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É da arqueóloga Gabriela Martin a afirmativa de que: peças de cerâmica, utensílios e ferramentas pré-coloniais. As rochas da região são
Durante os trabalhos de campo desses projetos arqueológicos, foram calcárias e dolomíticas e correspondem à Formação Sete Lagoas, ou seja, o conjunto
registrados abrigos com pinturas e gravuras rupestres em quase todos de camadas de rochas carbonáticas sedimentares existentes na porção inferior do
os municípios do vale, nas serras ou nos rochedos às margens dos rios Grupo Bambuí. A equipe da expedição visitou dois locais representativos do patrimônio
Vale do São Francisco, o levantamento, ainda que sumário e apenas indicativo, dos A equipe de documentação percorreu a Gruta dos Milagres, no local denomina-
seus sítios arqueológicos, para fins do dossiê a ser encaminhado à Unesco, deman- do Vale do Barreado, no Município de Doresópolis. O Córrego do Barreado, que
dará esforços adicionais de coleta de dados e pesquisa de campo. No presente corre sob a cavidade, deságua no Ribeirão dos Patos, um dos afluentes do São
capítulo deste relatório, foram resumidas as principais observações feitas durante Francisco na região. A chegada à gruta requer uma curta caminhada no meio da
as visitas realizadas a alguns dos sítios arqueológicos localizados no vale do rio. A mata, a partir de uma das estradas de terra locais.
ordem de apresentação dos locais segue o curso do rio. No interior da gruta encontram-se fragmentos de objetos de cerâmica, dispersos
pelo chão. Segundo a bióloga Paula Vieira Teles e o guia de campo Jefferson Luís,
Província Cárstica de Arcos-Pains-
guias da equipe no local, não há ainda um trabalho de pesquisa da importância e da
Doresópolis, MG datação desse material. A gruta, em si, constitui uma cavidade bem ornamentada,
A chamada Província Cárstica de Arcos-Pains-Doresópolis constitui uma faixa de com presença de coralóides, estalactites, estalagmites, cortinas, escorrimentos e
cerca de 100 quilômetros, formada por paredões de calcário que abrigam grutas e colunas. Há pichações em várias de suas formações e algum lixo espalhado pelo
cavernas onde já foram encontrados fósseis, inscrições rupestres, fragmentos de chão. O local é freqüentemente visitado pela população local, tendo sido colocada,
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na entrada da cavidade, uma imagem sacra comum, em torno da qual se espalham guarda por décadas. Há ainda exemplares oriundos de outras regiões do País,
flores e restos de velas. como fósseis de animais encontrados na Bahia e em Peirópolis, localidade do
Centro de Educação Ambiental e Núcleo Museológico da Reserva de Corumbá Município mineiro de Uberaba.
Em 16 de junho de 2000, foi inaugurado esse importante centro, destinado à O local possui área construída de 275 metros quadrados, que se repartem entre
preservação e à divulgação do patrimônio histórico, geológico, arqueológico, o centro de visitantes e o observatório a céu aberto, instalado no alto de um platô.
espeleológico e paleontológico da Província Cárstica de Arcos-Pains-Doresópolis. O centro foi implantado num espaço de grande beleza cênica, constituído por
A criação do espaço, localizado na Estação Ecológica de Corumbá, no Município de morros e paredões calcários, no interior dos quais se encontram cavidades com
Arcos, foi o resultado de parceria entre a Companhia Siderúrgica Nacional e o inscrições rupestres. A vegetação de campos e de cerrado em torno encontra-se
Instituto Estadual de Florestas, como parte de termo de compromisso assumido preservada, por estar o centro localizado no interior de uma unidade de conserva-
pela empresa com a Fundação Estadual do Meio Ambiente e a Secretaria de Meio ção. A estação ecológica é cortada pelo Rio Santo Antônio. Fora da área do núcleo
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. museológico, na beira da estrada que corta a estação, foi registrada a existência de
O acervo inclui urnas funerárias, animais fossilizados, fragmentos de ossos um casarão antigo que pertenceu à Fazenda Corumbá. A edificação foi construída
humanos, fotografias de inscrições rupestres, ferramentas e utensílios pré-coloni- em estilo colonial e encontra-se abandonada.
ais. As ferramentas incluem exemplares de machados, batedores e pilões. Há A equipe foi recebida por Karolini Valadão de Castro e Silva, coordenadora do
também vasilhames e adornos individuais. O material, proveniente do período núcleo museológico, tendo a visita sido acompanhada também pela bióloga Paula
colonial, inclui cachimbos e moringas, provavelmente fabricados por escravos Vieira Teles e pelo guia de campo Jefferson Luís.
negros. Esse acervo foi constituído a partir da contribuição da população local, Indagada se tinha conhecimento de pesquisas voltadas para a importância do
que cedeu ao centro os exemplares pré-coloniais que vinha mantendo sob a sua acervo arqueológico da região no contexto da ocupação pré-colonial do Alto São
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Francisco, a coordenadora do centro respondeu negativamente. Não obstante, região central de Minas Gerais. Por isso, esse sítio é muito importante para os
texto por ela fornecido, de autoria da arqueóloga Alenice Motta Baeta, inclui um pesquisadores, na medida que apresenta influências estilísticas originárias de outra
comentário que ressalta a relação entre um dos sítios arqueológicos da região e as região, no caso, do Médio e Baixo São Francisco.22
populações pré-coloniais que habitaram o Vale do São Francisco: Material arqueológico encontrado na região de Abaeté, MG
No distrito de Corumbá, Município de Arcos, há inúmeros sítios arqueológicos Durante a visita técnica à cidade de Abaeté, a equipe esteve na residência de
litocerâmicos, a céu aberto e em abrigos sob rocha. Contudo, o sítio arqueológico Luzia Soares Defeo, cujo marido, já falecido, tinha por hábito recolher objetos de
que mais chama a atenção, possivelmente por sua beleza cênica e por possuir interesse histórico e arqueológico encontrados nas margens de cursos dágua da
conjuntos de pinturas rupestres, é o sítio denominado Posse Grande. região. A coleção encontra-se bastante desfalcada, tendo sido registrados alguns
Trata-se de um grande maciço calcário, onde a parte abrigada possui 30 machados pré-coloniais de pedra polida e cachimbos de barro.
metros de extensão. A parede com pinturas rupestres encontra-se parcialmente Cemitério da Caixa dÁgua Buritizeiro, MG
danificada em função dos desplacamentos do suporte rochoso e das depredações O sítio arqueológico ocupa área demarcada pelos índios caiapós para servir
por meio de rabiscos sobre as pinturas. No entanto, ainda há aproximadamente como cemitério. A sua denominação deve-se à existência, ao seu lado, de uma
250 figuras rupestres nas partes menos acessíveis da parede, que apresentam um grande caixa dágua que abastece a sede do Município de Buritizeiro. O sítio
conjunto estilístico pictural peculiar. As figuras deste sítio apresentam temas bem localiza-se na margem esquerda do rio e constitui um retângulo de 50 por 10
variados: formas humanas ou antropomorfas, formas de animais ou zoomorfas, metros. Uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal de Minas Gerais
além de variados tipos de figuras com formatos geométricos. UFMG vem pesquisando o local. Segundo informações do 3, inclui fossas com
A característica mais rara desse conjunto rupestre é a forma de preenchimento corpos fletidos, ou talvez fogueiras com corpos queimados. Já foram encontrados
das figuras, que inclui duas ou até mesmo três cores, o que não é muito comum na quebra-cocos em rocha verde, machados polidos e picoteados, instrumentos
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plano-convexos, lascas e vegetais. O sítio encontra-se a céu aberto, possui estru- causa mais séria desse problema; por isso, já foi proposto aos órgãos responsáveis
turas funerárias e artefatos líticos lascados e polidos. Não há arte rupestre. Não há o reflorestamento da região como forma de proteção do acervo arqueológico.
informação técnica de datação. O processo de pintura consistia na utilização de pigmentos de rochas, nas cores
O sítio não está preparado para receber visitas e fica hoje localizado numa área amarela e vermelha, que eram moídas e recebiam um fixador, em geral gordura animal
ambientalmente degradada da margem do rio. ou vegetal, como a cera de abelha. A pasta formada era então aplicada diretamente à
Abrigo do Janelão Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Januária, MG rocha. O picoteamento, por outro lado, é o processo pelo qual se utilizava, ao invés
Segundo Hamilton dos Reis Sales, biólogo que guiou a equipe durante a visita, de tinta, uma rocha mais dura, como sílex, que era batida contra a parede, definindo
há cerca de 150 cavernas e sítios arqueológicos catalogados na área do parque. contornos. A gravura produzida consistia, portanto, numa representação em baixo
O Abrigo do Janelão, um desses sítios, localiza-se em parede rochosa próxima relevo, mais resistente à ação antrópica e aos efeitos naturais.
à entrada da gruta do Janelão e tem dimensões de 77 metros de largura por 8,5 de Durante a visita a esse sítio, foram mostrados ainda vários exemplos de justa-
altura. Está localizado numa área de mata seca e apresenta pinturas e gravuras posição de pinturas e gravuras produzidas pelas sucessivas comunidades que, ao
rupestres. Segundo informações do Iphan, possui artefatos líticos lascados e longo dos milênios, utilizaram a parede rochosa para registrar mensagens.
corte de madeira na área, provocando a exposição constante da rocha ao sol, é a do dia de circulação pelo parque. Trata-se de abrigo sob rocha, localizado num
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canyon seco e com área abrigada das intempéries e do sol durante a maior parte do São Gonçalo da Serra
dia. Segundo os dados do Iphan, o sítio tem dimensões de 55 metros de largura por
Sobradinho, BA
13 de altura, sendo a área em torno utilizada como pastagem e abrigo pelo gado; daí
o nome do sítio, numa alusão à malhada, ou área em que o gado se protege do sol. A equipe visitou, em dois grupos distintos, esse importante conjunto de
Esse sítio foi utilizado como cemitério e local de impressão de pinturas rupestres. sítios arqueológicos. Como o trabalho de identificação e registro dos sítios está
Foram encontrados artefatos líticos lascados e polidos, produzidos sobre material em fase inicial, a cargo do pesquisador Celito Kestering, os dados disponíveis
orgânico e conchas, e cerâmicos. Segundo o historiador e arqueólogo Fabiano são ainda sumários.
Lopes de Paula, do Iepha/MG, que também acompanhou a visita, o sítio vem sendo Foram citados pelo menos quatro sítios importantes no local: Pedra Gêmea,
escavado desde a década de 70, tendo sido encontradas, até o presente, três Pedra dos Macacos, Pedra da Mangueira e Pedra da Gameleira. Em todos eles há
sepulturas, uma delas de criança. conjuntos de pinturas rupestres, ao que parece de diferentes datações, sem ação
Trata-se de sítio de alta importância, que deve, segundo os arqueólogos da antrópica significativa. Pelo menos duas pinturas observadas teriam sido feitas já no
UFMG que o pesquisam, ser protegido do desmatamento, da atividade agropecuária período colonial: um braço de homem negro e um homem segurando uma espada.
e do turismo sem orientação específica. O conjunto de sítios localiza-se numa área de caatinga situada entre grandes
No fim da visita ao parque, Hamilton identificou os sítios arqueológicos mais blocos rochosos e montanhas de pedra. Há belos e frondosos juazeiros. A mata
importantes na região. São eles: a Lapa dos Bichos, a Lapa de Rezar, o Sítio do está razoavelmente preservada, com algumas áreas ocupadas por pequenos siti-
Elias, a Lapa dos Troncos, a Lapa do Boquete, os próprios Abrigo do Janelão e antes. Nas proximidades está o pequeno povoado de São Gonçalo da Serra. Esse
Abrigo do Malhador e a Lapa dos Desenhos; este último, segundo ele, o painel de relativo isolamento tem contribuído para a preservação das pinturas rupestres
pintura rupestre mais preservado do parque. existentes no local.
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Comentário: O conjunto de sítios arqueológicos de São Gonçalo da Serra é ológica, constituída por 7.802 peças líticas, 21.790 peças cerâmicas, mais de 20
impor tante pela integridade dos registros, garantida pelo relativo isolamento mil restos faunísticos, 49 fogueiras e 191 esqueletos.
da área e pela preservação da vegetação de caatinga circundante e revelada A unidade museológica, inaugurada em 2000, possui no seu acervo uma parte
pelo trabalho de pesquisa que vem sendo desenvolvido pelo pesquisador altamente representativa da coleção arqueológica recolhida. Construído em arquite-
Celito Kestering. É de se observar, ainda, que os sítios arqueológicos de São tura moderna e dotado de sofisticados recursos de exposição, o museu possui
Gonçalo da Serra não se encontram registrados nos bancos de dados eletrô- diversos espaços, dentre os quais se destacam as salas de simulação de escava-
Esse museu, localizado no Km 52 da Rodovia Juscelino Kubitschek, nas vizi- Atualmente, segundo informações da arqueóloga Cleonice Vergne, diretora do
nhanças da barragem da Usina Hidrelétrica de Xingó, apresenta importante acervo, museu, as sondagens já realizadas indicam a existência de 41 sítios arqueológicos
oriundo das escavações realizadas no contexto do Projeto de Salvamento Arqueo- entre Paulo Afonso e a Usina Hidrelétrica de Xingó e 214 de Xingó até a foz do São
lógico de Xingó, desenvolvido a partir de 1988. O projeto foi criado para resgatar Francisco. A grande maioria desses sítios está localizada em terraços situados nas
os vestígios arqueológicos existentes na área que seria posteriormente inundada duas margens do rio.
destacam os sítios Justino e São José I. Hoje esses sítios encontram-se cobertos Comentário. O trabalho de pesquisa arqueológica que vem sendo desenvolvido
pelo lago, mas o projeto permitiu que fosse recuperada expressiva coleção arque- pela equipe do Museu de Arqueologia de Xingó é fundamental no contexto da
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campanha Rio São Francisco Patrimônio Mundial. A identificação de mais de duas
centenas de sítios arqueológicos entre Paulo Afonso e a foz do rio dão uma medida
da importância da ocupação pré-colonial do Baixo São Francisco e do papel do rio
Arqueologia de Xingó.
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Casulo de enterramento no Museu de
Arqueologia de Xingó
Canindé do São Francisco/SE
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À esquerda Urnas funerárias no Núcleo Museológico da Reserva de Corumbá Arcos/MG
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