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Índice
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Custo traduzir esses "poderiam ter sidos" que nunca foram em termos de
valores.
comportamento não existem; nunca são concebidos; não podem ser Um século já se passou desde a revolução provocada pelo conceito
mensurados após o fato. do valor subjetivo na teoria econômica, porém a teoria subjetiva de
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Desde suas origens clássicas, a economia reivindica o título de Segundo a concepção austríaca, o custo torna-se o aspecto negativo
ciência prognóstica. Isso significa a introdução de hipóteses de qualquer decisão, o obstácu-lo que deve ser superado antes que
refutáveis teoricamente e que a contestação dessas hipóteses pode uma alternativa possa ser escolhida. O custo é aquilo que o
exigir um reconhecimento final por profissionais e cientistas indivíduo que toma a decisão sacrifica ou abandona ao fazer uma
competentes. A despeito dessa limitação, a ciência deve possuir escolha. O custo é constituído da própria avaliação que o indivíduo
teor objetivo e empírico. Algo mensurável - ao menos teoricamente faz do prazer ou da utilidade cuja exclusão prevê como necessária
- que permita a comprovação ou a contestação das principais em decorrência da sua seleção de cursos alternativos de açao.
hipóteses. ação.
vinculado à escolha:
Rigorosamente dentro da ciência prognóstica da economia, a
[1] A mais importante delas, o custo deve ser experimentado
definição de custo pode ser considerada adequada na maioria dos
exclusivamente pelo indivíduo que toma a decisão; não é possível
textos modernos, quase não havendo necessidade de modificação
transferir o custo ou impô-lo a outras pessoas.
em suas conceituações comuns. É o custo dos conhecidos
recursos de insumos para usos diferentes daqueles observados. [3] O custo baseia-se em expectativas; é necessário um conceito
mecânico. A conversão de dados objetivos que reflitam os gastos [6] Finalmente, o custo pode tornar-se obsoleto no próprio
monetários previstos nas avaliações subjetivas feitas no mundo real momento da decisão ou escolha.
O Custo em uma Teoria de Escolha rejeitada. Visto as funções de utilidades serem necessariamente de
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ordem pessoal, o custo está diretamente vinculado ao indivíduo
outro bem que poderia ser produzido em seu lugar. Desse modo, o
custo.
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A Natureza da Competição Econômica outro e tudo que seja demandado por algum agente seja ofertado
geral.
O maior problema teórico da economia moderna é a ausência de
rumos que já trouxeram conseqüências terríveis para a mentalidade Mas porque os preços seriam dados? A interpretação padrão dessa
da profissão e para a política econômica derivada de suas teorias. hipótese parte da idéia de que a parcela da quantidade ofertada ou
Eu diria que o não entendimento da natureza e da importância da demandada por um agente determina a capacidade do agente de
competição é a maior causa da existência das ideologias alterar o preço do produto que ele vende ou compra no mercado.
intervencionistas, e é certamente a principal causa da existência da Na chamada concorrência perfeita temos infinitos agentes que
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maximizam sua utilidade a partir de preços dados, assim os agentes para B1, temos uma troca mutuamente benéfica que deixa de ser
ofertam e demandam tudo o que eles querem a partir desse preço realizada.
Vou dar um exemplo, digamos que temos 3 agentes, A, B1 e B2. O diferente para cada agente para capturar ao máximo o excedente de
agente A possuí de bens, 2x, mas ele não valora em nada esses 2x, cada agente, temos uma alocação eficiente, da mesma maneira que
ele está disposto a vende-los por qualquer preço. B1 está disposto a no caso de um sistema de preços que vem do nada e os agentes
comprar um x por até 2 reais e B2 está disposto a comprar um x tomam como dado esses preços (concorrência perfeita). E porque
por até 5 reais, mas comprar um segundo x não é valorado por um agente com poder de mercado iria vender a um preço uniforme
nenhum dos dois (utilidade marginal zero nesse caso). Se os preços ao invés de discriminar preços? Bem, se ele é racional ele sempre
são paramétricos, ou seja, de concorrência perfeita, os agentes vão vai discriminar preços, já que os trocas sempre vão render mais.
ofertar e demandar com base nesses preços dados. Qualquer preço Mas como isso não é verificado empiricamente (um neoclássico
entre 0 e 2 é um preço de equilíbrio, A vai ofertar 2x, B1 vai poderia chegar a conclusão que no mundo real os agentes não são
demandar 1x e B2 também vai demandar 1x. Nesse equilíbrio em racionais como nos modelos), e por isso se diz que o monopólio é
relação a um sistema de preços todas as transações mutuamente ruim. Também porque o monopólio que discrimina preços, embora
benéficas possíveis ocorrem e temos uma alocação ótima. seja eficiente, concentra renda nele, extraindo os excedentes dos
assumimos que A determina o preço, que A não discrimina preços Além disso, nesse modelo tosco que eu usei de exemplo, eu assumi
e que B1 e B2 são tomadores de preços. Se A não tivesse poder de que B1 e B2 sempre são tomadores de preço, eu assumi isso
mercado, A venderia 2x por no máximo 2 reais, faturando 4 reais, porque a situação se torna indefinida quando mais de um agente
mas já que A tem poder de mercado, então ele vai deixar de ofertar tem poder de mercado. Por exemplo, se temos 2 agentes, A e B, A
1x para ofertar o outro x por 5 reais para B2, o preço de equilíbrio tem x e está disposto a vender x por no mínimo 5 reais e B está
nesse monopólio se torna 5. Ele acaba tendo maior rendimento do disposto a comprar x por até 10 reais. Qual será o preço de
que se fosse um tomador de preços (5>4), mesmo no maior preço equilíbrio? Temos infinitos preços de equilíbrio entre 5 e 10, ou
de equilíbrio possível, o que significa que se o agente tem poder de seja, com base nas preferências e na alocação inicial não é possível
mercado (e, numa convenção matemática, assumirmos que os bens determinar qual será o preço de equilíbrio que será atingido e com
são perfeitamente divisíveis e a função de utilidade é contínua) ele isso a distribuição dos ganhos com as trocas também se tornam
sempre vai reduzir a eficiência da economia. Nesse caso, como 1x indeterminadas se os preços forem determinados pelos indivíduos
é mais valorado por B1 do que por A, e como ele não é vendido ou invés de serem determinados por um Deus ex machina.
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depois que A vendeu o primeiro por 5 reais para B2. Nessa
teoria neoclássica, Hayek por exemplo, descobriu esse grande Segundo os pensadores da EA, os preços são determinados pela
buraco da teoria econômica construída somente dentro da “caixa dinâmica da formação do conhecimento na mente dos agentes. Um
walrasiana” (que ele chamava de pura lógica da escolha) em 1936, equilíbrio geral é definido como uma situação onde o
e a partir de então se dedicou a trabalhar fora da caixa, ou seja, conhecimento dos agentes já está plenamente formado, ou seja,
com problemas econômicos que não são de maximização sob cada agente tem conhecimento perfeito do que é relevante para seu
restrição mas sim do processo de formação dos meios e fins dados formular seu plano de ação. E com base nesse conhecimento já
que são usados nesses problemas, ou seja, ele trabalhou no consolidado em suas mentes eles traçam planos de ação que não
chamado problema do conhecimento, para Hayek a solução desse serão modificados com a passagem do tempo, simplesmente
problema explica o processo de formação de preços. Um processo porque esses planos são ótimos, já que erros não serão descobertos
que não tem nenhuma relação com maximização sob restrição, que durante seu processo de execução.
A competição segundo a escola austríaca moderna neoclássica o preço de equilíbrio pode ser qualquer coisa entre 5 e
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Como na realidade todos os agentes possuem certa capacidade de percebem a possibilidade de ganho mútuo antes que outros, esses
descoberta e nenhum possuí uma capacidade ilimitada como nesse agentes vão conseguir se apropriar dos ganhos das trocas que os
modelo, o processo de formação de preços se torna extremamente outros agentes poderiam se apropriar caso os primeiros não tivesse
complexo. Mas ele é determinado unicamente pela capacidade dos descoberto essa possibilidade anteriormente.
No exemplo do monopolista podemos notar que se A tivesse agentes tem liberdade de descobrir e realizar trocas de um certo
capacidade de percepção completa, e B1 e B2 não tivessem setor do sistema econômico. E se esses monopolistas fossem
nenhuma capacidade de percepção, os preços seriam 2 e 5, ou seja, oniscientes não teríamos ineficiência nenhuma com o monopólio,
teríamos o equilíbrio com discriminação de preços. Já se os Bs mas como não são, então o setor monopolizado acaba não
perceberem antes, os preço de x vai tender a zero, já que A não aproveitando a totalidade da capacidade de descoberta dos agentes,
valora x em nada. Podemos imaginar uma situação onde um agente e acaba sendo menos eficiente do que poderia ser. É importante
tivesse uma capacidade ilimitada de percepção e onde todos as notar que como o equilíbrio nunca é alcançado na teoria austríaca,
outras pessoas não tivessem nenhuma capacidade de percepção, nunca temos eficiência perfeita.
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Matemática na economia: bom ou ruim? irrelevante -, em que se explicava desde o movimento de pêndulos
Por Bernardo Emerick sistema solar. Laplace chegou a afirmar que bastava que lhe
condenará a conclusão de que A e B juntos têm cinco reais. Havia, pois, uma confiança natural nos poderes da mecânica
traduzíveis em equações muito simples e que davam imensa Para responder essa questão, é necessário investigar, ainda que
capacidade preditiva mostravam ao mundo as vantagens de uma brevemente, o tipo de objeto de conhecimento da economia e
ciência ancorada no cálculo diferencial e infinitesimal. compará-lo com o da física. Basicamente, a física se preocupa com
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importa para a ciência da ação humana é a estrutura formal por trás padrão. Dependem da vontade de cada indivíduo. Ao contrário dos
da própria noção do que é ação. experimentos laboratoriais da física, indivíduos diferentes agem de
Há ainda uma outra diferença. O mundo natural exterior é marcado medida quantitativa objetiva. Logo, o uso de equações não é útil na
por uma observável regularidade. Isso significa que a descrição dos descrição dos fenômenos da ação humana, exatamente por essa não
fenômenos é invariável. Um resultado observado no laboratório X ser a linguagem apropriada ao objeto de estudo.
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peca pelo oposto: ao possuir apenas um lado explicativo, não teria economia matemática como defesa da sua existência como
O erro de tal objeção é confundir predição com predição mesmo quando são economistas matemáticos. O sistema de
quantitativa. Predição pode ser tanto quantitativa quando equações fundamental do equilíbrio do consumidor diz que o
qualitativa. A redução que se faz do caráter preditivo de uma indivíduo maximiza sua utilidade quando a razão entre a utilidade
ciência a aspectos quantitativos – donde a ferramenta marginal à quantidade consumida de um bem e o seu preço é igual
imprescindível de toda ciência ser a matemática, que é a ciência a essa mesma razão para todos os outros bens. Ou seja, se houver n
que trata das quantidades por excelência, embora não se reduza a bens, então haverá um sistema de n(n-1)/2 equações diferenciais
isto – advém precisamente do cientificismo, que, como foi parciais. Ninguém nunca viu um economista tentando resolver
Portanto, a praxeologia é uma ciência cujo aspecto qualitativo O que significa que os economistas, ao usar a matemática e lhe
reside na estrutura formal da ação humana – não matematizável – e tentarem dar um aparato preditivo quantitativo, abandonam a
cujo lado preditivo é qualitativo, não quantitativo. fundamentação explicativa da teoria via teoria do comportamento
para focar em grandes agregados, aos quais ele não consegue dar
O uso da matemática na economia
uma explicação razoável. Isto é, parte-se para a estatística e para as
milhões de regressões.
Como foi observado na seção 1, a física tornou-se modelo de
ciência pelo seu aspecto preditivo. E o seu aspecto preditivo foi Pois bem, a estatística funciona muito bem para o passado, mas o
tomado com seu poder explicativo, na medida em que os fato é que durante um século os economistas tentaram na prática
resultados eram generalizados para uma quantidade enorme de aplicar as suas conclusões econométricas para controlar a
casos. Assim, os próprios princípios da física tornaram-se economia e falharam.
equações.
Em suma, a economia matemática não se justifica do mesmo modo
Se na praxeologia começamos dizendo que os homens agem, na que a física matemática, na medida em que não possui poder
física começamos dizendo que tais e tais objetos satisfazem preditivo.
determinada equação. É mais do que evidente a diferença
qualitativa das ciências, que reflete a diferença dos objetos das A matemática, o espaço e a economia
Porém, uma vez que tentemos matematizar a praxeologia e reduzi- possível estabelecer muito naturalmente duas das unidades
la a uma espécie de mecânica da ação humana, que resultados fundamentais desta ciência: tempo e espaço. Nós sentimos o tempo
efetivos poderíamos mencionar em defesa desse procedimento? Se passar continuamente, de modo que estabelecemos com
a física como matemática aplicada é imediatamente justificada por fundamentação que o tempo corre continuamente. Por outro lado,
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os matemáticos fazem a suposição de que o conjunto dos reais dividir utilidades. Não se pode sequer atribuir uma estrutura de
pode ser representado como uma reta. espaço vetorial – ou, ainda mais geralmente, de módulo – ao
escala de preferência.
Na economia, as coisas não são assim. Por exemplo, se estamos
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anteriores para adotar algo que ele sabe ser falso. Ele está Por último, comentarei um pouquinho sobre teoria dos jogos, que,
substituindo uma teoria por outra, uma teoria melhor por uma pior. aparentemente, estaria livre de alguns excessos da economia
chamada economia do bem-estar, por exemplo, tem como seu O resultado mais importante da teoria dos jogos é o Teorema de
fundamento essa suposição, embora ela seja sempre tomada Nash, que diz que em todo jogo não-cooperativo com um número
equilíbrio de Nash.
A linguagem matemática como forma de evitar erros
Do ponto de vista matemático, eu não tenho nada a objetar. A
Uma defesa dos métodos matemáticos na economia é que a demonstração feita por Nash na sua tese de doutorado me parece
linguagem matemática, por ser mais formal, acabaria facilitando a válida. Não encontrei nenhum erro e, tendo ela sido aprovada,
identificação de erros no raciocínio, de modo que seria uma forma devemos considerar aqui que realmente ela esteja correta do
de evitar erros lógicos. Esse argumento não deixa de ser irônico. princípio ao fim.
Para evitar um erro acidental, justifica-se um erro essencial!
Então qual seria a minha “implicância” com o equilíbrio de Nash?
No entanto, sendo este argumento de ordem pragmática, não Na verdade, nenhuma. A minha implicância é com o uso que se faz
precisamos mostrar o seu descabimento filosófico. Na prática, a desse resultado em teoria econômica. O problema do teorema de
economia matemática tem sido fonte de acertos ou de erros? Bem, Nash é que ele não é aplicável à realidade.
a maior parte das políticas econômicas adotadas no século XX
A demonstração do Teorema feita por Nash utiliza noções de
tiveram como base de sustentação teorias econômicas fortemente
topologia. O que nos interessa aqui é uma observação. Suponha
calcadas em equações. Como essas políticas, em geral, foram
que haja n estratégias puras disponíveis a um jogador. Então o
desastrosas, podemos dar duas explicações diferentes – apesar de
espaço de todas as estratégias para esse jogador é o conjunto S =
não serem mutuamente exclusivas: i) houve erros matemáticos ou
{(p_1,p_2,...,p_n): p_1+p_2+...+p_n = 1 e p_i >=0, para todo i e
ii) houve erros nos fundamentos da teoria.
p_i sendo número real}. Atribuindo a cada eixo de um espaço real
Já sabemos que as teorias econômicas matemáticas são falsas por euclidiano n-dimensional uma estratégia pura, então isso será um
falsificarem deliberadamente a realidade. O melhor, então, que a politopo n-dimensional. Por exemplo, se n=2, haverá um triângulo
economia matemática pode fazer é nos assegurar que de vértices (0,0), (1,0) e (0,1) e as estratégias do jogador será
provavelmente os erros da sua fundamentação serão carregados nas qualquer ponto na reta que liga os vértices (1,0) e (0,1). A partir
deduções das equações! daí, define-se uma função pay-off para cada jogador P : S --> R, R
função pay-off terá que ser uma função de utilidade caso tenha
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alguma aplicação praxeológica – e isso não faz sentido –, existe realmente esse procedimento de ser “caso limite” realmente se
uma suposição que é “ilegítima” de que as probabilidades podem aplica. É dizer, é preciso esquecer o teorema tal como ele e
ser números reais quaisquer entre 0 e 1. Por exemplo, se num jogo, desenvolver uma teoria totalmente diferente e, só depois, ver como
Se eu tenho que apostar 1 real em três estratégias, eu posso fazer A matemática tornou-se uma forma de intimidação retórica dos
uma escolha de apostar 10 centavos em uma, 28 centavos em outra economistas. Podemos até dizer que essa é a sua grande função.
e 62 centavos na restante. É claro, o número de apostas possíveis é Não é uma utilização meramente científica, é um uso da
imenso – mas é finito. Então, nesse caso, o Teorema de Nash é arrogância. É a fonte dos discursos “técnicos”, em que são ditas
teorema de as hipóteses dele forem satisfeitas. Ora, em economia, A matemática é a ciência mais segura que existe. Se temos uma
dinheiro sempre tem divisibilidade finita. Logo, a hipótese de Nash “demonstração” matemática, somos os donos da verdade. Ninguém
nunca é satisfeita e, assim, o teorema nunca é aplicável na discute que 2+2=4. Por que discutiriam as medidas que os
O que estamos ressaltando aqui é que o uso da matemática na Em suma, a matemática tornou-se, na mão dos economistas, uma
economia é totalmente inválido. Nenhum economista discute o que arma para autolegitimização de um discurso pseudocientífico.
ciência rigorosa.
respeito!
Alguém poderia objetar: “ora, mas nós podemos pensar nisso como
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A Economia das Patentes e Copyrights mecanismo como patentes e copyrights. Como é o produtor que
Por Richard Sylvestre para a produção de invenções, o fato dos benefícios não poderem
ser colhidos (pelo menos na imensa maioria dos casos), levaria tal
Quer ver um liberal nunca concordar com outro e não concordar
agente a produzir invenções subótimamente, ou seja, numa
com opiniões absolutamente opostas? Coloque na mesa de
quantidade diferente do ótimo pois a decisão é feita sem levar em
discussão um dos dois temas: aborto e direitos de propriedade
conta os benefícios da sua ação (apenas os custos, que são
intelectual. O primeiro é polêmico por si só e não, não será sobre
internalizados, vão para ele) são considerados. As patentes e
ele este texto. O segundo, apesar de ser bem menos polêmico,
copyright procuram “internalizar” também os benefícios, fazendo
quando é assunto entre liberais, ganha o status do primeiro devido
com que as duas pontas sejam levadas em consideração.
1) a uma incompatibilidade entre as duas principais linhas de
defesas do liberalismo 2) dentro de uma determinada linha de No entanto, estabelecer patentes não é algo sem custos. Patentes
defesa, interpretações bastante diferentes. criam uma espécie de “monopólio” sobre uma invenção, e como
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do tempo, desestimular os próprios inventores (ao bloquear a remédios que já não são a ultima palavra em tratamento (patentes
concorrência). É por isso que costumasse falar em “tempo ótimo” desses remédios supostamente são mais baratas). Dado que são
de patentes, aquele tempo de patente que maximiza o “bem estar remédios e serviram sem problema por um longo tempo, eles
social”, o tempo que esgota, capta o maior saldo positivo possível melhorarão a situação dos doentes e ainda não impedirão a
entre benefícios e custos de uma patente. inovação (que inclusive deixará o remédio mais moderno na
que foi descrito acima. Você tem um problema de incentivos na A Discussão Liberal
produção de algo bastante valorado, bastante importante e você
corrige esses incentivos distribuindo de outra forma os benefícios e Qual o problema do ponto de vista dos liberais de tudo que foi dito
custos. Isso mostra o quão idiota é o pedido de algumas acima? Bem, os problemas são muitos, mas o problema básico é a
organizações que se dizem “humanitárias” e supostamente “arbitrariedade” dos direitos de propriedade, algo extremamente
interessadas nos pobres, além das políticas de certos governos com sensível na doutrina liberal. Direitos de propriedade não são vistos
o mesmo discurso. Quebras de patentes ajudam os mais pobres como algo que a sociedade ou o governo decidem ser X ou Y. Eles
apenas num primeiro momento ao baixarem o preço do remédio precisam ter uma fundamentação na realidade, na natureza do ser
(aquela restrição monopolista que gera a ineficiência acaba). Mas humano. Já falei sobre isso diversas vezes neste blog, mas o
no longo prazo o prejuízo é bem maior. Doenças como malária, problema fundamental pode ser entendido com um exemplo
dengue, as chamadas “doenças de pobre” ou tropicais, que básico. Geralmente é dito que liberais defendem direitos de
possuem um alto risco de quebra de patentes, são abandonadas em propriedade. Imagine então que o Lula resolva implementar o
termos de investimento (justamente porque ninguém quer arcar programa liberal, mas antes assine um decreto, passe uma lei
com os custos sem receber beneficio algum). Obviamente (enfim)... que dê a ele todas as propriedades do país. Depois de
conforme a quebra de patentes vai se generalizando, o incentivo a legalmente se tornar dono de tudo, ele diz: agora sim! O governo
novas pesquisas, seja na área farmacêutica, seja em outras áreas respeitará completamente os direitos de propriedade.
Uma política bem melhor para essas ONGs e organizações de elefante não voa. Ela tem uma natureza especifica que a permite
“humanitárias” que estejam realmente interessadas nos mais fazer um monte de coisas, mas não voar. Direitos de propriedade
pobres é, com o dinheiro que arrecadam, comprar patentes de corretos são aqueles que estão de acordo com a natureza humana,
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aqueles que a própria forma de um homem agir, sobreviver eram de Chicago). Como eu disse anteriormente,
dependem dele. Seres humanos são entidades que precisam de consequencialismo e jusnaturalismo não são assim tão distantes,
direitos para funcionarem corretamente, para sobreviverem como mas eles costumam estar quando o assunto é patentes
A forma mais comum de consequencialismo (e também a mais relevante é a idéia, o conteúdo mental, intelectual contido naquilo e
consistente) geralmente é dada pelos economistas com a sua não a coisa física em si.
famosa ética implícita de que “algo deve ser feito, por que
É muito comum entre liberais que não entendem a idéia de
funciona”. É por isso que geralmente os maiores liberais
propriedade intelectual o seguinte argumento: bem, então quer
consequencialistas (às vezes também chamados de pragmáticos)
dizer que o cara que inventou o supermercado poderia ter exigido
são economistas. Exemplos chovem por aí: Milton Friedman,
copyright de quem o copiava (ou patentes)? A falha aqui é não
David Friedman, Gary Becker, George Stigler, Ludwig Von Mises,
entender o que realmente quem abre um supermercado está
Ronald Coase e ainda uma longa lista de membros da “Escola de
produzindo. O que gera valor ao supermercado ou em qualquer
Chicago”, o templo do liberalismo pragmático (dos citados, quatro
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troca? Ou dito de outra forma, qual o serviço que o supermercado termos de nomes de pessoas, nome de açougue ou qualquer outra
gera? Não é a idéia de troca em si, mas é o bem que está sendo coisa que não seja tecnologia, informática etc.. A própria alteração
trocado. A idéia de uma troca, por si só, não gera serviço, valor no valor do suposto nome indica quando saímos de uma terra
algum. É preciso bens (sejam eles físicos ou não) para a troca ter virgem, sem valor algum (um nome genérico) e entramos em uma
algum valor, prestar algum serviço. No caso de produtos terra com benfeitorias, produtiva (marca).
Uma confusão parecida aparece quando o assunto são “marcas”. propriedade privada sobre idéias. Obviamente existe um erro
Alguns liberais são favoráveis, por exemplo, a eu registrar o crasso aí: o de que idéias não são escassas. Escassez significa que
domínio na internet com o nome www.microsoft.com e depois a algo é “insuficiente”, ou, de uma forma mais precisa, como os
Microsoft ser obrigada a pagar uma fortuna para mim se quiser economistas costumam dizer: tem utilidade marginal positiva.
usar o domínio. O argumento usado, geralmente, é a versão Existem trocentas formas diferentes de definir escassez. O próprio
“usual” do homesteading principle: “o primeiro que chegar leva”. fato de alguém ter que abrir mão de um monte de coisas para
A questão é: a Microsoft é dona do nome Microsoft? Esses liberais desenvolver uma idéia, criar algo, já deveria deixar claro que idéias
dizem que não, e realmente eles estão certos. Ninguém é dono de e invenções são bem escassas. E bota escasso nisso. É só ver o
um nome genérico simplesmente pelo mesmo motivo que ninguém quanto se paga mundo afora por “recursos intelectuais” ou por
é dono da idéia “abrir um supermercado”. Nomes genéricos não idéias novas (o que mostra um alto grau de “positividade” na
tem valor algum. Mas nomes genéricos tem valor quando são utilidade marginal dessas coisas). A confusão básica nesse tópico é
trabalhados e usados na produção de uma “marca”. Um pai, não perceber a diferença entre propriedades de bens públicos e
Microsoft fan boy, se quisesse poderia colocar o nome no filho de falta de escassez. Um bem ser não rival e não exclusivo não
Microsoft, mas ele não pode colocar o nome na empresa de significa que ele seja não escasso. Ele é “não escasso” (a palavra
softwares dele porque entra na esfera da “marca”. Uma marca é não seria essa, mas enfim..) no trecho onde é não rival e não
algo produzido por um agente, produzido com trabalho e um nome exclusivo, ou seja, no caso de idéias, depois que as idéias foram
genérico, sem valor algum. Ao contrário do nome genérico, a produzidas e divulgadas. Agora, obviamente custa uma fortuna a
marca tem um valor imenso, justamente devido à produção anterior produção de certas idéias e para nós, essas idéias tem um valor
de um agente, o esforço físico e mental desse agente empreendido imenso, a ponto de pagarmos uma fortuna por elas ou para quem às
em algo sem valor algum. A marca faz parte da “unidade produz. Nosso bem estar aumenta consideravelmente com novas
tecnológica” chamada empresa, corporação enfim, aquilo que um idéias, o que significa justamente que são escassas (por isso
determinado ser humano construiu e é propriedade desse ser pagamos por elas).
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Peguemos um exemplo para entender melhor: uma bolha gigante comercial do bem em questão. Quando alguém comprar um bem
antimísseis no Brasil. Uma vez instalada a bolha, em condições sob copyright, no fundo, está comprando o direito de usar, ler,
normais, o meu uso da bolha, ou seja, a minha defesa contra estragar etc.. mas não de distribuir comercialmente. No fundo, o
mísseis não afeta a sua defesa. Eu estou tão bem defendido quanto que se torna propriedade do comprador é o objeto físico, não a
você, e o fato de eu estar na bolha não faz você ficar menos idéia, a invenção inserida naquele objeto físico. Quanto à idéia
defendido. Se nascer um brasileiro, a defesa dele providenciada você tem uma espécie de “licença de uso” e só. Obviamente, como
pela bolha não diminui a sua defesa. Isso é a característica de “não com toda propriedade, o dono da idéia pode abrir mão de sua
rivalidade” que eu coloquei no começo do texto. O custo marginal propriedade e não exigir copyright algum.
começar a crescer em extensão, a bolha vai ter que crescer para [18] Existe uma defesa jusnaturalista alternativa do copyright que
acompanhar o que gerará custos marginais positivos. Agora, uma evita (erroneamente) a idéia de propriedade intelectual e no fundo
bolha dessas é não escassa? É óbvio que não. Custaria uma fortuna acaba sendo só um “espantalho” da defesa correta. Nessa defesa,
construir um negócio desses e é altamente valorada por todos (os copyright é visto como um contrato envolvendo troca de
americanos queriam fazer uma versão dessa bolha, o chamado propriedades normais (físicas). Por exemplo, eu criei um sistema
escudo antimísseis). O caso de idéias é muito próximo ao da bolha, operacional e o gravei em um CD. Eu só permito que você tenha
com a diferença de que a margem para não rivalidade seja bem acesso a esse CD e ao sistema operacional se você me reservar o
maior (para uma mesma idéia é eterno). Mas imagine o seguinte: direito de distribuição comercial. No fundo, é você que cede seu
as pessoas não podem usar a mesma idéia a um custo marginal direito de copiar para mim, o criador original. O problema é o tal
zero se tal idéia não foi produzida ou divulgada, ou seja, existe um “direito de copiar”. Se, por exemplo, a pessoa que assinou o
limite também no caso de idéias (embora esse limite seja mais copyright e recebeu o software do criador passa sem fins
drástico). comerciais para um terceiro que por sua vez passa a distribuí-lo
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sua criação, no fundo o software e seu código. Logo, ela necessita claro que ele não copiou do primeiro (o que inventou). Mas para a
da idéia de propriedade intelectual não diferenciando da versão que classificação entre “invenção” / “criação” e descoberta, pouco
período, pode usar aquilo comercialmente sem autorização do Um outro mais pragmático é o seguinte: um direito para ser
dono da patente. O problema contido aí é que isso vale inclusive efetivo, para existir realmente precisa ter alguma correspondência
para aquele sujeito isolado do mundo, que inventou exatamente a em habilidades humanas. Existem situações onde averiguar se
mesma coisa. Se uma situação teórica dessas acontecer, como foi o houve cópia ou não é algo extremamente complicado e em alguns
sujeito que inventou aquilo também, então ele teria direitos de casos (como combinações de elementos) impossível. Para os casos
propriedade sobre o que ele inventou, mesmo que seja um em que ainda é possível averiguar cópias como livros, músicas,
retardatário. Sob esse ponto de vista a patente seria então uma partes de códigos de software usasse copyright que não exclui a
violação de propriedade, uma intervenção indevida do governo no priori o uso de criações independentes por parte de retardatários.
mercado, um privilégio e não um direito como o copyright. Para os casos em que é impossível averiguar cópias, usa-se
Patentes, que de um ponto de vista mais consequencialista, seriam patentes. Existem outros casos assim em termos de direitos
desejáveis, não poderiam ser defendidas em termos de ética ou naturais também. Por exemplo, na questão da quantidade de força a
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coisas são cópias ou não, logo você protege o direito de
propriedade que você sabe ser certo com a força necessária para
isso.
complicado. Cada vez mais tendo a aceitar a idéia de que elas são
polêmico, o aborto.
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A servidão voluntária vós? Como ousaria atacar-vos, se não estivesse em conluio
Por Rodrigo Constantino servir mais, para ter sua liberdade. A escravidão acaba exigindo a
sanção da vítima.
“Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar um
pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade, nem O que então explicaria essa servidão consentida? Para La Boétie,
segurança.” (Benjamin Franklin) “todos os homens, enquanto têm qualquer coisa de homem, antes
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Além das distrações e das migalhas, como o restaurante popular
Quando se entende que o tirano precisa do consentimento do povo, atualmente, os tiranos precisam oferecer uma rede de favores,
descobre-se porque todo tirano usa o ardil de embrutecer os súditos criando cargos para sustentar a tirania com mais aliados. A lista de
e atacar os homens de valor. A doutrinação é fundamental para os oportunistas batendo à porta do governo para trocar liberdade por
tiranos nesse aspecto. O “pão e circo” também são úteis, para verbas seria infindável. Desde artistas engajados, intelectuais,
desviar as atenções. La Boétie diz: “Os teatros, jogos, farsas, funcionários públicos, invasores de propriedade, até líderes do
espetáculos, lutas de gladiadores, animais estranhos, medalhas, “terceiro setor” ou mesmo empresários, todos em busca de uma
quadros e outros tipos de drogas, eram para os povos antigos os teta estatal para mamar. Os tiranos compram assim o apoio à
atrativos da servidão, o preço da liberdade, as ferramentas da tirania. “Em suma”, conclui La Boétie, “que se consigam, pelos
tirania”. E convenhamos: como o povo se vende por pouco! Se favores ou sub-favores, que se encontrem, enfim, quase tantas
antes era assim, nada mudou na essência, apenas na forma. O povo pessoas às quais a tirania pareça lucrativa, como aqueles a quem a
escravo vibra com o time campeão do mundo, trocando liberdade liberdade seria agradável”.
As migalhas oferecidas em troca da liberdade não eram apenas recebendo de outrem satisfação, liberdade, corpo e vida?” Além
jogos e distração, mas literalmente migalhas: “Os tiranos disso, La Boétie afirma que a amizade verdadeira é impossível
distribuíam um quarto de trigo... e então dava pena ouvir gritar: nesse contexto de tirania. Ela, afinal, “só se encontra entre pessoas
Viva o rei!” Há tanta diferença assim para um Bolsa-Família, de bem e só existe por mútua estima; mantém-se não tanto por
programa assistencialista que, na verdade, são esmolas em troca de benefícios, senão por uma vida boa”. E acrescenta: “O que torna
voto? La Boétie percebeu que o governo, sem produzir a riqueza, um amigo seguro do outro é o conhecimento que tem de sua
precisa tirar antes de dar: “Os tolos não percebiam que nada mais integridade”, lembrando que “entre os maus, quando se reúnem, há
faziam senão recobrar uma parte do que lhes pertencia, e que uma conspiração, não mais uma companhia; não se amam mais uns
mesmo o que recobravam, o tirano não lhes podia ter dado, se aos outros, mas se temem; não são mais amigos, mas cúmplices”.
antes não o tivesse tirado deles próprios”. Não obstante, o Alguém poderia ter alguma dúvida da verdade dessas palavras
populismo sempre rendeu poder e devoção, sentimento que todos observando o comportamento dos aliados do governo brasileiro
os tiranos buscam despertar em seus súditos. La Boétie lembra que atual? São todos cúmplices de um projeto de poder; não amigos.
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questionando sua legitimidade. Aceita passivamente seus grilhões,
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