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há uma conotação de pena atribuída a um crime cometido, e não de ato infracional?
Há um entendimento por parte dos operadores sociais, como assistentes sociais,
psicólogos e pedagogos sobre o caráter de inclusão social da medida? A sociedade
acreana conhece a medida e está preparada para entendê-la?
Para tanto, importa destacar que o estudo se desenvolveu por meio de
pesquisa cientifica bibliográfica, com coleta de dados e análise dos dados
qualitativos com base nos dados teóricos. Nesse sentido vale citar a metodologia
utilizada para a elaboração da temática apresentada.
O procedimento metodológico é uma ferramenta fundamental para se chegar
ao objetivo desejado pelo pesquisador sobre a temática proposta. Para Gil (1996), a
pesquisa é desenvolvida mediante o concurso de conhecimentos disponíveis e a
utilização cuidadosa de métodos científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se
ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada
formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.
Para tanto, vale ressaltar que para a efetivação da pesquisa apresentada foi
utilizada pesquisa exploratória bibliográfica em fonte de papel usando como
procedimentos, visitas institucionais in loco, consultas a acervos bibliográficos tendo
com instrumento de pesquisa utilizado para a coleta de dados a elaboração de
entrevista com perguntas abertas, visando coletar informações.
A estrutura interna do trabalho está dividida em três capítulos embasados
teoricamente e com entrevista. O primeiro capitulo trata do histórico conjuntural do
surgimento do código de menores, no qual era preconizada a doutrina da situação
irregular. Tinha como propósito a higiene social de cunho moralizante baseado em
valores morais. A conjuntura de tal período era demarcada com um modelo de
família conservador, somado a grande crise do capital que culminou com a inserção
de crianças e mulheres no mercado de trabalho, surgindo uma questão social.
O segundo capitulo propõe uma análise sobre os movimentos sociais em
busca de direitos visto que a crise do capital afetou as relações sociais, e agravou as
questões sociais. Nessa perspectiva surgem instrumentos legais frutos de
conquistas sociais que acarretaram de modo positivo nas variadas classes. Surge
assim o advento da Constituição Federal de 1988 que culminou com a formação de
outros instrumentos legais como o Estatuto da Criança e do Adolescente.
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Nesse caso há uma necessidade de cumpri-lo de acordo com medidas legais
através de convênios com segmentos como direitos humanos, e assim a
implantação da Liberdade Assistida no Acre, e análise da entrevista coletada com a
necessidade de haver a iniciativa de se implantar a medida no município e
problematizar os aspectos operacionais existentes em tal implantação. Liberdade
Assistida e seus eixos norteadores visando à inclusão social do adolescente.
Apresenta também uma análise do modelo do Estado de São Carlos.
O terceiro capitulo traz uma análise teórica relatando os aspectos conceituais
da pesquisa comparando-os com os dados e análise qualitativa. No quarto capítulo,
no entanto, tecemos considerações finais, com o intuito de fazer apontamentos
sobre os avanços e/ou retrocessos históricos, da temática em questão. Analisa
qualitativamente entrevista realizada a primeira gestora da referida medida. Propõe
uma reflexão sobre o perfil técnico e profissional, no sentido de averiguar se estava
correspondendo com a necessidade imediata da medida.
Igualmente, cabe dizer que a finalidade é difundir para a sociedade de um
modo geral, aspectos históricos da trajetória que se deu a partir do tratamento dado
a criança e ao adolescente nas diferentes conjunturas, bem como apresentar nas
instituições locais que atendem a tal demanda as especificidades da medida
socioeducativa.
De certo modo propõe-se também uma discussão que envolve o campo de
direitos acerca da criança e do adolescente, como também a compreensão da
dinâmica social e sua forma de ver e agir com esse segmento.
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CAPITULO 1:
BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO CÓDIGO DE MENORES
NO BRASIL
A necessidade de atender ao desenvolvimento econômico e ao mercado de
trabalho a partir da inserção do modelo capitalista, se mostrou no decorrer do
processo histórico como entraves e conseqüências negativas para o processo de
desenvolvimento humano, principalmente de crianças e adolescentes. Após o
fenômeno que demarcou a segunda guerra mundial, especificamente na década de
60, o adolescente passou a ocupar uma posição determinada no cenário da
violência.
A inserção da mulher em postos de trabalho levou-a em busca de atender às
necessidades básicas de sobrevivência. Diante deste fato, havia a repercussão em
vários setores da sociedade, devido à fragmentação do modelo patriarcal de família.
A família nessa conjuntura é considerada um sistema social uno, composto
por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora
diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O
conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de
papéis e funções, como se têm vindo a verificar.
Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa
determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido,
mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis. Papéis estes, que não são mais
do que, as expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos que estão
associados a uma dada posição na família ou no grupo social.
Assim sendo, e começando pelos adultos na família, os seus papéis variam
muito, tendo Gomes (1999), considerado como característicos os seguintes: a
socialização da criança, relacionado com as actividades contribuintes para o
desenvolvimento das capacidades mentais e sociais da criança; os cuidados às
criança, tanto físicos como emocionais, perspectivando o seu desenvolvimento
saudável; o papel de suporte familiar, que inclui a produção e ou obtenção de bens e
serviços necessários à família; o papel de encarregados dos assuntos domésticos,
onde estão incluídos os serviços domésticos, que visam o prazer e o conforto dos
membros da família; o papel de manutenção das relações familiares, relacionado
com a manutenção do contato com parentes e implicando a ajuda em situações de
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crise; os papéis sexuais, relacionado com as relações sexuais entre ambos os
parceiros; o papel terapêutico, que implica a ajuda e apoio emocional aquando dos
problemas familiares; o papel recreativo, relacionado com o proporcionar
divertimentos à família, visando o relaxamento e desenvolvimento pessoal.
(GOMES,1999).
Relativamente aos papéis dos irmãos, estes são promotores e receptores, em
simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e manter
as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar. Contribuem para a
formação da identidade uns dos outros servindo de defensores e protectores,
interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre equidade, formando
alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns
dos outros. (ARIES, 1976).
Há a salientar, relativamente aos papéis atribuídos que, será ideal que exista
alguma flexibilidade, assim como, a possibilidade de troca ocasional desses mesmos
papéis, aquando, por exemplo, um dos membros não possa desempenhar o seu
papel.
As funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi referido. As
famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam
funções de protecção e socialização dos seus membros, como resposta às
necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família
regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a protecção
psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma
cultura e sua transmissão.
A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a
atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade,
proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros
(GARCEZ,1994). Existe consequentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a
de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade.
A transição da mulher da esfera privada para a esfera pública não era um
fenômeno isolado de cada sociedade, mas com a inserção do modelo capitalista
ocorreu de forma gradativa em várias sociedades, trazendo fenômenos novos e
questões sociais emergentes. O Estado passou a intervir nas questões sociais de
forma paliativa e funcionalista.
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A mobilidade das pessoas do campo para a cidade alterou o modo de vida,
trazendo situações novas, pois as políticas destinadas à sociedade desprovida não
supria as necessidades da sociedade que estava emergente. Havia um déficit de
políticas sociais destinadas à população como habitação, saúde, educação e
moradia. É nessa conjuntura que começam a se formar os bolsões de miséria tendo
o Estado como o responsável pelas intervenções, mas que atua de forma pontual.
Nesse sentido, o Estado passa a intervir nas questões sociais de forma
repressora, utilizando instrumentos como o ajustamento social dos indivíduos para
se adequarem ao novo modelo de produção. Nessa conjuntura ocorrem
transformações em vários segmentos sociais, alterando o modelo de família que até
então era patriarcal. A desarticulação da família com a inserção de crianças,
adolescentes e adultos no mercado de trabalho, incidiu com um fenômeno novo que
era o envolvimento de crianças e adolescentes em delitos e infrações. É nesse bojo
que o Estado intervem de forma repressora sem analisar as especificidades da
problemática, e passa a desenvolver ações funcionalistas.
Nesse contexto histórico, é importante assinalar o objetivo das instituições
que foram criadas, aliada a metodologia de ajustamento social, utilizou o termo
menorista na difusão social e entre os adolescentes e crianças, não havendo
distinção de uma idade para oura. Portanto, havia uma análise de que o controle
social através da repressão e do ajustamento daria bons resultados para controlar a
demanda emergente. (COSTA, 2000).
Somado a isso, num contexto histórico contraditório, havia a conotação ao
adolescente que desprovido economicamente era considerado “menor”, mas no
sentido inferiorizado, levando a sociedade a uma interpretação da associação de
pobreza e marginalidade. Esse fato dava ao adolescente ou criança pobre a
condição de inferior. Os mesmos se tornavam cada vez mais vulneráveis e
suscetíveis à criminalidade devido à excessiva estigmatização, criação de
estereótipos e situação sócio econômica, estrutural e cultural. Esse fato é atribuído a
características de sociedades adultocêntrica.
Outro aspecto que deve ter relevância ao analisar a trajetória do homem
como culturalmente criado a imagem de agressividade e poder. Há um ensinamento
a ser extraído sobre a agressividade, passada de geração a geração. Afora
quaisquer tendências herdadas, os encrenqueiros, já adultos, agiam de modo que a
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vida em família era o local de aprendizagem da agressão. Quando crianças tiveram
pais que o disciplinaram de forma arbitrária e com implacável severidade; como pais,
repetiam o padrão. Isso é valido para qualquer que tenha sido aquele pai ou a mãe
que, na infância, fora altamente agressivo.
De acordo com esse modelo de violência, essas crianças eram
caprichosamente disciplinadas, e se os pais estivessem de mau humor, elas
recebiam castigos severos; se de bom humor, podiam ficar impunes em casa. Assim
o castigo ocorria não pelo que a criança tinha feito, mas pelo estado de bom ou mau
humor dos pais. Eis a receita perfeita desamparo e sentimento de inutilidade, e a
sensação de que o mundo é uma grande ameaça, ou uma possibilidade de
violência. (GOLEMAN, 2001).
Tal relação de poder interfere nas relações do cotidiano. O homem na sua
condição preestabelecida rompe com a capacidade de ter auto controle de suas
ações, e se perceber no processo histórico. para Weber, esse fato era considerado
virtude. Na Grécia clássica, por exemplo, “esse atributo era denominado precaução
e inteligência na condução da própria vida, equilíbrio e sabedoria”. Manter sob
controle as emoções, e o que nos é imposto de forma velada, é fundamental para
manter o bem-estar. Porém, vale ressaltar que na construção histórica do homem, o
mesmo não teve inteligência emocional o suficiente para perceber a influência do
imaginário social no seu modo de ver, pensar e agir. (WEBER, 2003).
A agressividade que é algo inerente ao ser humano, passou a ser uma
característica tipicamente do homem. Assim sendo, esse fator reflete diretamente
nas ações do dia-a-dia, levando-o a cometer mais infrações que mulheres, em
detrimento de sua condição de poder. Fato este, detectado nas medidas
socioeducativas, que tratam na maioria dos casos de atos infracionais de jovens do
sexo masculino.
Contudo, sabe-se que a adolescência é um período de afirmação e
grandes desafios ao jovem. É o momento da transição da infância para a
adolescência, e consequentemente fase adulta, no qual, especificamente na
adolescência o desenvolvimento físico, emocional e social sofre alterações muito
rápidas, tornando-o vulnerável e suscetível, a fatores como a violência, a
promiscuidade, a baixa auto-estima, entre outros.
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Vale ressaltar que em todas as etapas da vida, ocorre o processo de
desenvolvimento humano, mas é na adolescência que este processo se mostra mais
veloz. O desenvolvimento das potencialidades muitas vezes é comprometido por
fatores de vulnerabilidade social. Uma situação de risco pode acarretar num
processo de contato com a violência seja ela velada ou de que forma se apresente.
A violência é uma questão complexa que não comporta uma análise
simples. Os jovens em geral são estigmatizados e colocados no banco dos réus,
onde são alvo de uma carga de preconceitos que só conseguem agravar ainda mais
o problema. Somado a isso, se vê outra questão, tal como a relação do ato
infracional com o jovem negro e mestiço. Esse é um fato que não é necessário uma
estatística aprofundada para perceber o perfil dos centros de internação, de
abrigamento, de reclusão entre outros. Há um recorte notável de raça, sexo e etnia.
Habitualmente, as desigualdades de raça e de gênero são vistas como
“problemas de mulheres ou negros”. Vários fatores são atribuídos para esse
fenômeno. É uma discussão que merece um aprofundamento maior, porém neste
estudo colocam-se em pauta algumas questões para que se possam problematizar e
compreender as causas do problema apresentado.
Com relação à profissionalização, por exemplo, atribui-se a concentração
de negros em atividades manuais como sendo “herança da escravidão”, pois sendo
descendentes de escravos, os negros encontraram historicamente mais dificuldades
socioeconômicas e culturais de inserção em qualquer segmento social, seja
educação, mercado de trabalho, e outros. Mas no decorrer das transformações
históricas e conjunturais as discriminações se perpetuaram para vários segmentos e
características, assumindo formas veladas.
Apresentam-se aos homossexuais, índios, obesos, brancos, negros,
nortistas, pobres, entre outros. Com isso, percebe-se que há também
historicamente, uma “herança de submissão e dependência” nas relações entre
homens e mulheres que se traduz em comportamentos discriminatórios.
Portanto, é necessário que não se perca de vista que a discriminação se
manifesta entre homens e mulheres e entre brancos e negros. Não é um problema
de negros e mulheres, mas sim, das relações que se estabelecem entre os seres
humanos. É um fenômeno complexo que comporta um estudo mais aprofundado,
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pois, nessa análise apresenta-se como uma análise “rasa”, mas com vistas à
reflexão.
É sob essa perspectiva de análise conjuntural, histórica de herança cultural,
que se analisa as causas da alta incidência de adolescentes negros e mestiços em
cumprimento de medida sócio-educativa. Ao cometerem ato infracional, e
encaminhados à medida sócio-educativa, o adolescente passa por um processo de
revitimização, e este quando é negro ou mestiço, o problema se agrava mais ainda.
Esse fator dificulta seu protagonismo social, deixando-o fragilizado e com
dificuldades de inclusão social.
É sob essa análise conjuntural com especificidades históricas, que procura-
se explicar a criação de uma legislação que se baseava na doutrina da situação
irregular, que passou a ser expressamente adotada pelo Código de Menores de
1927, conhecido como Código Mello Mattos, cujo fundamento era a necessidade de
proteção e assistência do Estado contra o abandono, os maus tratos e as influências
desmoralizadoras exercidas sobre os então “menores”.
Em substituição à legislação penal que regulou a assistência, a proteção e
a vigilância dispensada aos menores pelo Estado brasileiro, durante mais de meio
século, no Ano Internacional da Criança o governo promulgou a Lei 6.697/79 o Novo
Código de Menores que não representou grandes avanços e acabou repetindo o que
já estava previsto. O Código de Menores de 1979 visava atingir os mesmos fins em
relação a todos os menores com até 18 anos e que se encontrassem em situação
irregular, e com idade entre 18 e 21 anos nos casos expressos em lei vigente.
Neste período se reforça a idéia de criar grandes institutos para abrigar
menores, denominados FUNABEM (Fundação Nacional do Bem Estar do Menor), e
posteriormente FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor), tanto os
jovens considerados infratores quanto os abandonados, e que tendo em vista o fato
de que não havia separação entre eles, ocasionou uma verdadeira marginalização
da infância, sob o rótulo estigmatizante de menores, pois como já foi colocado, no
qual o considerava inferior aos demais jovens de classe média, e alta.
A FEBEM foi criada em 1969 pela lei 5.747/69, e tinha por finalidade propor e
executar, políticas para prestar assistência aos menores carentes e abandonados,
bem como dar conseqüências às decisões proferidas pela justiça de menores com
relação aos então considerados menores infratores.
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Aos poucos a sociedade através de grupos articulados se deu conta de que esta
doutrina da situação irregular era apenas mais um modelo de opressão aos menores
que estavam vulneráveis, o que proporcionou o terreno fértil para a ascensão de
inúmeros movimentos sociais em defesa dos direitos da criança e do adolescente.
A partir de então vários movimentos sociais difundiam-se com o intuito de
trazer a tona uma discussão sobre o Estado de Direito. As comissões de direitos
humanos junto com a Constituição Federal trouxeram uma nova perspectiva para a
formação de movimentos em busca de direitos. Nesse sentido a previsão
constitucional se torna uma garantia de que a criança e o adolescente receberão do
Estado à atenção que merece.
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garantias da criança e do adolescente. Espelho disso é a Declaração dos Direitos da
Criança de 1959, ratificada pelo Brasil, bem como as Regras de Beijing de 1985, a
Convenção das Nações Unidas de Direitos da Criança (1989), as Regras das
Nações Unidas para a proteção dos menores privados de liberdade (1990) e as
Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinqüência Juvenil (Diretrizes de
Riad -1990).
No âmbito do continente americano, há ainda o Pacto de São José da Costa
Rica de 1969, ratificado pelo Brasil através do Decreto 678/92, que estabelece: “toda
criança tem direito às medidas de proteção que sua condição de menor requer por
parte da família, da sociedade e do Estado” (art. 19). Temos aqui os verdadeiros
embriões de uma nova concepção jurídica para a criança e o adolescente, e que
culminou na previsão constitucional baseada nos artigos 227 e 228 da Constituição
Federal que dá as diretrizes para a formação e promulgação do Estatuto da Criança
e do Adolescente
A Constituição Federal de 1988 prevê dentre os Direitos e Garantias
Fundamentais o direito a infância, previsto no Capítulo II, do Título II, em seu artigo
6º. Trata-se de um direito social que enseja uma obrigação positiva do Estado, ou
seja, a adoção de todos os meios necessários para o seu resguardo.
Com isso nota-se que a partir de preceitos como a Doutrina da Proteção
Integral que concebe a criança como um ser dotado de direitos que precisam ser
concretizados é que a sociedade alerta-se para este debate, porém de forma tímida.
É assim que partindo dos direitos das crianças, reconhecidos pela ONU, a lei
assegurava a satisfação de todas as necessidades das pessoas de menor idade,
nos seus aspectos gerais, incluindo-se os pertinentes à saúde, à educação, à
recreação, à profissionalização, etc.
Por esta doutrina todas as crianças e adolescentes devem ter especial
atenção para que obtenham proteção integral contra a violação de seus direitos,
passando a serem vistos como sujeitos de direitos, isto é, cidadãos integralmente, e
não apenas como objetos da atenção do Estado.
Por sua vez, o adolescente infrator pode ser submetido a um tratamento mais
rigoroso, que pode implicar inclusive em privação de liberdade. Vale dizer que o
Estatuto é aplicável aos que se encontram entre os 18 e os 21 anos nos casos
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expressos em lei (como, por exemplo, prolongamento da medida de internação até
os 21 anos e assistência judicial).
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É importante considerar que o ECA ainda é desconhecido da maioria da
população e, também, entre inúmeros operadores do direito, o que seguramente, é
um entrave a mais para que as alterações introduzidas por este instrumento legal
sejam garantidas. Alterações como, por exemplo, com as crianças e adolescentes
sendo titulares de direitos, a superação de uma prática assistencialista por uma ação
sócio-educativa e uma gestão descentralizada, com efetiva participação popular.
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Nessa perspectiva as crianças e os adolescentes passam a ser vistos como sujeito
de direitos, cuja proteção especial está diretamente ligada ao fato de que suas
personalidades estão em processo de desenvolvimento físico, intelectual, moral e
social.
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2.3 PRECEITOS DO ECA E A IMPLANTAÇÃO DA MEDIDA DE LIBERDADE
ASSISTIDA NO ACRE
O Estatuto da Criança e do Adolescente, no capitulo IV, que trata das medidas
socioeducativas, especificamente a 118 de Liberdade Assistida, enseja um caráter
educativo e emancipatório aos jovens que se encontram em situação de
vulnerabilidade social e acabam em conflito com a lei.
Em Rio Branco Acre, o trabalho começou a ser desenvolvido no ano de 2005,
através de um convênio com a SENADH, CONANDA e SECIAS. Esta secretaria
passou a gerenciar o projeto, que foi formulado por equipe multiprofissional,
composta por advogados, pedagogos, assistentes sociais e psicólogos. Atualmente
após mudanças nas secretarias houve a criação da SEAS, Secretaria Extraordinária
de Ações Socioeducativas que é a responsável pelas ações com a Liberdade
Assistida.
De acordo com a legislação nacional, a Liberdade Assistida deve ser
implementada pelo município, porém em Rio Branco, Acre as ações passaram a ser
mobilizadas pelo governo do Estado devido às condições estruturais serem mais
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propicias, tais como a disponibilidade e contratação de profissionais e
disponibilidade de casas institucionais serem mais adequadas.
Conforme o plano de trabalho elaborado pela equipe de profissionais que
compõem a Liberdade Assistida, a meta do projeto inicialmente prevista era para o
atendimento de 300 adolescentes. Mas ao final de 2005 foram contabilizados 146
atendimentos de jovens e suas famílias encaminhadas pelo juizado da infância e
juventude, fato dado em grande parte em decorrência da aplicação de outras
medidas e ou remissão de processo. Destaca-se também o atraso na execução do
convênio com a SENADH, devido entraves nos processos licitatórios dos técnicos.
As atividades do referido núcleo são desenvolvidas com base em quatro eixos
norteadores: a família, a promoção social, escola e cidadania, profissionalização e
mercado de trabalho, cultura, esporte e lazer.
Nesse caso, as ações devem ser desenvolvidas com o objetivo de propiciar
ao jovem o desempenho de suas potencialidades psico sociais, físicas, profissionais
e intelectuais. Para tanto, é necessário que haja condições de programar as
atividades com os adolescentes, de modo que os mesmos se identifiquem com as
atividades pedagógicas. É direcionada à inclusão no mercado de trabalho, através
de inserção em cursos profissionalizantes, inclusão escolar com vistas a reabilitação
pedagógica, inclusão na comunidade e no âmbito familiar, de modo a proporcionar
ao jovem e seus familiares o fortalecimento de vínculos afetivos, preparando-o para
lidar com os conflitos, e a formulação de um novo projeto de vida. Com isso
objetivam-se fortalecer as redes primárias e secundárias dos jovens, através de
articulações baseadas na mediação de conflitos existentes.
Essas estratégias de articulação em redes, sejam elas primárias ou
institucionais, possibilitam ao adolescente e à equipe técnica da Liberdade Assistida
um resultado melhor no trabalho desenvolvido. A equipe técnica, por sua vez,
possibilita ao adolescente, a participação no seu processo de inclusão social, no
sentido de tornar viáveis seus anseios e necessidades e pô-los em prática no plano
de atendimento institucional. Ou seja, o jovem é agente e ator do seu processo de
inclusão e emancipação social.
O trabalho interdisciplinar envolve a atuação de vários profissionais da
Liberdade Assistida. A equipe é composta por pedagogos, assistentes sociais,
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psicólogos, advogados com atribuições delegadas de acordo com o domínio da área
profissional específica sendo da seguinte forma a distribuição de atribuições:
Pedagogos: tem como atribuições o acompanhamento escolar do jovem e de
seus familiares, e proporcionar uma abertura à percepção dos direitos humanos em
vários âmbitos.
Assistentes sociais: objetivam a inclusão dos adolescentes e sua família
em programas socioassistenciais, quando demonstrarem vulnerabilidade econômica,
bem como avaliar a participação das mesmas no apoio ao jovem, levantar a situação
no mercado de trabalho, percebendo suas aptidões para a inclusão em cursos
profissionalizantes, entre outras.
Psicólogos: avaliam o impacto das atividades na socialização e no
fortalecimento dos vínculos afetivos, de modo a perceber e detectar questões
subjetivas que podem refletir no seu processo de acompanhamento e
desenvolvimento psicológico.
Advogados: tem como atribuição garantir a informação ao adolescente e
sua família sobre o andamento de processos nas varas especificas, de maneira que
possam participar.
Educadores sociais: visam a avaliação do desempenho dos familiares na
escola, promoção de atividades culturais, diagnosticar e localizar instituições para
formulações de parcerias, acompanharem os técnicos em visitas domiciliares e
institucionais.
Pessoal de apoio como motoristas, zeladores, agente administrativos com
atribuições específicas.
Neste trabalho há uma dinâmica interna de visitas institucionais com o intuito
de estabelecer parcerias para fortalecer os vínculos dos adolescentes, através de
visitas domiciliares para conhecer a dinâmica das famílias e seu processo de
interação com os mesmos, visitas escolares com o objetivo de avaliar o
aproveitamento pedagógico, reuniões em grupos com os adolescentes e seus
familiares, entre outras atividades.
Toda essa dinâmica é voltada a um propósito de inclusão social, com
responsabilidades dos técnicos de elaborarem relatórios mensais com vistas a
vários aspectos, e encaminhar aos juizados competentes informando sobre o
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acompanhamento e desenvolvimento do adolescente na referida medida. Contudo
percebe-se a importância do trabalho interdisciplinar e multiprofissional.
Com 200 mil habitantes, pólo de indústrias de alta tecnologia e berço de duas
universidades públicas renomadas, São Carlos se destaca agora no cenário
nacional como exemplo no campo da justiça juvenil. Em cinco anos, a cidade já
procurada por mais de 50 municípios dispostos a copiar o modelo. Este modelo
deve ser expandido para todo o país como forma de inibir o preconceito e afirmar o
processo de inclusão social dos adolescentes
Desde sua criação, a FEBEM de São Carlos atendeu a pouco mais de 500
internos. Em 1998, eram cometidos em média 15 homicídios por adolescentes na
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região. Hoje, o índice é de dois ou três casos por ano. A reincidência de quem tem
passagem pela Febem local é de apenas 3%.
O Rio Grande do Sul foi outro estado que também aboliu a FEBEM. No seu
lugar, criou em 2002 a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo, que conta
atualmente com 1.040 adolescentes.
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Escultura em concreto celular: A Oficina Cultural Sergio Buarque de
Holanda possibilita a relação do objeto com o adolescente, ressalta a capacidade de
auto-lapidação.
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apresentando o Projeto em Universidades e, até mesmo, no Fórum Mundial Social
em Porto Alegre.
Parcerias
Novos caminhos
Contudo, vale frizar que além destas ações existe o NAI Núcleo de
Atendimento Integrado que acompanha o adolescente respeitando suas
particularidades e diferenças. A possibilidade de reabilitação pessoal e social é mais
viável através desta perspectiva.
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CAPÍTULO 3: ANÁLISE TEÓRICA: ASPECTOS CONCEITUAIS DA PESQUISA
A partir da declaração Universal de Direitos Humanos em 1948, obteve-se um
marco jurídico internacional, por intermédio das Organizações das Nações Unidas,
que vem firmando uma série de convenções internacionais que preconizam a
criança e o adolescente como sujeitos sociais portadores de direitos e garantias
próprias.
Nota-se um considerável avanço legal e social devido às conquistas através
de lutas e de movimentos sociais que buscam a equidade entre as diferenças, para
que as mesmas não se tornem desigualdades. O Estatuto traz uma conotação
legalista baseada em direitos humanos e sociais com vistas a cidadania, mostrando-
se bem divergente do código de menores de 1927, que via a criança na mesma
condição psicológica e fisiológica que o adolescente, e este com o adulto. Além
disso, o termo menorista o colocava numa condição de inferioridade, sendo menor
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em detrimento de sua condição social. Conforme é ressaltado a seguir por
(LONDOÑO, 1991).
O anterior código de menores, bem como a Política Nacional de Bem Estar do
Menor, ambos ultrapassados, só abrangiam os menores em situação “irregular”, não
normatizando sobre todas as crianças adolescentes, no aspecto de seus direitos e
no exercício de sua cidadania como pessoas em pleno desenvolvimento.
A década de 20 opera a passagem da simples repressão para o afastamento
das crianças dos focos de contágio, que consistia, basicamente, na idéia de que as
crianças deveriam ser retiradas das ruas para se submeterem as medidas
preventivas e corretivas, que estariam a cargo de instituições públicas. O Código de
Menores Mello Matos, de 1927, consolida legalmente esta prática de prevenção
ligada ao ideário de periculosidade.
O discurso que permeia todo o direito penal moderno tem como um dos
principais pressupostos o conceito de periculosidade, assentado no saber do exame
que comporta uma argumentação exterior ao próprio direito, mas, simultaneamente,
incorporada por ele.
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formalização jurídica da questão do "menor" já ultrapassava o campo policial para
ser equacionada como política social.
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trazendo conflitos sobre a afirmação da individualidade e o respeito às obrigações
próprias dos vínculos familiares. (SARTI, 2003).
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Na conjuntura vigente os modelos tradicionais de família davam o
direcionamento das condutas. A família era tida como nuclear, baseada no conceito
estrutural e funcionalista europeu. Nesse sentido, cada “membro” da família tem seu
papel definido, reforçando conceitos do darwinismo social. Essa definição
estabelece uma relação hierarquia de poder. (WEBER, 1975).
A família era congregada como iguais, enquanto que na realidade era o centro
da mais severa desigualdade, onde inexistia a liberdade. O chefe da família só era
considerado livre na medida em que podia deixar o lar e ingressar na esfera política
da polis em que todos eram iguais ², (ARENDT, 1991).
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² Para Arendt(1991:40), “o que distinguia a esfera familiar ((privada) era que nela os homens viviam juntos por serem
a isso compelidos por suas necessidades e carências e a vida, para sua manutenção individual e sobrevivência como vida de
espécie, requer a companhia dos outros. O fato de que a manutenção individual fosse tarefa do homem e a sobrevivência da
espécie fosse a tarefa da mulher era tido como óbvio; e ambas as funções naturais, o labor do homem no suprimento dos
alimentos e o labor da mulher no parto, eram sujeitas à preemencia da vida. Portanto, a comunidade natural do lar decorria da
necessidade: era a necessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas no lar”.
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Nesse caso, se recorre a procedimentos profissionais, buscando relações
estratégicas de forma a responder eticamente a tais demandas sociais. Os
profissionais se vêem frente a esse desafio que afeta as instituições e a camada
social mais vulnerável. No trabalho em L.A. as parcerias são institucionais são
formuladas com o objetivo de trabalharem articuladamente em redes. O trabalho
interno é dinâmico e diariamente requer uma análise para que não se perca os
princípios e proponha ações novas.
São necessárias atenções diversificadas que se complementam mutuamente,
tais como acolhimento e escuta, onde são enfatizados nos serviços públicos
principalmente na área de Serviço Social, que proporciona uma melhora na auto
estima na alteração do cotidiano do usuário. Rede de apoio psico-social, cultural e
jurídica, programas de complementação de renda e programas de geração de
trabalho e renda. Tais programas devem ser pensados estrategicamente.
(CARVALHO, 2003).
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ao atender a solicitação de um juiz com pedido de avaliação social, nota-se que tem
especificidades que devem estar muito claras para uma compreensão ampla.
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CAPITULO 4: ANÁLISE DA ENTREVISTA
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O processo de acompanhamento dos adolescentes em medida é, de fato,
norteado pelo art. 119, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ou seja, a
prática cotidiana do profissional que realiza este acompanhamento consiste em:
orientar os adolescentes e seus familiares, objetivando a promoção social dos
mesmos; encaminha-los a programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência
social, quando necessário; supervisionar o processo de escolarização e
orientação para o trabalho e apresentar relatórios sobre os casos.
De maneira geral, para a execução destas funções, é de competência
dos orientadores: os atendimentos diretos ( individuais ou em grupo) aos
adolescentes e famílias; as visitas domiciliares; o conhecimento de recursos
da comunidade e as articulações ( visitas ou contatos telefônicos ) com os
mesmos (estabelecimentos de ensino, órgãos públicos, rede pública de saúde,
instituições diversas, etc.),visando os encaminhamentos que se façam
necessários; o envolvimento com outros segmentos que também contribuam
para a articulação de diretrizes e políticas voltadas à área, e, finalmente
as atribuições relacionadas ao Poder Judiciário (relatório, oitivas, discussões
de casos com a equipe técnica do Núcleo e do Judiciário, etc. ).
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adolescentes, percebi que ao procurar conhece-los, saber quem eles eram, do que
gostavam, como viviam, etc.; sempre recebia respostas que se relacionavam ao que
eles pensavam que eu “gostaria de ouvir”, ou seja, que eles estavam trabalhando,
estudando, “respeitando horários e não fazendo nada errado”.
Notei que estas falas permeavam a maioria dos atendimentos realizados e
também estavam presentes nos casos novos que recebia. Por conseqüência destas
falas hipotetizei que esta forma de interação deveria ser proveniente de defesas e
resistências por parte dos jovens, diante da mudança de orientadora. Apesar de não
estar de todo errada, neste aspecto, hoje percebo que estas respostas surgem de
vários outros determinantes além destes.
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objetivas da vida era o espaço onde poderia haver uma intervenção capaz de alterar
a realidade de cada um, estava em minhas mãos criar as condições para que tais
questões pudessem emergir.
Outro ponto com o qual me deparei, muito cedo, foi o fato de que muitos
jovens não pareciam estar, realmente, comprometidos com o cumprimento da
medida: apareciam na hora que queriam, (embora sempre tenha existido o
agendamento prévio dos atendimentos ), para assinar a L.A. não pareciam refletir
sobre o ato infracional praticado e tão pouco, acerca do projeto de vida que
podiam pretender para si mesmos. Na verdade, não conseguiam elaborá-lo.
Ao constatar este fato passei a pensar que não seria possível esperar que
estes jovens pudessem se dedicar a estas reflexões, com alguma
responsabilidade, pois se assim o fosse, não estariam ali. E que compreende-los
sob a ótica da adolescência e em processo de socioeducação, implicava no
trabalho destas questões.
Desta forma, passei a enfrentar o desafio de construir, nos atendimentos,
algumas estratégias para lidar com tais pontos. A partir das minhas experiências
com a sala de aula, associados aos pressupostos teóricos acerca da adolescência,
consegui estabelecer limites claros a estes adolescentes e, através de reflexões
constantes sobre tais limites junto com os próprios jovens é que pude,
paulatinamente, trazer para os atendimentos a individualidade e a afetividade de
cada um deles bem como o conseqüente comprometimento dos mesmos para com
suas próprias vidas.
Isto aconteceu porque eles puderam perceber que as minhas expectativas
recaiam em compreendê-los e orientá-los, mesmo que para isto eu precisasse impor
algumas condições. Estabeleci certo “contrato” inicial para os atendimentos:
pontualidade; assiduidade; aviso prévio ou posterior no caso de falta, via telefone;
cumprimento dos compromissos que estabelecíamos no atendimento anterior (podia
ser uma redação, providências quanto aos documentos, a matrícula na escola, etc.).
O não cumprimento destas tarefas significaria um novo agendamento, ou seja, ele
deveria retornar em outro dia.
Procurei fundamentar estas regras a partir do vínculo que se estabelecia entre
nós: no respeito a minha pessoa e aos demais jovens que eram atendidos por mim,
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na responsabilidade que ele deveria demonstrar, diante da seriedade da medida, na
autonomia em dar conta de sua vida de maneira adequada, etc. tinham sobre eles.
Muitos reincidiram nas suas práticas infracionais; outros se recusaram a
atender aos limites da medida. Para muitos jovens, este processo não significou
atender às expectativas que se retomarem os estudos; outros ainda, esforçaram-se
por conseguir um emprego, mas não atingiram este objetivo. No entanto, percebi
que a função dos atendimentos para cada um deles foi se modificando, ao longo do
tempo. Passaram a trazer conteúdos afetivos para reflexão. A partir do que
discutíamos ali, juntos, muitos tiveram conquistas importantes para suas próprias
vidas. Em momento algum, realizei qualquer tipo de psicoterapia naqueles
atendimentos, e nem poderia, pois minha graduação é em Pedagogia e Arte
Educação. No entanto, fiz intervenções terapêuticas: ao demonstrar para cada um
deles suas atitudes de vida, ao pontuar suas angústias diante de alguns aspectos,
pensando com eles alternativas para seu futuro, informando possibilidades outras
que jamais haviam pensado até aquele momento incluindo a subjetividade – os
afetos, as expectativas, os desejos, os sonhos – aos aspectos práticos e efetivos de
suas vidas – a escola, o mercado de trabalho, o comportamento, a saúde, as
providências quanto aos documentos, etc. – nos atendimentos, nos atendimentos,
acredito que passei a demonstrar o meu interesse genuíno por cada um deles.
Tivemos (eu e eles) alguns bons resultados.
Obviamente, faltaram-me muitos outros subsídios para o exercício mais efetivo
desta atividade. Principalmente, aqueles que se relacionavam às práticas coletivas:
a articulação de discussões em grupo com os adolescentes, levantar possibilidades
que pudessem contribuir para mudanças efetivas junto as suas comunidades, o
atendimento às famílias (na verdade, sempre realizei as orientações individuais dos
pais e familiares; em geral, tinha uma média de dois ou três encontros com cada
família, durante o período da medida, mas sempre deixei clara minha disponibilidade
para outros contatos, caso eles necessitassem).
No entanto, arquei com uma conseqüência inevitável, dadas as condições
institucionais estabelecidas: o atraso dos relatórios! Dedicar-se a prestar um
atendimento diferenciado aos jovens sob medida implicava em dispensar tempo e
organização. Atender às demandas da própria instituição e do judiciário, também.
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Elaborar um relatório sobre o desenvolvimento de um adolescente, não é tarefa
simples. Pelo menos, no meu entender.
Um último comentário. Por muitas vezes, este processo me foi bastante
angustiante. Na verdade, o sentimento de impotência e de desvalorização
profissional que tínhamos diante desta realidade foi um fato vivido por mim e por
muito colegas. A percepção da ineficiência da medida para alguns casos
(demonstrada pela reincidência no ato infracional ou pela morte dos adolescentes,
em medida) ou a constatação da inexistência de recursos diversos para o
atendimento integral aos adolescentes eram motivos de constantes frustrações.
A exigência da burocracia (relatórios, estatísticas, levantamento de dados) sob
as quais sempre estivemos submetidos, levavam-nos ao questionamento sobre o
nosso real papel junto aos adolescentes e seus familiares. Não eram raras às vezes
em que precisamos decidir à quais exigências (naquelas condições, antagônicas!)
ATENDER (objetiva e subjetivamente): cumprir os prazos determinados, fazer
estatísticas, visitar recursos ou atender dignamente os jovens e suas famílias.
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E foi a partir destas interações com meus colegas assistentes sociais
pedagogos, psicólogos, sociólogos é que passei a questionar a formação deste
profissional/orientador. Parecia-me claro que nossas formações originais jamais
seriam suficientes para abarcar a complexidade de nossos casos, sob a perspectiva
da sócio educação, pois lidar com aqueles adolescentes e suas famílias em sua
totalidade envolvia, não apenas conhecimentos de diversas áreas das Ciências
Humanas, mas também trazia algumas especificidades que merecem atenção
enquanto tal.
Assim, nasceu meu interesse em verificar, através de uma pesquisa, se existe
a necessidade de uma formação específica para os orientadores de Liberdade
assistida.
Acredito ser este um tema relevante, pois a reflexão da experiência vivida dos
orientadores de Liberdade Assistida poderá, inclusive, subsidiar propostas de
formação profissional para esta categoria, a fim de aprimorar o atendimento
prestado aos adolescentes (e suas famílias) que se encontram sob esta medida
socioeducativa.
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Reconhecer as mulheres como sujeitas das políticas pressupõe que haja
garantia de espaços públicos de debate nos mais variados níveis de governo, a fim
de que possam definir estratégias, bem como estabelecer prioridades para inclusão
e participação, dando, assim, uma nova direção às políticas sociais direcionadas às
mulheres e suas famílias.
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A necessidade de uma ampla campanha de difusão e esclarecimento a
respeito do ECA, a formação e capacitação dos Conselhos de Direito e dos
Conselhos Tutelares, o incremento dos Fundos da Criança e do Adolescente são
apresentados como algumas possibilidades concretas para superar os desafios
existentes.
Destacam-se como instrumentos cruciais os Conselhos de Direitos, que
devem ser formados em cada município, em cada estado e no plano nacional; os
Conselhos Tutelares, que buscam soluções, encaminhando ao Ministério
Público/Judiciário, desenvolvendo trabalho junto à família e à comunidade ou
mesmo requisitando serviços públicos, zelando para que as crianças e adolescentes
tenham acesso efetivo aos seus direitos; e, os Fundos da Criança e do Adolescente
com grande potencial de captação de recursos ainda não trabalhados devidamente.
Estes se constituem em instrumentos importantes para a efetivação do ECA e para
que, desse modo, sejam concretizados os direitos fundamentais das crianças e dos
adolescentes.
Por fim e não menos importante a própria ação civil pública para
responsabilização de autoridades que, por ação ou omissão, não cumprirem o ECA,
torna-se um instrumento para garantia dos direitos infanto-juvenis e que certamente
poderá, em muito, contribuir para a superação do distanciamento entre o marco legal
e a plena efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil.
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5.2. Conclusão e Proposta de Intervenção
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resposta retaliativa contra a sociedade e o Estado que os abandonaram. O capitulo
final dessa barbarização humana é o cárcere, deplorável e dantesco, onde o
individuo é despido das ultimas reservas da personalidade e laços sociais. Nesse
caso tudo pode acontecer e efetivamente acontece, menos o respeito à
incolumidade física e moral dos adolescentes privados de liberdade como determina
a Constituição Federal Artigo 5º.
A pacificação do conflito social em uma nação democrática não pode
enveredar por soluções de mera radicalização dos delitos e das penas. Deve
enveredar pelo trabalho coletivo e pela articulação das virtualidades da cidadania em
prol da educação e da sadia recuperação dos jovens em situação de risco, mediante
a contextualização dos fatores de inclusão e de exclusão social, à luz dos
compromissos e mandatos no artigo 3º da Constituição da República (“construção
de uma sociedade livre, justa e democrática, a erradicação da pobreza e da
violência a redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem de
todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outras formas de
descriminação”). Fora disto temos a crescente escalada da brutalidade e o racha no
ambiente urbano sem qualquer perspectiva de pacificação social.
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REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo, companhia das letras, 1990.
COSTA, Antônio Carlos Gomes da. De menor a cidadão. Brasília, 2000, FCBIA
(fotocópia).
47
CFESS. O estudo social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao
debate no judiciário, no penitenciário e na previdência social/ Conselho Federal de
Serviço Social, (org.). 6. Ed. - São Paulo, Cortez, 2006.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas,
1996.
GOLEMAN, Daniel, pH. D 2001-Inteligência emocional: a teoria revolucionária que
redefine o que é ser inteligente/ Daniel Goleman.- Rio de Janeiro : Objetiva, 2001.
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
48
LONDOÑO, Fernando Torres. A origem do conceito menor. História da Criança no
Brasil. São Paulo: Contexto, 1991.
SÁ, Jeanete Liasch. Serviço Social e Interdisciplinaridade. 4. Ed. São Paulo Cortez
2002.
SARTI, Cyntia Andersen. A família como espelho, um estudo sobre a moral dos
pobres. São Paulo:Cortez,2003,2. Ed.
VALE, José Rosa Abreu. Nas Pegadas da Juventude – Estudos e pesquisas sobre
adolescentes no Ceará, Ed. Momentum, 2001. No Mundo da Rua: alternativas à
aplicação de medidas sócio-educativas - Associação Beneficente São Martinho
(org.), 2001.
WEBER, Max. Ciência e política duas vocações. Coleção obra prima de cada autor.
2003,Editora Martin Claret São Paulo. N.80.
11. Apêndices:
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Entrevista apresentada a primeira gerente da medida socioeducativa de
Liberdade Assistida em Rio Branco Acre:
Identificação:
1. Nome:
2. Área de formação:
50
10. Houve um estudo preliminar dos resultados esperados?
51