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R V O

Oswaldo Munteal Filho


Historiador da Seção de Pesquisa do
Arquivo Nacional. Professor adjunto de História Moder na e
Contemporânea da UERJ e da PUC-Rio. Doutor em História Social – IFCS/
UFRJ. Coordenador do Navegar – laboratório de estudos portugueses da UERJ.

Vitorino Magalhães Godinho


no Labirinto Ultramarino
As frotas, as especiarias e o mundo
atlântico

Mar! ser considerada


nas suas
E é um aberto poema que
ressoa relações com a

história
No búzio do areal...
do meu
Ah, quem pudesse
país, e ambas integradas na
ouvi-lo sem mais versos!
evolução mundial.
Assim puro,
(Vitorino Magalhães Godinho)
Assim azul,

Assim salgado...
I NTRODUÇÃO : A TRAMA DA REDE

Milagre horizontal ATLÂNTICA

O
Universal, encontro dos navegadores com
Numa palavra só realizado. a América deu-se através do
Mar-Oceano, para tomar aqui
(Miguel Torga, Mar)
uma inspiração de Colombo. Este meio
Penso, na verdade, que a natural, paulatinamente domesticado, foi
história do Brasil não é tornando-se aos poucos uma fonte de
história à parte, e que deve mistérios, de interpretações fantásticas

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cunhadas pelos capitães-nobres. Estes co- de uma compreensão do significado da


mandantes de esquadra formaram-se nos realidade palpável, ao alcance da mão dos
quadros de um pensamento medieval portugueses, articulada ao esforço de
comprometido com o ideal da cavalaria, conferir uma dimensão inteligível à Natu-
a obsessão pela honra e, sobretudo, pela reza encontrada ou descoberta.3
busca da glória. Portanto, o perigo fazia
Não devemos nos esquecer que muitos
parte da conquista, assim como a manei-
ainda hoje, no limiar do século XXI, con-
ra de ultrapassar os obstáculos transcen-
sideram a invenção do Novo Mundo como
dentes, representados por serpentes ma-
um dado insofismável, e sobre o qual
rinhas, dragões ou mesmo entidades
pouco pode-se ainda dizer. 4 O que talvez
mágicas capazes de alterar a mente dos
explique a apatia brasileira ou as mani-
marujos. 1
festações estéreis diante das “comemo-
A arte da marinharia, confrontada ao tem- rações” dos 500 anos de Brasil. Afinal,
po histórico em que os aristocratas esta- como lembra bem a catilinária pós-mo-
vam inscritos, representou uma fonte de derna, para que investigar o que já está
novas certezas para a secularização da dado? Faz sentido pesquisar?
Ibéria. 2
O historiador português Vitorino
Faz-se necessário, pois, retomar o deba-
Magalhães Godinho propôs uma verdadei-
te acerca das fronteiras, a fim de que pos-
ra revisão da epopéia das descobertas,
samos perceber o cariz da sociedade por-
por meio da história das frotas e dos me-
tuguesa que produziu o encontro com a
tais amoedáveis, das rotas ultramarinas,
América. O conceito de fronteira foi as-
e, sobretudo, das especiarias do Oriente
sim explicitado por Lucien Febvre: “Fron-
e da América.
teira : palavra de exércitos em movimen-
Pode-se supor que ele percebe uma ver- to, palavra relativamente nova que se
tente original para a história dos desco- opõe a limite, essa velha palavra indul-
brimentos, fundada no movimento dos gente de medidores de terra. Fronteira,
homens e das mercadorias que singraram verdadeira fronteira, linear e de choque –
os continentes do Novo Mundo. Tempo um dos nervos à flor da pele, cuja dor
secular é o tempo da acumulação da ri- lancinante nossa velha Europa carrega em
queza das nações, especialmente dos pa- seus flancos...”. 5 É necessário um esfor-
íses ibéricos. A utopia da construção de ço de retomada da teoria do sistema mun-
uma nova identidade (luso-americana) dial na perspectiva analítica de Fernand
tem uma referência central para Godinho: Braudel, e dessa forma integrar a com-
os meios práticos que melhor preensão da fronteira à compulsão à
viabilizariam a conquista física das novas globalidade, forçada pelas políticas colo-
terras. Nesse sentido, o encontro do Ve- niais européias em tela desde o século
lho Mundo com o Novo Mundo depende XVI.

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As terras descobertas têm a função, den- M AR E MODERNIDADE : OS IMPAS SES

tro da lógica da mundialização das técni- DA CIVILIZAÇÃO

A
cas e do conhecimento sob controle do
reflexão sobre a escrita de Ma-
Ocidente moderno, de proporcionar uma
galhães Godinho exige um es-
acumulação ilimitada e interminável de
forço de compreensão de duas
capitais e de forças em tor no do grande
vertentes que aparecem constantemente
comércio e dos estados hegemônicos do
no estudo sobre as frotas: em primeiro
núcleo duro da economia mundo dos des-
lugar, a percepção do mundo como obje-
cobrimentos.
to de pesquisa. De uma outra perspecti-
va, Godinho revela uma preocupação
Este estudo pretende, sumariamente e
constante com a maneira de pensar a his-
tendo como foco uma escrita postada,
tória, e o ofício do historiador. Esse pro-
examinar as fontes da reflexão
cesso de conhecimento do mundo luso-
historiográfica de Godinho e os caminhos
americano encontra o seu ponto de
da sua interpretação, a partir de um tra-
imbricação quando a história da expan-
balho intitulado: Portugal, as frotas do
são é capaz de examinar, articuladamen-
açúcar e as frotas do ouro (1670-1770). te, o conceito de descobrimento, a idéia
A estrutura deste trabalho apresentará os
de Novo Mundo e a singularidade do
seguintes problemas, tomando-se por
renascimento ibérico para a cultura oci-
base a análise da escrita de Godinho: a
dental.
relação que o autor estabelece entre a
Os homens que cruzaram o Atlântico en-
crise civilizacional do mundo contempo-
tre os séculos XV e XVIII buscavam, em
râneo e o futuro dos países de língua por-
essência, especiarias que muitos navega-
tuguesa. Esse elemento atravessa os es-
dores, naturalistas e burocratas régios
tudos e cursos mais recentes do historia-
julgavam existir abundantemente nas ter-
dor português; o colonialismo luso como
ras exóticas do Novo Mundo. Nessa parte
uma etapa da história do sistema mundi-
do globo terrestre, as ações dos luso-bra-
al; a identidade entre a história do Brasil
sileiros foram impulsionadas por uma es-
e de Portugal; as frotas e o império por-
pécie de mutação mental de inspiração
tuguês. Os aspectos apontados nessa
renascentista, que, aliada ao ‘espírito’
agenda intelectual de Magalhães Godinho
aventureiro, domou as ondas da maré e
não aparecem nessa ordem, ou mesmo
quebrou a baía tranqüila da resignação
com esses títulos. Na verdade, o
em busca do alto-mar.
ordenamento deste artigo obedecerá o
ritmo das frotas do açúcar e do ouro , com Na mente e na alma do navegante deve-
um olhar sempre atento para as suges- ria haver clareza, quando tudo oscilava
tões e polêmicas implícitas num trabalho sob ele. Na ponte de comando havia tan-
preparado em 1951. to a sobriedade do conhecimento para

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pilotar, quanto o sentimento de descobrir força vital de uma possível unidade


e a caprichosa mística de errar pelo mun- lusófona.
do inteiro.
O pensamento único de cunho neoliberal
A dimensão multissecular do reconheci- aumenta os desafios que estamos a en-
mento do céu, da terra e do mar, dos li- f r e n t a r, diante do processo de
mites territoriais nos oceanos e nas no- globalização da economia e de
vas terras, precipitou as potências euro- massificação da cultura. A busca da me-
péias da época para um cenário interna- mória viva, dos laços intelectuais e éticos
cional de disputa acirrada. Muitas bandei- que nos unem e da reflexão sobre as di-
ras singraram os mares, dos piratas aos ferenciadas rotas que marcaram a histó-
comerciantes ultramarinos, além dos mis- ria de Angola, Cabo Verde, Brasil, Portugal,
sionários, nobres, pilotos, e naturalistas Timor Leste, Macau, Moçambique, São Tomé
que lutavam pela hegemonia do Atlânti- e Príncipe e Guiné ao longo do século XX
co, transferindo assim para o céu e para adquirem sentido para a formação edu-
o mar a geografia do continente. cacional e cultural de nossos povos.

A migração de povos, idéias, especiarias


É de fundamental importância que as ca-
e identidades acabou por caracterizar as
sas de memória, universidades e os ór-
sucessivas aventuras de redescoberta dos
gãos de comunicação social trabalhem
territórios ultramarinos. Quando pensa-
articuladamente na revalorização da tra-
mos, quinhentos anos depois, nos possí-
dição intelectual luso-brasileira com o
veis significados da conquista da África,
objetivo de informar a sociedade civil so-
América e Índia para o fluxo de homens e
bre uma história que foi durante muito
mulheres que passaram a experimentar a
tempo comum. Para além disso, devemos
cultura portuguesa, perguntamo-nos so-
refletir sobre os nossos vínculos com a
bre a capacidade que temos de reunião e
modernização e pensar no passado colo-
o quanto somos diferentes da origem. 6
nial, que afinal sempre surge como um
A idéia de uma comunidade de povos de fantasma contemporâneo para as ex-co-
língua portuguesa ultrapassa o espaço lônias em busca da superação do atraso.
local e ganha força planetária quando di- Parte de nossa elite dirigente – econômi-
versos países fora da língua oficial portu- ca e burocrática – tenta contaminar o sen-
guesa se integram de for ma fragmentada so comum com a explicação perversa que
à cultura lusitana. As iniciativas em tor-
7 associa o nosso atraso econômico à tra-
no de uma maior integração têm sido tí- dição luso-brasileira, esquecendo eviden-
midas. Os centros de pesquisa, acordos temente da forma dependente do nosso
de cooperação econômica e mesmo as capitalismo, este sim associado a fatores
famosas comemorações em tor no dos globais e que escapam ao consenso atlân-
quinhentos anos muitas vezes ignoram a tico.

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A liderança em torno da idéia desse con- lugar que cada um ocupa no mundo de
senso depende é claro de investimento cultura lusófona. As cidades ultramarinas
material, assim como deve estar compro- têm em comum o passado colonial, a he-
metida com atitude ética e força intelec- rança de uma longa tradição imperial
tual, que afinal concorrem para a (1415-1974) e os fragmentos de uma
materialização dos nossos ideais. multifacetada identidade cultural. A expe-
Quinhentos anos depois da expansão cul- riência de uma unidade imperial,
tural e da exploração econômica do Novo deslanchada pela cultura renascentista e
Mundo, os povos de língua portuguesa consignada pela língua, pela fé e pelo
têm refletido, cada um a sua maneira, monopólio metropolitano, caracterizou a
sobre o processo colonizador e sobre o mensagem dos descobrimentos portugue-

Retrato de Vasco da Gama. Roteiro da viagem que


em descobrimento da Índia pelo cabo da Boa Esperança fez d. Vasco da Gama em 1497 . Porto, 1838.

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ses por três continentes. 8 de de que fossem trilhados caminhos para


dentro e para fora de Portugal, com as
A reflexão sobre o futuro dos povos de
mesmas finalidades e objetivos, reside
língua portuguesa, das origens à maturi-
nos sentidos de explorar e conhecer.10 Na
dade, integra uma história de muitos ca-
viagem está implícito o distanciamento,
pítulos na busca dos traços comuns en-
fictício ou não, independente de qualquer
tre a história de Portugal e a história dos
racionalidade para ser, num duelo entre
países que progressivamente se viam en-
razão e vontade/instinto. Para quem o ca-
volvidos num complexo cultural discursivo
ráter de observar constitui a base para um
transepocal. As diversidades cultural, ét-
saber elucidado e não perigosamente su-
nica, lingüística e intelectual presentes na
posto, o caminho das fontes é precaução
trajetória das ex-colônias nos obrigam a
e l e m e n t a r. A v i a g e m f o i c a p a z d e
cruzar a hipotética temperança e a pecu-
(re)construir Portugal pela significação
liaridade dos trópicos com a
que lhe dá o tempo. Tempo esse que é
multiplicidade de dialetos e crenças, e fi-
passado, pois só ele é verdadeiramente
nalmente com a própria busca dos países
tempo.
que herdaram o português do seu senti-
do/destino.9 O desenvolvimento dos espaços de soci-

Na memória dos viajantes que singraram abilidade intelectual e o investimento no

os mares e invadiram os povos e as ter- método científico, voltados para o estudo

ras exóticas, havia a contemplação em re- da natureza como matéria filosófica, vi-

lação à natureza tropical e à ação no sen- saram a promoção imediata de um conhe-

tido dos homens seculares. A perspectiva cimento que se constitui utilitário, ou seja,

de ‘estar-no-mundo’ foi vital para os des- de um entendimento de fim prático, e in-

cobridores, afinal céu e mar pertenciam serido nos termos de uma nova descober-

de fato aos navegantes e a todos os que ta do Novo Mundo. Dessa maneira, a na-

eram capazes de entender os sinais pre- tureza foi a chave para um controle que,

sentes na natureza física das colônias. de uma forma pragmática, correspondeu

Havia assim uma verdadeira aliança en- a um movimento de largo e minucioso

tre a colonização e a compreensão. Resta reconhecimento do império colonial

saber, hoje, que síntese é possível ser atlântico.

recuperada ou criada a partir da árida


O escritor português Miguel Torga em
conquista da autonomia e da distante
seus “Diários” diz: “O meu espaço de li-
percepção dos fragmentos de uma iden-
berdade é o mapa de Portugal, subenten-
tidade.
dido na folha de papel onde escrevo”.
Viajar era preciso e natural para os ho- Tor ga convida-nos em sua obra, especi-
mens do renascimento científico-cultural almente em seus “Diários”, a um passeio
do chamado Grande Século. A necessida- imaginário por Portugal. Apresenta ao lei-

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tor um percurso da aventura lusíada des- a ressuscitar, mas poder-se-á dizer que
de os trás-montanos aos minhotos, ao desapareceu de todo o sebastianismo?
Douro, às Beiras, ao passado coimbrão, a Nascido da dor, nutrindo-se da esperan-
Lisboa ultramarina dos cruzados e dos ça, ele é na história o que é na poesia a
mouros e a Lisboa peninsular/européia, saudade, uma feição inseparável da alma
e, afinal, converge para as fundações da portuguesa”.12
nacionalidade portuguesa de d. Afonso
A difícil e complexa tarefa de, tomando
Henriques, para então chegar aos
aqui a perspectiva de Fer nand Braudel,
alentejanos e algarvios, neste caso o ori-
pegar a estrada, e com os próprios olhos
ente criado pela península ibérica, região
inventariar a diversidade, interpretar a
fundadora do cisma Ocidente/Oriente des-
partir da paisagem, procurar a divergên-
de 711.
cia, o contraste, a ruptura e a fronteira,

Esse é o roteiro ideal-típico dos ensaístas mobiliza-me e impulsiona-me a perceber

de diversas épocas, mesmo entre aque- a interinfluência luso-brasileira na sua

les em que a perspectiva do historiador singularidade e originalidade.

não é necessariamente a dominante e, de O problema da identidade no limiar do


certa maneira, o entendimento acerca de século XXI recoloca a sociedade brasilei-
Portugal acaba por transcender o ofício ra e a portuguesa frente a frente com as
especificamente historiográfico. Entre suas histórias de permanências e ruptu-
estes intelectuais habitam diversas tradi- ras. A retomada das discussões em torno
ções acadêmicas e literárias, como nos dos quinhentos anos faz reacender não
casos de Alexandre Herculano, Antônio só a remota história do povo brasileiro,
Sérgio e Oliveira Martins, que, neste últi- mas também o sentido desta discussão
mo caso, pontifica a reinterpretação da para o próximo milênio. A retomada da
história de Portugal à luz de uma civiliza- herança quinhentista é sinuosa, diria
ção ibérica emergente e de um país que mesmo perigosa, pois remete a uma pes-
morreu ao nascer e viveu a imitar os ou- quisa sobre o sentido transistórico que
tros. Portugal teria acabado no século XVI habita no interior da tradição luso-brasi-
e os Lusíadas seriam um epitáfio. leira. Nós não acabamos de nos conhe-
c e r. A r e l a ç ã o a t l â n t i c a é a n t i g a e
Entender Portugal nas suas origens e na
permeada por significativas contradições
sua integralidade parece ser sempre uma
que referem-se ao próprio passado colo-
intenção, uma meta, um objetivo quase
nial.
impossível de ser alcançado. 11 Em um
episódio de grande dramaticidade para a Promover uma ligação entre portugueses
história moder na portuguesa, o historia- e brasileiros, com base exclusivamente na
dor João Lúcio de Azevedo propõe: “Nin- efeméride ou mesmo na “comemoração”
guém acredita já que d. Sebastião venha do acontecimento, é um risco calculado

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e imprevisível. O “aqui e agora”, escre- começam com o movimento de consoli-


veu Ernst Jünger, “trata-se de uma ques- dação do nacionalismo no século XIX, se-
tão central do nosso tempo, quer dizer, guido do fenômeno nacional
de uma questão que, em qualquer dos metamorfoseado em fascismo na década
casos, se faz acompanhar de perigos”. 13 de 1920 em Portugal, e, finalmente, a re-
cuperação econômica em meio a uma
Entre a herança e o futuro há uma traje-
recessão internacional. 14 Portugal e Bra-
tória errática e muitas vezes criativa.
sil parecem existir em planetas distintos.
Pode-se dizer mesmo que a gênese da
A dinâmica do encontro contemporâneo
identidade lusófona refere-se, em primei-
parece reivindicar da inteligência ibero-
ro lugar, a três influências étnico-cultu-
americana a elaboração de um verdadei-
rais: a presença islâmica (século VIII); a
ro inventário dos marcos conceituais que
tradição visigótica (criação da diocesis
venham a caracterizar uma historiografia
Hispaniarum por Diocleciano em 297) que
dos povos de língua portuguesa.
originalmente fundou a Ibéria; e o lega-
do ultramarino marcado pelo início das O ensino secundário dos jovens estudan-
grandes navegações (em torno de 1415). tes brasileiros tem confirmado todos os
Num segundo momento, deve-se consi- preconceitos seculares construídos ao
derar a interpretação sobre a história das longo das sucessivas redescobertas das
gerações de povos e culturas que entra- nossas diferenças. O encontro do século
ram em contato reciprocamente a partir XXI não é apenas de culturas, mas essen-
da empresa colonial, das guerras religio- cialmente marcado por uma espécie de
sas e dos movimentos de independência. ajuste de contas com a nossa memória
Aparentemente, as trocas culturais foram coletiva. É curioso observar a estranheza
desprezadas como fatores de integração, dos brasileiros no que tange aos quinhen-
e muitas vezes encaradas como fontes do tos anos. Um olhar atento pode perceber
atraso material. Nesse sentido, para que as seguintes iniciativas lúdicas: a prepa-
lembrar de relações entre partes esque- ração de uma outra sinfonia do Novo Mun-
cidas ou pouco desenvolvidas do globo, do (além da famosa nona de Antonin
como a distante e ‘ininteligível’ Índia Dvorák) pensada para as comemorações
goense, a miserável África portuguesa de oficiais, uma encenação da chegada dos
descolonização recente e polêmica, ou o navegadores numa espécie de funeral vir-
Brasil cada vez mais periférico quanto às tual, e, é claro, alguns protestos em nome
exigências do núcleo orgânico do capita- da busca da alteridade perdida.
lismo global?
Portugal é retomado no âmbito do senso
As dificuldades em tor no de uma maior comum como o ponto de partida do atra-
visualização acerca da relevância de se so, 1 5 uma espécie de mergulho para o
pensar sobre o passado luso-brasileiro nada. Trata-se, na verdade, de eliminar

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fronteiras entre os países que for mam a memória social contida na experiência
comunidade lusófona, e aproximar algu- multissecular dos descobrimentos? A ati-
mas investigações realizadas no contexto tude de pensar historicamente é civil e
dos centros de excelência, na direção do crítica, independente de ideologias, no
grande público. A sociedade brasileira momento em que é possível confrontar
precisa de uma alta dose de história. Há concepções, examinar registros documen-
uma concepção mais ou menos dissemi- tais díspares, buscar a contradição na
nada de que a empresa e a carreira colo- pesquisa árida e minuciosa sobre o pro-
niais empreendidas pelos lusos foram in- cesso com os seus ritmos e sentidos pró-
feriores às dos holandeses, franceses, in- prios.
gleses e até dos espanhóis dos nossos
O pai da her menêutica contemporânea,
vizinhos no Cone-Sul. Alguns parecem
Hans Georg Gadamer, em seu ensaio so-
buscar a metrópole ideal ou a coerção
bre as origens culturais e os fundamen-
mais perfeita. Pior, há um verdadeiro es-
tos antropológicos do continente euro-
quecimento do colonialismo recente em
peu, medita longamente sobre o hiato
África. O olhar sobre a história do pre-
entre a genealogia dos povos europeus e
sente imediato parece ameaçar decisiva-
o futuro que os espreita. Para tanto,
mente a crítica e surge a proposta escon-
Gadamer lembra muitas vezes do papel
dida de um homem ‘não-histórico’. Mais
da Segunda Guerra Mundial como um
uma vez retomando Torga, o escritor por-
momento de reflexão ou “balanço” da ex-
tuguês diz: “uma vida dá para quase
periência humana produzida no passado,
tudo”.
e a manipulação sobre a opinião púbica e
A intolerância com o passado faz parte das
a formação científica estéril nos dias que
especulações neoliberais e pós-modernas
correm. Afinal, e a função do pensamen-
da contemporaneidade. Alguns
to filosófico nisso tudo?16
prepotentes do fim do século correm em
busca de uma notoriedade milenarista A pergunta que muitas vezes tem sacudi-
propondo o fim do pensamento e da ação, do os meios de comunicação, de uma
sinalizando para o pensamento único que maneira geral, parte da convicção de que
não cessa de afirmar que tudo já está dito. realmente existe alguma coisa para se ‘co-
Então para que a pesquisa? Há um esfor- memorar’. Bem, se isso é verdade, faz-se
ço de retirar da história qualquer capaci- necessário estabelecer algumas propos-
dade de compreender ou explicar, num tas preliminares. O acontecimento/pro-
movimento de esmagamento de todo pro- cesso que engloba o mundo lusófono pos-
jeto coletivo. O desafio posto na mesa é sui temporalidades distintas. A reconstru-
o seguinte: não há memória individual ou ção portuguesa de 1974 se deu num mo-
coletiva. O historiador será capaz de cap- mento extremamente desfavorável. A eco-
turar no tempo histórico os registros da nomia sustentou o processo de moderni-

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zação e redemocratização nas décadas lamento cultural que mais uma vez faz uma
que se seguiram à Revolução do 25 de sombra entre a Ibéria e o Oriente. 18
abril, movimento militar que foi o res- A definição do que somos em ter mos de
ponsável direto pela liquidação do uma unidade dos povos de língua portu-
salazarismo.17 guesa depende de uma afirmação do en-

As ex-colônias viveram, ao longo do sé- contro no século XXI. O sentido da come-

culo XX, uma outra experiência históri- moração é diverso, e a capacidade de reu-

ca, marcada por uma imensa dívida so- nião está vinculada diretamente à recupe-

cial e pela aceleração do processo de de- ração da memória das ex-colônias e à

pendência econômica. Em ter mos admissibilidade de uma história comum

metodológicos pode-se pensar a relação num passado mais remoto.

luso-brasileira a partir de Portugal, do Uma das tarefas que se apresentam para


Brasil ou de Portugal e Brasil. E este é o os intelectuais que têm pensado e
ponto fundamental: romper com o iso- pesquisado a longa expansão colonial lu-

Guillaume-Thomas François Raynal, Histoire philosophique et


politique des établissements et du commerce des européens dans les deux Indes, Paris, 1820, volume

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sitana, é estabelecer um diálogo entre os tos únicos e específicos, ao passo que

tempos da conquista 19 e as tensões em o verdadeiro problema para os histori-


tor no dos processos de descolonização. adores é entender o quão importantes

É importante remeter a massa esparra- eles são ou podem vir a ser. Às vezes,

mada de dados, fatos e teorias a uma in- podem se mostrar significativos do pon-
terpretação que insira o espaço ibero- to de vista da análise, mas nem sem-

americano no sistema mundial. pre é assim. 20

Recentemente, o historiador Eric J. Nos dias que correm, posicionamentos


Hobsbawn escreveu uma espécie de bio- desse tipo parecem um convite ao
grafia do século XX aliada a um profundo confinamento intelectual. Essa articulação
senso prospectivo. A provocação veio é bastante rara e para muitos um empre-
numa entrevista denominada “O novo sé- endimento de alto risco. Hobsbawn come-
culo”, que apresentou o seguinte ponto ça o seu livro mencionando o papel da
de vista logo na sua primeira resposta: “bola de cristal” para a atividade do inte-
lectual que estabelece um compromisso
Todos nós, na medida do possível, ten-
com o presente.
tamos prever o futuro. Faz parte da vida,
dos negócios, nos perguntarmos sobre O enfoque deste estudo privilegia a co-

o que ele nos reserva. Mas a previsão municação entre o passado e o presente

do futuro deve necessariamente base- como um dos focos para uma visão mais

ar-se no conhecimento do passado. Os precisa das contribuições de Magalhães

acontecimentos futuros precisam ter Godinho à história da expansão marítima

alguma relação com os do passado, e é da época moderna.

nesse ponto que intervém o historiador.


AS VIAGENS DE DESCOBRIMENTO

O
Ele não está em busca de lucros, no

sentido de que não explora seus conhe- mundo atlântico, na perspecti-


cimentos para assegurar ganhos. O his- va de Godinho, representou
toriador pode tentar identificar os ele- uma verdadeira ‘novidade geo-
mentos relevantes do passado, as ten- gráfica’, edificada entre 1520 e o final do
dências e os problemas. Por isso, é pre- século XVI. A civilização da modernidade
ciso que nos arrisquemos a fazer pre- atlântica superou a barreira intransponível
visões, mas tomando certos cuidados. do oceano, e instalou um mundo marca-
Entre os quais, tendo sempre a consci- do pelas conexões permanentes entre
ência do perigo de macaquear o carto- americanos, africanos e asiáticos. Os pa-
mante. Precisamos entender que, na drões de relacionamento constituídos nos
prática e por princípio, grande parte do primórdios da moder nidade européia
futuro é inteiramente inacessível. Creio apresentam ritmos e direções variadas,
que são imprevisíveis os acontecimen- entretanto Godinho faz questão de frisar

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que os contatos e migrações existiram teve hesitações e atrasos. O poderio es-


sempre. 21 panhol, através de Castela, deu prosse-
O mar na Europa tinha adquirido uma guimento a esses avanços com o fortale-
componente do poder de Estado, mas não cimento dinástico e militar absolutista. 22
por todo o lado nem ao mesmo tempo,
Magalhães Godinho percebe com clareza
nem no mesmo grau. De um modo geral,
que as rotas atlânticas perseguidas pelas
o papel do mar na afirmação do poder foi
frotas são complementadas pelas rotas de
inversamente proporcional à extensão do
redistribuição, que transportam mercado-
território. Sem retomar as experiências
rias transformadas, atendendo assim a
anteriores ao século XIII, as cidades itali-
outras demandas do mundo europeu e
anas, Veneza e Gênova em particular, de-
mesmo extra-europeu. Especiarias exóti-
ram provas de precocidade. As suas pos-
cas tornadas produtos medicinais, a pra-
sessões além-mar, até o mar do Norte,
ta metamorfoseada em moeda. Das “pro-
fizeram reviver o conceito antigo de
duções naturais” se podia extrair os
talassocracia. Antes de Inglaterra, Portu-
corantes e tinturas em geral. Nesse caso,
gal e mais tarde as Províncias Unidas te-
pode ser lembrado a partir do estudo de
rem fundado, fosse sobre uma ilha, ou
Godinho: o pau-brasil vindo da América
sobre uma margem estreita do continen-
portuguesa, o pau-de-campeche do
te, domínios marítimos, o Mediterrâneo
Yucatan, e vindo de Dar’a no Marrocos
conheceu, em meados do século XV, a
saariano, o anil. O açúcar partia de vários
experiência original da Coroa de Aragão.
lados do império marítimo e simboliza na
A partir de uma expansão catalã até o mar
análise de Godinho o epicentro de uma
Egeu, o voluntarismo de Afonso V, o Mag-
das fases da civilização ibero-atlântica. A
nânimo (1418-1456), uniu numa espécie
abordagem sistêmica ganha força quan-
de federação a Catalunha, o reino de
do afirma que “a gênese do mundo atlân-
Valência, a Sardenha, o reino de Nápoles
tico está pois, em grande parte, ligada
e a Sicília; em 1449, um verdadeiro pro-
àquilo que Fernand Braudel chama muito
grama por ele publicado impunha a es-
apropriadamente a dinâmica do açúcar”.23
ses estados alguns elementos de um im-
pério marítimo: proibição de deter mina- Uma demarcação que atravessa toda a
das importações estrangeiras, aumento modernidade é a intencionalidade racio-
das construções navais e monopólio da nal24 dos estados nacionais e dos intelec-
bandeira aragonesa. Por seu lado, o rei- tuais ligados ao poder mais diretamente,
no da França, intimamente ligado ao con- orientados para uma política
tinente tanto por suas fronteiras como preservacionista do mundo natural, ten-
pela mentalidade rural dos seus habitan- do como pano de fundo o pragmatismo,
tes, e dividido entre os seus imperativos o utilitarismo e a perspectiva de uma
terrestres e as suas atrações marítimas, redescoberta especulativa do Novo Mun-

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do. Tudo isso atualizado pela ilustração está pisando’ nunca foi tão valorizado
setecentista que afinal norteou as potên- pelos meios de comunicação, escolas, in-
cias, os filósofos naturais e os cientistas telectuais oficiais, governo e as universi-
na direção da criação de espaços de soci- dades. E o século XVIII esteve, de certa
abilidade intelectual, e da for mulação de maneira, a sombrear a revolução intelec-
políticas coloniais capazes de tual e científica que funcionou como a
reorientarem a dinâmica da exploração força motriz da continuidade, e do salto
capitalista estruturada no centro da eco- das gerações futuras no que se refere à
nomia mundial. 25 Afinal, sobre esse as- mudança de atitude diante das transfor-
pecto deve-se lembrar o importante e atu- mações verificadas no espaço natural,
alizado estudo do economista alemão como tentarei demonstrar nas páginas
Elmar Altvater, acerca do impacto do de- que se seguem.
senvolvimento econômico e do processo
O jogo de busca e conquista dos objetos
decisório dos países de acumulação mais
foi um palco privilegiado para o observa-
complexa sobre o meio ambiente. Altvater
dor da história da cultura científica oci-
medita densamente sobre a natureza do
dental. Os viajantes dos descobrimentos
processo de crescimento econômico das
farejaram incessantemente significações
nações mais desenvolvidas do globo, e
e vestígios do elo perdido, numa espécie
sustenta de uma for ma contundente,
de pesquisa quase arqueológica, em ter-
apoiado numa farta demonstração
mos do conhecimento produzido e retido
empírica, que o desenvolvimento é con-
a partir da experiência novomundista.
trário ao meio ambiente. 26
O esforço despendido pelos navegadores,
Mas devemos ter um certo cuidado ao jul- missionários-religiosos e aventureiros
gar que o movimento de pilhagem encontra eco na permanente conquista do
ambiental foi algo que eclodiu quase ex- espaço natural das ex-colônias, que se
clusivamente numa fase posterior ao se- pode observar contemporaneamente nas
gundo pós-guerra. Suponho que o movi- conferências sobre a biodiversidade, exa-
mento exploratório tenha sido bem ante- mes detalhados acerca das novas frontei-
rior, e foi estrutural, enraizado, pensado, ras ecológicas no norte do Brasil, assim
calculado por menorizadamente até mes- como em toda mobilização urbana, em
mo em suas conseqüências mais imedia- grande medida associada aos setores in-
tas. Sendo assim o processo de arqueo- termediários da pirâmide social, em tor-
logia, expansão e exploração, iniciado no da valorização da qualidade de vida
com os descobrimentos, reveste-se de dos grandes centros, como Rio de Janei-
uma certa familiaridade com as inflexões ro ou São Paulo.
da macropolítica contemporânea.
Há uma evidente revitalização dos ambi-
O reconhecimento do território ‘aonde se entes silvestres no interior das residênci-

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as, e uma percepção aguda de que na in- tido, o projeto inicial da empresa metro-
fância é possível educar visando a preser- politana, para além da exploração dos tão
vação do meio ambiente nas grandes ci- sonhados metais preciosos, estava
dades. A aclimatação de parcelas da po- alicerçado numa certa contemplação do
pulação à vida ‘natural’ não representa um vazio do território, do reconhecimento
segredo para os estudiosos da gênese da dos meios fluviais, do entendimento do
adequação dos modernos ou dos homens relevo, das potencialidades da natureza e
seculares 27 ao mundo natural recriado nas das propriedades que dela se pode extrair.
grandes metrópoles.
Falarei agora um pouco sobre a odisséia,
Esse movimento global de integração de em torno da conquista dos elementos
grandes contingentes de homens e de naturais, pelas terras americanas ao lon-
produtos exóticos à rede de trocas de go dos tempos modernos, mais especifi-
mercadorias foi identificado por Russell- camente na abertura da modernidade.
Wood. Após extensa pesquisa documen- Este estudo pretende contribuir para uma
tal, o historiador norte-americano anali- compreensão mais apurada das origens
sou diversas variáveis simultaneamente, do desvelamento do meio ambiente ame-
conferindo uma única intenção à carreira ricano numa época de profunda reflexão
colonial, e vários sentidos ao fluxo huma- sobre as razões que impulsionam os es-
no, ao fluxo de especiarias tados nacionais na direção de uma explo-
comercializáveis por todo o Ocidente, as- ração cada vez mais vigorosa dos
sim como à difusão dos elementos per- ecossistemas planetários.30 As conseqüên-
tencentes à flora e à fauna dos ambien- cias da macropolítica dos estados também
tes rústicos transplantados para o conti- têm sido cuidadosamente estudadas por
nente europeu. 28
meio de importantes mensurações quan-
titativas. 31 Para os efeitos desta investi-
Os descobrimentos peninsulares investi-
gação, cabe-me aqui provocar algumas
ram numa acumulação de forças na dire-
discussões sobre um ponto de viragem
ção de um profundo e contínuo movimen-
em que se deu uma reorientação política
to investigativo acerca do mundo natural
e intelectual, visando uma maior explo-
das colônias ultramarinas do Novo Mun-
ração combinada com uma retórica
do. Podemos então procurar detectar as
preservacionista de tudo o que hipoteti-
principais tarefas dos investigadores da
camente representasse o mundo das cri-
natureza que saltavam das suas naus,
aturas brutas.
caravelas e caravelões. As marcas deixa-
das pelos primeiros colonizadores na de- O caminho aparentemente errático dos
marcação do território relacionam-se di- portugueses na rota da América, para al-
retamente à forma como os lusos enten- guns investigadores e muitos curiosos,
diam o que estavam vendo. 29
Nesse sen- deve ser percebido como uma aventura

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até certo ponto inconclusa, ou até mes- les e aqueles propriamente peninsulares
mo equivocada e acidental, fruto de um numa possível aliança com Castela. Cór-
povo à procura da sua história perdida no doba vivia a iminente condição de reino
tempo, e esfacelada em razão de um con- esfacelado pela sobrevivência das Taifas.
junto plural de identidades que viriam a Navarra constituiu-se como região de in-
for mar os povos peninsulares – árabes, teresse dos Habsburgos espanhóis, mas
europeus herdeiros da tradição visigótica também dos absolutistas franceses, e ain-
e homens de vocação atlântica que circu- da tinha que, ao mesmo tempo, se ver li-
lavam no alto-mar e traziam costumes vre da obediência maometana. 33
exóticos de diversas proveniências.
Quero crer que a força que sobressai de
Quando Portugal confirmava por intermé- toda essa rede de trocas mercantis e po-
dio de Tordesilhas a sua chamada ‘auto- líticas pode ser caracterizada como uma
nomia’ atlântica (longo processo que tem forma de consciência ultramarina que irá
no período de 1475 até 1494 anos deci- deter minar uma vocação despótica, nos
sivos para os monarcas portugueses32 ), os dois séculos que se seguem aos
demais reinos ibéricos batiam-se em tor- primórdios da colonização portuguesa nos
no da unificação e da reconquista cristã trópicos, fundada na convicção de que o
em sua fase terminal. No centro dos con- futuro está na origem. É como se a salva-
flitos protonacionais estavam envolvidos ção dos exploradores da natureza estives-
diversas cidades-estados e estados se imobilizada na descoberta dos objetos
recentíssimos, ainda em busca de legiti- encontrados pelos primeiros viajantes.
midade interna e capacidade bélica para
O fato de sermos de uma maneira ou de
que se protegessem do inimigo potencial
outra ultramarinos pode se ver refletido
externo.
nas constantes tensões, freqüentemente
Em meio a teia hobbesiana que se tecia – capturadas pela historiografia contempo-
reinos poderosos lutando entre si como rânea, entre a preservação da tradição e
a Inglaterra e a França, outros em forma- os caminhos que sinalizam novas formas
ção como Florença e Veneza e finalmente de conhecimento baseadas no aconteci-
os reinos que integravam o grande comér- mento. Os conflitos do continente foram
cio mediterrânico e atlântico – faz-se ne- deixados provisoriamente de lado para
cessário lembrar que o Ulisses ibérico ti- que a empresa de constituir um vasto
nha uma tarefa no continente e outra no império não esbarrasse na “ignorância
além-mar. O reino de Granada buscava no ecológica”, afinal era fundamental enten-
final do século XV e princípios do XVI a der taxonomicamente o que se estava
identidade religiosa, os aragoneses divi- vendo. 34 Os europeus possuíam as ferra-
diam-se entre os interesses mentas para europeizar a África, a Amé-
mediterrânicos com os aliados de Nápo- rica e a Índia, entretanto muitos impre-

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vistos ocorreram no decorrer do tempo, ções do capitalismo moderno. O conjun-


como por exemplo o desconhecimento to das práticas econômicas do absolutis-
das múltiplas propriedades das ervas, da mo (mercantilismo) vai além das exclusi-
procriação dos animais que ameaçavam vas relações de troca ou mesmo de um
as plantations, ou mesmo os novos mi- ideário limitado pela falta de originalida-
nérios parecidos com preciosidades, mas de que abundava entre os fisiocratas.
que deveriam se converter em outros usos
Alguns trabalhos relativamente recentes
que não os propriamente pecuniários. 35
demandam uma determinada originalida-
Primeiro, a natureza a ser conquistada era de conceitual do pensamento
a do arquipélago dos Açores, da ilha da mercantilista, muito especialmente nas
Madeira e demais formações insulares na seguintes obras: Cosimo Perrota, Produ-
costa africana e na Ásia. Posteriormente, ção e trabalho produtivo no
o mundo natural da América portuguesa mercantilismo e no iluminismo ; Francis-
passou a ser o objetivo em mira ao longo co J. C. Falcon, Exclusivo metropolitano
dos séculos XVII e XVIII, tanto o litoral e comércio colonial : questões recentes;
quanto o interior do Brasil deveriam ser Vitorino Magalhães Godinho, Mito e mer-
explorados. A lógica que preside a funda- cadoria : utopia e prática de navegar. Nes-
mentação científica é a apropriação ses estudos, pode-se afirmar que há uma
excedentária funcionalizada para o espécie de atualização de algumas posi-
expansionismo, que assumiu contornos ções consolidadas no que concerne à fi-
cada vez mais objetivos no século XX. xidez da prática mercantil na esfera da
circulação, assim como no aparente
A natureza passa a se constituir numa
imobilismo do Estado diante das trans-
potente estrutura de pensamento for ne-
formações estruturais do capitalismo eu-
cedora de inspiração para os sábios e es-
ropeu, que vivia um novo ciclo
tadistas metropolitanos interessados
hegemônico de acumulação de forças
numa utilização mais racional dos ele-
militares e dinásticas.
mentos naturais e na multiplicação das
suas propriedades. O mundo natural in-
AS ARTÉRIAS VITAIS

A
tegra um conhecimento que resultou do
encontro dos navegadores-viajantes com busca do fio para o entendi-
os costumes nativos e as novas especia- mento do labirinto ultramari-
rias, for mando o que o historiador portu- no exige do investigador da
guês Luís Filipe Barreto denominou de expansão um conhecimento adensado
complexo sociocultural dos descobrimen- sobre o mundo atlântico, expressão cu-
tos. Ao lado disso, a natureza funciona nhada pelo próprio Godinho a fim de de-
como estrutura do sistema colonial, signar a inserção do Novo Mundo no con-
flexibilizando-o diante das novas motiva- texto da economia mundo européia. A his-

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tória da expansão é trilhada de uma ma- trole de Cádiz, Sevilha, La Coruña, Lis-
neira que, muitas vezes, nos conduz para boa, O Porto e Viana do Castelo. O tráfico
a hipótese do estabelecimento dos mar- do açúcar é feito pelas rotas do Brasil a
cos conceituais de uma historiografia dos São Tomé. Godinho propõe um verdadei-
povos de língua portuguesa. Como se ro mapa dos descobrimentos, examinan-
pode verificar imediatamente, a obra de do o atlântico e os eixos comerciais mais
Magalhães Godinho possui diversas lati- remotos do continente europeu.
tudes intelectuais, e todas convergem
para uma compreensão das fontes do
A POLÍTICA DO MONOPÓLIO COLONIAL

E OS FUNDAMENTOS DA CRISE

O
mundo contemporâneo. 3 6 A história do
presente ronda o tempo todo a tese da tempo longo do colonialismo é
expansão como um movimento global, contemplado pelo historiador
sem que o autor abandone o foco: a cir- do império ultramarino tanto
culação de homens e moedas pelo impé- num olhar dirigido para as motivações
rio marítimo. Galeões e frotas navegam mentais coletivas, quanto numa ação de
pelas rotas primárias na captura do con- Estado baseada na racionalidade da soci-

Mapa do cabo da Boa Esperança.


Johan Nieuhofs. Gedenkweerdige Brasiliae Zee-em-Lant-Reize(...). Amsterdam, 1682.

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edade portuguesa de antigo regime. um mito, mas os mitos exercem uma

Godinho não se perde na perspectiva de influência que se não pode desprezar


uma crise econômica estática, mas privi- nas atitudes coletivas; os homens jul-

legia efetivamente os elementos que in- gam que o ouro rende mais do que o

tegram um movimento de crise: a histó- açúcar; embora na realidade não seja


ria dos preços mundiais, o déficit da ba- exato, isso basta para os desviar do

lança comercial, 37 e os processos de de- açúcar para o metal fulvo. 38

senvolvimento em curso nas metrópoles Godinho vislumbra várias leituras para a


européias. A concorrência à escala do ter- evolução do mercantilismo no espaço ibé-
ritório e da acumulação de capitais é rico. O autor revê a centralidade da es-
definidora para a ocupação do posto de tratégia metalista, e sugere que o Estado
Estado controlador do núcleo orgânico da protecionista da época moder na tinha
economia mundial. uma grande capacidade de adaptar-se às
situações de enfrentamento com a dinâ-
Nas seções 4, 5, 6 e 7 do estudo de Ma-
mica do sistema interestados.
galhães Godinho sobre as frotas e o re-
conhecimento do mundo atlântico, pode-
C ONCLUSÃO : A HISTÓRIA É FORMA DE
se observar a participação portuguesa no
PENSAMENTO

A
sistema mundial por intermédio das co-
definição clara do objeto, a
lônias. A flutuação do papel do Estado
busca da objetividade do co-
português no cenário internacional é uma
nhecimento e a erudição no
das chaves metodológicas para a compre-
tratamento das fontes e dos clássicos do
ensão desse estudo. Portugal é descrito
pensamento contemporâneo articularam
por Godinho numa luta incessante diante
o conjunto das preocupações do histori-
das demais potências frente às alterações
ador português Vitorino Magalhães
de demanda por novos produtos exóticos,
Godinho, em sua obra vasta e complexa.
confrontos pressionados pelo
É um escritor de Portugal e do Brasil. Um
patrulhamento das rotas promovido por
pensador do sentido imperial da coloni-
ar madas de diversas bandeiras, e no ho-
zação portuguesa pelo mundo. É capaz de
rizonte os vários papéis exercidos pelo
a um só tempo contar a história de Portu-
Brasil:
gal apoiado numa pesquisa erudita, pen-
Ao mesmo tempo, o ouro do Brasil tor- sar sobre o significado da totalidade ibé-
na-se, cada vez mais, uma tentação. Em rica, e impor uma trama da rede atlântica
contrapartida, a cultura açucareira vai a partir dos domínios e da política imposta
diminuir no Brasil, porque a mão-de- pelas metrópoles. O debate que existe nos
obra é desviada para as minas e por- dias de hoje acerca da natureza do pro-
que o ouro é mais rendoso – o que, de cesso colonial, entre os pesquisadores da
resto, não passa de uma miragem, de expansão lusa, deveria atingir também os

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estudiosos das regiões colonizadas. ção, uma das preocupações do autor. O


passado deve ser visto à luz do presente
Retomando o autor mais uma vez:
e o historiador deve se comprometer com
A pesquisa histórica estava assim es-
uma escrita próxima ao público, como fica
treitamente associada à análise das
claro numa entrevista concedida ao pro-
questões essenciais do presente e do
fessor Manuel Nunes Dias na USP, em
futuro da grei portuguesa. Pois bem: em
1954. O depoimento ocorre exatamente
nossos dias, bem mais do que então,
numa época em que Godinho retocava
nesse dealbar da revolução industrial e
seus estudos sobre as frotas e os merca-
da Revolução Francesa, a
dos coloniais, e preparava uma edição das
perspectivação histórica da problemá-
frotas com um vasto material de pesqui-
tica que se nos impõe é instrumento
sa. Os mercados não representam uma
analítico insubstituível, e isto se volta-
utopia latente de construção da autono-
d o s , c o m o d e v e m o s e s t a r, p a r a a
mia territorial, mas a verificação de que
prospectiva. 39
processos de desenvolvimento são lutas
A dimensão prospectiva do seu pensa- de dominação. O estudo das frotas, den-
mento também deve ser marcada. A tre outras lições, demonstra que o cruza-
historiografia brasileira demonstra um mento de interesses, o confronto de iden-
profundo desconhecimento acerca da pro- tidades e disputas hierárquicas não sig-
dução intelectual portuguesa, especial- nificam descolamento do mundo.
mente no século XX. O historiador portu-
O repertório de problemas que Godinho
guês faz parte de uma verdadeira legião
delineia nesse estudo, afirma, ou mesmo
de autores esquecidos por muitos histo-
silencia e provoca a interpretação, pode
riadores, ou simplesmente ignorado pe-
ser pelo menos apresentado sob a forma
los jovens estudantes que se for mam em
de uma agenda para ensaios futuros so-
história hoje em dia.
bre a história da historiografia luso-bra-
Godinho sugere que a história de alguma sileira: a retomada da história econômi-
forma seja portadora de um discurso que ca e dos estudos de história moderna e
amplifique o conteúdo para a vida, mais contemporânea; a crítica pesada à histó-
ou menos desta forma: é como se o his- ria ‘acontecimental’; a história diplomáti-
toriador devesse agir sobre o seu meio ca com seus estudos que levam ao nada;
social, observando a realidade que o cer- e, finalmente, a preocupação constante
ca, procurando senti-la, e vivê-la no seu com parâmetros universais para compre-
dinamismo. O movimento para ele não ender o passado. No final da entrevista
está confinado à experiência das trocas. ao professor Nunes Dias, pode-se desta-
Não, a história demanda um intercâmbio car uma referência para os estudiosos
de homens, restabelecendo, de certa for- daquelas décadas, e um aspecto para a
ma, um caminho na direção da civiliza- reflexão para os investigadores da pes-

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quisa histórica contemporânea: “... Mas o há um vaivém per manente e a história


passado é a cada momento reconstituído torna-se, em parte, a autodeter minação
segundo a mentalidade do presente, logo do momento de agora por si própria”.

N O T A S
1. Consultar esse processo de for mação da consciência cortesã no Ocidente em: Norbert Elias,
“Curialização e romantismo aristocrático”, em A sociedade de corte , Lisboa, Estampa, 1987,
pp. 183-233.
2. Conferir a esse respeito: Giacomo Marramao, Poder e secularização : as categorias do tempo,
São Paulo, Unesp, 1995.
3. Ver para maiores detalhes: Edmundo O’ Gor man, A invenção da América: reflexão a respeito da
estrutura histórica do Novo Mundo e do sentido do seu devir, São Paulo, Unesp, 1992.
4. Consultar a este respeito: Vitorino Magalhães Godinho, O papel de Portugal nos séculos XV e
XVI. Que significa descobrir? Os novos mundos e um mundo novo, Lisboa, GTMECDP, 1994.
5. Lucien Febvre, O Reno : história, mitos e realidades, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000,
p. 209.
6. Consultar a esse respeito: A. J. R. Russel-Wood, Um mundo em movimento: os portugueses na
África, Ásia e América (1415-1808), Lisboa, Difel, 1998.
7. Os documentos fundadores de uma idéia em torno da comunidade lusófona podem ser locali-
zados na seguinte biografia: José Alberto Braga (coord.), José Aparecido – o homem que cra-
vou uma lança na lua , Lisboa, Trinova Editorial, 1999.
8. Conferir o seguinte estudo: A. J. R. Russel-Wood, Portugal e o mar : um mundo entrelaçado,
Lisboa, Assírio & Alvim, 1997.
9. Sobre esse aspecto o ensaísta Eduardo Lourenço oferece uma persperctiva decisiva: “Portugal
é precisamente o primeiro reino da península a libertar-se da presença do Islão e a ocupar
desde os fins do século XIII até hoje a mesma tira estreita à beira do Atlântico, a outra fronteira
sem fim que mais tarde fará parte do seu espaço real e mítico de povo descobridor”. Cf. Eduar-
do Lourenço, “Portugal como destino: dramaturgia cultural portuguesa”, em Mitologia da sau-
dade, São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p. 90.
10. Ver a esse respeito: José Saramago, Viagem a Portugal , Lisboa, Editorial Caminho, 1985.
11. Ver: K. David Jackson, Os construtores dos oceanos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997.
12. João Lúcio de Azevedo, A evolução do sebastianismo , Lisboa, Presença, 1984, p. 7.
13. Ernest Jünger, O passo da floresta , Lisboa, Edições Cotovia, 1995, p. 9.
14. Sobre essa discussão consultar: Kenneth Maxwell, A construção da democracia em Portugal ,
Lisboa, Presença, 1999.
15. Ver a coletânea de artigos de Jaime Reis, O atraso econômico português, 1850-1930 , Lisboa,
Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1993.
16. Ver: Hans Georg Gadamer, L’ eredità dell’ Europa , Torino, Giulio Einaudi Editore, 1991.
17. Consultar dados de Juan J. Linz e Alfred Stepan, A transição e consolidação da democracia : a
experiência do sul da Europa e da América do Sul, São Paulo, Paz e Terra, 1999. Especialmente
as páginas 115-187.

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R V O

18. Para uma clarificação das tensões Ocidente/Oriente conferir: Salman Rushdie, Oriente, Ociden-
te , São Paulo, Companhia das Letras, 1995.
19. Para um aprofundamento dos marcos qualitativos desta discussão ver: Boaventura de Sousa
Santos, Pela mão de Alice : o social e o político na pós-modernidade, São Paulo, Cortez, 1997.
20. Eric J. Hobsbawn, O novo século , São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
21. O conjunto da obra e do projeto intelectual de Norbert Elias, acerca de uma teoria da civiliza-
ção, é fundamental para as nossas reflexões nesta parte do estudo sobre V. M. Godinho.
22. Consultar sobre essa perspectiva mais global: Michel Mollat, A Europa e o mar , Lisboa, Presen-
ça, 1995.
23. Vitorino Magalhães Godinho, “Portugal, as frotas do açúcar e as frotas do ouro (1670-1770)”,
em Ensaios II : sobre a história de Portugal, Lisboa, 2 a ed., Livraria Sá da Costa Editora, 1978,
p. 427.
24. Conferir: Miguel Batista Pereira, Modernidade e secularização, Coimbra, Almedina, 1990.
25. Assinalo aqui a importância de um exame das idéias do seguinte artigo: Carlos Eduardo Martins,
“Los desafios del sistema mundial para el siglo XXI: perspectivas para la América Latina”, em
Aportes (revista de la Facultad de Economía de la benemérita Universidad Autónoma de Puebla),
Puebla, enero-abril 2000, pp. 55-69.
26. Ver essa discussão em Elmar Altvater, O preço da riqueza : pilhagem ambiental e a nova
(des)ordem mundial, São Paulo, Unesp, 1995. Especialmente as páginas 21-43. Consultar tam-
bém sobre o conceito de desenvolvimento: Elmar Altvater, “Obstaculos en la trayectoria del
desarrollo”, em Francisco López Segrera, Los retos de la globalización , Caracas, Unesco, 2
volumes, pp. 609-625. Ver também os estudos recentes do sociólogo e economista italiano
Giovanni Arrighi sobre a noção de desenvolvimento sustentável no mundo contemporâneo a
partir de uma perspectiva que admite níveis diferenciados de somas acumuladas de capital
entre os conjuntos de nações, gerando uma espécie de desigualdade macrorregional que daria
novos contornos às disparidades locais, regionais e até mesmo numa escala mundial. Cf.
Giovanni Arrighi, A ilusão do desenvolvimento , Petrópolis, Vozes, 1997.
27. Consultar a seguinte obra: Antônio Edmilson Martins Rodrigues e Francisco José Calazans Falcon,
Tempos modernos : ensaios de história cultural, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000.
28. Ver: A. J. R. Russell-Wood, Um mundo em movimento: os portugueses na África, Ásia e América
(1415-1808), op. cit.
29.Conferir sobre esse aspecto o criativo trabalho de Kenneth David Jackson, Os construtores dos
oceanos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997.
30. Conferir: Vitorino Magalhães Godinho, O socialismo e o futuro da península , Lisboa, Livros
Horizonte, 1969.
31. Consultar: Immanuel Wallerstein, O capitalismo histórico, São Paulo, Brasiliense, 1985.
32. Sobre esse aspecto, deve-se consultar um artigo que oferece uma visão abrangente e atualiza-
da deste intrincado problema que envolve questões de ordem diplomática e querelas oriundas
da gestão da política interna lusa: Luís Felipe de Alencastro, “A economia política dos descobri-
mentos”, em Adauto Novais (org.), A descoberta do homem e do mundo , São Paulo, Funarte,
1998, pp. 193-209.
33. Para uma perspectiva acerca das origens desses conflitos étnico-nacionais ver o tratado de
Robert Lopez, O nascimento da Europa , Lisboa, Cosmos, 1965.
34. Consultar: Alfred W. Crosby, Imperialismo ecológico : a expansão biológica da Europa, 900-
1900, São Paulo, Companhia das Letras, 1993.
35. Ver para maiores detalhes: Sydney Mintz, “A antropologia da produção de plantation ”, em
Bernardo Sorj, Fernando Henrique Cardoso e Maurício Font, Economia e movimentos sociais
na América Latina , São Paulo, Brasiliense, 1985.
36. Para uma visão ampla da obra e da vida de Magalhães Godinho consultar: Joaquim Romero
Magalhães, “De Victorini Magalhães Godinho vita, scriptis et in adversis animi fortitudine”, em
Estudos e ensaios em homenagem a Vitorino Magalhães Godinho , Lisboa, Livraria Sá da Costa
Editora, 1988, pp. 1-41. Romero Magalhães abre diversas portas e per mite que o leitor tenha a
liberdade de percorrer as possibilidades vislumbradas pela imensa obra produzida pelo histo-
riador português.

Acervo, Rio de Janeiro, v. 12, nº 1-2, p. 67-88, jan/dez 1999 - pág.87


A C E

37. Conferir sobre esse aspecto: José Jobson de Andrade Arruda, “Frotas de 1749: um balanço”,
em Varia História , Belo Horizonte, UFMG/Fapemig/Fundação João Pinheiro, no 21, jul. 1999, pp.
190-209.
38.Cf. Vitorino Magalhães Godinho, “Portugal, as frotas do açúcar e as frotas do ouro (1670-1770)”,
op. cit., p. 438.
39. Idem, “Os nossos problemas: para a história de Portugal e Brasil”, em Maria Adelaide Godinho
Arala Chaves, Formas de pensamento em Portugal no século XV : esboço de análise a partir de
representações de paisagens nas fontes literárias, Lisboa, Livros Horizonte, 1969, p. 9.

A B S T R A C T
This text analyses the interpretation of the historian Vitorino Magalhães Godinho about the
relationship between the Portuguese America and the process of organization of the economy of
the European world since the fifteenth and sixteenth centuries.

The principal ideas announced in this study, according to the history of the fleet and the circulation
of the spices related by Godinho, are the following: the conception of the global space discovered
since the ‘opening of the world’; the contemporaneous crisis of the human science; the history of
Brazil and Potugal in a ‘unique writing’; and, finally, the concept of Maritime Empire.

R É S U M É
Ce text analyse l'interprétation du historien Vitorino Magalhães Godinho sur la relation entre
l’Amérique portugaise et le procès d’organisation de l’économie du monde européen, depuis les
quinzième et seizième siècles.

Les idées principaux annoncées dans cet étude, selon l’histoire des flottes et de la circulation des
épiceries racontées par Godinho sont les suivantes: la conception du space global découvert depuis
l’ ‘ouverture du monde’; la crise contemporaine de la science de l’humanité; l’histoire du Brésil et
du Portugal dans une ‘écriture unique’, et finalement, le concept d’Empire Maritime.

pág.88, jan/dez 1999

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