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Viver
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,
Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
E voar...
Cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!2
(QUINTANA, M. Baú dos espantos, 2006, p. 87.)
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simples - não no sentido de vulgar, mas sob o aspecto elucidativo - a sua compreensão.
Porém, em um segundo instante, ao debruçar-se sobre o texto é percebido a
complexidade de suas indagações.
No princípio de seu texto, Adorno em sua abordagem trata da educação
como resposta a problemática da barbárie em Auschwitz, deixando subtendido que vai
apresentar algum modelo pedagógico para o processo educativo. Mas não o faz. Adorno
apresenta suas considerações acerca da importância da educação para que se evite no
futuro o regresso da barbárie nazista, compreendendo tais acontecimentos em
Auschwitz como um processo cíclico da história que poderia ter sido evitado. Quando
falamos do Holocausto, não estamos limitando a visão aos acontecimentos apenas no
Campo de Concentração citado por Adorno, mas o tomamos como arquétipo de
barbárie, surgida no interior de uma civilização racional e culturalmente desenvolvida.
Eventos análogos, como a morte de um milhão de armênios pelos turcos, na Primeira
Guerra, estão incluídos na questão, entre outros. De acordo com o frankfurtiano4:
Nesse momento, a sua teoria parece coadunar-se com a prática, visto que,
Adorno parte de uma questão empírica para a reflexiva e por meio desse movimento de
conscientização desenvolve sua teoria crítica social. Porém, surge outra problemática,
como retornar para a práxis no processo de educação de forma eficaz, na qual,
realmente o exemplo de destruição remeta ao intelecto o sentido de prevenção em quem
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Refiro-me a Adorno dessa forma por ele fazer parte juntamente com grandes pensadores, como
Horkheimer, Marcuse, Benjamin e outros, da Escola de Frankfurt na Alemanha. Surgida na
década de 20, com a Fundação do Instituto de Pesquisa Social, em 03 de fevereiro de 1923, por
seu idealizador, o cientista político teuto-argentino Felix Weil (1898-1975). Em 1924 suas
instalações foram oficialmente inauguradas na cidade universitária de Frankfurt - Alemanha. A
influência do pensamento marxista nessa escola se vê desde sua fundação, visto que, de início
essa, deveria chamar-se Instituo para o Marxismo, com a idéia de institucionalizar um grupo de
pesquisa dedicado à teorização dos movimentos operários na Europa. Sob a direção de
Horkheimer, a orientação do Instituto mudou substancialmente, ultrapassando a investigação
documentarista de tradição marxista para abarcar uma análise crítica dos problemas decorrentes
do capitalismo moderno.
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tentar apreender o aspecto ético-humanístico em cada indivíduo? Parece utópico. Mas
para Adorno talvez essa utopia seja necessária para se aproximar do necessário, mesmo
seu pensamento sendo caracteristicamente desesperançoso.
Inserido nesse contexto de ruptura com a tradição, Adorno cita a
educação como um meio fundamental para a reflexão e consciência de diversos pontos
latentes no sujeito, revelados de forma desordenada sob o âmbito da vida social
originando comportamentos violentos entre indivíduos de diversos segmentos da
sociedade. Para Adorno, a principal tarefa da educação é evitar Auschwitz. Porém,
Auschwitz é também o símbolo da modernidade e da civilização, em que predomina o
“mundo administrado”. Então, Auschwitz é barbárie sofisticada ou só civilização, e aí
está o drama, pois não se combate apenas um dos lados desta contradição dos dias de
hoje:
Se a barbárie encontra-se no próprio princípio civilizatório, então pretender se
opor a isso tem algo de desesperador (ADORNO, p. 120).
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reconhecer os mecanismos que tornam as pessoas capazes de cometer
tais atos, na medida em que se desperta uma consciência geral acerca
desses mecanismos. (ADORNO, p.121)
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Referente à primeira infância apresentada por Freud que vai até os três anos de idade
aproximadamente, que corresponde à fase oral e anal.
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enfatiza a importância desse estágio freudiano6. Adorno diz a respeito da relação entre
educação e infância no sentido de evitar o processo cíclico da história o seguinte:
A educação tem sentido unicamente como educação dirigida a uma
auto-reflexão crítica. Contudo, na medida em que, conforme os
ensinamentos da psicologia profunda, todo o caráter, inclusive
daqueles que mais tarde praticam crimes, forma-se na primeira
infância, a educação que tem por objetivo evitar a repetição precisa se
concentrar na primeira infância. (ADORNO, p. 122)
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Freud afirmou que o comportamento humano é orientado pelo impulso sexual, que ele chamou
de libido, palavra latina, feminina, que significa prazer. Esse impulso já se manifesta no bebê
com beijos, carícias, olhares e etc. Para Freud, se as necessidades forem satisfeitas, a pessoa
crescerá de maneira psicologicamente saudável; se não o forem, seu ego será imperfeito.
Gerando assim os comportamentos agressivos, cheios de frustrações.
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Condição da pessoa ou de grupo que receba de um elemento que lhe é exterior ou de um
princípio estranho à razão, a lei a que se deve submeter.
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ADORNO, W. Theodor. Sociologia. Org. Gabriel Cohn. São Paulo, SP: Ática, 1994.
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Não no sentido do novo homem marxista que surge no comunismo, mas na concepção do
indivíduo, através de lógica de vida livre da alienação e opressão, repensar sua realidade.
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Quando falo de educação após Auschwitz, refiro-me a duas
questões: primeiro, à educação infantil, sobretudo na primeira
infância, e, além disto, ao esclarecimento geral, que produz um clima
intelectual, cultural e social que não permite tal repetição, portanto,
um clima em que motivos que conduziram ao horror tornem-se de
algum modo conscientes. (ADORNO. p. 123)
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Refiro-me aqui aos conhecimentos da Psicologia enquanto reflexão do ser e o da Sociologia
relacionando a discussão das relações sociais na sua totalidade.
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Esse caso está presente na maioria dos esportes que nós conhecemos que tem como objetivo
gerar um vencedor.
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capaz de unir a teoria e a prática, sem nenhuma repressão psicológica ou social, que se
desenvolva no centro das relações entre pessoas as capacidades intelectual e física
livres de qualquer alienação dentro de uma sociedade capitalista, se o desenvolvimento
dessa, se dará justamente no progresso da fetichização12 das relações sociais? Ou
melhor, como desenvolver uma cultura humanística numa sociedade totalmente
reificada13?
Essas questões poderão em um trabalho a posteriore serem mais
desenvolvidas qualificadamente, investigando de maneira mais minuciosa as categorias
apresentadas pelo farnkfurtiano, suas outras obras e quais as influências para seu
pensamento. Por enquanto, finalizo esse inicial trabalho, com a certeza de que será
continuada essa investigação, pois, o contato com esse texto despertou-me sobre alguns
fatos já presentes em minha consciência de meu interesse filosófico-teórico-prático que
estavam somente adormecidos. E a compreensão de que, mesmo Adorno não
apresentando em nenhum momento uma metodologia pedagógica universal para o
sistema educacional, ele realça a idéia do repensar constante da educação sempre sob
um “véu humanístico”.
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, W. Theodor. Sociologia. Org. Gabriel Conh. Tr. br. Flávio R. Kothe, Aldo
Onesti e Amélia Conh. 2ª edição. São Paulo, SP: Ática, 1994.
BRONNER, S. Eric. Da Teoria Crítica e seus teóricos. Tr. br. Thomás R. Bueno e
Cristina Meneguelo. Campinas, SP: Papirus, 1997.
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Fetichização tem a sua origem na palavra fetichismo, que vem de fetiche, feitiço, que nas
práticas religiosas significa objeto a que se atribui um poder sobrenatural; em psicologia,
fetichismo é um perversão na qual a satisfação sexual depende da visão ou contato com um
objeto determinado. O paralelo entre esses dois sentidos e o do fetichismo da mercadoria [o
referido por Adorno, partindo de uma visão marxista] é que, nos três casos, os objetos inertes,
sem vida, são animados, “humanizados”.
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Reificação: O sufixo rei é originado do latim res que significa coisa. Ficando então
coisificação, que significa reduzir o ser humano a valores exclusivamente materiais, é a
inversão da forma estrutural do real. Onde as coisas ganham vida e os homens tornam-se coisas.
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