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ANOTAÇÕES SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE OBRIGAÇÕES

CIVIS E COMERCIAL

DEILTON RIBEIRO BRASIL

Sumário

1.- Resumo

2.- Introdução

3.- Conceito de Obrigação

4.- As regras do direito civil e as obrigações comerciais

5.- Dispositivos do Código Comercial relativos às obrigações

5.1) - Distinções entre o Direito Comercial e o Direito Civil -


Considerações relevantes.

6) - Obrigações civis e obrigações comerciais

7) - Especialização da obrigação comercial

8) - Conclusão

9) - Bibliografia

1- RESUMO ANTECIPADO. Em magistral análise dedicada à noção de


obrigações civis e comerciais Fran MARTINS (1) assevera que muitas
vezes, em virtude de um acordo de vontades, pela prática de um ato
ilícito ou mesmo pela manifestação unilateral de sua própria vontade,
a pessoa se obriga a dar, fazer ou não fazer alguma coisa. Essa
obrigação, uma vez assumida, toma sentido jurídico e constitui, daí
por diante, um ônus cujo cumprimento não deverá deixar de ser
realizado. Em síntese, obrigação, na sua mais larga acessão, é uma
palavra que exprime qualquer espécie de vínculo ou de sujeição da
pessoa, qualquer que seja a sua fonte ou o seu contéudo, nela se
podendo englobar por um lado qualquer obrigação que seja ditada
pela moral, conveniência, honra, usos sociais, por outro lado qualquer
obrigação imposta pelas normas jurídicas, sejam elas de direito
público ou privado. A palavra é aqui empregada para designar apenas
as da última espécie e não todas elas, mas somente as que nascem
de relações entre pessoas, tem um conteúdo patrimonial e implicam
para uma pessoa o dever de fazer a outra uma prestação e, para essa
segunda pessoa, a faculdade de a exigir da primeira. Em sentido
técnico, pois, a obrigação, como a correspondente obligatio da
terminologia romana, exprime em regra principal e geral a relação

1
jurídica pela qual uma pessoa (devedor) está adstrita a uma
determinada prestação para com outra (credor), que tem direito de a
exigir, obrigando a primeira a satisfazê-la. A noção dada pelo direito
moderno da relação obrigatória não difere, nas suas linhas gerais,
daquela que foi maravilhosamente construída pelos jurisconsultos
romanos. Nesta matéria, mais do que em qualquer outra do direito
privado, as doutrinas romanas conservaram toda a sua vitalidade, de
modo que não é possível compreender

grande parte das normas atuais sem o subsídio dos precedentes


romanos. Isto não quer dizer que a matéria não tenha sofrido
modificações por influência do direito intermédio, às vezes muito
profundas (2). Desapareceu o rigoroso formalismo que impedia à
vontade criar vínculos sem a observância de formas solenes ou
determinadas; a princípios mais restritivos, substituiu-se o novo, em
virtude do qual é decisiva, para a nascença da obrigação, a vontade,
manifestada pelo modo vulgar e o simples consenso; também se
modificou profundamente o outro princípio, sempre seguido
escrupulosamente pelos romanos, segundo o qual a obrigação nunca
tinha por efeito transmitir ou constituir direitos reais, pois pelo
princípio moderno, que admite a aquisição dos direitos reais por
simples consenso, há em muitas relações contratuais (como os
contratos de alienação) uma combinação do efeito obrigatório com o
efeito real e uma obliteração da distinção entre o título e o modo de
aquisição. Mas, substancialmente, o conceito é ainda o romano.
Existem dois que ficaram célebres. Um é lembrado por Justiniano (pr.
Inst. 3. 13): obligatio est juris vinculum quo necessitate adstringimur
alicujus solvendae rei secundum nostrae civitatis jura, onde (à parte
as últimas palavras, que revelam a influência do escritor clássico) a
relação entre devedor e credor é caracterizada como um vinculum
juris, tendo por conteúdo uma prestação (alicujus solvendae rei) e
como natureza intrínseca a coercibilidade (necessitate adstringimur).
A outra é de Paulo (fr. 3 pr. D. 44, 7): obligationem substantia non io
eo consistit, est aliquod corpus nostrum aut servitutem nostram
faciat, sed ut alium nobis obstringat ad dandum aliquid vel faciendum
vel praestandum, que exprime ao mesmo tempo a mais nítida
contraposição entre os direitos reais e os direitos de obrigação e
descreve com mais precisão o conteúdo e o objeto do vínculo. A
essência ou substância da obrigação é não já aquela de fazer adquirir
um direito real, mas sim a de constituir um vínculo entre duas
pessoas, e o fato de hoje qualquer obrigação não ter eficácia real não
tira o valor das palavras do jurisconsulto, apenas querendo dizer que
o efeito real,

no direito moderno, pode combinar-se com o obrigatório e é este o


que na relação de obrigação nunca falta. O vínculo tem por objeto
uma prestação, que pode consistir ou num dare (que romanamente
significa transmissão de propriedade), ou num facere, que

2
compreendendo também o non facere abraça qualquer espécie de
fato, ato ou omissão, ou num praestare, no qual se englobam
prestações particulares que não entram nas duas categorias e
geralmente são responsabilidades vulgarmente acessórias de outras
obrigações principais (3). O direito das obrigações é que trata dessa
matéria, onde se estuda o conteúdo do compromisso - obrigação, na
terminologia jurídica - assumido pelo indivíduo, a sua formação, os
modos como pode ser satisfeito, o tempo de sua duração. Em
princípio, esse direito é de caráter geral e, desse modo, afeta aos
comerciantes e

aos não comerciantes e dado às características próprias das


atividades comerciais, muitas vezes as regras gerais sofrem o
impacto da realidade mercantil e são a elas amoldadas e nisto reside
a diferença entre obrigações civis e obrigações comerciais.

2 –INTRODUÇÃO. Para Maria Helena DINIZ (4) é de grande


importância o direito das obrigações nos dias atuais, ante a
freqüência de relações jurídicas obrigacionais. E não é para menos, o
homem moderno vive numa "sociedade de consumo", onde os bens
ou novos produtos da tecnologia hodierna lhe são apresentados
mediante uma propaganda tão bem elaborada, que o leva a sentir
necessidades primárias ou voluptuárias nunca antes experimentadas,
como, por exemplo a de substituir um carro novo por um "zero
km"que, embora supérfluo, virá satisfazer um anseio de status. A
ânsia de atender aos mais variados requintes de bem-estar e de
vaidade transforma-o num autômato, que age em função de seus
desejos e ambições, justificáveis ou artificiais, fazendo-o desenvolver
uma atividade econômica intensa. Essa intensificação da atividade
econômica, provocada pela urbanização, pelo progresso tecnológico,
pela comunicação permanente, causou grande repercussão nas
relações humanas, que por isso precisaram ser controladas e
regulamentadas por normas jurídicas, que compõem o direito das

obrigações. Realmente, é na seara do direito creditório que a


atividade econômica do homem encontra sua ordenação, visto que
esse ramo do direito civil tem por escopo equilibrar as relações entre
credor e devedor, mediante as quais o indivíduo exerce seu direito de
contrair certas obrigações para atender às suas necessidades,
buscando os bens e os serviços que lhe dêem satisfação. É
indubitável que o direito das obrigações intervém na vida econômica
não só na produção (compra de matéria-prima; associação da técnica
e da mão-de-obra ao capital, mediante contrato de trabalho ou de
locação de serviço; reunião do capital da empresa por meio de
contrato de sociedade etc...), mas também no consumo de bens (por
meio de compra e venda, de troca etc...) e na distribuição ou
circulação (mediante contratos de venda, feitos aos armazenistas ou

3
revendedores. Conclui-se que o direito das obrigações constitui a
base não só do direito civil, mas de todo direito.

3 – CONCEITO DE OBRIGAÇÃO. O termo obrigação contém vários


significados, o que dificulta sua exata delimitação na seara jurídica,
vez que o nosso Código Civil escusou-se em definir. O recurso à
etimologia é bom subsídio: obrigação, do latim ob + ligatio, contém
uma idéia de vinculação, de liame (5), de cerceamento da liberdade
de ação, em benefício de pessoa determinada ou determinável (6).
Na linguagem corrente, obrigação corresponde ao vínculo que liga um
sujeito ao cumprimento de dever imposto por normas morais,
religiosas, sociais ou jurídicas (7). Para Pothier, é a obrigação "um
vínculo de direito que nos subordina a respeito de outrem a dar-lhe
alguma coisa ou a fazer ou não fazer alguma coisa" (8). Muito
extenso, Clóvis BEVILACQUA definiu a obrigação como "a relação
transitória de direito, que nos constrange a dar, fazer ou não fazer
alguma coisa, em regra economicamente apreciável, em proveito de
alguém que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente
relacionado, ou em virtude da lei, adquiriu o direito de exigir de nós
essa ação ou omissão"(9). Deste, aproximado é o Prof. Washington
de Barros MONTEIRO(10): "obrigação é a relação jurídica, de caráter
transitório, estabelecida entre devedor e credor, e cujo objeto
consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa,
devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento
através de seu patrimônio". Savigny (11), por exemplo, minucioso e
frio, ensina: "A obrigação consiste na dominação sobre uma pessoa
estranha, não sobre toda a pessoa (pois que isto importaria em
absorção da personalidade), mas sobre atos isolados, que seriam
considerados como restrição à sua personalidade, ou sujeição à nossa
vontade". Caio Mário da Silva Pereira (12), preleciona que: "obrigação
é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de
outra uma prestação economicamente apreciável". Depreende-se
portanto, que a obrigação é a conseqüência de um ato nascido da
vontade de uma ou mais pessoas, ou que viole a lei ou os bons
costumes. Em virtude desse ato, alguma ou algumas pessoas ficam
no dever de dar, fazer ou não fazer alguma coisa em favor de outro
ou de outros. Assim, quando alguém, em decorrência de ato anterior,
se constitui no dever de dar, fazer ou não fazer alguma coisa em
favor de outrem, a relação jurídica existente entre essas duas
pessoas, que constrange a primeira a realizar a prestação e faculta a
segunda a exigí-la, tem o nome de obrigação.

3.1 - CONCEITO DE OBRIGAÇÃO NO DIREITO COMPARADO. Baudry-


LACANTINERIE (13), jurista francês citado por Pietro BONFANTE (14)
define que: "l’obbligazione, nel senso giuridico della parola, può
essere definita un

4
vincolo di diritto pel quale una o più persone determinate sono
civilmente tenute verso una o più persone, egualmente determinate a
dare, fare, o non fare alcuna cosa. Cfr. Articolo 1.101 (Codice civile
italiano articolo 1.098). L’effeto dell’obbligazione, abbiamo detto, è di
vincolare una o più persone verso una o più altre, a dare, a fare, o
non fare

alcuna cosa. Queste espressioni sono riprodotte dall’articolo 1.101. La


parola dare, come la corrispondente latina significa qui trasferire la
proprietà. Obbligarsi a dare, è dunque obbligarsi a trasferire la
proprietà di una cosa. Una obbligazione suppone necessariamente
due persone almeno: l’una che è vincolata, è il soggetto passivo
dell’obbligazione, il debitore; l ‘altra a vantaggio della quale esiste il
vincolo, è il soggetto attivo dell’obbligazione, il
creditore.L’obbligazione ha dunque due faccie, secondo che si
considera in rapporto al debitore o in rapporto al creditore. Per il
primo, del quale essa restringe la libertà sottoponendola ad una
necessità giuridica, essa costituisce un onere; si chiama allora
obbligazione passiva o debito; essa figura al suo patrimonio come una
quantità negativa, per conseguenza nel passivo. Per il secondo, il
creditore, l’obbligazione costituisce un diritto; essa aumenta il suo
patrimonio, nel quale si pone all’attivo, e si chiama credito ovvero
obbligazione attiva ". Louis JOSSERAND (15) define que "l’obligation,
ou droit personnel, est un rapport juridique qui assigne, à une ou à
plusieurs personnes, la position de débiteurs, vis-à-vis d’une ou de
plusieurs autres, qui jouent le rôle de créanciers et envers lesquelles
elles son tenues à une prestation positive (obligation de donner ou de
faire) ou négative (obligation de ne pas faire): visagée du côté du
créancier, l’obligation est une créance; considérée du côté du
debiteur, elle est une dette. Parfois, l’obligation est envisagée
uniquement sous ce second aspect; on dira, en ce sens, que telle
personne est tenue de telles obligations envers telle autre. Dans la
pratique notariale, on rencontre une troisième acception qui n’est
point encommandable: l’obligation devient l’écrit même,
l’instrumentum qui est dressé pour constater la naissance du contrat
e des rapports juridiques qui en découlent; en ce sens, on dit que le
notaire rédige une obligation".

4 – AS REGRAS DO DIREITO CIVIL E AS OBRIGAÇÕES COMERCIAIS.


Regem a matéria das obrigações, de modo geral, as normas do
direito civil. De fato, os princípios relativos a esse vínculo, que faz
com que a pessoa se veja constrangida a dar, fazer ou não fazer
alguma coisa a favor de outrem, são regras comuns, do âmbito do
direito comum - e,

portanto, aplicáveis a todas as pessoas - , que é o direito civil.


Valdemar FERREIRA (16) entende que "não difere, com efeito,
essencialmente, a obrigação comercial da civil. Não se distingue a

5
relação jurídico-comercial de qualquer outra. A essência é sempre a
mesma": É assim porque, "em verdade, o comerciante outro não é
senão a mesma pessoa, natural ou jurídica, apta para o exercício de
direitos e obrigações de ordem privada, a praticar, habitual e
profissionalmente, a atividade mercantil". Isso significa que o que
distingue essencialmente o comerciante do não comerciante é a
atividade profissional. Enquanto aquele tem por profissão o exercício
de atos de intermediação, com intuito de lucro, o não comerciante
não exerce essas atividades de maneira profissional. E por tal razão
possui o comerciante regras jurídicas próprias para o exercício de sua
atividade profissional - regras que constituem o direito comercial -,
enquanto que os não comerciantes têm as suas atividades regidas
pelo direito comum, isto é, o direito civil. No tocante às obrigações ,
entretanto, não há regras próprias para os que exercem
profissionalmente atividades mercantis e os que não a exercem. Se
bem que o direito comercial - ou seja, o direito que regula as
atividades profissionais dos comerciantes e os atos de comércio - e o
direito civil - o direito que regula as atividades dos não comerciantes
ou dos que são comerciantes, quando estiverem estes a praticar atos
que não sejam próprios de sua profissão - sejam dois ramos diversos
do direito privado, as regras legais concernentes às obrigações são
comuns a comerciantes ou não. Ou, como sentencia Valdemar
FERREIRA (17) "não é o direito civil... direito comum a comerciantes
e não comerciantes. O que a uns e outros é comum é o direitodas
obrigações" (18).

5. DISPOSITIVOS DO CÓDIGO COMERCIAL RELATIVOS ÀS


OBRIGAÇÕES. O Código Comercial possui vários dispositivos
referentes às obrigações. Normalmente, tais dispositivos deveriam
constar da lei civil, já que o direito das obrigações é comum a
comerciantes e a não comerciantes. Há, contudo, motivos que
justificam a inclusão dessas regras no Código Comercial. Em primeiro
lugar, ao ser este promulgado, não possuíamos ainda um Código
Civil, como aconteceu na França, em que a codificação civil foi
anterior à comercial. Regíamo-nos, nessa época, pelas Ordenações e
leis esparsas de Portugal e do Brasil-Império. Sendo elaborado um
Código Comercial, natural era fossem no mesmo incluídas regras
jurídicas que não constavam da nossa desordenada legislação civil de
então. Em segundo lugar, apesar de ser o direito das obrigações um
só, tanto para os civis como para os atos de natureza comercial,
inegável é que, nas obrigações comerciais, muitas vezes os usos e
costumes do comércio introduziram inovações dignas de nota. O
próprio artigo 121 do Código estabelece que às obrigações comerciais
se aplicam as regras e disposições do direito civil, "com as
modificações e restrições estabelecidas neste código". Assim, a lei
não apenas reconhece como aceita essas modificações e restrições.
E, por se tratar de normas específicas relativas ao comércio, natural é

6
que fossem compendiadas na lei comercial. Referem-se, de modo
geral, às obrigações e aos contratos comerciais os artigos 121 a 139
do Código. A partir do artigo 140 encontramos regras especiais para
alguns tipos de contratos. Os artigos 428 a 456, que constituem os
títulos XVII e XVIII da 1a parte do Código, também dizem respeito às
obrigações. O primeiro desses títulos, n.º XVII, que compreende os
artigos 428 a 440, trata dos modos por que se dissolvem e extinguem
as obrigações comerciais, e o segundo, de n.º XVIII, que vai dos
artigos 441 a 456, contém normas relativas à prescrição. A leitura e
aplicação dos dispositivos do Código que se referem às obrigações
comerciais devem ser feitas com cuidado. Necessário será ao
estudioso averiguar onde há uma regra geral e onde se trata de uma

norma modificadora dessa regra, específica do direito comercial. Em


princípio, as normas de caráter geral devem ser interpretadas de
acordo com os atuais dispositivos do direito civil, já contidos no
Código Civil, já legislados posteriormente a este. Só as regras que
modificam a norma geral é que devem prevalecer para aplicação
específica ao direito comercial (19).

5.1 DISTINÇÕES ENTRE O DIREITO COMERCIAL E O DIREITO CIVIL –


CONSIDERAÇÕES RELEVANTES. Esses princípios tomam importância
maior devido à complexidade da atividade econômica, que, para o
direito comercial, como que compensa o aparente esvaziamento do
seu campo de atuação, ocasionado pela migração dos seus institutos
para o direito civil. Esse fenômeno, que Broseta PONT (20) encara
sob dois ângulos, o progressivo robustecimento e a maior
complexidade do exercício profissional de certas atividades
econômicas, levando pelo lado quantitativo, portanto, nos atos
praticados em massa, à repercussão no status dos empresários e nos
contratos, e pelo lado qualitativo pressupondo uma organização, que
é a empresa, evidentemente que restaura, por assim dizer, a
grandeza do direito

comercial, restituindo-lhe, com as transformações havidas, um campo


perfeitamente delimitado de atuação, que pode ser regido não apenas
por normas específicas, mas também orientadas por princípios
próprios. A propósito, assinalava Carvalho de MENDONÇA (21), a
respeito do problema no direito brasileiro, que "as diferenças que
subsistem (após a unificação do processo) entre o direito civil e o
direito comercial nada tem de essencial. Bem poderíamos fundir as
matérias que lhes são comuns, isto é, os contratos e obrigações e
ainda a falência, estendendo-a, oportunamente, aos não-
comerciantes. Como muito bem acentua o Prof. Oscar BARRETO
FILHO (22) "não são apenas as diferenças de estrutura, de critérios
de pesquisa e de método que devem ser consideradas, em relação ao
tema da autonomia do direito comercial. Pode até acontecer que,
formalmente, não haja diferença estrutural entre um negócio jurídico

7
celebrado para obter o gozo de um bem e outro negócio jurídico
visando à obtenção de bens para o mercado, mas, substancialmente,
há uma diferença fundamental de posições. A satisfação das
necessidades do mercado exige não só uma organização
especializada e diferençada, como também reclama uma
instrumentação técnica, e, ainda mais, uma atividade criadora que
não existe na vida civil comum. Na atividade mercantil, as relações
econômicas apresentam-se, e são reguladas tendo em vista sua
atuação dinâmica, não sua posição estática".

6. OBRIGAÇÕES CIVIS E OBRIGAÇÕES COMERCIAIS. Esse fato nos


leva a indagar se realmente existem obrigações civis e obrigações
comerciais. Carvalho de MENDONÇA (23) notou que é comum a
expressão obrigação comercial no sentido de contrato comercial.
Inegavelmente, a obrigação é uma só, sendo diversos apenas os atos
que deram lugar ao nascimento dessa obrigação. Poderão esses atos
ser de natureza civil ou de natureza comercial. Quando de natureza
civil, diz-se, comumente, que as obrigações deles decorrentes são
obrigações civis; quando comercial, chama-se a conseqüência do ato
de obrigação comercial. Deve-se, desse modo, entender a expressão
obrigação comercial como sendo a obrigação que resulta de um ato
de natureza comercial; civil será a obrigação resultante de um ato de
natureza civil (24). Para Maria Helena DINIZ (25) na obrigação civil
há um vínculo jurídico que sujeita o devedor à realização de uma
prestação positiva ou negativa no interesse do credor, estabelecendo-
se um liame entre os dois sujeitos, abrangendo o dever da pessoa
obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso de
inadimplemento (obligatio), o que possibilita o credor recorrer à
intervenção estatal para obter a prestação, tendo como garantia o
patrimônio do devedor. A obrigação civil, portanto, no caso de
inexecução, possibilita que o devedor seja constrangido ao seu
adimplemento. Se o devedor (ou alguém por ele) cumprir
voluntariamente a obrigação, o credor terá o direito de recebê-la, a
título de pagamento, por gozar da soluti retentio; porém, se o
devedor for inadimplente, o credor está autorizado a exigir
judicialmente o seu cumprimento e a executar o patrimônio do

devedor, se este insistir em não cumpri-la.

7. ESPECIALIZAÇÃO DA OBRIGAÇÃO COMERCIAL. Se, em regra


geral, a obrigação é uma só, decorra de atos de natureza civil ou
comercial, inegável é que as resultantes dos atos comerciais sofrem a
influência deles e, por isso mesmo, em determinados aspectos
divergem das obrigações civis. Sabe-se que o direito comercial tem
características próprias, que tratam justamente o dinamismo do
comércio, em contraste com a posição conservadora, de certo modo
estática, dos atos de natureza civil. Assim, enquanto o direito civil é
um direito tradicional, preso a antigas regras, de lenta evolução, o

8
direito comercial, para atender às exigências do desenvolvimento do
comércio, é um direito que se renova a cada instante, rescindindo,
quando necessário, de fórmulas solenes, adaptando-se ao progresso
e, de certa forma, procurando acompanhar as contingências
econômicas dos diversos povos. E porque as relações comerciais
exigem prontas soluções para fatos

que surgem a cada momento, o direito mercantil procura dar ao


comerciante maior elasticidade de ação, mais ampla liberdade, mais
facilidade para que os casos surgidos sejam resolvidos com a rapidez
que as transações comerciais requerem.Caracteriza-se, assim, o
direito comercial, como já anteriormente refrisado, pela simplicidade
de suas fórmulas, pela internacionalidade de suas regras e institutos,
pela rapidez de sua aplicação, pela elasticidade dos seus princípios e
também pela onerosidade de sua operações. Dentro desse sentido,
distancia-se grandemente o direito comercial do civil, em regra
formalístico, nacional, lento, restrito. Esses princípios característicos,
necessários para que o direito comercial possa acompanhar a
permanente evolução do comércio, não poderiam deixar de se refletir
nas obrigações resultantes dos contratos

comerciais. Estes e aquelas, em muitos casos, fogem à regra geral


prescrita no direito civil para adotar soluções próprias, condizentes
com os atos de que se originaram, de natureza comercial. Assim, por
exemplo, as obrigações resultantes dos atos de natureza cambiária,
comerciais por força da lei, fogem, em geral, às normas estatuídas
pela legislação civil. Esclarece Valdemar FERREIRA (26) que
"destinada a obrigação mercantil a facilitar o problema circulatório da
riqueza, não podia, em geral, acomodar-se às formas hieráticas e
solenes dos contratos civis. Nem o processo, para torná-las eficazes,
poderia ser amplo e severo como o civil". A simples assinatura de
uma pessoa em uma letra de câmbio dá-lhe responsabilidade
solidária pelo pagamento de referida letra, sem que lhe seja
permitido indagar se a origem desse título foi ou não revestida das
formalidades legais. Ainda mesmo que o título seja imediatamente
transferido a terceiro, perdura a obrigação daquele que o possuiu e
nele após o seu nome. Também os usos e costumes comerciais
influenciam a obrigação que resulta de

ato mercantil. Se, por acaso, em determinada praça de comércio há


um costume geralmente seguido por todos os comerciantes, esse
costume influi sobre a obrigação comercial, fazendo com que esta a
ele se adapte, muito embora não esteja o uso amparado pela lei ou,
mesmo, aparentemente, esteja contra os princípios da lei.

8 .CONCLUSÃO. O Direito das Obrigações exerce grande influência na


vida econômica, uma vez que conforme já infirmado regula relações
da infra-estrutura social, dentre as quais se salientam, por sua

9
relevância política, as de produção e as de troca. É através de
relações obrigacionais que se estrutura o regime econômico, sob
formas definidas de atividade produtiva e permuta de bens. Tanto
basta para atestar sua importância no conjunto das normas
constitutivas da ordem jurídica. O funcionamento de um sistema
econômico prende-se à sua disciplina jurídica, variando conforme o
teor e a medida das

limitações impostas à liberdade de ação dos particulares (27). Em


síntese, o direito das obrigações consiste num complexo de normas
que regem relações jurídicas que afetam aos comerciantes e aos não
comerciantes e dado às características próprias das atividades
comerciais e isso é a pedra fundamental entre obrigações civis e
obrigações comerciais - diferenças.

NOTAS DE RODAPÉ:

(1) MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações Comerciais, 2a ed.,


Edição Universitária, p. 03.

(2) Cfr SALVIOLI, Storia del diritto italiano, Turim, 1921, parágrafos
610 e segs; SOLMI, Storia del diritto italiano, parágrafos 72 e segs.,
131 e segs.

(3) RUGGIERO, Roberto de. Instituições de Direito Civil, v. 3o, p.


7/10.

(4) DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. II.

(5) GIORGI, Obbligazioni, I, nº 49

(6) PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. II, p.


2.

(7) SOUZA, Ernani Vieira de. Obrigação in Enciclopédia Saraiva do


Direito, v.55, p. 265

(8) POTHIER, Tratado de las obligaciones, Ed. Atalaya, Buenos Aires,


1947.

(9) BEVILÁQUA, Clóvis. Direito das Obrigações, 5a ed., Liv. Ed.


Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1940, p. 14.

(10) BARROS MONTEIRO, Washington de. Curso de Direito Civil, v. IV,


p. 12.

(11) SAVIGNY, Le Obbligazioni, parágrafo 2, p. 8.

10
(12) PEREIRA, Caio Mário da Silva. Ob. e v. cits, v. II, p. 5.

(13) BAUDRY-LACANTINERIE, G. Trattato Teorico-Pratico Diritto Civile


delle Obbligazioni, p. 1

(14) BONFANTE, Pietro. Trattato Teorico-Pratico Diritto Civile delle


Obbligazioni, p. 1.

(15) JOSSERAND, Louis. Cours de Droit Civil Positif Français, 3a ed.,


2o v., p. 2.

(16) FERREIRA, Valdemar. Instituições de Direito Comercial, 4a ed.,


3o v., t. I.

(17) FERREIRA, Valdemar. Instituições de Direito Comercial, 4a ed.,


3o v., t. I.

(18) MARTINS, Fran, ob. e v. Cits., p. 7.

(19) MARTINS, Fran, ob. e vol. Cits., p. 8

(20) PONT, Manuel Broseta. La Empresa, La Unificación del Derecho


de Obligaciones y el Derecho Mercantil. Madrid, Ed. Techos, 1.965

(21) MENDONÇA, de Carvalho. Tratado de Direito Comercial


Brasileiro, v. VI, 1a parte, n. 258

(22) BARRETO FILHO, Oscar. Direito Comercial. 2o ano, 2o fascículo,


ed. XI de Agosto.

(23) Ob. cit.

(24) MARTINS, Fran. Ob e vol. cits., p. 10.

(25) DINIZ, Maria Helena. Ob e vol cits., p. 62.

(26) FERREIRA, Valdemar, ob e vol. cits., p. 7.

(27) GOMES, Orlando. Obrigações, p. 4.

9. BIBLIOGRAFIA

MARTINS, Fran. Contratos e Obrigações comerciais. 2a Ed., Rio de


Janeiro, Editora Forense, 1.990.

FIÚZA, César. Direito Civil Curso Completo.1a edição, Belo Horizonte,


Livraria Del Rey Editora, 1.998.

11
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral
das Obrigações,10a Edição, 2o volume, São Paulo, Editora
Saraiva, 1.996.

BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil Comentado. volumes. 3 e 4.

MENDONÇA, Carvalho de. Introdução aos direitos reais. Rio de


Janeiro, 1.915.

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 15a edição,


2o volume, Rio de Janeiro, Editora Forense, 1.997.

BAUDRY-LACANTINERIE, G. Trattato Teorico-Pratico Diritto Civile -


delle obbligazioni -, 1o volume, Casa Editrice Dottor Francesco
Vallardi, Milano.

GOMES, Orlando. Obrigações. 8a edição, Rio de Janeiro, Editora


Forense, 1988.

RUGGIERO, Roberto de. Instituições de Direito Civil. 6a edição, 3o


volume, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1.937.

JOSSERAND, Louis. Cours de Droit Civil Positif Français. 3a edição, 2o


volume, Paris, Editora Librairie du Recueil Sirey, 1.939.

BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 9a edição, São Paulo,


Editora Atlas, 1.992.

PONT, Manuel Broseta. La Empresa, La Unificación del Derecho de


Obligaciones y el Derecho Mercantil. Madrid, Ed. Techos, 1.965.

BARRETO FILHO, Oscar. Teoria do Estabelecimento Comercial, 1.969.

FERREIRA, Waldemar. Instituições de Direito Comercial, volume I,


1.951

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