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INTERNACIONAL O ESTADO DE S.

PAULO
Domingo, 16 de Janeiro de 2005

Cresce o fervor religioso, mas nem sempre


fundamentalista
A fé é uma força em ascensão, ao mesmo tempo em se vê uma reação crescente à
radicalização

Laurie Goodstein
The New York Times

Para quase qualquer lugar do mundo que você se voltar, com a cintilante exceção da Europa Ocidental, a
religião é agora uma força em ascensão. Ex-países comunistas estão fervendo com construtores de
mesquitas, missionários cristãos e empreendedores espirituais free lance de todo o tipo de crença. Na
China, as "igrejas domésticas" subterrâneas estão proliferando com tal velocidade que nem as
autoridades nem os líderes cristãos conseguem manter uma contagem.

Em boa parte das Américas do Sul e Central, continuam a se disseminar exuberantes igrejas
pentecostais, onde os fiéis recebem o Espírito Santo, desafiando a tradição católica romana. E nos EUA
os conservadores religiosos triunfantes com seu papel na reeleição do presidente George W. Bush estão
firmando seu poder na política, na mídia e na cultura.

O tsunami na Ásia poderá incitar um renascimento religioso, também, no momento em que as vítimas e
os espectadores se voltam para mesquitas, templos e igrejas tanto em busca de ajuda para compreender a
catástrofe como para fornecer assistência humanitária.

No que resulta toda essa religiosidade em ascensão? É fácil supor que um mundo mais religioso
significa um mundo mais fracionado, onde o conflito é alimentado por movimentos fundamentalistas
violentos. Mas alguns especialistas em religião dizem que, embora esteja claro que a religiosidade está
em alta, não está claro que o fundamentalismo esteja. Na realidade, talvez haja uma crescente reação
negativa contra o fundamentalismo violento.

A religião que mais cresce no mundo não é nenhum tipo de fundamentalismo, mas a ala pentecostal do
cristianismo. Enquanto os fundamentalistas cristãos são mais concentrados na doutrina e na
infalibilidade das Escrituras, o mais importante para os pentecostais é o que chamam de adoração "cheia
do Espírito Santo", que inclui falar em outras línguas e obter curas milagrosas. No Brasil, onde
missionários americanos levaram a religião pentecostal no início do século 20, agora existe uma
congregação que possui a própria estação de televisão, seu time de futebol e partido político.

A maioria dos estudiosos acredita que a maior igreja do mundo é uma igreja pentecostal - a Yoido Full
Gospel Church, em Seul, Coréia do Sul, fundada em 1958 por um budista convertido que fazia orações
numa barraca que ergueu numa favela. Num domingo normal, mais de 250 mil pessoas comparecem ao
culto.

"Se eu fosse comprar ações do cristianismo global, compraria dos pentecostais", disse Martin E. Marty,
professor emérito de História do Cristianismo da Faculdade de Teologia da Universidade de Chicago e
co-autor de um estudo sobre movimentos fundamentalistas. "Não compraria do fundamentalismo."

Depois da eleição presidencial americana em novembro, alguns comentaristas liberais advertiram que a
nação estava prestes a ser tomada por fundamentalistas cristãos.

Mas, nos EUA de hoje, a maioria dos protestantes que compõe o que alguns chamam de direita cristã
não é fundamentalista (mais propensos a criarem enclaves separatistas), mas sim evangélica, que se
engaja na cultura e compartilha sua fé. Marty define o fundamentalismo como essencialmente uma
reação contra o secularismo e a modernidade.

Por exemplo, na Bob Jones University, de Greenville, Carolina do Sul, que é fundamentalista, não é
permitido aos alunos escutar música contemporânea de espécie alguma, nem mesmo rock ou rap
cristãos. Mas no Wheaton College, de Illinois, uma importante escola evangélica, a música cristã é uma
distração comum de muitos alunos.

O fundamentalismo cristão surgiu nos EUA na década de 1920, mas já estava em declínio na década de
1960. Então já tinha sido superado pelo evangelismo, com os encontros revival estilo Billy Graham,
estações de rádio e seminários. A própria palavra fundamentalista caiu em desgraça entre os cristãos
conservadores dos EUA, ainda mais porque passou a ser associada com extremismo e violência no
exterior.

O fundamentalismo de crenças não cristãs tornou-se um fenômeno no restante do mundo na década de


1970 com o "fracasso e a derrocada de credos liberais nacionalistas, seculares em todo o mundo", disse
Philip Jenkins, professor de História e Estudos Religiosos da Pennsylvania State University. Entre as
"crenças que entraram em colapso" estiveram nacionalismo, marxismo, socialismo, pan-arabismo e pan-
africanismo.

"A partir da década de 1970, temos o crescimento não apenas da religião mais conservadora como
também da religião com inclinação política", disse Jenkins, autora de The Next Christendom: The
Coming of Global Christianitiy (A Nova Cristandade: O Surgimento do Cristianismo Global).

Agora, o futuro do fundamentalismo é tenebroso, com várias tendências contraditórias em ação


simultaneamente.

Há pouca dúvida de que um fundamentalismo possa alimentar outro, incitando o recrutamento e


aumentando um tipo de corrida armamentista religiosa. No Estado Plateau, no centro da Nigéria,
gangues muçulmanas e cristãs arrasaram os vilarejos umas das outras nos últimos anos, deixando
dezenas de milhares de mortos. Num tumulto na Índia em 2002, mais de mil pessoas, a maioria
muçulmanas, foram mortas por hindus no Estado de Gujarat - uma retaliação a um ataque muçulmano
no dia anterior a um trem lotado de hindus, que matou 59 pessoas.

Husain Haqqani, um comentarista político paquistanês que é acadêmico visitante no Carnegie


Endowment for International Peace em Washington, disse que os insurgentes em Faluja, Iraque,
recrutaram combatentes com o falso boato de que missionários cristãos que trabalham para a
organização de ajuda do reverendo Franklin Graham, a Samaritan's Purse, estavam a caminho para
converter muçulmanos. (Graham é conhecido no mundo muçulmano pela sua declaração de que o
islamismo é "uma religião muito nociva e cruel".)

A proeminência do clero cristão na coalizão de Bush também ajudou a alimentar a escalada do


fundamentalismo, disse Haqqani. Ele contou que, logo após a eleição, recebeu um telefonema de um
mulá do Paquistão. O mulá tinha visto o reverendo Jerry Falwell na CNN endossar a reeleição do
presidente Bush. O mulá perguntou a Haqqani se reverendo não era a mesma coisa que "maulana" no
islamismo? Ambos querem dizer clero. Assim por que, quis saber ele, que os americanos nos dizem que
não devemos escutar o maulana Ali al-Sistani em questões políticas no Iraque, mas eles devem votar em
quem seus maulanas lhes dizem?

O fundamentalismo não necessariamente conduz à intolerância, disse Jenkins, da Pennsylvania State.


"As pessoas com pontos de vistas tradicionais, muito arraigados, conseguem conviver bem por um longo
tempo", disse ele. "Mas às vezes entramos em ciclos onde elas não conseguem, e parece que estamos
num desses ciclos neste momento."
Os analistas também estão vendo indícios de uma reação negativa no momento em que fiéis religiosos
ficam mais desiludidos com movimentos que produziram pouco além de derramamento de sangue,
estagnação econômica e repressão social.

Nas eleições do ano passado na Índia, os eleitores repudiaram o governo do Partido Bharatiya Janata,
um grupo nacionalista hindu cujos membros tinham ajudado a estimular a violência contra muçulmanos
e outros grupos. E na Indonésia, o maior país muçulmano do mundo, grupos islâmicos da corrente
central do pensamento nacional, em setembro ajudaram a eleger como presidente um general secular que
tinha sido relativamente franco sobre a ameaça representada pelo grupo radical Jemaah Islamiyah,
responsável por vários atos terroristas incluindo o bombardeio em Bali em 2002.

Os movimentos fundamentalistas também tropeçam porque planejam derrubar um governo, mas não
governar. Metade do mundo islâmico é analfabeto, disse Haqqani, mas o Taleban nada fez para melhorar
a alfabetização no Afeganistão. Se o Irã tivesse hoje um plebiscito livre e justo, disse, "os aiatolás seriam
desalojados".

Por motivos como este, R. Scott Appleby, professor de História da Universidade de Notre Dame e
diretor do Joan B. Kroc Institute for International Peace Studies, disse "que seria enganoso dizer que o
fundamentalismo está em ascensão". E acrescentou: "Eu diria que apenas estamos mais alertas a ele
porque essas pessoas estão melhor organizadas e mais falantes do que antes."

Em 2003, Appleby e dois outros estudiosos, Gabriel A. Almond e Emmanuel Sivan, publicaram Strong
Religion (Religião Forte), um livro baseado na pesquisa feita com o professor Marty para o Projeto
Fundamentalismo. O subtítulo do livro é The Rise of Fundamentalism Around the World (A Ascensão do
Fundamentalismo no Mundo).

Agora, disse Appleby, "há alguns indícios, alguma literatura que diz que o fundamentalismo está em
declínio, que já atingiu seu auge ou que está atingindo seu auge precisamente agora porque tem uma
tendência para a violência e intolerância e isso em última análise não funciona. Isso resulta em
derramamento de sangue, perda de vidas e não apresenta uma melhoria econômica perceptível e já se
esgotou."

Isso não quer dizer que ele não preveja mais embates religiosos, às vezes violentos. Pela sua própria
natureza, os fundamentalistas perduram porque estão motivados por idéias transcendentes como a
salvação ou, em alguns lugares, o martírio. Appleby disse que não espera presenciar o crescimento mas
uma persistência de "bolsões mortíferos de supostos revolucionários que estão mais equipados do que
nunca com um pouco de conhecimento tecnológico e capacidade de organização".

O governo está despreparado para fazer as necessárias distinções entre o que é meramente fervor
religioso e o que é fundamentalismo potencialmente perigoso, disse Thomas F. Farr que, há um ano,
deixou o posto de diretor da divisão de liberdade religiosa internacional no Departamento de Estado. "A
maioria dos meus amigos do serviço de relações exteriores preferiria fazer tratamento de canal do que
conversar com um imã muçulmano sobre religião", disse Farr que agora trabalha para o Institute for
Global Engagement, uma entidade com sede em Washington que estuda a liberdade religiosa
internacional.

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