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CURITIBA
2007
Na torrente da vida e furor da tormenta
Subo e desço incansável,
Mil caminhos a cruzar,
Nascimento e morte é tudo inevitável,
Um eterno mar,
Um tecer constante
Nesta vida estafante,
Teço, na barulhenta máquina do tempo,
a veste
Viva, com que a Divindade se reveste
Mefistófeles
(Fausto /Goethe)
ii
DEDICATÓRIA
iii
RESUMO
iv
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................iv
INTRODUÇÃO................................................................................................................02
2 DA ARTE TÊXTIL, LEVANTAMENTO INICIAL...........................................................04
2.1 Breve histórico, difusão e principais elementos da Arte Têxtil .................................04
2.2 Aspectos diferenciais da tapeçaria .........................................................................12
3 IMIGRAÇÃO NO PARANÁ UM BREVE RELATO......................................................15
3.1 Aspectos da COMUNIDADE HÚNGARA, de imigrante a cidadão ..........................20
4 METODOLOGIA DE PESQUISA, RELATOS DE VIDA E A HISTÓRIA ORAL .........24
4.1 Aspectos da metodologia .........................................................................................24
4.2 Pesquisa de campo, proposta exploratória ..............................................................29
4.3 Margarete Depner: relatos e impressões ...............................................................30
4.4 Aspectos da produção têxtil de Depner ...................................................................34
4.5 Expansão da produção, círculo de artistas e o ensino da arte têxtil.........................37
CONCLUSÃO..................................................................................................................41
REFERÊNCIAS...............................................................................................................44
ANEXOS..........................................................................................................................47
v
INTRODUÇÃO
A arte têxtil pode ser definida como a que se ocupa com a criação dos
tecidos ou com os tecidos. Artistas Têxteis usam várias técnicas para criar suas
obras de arte usando linhas e fibras, às vezes em combinação com pinturas ou
tinturas. A arte de têxtil inclui: crochê, bordado, feltragem, costura, rendas,
tapeçaria, patchwork, acolchoamento, tecelagem, fiação, macramé, entre outras.
Tendo em vista que têxtil se refere a tecidos que se definem como
produtos de teares, chega-se à técnica têxtil por excelência, ou seja, a
tecelagem. Esta pode ser manual ou industrial. Para o presente estudo, que se
inclui no âmbito das artes visuais, se descarta a atividade industrial,
concentrando-se na Tecelagem Manual ou também conhecida como Artística.
Marylene Brahic, no livro A Tecelagem (BRAHIC, 1992, p. 7), define
tecelagem como sendo a arte de entrelaçar fios e de cruzá-los entre si de forma
ordenada. Tecelagem também seria o nome do artesanato que utiliza o tear para
produzir tecidos a partir de fios. Para esta função, foi desenvolvido, ao longo dos
séculos uma ferramenta, o tear que se constitui basicamente, de uma armação,
geralmente de madeira, em forma de quadro, no qual se dispõe um conjunto de
fios esticados paralelamente na mesma direção e a uma mesma distância entre
si. A este conjunto se denomina urdidura. Sobre este grupo se entretece os fios
de trama, segundo procedimentos inerentes à técnica. A soma destes dois
elementos, urdidura e trama, se denomina tecido.
4
A industrialização no Brasil, que teve seu início nos últimos quinze anos
do século XIX, acabou intensificando uma política imigratória, período conhecido
como Grande Imigração. Sendo que nesta época ingressaram no Brasil cerca de
4,8 milhões de pessoas. Parte do estudo desta fase da vida nacional encontra-se
registrada por Sérgio Odilon Nadalin, no livro Paraná: Ocupação do Território,
População e Migrações (2004), que comenta citando Nadalin:
Campo.”
localizados “.
1
JULIETA BRAGA CÔRTES REIS (PSB) ocupa um cargo de funcionária da Prefeitura de
Curitiba desde 1973. Fez parte da equipe que criou a Fundação Cultural de Curitiba, o Centro de
Criatividade do Parque São Lourenço e a Casa do Artesanato. Seu maior trabalho foi a implantação da
Feira de Artesanato do Largo da Ordem aos Domingos, no Setor Histórico da Cidade.
30
2
Este território, atualmente pertence à Romênia, anteriormente foi parte da Hungria.
3
Edith Ferenczy, Psicóloga e Ceramista.
31
Depois fomos para a Áustria, sempre fugindo dos russos. Fomos a Viena. Não sei
como não morremos lá, pois a cidade foi totalmente bombardeada. Ficamos lá na
casa de amigos perto da Igreja principal de Viena. Nós ficamos durante 2 semanas
em lá, abrigados na casa de amigos. Tivemos que ir adiante fomos a Salzburg e de lá
para o sul, para as montanhas num local chamado Zell am See (Céu no lago), era
uma cidade menor, pitoresca, entre as montanhas, relativamente mais segura. Nesta
cidade moramos 8 anos, até 1948. Eu estudava num colégio de língua alemã. Até
conseguirmos emigrar.
Na Áustria nós conseguimos moradia nos Alpes, todos os dias, tínhamos que subir e
descer a montanha, enfrentando neve, frio e gelo para ficar numa fila quilométrica
para conseguir um pedaço pequeno de pão. Era uma situação terrível. Enquanto
morávamos em Zell am See acabou a guerra. Conseguimos sair de lá, graças a ela
(Margarete). Graças a ela sobrevivemos à guerra, à Imigração e tudo.
Era um período muito difícil para todos os imigrantes daquela época... Condessas
dando aula de piano, cuidando de crianças, cada um se virando como
podia...recebendo uma ajuda de US$ 20,00 por pessoa do Governo. A minha mãe
teve muita sorte, pois desde o começo, juntamente com uma outra senhora húngara
começaram a fabricar roupas para liquidificadores e bujão de gás em grande
quantidade... A Edith dava aulas de alemão e inglês para crianças. Era uma família
muito generosa permitiu que morássemos na casa deles, é claro não na suíte do
casal, mas sim nas dependências do apartamento. A minha mãe ensinava a
cozinheira como preparar doces e especialidades húngaras... Tudo isto por um curto
período, pois em pouco tempo conseguimos mudar para uma casinha alugada, pois o
pai que era portador de doença cardíaca conseguiu fazer sociedade com um
conterrâneo e montaram junta, uma oficina mecânica. Eu entrei no Colégio Stella
Maris e 2 anos depois no Colégio de elite chamado Bennet, onde estudavam filhos de
ministros... da alta sociedade do Rio...(foi por intermédio do Pastor Apostol Janos da
Igreja Evangélica de São Paulo) que a minha mãe conheceu durante o Congresso
4
Formada pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, sócia há 25 anos no Woman's
Club de São Paulo (com sede em Washington e que cuida de 800 crianças), Presidente da Liga das
Senhoras Húngaras de São Paulo e uma das diretoras da Casa Húngara de São Paulo.
33
Em 1952, casei com Lorand Ferenczy no Rio de Janeiro. Imigrante que trabalhava
numa oficina de bolsas e malas. Quando ele conseguiu emprego melhor em Curitiba,
numa fabrica de malas, mudamos com nosso filhinho Miklos. Cinco anos depois
nossos pais vieram também para Curitiba.
Tanto os meus filhos quanto os meus netos, todos gostam muito de meus trabalhos.
Comecei aqui com o tear. Na Transilvânia, meu pai era fazendeiro. Com meu trabalho
construí a minha casa e voltei muitas vezes para a minha terra natal. Lá perdemos
tudo por causa do Comunismo.
e bonança.
Como a mãe nasceu em 1910, praticamente cresceu junto com esta arte, pois
naquela época não havia fabricas de tecido. Para ela não foi difícil começar trabalhar
no tear. Vender durante muitos anos para a Casa e Jardim, em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em Petrópolis, aceitar encomendas e participar em Exposições e Feiras de
Artesanato... Na Casa Húngara de São Paulo tem um trabalho lindíssimo da mãe que
ela ofereceu de presente, tem também um trabalho dela no Museu do Mosteiro São
Geraldo - Colégio Santo Américo que foi fundado por padres Católicos Húngaros, um
dos Colégios mais tradicionais de São Paulo. O freguês mais importante da mãe era
a (loja) Casa e Jardim – Decorações, que durante muitos e muitos anos comprava
tapetes e outras obras da mãe.
Um grupo de nomes conhecidos do artesanato do Paraná abriu uma casa onde estão
exibindo seus trabalhos, diariamente, no horário comercial e onde também serão
iniciados cursos das mais variadas especialidades em que os componentes do grupo
são peritos. A casa tem denominação de “Artesanato” e funciona na Rua Almirante
barroso, 241. É uma ótima opção para os que quiserem conhecer o que se faz de
bom em artesanato no Estado e mesmo é uma indicação para aquisição de
presentes. Fazem parte do grupo Alfredo Braga, Gilda, Marly Willer, Edith Ferenczy,
Margarete Depner, Magdalena, Proença, Miraglia e Mirna. (ESTADO DO PARANÁ,
1976)
Uma casa recheada com Batik, macramé, tapeçaria, velas, cerâmica, móveis
rústicos, patchwork e outras coisas mais. Assim é a Casa do Artesanato em Curitiba,
uma responsabilidade da Fundação Cultural em convênio com a Prefeitura. O detalhe
é que ali cada peça foi criada por um artesão paranaense, o que significa incentivo e
maior valorização do nosso artesanato e nossa arte popular... Em exposição e venda,
os trabalhos do artesão popular Schmidt em talha em madeira; os de Raimundo
Paixão e Laurentino... De Zélia Scholz, peças em tecelagem de lã de carneiro e
acabado em crochê e macramé. Peças de ferro de Pedro nascimento... Cerâmica
torneada de Marly Willer... Madalena Correia de Oliveira desenvolvendo uma técnica
especial utilizando metal em madeira, o que dá um efeito dificilmente explorado. Batik
em seda pura de Abigail, cerâmica de Tânia Knorr, Peças de ferro de Cláudio Alvarez.
Duda por sua vez transforma sucata de latas de óleo em miniaturas de automóveis.
Arranjos de flores e molduras para quadros de Carola Fiepelmann. Tecelagem de
Margarete Depner, “pessankas” (ovos decorados) e bordado típico ucraniano.
Trabalhos de Isis de Mont Serrat, cestaria de Brito e Rita de Cássia Graff. De Vera
Miraglia, madeira pintada. De Marídia S. de Castro, trabalhos em pirogravura e
macramé... Para conferir tudo de perto é só chegar ao número 1089 da Dr. Muricy,
em cima da Baviera. (JORNAL CURITIBA SHOPPING, 1981)
Zélia Scholz5 outra artesã que também esteve muito ligada a Margarete,
relata como iniciaram sua amizade. O primeiro contato entre as duas se deu
quando Margaret a procurou, na época em que ministrava cursos no Centro de
Criatividade de Curitiba. Margarete queria aprender a trabalhar com macramé,
para utilizar esta técnica nas franjas de suas tapeçarias. Zélia torna-se sua
fornecedora de lã natural. Em 1985, Margarete vende à Zélia seu tear usado na
produção de grandes tapetes. Zélia expressa sua opinião sobre a colega e
amiga:
5
Artesã Mineira, radicada em Curitiba, desde 1971. Trabalha nas Feiras de artesanato desde
1975 e, também, na mesma época, ministra aulas de tecelagem primitiva em lã ovina no Centro de
Criatividade de Curitiba.
41
Sim, muitas vezes. Quando ela vendia muito bem seus tapetes ela voltou lá. Eu a
acompanhava, pois falo outras línguas assim ela precisava de mim... Cada vez que
fomos à Europa fizemos pesquisa. Ela com os tecidos e eu com as cerâmicas.
Fomos até na Grécia conhecer a arte de lá.
Quem ajudou na época da tecelagem dos tapetes mais pesados era um rapaz Hilário,
irmão da moça quem trabalhava na casa da minha mãe ficando muitos anos com ela,
praticamente criou-se na casa da minha mãe. Pessoa querida e muito boa e se
chama Iraci6. Ainda hoje ajuda muito acompanhando a doença da minha mãe.
6
Apurou-se que esta moça chama-se Iraci Hilário e trabalhou durante 40 anos com a artista,
ajudando-a em diversas atividades.
42
CONCLUSÃO
terreno no bairro do Bigorrilho e construiu sua casa onde viveu até final de seus
dias.
Com seu trabalho, Margarete viajou diversas vezes à sua terra natal e
pela Europa, visitando ateliês de tecelagem e de cerâmica, junto com sua filha
ceramista que a acompanhava.
Nesta pesquisa exploratória, também se destacou a importância
econômica da atividade artesanal desenvolvida pela tecelã. Considerando-se
que a cidade de Curitiba possui uma produção artesanal diversificada, com
elementos provenientes de inúmeras etnias, destacando-se a contribuição da
húngara Margarete Depner.
Contudo, mesmo não tendo sido um dos objetivos deste trabalho
monográfico, se pretende em uma próxima oportunidade, investigar a
importância pedagógica do ensino do artesanato. Ainda, por se considerar que
um dos significados dessa atividade, no contexto da vida contemporânea, seria a
contribuição para o desenvolvimento pessoal de cada ser humano na sua
potencialidade.
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REFERENCIAS
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do autor, 2006.
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século XXI. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2000. 204 p.
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Manhã , 1995.
GEISEL, Amália Lucy & Lody, Raul. Artesanato Brasileiro Tecelagem. Rio de Janeiro,
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46
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Loyola,1996.
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Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. 10ª ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná,
2002. (Coleção Brasil Diferente)
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Margarete declarou que tinha naquela data 96 anos, que nasceu em 1910, na cidade de
Kilyém na Transilvânia, atual Romênia. Como a Hungria perdeu este território durante a
chegou ao Brasil em 1948, com o marido e mais suas duas filhas, Edite e Ingrid. Aqui
achou o Marceneiro Alemão, Bertholdo Sommer. Declarou também que não estudou
nada de Arte. Fez tudo sozinha. Disse ela que lá na sua terra natal só via as mulheres
tecerem, pois lá é uma atividade muito difundida. Começou tecer aqui. Ninguém
ensinou. Não tinha ninguém que fazia. Na terra natal, por causa do frio, quase todas as
casas trabalham com tecelagem. Fazem os fios e depois os tecidos e roupas. Falou de
Quando perguntou como chegou a Curitiba, ela contou que inicialmente foram para Zell
am see, na Áustria, numa altitude de quase quatro mil metros. Lá receberam a notícia
de que o Brasil receberia imigrantes e chamava gente para trabalhar. Vieram de navio
muito mosquito e muito calor. Sem água. Moraram 10 anos no Rio. Ela disse que
trabalhou muito e que foi um período muito triste. Depois o marido sofreu do coração
por causa do calor e vieram para Curitiba. Juntaram dinheiro lá, conseguiram alugar
uma oficina própria. Aqui, por oito anos sustentou suas despesas. Ela queria muito uma
casa própria. Gostou muito de Curitiba, pela primeira vez se sentiu em casa.
Sobre seu trabalho, ela disse que tanto os filhos quanto os netos, todos gostam muito
de seus trabalhos. O tear começou aqui. No Rio eu fazia comida e vendia. Costurava
também. Na sua terra natal seu pai era fazendeiro. Com seu trabalho ela construiu a
casa e voltou muitas vezes para a Transilvânia. Lá perderam tudo por causa do
Comunismo.
Sobre alunos, ela diz que deu muita aula e teve muitos alunos.
Sobre ajudantes ela cita Iraci que praticamente se criou com ela. Sobre vendas ela
disse que atualmente vende muito em São Paulo. Sua filha Ingrid e que vende. Ela
mora no Morumbi.
Estavam presentes sua mãe, Margarete Depner, a Tecelã Zélia Scholz e eu , Prof. René
Scholz.
Edite: Meu pai ainda estava vivo quando ela “inventou” os tapetes, aqueles
que vocês conhecem. São de “Banlom”, tão bons que em casa tenho tapetes que
tem um tear. É um passatempo das mulheres. São teares grandes, aqueles de pedais.
Ela morava em Kilyém, na Transilvânia. Fui lá que ela nasceu. A Transilvânia pertencia
antigamente à Hungria. As fronteiras modificaram muito...
saímos de lá. O medo era muito grande. A guerra terminou em 45. Nós saímos de
nossa casa antes disso. Presenciamos a guerra, bombardeios. Eu tinha oito anos na
época.
Edite: Sim, até hoje eu lembro das bombas caindo. Elas fazem um barulho,
bombardeando. E você vê, se você está no lugar, por sorte, certo, as bombas caindo e
depois a explosão. Sente-se a terra tremer. Quem podia fugia para os campos ou
lugares mais protegidos. Por exemplo, no lugar onde ficamos, no oeste da Hungria,
aquela cidade foi totalmente destruída, na nossa frente. Estávamos escondidos numa
Depois fomos para a Áustria, sempre fugindo dos russos. Fomos a Viena. Não sei
como não morremos lá, pois a cidade foi totalmente bombardeada. Ficamos lá na casa
de amigos perto da Igreja principal de Viena. Tivemos que ir adiante fomos a Salzburg e
de lá para o sul, para as montanhas num local chamado Zell am See (Céu no lago), era
uma cidade menor, pitoresca, entre as montanhas. Lá ficamos até 1948. Eu estudava ali
Edite: Meu pai era nascido na Romênia, de ascendência alemã. Ele falava três
línguas: Alemão, romeno e Húngaro. Seu nome era Peter Depner. Era agrônomo. Mas
perdemos tudo. Saímos de nossa fazenda só com as malas na mão. Era uma
catástrofe. A situação na Áustria era difícil para os imigrantes, pois não havia trabalho.
para o Brasil.
René: Como foi o processo de saída? Havia um órgão que intermediava esse
procedimento?
russo?
Edite: Sim e também procurar melhores condições de vida. Só sei dizer que
todas as cidades que nós passamos estavam assim. No norte da Alemanha tudo estava
destruído. O nome do navio que viemos era “General Lemfield”, um navio de transporte
de guerra americano.
René: E a viagem?
Rio e fomos para a Ilha das flores. Um local desagradável com muito mosquito. Só
podia sair que arrumava algum emprego. Chegamos ao Brasil sem nada, pois neste
trajeto tudo que tínhamos de valor foi trocado por comida. Na Áustria nós conseguimos
moradia nos Alpes, todos os dias tínhamos que subir e descer a montanha, enfrentando
neve, frio e gelo para ficar numa fila quilométrica para conseguir um pedaço pequeno
de pão. Era uma situação terrível. Enquanto morávamos em Zell am See acabou a
guerra. Conseguimos sair de lá, graças a ela (Margarete). Graças a ela sobrevivemos à
guerra, à Imigração e tudo. Agora infelizmente, ela era boa conversadeira agora não
consegue mais. Só escrevendo ela me entende, em húngaro. Só que agora ela parou
com o trabalho, mas já está pensando em voltar. Quer ver se aprende a fazer franjas.
Até foi por isso que ela chamou sua mãe aqui, para ver como se faz franjas.
19 anos). Meu marido era também da Hungria. Nós nos conhecemos no Rio. Seu
nome é Lorand. Hoje é cônsul da Hungria aqui em Curitiba. Somos divorciados, mas
Edite: Tenho dois. Tem o Peter que é Advogado e o Miklos que fez
René: Ela (Margarete) me contou que seu pais trabalhou com Mecânica?
Edite: Sim, ele abriu uma mecânica. Quando chegamos aqui moramos de
na época.
Edite: Não, ela é autodidata. Aqui ela ia a São Paulo, no Bom Retiro. Ela
Edite: Ela aplicou a técnica com os materiais aqui existentes. Estes tapetes,
no auge, ela vendia muito em São Paulo, na Casa Jardim. Aqui em Curitiba muitos
arquitetos vinham comprá-los. O José Maria Gandolfi comprava muito. Outras pessoas,
Edite: Ela começou a Feira. Foi uma das primeiras. Eu trabalhava junto. Ela
com os tapetes e eu com a cerâmica. Eram alguns artistas que participavam. Alguns
escultores, pintores... Estavam lá o Jair Mendes, a Julieta Reis, isto a Julieta sabe. De
lá fomos para o Largo da Ordem. Daí a Feira foi crescendo e aumentando até se tornar
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no que é hoje. Nós paramos de fazer a feira porque eu me cansei de carregar minhas
cerâmicas, terminei a faculdade, minha mãe ficou doente. Complicou a vida e paramos.
Isto foi mais ou menos em 1987. Daí ficamos na casa do Artesanato, perto da Igreja da
Ordem até que ela fechou. Agora estou meio parada com a cerâmica, pois com os
Edite: Sim, ela tinha muitos, particulares. No começo ela não ensinava,
Edite: Sim, muitas vezes. Quando ela vendia muito bem seus tapetes ela
voltou lá. Eu a acompanhava, pois falo outras línguas assim ela precisava de mim. A
primeira vez que voltou foi 20 anos após Ter chegado ao Brasil. Foi na época do
Presidente Romeno Ceausescu que se suicidou depois. Era muito perigoso viajar. Se
eu soubesse disso não teria ido. Eu me senti sempre em perigo. Depois disso ela
voltou mais quatro ou cinco vezes. Outras delas com minha irmã. A última vez lhe fez
muito mal por causa do vôo. Cada vez que fomos à Europa fizemos pesquisa. Ela com
René: Voltando ao seu Pai: Ele faleceu quando? Ele ajudava no trabalho da
tecelagem?
Edite. Faleceu em 1980. Ele apoiava o trabalho. Ficava até com um pouco de
ciúmes do trabalho. Mas ele estava junto com ela. Se precisava pregar, furar, ele fazia.
Ele a levava, assim como eu também. Eu dirigia, colocava tudo no automóvel e íamos
55
eventos, etc.
fuga. Estamos aqui nesta terra maravilhosa. Deus é grande. Sem ela estaríamos todas
época também. Por causa da guerra. Os fazendeiros de certo porte eram livres de
Oi, René! Acabei de chegar e ver mail. "Ferien Imhochland" é uma casa de
descanso em São Bento, é o anuncio deles no jornal. Pode ser que minha mãe
informou-se sobre o funcionamento da casa. Sobre o curso em São Paulo acho que ela
visitou para conhecer e aprender como outras pessoas administram aulas, mas ela
aprendeu mesmo trabalhar no tear já na Transilvânia. Como te contei, lá, todas as
casas usavam tear e inclusive nas nossas viagens visitamos artistas com trabalhos
belíssimos feitos no tear. Sobre o inicio da feirinha lembrei ainda o arquiteto Alfredo
Willer e Jose M.Gandolfi, que devem lembrar da fase na Praça Zacarias, depois
igreja da Ordem. Depois a feirinha foi reorganizada, ergueram as barracas e não lembro
René:
Romênia. Até 1917 (final da primeira guerra pertencia a Hungria). É uma região de
colonização Húngara, Romena, Alemã e Judaica. As cidades sempre tem três nomes
(é uma confusão). Mas,... para facilitar tuas pesquisas...O Município onde ela
Miklos
Adendo quatro
Começamos expor trabalhos na praça Zacarias, antes que Jaime Lerner se elegesse
tenho uma carta dela de 21 de outubro de 1982. Mas já antes desta data, existia a Casa
de Artesanato e também a feira de Artesanato. Primeiro na Praça Zacarias, depois na
Praça da Ordem e mais tarde no Relógio das Flores. A Dona Vera Miraglia também
participava com trabalhos em madeira, acho que até hoje uma mulher leva trabalhos
nos domingos a feirinha. A Magdalena Correia fazia Ícones naquela época. Quem
sempre visitava as feirinhas era Jair Mendes, os arquitetos Alfredo Willer e Jose
da Ilha das flores depois que conseguimos emprego. Meu pai numa oficina, eu num
emprego melhor em Curitiba, numa fabrica de malas, mudamos com nosso filinho
Miklos. Cinco anos depois nossos pais vieram também para Curitiba.
Meu marido ficou muitos anos na fabrica de malas, e meu pai montou uma
Minha mãe começou o trabalho no tear. Foi ela quem comprou e construiu a
casa onde viveram, como ela fez sucesso com a tapeçaria e ganhou relativamente
bem na época. Meu ex-marido também. Acabou montando uma pequena. Fabrica na
Cidade Industrial, e nos últimos anos fora convidado a ser Cônsul Húngaro.
Depner. Na fuga, durante a guerra ficamos algum tempo na Hungria em Sopron, cidade
bombardeada e destruída, depois alguns dias em Viena, e depois em Zell am See, até a
Adendo cinco
Hilário, irmão da moça quem trabalhava na casa da minha mãe e que ficou muitos
anos com ela. Praticamente criou-se na casa da minha mãe. Pessoa querida e muito
boa e se chama IRACI. Ainda hoje ajuda muito acompanhando a doença da minha mãe.
Nós ficamos durante a guerra cerca de duas semanas em Viana, abrigados na casa de
amigos, depois mudamos Zell am See, cidade nos Alpes e relativamente seguro das
bombas; nesta cidade moramos oito anos, quando emigramos para o Brasil, partindo de
Hamburgo-!)
EDITH
Adendo seis
O currículo de Margaret, datilografado, foi feito por mim, por volta de 1978,
Em 1977 terminei a faculdade. Esta durou cinco anos. Paguei por meus
Tenho quase certeza que o diploma que minha mãe ganhou é de cidadã
honorária.
Uma pessoa que pode ter informações a nosso respeito é o Crítico Aurélio
Benitez.
A oficina de meu pai não ficou grande coisa. Na verdade quem comprou a
do relógio das flores. Na frente da loja do Tutuca. Ali onde tem um antiquário na
esquina.
59
dia 9/06/2007, no seu gabinete. Não filmei nem gravei a entrevista, somente fiz
ocasiões, mas ela só me conhecia como artesão e filho da D. Zélia Scholz, tecelã.
Disse-lhe o que me trazia até lá, expliquei-lhe sobre minha necessidade de escrever tal
monografia.
transformar na Fundação Cultural de Curitiba. Ali tinha estreitas relações com artistas
da cidade e consequentemente com Margarete Depner. Afirma Julieta que esta tecelã
época, 1970. Pela qualidade do trabalho. Ela acompanhou este grupo durante muito
tempo e ajudou-os a constituir a primeira loja de artesãos de Curitiba. Esta casa viria
mais tarde a ser instalada na Rua Muricy, esquina com Augusto Estelfeld. Neste grupo
Magdalena Correa de Oliveira, Leila Azevedo, Isis Montserrat, Marly Willer, Vera
Miraglia, Edith Ferenczy, Ronaldo Leão Rego, Tókio Sato, Paulo Franco de Oliveira, Jair
Mendes, entre outros. Este foi o primeiro grupo organizado de artesãos de Curitiba.
Abriram uma lojinha na Rua Portugal, afirmou Julieta. E começaram também expor na
Praça Zacharias, aos sábados pela manhã. Por volta de 1970. Neste ano o Prefeito
Omar Sabag regularizou a feira. Mais tarde ela foi transferida para a Praça Rui Barbosa.
A feira do Largo é outra feira. Esta foi criada para movimentar o centro histórico. O
60
Jaime Lerner quando prefeito encomendou essa revitalização. No início muitos artesãos
participar, forçando a criação do hábito. Hoje pode-se notar que esta medida foi
lembrou da continuidade dessa participação. Disse ela que Margarete era uma artesã
Julieta disse ainda, que Margarete era uma pessoa com formação e
acabaram por influenciar toda uma geração de artistas. Quando ela chegou no Brasil,
trouxe consigo a tecnologia da tecelagem artesanal de sua terra e com ela conseguiu
vencer e ser reconhecida como grande artista. Ela vêm de uma terra que as pessoas
têm a cultura do conhecimento. Sua importância se deve também ao fato que há mais
trabalhos conseguiu dar estudo aos seus filhos que por sua vez deram aos netos dela.
Edith é Psicóloga e Ceramista e Ingrid formou-se nas Belas Artes.
antigos participantes das feiras, Julieta afirmou que na 1ª gestão de Roberto Requião
foi fechada.
provou que quando se tem isto, a pessoa se dá bem em qualquer lugar. Ela esclareceu
também a premiação que a câmara municipal lhe concedeu. Ao contrário do que estava
num artigo de jornal, ela não ganhou o título de cidadã honorária e sim uma
61
entregou, uma justificativa pela homenagem às dez mulheres, no item referente a esta
Romênia”. Veio para o Brasil em 1948, logo após a guerra para começar uma nova vida
Veio para Curitiba, onde seu genro, na época, já era cônsul da Hungria.
tiras de nylon que fizeram muito sucesso, além de panos de lã. Fez várias exposições
Paulo. Tem duas filhas, cinco netos e cinco bisnetos, todos universitários. “Contribuiu
idade.”
Estes fatos foram por mim anotados e aqui relatados conforme me lembro
agora.
horas, na residência dela, situada à rua Cel. Ferreira da Costa, 700, Jd. Das Américas,
Curitiba, Paraná. Participou também da Entrevista o Marido dela, Senhor Caio Lopes de
Oliveira, Corretor de Seguros. Desta vez não levei a filmadora pois acho que ela inibe o
Cheguei, fui recebido pelo Senhor Caio e pela senhora Karin. Fomos para
Museu e a D. Margarete. Falei brevemente minhas questões e por que eu estava lá.
Karim me perguntou por que saber do Seu Sommer e eu lhe disse que a D. Margarete
estava escrito a nacionalidade: Alemanha Ocidental. Seus Pais foram Gustavo Sommer
está assinalado: 01/04/1927. Ele foi soldado durante a 1ª guerra mundial, na qual lutou
casamento, era a de Militar. Ele era casado com a Sra. Emma Kröker Sommer. Ainda
navio que os trouxe ao Brasil, um morreu aqui. Sobraram as duas filhas: Gerda Irene
Sommer e Waltraud Ingard Anelise Sommer, a qual era chamada de Dona Mause
(ratinha, em português) porque, segundo karim, ela era pequenina. Mais tarde adotou o
dias de hoje.
Segundo Karin, Emma já sabia tecer, havia aprendido em sua terra. Em 1935,
um tear do modelo que viria a ser produzido por eles, para o Avô fazer. Segundo o casal
O Sr. Sommer era um “Meister”, segundo o Senhor Caio. Este título é obtido
Durante certo tempo ele trabalhou na fábrica de pianos Essenfelder, onde tinha como
função treinar os novos marceneiros. Durante toda sua vida ele construiu móveis e
paralelamente, os teares. Normalmente ele tinha “uma meia dúzia de teares para pronta
entrega”. A família decide enviar Karim, então com 17 anos, por volta de 19964 ou 65,
para fazer um curso em São Paulo, com uma Senhora Húngara, no Largo do Arouche.
“Alguém” havia descoberto essa senhora. O Senhor Caio confirma isso, pois voltou lá
mais uma vez para fazer entregas de teares encomendados. Não se lembram do nome
dessa pessoa. Lá ela aprende a tecer e as técnicas, em aulas mais ou menos teóricas.
A professora fazia demonstrações e elas (as alunas) anotavam no caderno. Ela disse
que não trouxe nenhuma amostra. Quando chegou em casa teve pressa em urdir e
tecer para não esquecer o que aprendeu. Ela teve duas ou três aulas com esta
professora. Ao voltar a Curitiba, começou a dar aulas e nunca mais parou. Até hoje tem
em Tear Manual, entre outras. Ao que consta outras pessoas dão os outros cursos.
de Antonina, depois se mudaram para o Juvevê, na Rua Rocha Pombo. Era no local
onde hoje é a escola Stela Maris. Inclusive as paredes da casa ainda estão lá fazendo
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parte do colégio. Em 1975, depois de ter comprado o terreno da Mateus Leme, ele
instala sua oficina lá. Mais tarde constroem a casa e se mudam definitivamente para lá.
Por volta de 1972, o Pai de Karin, Sr. Osvaldo , em 1972 funda uma firma
Individual denominada Tear Artesanato de Madeira. Consegue uma firma que produz os
teares de seu Sommer sempre foram feitos totalmente à mão, usando para isso uma
máquina multifuncional que ele dispunha, com um motor de apenas zero HP, uma serra
alemã fina, “para economizar madeira”, segundo Caio. Essa serra ele encontrava na
Casa Vermelha que as tinha para venda exclusiva para este marceneiro. Ali ele
comprava também “asa de barata” e betume para fazer seus vernizes. Em 1978
faleceu Osvaldo. Em 1993 Waltraud. Assume a fábrica o neto de seu Sommer, Ernesto.
força, assume a produção. Além dos teares ela produz também muitos outros
aulas. Além de tudo isso ainda vai à feira aos domingos vender seus produtos.
lhe fosse encomendado. Produziu muitos teares de pedal, e ele, Caio, se lembra de
teares do tipo que a Margarete teve, o de “chicote” , que lança a lançadeira sem o
Obs. A entrevista foi realizada no dia 15 de junho de 2007, dela também participou a a
que mandei para Adalice Araújo, onde lhe perguntei sobre o grupo de artistas que
atuavam de forma mais ou menos coordenada. Minha intenção era conduzir por aí a
Admiramos os projetos de tapetes e panôs. Zélia observou que nos primeiros trabalhos
vestidos de forma tradicional em seu país. Em outros trabalhos ela demonstra também
Zélia relembra que Margarete lhe disse que lá na Transilvânia não tecia, mas
que observava muito aquele trabalho, somente aqui começou a tecer. Disse ela criou
um estilo. “Mandou fazer um tear e começou a criar aquilo que tinha visto, buscando o
estilo de sua terra. Comentamos que o tear foi feito pelo seu Sommer. Zélia afirmou
que” Margarete é uma pessoa altamente inteligente. Apesar de sua idade mantém uma
Voltando às temáticas das tapeçarias Zélia disse que: ““... Os florais são
postais, imagens que ela reproduzia ou recriava com Maestria. Ela também desenhava
tapetes. Vimos alguns batiks de Luis Mendes que inspirou uma série de trabalhos com
temas brasileiros.
Sobre os tapetes de retalho, Zélia comentou que tanto fazia ser Helanca ou
afirmou serem feitas em tela, mas que Margarete trazia para o tear. Reconheceu a
estrela de oito pontas, que sua avó também tecia. Disse que esse símbolo representava
o sol.
Sobre a afirmação contida num jornal ali presente, de que ela seria uma artista
primitivista, Zélia disse que mesmo assim, Margarete tinha capacidade de captar e tecer
tudo àquilo que é belo e consegue transferir para os seus tecidos. Ela concorda com a
vários deles quando comprou o tear grande dela. Também vieram navetes que serviam
de projetos também. Eram feitos enrolando fios da cor na navete e certamente serviriam
para o tecelão saber o tamanho de cada detalhe a ser tecido. Uma solução bastante
eficaz, pois dispensava o tecelão de estar medindo a toda hora. Bastaria encostar a
Neste ponto chegou minha tia Elieder e eu lhe disse que seria importante sua
artista. Contamos-lhe que Margarete está na UTI e do nosso último encontro no dia de
Corpus Christi, quando ela fez aula de franja com D. Zélia. Elieder ao saber da história
Zélia contou a Elieder que Margarete era fazendeira na sua terra. Em seguida falou dos
Falou também de sua chegada, na qualidade de imigrantes, não tinham nada, só o seu
saber e sua cultura. Desempregados, sem profissão. “Daí ela se lembrou do pessoal
que ela via tecendo e mandou fazer o tear. Ela ia a São Paulo, em fábricas de
confecções. Passava o dia inteiro separando tiras e à noite vinha embora. Aqui ela tinha
o pessoal que enrolava e costurava as tiras e tecia conforme os desenhos dela. Fazia
almofadas, tapetes. E ficou famosíssima. Pelo que conheci, ela foi a melhor tapeceira,
dos trabalhos mais bonitos e altamente duráveis." Elieder aqui comenta sobre os
tecidos de Banlom que teriam surgido por volta de 1957, segundo se recorda. “Eram
importados.”
Parque São Lourenço, em 1974. Ali havia uma série de nomes que li e anotei os
comentários. O primeiro foi Alfredo Braga, que Zélia disse ter sido seu primeiro
professor de cerâmica. Quando ela foi para o Centro de Criatividade, foi para fazer
cursos. Assim mais tarde, quando Julieta Reis ficou sabendo que ela tecia, a convidou
para ministrar cursos lá. O segundo nome reconhecido foi de Carlos dos Reis. Zélia
disse: “O Carlito. Ele está bem. Mora na Ilha do Mel. Trabalha com couro. Outra pessoa
reconhecida foi a Estela Sandrini. Zélia: ‘ Ceramista. Artista Plástica, junto com Julieta,
me deu grande força. Mostrou-me o valor de meu trabalho. Elieder:” Realmente. Ela te
coloca para cima. “Ela e a Julieta sempre me incentivaram.” Sobre Isis Monteserrat:
Zélia: “Ceramista”.
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Sobre José Carlos Proença: Zélia: “Tapeceiro, não é? Ele fazia Macramé na
época. Aqui comentei que ele tinha sido meu professor de Teatro, um grande professor.
Elieder:” Você ouviu falar de Maria José Justino? Ela contava histórias do Proença.
“Disse que ele abandonara tudo para ser Artista Plástico.” Ficamos por fim, penalizados
com seu trágico fim. Falamos também do ceramista Cláudio Freitag, também falecido.
O nome a seguir foi o de Lafaiete Rocha. Zélia disse que ele era entalhador
dos mais talentosos e que tinha dez filhos. Sobre Leo Viana de Oliveira me contaram
que era arquiteto e marido de Madalena que fazia ícones em Couro. Sobre Marly Willer
reconheceram-na como ceramista. Sobre Vera Miraglia, disseram-me que ela ainda
Passamos aos outros Folders. Zélia disse que Margarete expunha em Clubes,
exposições, lojas. Vendia para São Paulo. Sobre a exposição no Badep, Elieder disse
que ali conheceu Edite. Eu também afirmei que ali conheci Margarete e aos seus
54 trabalhos. Sobre o Evento Têxtil, no MAC em 1985, Zélia disse que tinha participado
sido aberta em 1981, afirmou Elieder com certeza. “Eu fazia bonecas de pano e vendi
muito lá. A Julieta começou a coordenar para elas e conseguiu o Palacete da rua Dr.
Janete Fernandes e o achamos muito injusto para com Margarete, pois somente o
1971.
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Dinâmica, Criativa. O trabalho dela me deixa emocionada. E feliz por saber que ela deu
conta de seu recado e se tornou uma artista famosa e de primeira grandeza. É uma das
primeiras tapeceiras É uma das primeiras tapeceiras que conheci e talvez a maior
delas. Mãos divinas, cabeça boa, amável, distinta. Recebe a gente em sua casa com
muito amor e atenção. Obrigada Margarete, pelo carinho que você sempre me dedicou
mediocridade porque cada pessoa tem sua forma de fazer e de se expressar e, como
que a pessoa pode ser medíocre se ela trabalha com as mãos, pondo a alma no seu
trabalho. “O nosso trabalho sai do coração, passa pela mente e é feito pelas mãos”. Ao
que Elieder completa: “Margarete é de um tempo e essa moça é de outro". “Zélia: Cada
tecelão tem sua época. Ela contava sua história através de seu trabalho.”.
Quando perguntei se Margarete dava aulas, Zélia disse que sim, e era uma
professora muito querida e muito admirada. Zélia: Quando comecei a dar aulas no
Centro de Criatividade, dei curso também de Macramé. Ela foi lá aprender para usar
nas suas tapeçarias. Aqui em casa ela veio aprender a usar o tear de franjas.
Elieder: “Essa moça (Janete) desconhecia também o Domício Pedroso, pois
Zélia disse que usavam para cama e para decoração. Em Portugal também se usa o
Tapeçaria no Badep, no qual minha mãe, Dona Zélia Scholz, também participava. Seu
trabalho me impressionou muito. Mais tarde, na década de 1980, por volta de 85, fui a
casa dela, a pedido de minha mãe, estudar o tear que Margarete estava vendendo para
ela. Fui até lá, estudei-o, olhei bem como era sua montagem, tirei fotos, para estar certo
de poder remontá-lo. Margarete na época me disse que havia uma pessoa que saberia
urdi-lo se precisássemos. Ela disse que o tear era muito pesado para ela continuara
trabalhar com ele e por isso estava nos passando. Disse-me que o tear era muito bom e
que tivéssemos cuidado com ele. Dias mais tarde trouxemos o tear, mais algumas
Em breve ele foi remontado e posto em uso. Tivemos que fazer adaptações para o
nosso tipo de tecido, tapetes e mantas de algodão. Havia um rolo frontal cheio de
pregos, como uma cama de faquir, próprio para puxar o tecido de retalhos de malha.
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Isso prejudicava nosso tecido. Tivemos que limpar aquele rolo. Enfim, o tear voltou a
utilizamos a maquineta de jackard que havia nele. Mas em breve ela começou a dar
problemas, daí fizemos, eu e meu pai, que na época trabalhava conosco na tecelagem,
uma adaptação para ele funcionar com um só pedal, mas com mola na contra cala. O
ou outra um “barquinho” voasse. Esse sistema fazia que ele fosse rápido no trabalho de
tecidos fechados. Porém tomávamos cuidado com as crianças por perto. Por esta
época produzimos muitos tecidos para óperas do teatro Guaira, tais como Carmem e
Tosca. A tecelã Liliam Lessa trabalhou conosco nesta época tecendo neste tear. Meu
pai também trabalhou nele bastante, tecendo tapetes e mantas. Sua largura era no
máximo de 1,30 metros. Muitas outras pessoas trabalharam nele durante sua estada na
casa de Zélia. Após a morte de meu Pai, o Sr. José Wille Scholz, em 1997 , minha mãe
emprestou este tear à Lílian Lessa, uma tecelã sua discípula. Esta, depois de muito
utiliza-lo, deixou-o com seu ex-marido, o Marquinho “Mandala”, que o mantém em sua
casa até o presente momento. Ao que me consta está parado. Mas foi reformado por
este rapaz, muito hábil na arte dos consertos de teares. Segundo a neta de seu
Sommer e a filha de Margarete, quem teria construído esta máquina, foi o seu Bertholdo
Sommer, um “Meister” Marceneiro, alemão, que viveu aqui em Curitiba e que desde há
minha mãe, veio junto uma bagagem contendo instrumentos, materiais e documentos,
como já falei. Entre os instrumentos posso citar um caneleiro feito com uma roda de
bicicleta, um outro a motor, que mais tarde foi adaptado para ser uma roda de fiar onde
até hoje Dona Maria “Baixinha” trabalha fiando para Dona Zélia. O material que veio era
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material teci muitos tapetes e Panôs. Isso deu início a uma linha de produtos que
continuo até hoje a produzir. Os documentos eram projetos de tapetes, cartões. Com
estes aprendi a projetar meus tapetes. Aprendi com Margarete, também, que a
tecelagem mantém a mente ativa, pois na última vez que estive junto a ela, no dia de
corpus Christi deste ano, ela ainda “ousou” tecer num tear de franja, para reaprender a
Noutra oportunidade, estive em Paranaguá fazendo uma urdidura para uma tecelã de
lá, e esta me mostrou revistas americanas e européias da arte denominada “rag rugs”,
que são os tapetes de tiras de tecido. Fiquei boquiaberto com a beleza daquelas fotos e
ensinamentos, nos cursos que venho ministrando nos últimos 20 anos, assim, penso
Margarete sempre nos tratou com muito respeito e carinho. Uma vez quando
lhe pedi para ser seu aluno, me disse que eu é que deveria ser seu professor,
demonstrando assim muita modéstia e humildade. Acho que ela foi uma artista de
primeira grandeza. Tudo que aprendi sobre Margarete me leva a reputar ao
definitivamente me parece uma injustiça para com esta artesã. As raízes da tapeçaria
de Margarete são profundas. Ela, apesar de não ter estudo formal, era uma pessoa de
elevada cultura, tendo feito, junto com sua filha, diversas viagens de estudo pela
primitivistas e folclóricas é porque este era o estilo dela, fazia parte de sua escola, e isto