Sei sulla pagina 1di 2

Quarenta anos depois a Guerra dos Seis Dias continua a fazer estragos

05.06.2007, Jorge Almeida Fernandes


A gesta de 1967 foi vivida em Israel como um milagre. Hoje é encarada como um desastre político. Mudou a face do
Médio Oriente, mas originou muitas tragédias
Na manhã de 5 de Junho de 1967, em pouco menos de duas horas, a aviação israelita ganhou a Guerra dos Seis Dias, um conflito que
mudou o quadro político do Médio Oriente, a identidade israelita e a identidade árabe. Quarenta anos depois a região vive ainda os efeitos
de 1967. Terá sido uma guerra que nenhuma das partes desejou, embora ambas a considerassem inevitável.
O Presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, colocara Israel perante um dilema. Deu muitos sinais de querer fazer a guerra, embora tudo
indique que pretendia derrotar Israel sem combater ou, em caso limite, forçá-lo a atacar primeiro, numa "agressão" que isolaria Telavive
e permitiria aos árabes uma guerra longa de asfixia.
Ao longo de três semanas, a tensão foi crescendo até atingir um nível insuportável. Os Seis Dias deixaram o mundo atónito, a começar por
israelitas e árabes. No entanto, há muito que os generais israelitas se preparavam para a eventualidade desta guerra. Dada a desproporção
entre a "massa árabe" e o "pequeno Israel" e a falta de profundidade estratégica do seu território, o comando militar israelita, então
chefiado por Yitzhak Rabin, concentrou-se na necessidade de um ataque preventivo para neutralizar a moderna aviação egípcia, fornecida
e supervisionada pelos soviéticos.
Há anedotas a alimentar a mitologia. A Mossad conseguiu a proeza inaudita de obter, "para estudo", um Mig 21 iraquiano, organizando a
deserção do piloto por uma agente, numa história rocambolesca. Os serviços de informação militar conheciam os nomes e rotinas dos
pilotos egípcios, e de todos os seus chefes, tal como as suas tácticas de combate. Treinavam exaustivamente as técnicas de voo rasante,
para fugir aos radares.
A hora escolhida para o ataque decorre da competência dos seus serviços de informação. Os egípcios começavam a vigilância às quatro da
manhã e as tripulações deixavam os aviões às 7h30 para tomar o pequeno-almoço. Em lugar do clássico ataque de madrugada,
escolheram as 7h45. Lançaram quase todos os aparelhos em acção - desguarnecendo Israel - e, 45 minutos depois, a aviação egípcia
estava praticamente destruída e as pistas inutilizadas. E a guerra decidida.
O êxito israelita, vivido como "milagre", deve-se a muitos factores: superioridade de comando, disciplina, motivação das tropas e
informação. O Tsahal - Forças de Defesa Israelitas - saiu da guerra com o prestígio da invencibilidade.
"Comédia de enganos"
Os Seis Dias foram "quase uma comédia de enganos", observou um antigo diplomata israelita. Conhece-se relativamente bem o lado de
Israel mas ainda muito mal o lado árabe. Conhece-se, assim, "metade da história".
Dois historiadores israelitas, Isabella Ginor e Gideon Remez, publicaram um livro (Foxbats over Dimona) que atribui aos soviéticos a
iniciativa de provocar a guerra com o objectivo de poderem destruir a central nuclear de Dimona. A maioria dos historiadores diz não
haver provas. Provada parece a vontade de Moscovo em provocar uma escalada de tensão para reforçar a implantação nos países árabes.
Um dos momentos de arranque da crise é a informação passada ao Egipto de que Israel estava a concentrar tropas na fronteira síria para
atacar o seu regime pró-soviético.
Nasser foi estimulado por Moscovo mas era prisioneiro da sua própria popularidade nas massas árabes. Líder incontestado, mas em
declínio, do nacionalismo pan-árabe, tinha em Israel o melhor instrumento de mobilização. Criou duas situações de casus belli, uma ao
fazer entrar tropas no Sinai, como resposta à alegada ameaça à Síria, e depois ao pedir a retirada dos capacetes azuis do Sinai.
É outro momento da "comédia de enganos". Furioso, o secretário-geral da ONU, U Thant, colocou publicamente Nasser perante a
alternativa de deixar todos os capacetes azuis ou todos retirar, inclusive os de Sharm el-Sheikh, que garantiam o acesso de Israel ao
estreito de Tiran. É o próprio Yitzhak Rabin quem explica que este "erro" de U Thant é o ponto de viragem que torna a guerra inevitável:
Nasser não podia perder a face, teve de exigir a retirada total e, a seguir, fechar o estreito a Israel, desencadeando uma engrenagem
irreversível. Israel não podia tolerar o bloqueio do porto de Eilat e uma situação de fraqueza de consequências catastróficas.
Catástrofe israelita
A euforia que a dimensão e a "facilidade" do triunfo militar criou em Israel vai conduzir a uma derrota diplomática e a um desastre
político. O Tsahal não fez a guerra para conquistar territórios mas para destruir o exército egípcio. Tudo muda ainda antes do cessar-fogo.
Há uma imediata pergunta: onde parar? E depois: que fazer com os territórios ocupados e quase um milhão de palestinianos?
São evocados logo nesses dias os argumentos de hoje, em favor da ocupação ou da retirada. Há consciência do risco demográfico: ver
Israel afogado a prazo por uma maioria árabe. Se uns defendem a conservação dos territórios como moeda de troca para uma futura paz
com os árabes, outros vão derivar rapidamente para o messianismo conquistador do Grande Israel. "Continuamos em 1967: o mesmo
problema, os mesmo debates", diz o historiador Tom Segev.
Israel vai tornar-se uma potência ocupante. Passada a admiração internacional pela gesta dos Seis Dias, crescem o anti-sionismo e o
apoio à causa palestiniana. A ocupação recoloca os palestinianos no centro do tabuleiro. Israel vai não só conhecer novas eras de
terrorismo como vai mudar por dentro. Encerra-se a era do socialismo e dos kibbutzim, emerge o nacionalismo religioso. A sociedade
dilacera-se.
"Quarenta anos depois da Guerra dos Seis Dias, o que predomina é um sentimento de desastre. Pode discutir-se ao infinito sobre a
questão de saber se foi uma ocasião de paz. Se foi esse o caso, é então ainda mais cruel a impressão de uma oportunidade perdida",
lamenta o jornalista Nahuma Barnea.

Cronologia
05.06.2007
Seis dias que mudaram o Médio Oriente
1956
Após a crise do Suez, os israelitas retiram-se do território egípcio, mas o Sinai é desmilitarizado e capacetes azuis da ONU asseguram o
cessar-fogo, a liberdade de navegação no golfo de Aqaba e o acesso ao porto israelita da Eilat (Mar Vermelho)

1967
Antes da guerra
7 Abril - Batalha aérea sobre o lago de Tiberíades. Os israelitas abatem seis Mig sírios
29 Abril - Moscovo avisa o Egipto de que Israel concentra forças no Norte para atacar a Síria. Israel desmente
14 Maio - O Egipto envia forças para o Sinai, a pretexto da ameaça israelita à Síria, e coloca o exército em alerta máximo, seguido da Síria,
Jordânia e Iraque
16 Maio - Nasser exige a retirada dos capacetes azuis de Sharm el-Sheikh. O Tsahal (Forças de Defesa de Israel) decreta alerta geral
19 Maio - A ONU decide retirar-se de todo o Sinai. Israel inicia a mobilização dos reservistas
22 Maio - Nasser encerra o estreito de Tiran aos navios israelitas, bloqueando Eilat. Yithzak Rabin pressiona o Governo a lançar um
ataque preventivo contra o Egipto
30 Maio - A Jordânia coloca o seu exército sob comando egípcio
1 de Junho - Governo de união nacional em Israel. Moshe Dayan assume a Defesa
Seis Dias
5 Junho - Às 07h45, a aviação israelita ataca os aeródromos egípcios e destrói a sua aviação. Forças blindadas e de infantaria invadem o
Sinai. Jordanos bombardeiam Jerusalém Ocidental. Combates aéreos com a Síria
6 Junho - Avanço israelita no Sinai e invasão da Cisjordânia
7 Junho - Grande batalha de blindados no Sinai. A Legião Árabe jordana bombardeia bairros judaicos de Jerusalém. Numa ofensiva
fulminante, os israelitas ocupam Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. O Conselho de Segurança da ONU ordena um
cessar-fogo, que a Jordânia aceita
8 Junho - As colunas israelitas chegam ao Canal do Suez. O Egipto capitula e aceita o cessar-fogo da ONU, logo seguido por Damasco
9 Junho - A pretexto de bombardeamentos sírios, o Tsahal ocupa os Montes Golã (Síria). Nasser demite-se (e regressa)
10 Junho - Israel anuncia o fim dos combates
Depois da guerra
28 Junho - O Knesset (Parlamento israelita) vota a anexação de Jerusalém Oriental
1 Setembro - Cimeira árabe de Cartum vota os "três nãos": não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel, não a negociações com
Israel

1973
Guerra do Yom Kippur: o Egipto ataca de surpresa no Sinai, os sírios nos Montes Golã
1974
Impulso da colonização judaica na Cisjordânia

1978
O Egipto reconhece Israel, que inicia a evacuação do Sinai

1987
Primeira Intifada palestiniana

1993
Acordos de Oslo: Israel e OLP reconhecem-se mutuamente

1996
Yasser Arafat é eleito presidente da Autoridade Palestiniana

2000
Segunda Intifada

2005
Sharon impõe a evacuação de Gaza

2006
O Hamas vence as eleições palestinianas

Potrebbero piacerti anche