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Análise do conto
A Casa do Morro Branco - Rachel de Queiroz
Por,
Maria Angelúcia Silveira
Maria Cleonice Andrade
Maria Eliane Silveira da Costa
Luzia Elsa Araújo
Julho - 2008
Cruz/Ce
APRESENTAÇÃO
ENREDO
A obra apresenta enredo linear do princípio ao fim, logo, os fatos vão acontecendo
no desenrolar da narrativa.
Tudo começou com a chegada de um pernambucano, possível fugitivo da
Confederação do Equador. Trazia consigo uma besta de montaria, um moleque e um
cargueiro de bagagem, um bacamarte, e um saquinho de couro cheio de dobrões de ouro
e prata. O vilarejo logo questiona quem é o novo vizinho. Ele mente, diz ter matado um
homem que desonrara sua sobrinha. Isso para que não houvesse possibilidade de
assuntos políticos surgirem. Assim, aluga um casebre enquanto constrói a sua fazenda,
com criação e matagal – mas, não bobo, constrói do outro lado do rio. Lá as terras erram
mais baratas, e, economizava seus dobrões. Obviamente procurou conhecer a nova terra,
e, ao passear na vila passa defronte uma igreja – que o faz lembrar da igreja de Voltaire,
esquece, momentaneamente, alcunhas de Pernambuco e declara chamar-se por
Francisco Maria Arouet. Bem se nota que era homem de conhecimentos.
Porém, escolhe uma negra, sem muitos traços de beleza, e casa-se. Engravida
cinco vezes, e, somente o último sobrevive. Para batizar o filho, o pai entrou em
discussão com o vigário local, que argumentava não ser nome de santo e por isso não
batizaria. O reverendo discursou em latim com Chico Aruéte, que respondeu à altura.
Decidiram, enfim, batizar a criança por José Spartacus. Um simples nome que foi
motivo para falatórios, que nessa altura não eram poucos. Diziam que o fazendeiro tinha
pacto com o Satanás. Entre pequenas ações diferentes dos costumes da região; não se
benzia ao passar defronte a igreja, não havia imagem de santo ou outros na fazenda, não
tinha partido com política, o nome do filho, a união fora dos preceitos religiosos, a
musica triste que tocava em sua flauta nas madrugadas, o fato de um dia ter dito se
chamar bode fez o povoado entender que era o próprio bode-preto, o filho passa a
acreditar no demonismo do pai, as mortes e os enterros na fazenda, enfim. Sobre o fato
de ter matado um homem, a vila já entende que Chico Aruéte havia matado um padre.
Mais um motivo de falatório.
Mesmo assim, sua fazenda aos poucos prospera, pois moleque – um escravo forro,
como todos da região – o auxiliava. Trouxeram gados e outros de Minas e São Paulo.
Embora prósperos, a família era estranha. A mãe não dormia com o esposo. Um dia,
inexplicavelmente, morre Francisco Arouet.
O filho, José Spartacus, constrói um monjolo próximo ao rio. Também prospera.
Já homem, casa três vezes. A primeira esposa morre de parto do primeiro filho. É
enterrada no mato, junto ao avô.
A fazenda entra em declínio. O gado vai morrendo e tudo seca.
Casa novamente. A garota era filha de fazendeiro nortense. Deu ao marido três
filhos. Sinhá Carola, uma outra e um outro. O menino varão chama-se Francisco Arouet
– como o avô – logo, Chiquinho. Uma dor mata a segunda esposa de Spartacus.
Rumores na vila dizem que foi veneno pra casar com a terceira que carregou de seu pai.
No entanto, Pataco, como o povo o chamava, morreu cedo e repentinamente, numa
emboscada. O tiro veio por trás dos túmulos da fazenda. A besta que o carregava se
assustou e correu para a fazenda arrastando o corpo que ficou agarrado pelos estribos. A
esposa chora, porém, encontra rapidamente consolo na casa dos pais, depois de procurar
no cinturão do falecido marido as chaves do baú onde guardava os dobrões. Não
encontrando, diz ter sido roubada pelos enteados, que venceram a madrasta por maioria.
Se o pai de Chiquinho, Spartacus, não sabia muito sobre leituras, tão pouco sabia
Chiquinho, que não quer saber de discutir temas e nem de casar. Basta Sinhá Carola
com fama de bruxa, puxou a avó, Cunhã. Os irmãos se estranhavam dentro de casa. Ele
não cuidava da herança e a plantação de milho, feijão, arroz, mandioca estava
decadente... Só dava para o sustento.
Sinhá Carola, já de velha morre e Chiquinho fica só. Não saia de casa.
Nessa altura dos fatos, já havia comentário em toda vila de uma possível botija,
enterrada por um dos três; Avô, Filho ou Neto.
Na vila, chegam uns cavaleiros, que se diziam vir revoltosos da Coluna Prestes, e
sondam moradores. Querem ficar. Então alguém fala das botijas e, sem mais nem
menos, os cavaleiros somem. Noutro dia surgem urubus sobrevoando a fazenda. Junto
ao mal-cheiro vindo de lá, chama atenção dos provincianos. Encontraram no telhado o
corpo de Chiquinho, morto já de três dias. No chão da sala, poças de sangue e um
enorme buraco, assim como em outros cômodos, inclusive nas três covas do Morro
Branco, que já era considerado um pequeno cemitério. Evidentemente, procurando a
botija.
Mas o que ninguém sabe é se o dinheiro apareceu. Pois, se o acharam, os bandidos
sumiram com ele que não iam contar a ninguém.
CONTEXTO HISTÓRICO
PERSONAGENS
Avô - Francisco Maria Arouet (Chico Aruéte) - Foi o homem que construiu a
casa do Morro Branco, ele veio de Pernambuco para o interior, fugindo das
perseguições que se seguiram da Confederação do Equador. Conseguiu escapar com sua
besta de montaria, um moleque e com um saquinho de dobrões de ouro e prata. Era
homem de leitura e por amor delas se metera na Confederação. Ao invés de pedir moça
branca para se casar, arranjou para viver consigo uma cunhã das redondezas. Teve cinco
filhos e só um sobreviveu, este foi chamado de José Spartacus.
Filho – José Spartacus – Pataco por alcunha – Tinha medo do pai, e de noite, na
cama se benzia quando escutava o granido da flauta. Ele nunca aprendeu nem metade
do que sabia o velho, não era capaz de ler livros em francês e nem se interessou pela
flauta. Pataco herdou da Cunhã o gênio de pouca fala e os modos sonsos. Casou-se três
vezes, a primeira esposa morreu de parto, a segunda lhe deu três filhos e morreu com
um dor de repente. Pataco morreu de um tiro que ninguém sabe de onde veio. Os três,
Pataco e as duas esposas foram enterrados na casa do Morro Branco.
FOCO NARRATIVO
ESPAÇO
A autora intitula o Conto por Morro Branco, mas não fica claro seu desejo de
comparar à praia de Morro Branco.
Morro, por apresentar estrutura rochosa. Branco, por apresentar de longe a cor
branca no solo, atribuída ao calcário ali presente nessas bandas de sertão Pernambucano.
Vale ressaltar – a respeito da narrativa acontecer no interior desse Estado – o fato
de ele ter sido escrito quando a escritora estava no Rio Janeiro.
Ao longo dos acontecimentos percebe-se que a fazenda foi construída do outro
lado do rio que cortava o vilarejo. Assim foi, para economia de Chico Aruéte, ao
comprar a terra em que construiu a fazenda.
A casa – mal-assombrada – tem assim fama, devido aos muitos fatos estranhos
àquela gente de costumes diferentes de seu proprietário. Indubitavelmente, muitos de
nós tivemos já ouvido falar em casa mal-assombrada. Seja por morte de alguém ou por
esquisitices noturnas.
De pavor, aqueles circunvizinhos, não tinham coragem para atrevimentos do tipo –
questionar sobre possível botija – já falada em todo vilarejo. Principalmente depois de
morrer José Spartacus.
Sabe-se sobre botijas, que em diversos municípios do interior do estado de
Pernambuco há um mito em relação ao ouro escondido pelos avarentos. Tal mito
converge simbolicamente a diversos aspectos encontrados no imaginário dos
garimpeiros. O ouro que atormenta, fomenta a busca. Tendo como matéria que informa
e se deforma as narrativas sobre botija e sua relação com aspectos de dois extremos do
país, tem-se a chance de rever a forma esfumaçada a qual o mito opera. Isto nos permite
observar aspectos universais a partir de uma desconstrução metafísica do mito no seio
da antropologia cultural. As narrativas não podem se constituir em momentos de
suspensão fenomenológicos aos moldes de Husserl, outrossim, devem se constituir em
regimes de fascinação de nossa mundanidade cotidiana. É sobre esta velha postura que
diversos autores repousaram: como se o mito fosse impregnado pela narrativa em seu
modelo estrutural.
Sem contar que no conto aparece o Francesismo e o Latinismo, percebe-se logo no
Capítulo II – O Filho – Na questão de seu batismo. Ainda também, em se falar da igreja
local, que o faz lembrar de Igreja de Voltaire. A origem de seu nome, enfim.
O conto apresenta um modelo de família, condenado na época – a questão do
concubinato. Porém não se pode esconder que já existia. Hoje é bem mais aceito.
Essa questão estrutural familiar levanta questões do tipo: por que o avô não
ensinara nada a seu filho? Sabia idiomas e muitos livros de có. Os filhos do primeiro
casamento desentender-se com a madrasta e vice-versa. A falta de comunicação entre
eles. A solidão, ou a reserva do avô altas horas a tocar flauta.
O fato dele – O avô – ter-se declarado mação, diz muito sobre seu comportamento.
Esse tipo de comportamento acaba por refletir nos demais, certa curiosidade, ou
estranhamento. Sem dúvidas, pessoas que agem dessa maneira geram comentários nem
sempre agradáveis.
No interior, parece ser costume do povo, os falatórios e distorção dos fatos. Bem,
no conto analisado, fica mais do que esclarecida essa questão. Constantemente a autora
fala que “... na vizinhança já se falava que...”. Situação típica da vida provinciana.
ANEXOS
ANEXO I
Severino Carvalho
Repórter
Espártaco
Espártaco, em latim Spartacus, (ca. 120 a.C. – ca. 70 a.C.) foi um gladiador de
origem trácia, líder da mais célebre revolta de escravos na Roma Antiga.
A origem de Espártaco e a Revolta dos Escravos.
De acordo com vagas referências de autores romanos (Apiano, Floro e Plutarco),
Espártaco era de origem trácia e, por ter desertado de uma tropa auxiliar do exército
romano, foi capturado e reduzido à escravidão. Devido à sua força física, foi comprado
por um mercador a serviço do lanista, Lêntulo Batiato, e levado para a escola de
gladiadores de Cápua, na Campânia (Itália).
O BODE NA MAÇONARIA
Ir. Jose Castellani
Mas por que bode? Quis saber Paulo. É porque o bode é seu
confidente. Como o bode nada fala, o confesso fica ainda mais seguro de
que seus segredos serão mantidos, respondeu-lhe o Rabino. A Igreja, trinta e
seis anos mais tarde, introduziu, no seu ritual, o confessionário, juntamente
com o voto de silêncio por parte do padre confessor - nesse ponto a história
não conta se foi o Apóstolo que levou a idéia aos seus superiores da Igreja, o
certo é que ela faz bem à humanidade, aliado ao voto de silêncio, o povo
passou a contar as suas faltas.
*Transparência 1
SEMINÁRIO
Teoria da Literatura - 26/07/08
Professor: Fernando Braga
EQUIPE
*Transparência 2
2. “... não um grande morro alto, desses aqui do Rio que mais parecem montanhas de
verdade – e pensando bem, são realmente montanhas. O de lá era antes uma colina,
ou isso que nós no Nordeste chamamos de “alto”, ou “cabeço”. Mas por morro
ficou, tanto que a fazenda era conhecida por “Morro Branco” – sendo o branco
devido ao calcário rasgado nos caminhos e que, visto de longe, chegava a dar a
ilusão de neve.”.
3. “O homem que fez aquela casa era vindo de Pernambuco, e, pelo que se contava
chegara fugido das perseguições que se seguiram á Confederação do Equador. O
verdadeiro nome dele nunca se conheceu. Era pedreiro-livre ou, como se dizia na
época, mação”.
5. “(...) Sendo – é claro – homem de leituras adiantadas, que só por amor delas se
metera na Confederação, quando viu aquela igreja consagrada ao Padre Eterno,
lembrou-se da Igreja de Voltaire, dedicada ao mesmo santo; e abandonando para
sempre os velhos apelidos pernambucanos, declarou-se chamar Francisco Maria
Arouet. O povo logo traduziu para “Chico Aruéte”.
6. “... Alguns viram passar defronte a uma igreja sem tirar o chapéu...”.
7. “(...) E o pai, sempre diferente de todo mundo, em vez de dar a criança nome de
santo, quis que ele se chamasse Spartacus. Houve discussão com o padre na hora
do batizado; mas o pernambucano teimou, o vigário se saiu com um relaxo em
latim, seu Chico traçou no latim igualmente, e acabaram chegando a um acordo: o
menino foi batizado por José Spartacus...”.
8. “... no Morro Branco só trabalha gente forra; era outra das manias de Chico
Aruéte: dizia que não acreditava em cativeiro e não possuía gado de dois pés.
Negro de seu, não tinha nem o Moleque que o acompanhava à chegada; há muito
lhe dera carta de alforria (...)”.