importância do título.

Deve-se lançar no próprio título e indicar o nome do


endossatário. De plano, o endossatário-mandatário estará investido de todos
os poderes para cobrança do título, mas não poderá renunciar ao direito,
novar, transacionar ....., salvo com a anuência do endossante.

Contrariamente ao Direito comum, a morte ou


incapacidade do endossante-mandante não extingue o mandato (art. 18,

20
alínea 3a da LUG, c/c Lei de Cheque, art. 26, § único c/c art. 917, § 2o do
CC).

Busca-se proteger o devedor cambiário que faz o


pagamento ao endossatário-mandatário, sem que soubesse da morte ou
incapacidade do endossante-mandante. Já no direito comum, o mandato
estaria extinto (art. 682, II do CC).

O cancelamento do endosso-mandato pode ser feito


mediante inserção no título, referente ao cancelamento. Desde que não
tenha sido cobrado o título.

Presume-se que a posse do título pelo endossante-


mandante revoga o endosso mandato.

4.15. Endosso-caução

O endossante transfere o exercício dos direitos inerentes


ao título a terceiro, como forma de penhor de direitos, sendo, portanto,
utilizado como garantia de uma obrigação contratual qualquer. O endosso-
caução tem natureza de garantia pignoratícia. (art. 1459, III e 1460 do CC).

Ex.: Contrato de empréstimo em banco, tendo como garantia NP cujo


devedor é beneficiário.

Não existe fórmula expressa, pode-se usar expressões tais como:

“valor a cobrar”; “valor em penhor” etc ....

Endosso-caução só pode existir no título e não tem


eficácia se não for notificado o devedor ( art. 1453 do CC).

4.16. Endosso póstumo

É efetuado após o protesto por falta de pagamento ou


depois de expirado o prazo legal para sua efetivação. Produz apenas os
efeitos de cessão. (art. 20, alínea 1a da LUG).
Esta regra é justificada porque o protesto ou decurso do
seu prazo corresponde ao momento em que se esgota a vida ativa da
cambial, e assim, o portador que não diligencia o protesto no prazo legal

21
decai de seus direitos em relação aos devedores indiretos (LUG art. 53, al.
2a )
Obs.: Não se aplica o art. 920 do CC aos títulos de crédito regidos por lei
especial.

5. AVAL

5.1. Conceito

O aval constitui uma manifestação de vontade no título de


crédito, pela qual uma pessoa física ou jurídica, estranha ou não a operação
correspondente ao título de crédito, assume obrigação cambiária autônoma
e incondicional de garantir total ou parcialmente, no vencimento, o
pagamento do título nas condições nele estabelecidas.

Nota:

Aval é uma declaração unilateral de vontade.

Aval é uma declaração cambiária sucessiva e eventual.

5.2. Distinções entre Aval e Fiança

a) aval é instituto do direito cambiário e fiança do direito comum, podendo


ser de natureza civil ou mercantil.

b) aval só pode ser lançado no título e fiança pode ser em documento


separado.

c) aval só pode garantir título de crédito e a fiança pode garantir título de


crédito ou qualquer outra obrigação.

d) aval não depende de outorga uxória, porém somente os bens do


signatário responderão pela dívida, salvo se o crédito reverteu em benefício
da família. Já a fiança depende de outorga uxória, conforme artigo 1647, III
do Código Civil.

22
Na verdade o referido inciso III, orienta com base no
caput do artigo 1.647 que nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, prestar fiança ou aval. Estabelece-se aí um conflito entre o novo
código civil e a Lei Uniforme de Genebra, quanto a obrigatoriedade da
outorga uxória para validade do aval, como observa Paulo Colombo Arnoldi
(RT 810/15)”.

Pelo Enunciado 114 aprovado na Jornada de Direito Civil


promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça
Federal de 11 a 13.9.2002:

“O aval não pode ser anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o
inciso III do art. 1.647 apenas caracteriza a inopolibilidade do título ao
cônjuge que não assentiu”.

e) aval só garante obrigação líquida e a fiança pode garantir obrigação


líquida ou ilíquida, mas nesse último caso, terá que antes de promover a
execução da fiança, tornar a obrigação líquida (art. 821 do CC).

f) aval obriga-se perante pessoa indeterminada, que será o portador do


título. A fiança obriga-se perante pessoa determinada, que será o credor.

g) no aval não há benefício de ordem, na fiança há possibilidade do


benefício de ordem (art. 827 do CC).

h) o aval é uma obrigação autônoma e a fiança acessória.

i) o aval é presumido por uma simples assinatura no anverso do título, a


fiança não se presume.

5.3. Aval em preto e aval em branco

No aval em preto a pessoa que esta sendo avalizada é identificada. Quando


não identificada, o aval será em branco.

Quando o aval for em branco, somente poderá ser lançado no anverso do


título, para que não se confunda com o endosso em branco. Neste caso será
avalizado o aceitante da Letra de Câmbio (art. 31, al 4 da LUG); o emitente
do cheque e da nota promissória (art. 30, parágrafo único da lei de cheque)
e duplicata art. 12 da lei de duplicata.

23
5.4. Aval após o vencimento do título

A matéria é controvertida. Para Fran Martins tem efeito de


fiança. Já para Luiz Emygdio não pode produzir efeito de fiança. O
entendimento é que, verdadeiramente, o aval dado após o vencimento, mas
antes do protesto ou do decurso do prazo, tem eficácia, porque mero
vencimento não exaure a vida cambiária do título que só ocorre com o
protesto ou declaração equivalente, ou ainda, com o decurso do prazo para
efetivação do protesto.

5.5. Aval simultâneo ou co-avais

O aval simultâneo é aquele dado em conjunto, por duas


ou mais pessoas em relação a uma mesma obrigação cambiária.

Ex.: A emite NP em favor de B. X e Y avalizam A em conjunto. Se X paga o


título, tem ação cambiária em face de A. Se cobrar de Y, terá apenas cota
parte de 50%.

5.6. Aval sucessivo ou aval de aval

No aval sucessivo, o avalista avaliza outro avalista. (art.


30 LUG c/c art. 29 LC)

EX.: A emitente; B beneficiário; X avalista de A; Y avalista de X e Z avalista


de Y.
Tratando-se de avais sucessivos, são obrigados do mesmo grau. Se X pagar
o título terá ação somente contra A, seu avalizado. Não poderia cobrar de Y
e Z por serem posteriores.

5.7. Aval prestado por pessoa casada

Via de regra, os bens do casal não respondem pelas


dívidas assumidas por um dos cônjuges. O credor deverá provar o benefício

24
para a família de quem prestou o aval. Cabe ao cônjuge fazer a prova em
contrário.

Ex. se um diretor (sócio) avaliza a pessoa jurídica, entende-se ter sido dado
em benefício da família. Poderá o credor executar os bens comuns, que
correspondem a meação do cônjuge signatário e seus bens particulares.

5.8. Aval prestado por pessoa jurídica contra vedação do contrato ou


estatuto social.

Em regra, o aval é ato de liberalidade. Depende da


vontade do avalista. Normalmente o contrato social das limitadas e o
estatuto das sociedades anônimas vedam aos seus administradores a dação
de fiança e aval em nome da sociedade.

Existem dúvidas quanto a validade ou não deste aval.


Alguns entendem que não tem validade porque:

Via de regra, os contratos sociais da sociedades


empresárias não permitem que os sócios possam contrair obrigações em
nome da sociedade.

O contrato social deve ser arquivado no registro público


de empresas mercantis, predominando o princípio da publicidade, o que
permite que o terceiro possa com facilidade examinar o contrato da
sociedade e verificar se existe cláusula de restrição.

O artigo 46 do Decreto 2044 de 1908, diz que quem


assina a declaração cambial, como mandatário ou representante legal de
outro, sem estar devidamente autorizado, fica pessoalmente obrigado. No
mesmo sentido discorrem os artigos 8o. da Lug e 14 da LC. Desta forma a
sociedade não responderia pelo aval em razão da restrição contratual ou
estatutária.

Todavia, a orientação predominante é no sentido de


considerar válida e eficaz a obrigação cambiária decorrente de aval prestado
por sociedade contra o disposto no contrato ou estatuto social.

25
O artigo 42 do Dec 2044/1908 orienta que tem
capacidade cambiária toda pessoa natural ou jurídica que tenha capacidade
jurídica. Esta norma continua eficaz porque a convenção de Genebra
destinada a regular conflitos de leis em matéria cambiária remeteu para
cada lei nacional a competência para dispor sobre capacidade cambiária.

O terceiro de boa-fé não pode amargar prejuízo, sendo


assim, a responsabilidade da sociedade, não pode ser afastada por mera
cláusula contratual. O administrador é que deverá ressarcir a sociedade dos
prejuízos causados por ter honrado o aval.

Os negócios mercantis são caracterizados por sua


celeridade, sendo assim, não se pode criar dificuldades ao seu
desenvolvimento, por se exigir que a cada ato o terceiro tenha que tomar
conhecimento do contrato social, vislumbrando se os seus prepostos tem ou
não poderes para a prática do ato.

A prática moderna é de se aplicar a “teoria da aparência”,


buscando a proteção do contratante de boa fé.

A aparência funciona como autenticador das situações


formalmente irregulares na sua origem, porém realizadas de boa fé, pois a
sociedade empresa, contribui por criar aparência de legitimidade. Por isso a
sociedade responde pelo aval dado por culpa “in elegendo e in vigilando” em
relação a seus administradores.

O administrador pode não representar a sociedade, mas


constitui um dos seus órgãos, que exprime e realiza a vontade da sociedade.

A responsabilidade da sociedade não deve ser


considerada como regra absoluta. Uma vez que deve ser esclarecido que a
sociedade não tem responsabilidade como avalista, quando o beneficiário do
título tem ciência da vedação contratual de dação do aval ou deveria ter em
razão da sua profissão.

Ex.: um sócio se retira da sociedade e concorda em receber NP’s dos seus


haveres, sendo o sócio controlador o emitente e a sociedade a avalista.

Neste caso a sociedade não deve responder pelo aval, por


não ser o credor terceiro de boa fé.

26
Pelo art. 8o da LUG e 14 da LC, obriga-se pessoalmente
quem assina título de crédito como mandatário ou representante sem
poderes para tal ou excedendo os que foram outorgados.

5.9. Responsabilidade do avalista.

O avalista obriga-se da mesma maneira que o avalizado


(LUG art. 32, al. 1a – observar erro na Lug quando se refere a pessoa
afiançada e não avalizada).
Equivale dizer que se o avalizado for devedor direto (ex.:
emitente da NP), o avalista será igualmente devedor direto. Se for devedor
indireto (endossante) o seu avalista será também devedor indireto.

5.10. Direitos do avalista

Como já vimos o avalista obriga-se da mesma maneira


que o avalizado. Porém se este paga adquire direito novo, autônomo e
originário, decorrente do título. Adquire todos os direitos resultantes do
título contra o avalizado.

5.11. Quem pode ser avalista

A LUG não se manifesta sobre a capacidade cambiária,


assim prevalece a regra do artigo 42 do Decreto 2044/1908, onde pode
assumir obrigações cambiárias quem tem capacidade jurídica.

5.12. Aval por mandato

O aval por mandato exige poderes especiais. O avalista


pode obrigar-se mediante assinatura de próprio punho ou por procurador a
quem tenha conferido “poderes especiais” para avalizar. Exigência de
poderes especiais conforme art. 14 do Decr. 2044/1908.

27
5.13. Cancelamento e extinção do aval.

A LUG nada esclarece sobre o assunto, prevalecendo a


norma do artigo 24 do Decreto 2044/1908. “O pagamento feito pelo
aceitante ou pelos respectivos avalistas desonera da responsabilidade
cambial todos os coobrigados”.

Com o pagamento, extingue-se a vida cambiária do título


por ocorrer pagamento extintivo.

5.13.1. Cancelamento do aval por outro motivo (sem pagamento do título)

Este assunto deve ser analisado à luz do artigo 44,


o
parágrafo 1 . do Decreto 2044/1908, que considera não escrito, para os
efeitos cambiais, o endosso ou aval cancelado.

A norma ensinada no referido dispositivo legal comporta


as seguintes observações:

I - há possibilidade de cancelamento do aval, desde que o título ainda esteja


em seu poder, antes portanto de entrar em circulação;

II - Considera-se não escrito apenas o aval cancelado, permanecendo


válidas as demais declarações cambiárias em razão do princípio da
autonomia das obrigações cambiárias.

III - Após o título entrar em circulação, se o avalista sem ter efetuado o


pagamento, riscar a sua assinatura, agindo de má-fé, por prejudicar direitos
de terceiros, responderá civilmente, pela via ordinária, por perdas e danos a
quem o cancelamento prejudicar. Não cabe ação cambiária em face de
devedor cuja assinatura foi cancelada, ainda que de forma abusiva.

5.13.2. Extinção do aval

Pode ocorrer a extinção do aval pela seguintes razões:

I - Pelo pagamento – meio normal para extinção de uma obrigação.

28
II - Anulação – por qualquer das causas referidas no art. 171 do CC.

III - Decadência – por falta de protesto em se tratando de avalista de


devedor indireto de letra de câmbio, nota promissória ou duplicata. (LUG
art. 53 e LD 5.474/68, art. 13, parágrafo 4o.). No caso de cheque, pela não
apresentação no prazo legal ao banco sacado ou pela não comprovação da
recusa de pagamento.

IV - Pela prescrição cambiária: (LUG art. 70, LC art. 59 e LD art. 18)

V - Cancelamento da assinatura do avalista (art. 44, parágrafo 1o do decreto


2044/1908).

6. CHEQUE

6.1 Legislação

É disciplinado pela lei 7.357/85. O legislador brasileiro


somente pode dispor da matéria não contemplada na LUG e quanto às
normas genebrinas não necessárias, que foram objeto de reservas adotadas
pelo governo brasileiro, porém o legislador teve de respeitar as normas
genebrinas necessárias, que buscam a uniformização da legislação sobre
cheque. A lei de cheque consolidou princípios da LUG e da legislação
anterior sobre o cheque e corrigiu erro da tradução.

O art. 69 da lei de cheque asseverou a competência do


Conselho Monetário Nacional, nos termos e limites da legislação específica,
para expedir normas relativas às matérias bancárias relacionadas ao cheque.

O parágrafo único do mesmo artigo fixa a competência do


Conselho Monetário Nacional para:

Normas para contas de depósitos


Conseqüência para uso indevido do cheque
Relações entre sacado e o opoente

29
6.2. Importância econômica do cheque.

O cheque representa importante ferramenta para


economia moderna, correspondendo:

Meio de pagamento a vista. Permite pagamentos à distância pelo envio do


título sacado em uma praça para ser pago em outra.

Instrumento de compensação de débitos e créditos, diariamente são


extintas várias obrigações pelas câmaras de compensação mediante
lançamentos recíprocos nas contas do sacador e do beneficiário do cheque.

Instrumento de comprovação de pagamento

6.3. O Cheque e o controle estatal.

O cheque tem função relevante na economia o que faz


com que o Estado incentive sua utilização. Em contrapartida, esta prática faz
com que aumente a preocupação com a segurança dessa utilização.

O cheque é objeto de controle estatal para:

Regular seu aspecto formal (padronização)

Controlar seu uso (cheques sem fundos e a frustração de seu pagamento,


punição administrativa e penal)

6.4. Pressupostos para emissão do Cheque.

(Lei de cheque artigos 3o e 4o e LUG, artigo 3o )

a) O cheque só pode ser emitido contra banco ou Instituição Financeira a


ele assemelhado por lei.(CEF, crédito imobiliário).

b) Deve decorrer de contrato expresso ou tácito entre emitente e o sacado,


segundo as normas do Banco Central.

c) O cheque deve ser sacado sobre fundos disponíveis em poder do banco


(cheque descontado sobre saldo disponível); Se não forem cumpridos os

30
pressupostos contidos no art. 4o da LC, para sua emissão não é afetada a
sua validade, não sendo este desnaturado como título cambiário
representando tão somente um cheque irregular. Porém, se no cheque não
estiverem contemplados os requisitos essenciais não produzirá efeito como
tal ou se for emitido contra quem não seja banco ou instituição que não lhe
seja equiparado.

6.5. Conta Corrente Bancária.

6.5.1 Natureza jurídica: contratual

Na conta corrente bancária o cliente pode, a qualquer


tempo, ter disponibilidade do saldo decorrente de depósitos que ele ou
terceiros tenham feito junto ao banco sacado. Não se admite que a conta
corrente esteja subordinada a condição suspensiva, porque a cláusula
impediria que os fundos da conta corrente fossem considerados disponíveis.

6.5.2. Características da conta corrente.

a) consensual: é um simples acordo entre as partes.


b) Informal: não requer forma própria, pois pode ser convencionada
tacitamente.
c) normativos: regula relações puras entre as partes
d) execução continuada: corresponde a uma série de operações a serem
feitas pelo banco que se estende no tempo.

Obs.:

A conta bancária conjunta é aquela que pode ser


movimentada e encerrada em conjunto ou isoladamente por qualquer de
seus titulares e entre estes titulares ocorre solidariedade ativa, regida pelas
normas do art. 267 CC. Esta solidariedade entre os titulares da conta
bancária refere-se ao contrato com o banco, e, não perante terceiros
(ausência de pressuposto legal). Se apenas um dos correntistas assinar o
cheque, a ação cambiária só poderá ser movida, em face da pessoa que
assinou o cheque.

No caso de falecimento de um dos titulares da conta, o


outro titular pode emitir cheque sobre eventual saldo que deve ser pago
pelo sacado. (o banco não pode negar-se a pagar). Foge do direito

31
cambiário a obrigação do depositante sobrevivente ter de levar a inventário
parte do depósito total.

6.6. Contrato de abertura de crédito.

Este contrato ocorre quando o banqueiro promete ao


cliente a concessão de crédito por prazo determinado ou indeterminado,
limitando a certo montante, quando por ele solicitado. Ou seja, provisionar
fundos em sua conta bancária para que possa acatar cheques por ele
emitidos.

O contrato de abertura de crédito apresenta as seguintes características:

a) Consensual: porque perfaz com um simples acordo entre as partes;


b) Oneroso: porque implica em direitos e deveres recíprocos;
c) Bilateral: porque representa obrigações recíprocas;
d) Execução Continuada: porque os créditos não são postos pelo banco a
disposição do cliente em um só momento, mas durante o tempo avençado.

6.7. Momento em que deve existir provisão de fundos

A existência de fundos é verificada no momento da


apresentação do cheque para pagamento ao beneficiário (LC, art. 4o § 1o).

A lei 2591/12, no seu artigo 8o interpretava que o


beneficiário adquiria o direito a ser pago pela provisão de fundos existentes,
desde a data do cheque. (emissão de cheque sem fundos disponíveis era
ilícito).

Com esta interpretação, entendia-se que o mencionado


dispositivo havia adotado o sistema da cessão da propriedade da provisão
pelo emitente em favor do beneficiário do cheque, que se não fosse pago,
havendo provisão na data da emissão, o portador teria direito de acionar o
banco (o banco era o responsável).

Outra corrente entendia que com a emissão do cheque, o


beneficiário não se tornava proprietário e não adquiria direito especial sobre
a provisão na data de emissão, e, portanto, não pago o cheque, não tinha
ação contra o banco.

32
Aderimos a esta última tese, porque o beneficiário do
cheque com a mera emissão, não se torna proprietário da provisão, tanto
que o banco é obrigado a pagar cheque de data posterior, desde que
apresentado primeiro e o emitente, entre a data da emissão e a do
pagamento pode retirar toda a provisão, sem que o banco possa impedir.
(Quem sacar primeiro leva).

Por este motivo, é mais acertada a norma do artigo 4o, §


1o da Lei do cheque atual ao dispor que a existência de fundos disponíveis é
verificada no momento da apresentação do cheque para pagamento.

6.8. Relações jurídicas

O cheque define 3 relações jurídicas distintas:


(antigamente o cheque equivalia a letra de câmbio, pois tinha avalista).

1.ª relação jurídica:

Ocorre entre os devedores cambiários emitente e


endossante (devedores cambiários) e portador, sendo a única das relações
jurídicas que tem natureza cambiária. Daí o art. 47 da lei do cheque rezar
que o portador deste pode promover a sua execução contra o emitente e o
endossante.

O banco sacado não integra esta relação cambiária,


porque não é devedor cambiário, tanto assim que o art. 6o, da lei de cheque
não admite aceite no cheque, considerando não escrita quando declaração
nesse sentido. No cheque administrativo o banco figura somente integrando
a relação cambiária como emitente do cheque e não como sacado.

Assim, por não ser o banco devedor cambiário é que o


art. 47 da lei do cheque não o inclui entre as pessoas que podem figurar no
pólo passivo da ação cambiária. O banco também não pode ser réu na ação
de enriquecimento, a que se refere o art. 61 da Lei do cheque, pois o banco
não se locupleta com o não pagamento do cheque.

2.ª relação jurídica:

Estabelecida entre os devedores do cheque e o banco


sacado, não sendo relação cambiária, mas regida pelo direito comum.
Assim, se o banco praticar ato que resulte dano ao emitente do cheque, este

33
só poderá acionar o banco com base no direito comum, ou seja, com ação
extra cambiária.

Ex: se o banco recusa pagamento de cheque, apesar de existir suficiente


provisão de fundos e o cheque está revestido das formalidades legais.

3.ª relação jurídica:

Ocorre entre o banco e o portador do cheque, que, da


mesma forma, não tem natureza cambiária, e, por isso, o portador só pode
recorrer ao direito comum. Quando o banco paga o cheque, extinguem-se
todas as relações jurídicas nele contidas.

6.9. Natureza jurídica do cheque

A doutrina diverge quanto a natureza jurídica do cheque.

A 1ª corrente: entende que o cheque não é um título de


crédito por não existir o elemento crédito, sendo apenas um título de
pagamento à vista, portanto de vida breve extinguindo-se quando do seu
pagamento pelo banco.

A 2ª corrente: classifica o cheque como título de crédito


impróprio. Quando circula mediante endosso, porque aparece dessa forma o
elemento crédito.

A 3ª corrente: caracteriza o cheque como título de


crédito, mesmo quando não circula, desde que emitido em favor de terceiros

6.10. Semelhanças e diferenças entre cheque e letra de câmbio.

A letra de câmbio e o cheque apresentam certas


semelhanças porque:

a) Tem o rigor formal e subordinam-se aos princípios cambiários que os


regulamentam.

b) Ambos encerram uma ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado


para pagamento dele próprio.

34
c) O saque decorre de mera declaração unilateral de vontade nos dois
títulos, e corresponde a declaração cambiária originária e não eventual.

d) São títulos abstratos podendo revestir qualquer obrigação.

As diferenças mais acentuadas são:

a) A letra de câmbio pode ser sacada contra qualquer pessoa, porém o


cheque só pode ser sacado contra banco ou instituição financeira a ele
equiparada/assemelhada por lei.

b) O saque da letra de câmbio não depende de prévia provisão de fundos


mais no cheque a prévia provisão junto ao banco é presumida quando da
sua emissão, embora sua ausência não desnature o documento como
cheque. LC, art. 4º.

c) Não há controle estatal na letra de câmbio e o sacado não comete ilícito


penal se não pagar o seu valor no vencimento, mas em relação ao cheque
se apresentado sem suficiente provisão de fundos ou se frustrar pagamento
comete crime de estelionato.

A letra de câmbio sempre representa a função econômica de instrumento de


crédito, por outro lado o cheque pode ter também a função restrita de
pagamento à vista (título de exigência ou cobrança);

A letra de câmbio comporta o ato cambiário do aceite o que é vedado ao


cheque.

f) Na letra de câmbio (sacado contra o banco) não há devedor direto


enquanto no cheque (sacado na própria conta da pessoa) o devedor direto
sempre existe.

g) Na letra de câmbio o portador tem ação cambiária contra o sacado que


firma o aceite passando a integrar a relação cambiária como devedor direto,
mas no cheque o sacado jamais integra a relação cambiária como devedor e
não pode, portanto, figurar no pólo passivo da ação cambiária.

h) A letra de câmbio nasce de declaração manifestada por devedor indireto,


que é o sacador e o cheque decorre de declaração cambiária por devedor
direto (o emitente).

35
i) A letra de câmbio comporta endosso-caução o que não ocorre no cheque.

j) A letra de câmbio pode ter vencimento à vista ou a prazo, mas o cheque é


ordem de pagamento exclusivamente à vista.

l) A letra de câmbio admite cláusula de juros remuneratórios quando for à


vista ou a tempo certo à vista, enquanto o cheque considera-se não escrita
a estipulação de juros.

m) Na letra de câmbio o protesto é necessário enquanto no cheque não. Na


letra de câmbio o protesto é necessário para ação cambiária em face dos
devedores indiretos, enquanto no cheque o protesto pode ser substituído
por uma declaração do banco ou da câmara de compensação
(microfilmagem).

n) A letra de câmbio só pode ser nominal, enquanto o cheque pode ser ao


portador.

6.11. Aspectos penais do cheque

A LUG não se manifesta sobre os aspectos penais do


cheque por ser lei de natureza comercial. Por outro lado, o direito penal
varia no tempo e no espaço inviabilizando uma repressão penal uniforme,
como assevera o prof. Luiz Emygdio. Diante disto reportamo-nos ao art. 65
da lei de cheque que orienta que os efeitos penais da emissão de cheque
sem suficiente provisão de fundos, da frustração do pagamento do cheque,
da falsidade, da falsificação e da alteração do cheque continuam regidos
pela legislação criminal (cód. Penal art. 171 parágrafo 2º, VI e parágrafo
3º). A repressão administrativa à emissão de cheques sem fundos é
normatizada pelo Banco Central (resolução nº 1682 de 31/01/90 e circ. 2065
de 17/10/91).

6.12. Prazos legais

A lei de cheque refere-se a diversos prazos com


conseqüências diversas, a apresentação do cheque ao sacado (banco ou
instituição financeira a ele assemelhado por lei), deve ser em 30 dias para
pagamento na mesma praça, quando emitido para pagamento em uma
outra praça ou no exterior (lei de cheque art. 33), o prazo é de 60 dias.

36
A contagem do prazo de apresentação tem início da data
do cheque, mas o sacado pode efetuar o pagamento, mesmo quando
apresentado fora deste prazo, desde que não tenha expirado o prazo de
prescrição da ação cambiária de execução (lei de cheque, art. 35 § único).

O prazo prescricional é de 6 meses para ação cambiária


executória para a cobrança de cheque (lei de cheque, art. 59). Se, no
entanto, este for apresentado dentro do prazo legal e houver recusa de
pagamento, o prazo da prescrição inicia da data da mencionada recusa,
porque neste momento, consuma-se o prejuízo do portador.

O decurso do prazo para ação cambiária executória


corresponde ao termo inicial do prazo prescricional de 2 anos para ação de
enriquecimento sem causa, contra o emitente ou outros obrigados, que se
locupletaram com o não pagamento do cheque (lei de cheque, art. 61).

7. NOTA PROMISSÓRIA

7.1. Conceito de Nota Promissória

Nota Promissória é um título de crédito abstrato,


resultando em documento formal, decorrente de relação de crédito entre
duas pessoas, pela qual a designada emitente faz promessa de pagamento à
vista ou à prazo em tempo certo a outra pessoa denominada beneficiário.

7.2. Origem histórica da Nota Promissória.

A operação de câmbio na Idade Média originou o


surgimento da letra de câmbio e da “cautio”, um documento emitido por um
banqueiro em reconhecimento à dívida que contraíra junto ao mercador em
determinada cidade.
A “cautio” é apontada como o documento que originou a Nota Promissória.

7.3. Semelhanças e Diferenças entre a Nota Promissória e Letra de Câmbio.

Ambos são títulos abstratos, pois podem decorrer de


qualquer causa. Entretanto:

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a) A Nota Promissória encerra a promessa de pagamento, enquanto a Letra
de Câmbio nasce de uma ordem de pagamento dada pelo sacador, também
baseada de uma promessa de pagamento, se houver aceite.

b) A Nota Promissória só envolve duas pessoas, o emitente e o beneficiário,


enquanto a Letra de Câmbio compreende três figuras jurídicas, o sacador, o
sacado e o beneficiário TOMADOR.

NP(emitente devedor direto)=> credor beneficiário

LC (sacador devedor indireto) => tomador beneficiário => sacado

c) Não existe na NP o instituto do aceite, porque quem cria o título


reconhece dever e promete pagar. Enquanto na LC a promessa de
pagamento é objeto de aceite.

d) Na NP quem faz a declaração cambiaria necessária e originária é o


devedor direto e na LC tal declaração emana do sacador que é devedor
indireto.

e) A NP já nasce tendo devedor direto, mas, a LC pode não ter devedor


direto se o sacado não firma o aceite.

f) Na NP quem faz a cambiária necessária e originária é ao mesmo tempo


devedor direto e principal. Enquanto na LC o sacador é devedor indireto e
de regresso, tornando-se devedor principal apenas quando o sacado não dá
o aceite.

g) Na NP o emitente manifesta declaração cambiária originária e necessária,


mas, na LC o sacado faz declaração cambiária sucessiva e eventual.

h) Na NP o próprio emitente promete efetuar o pagamento, enquanto na LC


o sacador promete ao tomador/beneficiário que o sacado efetuará o
pagamento.

i) Na NP o aval é dado em favor do devedor direto (emitente), enquanto na


LC o avalizado é o devedor indireto (o sacador)

j) O portador da NP tem o direito de tirar cópias, mas não extraí-la com


pluralidades de exemplares (LUG. Art 67 e 68). Enquanto a LC pode ser
sacada por várias vias (LUG. Art 64 e 66), e o portador tem direito a tirar
cópias.

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l) Na NP o portador só tem direito de ação antes do vencimento, contra os
devedores indiretos, pela falência do emitente, enquanto a letra de câmbio
vence antecipadamente, em relação aos devedores indiretos também, por
recusa total ou parcial de aceite (LUG. Art. 43, I).

7.4. Requisitos essenciais da nota promissória

A NP é um documento formal. O art. 75 da LUG elenca os


requisitos extrínsecos essenciais e não essenciais que nela devem constar. O
título que faltar alguns dos requisitos essenciais, não produzirá efeito como
NP. (LUG art. 76, alínea, I, ou seja, o documento não é nulo, mas apenas
ineficaz, podendo ser complementado antes do protesto ou da ação
cambiária).

Os requisitos essenciais são os do art. 75 da LUG. Os


enumerados no art. 76, alíneas 2a a 4a, são aqueles cuja ausência não afeta
o documento.

a) Denominação:

A denominação do título corresponde à cláusula cambiária


por caracterizá-lo como título de crédito e determina a sua espécie,
permitindo que circule por endosso mesmo que não envolva a cláusula a
ordem.

b) Promessa de pagar quantia determinada:

A nota promissória tem natureza jurídica de promessa de


pagamento, por este motivo tal promessa é considerada como requisito
essencial do título. Esta promessa deve ter por objeto uma quantia
determinada. Refere-se a uma quantidade de dinheiro certa e exata.
Observa-se, entretanto, que a indicação no título de crédito para se calcular
a atualização da soma cambiária, como índices de correção monetária, não
retira a liquidez do título.

c) O nome do beneficiário:

Não se admite a NP ao portador para não prejudicar a


circulação da moeda emitida pelo poder público. Entretanto, admite-se o

39
endosso em branco e, nesta hipótese, o título pode circular por mera
tradição.

d) Data da emissão:

Trata-se de requisito essencial, em razão da importância


em se saber se o devedor, no momento da emissão tinha capacidade
jurídica para assumir obrigações cambiárias. (Decreto 2.044/1908, art. 42).
Se quem assina como mandatário do emitente tinha mandato com poderes
especiais, (LUG, art. 8o), o termo inicial da fluência dos juros
compensatórios, o vencimento da nota por tempo certo de data, (ex. 90 dias
da data de emissão).

e) Assinatura do emitente:

A emissão corresponde à declaração cambiária originária


por ser, na ordem cronológica natural de assunção de obrigações, a primeira
manifestação de vontade que se expressa na NP. Trata-se de declaração
cambiária necessária para que o documento produza efeitos como NP.

7.5. Requisitos supríveis

(Não anulam e nem o tornam ineficaz).

O art. 75 da LUG relaciona os requisitos essenciais e


supríveis da NP e o art. 76 da LUG identifica aqueles que a sua omissão não
afetam a eficácia do documento como NP. Os requisitos supríveis ou
acessórios são os abaixo relacionados:

a) Época do pagamento:

A NP que não contenha a data do vencimento, vence-se


contra a sua apresentação.

b) Lugar do pagamento:

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Não constando na NP o lugar do pagamento, este será o
lugar da emissão que se presume ser o lugar do domicilio do emitente da
NP.

c) Lugar de emissão:

Omitido o lugar de emissão da NP, considera-se que foi


emitida no lugar designado ao lado do nome do emitente. Ficou revogado a
norma do parágrafo 1o do art. 54 do Decreto 2044/1908 que conferia ao
portador mandato para inserir o lugar de emissão. Se não existir lugar
designado ao lado do emitente, o documento não produzirá efeito como NP
(art. 889, CC), prevalece a LUG por força do (art. 903 do CC).

Obs: A nota promissória a tempo certo de vista.

Dispensado, portanto, o aceite da nota promissória,


causou espécie a introdução, pela Lei Uniforme, da nota promissória com
vencimento a certo tempo de vista, que implica a apresentação ao emitente
para visa-la, a fim de que se conte o prazo de vencimento. Nesse sentido,
dispõe o mesmo art. 78 da Lei Uniforme, que o “termo de vista conta-se da
data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é
comprovada por um protesto (art. 25), cuja data serve de início ao termo de
vista”.

Fran Martins bem mostra que o visto da nota promissória,


a tempo certo de vista, não se confunde com o aceite: “Ora, as regalias
dadas ao sacador, aos endossantes e ao portador, quanto à fixação do início
da data do vencimento, se justificam porque a letra é uma ordem de
pagamento. E, naturalmente, sendo uma ordem, pode trazer quaisquer
imposições que só serão acatadas se o sacado com elas concordar”.

8. DUPLICATA

8.1. Conceito e Objetivos

Duplicata é título de crédito formal, impróprio, causal, à ordem,


extraído por vendedor ou prestador de serviços, objetivando documentar o
saque originado pela compra e venda mercantil ou prestação de serviços e
que tem como pressuposto a extração de fatura.

41
8.2. Natureza Jurídica da duplicata

É pacífico o entendimento da doutrina de que a duplicata não pode


ser considerada um título de crédito próprio, porque não consubstancia
operação de crédito.

A duplicata corresponde a um título de crédito impróprio ou imperfeito


porque tem natureza causal, visa documentar o saque pelo vendedor, não é
título cambiário, ou seja, não foi criado para circular, a legislação sobre
emissão e pagamento das letras de câmbio só se aplica, subsidiariamente à
duplicata, no que couber (LD art. 25).

8.3. Características

a) Não é título de crédito próprio porque não consubstancia operação de


crédito, sendo título de crédito impróprio por se assemelhar, por lei, aos
títulos de crédito.

b) Corresponde a documento formal. Tem que conter requisitos essenciais


(LD, art. 2o , par 1o ).

c) É título causal porque só pode decorrer de compra e venda mercantil ou


prestação de serviços (LD art. 2o e 20).

d) Deve conter, obrigatoriamente, cláusula à ordem. Não podendo ser


riscada ou substituída por cláusula não à ordem.

e) É título assemelhável aos títulos de crédito para fim de circulação por


endosso.

8.4. Noções Gerais – Lei 5.474/68, art. 25 (subsidiariamente pela legislação


especial sobre a Letra de Câmbio)

A duplicata é regulada pela lei específica e, no que


couber, aplica-se a esta o Decreto 57.663/66 – LUG, haja vista a
semelhança de estrutura entre os dois títulos e porque o legislador conferiu
à duplicata as garantias básicas de endossabilidade e de inoponibilidade de
exceção pelo devedor perante o terceiro de boa fé.

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Aplicam-se também a duplicata os diplomas legais que
estabelecem normas sobre títulos de crédito, como exemplo a lei n.
9.492/97, que define competência, regulamenta os serviços referentes ao
protesto de títulos e outros documentos de dívida.

As normas do Código Civil não se aplicam à duplicata, que


é regida por lei especial (art. 903 CC).

8.5. Semelhanças estruturais entre Duplicata e Letra de Câmbio:

a) Existência do ato cambiário do aceite, como declaração cambiária


sucessiva;

b) Ambos os títulos originam-se do ato cambiário do saque, como


declaração cambiária originária e necessária, resultando ordem de
pagamento à vista ou à tempo certo, dada pelo sacador ao sacado e assim,
a ausência da assinatura do sacador implica na não existência do
documento como letra de câmbio e duplicata.

8.6. Diferenças entre a Duplicata e a Letra de Câmbio:

a) a LC é título de crédito próprio e abstrato, mas a duplicata é título


impróprio e causal;
b) Na LC o aceite é facultativo, pode ser recusado e só pode ser dado
expressamente. Na duplicata, o aceite é obrigatório, porque só pode ser
recusado com base em uma das razões do art. 8o da Lei 5.474/68 e admite
sua configuração tacitamente.
c) Na LC o beneficiário ou tomador pode ser o sacador ou terceiro, mas na
duplicata o beneficiário só pode ser o sacador por se tratar de título causal.
d) A LC nasce da declaração cambiária manifestada por devedor indireto
(sacador), na duplicata o sacador não se torna devedor ao praticar o ato
cambiário do saque, porque só integrará a relação cambiária como devedor
indireto se coloca-la em circulação mediante endosso.
e) A letra de câmbio comporta três figuras jurídicas distintas, ou seja,
sacador, sacado e tomador. Mas a duplicata só existem duas figuras sacador
e sacado.
f) A LC pode ter vencimento à vista, com data certa, a tempo certo de data
e a tempo certo de vista. Entretanto, a duplicata só admite vencimento à
vista ou com data certa.

43
8.7. Extração da duplicata

A extração da duplicata é facultativa. Pode ser


convencionado no contrato de compra e venda, pela qual o vendedor se
obriga a não extrair duplicata, comprometendo-se o comprador, findo o
prazo concedido, a efetuar o pagamento mediante recibo na fatura ou por
outro documento que identifique a comprovação da quitação.

8.8. Venda para entrega futura

Não se admite a extração de duplicata na compra e venda


para entrega futura, porque o surgimento da fatura depende da existência
de venda efetiva, que se concretiza com a tradição da mercadoria.
8.9. Requisitos essenciais (art. 2o , p 1o da LD)
Na duplicata, diferentemente da letra de câmbio, Cheque
e NP, não existem os requisitos supríveis. Porém, o art. 24 da LD permite a
inserção no título de cláusulas adicionais desde que não afetem a sua
característica de documentar o saque pelo vendedor da importância faturada
ao comprador ou do saque pelo prestador de serviços pela importância
faturada a seu beneficiário.
8.9.1. Exame dos requisitos
a) denominação: deve ser denominado por DUPLICATA, por se tratar de
cláusula cambiária;
b) data de emissão: objetiva informar se o título foi extraído dentro do prazo
legal.
c) número de ordem: serve para determinar a quantidade de títulos
semelhantes extraídos pelo vendedor e para diferencia-lo dos demais títulos;
d) número da fatura: a duplicata é título causal e só poderá ser extraída em
decorrência de fatura que comprove a compra e venda mercantil ou a
prestação de serviços. A duplicata tem sua origem na fatura sem ser, no
entanto, sua cópia ou reprodução.

e) época do vencimento: sendo título causal, a duplicata só pode ter


vencimento com data certa ou à vista, não se admitindo, portanto,
vencimento a tempo certo de data ou a tempo certo de vista, como ocorre
na LC e na NP.
f) nome e domicílio do vendedor e do comprador: visam a identificar as
partes da compra e venda mercantil devendo o vendedor ser comerciante,
mas o comprador pode ser ou não, sem que o documento deixe de ter
natureza mercantil.

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g) importância a pagar: a duplicata só pode ser expressa em moeda
nacional, sob pena de nulidade, ainda mais que o vendedor e o comprador
devem ser domiciliados no Brasil.
h) praça do pagamento: visa identificar a cidade onde a duplicata deverá ser
paga e que normalmente corresponde ao domicílio do comprador. Mas isto
pode ser convencionado entre as partes.
i) cláusula à ordem: é cláusula importante para a transmissão da duplicata
por endosso, porque a LD não contém regra equivalente à da alínea 1a do
art. 11 da LUG, pela qual a cambial é transmissível por endosso mesmo que
não envolva a cláusula à ordem.
j) declaração do reconhecimento de exatidão da duplicata e da obrigação de
pagá-la: considerando que a duplicata é título causal, este requisito visa à
dação de aceite pelo sacado da duplicata e ao mencionar que a declaração
do reconhecimento da exatidão da duplicata e da obrigação de pagá-la deve
ser assinada pelo comprador, como aceite cambial, torna obrigatório o
aceite na duplicata, diferente do que ocorre com a LC, em que o aceite é ato
facultativo.
l) assinatura do emitente: a duplicata nasce com o ato cambiário do saque
pelo vendedor ou prestador de serviços. O saque corresponde a uma
declaração cambiária originária, porque é a primeira manifestação de
vontade que se consubstancia no título, dando vida à duplicata.

8.9. FATURA

Quando o prazo de pagamento, numa operação de


compra e venda mercantil, cujas partes tem domicílio no Brasil e for superior
a 30 dias contados da entrega da mercadoria, será obrigatória a extração de
fatura. Se inferior a 30 dias, a extração da fatura é facultativa.
O parágrafo 1o do art. 1o da Lei 5474/68 (Lei de
Duplicatas), dispõe sobre o conteúdo da fatura mercantil, determinando que
nela conste a discriminação das mercadorias vendidas. Nesta expressão
deve-se compreender também o preço, o prazo e o lugar de pagamento,
bem como o número da fatura que é requisito essencial da duplicata.
O pressuposto para extração da fatura é a celebração de
compra e venda mercantil. Assim a fatura deve refletir todos os elementos
da compra e venda.

45
9. CARTÃO DE CRÉDITO

Pelo contrato de cartão de crédito, uma instituição


financeira (emitente do cartão), responsável pela emissão do cartão, fica
obrigada perante o titular (pessoa física ou jurídica), a pagar o crédito
concedido a este por um terceiro (administradora do cartão).

Cartão de crédito é a comprovação perante o fornecedor,


da existência do contrato com a instituição financeira emissora, servindo
também para a extração da nota de comprovação da venda e outorga do
crédito dado pelo fornecedor.

O cartão de crédito é de vital importância para a


mobilização do crédito ao consumidor.

O valor das compras até o vencimento, deverá ser pago


sem acréscimo de qualquer espécie e a instituição financeira emitente,
repassará ao fornecedor o valor do pagamento.

Este contrato é um contrato bancário, uma vez que a


emissora financia tanto o titular como o fornecedor. O titular pode parcelar o
valor da compra, implicando em juros, comissões e correção monetária. Por
outro lado, o fornecedor pode negociar o seu recebimento antecipado,
pagando juros e encargos.

Ainda que o titular pague suas dívidas integralmente no


vencimento do cartão e o fornecedor não negocie a antecipação do valor
das notas de venda, o cartão de crédito estará operando uma intermediação
de recursos financeiros de natureza bancária.

O fornecedor não está obrigado a conceder crédito e o


consumidor não tem o direito de exigir o pagamento por cartão de crédito.
Podendo ainda o fornecedor, exigir valor mínimo para pagamento com esta
modalidade.

A empresa emissora poderá, até com base em cláusula contratual,


descredencia-lo ou cobrar-lhe multa. Entretanto, o consumidor nada poderá
reivindicar já que a concessão de crédito é prerrogativa do fornecedor.

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10. LETRA DE CÂMBIO

10.1. Conceito de Letra de Câmbio

A letra de câmbio é um título de crédito abstrato,


correspondendo a documento formal, decorrente de relação ou relações de
crédito, entre duas ou mais pessoas, pela qual a designada sacador, dá
ordem de pagamento pura e simples, à vista ou à prazo, a outra pessoa
denominada sacado, a seu favor ou de terceira pessoa chamada tomador ou
beneficiário.

10.2. Períodos históricos da Letra de Câmbio

A história da Letra de Câmbio se subdivide em quatro


períodos:

1- PERÍODO ITALIANO:

Neste período, onde surgiu a Letra de Câmbio, esta era


utilizada pelos mercadores das feiras, que entregavam em depósito bancário
moeda de certa espécie, estabelecendo-se a obrigação do banqueiro
pessoalmente ou por seu correspondente a entregar ao depositante ou
pessoa que o representasse, a quantia equivalente à moeda local do destino
deste. Nesta operação era elaborada uma Carta, onde constava a ordem de
pagamento ao depositante ou seu representante, em moeda local referente
ao destino deste último. Esta Carta é definida como a origem da Letra de
Câmbio, sendo certo que esta poderia ser levada em mãos pelo Depositante
ou entregue diretamente pelo banqueiro ao seu correspondente. Não era,
ainda, uma cambial moderna não representava uma operação de crédito,
mas sim, um instrumento de pagamento;

2- PERÍODO FRANCÊS:

Neste período, a Letra de Câmbio persistia a necessidade


de prévio depósito de fundos em mãos do sacado;

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3 - PERÍODO GERMÂNICO:

Neste período, a Letra de Câmbio adota as características


de títulos de crédito, sendo desvinculada de qualquer negócio anterior,
portanto, abstrata, o que faz surgir os princípios cartulares e a
inoponibilidade das exceções pessoais.

4 - PERÍODO UNIFORME:

Surge através da LUG.

OBS.:

a) ABSTRAÇÃO: não está vinculada a uma determinada causa;

b) FORMAL: deve observar os requisitos do artigo 2, c/c 1 da lug);

c) FIGURAS JURÍDICAS:

Sacador dá a ordem de pagamento ao Sacado, que recebe a ordem de


pagamento para aceite (Facultativo). Tomador ou Beneficiário é quem
recebe o pagamento do título;

d) INCONDICIONAL: não está sujeita à condição suspensiva ou resolutiva;

e) VENCIMENTO: à vista, dia certo, a tempo certo de data e a tempo certo


da vista.

10.3. Vencimento da Letra de Câmbio

10.3.1. À Vista

É aquela em que o vencimento se dá quando o título é


apresentado à pessoa a quem a ordem é dada, ou seja, o sacado. O
portador tem o prazo de 01 ano para apresentá-la (salvo, se houver

48
prolongamento, redução ou fixação diversa para o início desse prazo),
contados da emissão, sob pena de perder o direito de regresso em face do
sacador, endossantes e avalistas, permanecendo a obrigação em relação ao
aceitante. (53 da LUG). Pode, contudo, o portador mover ação ordinária, por
enriquecimento sem causa, em face do sacador.

10.3.2. À dia certo

Significa que no corpo do título estará especificada a data


exata do pagamento. No dia do vencimento, o título é apresentado ao
aceitante para pagamento, salvo se o dia do vencimento for domingo ou
feriado legal, em que a apresentação passará para o primeiro dia útil
posterior (72, LUG). O Governo adotou a reserva do artigo 5, do Anexo II,
em relação ao artigo 38, alínea 1ª, da LUG, de forma que o Decreto
2044/1908 vigora em seu artigo 28, ou seja, a apresentação deve ser feita
no primeiro dia útil. (Fran Martins considera que a Lei Uniforme está em
vigor e, portanto, seria de dois dias seguintes à data da apresentação)

10.3.3. À tempo certo de data

Artigo 33 da LUG determina que a Letra de Câmbio pode


ser passada a tempo certo de data e nesse caso o seu vencimento é
contado a partir da data de emissão do título.: Ex.: a tantos dias da data
desta letra de câmbio, pagará V. Sa.. Pode ser utilizado como parâmetro
semanas ou meses, sendo certo que, se não houver o dia correspondente,
considerar-se-á vencida no último dia do mês de pagamento. Ex.: o título foi
emitido em 31 de dezembro de 2002, para vencer-se em dois meses da
data. Mas dois meses depois de 31 de dezembro de 2002 seria 31 de
fevereiro de 2003. Como esse mês não tem o dia 31, considera-se o
vencimento no dia 28 ou 29, se ano bissexto.

10.3.4. À tempo certo de vista

O vencimento ocorrerá a partir de certo tempo da data da


apresentação ao sacado, quando este aceita o título.

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Ex.: “dois meses de vista”, quer dizer dois meses depois do aceite. Se o
sacado não aceitar, o vencimento se dará a partir do protesto. (LUG artigo
35).

10.4. Pressuposto para a criação da Letra de Câmbio:

O pressuposto para a criação da letra de câmbio é a


existência de direito de crédito de uma pessoa em relação à outra, e, com
base nesse direito o credor, como sacador, dá ordem de pagamento ao seu
devedor na relação causal (sacado), para que lhe pague a soma cambiária
no vencimento. Esta forma de saque da Letra de Câmbio está prevista na
alínea 1ª, do artigo 3 da LUG e, nessa hipótese, o sacador será também o
tomador.

1ª Situação:

Sacador e Tomador são as mesmas pessoas. Exemplo: A


é Locador de B num contrato de locação. B é devedor de A em relação aos
aluguéis. A saca uma letra de câmbio em seu favor, contra B. (artigo 3º,
aliena 1ª da LUG)

A B (Sacado)
(Sacador)
A (Tomador)

2ª Situação:

Sacador, Sacado e Tomador são as mesmas pessoas.


Exemplo: A precisa de financiamento e procura um banco. O banco, para
realizar a operação de desconto, pede para A sacar uma Letra de Câmbio e
transferi-la, por endosso, para o Banco. (artigo 3, alínea 2, da LUG)

A A (Sacado-aceitante)
(Sacador)

A (Tomador) B (Endossatário)

50
Obs. Essa hipótese não existe mais na prática, pois, se alguém precisa
realizar operação de desconto bancário, o devedor irá emitir uma nota
promissória.

3ª Situação:

Sacador, Sacado e Tomador são pessoas distintas.


Exemplo: A é Locatário de C num contrato de locação. B é devedor de A
referente a um empréstimo realizado. A saca uma letra de câmbio contra B,
para que este pague C. De uma só vez, o aluguel que é devido por A será
pago e a dívida que B tinha com A também se extingue. (artigo 3º, aliena
3ª, da LUG)

A B (Sacado)
(Sacador)

C (Tomador)

Obs.:

Não é pressuposto para criação da Letra de Câmbio a prévia provisão de


fundos pelo sacador, na data do vencimento, junto ao sacado, bastando que
seja titular de direito de crédito na relação fundamental que gera a criação
do título, uma vez que o Brasil adotou a reserva do Artigo 16 do Anexo II,
da LUG.

10.5. Requisitos da Letra de Câmbio

Os requisitos podem ser definidos em intrínsecos e


extrínsecos.

10.5.1. Requisitos intrínsecos

Os requisitos intrínsecos são aqueles pertinentes a


qualquer negócio jurídico, como capacidade, consentimento, forma e objeto
idôneo. A lei cambiária mitiga esse rigor que há no direito comum, porque,
por exemplo, a obrigação do avalista subsiste independente da obrigação do

51
avalizado, ainda que a obrigação deste seja nula; se o sacador da letra de
Câmbio é incapaz, mas o título é transferido por endosso, não poderá o
endossante alegar que não irá pagar em razão da incapacidade do sacador,
por força do princípio da autonomia das obrigações. (artigo 7º da LUG)

10.5.2. Requisitos extrínsecos

Os requisitos extrínsecos podem ser divididos em


essenciais e não essenciais.

10.5.2.1. Requisitos extrínsecos essenciais:

São aqueles que a LUG considera imprescindíveis para


que o documento valha como uma Letra de Câmbio, ou seja, não terá valor
cambiário, mas tão somente servirá de início de prova para o direito comum.
(artigos 2º da LUG c/c 888 do NCC/02).

O artigo 1º da LUG enumera os requisitos essenciais de uma Letra de


Câmbio, quais sejam:

Denominação “Letra de Câmbio” (artigo 1, alínea 1, da lug):

É a chamada cláusula cambiária, que faz distinguir um


título dos demais. È indispensável para sua validade e, segundo Luiz
Emygdio, poderá ser abreviada somente para “Letra”, porque, como já
falamos, houve erro de tradução e foi empregado na LUG somente o termo
“Letra”, mas, ao se pesquisar a intenção do legislador genebriano,
verificamos que o termo correto seria “Letra de Câmbio”. Como a nossa lei
trata somente de “Letra”, serão admissíveis os dois termos. A Lei Interna
(2044/1908) regulava a matéria de forma diversa, pugnando que seria
possível a inserção da expressão equivalente a “Letra de Câmbio”, o que,
pela LUG, não se admite. A expressão “Letra de Câmbio” deve estar inserida
no próprio texto da Letra de Câmbio e na língua em que foi dada a ordem
de pagamento;

52
2) Ordem incondicional de pagamento de quantia determinada:

A ordem de pagamento deve ser pura e simples, não


tendo lugar para a inserção de condições suspensivas ou resolutivas, pois,
estas cláusulas impediriam a circulação do título e violariam o princípio da
literalidade. A ordem de pagamento deve ser em quantia determinada, ou
seja, aquela que corresponda a uma soma de dinheiro. Diversamente da Lei
Interna (2044/1908), a LUG não exige que a soma seja descrita por
extenso, valendo a feita em algarismos, mas, ressalva a hipótese em que há
valores conflitativos, onde prevalecerá a quantia descrita por extenso, na
forma do artigo 6 da LUG. Entretanto, se no texto há diversas indicações,
seja por extenso seja por algarismos, com divergência de valores,
prevalecerá o de menor valor, ainda que se for em algarismo, conforme
artigo 6º, alínea 2ª da LUG.

Nome do sacado (artigo 1.°, alínea 3.ª LUG)

Deve estar contida o nome da pessoa, natural ou jurídica,


que irá pagar, ou seja, o sacado, que é a pessoa que recebe a ordem do
sacador de pagar o título, baseada na relação de crédito que há entre os
dois. O sacado somente se obriga cambiariamente quando aceita o título
(28, alínea 1ª, da LUG). Na verdade, o devedor cambiário direto é o
aceitante e não o sacado. Entretanto, muito embora não tenha aceito o
título, o sacado pode, no vencimento, sabedor que é devedor perante o
sacador, realizar o pagamento, ainda que não tenha aceitado, conforme
artigo 39, alínea 1ª da LUG. O nome do sacado pode ser abreviado se,
dessa forma, for possível a sua identificação. Também será possível que
conste o nome do sacado em qualquer lugar do anverso do título, não sendo
obrigatório que seja feita no texto. Se o sacado for incapaz absolutamente
deverá indicar o representante legal, ao passo que, no caso de sacado
relativamente incapaz deverá o aceite ter também a assinatura do seu
assistente. Pluralidade de sacados: Ocorre a pluralidade de sacados quando
várias pessoas são nomeadas sacadas pelo sacador. A LUG não trata da
hipótese, mas a Lei Interna (2044/1908) admite a hipótese nos artigos 10 e
20, § 2º. Havendo pluralidade de sacados, a apresentação deverá ser
sucessiva, ainda que os sacados tenham sido nomeados conjunta ou
alternativamente. Assim, o portador fará a apresentação ao primeiro sacado
e, se este não aceitar, será apresentado ao próximo sacado se este for
domiciliado na mesma praça.

53
Exemplo de Pluralidade de sacados:

A saca Letra de Câmbio a seu favor contra B, C e D. O


título será apresentado ao B e, se este não aceitar e C for domiciliado na
mesma praça, será apresentada a este, e assim , sucessivamente. Obs.:
Quando se fala em pluralidade de sacados em conjunto, seus nomes são
ligados pela partícula “e”: Bernardo, Bruno e Renata; Quando se fala em
pluralidade de sacados de forma alternativa, utiliza-se a conjunção “ou”:
Bernardo ou Bruno ou Renata.

4) Nome do Tomador ou à ordem de quem deve ser paga (LuG art. 1.°,
alínea 6):

A Letra de Câmbio chama quem irá receber o pagamento


do título de Tomador, Beneficiário ou credor.

O Artigo 11, alínea 1º informa que a Letra de Câmbio já


traz em seu bojo a Cláusula à ordem, portanto, será desnecessário que esta
esteja inscrita no título, viabilizando a sua transferência via endosso. Caso
seja inserida a cláusula não à ordem, a Letra só será transmissível mediante
cessão de crédito, conforme artigo 11, alínea 2ª, da LUG).

A Letra de Câmbio não pode ser sacada sem a indicação


do portador, pois, não pode ser criada ao portador, conforme determina a
LUG. Contudo, no caso de endosso em branco, ou seja, sem identificar a
pessoa do endossatário, a Letra de Câmbio circulará ao portador.

É POSSÍVEL A PLURALIDADE DE TOMADORES? A LUG


silencia, de forma que vigora o artigo 39 do Decreto 2044/1908. Para FRAN
MARTINS, será possível, desde que os tomadores sejam solidários. Assim, o
endosso praticado por um é de responsabilidade de todos e no direito
regressivo agindo o portador contra um deve esse responder pela totalidade
da dívida, subsistindo o benefício de divisão do montante em relação aos
demais tomadores solidários.

54
ATENÇÃO:

Fran Martins afirma que não pode ser permitido que tomadores sejam
disjuntos, ou seja, cada um é titular de parte do crédito, pois, em tal caso,
ao endossar a letra, far-se-ia apenas parcialmente, o que é vedado pela lug,
artigo 12, alínea 2, que veda o endosso parcial. contudo, se tal acontecer,
para que seja feito o endosso, será necessário que todos assinem, conforme
lição do próprio Fran Martins e do Prof. Luiz Emygdio.

A doutrina (FRAN MARTINS E LUIZ EMYGDIO) admite a


existência de TOMADORES ALTERNATIVOS (art. 39, § 1º, do Decreto
2044/1908) Ex.: Pague a A ou B.

Data do saque (LUG, art. 1º, Alínea 7, 1ª parte):

A data do saque é requisito essencial previsto na LUG,


sendo certo que o Decreto 2044/1908, não a considerava como requisito de
validade do título. O dia e o ano podem ser escritos em algarismos, mas o
mês deve ser por extenso. Várias conseqüências podem ser verificadas na
obrigatoriedade de ser essencial a data do saque, como por exemplo:
verificar se na data do saque o sacador tinha capacidade jurídica para
assumir obrigações cambiárias (artigo 42 do Decreto 2044/1908).

Obs.: Fran Martins admite que o mês seja escrito de forma abreviada e se
indicar uma data universalmente conhecida, como o natal e o dia de finados
(natal de 2003; finados de 2003). entretanto, se for data comemorativa
móvel (carnaval, semana santa) não será possível. também é inválida uma
data inexistente: 31 de novembro / 30 de fevereiro.

Assinatura do sacador: (LUG, Artigo 1.°, Alínea 8ª)

Foi objeto de reserva, ANEXO II, artigo 2º, de forma que


o Decreto 2044/1908, em seus artigos 1º, V, 8, Alínea 2º, artigo 11 e 14,
traz a possibilidade de o ato cambiário ser praticado por mandatário com
poderes especiais.

Não há previsão para identificação da assinatura do


sacador apenas pela impressão digital, por sinal particular ou a rogo. Assim,
o analfabeto, o cego e o enfermo devem, por instrumento público

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outorgarem poderes especiais, para que, através desta, a letra seja criada.
NÃO SE ADMITE INSTRUMENTO PARTICULAR, POIS, DEVE SER DE
PRÓPRIO PUNHO (654 DO NCC/02).

Fran Martins admite a possibilidade de a falta de


assinatura ser suprida pela chancela mecânica, com base na reserva
adotada pelo Brasil, ANEXO II, ARTIGO 2, por força da orientação dada pelo
Banco Central que permite tal hipótese para os cheques.

È possível que o sacador assine utilizando de seu


pseudômino, mas deverá ser de forma a garantir a plena identificação deste,
não sendo permitido, assim, que assine o pseudômino de forma abreviada,
donde ensejará dúvidas quanto ao legítimo sacador.

A LUG não indica em que parte da Letra deve ser posta a


assinatura do sacador, mas, recomenda-se que seja feita no anverso do
título, logo abaixo do contexto. Se o sacador for incapaz e se outra pessoa
capaz lança seu nome no título, posteriormente, fica responsável perante o
portador, em razão do princípio da autonomia das obrigações.

Saque:

É o ato cambiário pelo qual o sacador cria a letra de


câmbio e dá ordem de pagamento ao sacado, correspondendo a uma
obrigação originária (primeiro ato cambiário) e necessária (sem o saque,
não existe letra de Câmbio).

Sacador é devedor solidário e indireto (LUG, Artigos 9 e


53, Alínea 2ª): O sacado não é obrigado a aceitar a ordem emitida na Letra
de Câmbio, por isso, para que o portador não fique no prejuízo quando o
título não é transferido por endosso, o sacador será devedor indireto e
principal (quando o título não é aceito; se for aceito pelo sacado, ele será
devedor regressivo).

Na letra de cãmbio, se o sacado não aceita, não há


devedor direto, por isso, sempre será necessário o protesto em relação ao
sacador, salvo se o sacador inseriu a cláusula sem protesto, na medida em
que não perde a sua qualidade de devedor indireto. caso não seja aceita
pelo sacado, o portador do título pode exercer seu direito antes mesmo do

56
vencimento, caso seja comprovada a falta ou recusa, parcial ou total, do
aceite (LUG, art. 43, alínea 1 c/c 44, alínea 1ª).

10.5.2.2. Requisitos Extrínsecos Supríveis (não essenciais)

São aqueles que na sua ausência não afetam a validade


do documento da letra de câmbio, pois, a própria lei irá suprir a ausência
destes requisitos. Estão descritos no artigo 2º da LUG:

Época do Vencimento (lug, art. 2º, alínea 2ª):

Não contendo a Letra de Câmbio a época do vencimento,


será considerada como pagável à vista, ou seja, contra a sua apresentação.
São nulas as letras com vencimentos diferentes ou sucessivos, conforme
artigo 33, alínea 2ª da LUG.

EX.: não pode ser sacada letra de câmbio fixando-se valores parcelados:
uma letra no valor de R$ 50.000,00, em que se estipule que nos dias
10/02/03, 10/03/03, 10/04/03, 10/05/03 e 10/06/03, deverá ser pago
parcelas de R$ 10.000,00.

Lugar do pagamento (lug, artigo 2º, alínea 3ª):

Trata-se de requisito acessório, porque, se não constar da


letra de câmbio, a lei supre, considerando como sendo o lugar designado ao
lado do nome do sacado, que presume ser o lugar do seu domicílio.
Ademais, a apresentação da letra deve ser feita para aceite do sacado no
lugar de seu domicílio. (artigo 21 da LUG). LETRA DOMICILIADA: ARTIGO
27, ALÍNEA 1ª: Permite que o sacador indique o lugar do pagamento da
letra distinto do lugar do domicílio do sacado. Esta faculdade é privativa do
Sacador. O sacador, exercendo este direito, pode indicar uma terceira
pessoa que irá fazer o pagamento, mas, se não o fizer, o sacado pode
indicar a pessoa que irá fazer o pagamento. Contudo, se o sacador não
indica um terceiro para realizar o pagamento e o sacado, no momento do
aceite, não indica o terceiro, este último se obriga, ele próprio, a fazer o
pagamento em local diverso do seu domicílio.

57
Atenção: o terceiro nomeado pelo sacador ou pelo sacado não assume
responsabilidade cambiária e tampouco deve receber o título para
apresentação.

Lugar do Saque (artigo 2º, alínea 4ª):

Sendo omisso o lugar do saque, considera-se que a letra


foi sacada no lugar designado ao lado do nome do sacador.

O STF Considera ainda vigente o artigo 54, § 1º do


Decreto 2044/1908, de forma que, em sendo omisso o local ao lado do
nome do sacador, não será caso de nulidade do título, porque, segundo o
Decreto 2044/1908, o portador poderá inserir o local do saque.

11. CAPACIDADE CAMBIÁRIA:

A capacidade cambiária pode ser dividida em ativa e


passiva. A Capacidade cambiária ativa consiste na possibilidade de se tornar
titular de direitos cambiários, sendo, portanto, válida a aquisição de direitos
pelo incapaz, ou ainda, que este possa fazer a apresentação da Letra de
Câmbio para aceite.

A capacidade cambiária passiva consiste na possibilidade


de assumir obrigações cambiárias, merecendo um melhor destaque, como
adverte o Professor Luiz Emygdio.

A matéria está regulada pelo Decreto 2044/1908, por ter


sido silente a LUG, nesse aspecto. O artigo 42 reza que para se obrigar
cambiariamente o devedor deverá ter capacidade, entendo-se, capacidade
como a de direito civil.

Com relação ao estrangeiro, esse terá capacidade


conforme a lei brasileira e não pela do seu país de origem, ainda que seja,
naquele local, considerado incapaz.

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A mulher casada possui plena capacidade, não mais
subsistindo a necessidade de autorização marital para praticar qualquer ato
cambiário. Com relação ao mandato, aquele que assumir obrigação
cambiária em nome de outrem, deve estar munido de poderes especiais
outorgados pelo representado, além de ter capacidade jurídica para a
assunção desta obrigação.

Também, o mandatário deverá indicar no título que


assumirá a obrigação em nome de outrem através de mandato e, no
momento em que o título for apresentado para pagamento deverá exibir a
procuração, sob pena de, inobservadas as condições acima elencadas, de
responder pessoalmente pela cambial.

11.1. Assinatura falsa, falsificada, alteração pessoa fictícia ou incapaz:

1) Falsidade de assinatura: trata-se de fraude originária, uma vez que a


assinatura não foi lançada por seu titular.

Obs.: O Beneficiário tem responsabilidade cambiária perante o portador.

2) Falsificação da Assinatura: É fraude sucessiva, se for após a assinatura


verdadeira do titular, a assinatura é modificada por terceiro.

3) Pessoa fictícia e incapaz: No caso de pessoa fictícia ou inexistente e de


incapaz, esses não assumirão responsabilidade cambiária. As duas hipóteses
induzem a erro os demais obrigados e o portador do título.

11.1.1. Conseqüências da incapacidade, falsidade e falsificação:

Apesar do vício em uma assinatura, as demais obrigações


permanecem válidas, em razão do princípio da autonomia das obrigações e
da teoria da aparência, pela qual, para maior segurança dos atos jurídicos, a
aparência deve se sobrepor à realidade.

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A pessoa cuja assinatura aparece no título, seja por
falsidade, falsificação, por ser incapaz, não tem responsabilidade cambiária
perante qualquer portador do título, ainda que este esteja de boa-fé.

Qualquer devedor que se enquadre na hipótese do artigo


7º da LUG poderá invocar o vício perante qualquer portador, pelo simples
fato de não ter assumido obrigação cambiária.

Vício existente em uma das assinaturas da cadeia de


endossos não contamina as demais, conforme LUG, artigo 16.

A obrigação do avalista permanece ainda que nula a


obrigação do avalisado, salvo se decorrente de vício de forma, nos termos
do artigo 32, alínea 2º.

O ônus da prova cabe ao devedor.

11.2. Alteração:

Consiste na modificação de uma declaração cambiária,


ressalvada a assinatura, podendo ser lícita ou ilícita.

Será lícita quando for realizada pelo próprio titular da


declaração cambiária, visando corrigir uma menção equivocada. De outra
sorte, será ilícita quando for emanada com objetivo fraudulento, visando
obter vantagem ilícita.

Conforme artigo 69 da lug, a alteração feita obriga os


coobrigados posteriores, enquanto os anteriores se obrigam pelo texto
original. Portanto, deve-se ficar atento ao momento em que ocorreu a
alteração: se o sacador alterou o texto, estarão todos obrigados, pois, o
saque é uma declaração original; se a alteração foi feita depois do aceite,
então, o aceitante não se obrigará pela alteração, somente pelo texto
original; O avalista será responsável pela alteração dependendo do
momento em que foi feita a alteração em relação ao seu avalizado; o

60
endossante será responsável pela alteração dependendo do momento em
que esta foi feita.

OBS.: Vide artigos 297 e 302 do Código Penal.

11.3 Aceite:

Na Letra de Câmbio, o sacador dá uma ordem de


pagamento incondicional para o sacado realizar o pagamento em favor do
beneficiário. Ocorre que, neste título, o aceite não é obrigatório. Assim, o
sacado, apesar de existir uma relação de crédito entre este e o sacador,
pode recusar-se a aceitar a Letra de Câmbio.

Se o sacado aceita o título, praticará uma declaração


cambiária denominada aceite. Será com o aceite que o sacado se tornará
devedor cambiário. Até então, sendo mero sacado, nada poderia lhe ser
exigido, porque, na verdade, o sacado não é devedor cambiário, até que
faça o aceite. Nesse momento, o aceitante, será o devedor cambiário
principal e direto, podendo lhe ser exigido o pagamento do título
independentemente do protesto.

O ato cambiário denominado de aceite é ato formal, pois


somente pode ser feito no título. Será abstrato, na medida em que
desvinculado da relação original, será ainda, um ato de declaração unilateral
de vontade.

OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO:

12. CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT

12.1. Conceito

Esses títulos de crédito especiais, têm como finalidade a


mobilização dos créditos referentes a guarda e conservação de mercadorias
em armazéns gerais, que são organizações destinadas a dar suporte ao
comércio, lavoura e indústria. O conhecimento de depósito e warrant tem o
precípuo objetivo de mobilizar os créditos neles inclusos.

61
12.2 Operação

Ao depositar mercadorias nos armazéns, seja porque


delas não necessita no momento, ou porque pretenda aguardar melhor
preço e condição o dono das mercadorias adquire dois títulos que não
nascem separadamente, ou seja, sempre são emitidos, necessariamente, em
conjunto.

Quando o depositante entrega suas mercadorias para


guardar no armazém, este emite recibo especificando quantidade,
características, medida, peso e origem da mercadoria. Entretanto, se preferir
mobilizar o crédito referente ‘as mercadorias depositadas, poderá solicitar ao
armazém, a expedição de conhecimento de depósito e warrant, devolvendo
o recibo de depósito àquele armazém.

12.3 Natureza e função

O Conhecimento de Depósito e Warrant tem natureza e


função diferentes e apesar de somente nascerem, necessariamente unidos,
quando em posse do dono das mercadorias e/ou produtos, podem ser
destacados, uma vez que o conhecimento de depósito é relativo ao direito
de propriedade sobre as mercadorias e o warrant significa o crédito e valor
das mesmas.

Pode cada um dos títulos ser negociado separadamente e


transferir, por endosso, o direito nele contido, ou seja, o comerciante pode
negociar o conhecimento de depósito, transferindo a propriedade das
mercadorias depositadas para o cessionário, caso contrário, poderá
transferir apenas o warrant, conservando a propriedade das mesmas para
ele.

Somente quando o warrant é destacado do


conhecimento, é efetivamente emitido como título de crédito.

No primeiro endosso deve ser declarada a importância do


crédito, taxa dos juros e a data do vencimento, que são transcritas no
conhecimento de depósito, essas declarações deverão ser assinadas pelos
endossatários do warrant.

62
12.4. Retirada da mercadoria

A mercadoria depositada, somente será retirada do


armazém geral com a entrega do conhecimento de depósito e do warrant
correspondente, liberado pelo pagamento do principal e juros da dívida, se
couber.

A retirada da mercadoria antes do vencimento é facultada


a quem portar o conhecimento de depósito, que poderá retirar a mercadoria
antes do vencimento da dívida que consta no warrant, se consignar no
armazém o principal e os juros até o vencimento.

12.5 Conclusão

O conhecimento de depósito é um título de representação


ou legitimação. Representa a própria mercadoria e o portador é seu legítimo
proprietário.

O warrant é um título de crédito causal e tem significado


de uma promessa de pagamento e é orientado pelas normas gerais da NP,
quanto sua criação, vinculação e pagamento.

13. CONHECIMENTO DE TRANSPORTE

13.1. Conceituação e disposições gerais

O Conhecimento de Transporte surgiu pela necessidade


de se registrar o recebimento da mercadoria pelo transportador para
entrega ao destinatário. Mais tarde este recibo tornou-se um título de
crédito, representando a mercadoria transportada. Podendo, inclusive,
circular por endosso.

O Conhecimento de Transporte é, antes de mais nada,


prova do recebimento da mercadoria e a obrigação de entregá-la no lugar
de destino.

63
A responsabilidade do transportador é ilimitada, não
sendo possível a inserção de qualquer cláusula excludente ou limitativa
desta responsabilidade. (contrato de transporte arts. 730 a 756 do CC).

Para garantir a possibilidade do negócio e a circulação do


conhecimento de transporte como título de crédito, o artigo 8.° do Decreto
19.473/1930, orienta que se traditado o Conhecimento de Transporte ao
consignatário, ao endossatário ou ao portador, fica a mercadoria a ele
referente, imune ao arresto, sequestro, penhora, arrecadação ou qualquer
outro gravame, seja por dívida, falência ou causa estranha ao próprio dono
do título. Exceto quando houver comprovação de má fé.

Em verdade a regra ditada pelo decreto 19.473/1930,


coaduna-se perfeitamente com a regra da inoponibilidade das exceções ao
terceiro de boa-fé. Porém o Conhecimento de Tansportes está sujeito às
medidas judiciais por motivo que diga respeito ao dono atual, equivalendo a
apreensão do conhecimento ao da própria mercadoria.

13.2. Transferência por endosso

O endosso, seja qual for a sua forma, transfere a


propriedade da mercadoria ao último endossatário.

O Conhecimento de Transporte segue as orientações


gerais dadas aos títulos de crédito.

Desta forma se aplicam ao Conhecimento de Transporte


as regras afetas a circulação por endosso, o qual pode ser em preto ou em
branco, podendo ainda Ter efeito de mandato, penhor ou garantia. Assim o
endossatário passa a credor pgnoratício do endossante, tendo como objeto
a mercadoria representada pelo título.

As regras do direito cambiário se aplicam


subsidiariamente ao Conhecimento de Transporte, desde que não conflitem
com suas características particulares.

64
13.3. Requisitos essenciais

O Conhecimento de Transporte é um documento formal e


tem como requisitos para sua emissão:

a) Nome ou denominação do emissor;

b) Número de ordem;

c) Data;

d) Nome dos remetentes e do signatário;

e) Lugar da partida e do destino;

f) Especificação da mercadoria;

g) Valor do frete, a forma e local de pagamento;

h) Assinatura do empresário ou seu representante.

13.4. Conhecimento de Transporte Aéreo

Sem revogar o Decreto 19.473, a Lei 7.565/86 (Código


Brasileiro de Aeronáutica), no seu artigo 235, deu caráter especial ao
Conhecimento Aéreo no que concerne à adaptações ao transporte aéreo.

Desta maneira o Conhecimento Aéreo deve obedecer aos


seguintes requisitos:

a) Ser emitido em 3 vias;

b) O transportador deverá exigir o Conhecimento Aéreo do expedidor das


mercadorias. Porém se a expedição for feita pelo próprio transportador, esta
expedição será considerada como que por outorga do expedidor das
mercadorias;

65
c) O lugar e data de emissão;

d) Os locais de partida e destino;

e) Nome e endereço do expedidor, do transportador e do destinatário;

f) A natureza da carga (perecíveis, explosiva, etc..);

g) A especificação da carga (dimensão, volume, peso, quantidade)

h) Numeração dos volumes

i) Preço e importância das despesas;

j) Número das vias do Conhecimento e rol de documentos anexos;

k) Prazo de entrega e retirada (presume-se que o contrato se expira com o


recebimento da carga).

13.5. Conhecimento de Transporte Marítimo

O Código Comercial, mesmo após a reforma provocada


pela Lei 10.406/2002, conservou o que dispõe o seu artigo 575, quanto aos
requisitos para a expedição do Conhecimento Marítimo, que deverá ser
datado e declarar:

a) O nome do Capitão, do carregador e do signatário. (podendo-se omitir o


nome do signatário se for à ordem), bem como o nome e o porte do navio;

b) a qualidade, quantidade e marca dos objetos;

c) O lugar da partida e do destino, inclusive com declaração das escalas se


houverem;

d) O preço do contrato de frete e o lugar e forma de pagamento;

e) Assinatura do capitão e do carregador.

66
13.6. Conhecimento de Transporte Multimodal de Carga

É o transporte regulamentado por um único contrato,


utiliza duas ou mais formas de transportes (aéreo, naval, ferroviário,
rodoviário, ...).

A operação é totalmente sob responsabilidade de um


operador de transporte multimodal, podendo este, segundo as orientações
do Ministério dos Transportes ou da pasta a que tiver subordinado,
dependendo da estrutura ministerial montada pelo governo, atuar nos
segmentos nacionais e internacionais, por sí só ou por intermediação de
terceiros.

Cabe ao operador a emissão deste Conhecimento de


Transporte, que agrega todas as condições do Contrato de Transporte
Multimodal de Carga, desde o recebimento da carga até sua entrega no
destino.

A materialização do Contrato Multimodal de Carga se dá


com a entrega no destino e o respectivo recebimento, o que nas palavras de
Rubens Requião quer significar que se trate de contrato de natureza real.

O conhecimento de Transporte Multimodal poderá ser


negociado a critério do expedidor.

Os requisitos para emissão do referido conhecimento são:

O valor dos serviços prestados;

Cláusula definindo se o conhecimento poderá ser negociável;

Nome, denominação e endereço do expedidor, do destinatário ou de quem


deva ser notificado se o Conhecimento não for nominal;

Local, data de emissão e local de origem e destino;

Natureza, descrição, marcas, tipo de acondicionamento, identificação da


embalagem e da carga, quando não embalada;

Quantidade e peso da carga;

67
Valor do frete e forma e momento do pagamento se na origem ou no
destino;

Demais condições de interesse das partes.

Observações:

1) O Conhecimento de Transporte Multimodal só pode ser negociado na via


original, podendo ser ao portador;

2) Se a emissão do Conhecimento e a operação de entrega da carga forem


realizadas sem os requisitos previstos na Lei, o operador assumirá a total
responsabilidade de executar os serviços de transporte multimodal por sua
conta ou com o auxílio de terceiros, conforme previsto no contrato. Além de
suportar todo o ônus decorrente da perda, danos e avarias sofridos pela
carga. Ainda será de sua responsabilidade os prejuízos pelo atraso na
entrega quando houver disposição contratual. Existem causas de isenção de
responsabilidade do operador (art. 16 da Lei 9.611/98).

3) Prescrevem em um ano, contado da data da entrega da mercadoria no


destino, o prazo para ações judiciais pelo não cumprimento do
Conhecimento de Transporte Multimodal.

Relativamente ao regime de responsabilidades no


Transporte Multimodal, estabelece a Lei 9.611/98 que, por ocasião da
emissão do Conhecimento, o Operador de Transporte Multimodal assume,
perante o contratante, a responsabilidade:

Pela execução dos serviços de transporte da origem ao destino;

pelos prejuízos resultantes de perdas e danos ou avarias de cargas sob sua


custódia, bem como pelos atrasos, quando tiver prazo acordado;

pelas ações e omissões de seus empregados, prepostos, ou terceiros


contratados ou subcontratados, ressalvado, nesse caso, o direito de
regresso.

68
Esta responsabilidade cessa quando do recebimento da
carga pelo destinatário. Estabelece, ainda, a responsabilidade solidária do
transportador específico. Prevê também que o OTM e qualquer
subcontratado para o referido serviço são responsáveis solidariamente
perante a Fazenda Nacional, pelo crédito tributário exigível, cabendo ao
OTM direito de regresso.

Entretanto, o art. 16 da lei nº 9.611/98 exclui a


responsabilidade do Operador de Transporte Multimodal em razão de:

Ato ou fato imputável ao expedidor ou destinatário da carga;

Inadequação da embalagem, quando imputável ao expedidor da carga;

Vício próprio ou da carga;

Caso fortuito e força maior. Além disso, o art. 17 limita o valor da


indenização ao valor declarado pelo proprietário da carga, e limita o valor
das perdas e danos por atraso ao valor total do frete.

Dadas essas hipóteses excludentes de responsabilidade


do OTM brasileiro, somadas ao estabelecimento de prazos prescricionais
reduzidos para propositura de ação contra o OTM - um ano da entrega, ou
90 dias da data em deveria ter ocorrido a entrega, (art. 22), a lei 9.611
recebeu críticas por parte de nossos vizinhos do Mercosul, que a reputam
protecionista.

14. TÍTULO DE CRÉDITO INDUSTRIAL

Após a instituição do regime militar, decorrente da revolução de


1964, o governo tentou organizar a economia do país, difundindo a
continuidade do desenvolvimento econômico. Para tanto formatou legislação
sobre a organização do crédito rural e imobiliário, instituindo títulos de
crédito especiais, como o sistema de crédito industrial.

Desta forma são dois os títulos de crédito industrial: a Cédula de


Crédito Industrial que representa uma promessa de pagamento, com
garantia real que poderá ser instituída pala forma de penhor, alienação
fiduciária ou hipoteca e a Nota de Crédito Industrial, sendo esta uma
promessa de pagamento em dinheiro, sem garantia real.

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15. TÍTULO DE CRÉDITO COMERCIAL

As pessoas jurídicas comerciais, prestadoras de serviços e as


pessoas físicas que desempenhem essas atividades podem substituir o uso
de notas promissórias e duplicatas, por estes títulos de crédito para
operações de curto prazo.

As características dos títulos são idênticas às das Cédulas de


Crédito Industrial e Rural, sendo que a Cédula de Crédito Comercial tem
garantia real e as Notas de Crédito Comercial não possuirão garantias reais.

16. TÍTULOS DE GARANTIA IMOBILIÁRIA

Com a forte crise habitacional no início dos anos 60, o Governo


se viu obrigado a criar e executar política habitacional visando também
estimular a economia nacional.

As letras imobiliárias constituem promessas de pagamento e


tem seu valor monetário corrigido em função das alterações do salário
mínimo. Sua transferência ocorre apenas pela cessão cível, já que sua
transferência por endosso não tem efeitos cambiários e são títulos cotáveis
em Bolsa.

17. LETRA HIPOTECÁRIA

As instituições financeiras, autorizadas a conceder créditos


hipotecários, podem sacar letras da mesma espécie garantidas por créditos
hipotecários, representando direito de crédito pelo valor nominal,
atualização monetária e juros nela estipulados.

A letra hipotecária poderá ser emitida sob a forma nominativa e


endossável.

As letras hipotecárias poderão contar com a garantia


fidejussória adicional de instituição financeira.

A letra hipotecária poderá ser garantida por um ou mais créditos


hipotecários. Porém a soma do principal das letras hipotecárias emitidas não

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poderá exceder o valor total dos créditos hipotecários em poder da
instituição emissora.

O endossante da letra hipotecária responderá pela veracidade


do título, mas contra ele não será admitido direito de cobrança regressiva.

18. CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO

Seguem a disciplina das notas promissórias e podem circular por


endosso, sendo duas as suas espécies: Certificado de depósito bancário
simples e certificado de depósito bancário em garantia.

A Lei 4.728 (mercado de capitais), regulamentada pela


resolução n.º 105 do Banco Central do Brasil, autorizou que os bancos
comerciais, recebessem de pessoas físicas e jurídicas, depósitos a prazo fixo
com cláusula de correção monetária e emitissem certificados de depósito
nominativos.

Esses títulos são similares às notas promissórias por força de lei


e, portanto endossáveis. O endossante responde apenas pela existência do
crédito, mas não pelo seu pagamento.

O certificado de depósito em garantia só pode ser emitido pelos


bancos de investimento, quando previamente autorizados pelo Banco
Central.

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19. TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL

São títulos de financiamento rural: a cédula rural pignoratícia, a


cédula rural hipotecária, a cédula rural pignoratícia e hipotecária e a nota de
crédito rural. Estes títulos têm como objetivo exclusivo o financiamento da
atividade de propriedades rurais.

São promessas de pagamento em dinheiro que podem ser


asseguradas por garantia real e assim, o próprio título incorpora a garantia
pignoratícia ou hipotecária, frente ao crédito resultante do financiamento,
cujo pagamento é prometido no título.

Cédula Rural Pignoratícia

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A cédula rural pignoratícia é identificada pelo fato de que o
crédito é incorporado no título com garantia de penhor rural ou de penhor
mercantil. O devedor será sempre um agricultor ou pecuarista e a garantia
poderá ser de bens móveis ligados a atividade rural ou comercial.

Cédula Rural Hipotecária

Na definição de Azevedo Marques hipoteca é um direito real


criado para assegurar a eficácia de um direito pessoal. Como todo direito
real, a hipoteca tem um caráter absoluto, vigorando contra todos (erga
omnes) e acompanhando a coisa pelas mutações por que passa. Daí o
direito do credor penhorar o imóvel em poder de quem quer que o detenha
e faze-lo vender – é a seqüela.

A cédula rural hipotecária ou hipoteca cedular, incorpora e


representa não só o crédito, como também a garantia hipotecária, tanto que
de seus requisitos consta a descrição do imóvel.

Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária

A garantia oferecida pelo emitente do título pode ser


representada tanto por bens móveis como imóveis, consolidando dupla
garantia cedular. A estes títulos se aplicam os preceitos relativos aos
anteriormente estudados.

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