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DESIGUALDADE

Como retirar dezenas


de milhões da
Nos últimos cinco anos,
mais de 12 milhões de Por S é r g i o G a r s c h a g e n , de Brasília
brasileiros saíram da
extrema pobreza, revelam pós uma forte queda nos anos SEGURIDADE SOCIAL A seguridade social
as análises feitas pelo
Ipea com base nos dados
da Pesquisa Nacional por
A imediatamente após o Plano Real,
o número de pessoas na extrema
pobreza permaneceu estagnado
até 2003 em cerca de 21% da população
brasileira. A partir desse ano, três fatores
(aposentadorias, auxílios, pensões e ou-
tros benefícios) impede que 17,2 milhões
de brasileiros caiam na extrema pobreza,
segundo as análises feitas pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Amostra de Domicílios começaram a contribuir para a queda com base nos dados da Pesquisa Nacio-
forte da pobreza extrema. O primeiro, nal por Amostra de Domicílios (Pnad)
(Pnad) de 2006, mas há que já se podia notar desde a década de de 2006. Desse total, 13,2 milhões vivem
1990, é a redução gradual na desigualda- nas cidades e 4 milhões em áreas rurais.
ainda quase 22 milhões a de dos rendimentos do trabalho. O au- Apesar desses benefícios, outros 21,7
serem resgatados. mento quase contínuo do salário míni- milhões de brasileiros sobrevivem em si-
mo desde 1995 e a melhoria paulatina da tuação de extrema pobreza, assim consi-
Estes números foram qualificação da força de trabalho se com- deradas as unidades residenciais com
alcançados por uma binaram para reduzir a desigualdade.
O segundo importante fator foram as
renda per capita inferior a um quarto do
salário mínimo. Sem as políticas sociais,
confluência de fatores políticas sociais. Por meio da seguridade o número de extremamente pobres no
social e de mecanismos como o Progra- Brasil aumentaria para 38,9 milhões.
positivos, entre os quais ma Bolsa Família, o governo tem transfe- Na região Nordeste, o impacto da se-
o mercado de trabalho rido somas crescentes aos segmentos guridade social salva da indigência 6,6
mais pobres da sociedade brasileira. A milhões de pessoas. Na região Sudeste, são
um pouco mais indexação dos benefícios da seguridade 6,7 milhões. Em termos percentuais, os
ao salário mínimo e o crescente orça- benefícios da seguridade tiveram maior
igualitário, as políticas mento do Bolsa Família estão entre os efeito no Sudeste e no Sul. Computando-
sociais e, nos últimos fundamentos da redução da pobreza. se as transferências previdenciárias e as-
Finalmente, nos últimos dois anos, a sistenciais – que incluem aposentadorias,
dois anos, um forte retomada da atividade econômica tem auxílios, pensões, salário-maternidade e
crescimento da renda levado a níveis crescentes de renda para
as famílias brasileiras – tanto pela via do
salário-família –, a pesquisa mostra que
são beneficiados 9,6 milhões de mulheres
das famílias mercado de trabalho como pela via das e 9,1 milhões de negros e que no conjunto
transferências governamentais. são atendidos 14,5 milhões de indivíduos

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extrema pobreza
Foto: Bruno Domingos/Reuters
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Tr a n sfe r ê n c i a s b e n e f i c i a m 9 , 6 m i l h õ e s d e m u l h e r e s, 9 ,1 m i l h õ e s d e n e g r o s

com menos de oito anos de escolaridade.


O especialista em políticas públicas
Guilherme Delgado, ex-pesquisador do
Ipea, diz que o Regime Geral da Previdên-
cia Social (RGPS) distribui rendimentos
principalmente entre os beneficiários na
base da pirâmide social, em que milhões
de pessoas saem da linha da pobreza.
A desigualdade caiu 1,2% ao ano du-
rante quatro anos, de 2001 a 2005.“Parece
aritmeticamente pequeno, mas é um re-
sultado fantástico”, afirma o pesquisador
do Ipea Ricardo Paes de Barros. Segundo
ele, esse índice conseguiu reduzir a desi-
gualdade ao menor número em 25 anos.
Em relação às aposentadorias do fun-
cionalismo público, Delgado analisa com
mais cuidado, por se tratar de quadros
especializados do Estado que, se afeta-
dos, podem não atrair mais o interesse de
profissionais qualificados que contri-
buem em percentuais mais altos e mesmo
na inatividade.

CARÁTER ABRANGENTE Fábio Veras, tam-


bém pesquisador do Ipea, destaca a
essencialidade do Estado como agente
redutor das desigualdades regionais. “A
seguridade social reduz a pobreza ao
transferir recursos da previdência social
(aposentadorias, auxílios, pensões, auxí-
lio-maternidade e salário-família) e por
meio das políticas assistenciais.” Redução da pobreza nas famílias brasileiras é impulsionada pela indexação dos benefícios da seguridade ao...

Reforma estrutural
“O modelo de desenvolvimento brasileiro pactos nulos ou quase inexistentes sobre a ra usar um jargão comum na literatura sobre
foi estruturalmente marcado, como apontam distribuição de renda no país. o tema”, diz.
os principais analistas de economia política, Essa falta de impactos se acentua atual- Daí resulta o paradoxo da realidade
pela concentração de renda e do patrimônio mente pela inserção brasileira na economia brasileira, que vem apresentando nos úl-
nacional”, diz a socióloga e professora-as- global, apesar dos indicadores positivos de timos anos indicadores sociais positivos
sistente da Universidade Federal do Rio de criação de empregos formais no mercado de sem, no entanto – dada a ausência de
Janeiro (UFRJ) Amélia Cohn. Nesse sentido, trabalho.“A questão que resta é que o cres- reformas estruturais, incluindo a reforma
ela explica que foram inerentes ao “milagre cimento econômico vem revelando sua baixa fiscal –, apresentar impactos mais pro-
econômico” (assim chamado o surto desen- capacidade de inserir nesse mercado de tra- fundos e significativos sobre os indicado-
volvimentista ao final da década de 1970, balho o extenso contingente de ‘pobres es- res de distribuição de renda, explica a
quando os militares dirigiam a nação) im- truturais’ e dos chamados ‘novos pobres’, pa- professora.

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e14,5 milhões de pessoas com menos de oito anos de escolaridade


Foto: Edson Ruiz/Folha Imagem

Distribuição de renda melhora no Brasil


Coeficiente de Gini – que varia entre zero (distribuição absolutamente igualitária
de renda) e um (concentração total de renda)

0,6

0,5
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Não houve dados em 2000

Fonte: Ipea

ao injetar recursos que, avaliados pela CICLO DISTRIBUTIVO Paralelamente às


perspectiva municipal, somam 9,8% conquistas decorrentes desses benefícios
dos orçamentos das prefeituras na re- sociais, o atual ciclo de crescimento da
gião Nordeste, diz a professora. economia também contribui efetivamen-
Amélia Cohn destaca ainda que os te para tornar mais justa a sociedade bra-
organismos e agências multilaterais sileira, diz o pesquisador Sergei Soares,
consideram esse programa como o do Ipea.
mais bem enfocado nas necessidades O Brasil, avalia, atravessa atualmente
das populações mais pobres, ao permi- um momento econômico ideal. Embora
tir às famílias programarem suas vidas, entre os anos de 2001 e 2004 tenha ocor-
“elemento fundamental da cidadania”, rido um ciclo distributivo de renda, ele
e resgatar em parte da população a cre- foi caracterizado pelo fato de os sete déci-
dibilidade do Estado, o que confronta mos mais pobres terem melhorado ren-
a tradição brasileira na área social de “ar- dimentos em detrimento dos três déci-
bitrariedade dos gestores de plantão”. mos mais ricos da população.
...salário mínimo e pelos recursos do Bolsa Família Por essa razão, a professora Amélia “A situação ideal atual, em que todos
Cohn qualifica como “perigoso” o termo ganham, passou a ocorrer a partir de 2004
“política assistencialista” pela conotação e ainda continua. Todos auferiram au-
Segundo ele, o Programa Bolsa Fa- negativa da nossa tradição de políticas mento em suas rendas, mas, nas faixas de
mília já representa 2% do Produto Inter- sociais de caráter clientelista e de repro- renda menor, os ganhos foram maiores.”
no Bruto (PIB) do país. Para Fernando dução da subordinação. Para ela, o país O crescimento com distribuição de
Gaiger, também pesquisador do Ipea, “não pode abrir mão desses programas renda resulta na diminuição da pobreza e
mais importante que as políticas sociais e dessas políticas, mas deve aperfeiçoá- da miséria que, apesar da queda na desi-
dirigidas, em termos de distribuição de los e aprofundá-los se quisermos efetiva- gualdade, não caíram até 2003, devido ao
renda, é a política previdenciária, pelo mente enfrentar a questão da desigual- fraco crescimento da economia. A partir
seu caráter universal e abrangente. dade e da pobreza no país”. de 2004, entretanto, começaram a cair de
A socióloga e professora-assistente A professora manifesta divergência forma acentuada: a pobreza extrema em
da Universidade Federal do Rio de Ja- com relação ao otimismo nas interpre- 2,6 pontos percentuais anuais e a pobreza
neiro (UFRJ) Amélia Cohn afirma que tações dos dados da Pnad 2006 quanto ao em 2,9 pontos.
as políticas de assistência social, prin- efeito do crescimento econômico nacio-
cipalmente o Programa Bolsa Família, nal, que, na sua avaliação, revela baixa ca- COEFICIENTE DE GINI Para explicar o sig-
têm grande impacto sobre as econo- pacidade de inserir no mercado de traba- nificado prático desse processo, Soares
mias regionais. O programa é eficaz lho o extenso contingente de pobres. mostra dados da pesquisa que indicam

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Se o país mantiver crescimento econômico com redução da pobreza, em

uma queda anual média de 0,006 no co- zo, se a economia permanecer estável e o
eficiente de Gini (equivalente a 0,6 pon- coeficiente de Gini mantiver a atual
to centesimal por ano), ritmo conside- tendência de trajetória descendente, em
rado ideal por ele. alguns poucos anos a distribuição de
O coeficiente de Gini, criado pelo renda no Brasil se igualará à do México,
economista italiano Corrado Gini, é uti- que atualmente tem índice de Gini de
lizado para medir o grau de concen- 51,2 pontos. Os dois países têm econo-
tração de renda em determinados gru- mias comparáveis, mas, no quesito ren-
pos. Varia de zero a 1 e, quanto mais da, a população mexicana é mais iguali-
baixo o índice, melhor é a distribuição tária que a brasileira.
da renda de um país. “Para atingirmos a atual distribuição
Em 2001, o coeficiente de Gini na de renda dos Estados Unidos precisare-
economia brasileira era 59,3 pontos mos de mais 12 anos de queda no índice
centesimais e, no ano passado, caiu para de Gini e 24 anos para nos igualarmos
55,9 pontos. Apesar do avanço, é insufi- ao Canadá”, afirma Soares.
ciente para retirar o Brasil da lista dos
países com um dos piores níveis de dis- CIDADE E CAMPO Vôos mais altos que
tribuição de renda do mundo. possibilitem uma aceleração da atual
O índice de Gini brasileiro atual é tendência distributiva da renda nacio-
cerca de 10 pontos centesimais mais alto nal, adverte Soares, dependem de me-
que o dos Estados Unidos – que, com lhorias tanto na distribuição primária da
46,9 pontos, é considerado pelos espe- renda (isto é, antes de computar tributos
cialistas um dos piores exemplos de dis- e transferências do governo) como na
tribuição de renda entre as nações de- progressividade das transferências go-
senvolvidas – e 17 pontos acima da vernamentais.
distribuição da renda no Canadá (Gini Para melhorar a distribuição primá-
igual a 39,3), que foi tomado como ria há vários caminhos importantes a
parâmetro por ser uma federação, pos- serem trilhados: ampliar os investimen-
suir enorme extensão territorial e diver- tos na educação, reduzir a informali-
sidade populacional, como o Brasil. dade no mercado de trabalho e demo-
As perspectivas de distribuição de cratizar o acesso à terra. As duas pri-
renda no Brasil são boas. Em curto pra- meiras medidas consideram que 85% Distribuição de renda nas famílias canadenses…

dos brasileiros já residem no meio ur-


bano e vivem principalmente da venda
Redução da miséria no Brasil de sua força de trabalho. A última leva
Número de pessoas em extrema pobreza (em milhões) em conta que os 15% que ainda vivem
no campo estão entre os mais pobres
No de pobres Taxa de pobreza
dos brasileiros.
21,3% “E, para melhorar a distribuição se-
40 20 cundária da renda, uma reforma tribu-
30 11,9% 15 tária que reduzisse o peso dos impostos
10 indiretos e aumentasse o dos diretos,
20
que incidem de forma mais pesada sobre
10 5
21,7 38,9 -17,2 os que ganham mais, seria promotora
0 0 de igualdade”, afirma Fernando Gaiger.
Com os rendimentos Sem os rendimentos Diferença
-10 da Seguridade Social -5 Igualmente, mudanças na composição
da Seguridade Social
-20 -10 dos gastos da seguridade, com mais pe-
-9,4% so para os benefícios indexados ao salá-
Fonte: IBGE/Pnad 2006. Elaboração: Ipea

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24 anos ating irá o atual estág io de distribuição de renda do Canadá


Foto: Andy Clark/Reuters
rio mínimo e menos para benefícios
Intervenção estatal maiores como os do regime próprio
(aposentadorias e pensões de funcioná-
Países ricos distribuem renda rios públicos).
via tributação Há vários exemplos de países que re-
Países Ano Índice de Índice de Redução
duziram a tributação indireta e aumen-
Gini antes Gini após do Índice taram a direta, com melhoria no índice
da taxação taxação de Gini (pp) de Gini. A Suécia, em 1987, tinha um
coeficiente de Gini da distribuição pri-
Irlanda 1987 0,461 0,341 12,0
mária da renda de 43,9, e, após a ta-
Suécia 1987 0,439 0,281 15,8 xação direta e transferências governa-
mentais, o índice caiu para 28,1, com o
Inglaterra 1986 0,428 0,323 10,5 ganho de 15,8 pontos centesimais na
escala Gini. O governo britânico redu-
França 1984 0,417 0,311 10,6 ziu também o coeficiente em 10,5 pon-
tos centesimais (de 42,8 para 32,3) após
EUA 1986 0,411 0,347 6,4
a intervenção estatal. E a Irlanda dimi-
Suíça 1982 0,407 0,346 6,1 nuiu o índice de Gini em 12 pontos cen-
tesimais – de 46,1 para 34,1, via tribu-
Alemanha 1984 0,395 0,277 11,8 tação e transferências.

Finlândia 1987 0,379 0,255 12,4 PAPEL DO ESTADO Embora destaque a


importância da seguridade social na re-
Canadá 1987 0,374 0,305 6,9
dução da pobreza extrema no Brasil, So-
Itália 1986 0,361 0,321 4,0 ares pondera que “o sistema de seguri-
dade é relativamente grande para um
Holanda 1987 0,348 0,266 8,2 país em desenvolvimento, porém peca
pelo fato de não ser suficientemente re-
Japão 1989 0,317 0,298 1,9 distributivo”. Apesar disso, para ele a
ação do Estado é essencial. “Precisamos
Bélgica 1988 0,273 0,26 1,3
é de um Estado melhor e mais eficiente,
…serve de parâmetro para o Brasil Fonte: Ipea que tribute mais os que ganham mais.”
Para aumentar o impacto redistri-
butivo da política social brasileira, es-
clarece, tornam-se necessárias algumas
mudanças que separem as medidas real-
Distribuição da renda no Brasil mente distribuidoras de renda das con-
A renda aumenta em todas as classes sociais e distribuição melhora centradoras, entre as quais ele cita o regi-
50
me próprio de aposentadoria do fun-
2001/2004 2004/2006
Perda de renda dos Ganhos em todas
cionalismo público. “A aposentadoria
40 décimos mais ricos as faixas de renda integral do funcionalismo ajuda a piorar
a distribuição de renda no Brasil”, afir-
30
ma categoricamente.
20 Além disso, uma reforma tributária
que reduzisse a carga de impostos indi-
10 retos e aumentasse as alíquotas do im-
posto direto das pessoas físicas de maior
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 poder aquisitivo, segundo Fernando
-10 Gaiger, poderia acelerar o processo de
redistribuição de renda no Brasil. d
Fonte: IBGE/Pnad. Elaboração: Ipea

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