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A Festa

- Mentiroso e sem caráter é isso que ele é. – falou Cabeça.


Cabeça e Cabecinha eram irmãos, aonde Cabeça ia Cabecinha ia atrás, seu
apelido era Cabeça, não porque tivesse uma cabeça diferente, mas porque era o líder,
o chefe, reinava entre todos, com sua voz forte e firme, seu jeito de mandar e
organizar e unir as diversas turmas.
- O que é caráter? – Perguntou Cabecinha
- É o que a pessoa tem de bom. – respondeu Cabeça.
Era sempre assim Cabeça falando e Cabecinha escutando, perguntando e
aprendendo.
- E sem caráter pode ser advogado? – Ele estava se referindo a Geraldinho.
Cabeça demorou a responder, afinal isto não era bem do seu conhecimento mas
achou a resposta.
- Pode sim, mas não devia.
Estavam no alto do campinho esperando a turma chegar, faltavam apenas duas
semanas para a festa de São João e o inverno provava que viera para ficar estava
muito frio, aproveitaram a hora mais quente do dia, logo após o meio dia para a
reunião.
Somente Cabeça é quem conseguia unir as diversas turmas no objetivo comum
de fazer uma grande festa, ou seja, uma grande fogueira, tinha quinze anos e não
tinha uma turma em especial, daí a facilidade de circular nas diversas turmas e sua
autoridade era aceita naturalmente.
Quando a maioria chegou, ele distribuiu as tarefas, fariam a maior fogueira da
cidade.
- E do Estado. Disse um.
- E do Brasil. Gritou outro.
Todos se olharam e duvidaram.
Para eles, basicamente a festa de São João se constituía na grande fogueira e no
pipocar de fogos, quanto mais bombas e mais fogo, melhor seria a festa, o resto não
interessava, era esta a parte deles na festa, ninguém iria levar comida, isso era coisa
para mulher eles sabiam que na hora todas as famílias iriam participar, mas isto não
era necessário organizar.
A festa unia todos num objetivo comum, lá estavam a turma de baixo, a turma
de cima, o grupo de Tedesco e Britadeira, devidamente separados, não eram pequenas
ou grandes divergências que os deixariam de fora da festa vieram até os meninos
maiores, todos unidos porque a fogueira significava um objetivo, algo a ser construído,
uma atividade que os exercitaria e eles precisavam provar que conseguiriam.
No dia seguinte a primeira turma partiu pela manhã, eram os que estudavam a
tarde, carregavam machados e cordas. O mato ficava atrás do morro do hospital a uns
três quilômetros de distancia. È claro que tinha um dono, tinha até um portão com
cadeado, mas ninguém vigiando, e para não despertar suspeita e depois, ficarem
impedidos de trabalhar, deixaram o cadeado no lugar e abriram uma passagem pela
cerca de arame farpado ao lado e que abriam e fechavam quando queriam passar.
Procuraram as arvores menores e mais fáceis de cortar, de eucalipto porque
queima mais fácil e da uma chama alta e não precisa ficar muito seca para pegar fogo.
Depois de cortar a quantidade suficiente para uma viagem, arrastaram os
galhos para a trilha no meio do mato, repartiram o material de maneira tal que dois
meninos pudessem transportar, passavam uma corda no galho mais grosso e faziam
duas laçadas, uma para cada menino pegar, a folhagem ficava para trás e partiam
rumo ao campinho em caravana arrastando o material. Primeiro morro acima saindo
do meio do mato e subindo até chegar no hospital, depois morro abaixo e, ainda,
novamente morro acima até chegar no campinho.
Era bonito ver a caravana arrastando pó pelas ruas de terra, eles ficavam
separados uns dos outros numa distancia tal em que o pó levantado pela galhada da
turma da frente não atingisse os detrás, então a caravana se tornava mais longa.
Faziam diversas paradas no caminho para descansar, largavam sua carga e se
união esfregando as mãos para esquentar, apesar de ser meio dia, estava muito frio, o
corpo esquentava com o exercício e a força necessária para arrastar, mas as mãos,
orelhas e nariz ficavam expostos e avermelhavam. O tempo havia mudado, nuvens
acinzentadas cobriam o céu e soprava um vento sul gelado que penetrava através da
roupa e esfriava até os ossos. Isto não desanimava ninguém e era mais um desafio a
ser vencido. Se fossem esperar o tempo melhorar no dia de São João não haveria
fogueira alguma.
- Que bom que o tempo agora está ruim, até o São João ele vai melhorar e não vai
estragar a festa. - Comentou Mateus, com seu ar sempre profético e que fazia jus a
seu nome.
Chegaram no campinho, depositaram e espalharam a primeira carga, cada nova
carga que chegava era colocada ao lado da outra separada por uma trilha, escalaram
vigias para cuidar, existia o perigo de alguém, um menino de outro bairro, por
safadeza colocar fogo e queimar tudo, em montes separados, caso um queimasse
poderiam salvar o resto.

As mães não se preocupavam com o que os filhos estavam fazendo na rua,


somente as meninas brincavam dentro de casa, menino faz muita bagunça e sujeira,
precisa de espaço e a rua era o lugar ideal para eles brincarem, somente ficavam
preocupadas quando algum deles não chegava para o almoço, aí sim algo estava
acontecendo, o horário do almoço era sagrado e todos sabiam disso, ninguém era
doido de faltar ou chegar atrasado e passar fome, principalmente na casa de Gorda,
mãe de Vagão, ela era uma cozinheira das boas, se pudessem todos iriam almoçar na
casa de Vagão, pois ela sempre preparava muita comida.
Vagão chegou em casa atrasado, já era 1:00 hora da tarde, e desabou na mesa,
cansado, esfomeado e sujo, foi logo se servindo, estava feliz com a tarefa que havia
executado, arrastar uma árvore para a fogueira. Foi quando gorda o agarrou pelas
orelhas e apesar de todo o seu peso o levantou da mesa.
- Então é assim, sai sem avisar chega atrasado, sujo e vai logo sentando a mesa.
- Aihhh mãe.
- De hoje em diante você está de castigo, só vai sair e comer quando eu quiser.
Com Gorda não havia discussão o almoço era sagrado, chegar atrasado depois
de todo o trabalho que tivera era um insulto, uma falta de respeito que ela achava que
não merecia. E neste dia se perdeu, não um menino qualquer, mas Vagão. Ele era um
trator, arrastava uma árvore sozinho e ainda voltava para ajudar os outros, tinha uma
força enorme e uma agilidade pequena, mas quem queria agilidade numa hora destas.
Naquele dia na reunião todos se lastimaram da falta de Vagão, se cogitou de
fazer uma reunião para falar com gorda, mas Cabeça que a conhecia muito bem
achou melhor não falar, porque ela era desbocada quando ficava brava e diria que
estavam usando seu filho para o trabalho pesado porque eles não queriam fazer força.
Vagão faria falta principalmente porque haviam escolhido a arvore mais alta
para servir de mastro para a fogueira, e para trazer esta arvore seria necessária muita
força, foi quando Roberto, que não gostava de fazer força, teve uma idéia.
- Vamos usar um poste de luz. - Falou Roberto.
- Ora sua besta, você não está querendo que a gente derrube um poste ai da
rua. Está? - Perguntou Tedesco.
- Besta é a sua cara seu puto. – atacou Roberto.
- Parem. – Ordenou Cabeça. Do que você está falando?
- Eu passei na rua perto da igreja e a Companhia de Eletricidade está
colocando uns postes de alta tensão novos, é só a gente ir lá a noite e pegar
um. – Explicou Roberto.
- É, e eles tem muitos e nem irão dar falta. – Comentou Alcides.
- E é pertinho, só três quarteirões. – Falou Vavá.
Aí todos imaginaram a fogueira sendo construída com um poste retinho, bem
bonito servindo de mastro e a noite numa garoa fina com muito frio, lá estavam dez
meninos arrastando com cordas um poste, que foi escondido embaixo dos galhos de
eucalipto.

Fogueira que só queima eucalipto não dá certo porque o eucalipto queima muito
depressa, fogueira boa precisa ter muito pneu para ficar queimando a noite toda e a
coleta de pneu não estava boa, os de automóvel são pequenos e na base da fogueira
bom mesmo era colocar pneus de caminhão e estes estavam em falta, os pneus velhos
de caminhão são reaproveitados fazendo uma recapagem com uma borracha nova e
então, não sobravam muitos para queimar e a rota dos caminhões ficava longe, lá
para lado da Federal, e era preciso ir até lá para tentar achar alguns.
Uma turma foi escalada para buscar pneus de caminhão, passavam em todas os
borracheiros pedindo e era difícil de conseguir porque eles não eram os únicos na
cidade atrás deles, e quando conseguiam vinham rolando os pneus no sobe e desce da
cidade até o campinho.
Vava e zeca resolveram que não iriam tão longe buscar pneus e assim numa
noite fria de junho lá estavam os dois tiritando de frio esperando as luzes de uma casa
se apagar para apanhar o pneu estepe de um caminhão, levavam consigo uma chave
de roda e não foi difícil retirar o pneu e rodar até o campinho, com roda e tudo.
No dia seguinte o dono do caminhão foi até o campinho e começou a vasculhar
embaixo de cada monte de eucalipto até encontrar o pneu, mas não encontrou o
culpado.

Uma semana antes da festa já pipocavam bombinhas em todos os lugares, todo


o dinheiro apurado era gasto no armazém da esquina na compra de bombinhas e a
brincadeira predileta era colocar a bombinha embaixo de uma lata e vela voar pelo
céu o mais alto possível e também fazer pontaria nos fios de eletricidade, colocavam a
lata bem alinhada com os fios e uma bombinha bem potente para ver quem conseguia,
não só acertar o fio, mas fazer com que a lata, ao bater no fio, se amassasse
abraçando-o e ficando presa lá em cima. Depois esta lata serviria de alvo para os
estilingues. As bombas também eram colocadas em tudo onde era possível ver algum
efeito diferente ou causar algum dano ou susto em alguém.
A festa com a maior fogueira necessitava da maior bomba e era isso que estava
preocupando Cabeça, estas bombinhas colocadas a venda não tinham muita graça,
estava até pensando em como fabricar alguma coisa mais poderosa quando Britadeira
falou.
- Legal seria uma explosão como as da pedreira.
O rosto de todos se iluminou na mesma hora e com mesma idéia e, então, se
voltaram para Britadeira ao mesmo tempo, e ele percebeu que melhor teria sido se
não tivesse aberto a boca mas já era tarde.
- Certo Britadeira, e quando você vai trazer as bananas de dinamite. – Falou
Cabeça.
- Espera aí, eu não disse que iria trazer banana alguma.
- Porque não? Lá deve ter muitas e eles não vão nem perceber se você pegar
algumas.
- Não é bem assim, elas são controladas e guardadas no paiol de munição,
ninguém chega perto.
- E quando vai ser a próxima explosão?
- Daqui uns três dias.
- Nós vamos estar lá. - Afirmou Cabeça.
Cabeça resolveu agir porque não poderia delegar para ninguém uma tarefa tão
perigosa, roubar poste, pneus, ou qualquer outra coisa qualquer menino daqueles
poderia fazer, mas roubar dinamite era outra coisa.
No dia em que iam dinamitar mais pedra, Britadeira e Cabeça, arrumaram
carona na camioneta e foram para a pedreira, Cabecinha chorou porque queria ir
junto e teve de ficar em casa. Para disfarçar disseram que iam pegar passarinhos no
mato próximo e levaram uma gaiola com alçapão e um coleiro, aquele passarinho que
tem uma mancha no pescoço que parece uma coleira, para servir de isca.
Britadeira mostrou onde ficava o paiol de dinamite, uma pequena casinha de
tijolos toda fechada e com uma cerca ao redor, e o local da explosão, um paredão de
pedra, onde havia homens trabalhando e fazendo um barulho enorme com os
marteletes pneumáticos que abriam furos na pedra onde seriam colocadas as bananas
de dinamite. O pai de Britadeira trabalhava na máquina que ficava junto ao escritório
e era chamada de britadeira mesmo, a maquina tinha uma boca grande com duas
mandíbulas de aço que ficavam mastigando as pedras que eram jogadas para dentro
até transforma-las em cascalho que caia em cima de uma esteira que ficava girando e
transportava as pedras para cima de um monte bem alto.
Eles ficaram de longe observando o movimento, demorou tanto que até já
haviam capturado dois coleirinhos novos, daqueles que vão ser bons cantores, então,
viram dois homens abrindo o paiol e pegando uma caixa de dinamite.
Britadeira sabia onde era o vestiário dos trabalhadores, foram até lá, pegaram
um macacão e um capacete, caminharam por cima do paredão até próximo ao local da
explosão e vestiram em Cabeça, ficou grande e eles enrolaram a bainha da calça para
não arrastar no chão.
Os trabalhadores já estavam enfiando as bananas de dinamite nos buracos e
fazendo a ligação com uma cordinha que era o pavio. Britadeira retornou e entrou no
escritório, enquanto cabeça disfarçadamente se aproximava, ficou parado atrás de um
compressor de ar que alimentava os marteletes esperando a oportunidade.
Britadeira era muito conhecido no escritório e não foi difícil chegar perto do
botão que aciona a sirene de alarme e que serve também para informar o horário de
almoço e o fim do turno de trabalho, fingiu que esbarrou nela e “sem querer” acionou
a sirene, por poucos segundos, mas o suficiente para que os trabalhadores se
distraíssem olhando para o escritório para ver o que havia acontecido e, então,
Cabeça se aproximou da caixa de dinamite e pegou três bananas, colocou no bolso e
saiu caminhando naturalmente.
Os dois trabalhadores que estavam colocando dinamite na hora não
perceberam nada, mas no final faltaram três bananas e um ficou culpando o outro por
ter contado a quantidade de furos ou as de bananas errada.
Britadeira e Cabeça não quiseram aguardar a explosão, pegaram carona num
caminhão e retornaram logo para a cidade, estavam eufóricos carregando as bananas,
Cabeça não queria guardar na sua casa o dinamite por causa de Cabecinha que faria
de tudo para descobrir onde estavam, e nem Britadeira podia fazer isto por causa do
seu pai então foram para a casa de Toninho que foi obrigado a esconder no porão da
sua casa e os três juraram silencio total, ninguém podia saber que haviam conseguido,
isto poderia vazar e se algum adulto soubesse poderiam ser denunciados e adeus festa
de São João para os três.
Um dia antes da festa a turma estava lá para iniciar a montagem da fogueira,
fizeram um buraco no centro do campinho para a colocação do poste que serviria de
mastro, que foi erguido empurrado com escoras de madeira e puxado com cordas,
depois socaram terra ao redor para ficar bem firme. O que deu muito trabalho foi a
colocação dos pneus que eram içados com cordas até o alto do poste onde dois
meninos numa escada completavam a operação de enfiar o pneu e soltá-lo para ficar
lá na base circundando o mastro, a pilha foi subindo e chegou até o topo, colocaram o
resto encostados de pé junto a base foram contados e entre os de caminhão e de
automóvel eram mais de 120.
Parecia que a festa já havia começado, o campinho se encheu de gente todos
queria ajudar e dar palpites e ansiosos por vêem aquela fogueira queimando.
Deixaram para o dia seguinte a cobertura final da fogueira com o eucalipto.
Cabeça se reuniu com Britadeira e Toninho para planejarem como iriam
explodir dinamite, depois de muitas hipóteses chegaram a conclusão que o correto
seria explodir avisando a todos da explosão para poder afastar todos e o povo ficar
prevenido e não ser apanhado de surpresa com o forte ruído. Não queriam acidentes.
Mateus acertara na sua previsão, no dia da festa estava muito frio, mas era um
frio de geada, em que durante o dia o céu fica azul sem nenhuma nuvem e a noite
estrelado com todas as estrelas aparecendo, sem nenhum vento mas com um frio que
de madrugada chega próximo ao zero graus, todos voltaram para colocar os galhos e a
fogueira foi engordando e subindo formando um enorme cone que foi coberto com
bandeirolas coloridas de papel que vinha do topo para a base ao redor de toda a
fogueira, com a sobra de material foram feitas quatro pequenas fogueiras ao redor da
principal, estas não iriam durar muito e seriam usadas para a brincadeira de pular
fogueira.
Na hora marcada, às 8:00 da noite, todos estavam lá, as famílias foram
chegando, com o frio que fazia oito horas parecia até ser muito tarde, mas era um frio
gostoso sem vento e que logo iria se tornar quente com a fogueira acesa.
Cada menino preparou sua tocha e ao redor da fogueira saíram colocando
fogo, e logo o fogo foi se alastrando e tudo se iluminou com as chamas que crepitavam
violentamente e subiam com a fumaça impulsionadas pelo ar quente que sobe ainda
mais depressa num dia frio. Também ficaram iluminados os rostos de todos que
participando de um trabalho coletivo que uniu todos os meninos do bairro em torno
de uma causa agora viam o resultado e se entusiasmavam, olhavam ao redor na
direção de outros bairros que também fizeram a sua fogueira e não existia nenhuma
tão grande assim. O tamanho da fogueira foi atraindo mais gente que foi enchendo o
campinho de alegria.

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