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Avaliação em Alfabetização
João Batista Araujo e Oliveira

Resumo suggests that the definition and competencies


shared by the international academic
O presente artigo analisa as competências
community might be more adequate to assess
da alfabetização com base nas recentes des-
beginning reading and writing skills.
cobertas da Ciência Cognitiva da Leitura. De
Keywords: Literacy. Literacy skills.
modo particular demonstra a necessidade de
Differences between reading and
basear as matrizes de avaliação em conceitos
understanding. Literacy evaluation.
claros e sólidos que diferenciam as diferentes
competências, especialmente a diferença entre
ler e compreender. O artigo também analisa a Resumen
proposta para avaliação da alfabetização na Avaluación en la
2ª. série do ensino fundamental formulada pelo
CEALE/UFMG e mostra sua fragilidade para alfabetización
avaliar, de forma indepen- Este artículo analiza las
dente, as competências de competencias de la
João Batista Araujo e Oliveira
leitura e compreensão. alfabetización con base a los
Ph.D. em Educação,
Palavras-chave: Alfabetiza- recientes descubrimientos
Florida State University
ção. Competências da alfabe- de la Ciencia Cognitiva de
Consultor, Presidente da
tização. Diferença entre leitura JM-Associados la Lectura. De modo
e compreensão. Avaliação da jm@terra.com.br particular demuestra la
alfabetização. necesidad de basar las
matrices de la evaluación en
Abstract conceptos claros y sólidos que diferencian las
diferentes competencias, especialmente la
Literacy Evaluation diferencia entre leer y comprender. El artículo
The paper discusses how a wrong definition también analiza la propuesta para la
and partial understanding of the skills involved evaluación de la alfabetización en la 2º curso
in teaching to read and write can lead to the de la enseñanza fundamental formulada por
development of assessments which do not CEALE/UFMG y muestra su fragilidad para
allow correct inferences about the reading and evaluar, de forma independiente, las
writing competencies acquired by students. In competencias de lectura y comprensión.
particular, the confusion between reading and Palabras clave: Alfabetización. Competencias
understanding precludes the correct de la alfabetización. Diferencia entre lectura y
interpretation of test results. The author comprensión. Evaluación de la alfabetización.

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 375-382, jul./set. 2005
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Introdução não medem nem leitura nem compreen-


são. Trata-se de um problema elementar
O Brasil não possui testes padroniza-
de lógica: um aluno que não sabe ler pode
dos para avaliar a alfabetização1. Isso se
não responder a uma pergunta de com-
aplica tanto às etapas mais básicas quanto
preensão porque não sabe ler, e não por-
mais avançadas da aquisição da leitura e
que não a compreenda. Da mesma for-
escrita. Diversas Secretarias Municipais de
ma, um aluno pode não produzir um texto
Educação utilizam testes para avaliar com-
simplesmente porque não consegue escre-
petências de alfabetização em suas re-
ver as palavras de forma legível ou orto-
des de ensino. O autor tem conhecimento
gráfica, e não porque não possua as com-
de dezenas desses tipos de testes, normal-
petências intelectuais para produzir um
mente produzidos de forma artesanal pelas
texto. Avaliar compreensão e produção de
equipes das Secretarias ou das IES locais.
texto sem saber se o aluno domina as com-
Nenhum desses testes respeita os princípi-
petências que lhes precedem resulta em
os psicométricos mais elementares, portan-
testes que nem medem se o aluno está al-
to geram pouco conhecimento útil ou ge-
fabetizado nem se é capaz de compreen-
neralizável.
der ou produzir textos. Obviamente essa
afirmação decorre da definição de alfabe-
A elaboração de um teste adequado
tização corrente na literatura científica – e
depende da definição de alfabetização.
não da definição de alfabetização basea-
Diferentes definições levam a diferentes in-
da nos ambíguos conceitos de alfabetiza-
dicadores, diferentes matrizes e, consequen-
ção apresentados nos PCNs.
temente, diferentes itens. O primeiro pro-
blema a ser abordado, portanto, é o da
Se tomarmos como base de referên-
definição do que seja alfabetizar.
cias publicações como por exemplo o
National Reading Panel Report (NATIO-
O que é alfabetizar NAL READING PANEL, 2000), o Natio-
As definições de alfabetização mais cor- nal Literacy Strategy (OFFICE FOR STAN-
rentes no Brasil diferem do que se encon- DARDS IN EDUCATION, 2000) ou o Ap-
tra nos periódicos científicos de maior cir- prendre à Lire (FRANCE, 1998), que são
culação internacional. A referência usual formalmente equivalentes aos PCNs, ou
no Brasil são os PCNs2 - Parâmetros e Re- se tomarmos como referência os autores
ferenciais Curriculares Nacionais. Na ver- e as publicações mais citadas na litera-
dade, os PCNs evitam definir alfabetiza- tura cientifica internacional como Ada-
cao, mas quando o tentam fazer, confun- ms (1990), Oakhill e Beard (1999), ou
dem leitura com compreensão, escrita com McGuiness (2004), podemos observar
produção de textos. Em conseqüência, os um elevado nível de consenso entre os
testes baseados nessa conceção refletem cientistas e formuladores de políticas edu-
esse erro conceitual e conseqüentemente cacionais dos outros países a respeito do

1
Há testes desenvolvidos por estudiosos da alfabetização como Capovilla (USP), Pinheiro (UFMG) e Scliar-Cabral (UFSC) que
avaliam competências associadas a importantes elementos do processo de alfabetização.
2
Para uma crítica do conceito de alfabetização nos PCNs ver o relatório Alfabetização Infantil: os novos caminhos da alfabetização
(BRASIL, 2003).

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assunto. Ler significa, basicamente, a transcrever os sons da fala. Ambos en-


capacidade de identificar automatica- volvem a capacidade de decodificar fo-
mente as palavras. Escrever consiste em nemas em grafemas e vice-versa.

Níveis de desenvolvimento do processo de alfabetização


Nível Competências de Leitura Competências de Escrita
1 Decodificar, isto é, produzir o som Caligrafia: escrever de forma
da palavra indicado pelas letras legível e com fluência
2 Identificar automaticamente Ortografia: escrever respeitando
a palavra regras ortográficas3
3 Ler com fluência Sintaxe: escrever frases com
sentido e ordenação adequada

Dado que o objetivo de ler é compre- As competências relacionadas com os


ender, e o objetivo de escrever é comuni- “objetivos” da aprendizagem da leitura, a
car, aprender a ler e escrever envolvem três compreensão e produção de textos são de
níveis de competência: natureza muito mais complexa. O ensino
dessas competências antecede, acompa-
nha e sucede o processo de alfabetização,
Ensinar essas competências em níveis mas é independente delas. As pessoas com-
progressivamente mais elaborados consti- preendem antes de saber ler e são capa-
tui o cerne do programa de ensino e do zes de contar histórias, fazer descrições ou
“processo” de alfabetização de praticamen- relatar notícias antes de saber escrever.
te todos os países do mundo que possuem Tanto do ponto de vista conceitual quanto
um sistema alfabético de escrita. O proces- metodológico são independentes do pro-
so de alfabetização, como definido ao final cesso da alfabetização. Embora sejam
do parágrafo anterior, não se confunde com ensinadas durante a alfabetização (e em
letramento, educação permanente ou ou- pré-escolas, onde existem), elas não se
tros objetivos meritórios da educação: ele constituem no objeto próprio da alfabeti-
tem princípio, meio e fim, e seu fim ocorre zação, e sim, no seu objetivo de longo
quando o aluno adquire o nível de fluên- prazo. A confusão entre o objetivo e o pro-
cia necessário para ter um mínimo de au- cesso de alfabetização precisa ser supera-
tonomia na leitura e escrita. da para que o conceito possa emergir de
3
O grau de correção ortográfica deve ser graduado ao longo dos primeiros anos da escolaridade. Na língua portuguesa a
maioria das convenções ortográficas são muito regulares e podem ser aprendidas ao final do processo de alfabetização (equivalente
ao final da 1a. série no sistema público). Da mesma forma a fluência na escrita e leitura devem ser graduadas ao longo do ensino
fundamental. No caso da leitura, é necessária uma fluência mínima de 60 a 80 palavras para que haja compreensão. No caso
da escrita, a fluência mínima para o aluno enfrentar os desafios da 2a. série é próxima ao ritmo da fala pausada do professor que
dita, por exemplo, uma tarefa de casa. Ou ao tempo considerado razoável para copiar um texto ou tarefa. O aluno que não
possui essa fluência na 2a. série pode ser considerado um analfabeto funcional, pois seu nível de alfabetização não lhe permite
funcionar adequadamente nesse série. Testes adequados de alfabetização devem levar em conta a mensuração da fluência de
leitura e escrita de textos, e não apenas de palavras.

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forma clara e sem ambigüidades. Defini- - a decodificação – a capacidade


da a natureza da alfabetização, cabe es- de pronunciar o som de uma palavra
pecificar as competências que permitem ao escrita ou transformar em escrita uma
aluno tornar-se alfabetizado. palavra ouvida;
- a fluência – que inclui a correção e
As competências ritmo de leitura de textos.

da alfabetização B. 2. Na escrita
Os avanços da Psicologia Cognitiva - capacidade de escrever de forma le-
da Leitura vêm permitindo um mapeamen- gível e com fluência (caligrafia);
to bastante detalhado das competências - capacidade de escrever de forma or-
que precedem, acompanham e se tornam tográfica;
possíveis com a alfabetização. Não cabe - capacidade de escrever frases sintáti-
discutir aqui a forma, momento ou méto- ca e semanticamente corretas.
do de ensino dessas competências, trata-
se apenas de descrevê-las. Uma apresen- C- Competências que precedem,
tação sistemática dessas competências acompanham e sucedem o processo
encontra-se no já mencionado National de alfabetização – mas são indepen-
Reading Panel Report4: dentes do mesmo:
- desenvolvimento do léxico – quanto
A- Competências que viabilizam – e maior o léxico, maior a capacidade de lei-
portanto antecedem a alfabetização: tura e de compreensão;
- a capacidade de lidar com livros e -desenvolvimento de competências
textos impressos; de compreensão de texto, e que inclu-
- a consciência fonológica, isto é a ca- em competências sobre a estrutura e es-
pacidade de discriminar sons; trutura, estrutura, lógica e usos sociais
- a familiaridade com a metalinguagem dos diferentes tipos de texto, bem como
da aprendizagem e da escola, incluindo estratégias gerais de compreensão e pro-
capacidades relativas ao entendimento de dução de textos.
comandos e instruções usuais no ambiente
escolar. Esta lista de competências constitui
o currículo dos programas de alfabeti-
B- Competências centrais ao proces- zação da maioria dos paises do mundo
so de alfabetização: que adotam o sistema alfabético. A
B. 1. Na leitura maior parte do tempo de aprendizagem
- a consciência fonológica - a idéia se concentra na aquisição das compe-
de que diferentes letras produzem dife- tências centrais de decodificação e flu-
rentes sons; ência – pois são elas que asseguram o
- o princípio alfabético - a idéia de que reconhecimento automático das pala-
há uma relação entre a presença e posição vras. Elas são ensinadas num período
de um grafema e o som que ela tem na que vai de 1 a 3 anos, dependendo do
palavra; grau de transparência ou opacidade da
4
Essas competências são descritas no livro “ABC do alfabetizador” (OLIVEIRA, 2005).

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língua 5. Esse mero fato demonstra que • um texto que o aluno não tenha lido,
o processo de alfabetizar é independente de estrutura morfo-sintática compa-
do processo de compreensão. E, natu- tível com a idade e nível de desen-
ralmente, são essas as competências volvimento do aluno;
que constituem a matriz de referência • uma leitura cronometrada;
para o desenvolvimento de instrumen- • contagem de erros (gaguejar, parar,
tos de avaliação. silabar, decodificar).

Instrumentos de Para avaliar a capacidade de es-


crita o ditado é um instrumento que
avaliação apresenta um elevado grau de valida-
Definida a alfabetização e as compe- de de face, e normalmente é avaliado
tências que a possibilitam, cabe identificar levando em conta:
os instrumentos mais adequados para ava- • a fluência, ou seja, o tempo necessá-
liar se o aluno está alfabetizado. rio para escrever;
• a legibilidade;
Nas escolas tradicionais a avaliação se • o nível de correção ortográfica;
dá quando o diretor “toma a leitura” dos alu- • o atendimento a regras básicas de
nos para verificar se estão alfabetizados. O pontuação e uso de maiúsculas;
ditado continua sendo um instrumento práti- • a disposição da escrita no papel de
co eficaz para verificar a capacidade de trans- acordo com a natureza da mensagem.
crição escrita do código alfabético. Professo-
res da série seguinte à alfabetização são os Um aluno pode ser considerado al-
melhores juízes para avaliar se o aluno está fabetizado quando domina essas com-
ou não alfabetizado: o aluno que não lê o petências. Nas séries seguintes a ênfase
texto do livro, não copia o que precisa copiar do ensino da língua passa para outros
no tempo adequado e se não toma notas de aspectos, tais como o desenvolvimento
forma defina, não tem funcionalidade. Por- do léxico, a correção ortográfica, o do-
tanto, é um analfabeto funcional escolariza- mínio da sintaxe e a compreensão e pro-
do. Embora não sejam tecnicamente robus- dução de textos. Nada impede que es-
tas, essas práticas contém os elementos es- sas habilidades sejam ensinadas e ava-
senciais de uma boa avaliação das compe- liadas antes e durante o processo de al-
tências centrais da avaliação. fabetização. No entanto são necessári-
os cuidados especiais para que essas
Para avaliar a fluência de leitura6, ins- competências sejam avaliadas de forma
trumentos mais robustos e sofisticados de- independente da avaliação das compe-
vem incluir: tências específicas da alfabetização.

5
Os termos transparente e opaco são usados na literatura especializada para indicar o grau de maior ou menor proximidade entre
os sons da fala e sua representação gráfica. Essa propriedade da língua faz com que a alfabetização se realize em 1 ano em países
como a Finlândia ou Itália, mas leve cerca de dois anos em países francófonos e cerca de 3 nos países de língua inglesa. Trata-
se de mais uma evidência de que alfabetizar, no seu sentido próprio, nada tem a ver com compreensão de textos.
6
O Programa Alfa e Beto de Alfabetização, desenvolvido pelo autor, utiliza instrumentos dessa natureza para acompanhar o aluno
ao longo e avaliá-lo ao término do processo de alfabetização. Um aluno alfabetizado deve ser capaz de ler pelo menos 60 a 80
palavras por minuto, com um máximo de 5% de erros, compreendendo o que leu de primeira vez. Disponível em: <www.alfaebeto.com.br>.

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Compreensão e forma independente da mensuração das


capacidades de compreensão e produção
produção de textos de textos, no caso de alunos recém-alfabe-
Os indicadores descritos na seção anterior tizados. De outra forma a medida fica con-
referem-se às competências centrais e básicas taminada, e ficamos sem saber se o aluno
do processo da alfabetização. O aluno, mes- não compreendeu porque não sabe ler ou
mo depois de ser considerado alfabetizado, porque apenas não soube compreender. Os
ainda precisa e pode desenvolver fluência de testes mencionados no primeiro parágrafo
leitura e escrita. Também precisará desenvol- deste artigo cometem essa confusão.
ver sua capacidade ortográfica – que são com-
petências próprias da alfabetização. Mas já O mesmo ocorre na escrita. O aluno pode
alcançou um nível básico que lhe permite fun- ser capaz de pensar e ditar um texto razoa-
cionar numa segunda série, ou seja, usar a velmente estruturado e elaborado. Mas se não
leitura e escrita para aprender – ao invés de souber escrever com legibilidade e fluência,
aprender a ler e escrever. O processo da alfa- pode nao “produzir um texto” – muito menos
betização, como tal tem princípio, meio e fim: dentro de um tempo funcionalmente adequa-
não é um processo permanente. E portanto do. Portanto, se o avaliador não se assegu-
pode ser avaliado de forma precisa. rar, de forma independente, que o aluno pos-
sui competências de caligrafia e ortografia,
Já a compreensão e a capacidade de nao tem como avaliar se o aluno deixou de
produção de texto são competências que nem produzir um texto porque nao possui as com-
começam nem terminam na escola. Antes petências de produção de texto - embora sai-
da escola e ao longo da vida aumentamos ba escrever no sentido próprio da palavra –
nossa capacidade de compreender e escre- ou porque não possui as competências bási-
ver em função do desenvolvimento de nossa cas da escrita. Nesse caso o teste foi inútil,
capacidade mental e dos conhecimentos que pois não avaliou nem uma coisa nem outra.
adquirimos sobre os vários assuntos sobre
os quais lemos ou escrevemos. A esse respeito são eloqüentes os resul-
tados do SAEB e do PISA. No caso do PISA
A criança compreende textos bastante (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-
complexos antes de ser alfabetizada, e tam- OPERATION AND DEVELOPMENT, 2001),
bém é capaz de produzir textos orais. Mas vemos que mais de 55% dos alunos brasi-
a mesma criança recém-alfabetizada care- leiros com 13 anos de idade, matriculados
ce de competências que lhe permitam com- na 7ª. e 8a. séries do ensino fundamental
preender esses mesmos textos se ela pró- situam-se no nível mais básico de leitura,
pria tiver de lê-los. A razão é que ela não que é o nível da identificação das pala-
possui a fluência adequada: ela tem uma vras. Ou seja, no máximo eles identificam
dificuldade de leitura que, por sua vez, im- as palavras escritas, sem necessariamente
pede a compreensão. Mas isso não signifi- apreciar o sentido. É provável que se fos-
ca que essa criança tenha uma dificuldade sem submetidos a um teste oral, esses alu-
de compreensão. Daí a necessidade de nos tivessem um resultado muito melhor em
cuidados e técnicas próprias que permitam compreensão. Eles não compreendem por-
avaliar a capacidade de leitura e escrita de que não sabem ler – não porque não sa-

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bem compreender. Diante de um texto, ou pela Internet a partir de meados de 2004


de um teste, seu esforço cognitivo concen- incorre nesse mesmo tipo de erro. Nessa
tra-se no nível mais elementar – porque não proposta há apenas uma competência re-
foram devidamente alfabetizados, e não lacionada com o funcionamento do sis-
aprenderam a identificar automaticamente tema de escrita: dominar o princípio al-
palavras nem a ler com fluência. fabético. Essa competência, na Matriz do
SAEB, é desdobrada em 4 descritores:
Cabe deixar claro que um aluno devi- identificar as relações entre fonemas e
damente alfabetizado, ainda que com flu- grafemas; identificar palavra composta
ência limitada de leitura e escrita, deve ser por sílabas canônicas, identificar pala-
capaz de compreender textos simples e com- vras compostas por sílabas não canôni-
patíveis com seu nível de leitura. Bem como cas; relacionar palavra à figura.
deve ser capaz de redigir frases com uma
estrutura sintática simples. Esta não é a ques- Cabe registrar que essa competência é
tão em pauta. A questão é que quando a considerada como fundamento ou requisi-
criança não adquiriu a base, usar testes com to para a alfabetização, e não como parte
textos complexos e exigir produção de textos do que deve ser ensinado como próprio de
também complexos não permite saber nem um programa de alfabetização. Seria mais
se a criança está alfabetizada nem se con- adequado investigar esse tipo de compe-
segue compreender ou produzir textos. tência para diagnóstico de alunos que vão
iniciar a alfabetização do que para um tes-
Voltando ao te de alfabetização propriamente dito. To-
dos os outros indicadores da referida Ma-
ponto de partida triz referem-se a competências relaciona-
A qualidade de um teste depende, entre das à compreensão de textos.
outros fatores, da consistência entre a defi-
nição, os indicadores, os instrumentos e os Ao ignorar os avanços da Ciência Cog-
itens utilizados – e sua pertinência à clien- nitiva da Leitura e apoiar-se nos PCNs como
tela avaliada. As concepções equivocadas fonte de definição do que seja alfabetiza-
de alfabetização prevalentes no Brasil im- ção, os responsáveis pela elaboração dos
possibilitam não apenas a alfabetização testes de alfabetização deixarão as escolas
adequada das crianças, mas a elaboração e pais sem saber se os alunos foram ou
de testes adequados de alfabetização. não alfabetizados. Pouco saberemos sobre
as competências de compreensão – como
A proposta de Matriz e Referência do podemos inferir da história do SAEB e do
SAEB7 para os concluintes da 2ª. série do PISA – e nada saberemos sobre o êxito da
ensino fundamental, que vem circulando alfabetização.

7
A aplicação desse teste em 2005 foi suspensa pelo MEC/INEP.

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 375-382, jul./set. 2005
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Referências
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MIT Press, 1990.

BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados. Alfabetização infantil: os novos caminhos:


relatório apresentado à Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.
Brasília, DF, 2003.

FRANCE. Ministère de la Jeunesse, de l´Éducation Nationale et de la Recherche. Ap-


prende à lire. Paris: MEN, 1998.

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reading. Cambridge, MA: MIT Press, 2004.

NATIONAL READING PANEL. National Reading Panel Report: teaching children to read:
an evidence based assessment of the scientific research literature on reading and its im-
plications for reading instruction. Washington, DC: National Institute of Child Health and
Development, 2000.

OAKHILL, J.; BEARD, R. Reading development and the teaching of reading. Oxford:
Blackwell Publ., 1999.

OFFICE FOR STANDARDS IN EDUCATION. The national literacy strategy. London:


Ofsted, 2000.

OLIVEIRA, J. B. ABC do alfabetizador. 3. ed. Belo Horizonte: Alfa Educativa, 2005.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Knowled-


ge and skills for life: first results from the PISA 2000. Paris: OECD, 2001.

Recebido em: 01/02/2005


Aceito para publicação em: 08/07/2005

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p. 375-382, jul./set. 2005

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