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I
Pronuncie-se, justificadamente, em não mais de 20 linhas sobre cada uma das
seguintes questões:
1. Diga se o erro de Direito está contemplado no art. 251.º do Código Civil, e
comente a seguinte afirmação: “O disposto no art. 6.º do Código Civil impede a rele-
vância do erro de Direito na formação da vontade negocial.”. (Cotação: 4 valores)
O erro de Direito está contemplado no art. 251.º: o “objecto do negócio” (previsto
enquanto elemento sobre o qual o erro regulado no art. 251.º incide) inclui quer a falsa repre-
sentação acerca do bem objecto das situações jurídicas reguladas pelo negócio (objecto mediato
do negócio) quer a que versa sobre os efeitos jurídicos (constituição/ modificação /transmissão
/extinção de situações jurídicas) trazidos pelo negócio (objecto imediato, também designado
por conteúdo).
A afirmação é incorrecta: o erro de Direito coloca-se num momento anterior à existência
de obrigações: no momento, precisamente, do respectivo nascimento. E nesse momento, a
ignorância é relevante, nos termos do art. 251.º - que, assim, não contradita sequer o disposto
no art. 6.º (que, explicita-se, fala em cumprimento de obrigações - o que pressupõe o válido
nascimento desta).
II
António, a 12 de Março de 2007, faz anunciar num jornal: “Vendo, por 10 milhões
de euros, terreno, em Lisboa, localizado na Av. Duque de Ávila, entre os números 500 e
504. Mas caso, até 12 de Março de 2008, seja emitido alvará de obra no terreno, a venda
fica sem efeito. Respostas a enviar, por carta, urgentemente, para a Rua do Bom Negó-
cio, n.º 13, Lisboa”.
Bernardo responde por carta enviada no próprio dia e recebida, por António, no
dia seguinte, dizendo: “Conheço o terreno. Aceito. Sugiro escritura no dia 12 de Abril
do corrente.”, seguindo-se a assinatura conforme a fotocópia do bilhete de identidade
que seguia em anexo.
Na véspera da escritura, Bernardo sugere a António, que aceita, que o preço a
constar da escritura fosse 7 milhões, ainda que fossem pagos os combinados 10
milhões. A escritura é assim lavrada, seguindo-se um figurino notarial minutado (que
havia sido entregue, também na véspera, a ambas as partes) em termos elementares
sem qualquer cláusula acessória.
Em Fevereiro de 2008, o dito alvará é emitido; em Março, António exige a resti-
tuição do terreno, com a devolução do preço; Bernardo recusa.
António invoca a seu favor:
- o facto de a escritura não referir o preço verdadeiro;
- a subordinação do negócio ao referido alvará ;
Bernardo responde dizendo
- que a sua resposta ao anúncio consubstanciou a inequívoca vontade em ser
proprietário – e não “proprietário condicionado”;
- que a escritura foi apenas a formalização de um contrato já validamente cele-
brado antes – aquando da recepção, por António, da carta.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Em conclusão, o facto de a escritura não referir o preço verdadeiro não conduz à invali-
dade do negócio, com a consequente devolução do terreno e do preço pago.
- que a sua resposta ao anúncio consubstanciou a inequívoca vontade em ser proprietário – e não “pro-
prietário precário”
Bernardo não tem razão. O anúncio de jornal consubstanciou um convite a contratar
(designadamente por falta de forma para poder tratar-se de uma proposta de venda de um bem
imóvel – art. 875.º). Nos termos do art. 295.º, à interpretação do convite a contratar e respecti-
vas respostas aplica-se o disposto no capítulo do negócio jurídico, incluindo, para o que aqui
releva, a matéria da interpretação da declaração negocial.
As declarações negociais interpretam-se de acordo com o sentido deduzido por um
declaratário normal colocado na posição do real declaratário (salvo se o declarante não puder
razoavelmente contar com esse sentido).
Ora, um homem mediano, colocado na posição do António, que tinha escrito o anúncio
no jornal, deduziria de “Conheço o terreno. Aceito. Sugiro escritura no dia 12 de Abril do cor-
rente.”, uma aceitação total da sua “proposta”. Não deduziria uma aceitação com modificações
(“aceito comprar, mas sem a condição”). Apesar de a carta de Bernardo, per se, permitir a inter-
pretação de aceitar comprar sem a condição, apenas uma concordância total com a “proposta”
permitiria razoavelmente nada dizer quanto à proposta de condição e, mais que isso, permitiria
sugerir, desde logo, uma data (próxima) para a escritura, como se tudo estivesse acertado entre
ambos. António não adivinharia que Bernardo não concordava com a condição. E Bernardo
sabe ou devia saber disso. Para a declaração valer como uma “contraproposta”, Bernardo teria
que ter tornado claro que a sua aceitação não era total.
Em conclusão: Bernardo não tem razão quanto ao sentido da sua resposta ao anúncio.
Bernardo aceitou aquilo que lhe foi “proposto” por António a compra e venda condicional.
Em qualquer caso, o sentido desta aceitação de Bernardo não é relevante, pois foi substi-
tuído pela escritura, que nada contemplou em matéria de condição.
- que a escritura foi apenas a formalização de um contrato já validamente celebrado antes – aquando da
recepção, por António, da carta.
Trata-se de argumento incorrecto: de acordo com o disposto no art. 875.º (conjugado
com o disposto no art. 204.º, n.º 1, alínea a) e com o art. 220.º), a compra e venda de um terre-
no carece de escritura pública, sob pena de nulidade. O “acordo” alcançado entre António e
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Bernardo é meramente preliminar da compra e venda - não é a compra e venda, nem sequer
obriga as partes a celebrá-la.